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1 Khilver Doanne Sousa Soares Doença Renal Crônica & IRA Além da óbvia função de eliminar os produtos indesejáveis do metabolismo, os rins são essenciais à manutenção das dimensões e da composição físico-química do organismo: mantêm constantes o volume extracelular (VEC), a concentração de eletrólitos, o pH e a pressão osmótica do meio interno; ainda tem função endócrina produzindo eritropoetina e forma ativa da vitamina D (calcitriol). Seres humanos, cães e ratos podem permanecer vivos com até 10% ou menos de sua função renal preservada A filtração glomerular por néfron (FPN) pode chegar ao triplo do normal em resposta adaptativa para manter a função renal adequada Representação esquemática da elevação da taxa de filtração por néfron (FPN) em função da perda de néfrons. Balanço de Sódio na DRC Em uma situação estacionária, quando os portadores de DRC, a ingestão e a excreção de sódio e potássio devem equivaler-se – o organismo mantém-se em balanço com relação a esses íons. Para que o balanço se mantenha a excreção urinária deve permanecer igual à ingestão ainda que à custa de uma grande sobrecarga dos néfrons remanescentes. Ao contrário da FPN, a TFG cai progressivamente na DRC, de tal modo que, com uma redução dessa taxa a 50% do normal, a fração excretada do soluto dobra! A TFG normal é de cerca de 120 ml/min Em um indivíduo normal, com dois rins, 2 × 106 néfrons e uma TFG de 120 mℓ/min, uma taxa de ingestão de cloreto de sódio de 10 g/dia, equivalente a 150 mmol/dia do íon sódio – há perfeito balanço com taxa de excreção urinária de igual valor: cerca de 0,6%. Normalmente 90% da carga sódica filtrada nos glomérulos é absorvida no túbulo proximal (65%) e alça de Henle (25%). O túbulo coletor absorve cerca de 3% do sódio, realizando ajuste fino da excreção de sódio. A fração excretada de sódio é inversamente proporcional à TFG Com frações de excreção de sódio baixas, a excreção de sódio pode ser ajustada exclusivamente no túbulo coletor Frações de excreção de sódio mais altas exigem a participação de todos os segmentos do néfron na regulação da excreção de sódio. Se a TFG já estiver reduzida, como a 25% do normal, a FENa terá de subir a 2,4%. Isso exige que o túbulo coletor rejeite quase todo o seu aporte de sódio e começa a requerer que a reabsorção de sódio seja deprimida também em outros segmentos do néfron. A expansão de volume extracelular (VEC), com desenvolvimento de hipertensão e, às vezes, com formação de edema, é um preço que o organismo paga para manter o balanço de sódio em face de uma massa renal diminuída. Conforme o rim perde massa renal, perde a capacidade de se adaptar ao excesso ou escassez de sódio (diarréia, vômitos, diuréticos por muito tempo). O rim consegue reduzir para quase zero a excreção urinária de sódio se necessário; o túbulo coletor consegue transportar solutos contra gradientes eletroquímicos acentuados. 2 Khilver Doanne Sousa Soares Essa atividade fica EXTREMAMENTE DIFÍCIL quando o túbulo coletor é inundado com a sobrecarga de sódio pelo aumento da filtração por néfron e da rejeição de sódio nos segmentos anteriores do néfron (túbulo proximal e porção espessa da alça de Henle). Ou seja. . . O paciente com DRC é inflexível a mudanças de sódio bruscas – vômito, diarreia, uso contínuo de diuréticos; a desidratação nesses pacientes causa um agravamento aparente. O balanço hídrico no paciente com DRC também fica afetado: o paciente tem um fluxo maior nos rins, uma pressão pelo volume extracelular expandido e não consegue dissolver a urina adequadamente por conta disso. --------------------------------- Existe Doença Renal Crônica (DRC) quando há “dano renal” (geralmente detectado pela presença de albuminúria > 30 mg/dia, ou alterações equivalentes) e/ou “perda de função renal” (definida como uma taxa de filtração glomerular < 60 ml/min/1.73 m2), por um período maior ou igual a três meses (por que o pré- requisito temporal? Importante para diferenciar IRA de DRC!). Diferente da IRA, na DRC não ocorre regeneração do parênquima renal – a perda de néfrons é irreversível! Obs. existem situações em que o paciente se torna “agudamente um nefropata crônico”: na necrose intersticial aguda e na glomerulonefrite rapidamente progressiva por exemplo a instalação da DRC ocorre de forma aguda. Os principais métodos de avaliação da função renal são: (1) ureia sérica; (2) creatinina sérica; (3) clearance de creatinina, que pode ser diretamente medido (urina de 24h), ou estimado através de fórmulas matemáticas; (4) clearance de radiotraçadores e (5) clearance de inulina. Ureia. É formada no fígado a partir da molécula de amônia (NH3). Como a ureia é eliminada quase que exclusivamente pelo rim podemos utilizar seus níveis séricos para uma estimativa grosseira da função excretória renal. O valor normal da ureia é 20-40 mg/dl. Creatinina sérica. Substância atóxica produzida pelo tecido muscular, derivada da creatina, molécula armazenadora de energia no miócito. O valor normal da creatinina é: Homens < 1,5 mg/dl; Mulheres < 1,3 mg/dl. CÁLCULO DO CLEAREANCE DE CREATINA - Cockcroft-Gault (140 – Idade) X Peso ------------------------------ HOMENS 72 X Creatinina (140 – Idade) X Peso ------------------------------ X 0,85 MULHERES 72 X Creatinina CLASSIFICAÇÃO PELA TFG: > ou = 90 G1 < 90 G2 < 60 G3 (a/b) – de 60 a 45= G3a; < 45 G3b < 30 G4 < 15 G5 Albuminúria: A1: <30 / A2: 30 – 300 () / A3: >300 Fazer IECA ou BRA, não pela hipertensão, mas pela nefroproteção!!! TODA nefropatia crônica após 3 a 20 anos de duração podem evolui para a Doença Renal em Fase Terminal (DRFT), com níveis residuais de TFG <15% do normal. As características específicas seguem uma alteração universal: fibrose glomerular e intersticial + atrofia dos túbulos (perda TOTAL dos néfrons) apresentação dos sintomas da Síndrome Urêmica (uremia) e consequente necessidade de métodos dialíticos e transplante renal! Como se tem realizado o estadiamento da DRC atualmente? Através do sistema KDIGO, revisado 2013. Essa classificação estratifica o paciente quanto ao risco de DRC. 3 Khilver Doanne Sousa Soares Além da taxa de filtração glomerular também se valoriza o grau de albuminúria (este último é capaz de predizer o prognóstico independentemente da TFG) logo a classificação final é composta pela combinação dos estágios G + A, devendo-se acrescentar a letra D caso o paciente esteja em diálise – Ex.: G1A2 (TFG normal, porém, presença de dano renal); G3aA1 (DRC leve a moderada); G5DA3 (falência renal “proteinúrica” em diálise). . . Principais causas de DRC no Brasil e mundo: Diabetes Mellitus e Hipertensão Arterial. Causas de DRFT no Brasil; foco na Glomeruloesclerose Diabética e a Nefroesclerose Hipertensiva. Relembrando. . . Independente da causa básica da injúria renal, há uma resposta adaptativa dos néfrons remanescentes, que passam a “hiperfiltrar” – eis a explicação para DR leve com creatininemia normal, sem hipervolemia ou alterações eletrolíticas. Esse mecanismo compensatório, inicialmente benéfico, causa lesão nefrótica com o tempo, evoluindo com proteinúria e IR progressiva: indução de glomeruloesclerose segmentar focal (GESF secundária). Drogas bloqueadoras do sistema renina- angiotensina-aldosterona: bloqueiam a ação da angiotensina II e evitam a constrição da arteríola eferente, reduzem a hipertensão intraglomerular e a hiperfiltração retardo do processo. O bloqueio do RAA também: reduz efeitos diretamente fibrogênico e pró-inflamatórios de seus mediadores, reduzindo a atrofia do parênquima renal. Obs.: quanto + proteinúria + TGF-beta; quanto + TGF-beta = + deposição de colágeno no interstício renal; logo, o controle da proteinúria diminui a TGF-beta e diminui fibrose! Como Prevenir ou Retardar a Instalaçãoda DRFT? Diagnóstico precoce + Intervenção precoce!!! Albuminúria ≥ 30 mg/24h persistente sinaliza pacientes com maior risco de evolução para DRC progressiva e rins em fase terminal. OU SEJA: quanto maior a proteinúria, maior a queda anual na TFG! 4 Khilver Doanne Sousa Soares IMPORTANTE LEMBRAR TAMBÉM: a perda de néfrons sobrecarrega os remanescentes, induzindo a hiperfiltração desses; no entanto, a hiperfiltração adaptativa também induz a lesão glomerular: inicialmente pela GESF e com o tempo evolui para glomeruloesclerose global difusa + atrofia de todo o néfron + fibrose. O bloqueio do SRAA comprovadamente previne ou atrasa esta evolução. As drogas utilizadas para redução no grau de proteinúria são: IECA ou Antagonistas da Angiotensina II, MAS NÃO DEVEM SER USADAS EM CONJUNTO risco de hipercalemia e piora da função renal. Os alvos terapêuticos no controle da proteinúria são para níveis inferiores a 0,5-1 g/dia, ou, pelo menos, uma queda superior a 50-60% em relação ao valor inicial. As literaturas divergem sobre qual valor admitir como meta pressórica para o paciente com DRC; algumas metas são de uma PA < 130 x 80 mmHg, principalmente se o paciente for portador de DRC proteinúrica (> 1g/dia de proteína na urina) e referências mais recentes (como o VIII Joint, de 2014) preconizando como meta uma PA < 140 x 90 mmHg para todos os nefropatas. Logo, a PA deve ser OBRIGATORIAMENTE mantida abaixo de 140 x 90 mmHg em todos os pacientes e, se possível, mantê-la abaixo de 130 x 80 mmHg principalmente em portadores de DRC proteinúrica. Outros fatores incluem o controle glicêmico rigoroso em diabéticos, tratamento da acidose metabólica, restrição moderada de proteínas na dieta (controverso) e controle da dislipidemia. O tratamento de glomerulonefrites e vasculites também é importante no tratamento de pacientes com DRC. Essas patologias são tratadas com uso de corticosteroides e outros imunossupressores como a ciclofosfamida. A plasmaférese também pode “salvar” os rins de certos subgrupos de pacientes (doença de Goodpasture). Distúrbios hormonais – perda da função endócrina O principal desequilíbrio hormonal da síndrome urêmica é a elevação dos níveis de paratormônio (PTH). O rim possui função endócrina produzindo eritropoetina e calcitriol – a deficiência de eritropoetina é o principal fator patogênico da anemia urêmica. OBS.: dá-se o nome síndrome urêmica ao conjunto de sinais e sintomas que aparece na insuficiência renal grave, quando a filtração glomerular está <30 ml/min. Algumas manifestações da síndrome urêmica respondem bem à diálise enquanto outras necessitam de tratamento específico (ou até mesmo transplante renal). Distúrbios hidroeletrolíticos mais frequentes na síndrome urêmica Os rins na síndrome urêmica se tornam incapazes de reagir a mudanças na dieta por exemplo: ficam cada vez mais incapazes de excretar o excesso e conservar eletrólitos em situações de privação. Nesses pacientes, uma ingestão acima de 100 mEq/dia de sódio já pode ser suficiente para causar hipervolemia e suas consequências clínicas: (1) hipertensão arterial sistêmica; (2) edema generalizado. Se a hipervolemia piorar subitamente, como após a ingesta de alimentos ricos em sódio, o paciente pode evoluir com edema agudo de pulmão, apresentando ritmo de galope (B3), estertoração pulmonar e insuficiência respiratória. 5 Khilver Doanne Sousa Soares Se a restrição de sal na dieta for muito intensa, ocorre balanço negativo de sódio e evolução para hipovolemia. O balanço de água fica comprometido; em pacientes cuja filtração glomerular está abaixo de 10 ml/min (10% da função renal), um consumo de água acima de 2-3 L/dia já pode ser suficiente para promover retenção de água livre, diluindo o sódio plasmático – hiponatremia. A retenção de potássio na insuficiência renal crônica é comum apenas quando a filtração glomerular está < 5-10 ml/min (menos de 5-10% da função renal). Quanto mais oligúrico for o paciente mais ele pode reter potássio – hipercalemia. O potássio demora mais para ser retido pelos mecanismos de adaptação: (1) aumento da fração excretória de potássio por néfron, estimulada pela hipercalemia (efeito direto) e pelo hormônio aldosterona – os inibidores da ECA, BRA e diuréticos poupadores de potássio (espironolactona, amiloride) anulam este mecanismo, desencadeando hipercalemia; (2) aumento da excreção de potássio pelo cólon (perda fecal de potássio). Na síndrome urêmica a excreção de potássio pelo cólon pode ir de <10% para até 40%! Isso é ativado pela própria hipercalemia e aldosterona. Logo, a constipação pode causar hipercalemia no paciente urêmico. OBS.: a uremia inibe a entrada de potássio nas células. Logo o paciente urêmico não tolera uma carga aguda de potássio, pois perdeu a principal defesa imediata contra a hipercalemia – o tamponamento celular. OBS.: pacientes diabéticos têm hipoaldosteronismo hiporreninêmico (disfunção da arteríola aferente com diminuição da secreção da renina); a redução de aldosterona prejudica a excreção de potássio pelos néfrons; o resultado é maior propensão à hipercalemia nesses pacientes. Desequilíbrio Acido-básico Para que o H+ seja de fato excretado na urina, ele precisa se ligar a uma base urinária. Cerca de 2/3 do H+ é eliminado ligado à amônia (NH3), formando o íon amônio (NH4 +). O 1/3 restante sai ligado a outras bases, principalmente ao fosfato. Na insuficiência renal crônica, quando a filtração glomerular está abaixo de 20 ml/min (20% da função renal), a produção renal de amônia começa a cair – prejudicando a eliminação de H+ ACIDOSE METABÓLICA HIPERCLORÊMICA! Com ânion-gap normal. Obs.: o aumento do cloreto é para compensar a queda do bicarbonato. Obs.2: acidose metabólica crônica promove desmineralização óssea – o H+ é tamponado no osso em troca da liberação de cálcio e fosfato. A reposição diária de bicarbonato de sódio está indicada quando o bicarbonato plasmático for ≤ 20 mEq/L. Manifestações Gastrointestinais A anorexia é o sintoma mais precoce. Seguem-se náuseas, plenitude abdominal e vômitos (intolerância gástrica). Estes podem ser explicados por dois fatores: (1) gastrite urêmica; (2) gastroparesia urêmica. Pode haver enantema e edema, com apresentação de petéquias. A disgeusia (amargo na boca) está presente. Envolvimento do SNC Na uremia aguda (ou crônica agudizada), o paciente pode apresentar desorientação, letargia, lassidão, confusão mental, surto psicótico, delirium, associado a sinais de encefalopatia metabólica, como nistagmo, disartria, asterixis, mioclonia espontânea, fasciculações, hiper- reflexia e sinal de Babinski bilateral - encefalopatia urêmica aguda. Pode evoluir para convulsões tônico-clônicas generalizadas, coma e óbito, por edema cerebral grave. Na uremia crônica, o distúrbio mental tende a ser insidioso e mais sutil nas fases iniciais - a encefalopatia urêmica crônica. Envolvimento do SNA Pode haver síndrome de disautonomia. 6 Khilver Doanne Sousa Soares O controle da pressão arterial e da frequência cardíaca pode estar alterado! Isso pode causar hipotensão postural, hipotensão durante a hemodiálise não responsiva a volume e frequência cardíaca fixa (com predomínio de taquicardia). Hipertensão Arterial Sistêmica Pode ser a causa (nefroesclerose hipertensiva) ou a consequência da nefropatia!!! Em estágios avançados com menos de 10% da função renal a hipertensão está presente em mais de 90% dos casos. 80% destes são hipertensos às custas de volume, pela retenção renal de sódio e água + vasoconstrição pela hiperativação do sistema RAA. OBS.: quando a TFG está muito baixa os IECA e BRA costumam induzir IRA e hipercalemia. Diuréticos de alça (ex.: furosemida, bumetanida) também são bons agentes anti-hipertensivos nos nefropatas crônicos. OBS.: esses doentes não respondem bem aos tiazídicosquando a TFG está abaixo de 30 ml/min. Pericardiopatia O derrame pericárdico é visto em 50% dos pacientes urêmicos. A pericardite urêmica é caracterizada por: (1) dor torácica do tipo pleurítica (ventilatório- dependente), contínua e que piora com o decúbito dorsal; (2) atrito pericárdico; (3) alterações eletrocardiográficas de pericardite; (4) derrame pericárdico. O tamponamento cardíaco é a complicação mais temida da pericardite urêmica. O quadro clínico é composto pelos seguintes achados: (1) turgência jugular; (2) taquicardia; (3) pulso paradoxal (desaparecimento do pulso na fase inspiratória). O tratamento da pericardite urêmica é a diálise ou a intensificação da diálise (hemodiálise diária por dez dias) – pela tendência hemorrágica nesses pacientes, o procedimento deve ser realizado sem heparina. Envolvimento Pulmonar Os pulmões do paciente urêmico estão geralmente com aumento do conteúdo líquido. Este edema é chamado de Edema Pulmonar Cardiogênico, e responde bem ao processo de ultrafiltração (retirada de sódio e água na diálise). Algumas alterações não respondem à diálise: (1) a disfunção da musculatura respiratória pela miopatia urêmica pode ser um importante fator para a dispneia do paciente; (2) a calcificação do parênquima pulmonar decorrente do hiperparatireoidismo secundário e do elevado produto cálcio-fosfato. Envolvimento Pleural Cerca de 20% dos pacientes urêmicos têm derrame pleural. Alguns apresentam sintomas do tipo dor pleurítica, tosse ou dispneia. Algumas características do líquido pleural podem ajudar a diferenciar de causas infecciosas: (1) aspecto hemorrágico (apesar de na maioria das vezes ser amarelo-citrino); (2) glicose normal; (3) pH > 7,30; (4) leucócitos e proteína não tão elevados como na pleurite infecciosa. Distúrbios da Hemostasia A uremia inibe todas as funções plaquetárias (adesão, ativação e agregação). O fator de von Willebrand encontra-se inibido na uremia... Além disso, as plaquetas também ficam depletadas de ADP e serotonina, e reduzem sua capacidade de gerar tromboxane A2. Toxinas dialisáveis estão implicadas na disfunção plaquetária urêmica, com destaque para o ácido guanidinossuccínico. A anemia também contribui: com um hematócrito normal, o fluxo laminar de sangue faz com que as hemácias se localizem no centro do vaso, "empurrando" as plaquetas para a periferia. O distúrbio urêmico da hemostasia pode ser inicialmente controlado pela administração de desmopressina (dDAVP): 3 μg/kg intranasal ou 7 Khilver Doanne Sousa Soares 0,3 μg/kg intravenoso. A anemia sempre deve ser tratada, através da reposição de eritropoetina recombinante ou mesmo hemotransfusão de urgência. O tratamento definitivo deve ser a diálise. Intolerância à Glicose e Metabolismo da Insulina O metabolismo dos carboidratos encontra- se alterado na uremia, levando às seguintes consequências: (1) intolerância à glicose; (2) pseudodiabetes urêmico. Na verdade, são graus variáveis do mesmo distúrbio, marcado pela resistência periférica à insulina associada à disfunção da célula beta da ilhota pancreática. A intolerância à glicose é definida clinicamente por uma glicemia pós-prandial de 2h maior que 140 mg/dl, enquanto o diabetes (ou pseudodiabetes urêmico) define-se por uma glicemia de jejum > 125 mg/dl ou pós-prandial de 2h maior que 200 mg/dl. A resistência periférica à insulina melhora significativamente após os dois primeiros meses de terapia dialítica e com a dieta hipoproteica. Anemia – não responde à diálise A anemia é uma das primeiras manifestações da síndrome urêmica. Em geral, se instala quando a filtração glomerular cai abaixo de 30-40 ml/min (creatinina sérica > 2,0-3,0 mg/dl). A anemia urêmica é normocítica e normocrômica. O principal fator implicado na gênese da anemia urêmica é a deficiência relativa de eritropoetina – hormônio que age na medula óssea estimulando a diferenciação de células- tronco em células progenitoras da série eritroide. Na insuficiência renal crônica, com um hematócrito de 25%, os níveis de eritropoetina estão em 20-25 mU/ml, isto é, acima dos valores de referência, porém, muito abaixo do esperado para o grau de anemia... Toxinas dialisáveis e aumento de PTH também estão implicados, reduzindo a meia-vida da hemácia de 120 para 65-70 dias e inibindo o efeito da eritropoetina na medula óssea. O PTH promove fibrose medular, importante fator que contribui para a queda na produção de hemácias! Além destes fatores relacionados à própria síndrome urêmica, possíveis agravantes da anemia em renais crônicos são carência de ferro, carência de vitaminas (ácido fólico, B12) e intoxicação pelo alumínio – o principal é a carência de ferro. A hemodiálise também contribui bastante para perda sanguínea crônica. O diagnóstico deve ser feito na presença de ferritina < 100 ng/ml e saturação de transferrina < 20%. Neste caso, está indicada a reposição de ferro. É praxe a reposição rotineira de ferro IV em pacientes submetidos à hemodiálise. Outro fator importante para a anemia da DRC é a carência de folato (tendência à anemia megaloblástica). O ácido fólico é perdido na hemodiálise – motivo pelo qual é reposto ácido fólico de rotina nos pacientes que realizam hemodiálise. Obs.: a anemia por intoxicação pelo alumínio deve ser suspeitada diante de uma anemia microcítica que não responde à reposição de eritropoetina recombinante nem ao ferro parenteral!!! O TRATAMENTO da anemia urêmica baseia- se na reposição de eritropoetina recombinante por via subcutânea (visando atingir uma hemoglobina média de 11 g/dl e um hematócrito de 33%), devendo ser iniciado quando os níveis de hemoglobina caírem abaixo de 10 g/dl. O controle do hiperparatireoidismo contribui para a melhora da anemia. A darbepoetina alfa (Aranesp), um análogo da eritropoetina de meia-vida mais longa, pode ser administrada a cada uma a duas semanas ou até mensalmente. Antes de iniciar a eritropoetina recombinante, avaliar os estoques de ferro – o tratamento não terá efeito sem estoques corporais de ferro. Avaliar também a saturação de transferrina e ferritina sérica. Quanto a saturação de transferrina for < 20% ou a ferritina 8 Khilver Doanne Sousa Soares for < 100 ng/ml, é obrigatória a reposição de ferro por cinco semanas antes da primeira dose de eritropoetina. Osteodistrofia Renal É um distúrbio da síndrome urêmica que culmina com desmineralização óssea e predisposição a fraturas, dor óssea e deformidade esquelética. São dois os principais tipos de doença óssea na DRC: Osteopatia de alto metabolismo (alto turn over): decorre do hiperparatireoidismo secundário osteíte fibrosa cística; Osteopatia de baixo metabolismo (baixo turn over): a doença óssea adinâmica. Outra terceira forma, menos comum, é a osteomalácia (baixo turn over). Osteíte Fibrosa Cística O paratormônio (PTH) estimula a reabsorção do osso, que ativa a neoformação óssea (alto turn over). A desmineralização do osso é reposta com colágeno! Na esperança de que os níveis de cálcio sanguíneo subam e o cálcio possa ser reposto no osso, o que infelizmente, na DRC não irá ocorrer. Ademais, o estímulo metabólico excessivo também leva à fibrose parcial da medula óssea e ao surgimento de áreas císticas no osso, as quais podem sangrar dando origem aos "tumores marrons" (cistos repletos de sangue "antigo"). Resuminho. . . o PTH aumenta muito na osteíte fibrosa cística causada pela DRC e o que ele faz é retirar cálcio do osso para o sangue. Por que isso ocorre? Por que o paciente com DRC tem um rim com baixa ou nenhuma produção de calcitriol, a forma ativa da vitamina D! Sem o calcitriol, o cálcio da ingestão alimentar não é absorvido e reduzimos/zeramos o nível de cálcio sérico. . . o quê o corpo faz para repor esse cálcio? Retira cálcio do osso, através do estímulo do PTH, já que o cálcio que estamos “comendo”através dos alimentos não consegue ser absorvido!!! E o resultado é um osso cada vez mais desmineralizado. O osso sofre alterações pelo hiperparatireoidismo secundário (osteíte fibrosa cística) e o exame de sangue apresenta outra combinação: hiperfosfatemia + hipocalcemia + elevação do PTH-intacto (> 100 pg/ml). O cálcio pode estar levemente reduzido ou normal baixo e o fosfato muitas vezes encontra-se bastante elevado (> 6,5 mg/dl). Isso pode resultar na precipitação de fosfato de cálcio insolúvel nos tecidos e sangue, causando problemas cardíacos, rigidez vascular e isquemia e necrose de pele (calcifilaxia). Os ACHADOS CLÍNICOS são: Dor óssea predominante em região lombar (lombalgia), mas também podem estar presentes em: quadril, joelho, membros inferiores, costelas; Fraturas patológicas podem aparecer com pequenos traumas ou distensão do osso; Deformidades ósseas, a mais comum é a cifoescoliose toracolombar; Nas crianças há o “raquitismo renal”; Os achados sanguíneos mais sugestivos de osteíte fibrosa cística são: hiperfosfatemia grave (P > 6,5 mg/dl), PTH-intacto muito elevado (> 450 pg/ml); fosfatase alcalina sérica elevada, achados radiológicos. Depósitos teciduais e vasculares de cálcio: observar a deposição de cálcio nos tecidos moles periarticulares (setas pretas) e em um vaso (setas brancas). 9 Khilver Doanne Sousa Soares Reabsorção subperiosteal das falanges da mão (achado mais característico). Crânio em "sal e pimenta" – áreas líticas se alternando a áreas blásticas (hiperdensas). “Tumor marrom" – lesões císticas entremeadas à esclerose óssea, encontradas especialmente nas extremidades (úmero, falanges, etc.). Possui este nome em função de seu aspecto macroscópico característico. Coluna em rugger jersey (em referência a um tipo de camisa americana listrada) – a comparação é feita pela presença de áreas blásticas nos limites superior e inferior da vértebra e áreas líticas no centro. A pseudofratura de Looser: um achado característico da osteomalácia na insuficiência renal crônica. 10 Khilver Doanne Sousa Soares Doença Óssea Adinâmica A doença óssea adinâmica é uma forma atualmente comum de osteodistrofia renal. Os fatores de risco mais importantes são: idade avançada, diabetes mellitus e, principalmente, a terapia do hiperparatireoidismo secundário (ver adiante). Esta forma de osteopatia, também chamada de doença óssea aplásica, é caracterizada por um baixo metabolismo e atividade celular do osso, determinando uma importante perda da densidade óssea (como se fosse uma osteoporose...) – ao que parece o quadro inflamatório da DRC, alto nível de citocinas pró-inflamatórias diminui a atividade metabólica do osso. Tratamento da Osteodistrofia Renal O HIPERPARATIREOIDISMO SECUNDÁRIO na DRC tem altos níveis de PTH às custas de hiperfosfatemia e deficiência de calcitriol. O tratamento se baseia na redução dos níveis séricos de fosfato e no aumento dos níveis séricos de calcitriol. A primeira medida é a restrição de fosfato na dieta (< 800 mg/dia); Se a restrição dietética não for suficiente, está indicado o uso de quelantes orais de fosfato, administrados juntamente às refeições (evitam a absorção do fosfato presente na dieta); Em casos ainda refratários: devemos acrescentar a reposição de calcitriol. Dose: 0,5-1 micrograma/dia. Monitora-se a calcemia e a fosfatemia, mantendo o fosfato próximo a 4,5 mg/dl e o cálcio próximo a 8,5 mg/dl. Os níveis de PTH devem ser mantidos entre 150-300 pg/ml (valores relativamente altos), para evitar o surgimento de doença óssea adinâmica. Os calciomiméticos (ex.: cinacalcete) podem ser associados às demais medidas citadas em pacientes refratários. E se DE TUDO O PACIENTE PERMANECER REFRATÁRIO ÀS MEDIDAS CITADAS: paratireoidectomia subtotal. Outras indicações para a cirurgia: Dor óssea intratável; Fraturas recorrentes; Prurido intratável; Disfunção orgânica por calcificação; Calcifilaxia; Hiperparatireoidismo terciário; Hiperfosfatemia + alto duplo-produto refratários. Na DOENÇA ÓSSEA ADINÂMICA, o tratamento não é específico. A conduta preconizada é deixar o PTH ficar mais elevado – o que infelizmente vai de encontro à terapia do hiperparatireoidismo. Manifestações Cutâneas A pele do paciente urêmico costuma ser seca (xerose urêmica) e hiperpigmentada (principalmente em áreas expostas ao Sol), devido à redução da vitamina A cutânea e ao acúmulo de urocromos (escórias pigmentadas), respectivamente. Em pacientes não submetidos à diálise há a presença de neve urêmica, uma espécie de pó branco. Pode haver porfiria cutânea tarda (dermatoporfiria bolhosa pelo acúmulo de uroporfirinas), prurido urêmico (multifatorial), cabelos quebradiços, secos e sem coloração, alterações nas unhas. Manifestações Articulares e Musculares Pacientes com uremia crônica podem apresentar quadros agudos de monoartrite, oligoartrite, periartrite ou tenossinovite. As principais causas são: Depósito de cristais (gota, pseudogota, artrite por oxalato de cálcio, artrite por fosfato de cálcio básico); Artrite séptica (as bactérias mais comuns são o Staphylococcus aureus e os Gram- negativos - gonococos, Pseudomonas, E. coli, Klebsiella) No renal crônico, a artrite séptica pode ocorrer sem febre ou leucocitose. 11 Khilver Doanne Sousa Soares Como diferenciar? Punção do líquido sinovial! Na artrite por depósito de cristais o aspecto é turvo e os leucócitos encontram-se na faixa 2.000-40.000/mm³, enquanto na artrite séptica o aspecto é turvo ou purulento e os leucócitos estão mais elevados, na faixa 20.000- 300.000/mm³. As articulações mais acometidas são a metatarsofalangiana do hálux (podagra) e o joelho. O tratamento da artrite por depósito de cristais deve ser feito com AINE ou colchicina, na fase aguda, tomando-se o cuidado de utilizar doses mais baixas e por curto período Envolvimento Muscular A miopatia urêmica, tem como fator causal a deficiência de calcitriol. O quadro é de fraqueza da musculatura proximal (cinturas pélvica e escapular), manifestando-se como dificuldade em levantar da cadeira, subir escada, pentear o cabelo, etc. Manifestações Cardíacas e Coronariana São as causas mais comuns de óbito na DRC: 40% de todos os óbitos. O processo aterosclerótico nesses pacientes se acelera – tem fatores de risco tradicionais (HAS, dislipidemia, DM, hiper- homocisteinemia) e não tradicionais (inflamação sistêmica, redução do óxido nítrico, disfunção endotelial). A hipertrofia ventricular esquerda está presente em cerca de 80% dos pacientes com uremia crônica – é uma HVE do tipo concêntrica em 50% dos casos e excêntrica em 30% deles. As pressões de enchimento elevam-se como consequência ao déficit de relaxamento miocárdico e à redução da complacência do ventrículo. E ainda, pode haver cardiomiopatia dilatada. Dislipidemia A dislipidemia mais comum da uremia é a hipertrigliceridemia isolada (tipo IV), detectada em cerca de 80% dos pacientes. Há uma queda do HDL, enquanto o LDL e o colesterol total encontram-se geralmente na faixa normal. Estado Hipercatabólico: desnutrição proteicocalórica O paciente urêmico costuma ter catabolismo proteico acelerado + baixa ingestão de proteína: a consequência é a desnutrição proteicocalórica. A perda proteica pode ocorrer na urina, nos portadores de síndrome nefrótica ou na diálise peritoneal. Distúrbio Imunológico A função dos neutrófilos (leucócitos polimorfonucleares), isto é, sua capacidade fagocítica e bactericida, está deprimida na uremia, predispondo a infecções bacterianas ou fúngicas com evolução grave. Uma discreta linfopenia pode ocorrer, a imunidade humoral, dependente de linfócitos B, geralmente está deficiente. Tratamento pelos Estágios da TFG GI, GII e G3a A hipertensão arterial e proteinúria são os problemas chavenessas fases. A hipertensão é agravada pela nefropatia. Nessas fases a conduta é focada em PREVENIR ou RETARDAR A PROGRESSÃO da IR e doenças cardiovasculares. O alvo da pressão arterial é < 140 x 90 mmHg (ou < 130 x 80 mmHg, se possível, na DRC "proteinúrica"); as drogas de escolha são os IECA ou BRA: reduzem a hiperfiltração dos néfrons remanescentes e aliviam a hipertensão intraglomerular – objetivos básicos são reduzir a proteinúria para níveis < 0,5-1 g/dia, ou níveis menores que 50-60% do valor inicial; 12 Khilver Doanne Sousa Soares Glomerulonefrite e vasculites: tratadas agressivamente com corticosteroides e imunossupressores; Obesidade, sedentarismo, tabagismo, dislipidemia, DM. . . combater/tratar qualquer outro fator de risco cardiovascular presente. A hiperuricemia deve ser tratada com drogas redutoras da produção endógena de ácido úrico (ex.: alopurinol, em doses corrigidas). Outra conduta (controversa) é a restrição de proteínas na dieta – diminuindo as escórias nitrogenadas e sobrecarga dos néfrons. Obs.: idealmente, a dieta deve ser conduzida sob a supervisão de um nutricionista. A meta é de tentar manter uma ingesta proteica por volta de 0,8 g de proteína/kg de peso por dia; se mesmo assim os pacientes desenvolverem acidose metabólica, hiperfosfatemia ou manifestações urêmicas reduzi-la até 0,6 g de proteína/kg de peso por dia. G3b, G4 – fases iniciais da síndrome urêmica Estes pacientes ainda têm diurese normal e creatinina plasmática entre 2,0-3,0 mg/dl. O tratamento visa basicamente o controle da hipertensão arterial (mais grave nesta fase), da anemia e da osteodistrofia renal e metabolismo cálcio-fósforo. Utiliza-se diureticoterapia com diuréticos de alça (furosemida) em altas doses; Em casos refratários, associa-se outro anti-hipertensivo: IECA ou BRA, com muito cuidado – risco de hipocalemia e retenção de escórias nitrogenadas. OBS.: tomar cuidado com os pacientes renais crônicos com dificuldade de retenção renal de sódio – não restringir excessivamente o sódio na dieta desses doentes. Principais causas de agudização da IRC: Hipovolemia (pré-renal); Uso de drogas nefrotóxicas (radiocontraste iodados, AINE, aminoglicosídeos); Obstrução (pós-renal). G5 – doença renal em fase terminal O paciente apresenta TFG < 15 ml/min/1,73 m², creatinina sérica > 6-8 mg/dl e ureia sérica > 120-180 mg/dl. Neste momento, a indicação de algum método de substituição renal é inquestionável! A dieta, neste momento, deve ter restrição proteica menos acentuada (1,2–1,3 g/kg/dia), tendo como principal objetivo evitar a desnutrição proteicocalórica. O paciente deve fazer restrição dos seguintes elementos: - Sódio – 100 mEq/dia (reduzir a retenção volêmica); - Potássio – 40 mEq/dia (evitar hipercalemia) - Água – 1.000-1.500 ml/dia (reduzir ou prevenir a hiponatremia); - Quando o bicarbonato sérico estiver persistentemente abaixo de 20 mEq/L, está indicada a reposição oral de bicarbonato de sódio; - A reposição de ferro e ácido fólico está indicada em todos os pacientes em programa de hemodiálise. Insuficiência Renal Aguda - IRA Um quadro de insuficiência renal é dito agudo (IRA) quando sua evolução é rápida, ao longo de horas ou dias. Diagnóstico na maioria das vezes laboratorial, pelo reconhecimento da elevação da ureia e creatinina plasmáticas (azotemia). 13 Khilver Doanne Sousa Soares A IRA pode ser dividida em três subtipos, de acordo com o débito urinário: (1) IRA oligúrica, quando o débito urinário for inferior a 500 ml/24h, ou 400 ml/24h, dependendo da referência; (2) IRA não oligúrica, quando a diurese for maior que 400-500 ml/24h; e (3) IRA anúrica, para débitos urinários inferiores a 50 ml/24h ou 100 ml/24h. Etiopatogenia A injúria renal aguda pode ser causada por três mecanismos básicos: (1) hipofluxo renal (azotemia pré-renal); (2) lesão no próprio parênquima renal (azotemia renal intrínseca); e (3) obstrução do sistema uroexcretor (azotemia pós-renal). A causa de azotemia renal intrínseca mais comum é a NTA (Necrose Tubular Aguda), responsável por cerca de 90% dos casos neste grupo etiopatogênico. Mas considerando todos os mecanismos, o mais comum parece ser o pré- renal, e o menos comum, o pós-renal. 14 Khilver Doanne Sousa Soares 1. Pré-renal (hipofluxo) – 55-60%; 2. NTA (Necrose Tubular Aguda) – 35-40%; 3. Pós-renal (obstrutiva) – 5-10%. Azotemia pré-renal É a elevação das "escórias nitrogenadas" causada pela redução do fluxo sanguíneo renal. É o tipo mais comum de injúria renal aguda (55- 60% dos casos). As principais causas são: (1) hipovolemia; (2) estados de choque; (3) insuficiência cardíaca; (4) cirrose hepática com ascite. Há a diminuição do volume circulante efetivo. Quando a Pressão Arterial Média (PAM) cai, as arteríolas aferentes vasodilatam, reduzindo a resistência vascular do rim, evitando o hipofluxo renal. Em condições normais, o fluxo sanguíneo renal é preservado até uma PA sistólica de 80 mmHg. Os AINE (inibidores da formação de prostaglandinas), os inibidores da ECA e os antagonistas do receptor de angiotensina II prejudicam a autorregulação do fluxo renal e da TFG!!! Estes fármacos podem precipitar azotemia pré-renal em pacientes com baixo fluxo renal, como aqueles com hipovolemia moderada a grave, ICC descompensada, nefropatia crônica ou estenose bilateral de artéria renal. Na tentativa de conservação hidrossalina, a angiotensina II aumenta a reabsorção de sódio e água pelo néfron proximal, enquanto a aldosterona aumenta a reabsorção de sódio e água no néfron distal. A vasopressina aumenta a reabsorção de água livre no néfron distal. Resultado final: oligúria, urina hiperconcentrada e pobre em sódio. Causas de azotemia pré-renal Há ainda a síndrome hepatorrenal (SHR), uma forma peculiar de IRA pré-renal – não pode ser resolvida apenas com reposição volêmica. Neste caso, o mecanismo da IRA consiste numa intensa vasoconstrição nas artérias e arteríolas pré-glomerulares (isquemia do córtex), o que configura um tipo de IRA "funcional" potencialmente reversível. Acontece que essa reversibilidade depende única e exclusivamente da normalização da função hepática. Azotemia renal intrínseca É a disfunção renal aguda causada por lesão no próprio parênquima renal. É responsável por 35-40% dos casos de injúria renal aguda. Enquanto o comprometimento glomerular (glomerulopatias) predomina entre as causas de lesão renal intrínseca crônica, a causa mais comum nos casos agudos é a Necrose Tubular Aguda (NTA) que responde por cerca de 90% dos casos. Causas de IRA por lesão intrínseca 15 Khilver Doanne Sousa Soares Azotemia pós-renal É uma disfunção renal causada por obstrução agudado sistema uroexcretor – é responsável por 5 a 10% dos casos de injúria renal aguda. Após um quadro de obstrução urinária aguda, a pressão no interior dos túbulos renais aumenta de maneira súbita. Após 12 a 24 horas do início da obstrução observamos a síntese progressiva de substâncias vasoconstritoras. A longo prazo, observa-se uma nefrite tubulointersticial crônica. A condição de base mais frequentemente encontrada é a hiperplasia prostática benigna! Tomar cuidado com a infecção: a pielonefrite leva à perda renal em poucos dias. Na NTA a urina então estará com muito sódio e muita água (mais diluída). Na NTA, os rins tornam-se incapazes de concentrar a urina – um distúrbio chamado isostenúria. 16 Khilver Doanne Sousa Soares Diálise Diálise é um método de depuração de substâncias do plasma humano pelo fenômeno de difusão passiva, através de uma membrana semipermeável. O método dialítico pode ser realizado de duas maneiras: Indicações de diálise de emergência Hemodiálise (HD): o processo é realizado em um circuito extracorpóreo, utilizando- se uma membrana artificial. Umou mais vasos sanguíneos do paciente são puncionados para que seu sangue percorra um circuito tubular e passe pelo filtro; Diálise Peritoneal (DP): o processo de diálise é realizado dentro do próprio corpo, utilizando-se o peritônio como a membrana semipermeável. O peritônio é um tecido extremamente vascularizado, contendo capilares de permeabilidade acentuada, e banhado externamente pelo líquido peritoneal. Podemos infundir a solução de diálise dentro da cavidade peritoneal, induzindo ascite. As substâncias se difundem do sangue (que passa pelos capilares peritoneais) para a cavidade peritoneal (contendo a solução de diálise), através do peritônio. As veias mais utilizadas para a instalação do cateter de dupla luz são a jugular interna e a femoral. A subclávia deve ser evitada, uma vez que a presença de cateteres calibrosos nessa veia aumenta o risco de estenose vascular. Fonte: https://www.sbn.org.br/orientacoes-e- tratamentos/tratamentos/dialise-peritoneal/. Fonte: https://baraovascular.com.br/todos-os- tratamentos/acesso-para-hemodialise/. _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ Referências Medcurso. Nefro – Ciclo I – As funções do rim, Insuficiência Renal Aguda, Insuficiência Renal Crônica, Terapia de Substituição Renal, 2020/2021. https://www.sbn.org.br/orientacoes-e-tratamentos/tratamentos/dialise-peritoneal/ https://www.sbn.org.br/orientacoes-e-tratamentos/tratamentos/dialise-peritoneal/ https://baraovascular.com.br/todos-os-tratamentos/acesso-para-hemodialise/ https://baraovascular.com.br/todos-os-tratamentos/acesso-para-hemodialise/
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