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210 Criptococose Arturo Casadevall DEFINIÇÃO E ETIOLOGIA O Cryptococcus, um gênero de fungo leveduriforme, é o agente etiológico da criptococose. Até recentemente, as cepas criptocócicas eram separadas em duas espécies, Cryptococcus neoformans e Cryptococcus gattii, ambas podendo causar criptococose em humanos. As duas variedades de C. neoformans – grubii e neoformans – correlacionam-se com os sorotipos A e D, respectivamente. O C. gattii, embora não seja dividido em variedades, também é antigenicamente diverso, abrangendo os sorotipos B e C. Porém, estudos de sequenciamento genômico revelaram enorme diversidade entre isolados previamente alocados em cada uma das espécies, sugerindo que alguns podem ser reclassificados como novas espécies. A maioria dos laboratórios de microbiologia clínica não distingue rotineiramente entre C. neoformans e C. gattii ou entre variedades, identificando e descrevendo todos os isolados simplesmente como C. neoformans. EPIDEMIOLOGIA A criptococose foi descrita pela primeira vez na década de 1890, mas continuou relativamente rara até meados do século XX, quando os avanços no diagnóstico e o maior número de indivíduos imunossuprimidos aumentaram de maneira acentuada sua prevalência relatada. Embora a evidência sorológica de infecção criptocócica seja comum entre indivíduos imunocompetentes, a doença criptocócica (criptococose) é relativamente rara na ausência de comprometimento da imunidade. Indivíduos sob alto risco de criptococose incluem pacientes com doenças malignas hematológicas, receptores de transplantes de órgãos sólidos que precisam de terapia imunossupressora, pessoas cujas condições clínicas precisam de tratamento com glicocorticoide e pacientes com infecção avançada pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) e contagem de linfócitos T CD4+ < 200/μL. Em contraste, a doença relacionada ao C. gattii não está associada a deficiências imunes específicas e muitas vezes ocorre em indivíduos imunocompetentes. A infecção criptocócica é adquirida do ambiente. O C.neoformans e o C. gattii habitam nichos ecológicos diferentes. O C.neoformans costuma ser encontrado em solos contaminados por excrementos de aves e pode ser isolado com facilidade de solos úmidos de áreas sombreadas contaminados com dejetos de pombos. Já o C. gattii não é encontrado em fezes de aves. Em vez disso, habita uma variedade de espécies de árvores, inclusive diversos tipos de eucaliptos. São encontradas cepas de C. neoformans em todo o mundo, porém as da variante grubii (sorotipo A) são muito mais comuns que as da variante neoformans (sorotipo D), tanto em isolados clínicos quanto ambientais. Pensava- se que a distribuição geográfica do C. gattii estivesse praticamente limitada às regiões tropicais até ocorrer um surto de criptococose causado por uma nova cepa, o sorotipo B, que começou em Vancouver em 1999. Esse surto estendeu-se para os Estados Unidos, e infecções por C. gattii estão sendo encontradas em vários estados no noroeste do Pacífico. A carga global da criptococose foi recentemente estimada em cerca de 1 milhão de casos, com > 600 mil mortes anualmente. Por conseguinte, os criptococos são importantes patógenos humanos. Desde o início da pandemia do HIV no começo da década de 1980, a maioria dos casos de criptococose ocorreu em pacientes com síndrome da imunodeficiência adquirida (Aids) (Cap. 197). Para entender o impacto da infecção pelo HIV sobre a epidemiologia da criptococose, vale a pena lembrar que, no início da década de 1990, houve > 1.000 casos de meningite criptocócica por ano na cidade de Nova Iorque – um número que ultrapassou muito o de casos de meningite bacteriana. Com o advento da terapia antirretroviral efetiva, a incidência de criptococose relacionada à Aids foi marcadamente reduzida entre as pessoas tratadas. Assim, a maioria dos casos atualmente ocorre em regiões do mundo com recursos limitados. A doença continua bastante comum nas regiões onde o tratamento antirretroviral não está disponível com facilidade, como a África e a Ásia; nessas regiões até um terço dos pacientes com Aids têm criptococose. Entre as pessoas infectadas por HIV, aquelas com uma porcentagem diminuída de células B de memória que expressam IgM podem ter risco maior de criptococose. PATOGÊNESE A infecção criptocócica é adquirida por inalação de partículas infecciosas aerossolizadas. A natureza exata dessas partículas não é conhecida; as duas formas prováveis são pequenas células de levedura ressecadas e basidiósporos. Pouco se sabe sobre a patogênese da infecção inicial. Estudos sorológicos mostraram que a infecção criptocócica é adquirida na infância, mas não se sabe se a infecção inicial é sintomática. Tendo em vista que a infecção criptocócica é comum, enquanto a doença é rara, o consenso é que os mecanismos pulmonares de defesa em indivíduos com integridade imunológica são altamente efetivos no combate a esse fungo. Não está claro se a infecção inicial leva a um estado de imunidade ou se a maioria dos indivíduos sofre infecções frequentes e recorrentes durante a vida que melhoram sem que ocorra doença clínica. No entanto, evidências indicam que algumas infecções criptocócicas humanas acarretam um estado de latência em que microrganismos viáveis ficam abrigados por períodos prolongados, possivelmente em granulomas. Portanto, a inalação de células e/ou esporos criptocócicos pode ser seguida de eliminação ou do estabelecimento de um estado latente. As consequências da presença prolongada de células criptocócicas nos pulmões não são conhecidas, mas evidências de estudos com animais indicam que a presença prolongada dos microrganismos altera o meio imunológico do pulmão e predispõe à doença alérgica das vias aéreas. Em geral, a criptococose manifesta-se clinicamente como meningoencefalite crônica. Os mecanismos pelos quais o fungo se dissemina para fora dos pulmões e entra no sistema nervoso central (SNC) continuam pouco compreendidos. O mecanismo pelo qual as células criptocócicas atravessam a barreira hematencefálica é objeto de estudo intensivo. Evidências atuais sugerem que a migração direta das células fúngicas se dê através do endotélio ou do transporte dos fungos dentro dos macrófagos, como invasores em um “cavalo de Troia”. As espécies de Cryptococcus possuem fatores de virulência bem definidos, os quais incluem a cápsula polissacarídica, a capacidade de elaborar melanina e a elaboração de enzimas (p. ex., fosfolipase e urease) que facilitam a sobrevivência das células fúngicas no tecido. Entre esses fatores de virulência, a cápsula e a produção de melanina foram os mais estudados. A cápsula criptocócica é antifagocítica, e o seu polissacarídeo foi associado a numerosos efeitos deletérios sobre a função imune do hospedeiro. As infecções criptocócicas podem desencadear pouca ou nenhuma reação inflamatória tecidual. A disfunção imune vista na criptococose foi atribuída à liberação de grandes quantidades de polissacarídeo capsular nos tecidos, onde é provável que ele interfira nas respostas imunes locais (Fig. 210-1). Na prática clínica, o polissacarídeo capsular é o antígeno medido como marcador diagnóstico da infecção criptocócica. FIGURA 210-1 Antígeno criptocócico em tecido cerebral humano, conforme revelado pela coloração imuno-histoquímica. As áreas marrons mostram depósitos de polissacarídeo no mesencéfalo de um paciente que morreu em decorrência de meningite criptocócica. (Reimpressa, com permissão, de SC Lee et al: Am J Pathol148; 1267, 1996.) ABORDAGEM AO PACIENTE Criptococose A criptococose deve ser incluída no diagnóstico diferencial quando um paciente manifesta achados sugestivos de meningite crônica. A preocupação com a criptococose é intensificada por uma história de cefaleia e sintomas neurológicos em um paciente com algum distúrbio ou estado imunossupressor subjacente associado a uma maior incidência de criptococose, como infecção avançada pelo HIV ou transplante de órgão sólido. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS As manifestações clínicas da criptococose refletem o local da infecção fúngica. O espectro de doença causada por espécies de Cryptococcus consiste predominentemente de meningoencefalite e pneumonia, mas infecções de pele e de tecidos moles também ocorrem; de fato, a criptococose pode afetar qualquer tecido ou órgão. O acometimento do SNC, em geral, se manifesta por sinais e sintomas de meningite crônica, como cefaleia, febre, letargia, déficits sensitivos e de memória, paresia de nervo craniano, déficits visuais e meningismo. A meningite criptocócica difere da bacteriana pelo fato de muitos pacientes infectados por criptococos apresentarem sintomas por várias semanas. Além disso, as características clássicas de irritação meníngea, como o meningismo, podem estar ausentes na meningite criptocócica. Casos indolentes podem se manifestar como demência subaguda. A criptococose meníngea pode acarretar perda catastrófica súbita da visão. A criptococose pulmonar, em geral, se manifesta por tosse, aumento da produção de escarro e dor torácica. Os pacientes infectados pelo C. gattii podem apresentar massas pulmonares granulomatosas, conhecidas como criptococomas. Ocorre febre em uma minoria dos casos. Como a doença do SNC, a criptococose pulmonar pode ter uma evolução indolente, sendo provável que a maioria dos casos não chegue ao conhecimento dos médicos. Na verdade, muitos casos são descobertos por acaso, durante a avaliação de uma radiografia torácica anormal obtida para outros fins diagnósticos. A criptococose pulmonar pode estar associada a doenças prévias, como doenças malignas, diabetes e tuberculose. Lesões cutâneas são comuns em pacientes com criptococose disseminada e podem ser altamente variáveis, incluindo pápulas, placas, púrpura, vesículas, lesões semelhantes a tumores e exantemas. O espectro da criptococose nos pacientes infectados pelo HIV é tão variado e mudou tanto desde o advento da terapia antirretroviral que não há mais necessidade de distinção entre a criptococose relacionada com o HIV e a que não é. Nos pacientes com Aids e nos submetidos a transplante de órgão sólido, as lesões da criptococose cutânea, em geral, lembram as do molusco contagioso (Fig. 210-2; Cap. 191). FIGURA 210-2 Infecção fúngica disseminada. Um receptor de transplante de fígado desenvolveu seis lesões cutâneas semelhantes à mostrada. A biópsia e o teste para antígeno sérico demonstraram a presença de Cryptococcus. As características importantes da lesão incluem uma pápula de aparência benigna com umbilicação central semelhante ao molusco contagioso. (Foto obtida por cortesia de Dr. Lindsey Baden; com permissão.) DIAGNÓSTICO O diagnóstico de criptococose requer a demonstração de células leveduriformes em tecidos normalmente estéreis. A visualização da cápsula de células fúngicas no líquido cerebrospinal (LCS) misturada com nanquim é uma técnica diagnóstica útil e rápida. As células criptocócicas em nanquim têm um aspecto característico porque suas cápsulas excluem as partículas de tinta. No entanto, esse exame pode ter resultados negativos em pacientes com baixa carga de fungos. O exame deve ser feito por alguém treinado, pois, às vezes, os leucócitos e os glóbulos de gordura podem ser confundidos com células fúngicas. Culturas de LCS e sangue positivas para células criptocócicas são diagnósticas de criptococose. Na meningite criptocócica, o exame do LCS, em geral, revela evidência de meningite crônica com pleocitose mononuclear e aumento dos níveis de proteína. Um teste particularmente útil, por ser sensível e específico, é a detecção do antígeno criptocócico (CRAg) no LCS e no sangue. Tal exame se baseia na detecção do polissacarídeo criptocócico no material. Um teste de CRAg positivo fornece forte evidência presuntiva de criptococose; mas, como na criptococose pulmonar o resultado geralmente é negativo, o teste é menos útil no diagnóstico da doença pulmonar e tem apenas utilidade limitada no monitoramento da resposta ao tratamento. Em áreas da África onde há uma alta prevalência de infecção por HIV, o rastreamento de rotina do sangue para CRAg em pacientes infectados por HIV com baixas contagens de linfócitos CD4+ T pode identificar indivíduos em alto risco de doença criptocócica que são candidatos para a terapia antifúngica. O rastreamento de CRAg tem mostrado que uma significativa proporção de pacientes infectados por HIV hospitalizados com pneumonia na Tailândia abrigam a infecção criptocócica. Testes para CRAg baratos e de execução no próprio local de cuidados estão sob desenvolvimento e poderiam ser de grande benefício diagnóstico em regiões com recursos limitados. TRATAMENTO Criptococose Tanto o local da infecção quanto o estado imune do hospedeiro precisam ser considerados ao se escolher a terapia para a criptococose. A doença tem dois padrões gerais de manifestação: (1) a criptococose pulmonar, sem evidências de disseminação extrapulmonar, e (2) a criptococose extrapulmonar (sistêmica), com ou sem meningoencefalite. A criptococose pulmonar em um hospedeiro imunocompetente às vezes melhora sem tratamento. Contudo, diante da propensão das espécies de Cryptococcus de se disseminarem a partir dos pulmões, da impossibilidade de avaliar com exatidão o estado imune do hospedeiro e da disponibilidade de tratamento com baixa toxicidade sob a forma de fluconazol, a recomendação atual é tratar a criptococose pulmonar em um indivíduo imunocompetente com fluconazol (200-400 mg/dia, durante 3-6 meses). A criptococose extrapulmonar sem acometimento do SNC em um hospedeiro imunocompetente pode ser tratada com o mesmo esquema, embora, nos casos mais graves, possa ser necessária a anfotericina B (AnB; 0,5-1 mg/kg/dia, durante 4-6 semanas). Em geral, uma criptococose extrapulmonar sem envolvimento do SNC requer tratamento menos invasivo, sem esquecer que a morbidade e a mortalidade na criptococose estão associadas a acometimento meníngeo. Portanto, a decisão de categorizar a criptococose como “extrapulmonar sem acometimento do SNC” só deve ser tomada após a avaliação cuidadosa do LCS se ele não revelar sinais de infecção criptocócica. No caso de acometimento do SNC em um hospedeiro sem Aids ou comprometimento imune óbvio, a maioria dos especialistas recomenda iniciar o tratamento com AnB (0,5-1 mg/kg/dia) durante a fase de indução, seguida por tratamento prolongado com fluconazol (400 mg/dia) durante a fase de consolidação. Na meningoencefalite criptocócica sem uma condição imunossupressora concomitante, o esquema recomendado é AnB (0,5-1 mg/kg) mais flucitosina (100 mg/kg) diariamente, por 6-10 semanas. Uma alternativa pode ser tratar os pacientes com AnB (0,5-1 mg/kg) mais flucitosina (100 mg/kg) diariamente, durante duas semanas, e, então, com fluconazol (400 mg/dia) por pelo menos 10 semanas. Os pacientes com imunossupressão são tratados com o mesmo esquema inicial, exceto pelo fato de que a terapia de consolidação com fluconazol é dada por um período prolongado para evitar recidiva. A criptococose em pacientes com infecção pelo HIV sempre requer tratamento agressivo e é considerada incurável, amenos que a função imune melhore. Consequentemente, o tratamento da criptococose no contexto da Aids tem duas fases: de indução (com o intuito de reduzir a carga fúngica e aliviar os sintomas) e a de manutenção pelo resto da vida (para evitar uma recidiva clínica sintomática). A criptococose pulmonar e a extrapulmonar sem evidência de acometimento do SNC podem ser tratadas com fluconazol (200-400 mg/dia). Nos pacientes com doença mais extensa, pode-se acrescentar flucitosina (100 mg/kg/dia) ao esquema de fluconazol por 10 semanas, com tratamento de manutenção com fluconazol pelo resto da vida daí por diante. Para os pacientes com infecção pelo HIV e evidência de acometimento do SNC, a maioria dos especialistas recomenda o tratamento de indução com AnB. Um esquema aceitável é AnB (0,7-1 mg/kg) mais flucitosina (100 mg/kg) diariamente, por duas semanas, seguindo-se com fluconazol (400 mg/dia) por pelo menos 10 semanas e, então, terapia de manutenção pelo resto da vida com fluconazol (200 mg/dia). Fluconazol (400-800 mg/dia) mais flucitosina (100 mg/kg/dia) durante 6 a 10 semanas, seguidos por fluconazol (200 mg/dia) como terapia de manutenção é uma alternativa. Triazóis mais novos, como o voriconazol e o posaconazol, são altamente ativos contra cepas de criptococos e parecem ser clinicamente efetivos, porém a experiência clínica com esses agentes no tratamento da criptococose é limitada. As formulações lipídicas de AnB podem substituir a AnB em desoxicolato nos pacientes com comprometimento renal. A caspofungina e a micafungina não são eficazes contra espécies de Cryptococcus, não tendo um papel no tratamento da criptococose. A meningoencefalite criptocócica, em geral, está associada ao aumento da pressão intracraniana, que se acredita ser responsável pelo dano cerebral e aos nervos cranianos. O tratamento apropriado da criptococose do SNC requer muita atenção ao tratamento da pressão intracraniana, inclusive a redução da pressão mediante punção lombar terapêutica repetida e a colocação de derivações. Estudos sugerem que o acréscimo de um breve curso de γ-interferona à terapia antifúngica em pacientes com infecção por HIV aumenta a liberação de criptococos do LCS. Em pacientes infectados por HIV com criptococose prévia tratada que estejam sob terapia de manutenção com fluconazol, às vezes é possível interromper o tratamento antifúngico medicamentoso se a terapia antirretroviral resultar em melhora imunológica. PROGNÓSTICO E COMPLICAÇÕES Mesmo com o tratamento antifúngico, a criptococose está associada a altos índices de morbidade e mortalidade. Para a maioria dos pacientes com criptococose, os fatores prognósticos mais importantes são a extensão e a duração dos déficits imunológicos subjacentes que os predispõem ao desenvolvimento da doença. Portanto, a criptococose, em geral, é curável com o tratamento antifúngico em indivíduos sem disfunção imunológica aparente, mas, nos pacientes com imunossupressão grave (p. ex., aqueles com Aids), o máximo que se pode esperar é que o tratamento antifúngico induza remissão, que, então, pode ser mantida com a terapia supressora pelo resto da vida. Antes do advento da terapia antirretroviral, o período de sobrevida global mediano dos pacientes com Aids que adquiriam criptococose era < 1 ano. A criptococose em pacientes com doença neoplásica subjacente tem um prognóstico particularmente desfavorável. Para a criptococose do SNC, marcadores prognósticos desfavoráveis são um teste positivo para leveduras no LCS pelo exame inicial com nanquim (evidência de uma carga fúngica massiva), pressão elevada do LCS, níveis baixos de glicose no LCS, pleocitose baixa no LCS (< 2/μL), recuperação de leveduras de locais extraneurais, ausência de anticorpos contra o polissacarídeo capsular, nível de antígeno criptocócico no LCS ou no soro de ≥ 1:32 e tratamento concomitante com glicocorticoide ou doença maligna hematológica. Uma resposta ao tratamento não garante a cura, pois é comum haver recidiva da criptococose mesmo entre pacientes com o sistema imune relativamente íntegro. As complicações da criptococose do SNC incluem déficits de nervos cranianos, perda da visão e comprometimento cognitivo. SÍNDROME INFLAMATÓRIA DE RECONSTITUIÇÃO IMUNE (SIRI) A frequente cronicidade das infecções criptocócicas e a sua ocorrência comum em casos de alteração da imunidade podem resultar em novas síndromes clínicas, como a SIRI. A SIRI ocorre quando há um rebote da imunidade em casos de criptococose tratada (ou infecção assintomática não diagnosticada) e a resposta imunológica aos antígenos criptocócicos nos tecidos desencadeia uma resposta inflamatória que pode ser difícil de diferenciar de uma infecção recorrente. A SIRI pode ocorrer quando os pacientes com Aids e com criptococose tratada recebem terapia antirretroviral que resulta em melhora da imunidade. Além das dificuldades de diferenciar a SIRI de uma recidiva criptocócica, o manejo dessa síndrome é complexo, pois ela é causada pelo resultado desejável de melhora da imunidade, o que é importante no controle da infecção criptocócica e na prevenção de recidivas. A abordagem ao paciente com SIRI deve tentar equilibrar a imunidade ressurgente em relação ao dano imunomediado. Atualmente, o manejo da SIRI é individualizado e pode envolver o uso de glicocorticoides para reduzir a inflamação. PREVENÇÃO Não existe vacina para a criptococose. Nos pacientes sob alto risco (p. ex., aqueles com infecção avançada pelo HIV e contagens de linfócitos T CD4+ < 200/μL), a profilaxia primária com fluconazol (200 mg/dia) é efetiva no sentido de reduzir a prevalência da doença. Como a terapia antirretroviral aumenta a contagem de linfócitos T CD4+, ela constitui uma forma imunológica de profilaxia.
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