Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 GESTÃO E PROGRAMA DE RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS 1 SUMÁRIO 1. VISÃO GERAL ................................................................................................. 2 2. RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS - RAD ..................................... 3 3. PLANO DE RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS – PRAD ................ 9 3.2.1 Elaboração do PRAD ...................................................................................... 12 3.2.2 Recomposição da Vegetação de Áreas Degradadas ou Perturbadas ............ 19 3.2.3 Monitoramento e Avaliação da Área ............................................................... 20 4. PLANEJAMENTO E GESTÃO DE UM PROGRAMA DE RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS ........................................................................................... 26 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 30 2 1. VISÃO GERAL Segundo Sánchez (2007), a recuperação de áreas degradadas é um campo em franco desenvolvimento no Brasil. Incentivados por exigências impostas pela legislação ambiental, órgãos governamentais, empresas, técnicos e pesquisadores têm se esforçado em desenvolver técnicas e procedimentos eficazes e de baixo custo para promover a recuperação ambiental de ambientes terrestres e aquáticos. A reabilitação de áreas degradadas pela mineração e, em menor escala, por obras de construção civil, tem avançado consideravelmente no país. Entretanto, são surpreendentemente poucos os estudos compreensivos ou mesmo estudos pontuais acerca dos resultados dos programas de recuperação ambiental. Assim como todo projeto, um Plano de Recuperação de Áreas Degradadas (PRAD) deve ser cuidadosamente preparado e ter sua viabilidade analisada antes de sua execução. Uma vez aprovado, sua implementação deve ser igualmente cuidadosa e os resultados, periodicamente avaliados. O uso de indicadores e a comparação entre o esperado e o alcançado são alguns dos instrumentos de avaliação dos resultados da Recuperação de Áreas Degradadas. 3 2. RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS - RAD O Ministério do Meio Ambiente define que a recuperação de áreas degradadas está intimamente ligada à ciência da restauração ecológica. Um ecossistema é considerado recuperado e restaurado quando contém recursos bióticos e abióticos suficientes para continuar seu desenvolvimento sem auxílio ou subsídios adicionais. A Lei nº 9.985/00, em seu art. 2º, distingue, para seus fins, Recuperação e Restauração de um ecossistema da seguinte forma: A recuperação de áreas degradadas encontra respaldo na Constituição Federal de 1988, em seu art. 225: Recuperação: Restituição de um ecossistema ou de uma população silvestre degradada a uma condição não degradada, que pode ser diferente de sua condição original. Artigo 2º - Lei nº 9.985 Restauração: Restituição de um ecossistema ou de uma população silvestre degradada o mais próximo possível da sua condição original. Artigo 2º - Lei nº 9.985 FIQUE LIGADO! Restauração ecológica: É o processo de auxílio ao restabelecimento de um ecossistema que foi: Degradado Danificado Destruído dE 4 Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. § 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: I - Preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas; § 2º - Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da lei. A Lei nº 6.938/81, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, menciona: Art 2º - A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no País, condições ao desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana, atendidos os seguintes princípios: [...] VIII - Recuperação de áreas degradadas Art 4º - A Política Nacional do Meio Ambiente visará: [...] VI - À preservação e restauração dos recursos ambientais com vistas à sua utilização racional e disponibilidade permanente, concorrendo para a manutenção do equilíbrio ecológico propício à vida; O Ministério do Meio Ambiente objetiva promover a recuperação de áreas degradadas, com ênfase nas Áreas de Preservação Permanente (APPs) e na Reserva Legal (RL), por meio de pesquisa e instrumentos de adequação e regularização ambiental de imóveis rurais. Para tanto, destacam-se as seguintes ações: 5 Implementar novos Centros de Referência em Recuperação de Áreas Degradadas (CRADs) nos biomas brasileiros; Estabelecer métodos de recuperação de áreas degradadas para os biomas Instituir plano nacional de recuperação de áreas degradadas e restauração da paisagem. 1. 2.1 Centros de Referência em Recuperação de Áreas Degradadas (CRADs) Com o objetivo de promover a recuperação de áreas degradadas, o Ministério do Meio Ambiente, por intermédio do Departamento de Florestas (DFLOR) e do Departamento de Revitalização de Bacias Hidrográficas (DRB), e o Ministério da Integração Nacional (MI), por meio da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (CODEVASF), no âmbito do Programa de Revitalização da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (PRSF), criaram os Centros de Referência em Recuperação de Áreas Degradadas (CRADs). Os objetivos dos CRADs estão ligados: Ao desenvolvimento de modelos de recuperação de áreas degradadas em áreas demonstrativas; À definição e documentação de procedimentos para facilitar a replicação de ações de recuperação de áreas degradadas; À promoção de cursos de capacitação para a formação de recursos humanos (coleta de sementes, produção de mudas, plantio, tratos silviculturais). DICA! Assista aos vídeos: “Recuperação de áreas degradadas a partir de técnicas nucleadoras”. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=TTnqILVdDno “Nucleação conta com a ajuda de pássaros no reflorestamento”. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=dioWI9BiYPE 6 Figura 1: Esquema de criação do CRAD – UNB. Fonte: CRAD UNB, S.D. 7 Com o objetivo de implantar dois Centros de Referência para Recuperação de Áreas Degradadas (CRADs) em cada bioma brasileiro, em maio de 2012 o Departamento de Florestas do Ministério do Meio Ambiente (MMA), em parceria com o Ministério da Integração Nacional inaugurou o CRAD unidade Mata Seca. Figura 2: CRAD Mata Seca – MG. Fonte: MMA, 2012 A sede da unidade está localizada no município mineiro de Janaúba (MG) e é gerenciada em conjunto pela Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes - campus Janaúba), pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e pela Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM). Segundo a ministra do meio ambiente, Izabela Teixeira, a unidade em Janaúba foi o sétimo CRAD criado no país com objetivo de promover o desenvolvimento de conhecimento e tecnologias adequadas à recuperação de áreas degradadas. A formação de recursos humanos (treinamento para a coleta de sementes, produção de mudas, plantio, tratos silviculturais) e promoção de cursos de capacitação para profissionais extensionistas e agricultores são prioridades nas atividades dos CRADs. 8 O diretor do Departamento de Florestas MMA, Fernando Tatagiba, destaca que a atuação dos Centros, criadosdentro de universidades, também busca o desenvolvimento de métodos adequados de recuperação de áreas degradadas de acordo com cada bioma e região brasileira. Para isso, a formação de professores, técnicos e extensionistas para atuar nessa área e a capacitação também de produtores rurais faz parte das atividades desenvolvidas pelos CRADs e integrarão o Plano Nacional de Recuperação de Áreas Degradadas. Além do CRAD - Mata Seca, existem outros seis centros: CRAD - UnB, gerido pela Universidade de Brasília (UnB) CRAD - Alto São Francisco, coordenado pela Universidade Federal de Lavras (UFLA) CRAD da Caatinga, gerido pela Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) CRAD - Baixo São Francisco, administrado pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL) e pela Universidade Federal de Sergipe (UFS) CRAD - Serra Talhada, coordenado pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) CRAD - Oeste Baiano, gerido pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) 9 3. PLANO DE RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS – PRAD De acordo com Farias (2016) o Plano de Recuperação de Área Degradada (PRAD) foi criado para dar concretude ao objetivo constitucional que obriga o explorador de recursos minerais a recuperar o meio ambiente degradado, tendo em vista o direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. O objetivo é estabelecer as diretrizes para fazer com que o solo explorado volte a ter utilidade, devolvendo-lhe a função social. O Plano de Recuperação de Áreas Degradadas – PRAD é solicitado pelos órgãos ambientais como parte integrante do processo de licenciamento de atividades degradadoras ou modificadoras do meio ambiente como também, após o empreendimento ser punido administrativamente por causar degradação ambiental. O PRAD refere-se ao conjunto de medidas que propiciarão à área degradada condições de estabelecer um novo equilíbrio dinâmico, com solo apto para uso futuro e paisagem esteticamente harmoniosa. 3.1 Decreto nº 97.632, de 10 de abril de 1989 O decreto nº 97.632, de 10 de abril de 1989 dispõe sobre a regulamentação do artigo 2°, inciso VIII (Recuperação de áreas degradadas), da Lei n° 6.938, de 31 de agosto de 1981, citado no capítulo 1 da apostila. O artigo 1º do decreto dispõe que: Os empreendimentos que se destinam à exploração de recursos minerais deverão, quando da apresentação do Estudo de Impacto Ambiental - EIA e do Relatório do Impacto Ambiental - RIMA, submeter à aprovação do órgão ambiental competente o Plano de Recuperação de Área Degradada. Farias (2016) completa que o decreto estabelece, com base no critério da melhor técnica disponível, de que forma a área degradada deve ser recuperada pelo degradador ou pelo responsável pelo lugar. Cuida-se de exigência para toda e qualquer atividade minerária, independentemente da fase da interrupção da lavra, do porte da jazida ou do tipo de minério a ser extraído. Entretanto, apesar de ser um instrumento de gestão ambiental típico da mineração, com o tempo o PRAD passou a ser solicitado também em relação a outras atividades, como: 10 Construção de hidrelétricas Rodovias Usinas de açúcar e álcool Etc. Sendo assim, podem se submeter ao PRAD qualquer atividade que degrade o solo, como a agricultura, a construção civil, a pecuária, a piscicultura, a silvicultura etc. Artigo 3º: A recuperação deverá ter por objetivo o retorno do sítio degradado a uma forma de utilização, de acordo com um plano preestabelecido para o uso do solo, visando a obtenção de uma estabilidade do meio ambiente. Farias (2016) acrescenta que recuperar é fazer com que uma área degradada volte a ter as características ambientais anteriores ou compatíveis com a sua função social. Tal recuperação deve ser a mais efetiva possível, seja do ponto de vista qualitativo ou quantitativo. Isso implica dizer que a área a ser recuperada deve corresponder exatamente à área que sofreu a degradação. 3.2 Instrução Normativa ICMBIO nº 11, de 11 de dezembro de 2014 A Instrução nº 11 do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade estabelece procedimentos para: Elaboração Análise Aprovação e Acompanhamento Degradação: Processos resultantes dos danos ao meio ambiente, pelos quais se perdem ou se reduzem algumas de suas propriedades, tais como, a qualidade ou capacidade produtiva dos recursos ambientais. Artigo 2º - Decreto nº 97.632 11 Da: EXECUÇÃO DE PROJETO DE RECUPERAÇÃO DE ÁREA DEGRADADA OU PERTURBADA – PRAD PARA FINS DE CUMPRIMENTO DA LEGISLAÇÃO AMBIENTAL Área Perturbada: Aquela que após o impacto ainda mantém capacidade de regeneração natural e pode ser restaurada. Artigo 2º - IN ICMBIO nº 11 Resiliência: Capacidade de um sistema suportar perturbações ambientais e retornar a sua tendência sucessional, mantendo sua estrutura e padrão geral de comportamento, enquanto sua condição de equilíbrio é modificada, sendo avaliada pelo tempo necessário para o sistema passar de uma fase para outra do processo sucessional, sendo quanto maior esse tempo, menor a resiliência Artigo 2º - IN ICMBIO nº 11 Área Degradada: Aquela impossibilitada de retornar por uma trajetória natural a um ecossistema que se assemelhe ao estado inicial, dificilmente sendo restaurada, apenas recuperada. Artigo 2º - IN ICMBIO nº 11 Sucessão Secundária: Retorno espontâneo da vegetação nativa após supressão total ou parcial da cobertura vegetal do solo. Artigo 2º - IN ICMBIO nº 11 12 3.2.1 Elaboração do PRAD O artigo 3º da IN nº 11, dispõe que o PRAD deverá definir as medidas necessárias à recuperação ou restauração da área perturbada ou degradada, fundamentado nas características bióticas e abióticas da área e em conhecimentos secundários sobre o tipo de impacto causado, a resiliência da vegetação e a sucessão secundária. Os Termos de Referência (TR) estabelecem diretrizes e orientações técnicas voltadas à apresentação de PRAD e PRAD Simplificado. O PRAD deverá: Propor métodos e técnicas a serem empregados de acordo com as peculiaridades de cada área e do dano observado; Incluir medidas que assegurem a proteção das áreas degradadas ou perturbadas de quaisquer fatores que possam dificultar ou impedir o processo de recuperação/restauração; Utilizar, de forma isolada ou conjunta, preferencialmente medidas de eficácia já comprovada, em especial a condução da regeneração natural de espécies nativas. O PRAD ou o PRAD Simplificado a ser elaborado de acordo com o Termo de Referência, deve ser protocolizado em qualquer unidade do ICMBIO em 02 (duas) vias, sendo uma em meio impresso e outra em meio digital, acompanhado dos originais ou cópia dos seguintes documentos: I - Documentação de identificação do requerente; II - Documentação da propriedade ou posse; III - Anotação de Responsabilidade Técnica - ART, devidamente recolhida, do(s) técnico(s) responsável(is) pela elaboração e execução do PRAD Pequena propriedade rural ou posse rural familiar: Aquela explorada mediante o trabalho pessoal do agricultor familiar e empreendedor familiar rural, incluindo os assentamentos e projetos de reforma agrária, e que atenda ao disposto no art. 3º, da Lei Federal nº 11.326, de 24 de julho de 2006. Artigo 2º - IN ICMBIO nº 11 13 IV - Mapa ou croqui com informações georreferenciadas de todos os vértices das áreas do imóvel a se recuperar a fim de delimitar a(s) poligonal(is), utilizando o DATUM SIRGAS 2000; V - Mapa ou croqui que possibilite o acesso ao imóvel rural, contendo o endereço do interessado e, sempre que possível, as coordenadas de localização da sede do imóvel; VI - Termo de Ajustamento de Conduta devidamente assinado pelo interessado, com firma reconhecida em cartório ou devidamente atestada por servidor do ICMBIO,conforme Figura 3. Figura 3: Termo de Ajustamento de Conduta. Fonte: IN ICMBIO, 2014. As figuras abaixo apresentam o Termo de Referência para elaboração de PRAD no estado de Minas Gerais. 14 Figuras 4 a 9: TR para elaboração de PRAD do estado de Minas Gerais. 15 16 Fonte: FEAM, 2020. Desde que tecnicamente justificado o PRAD poderá contemplar peculiaridades locais sem necessariamente atender todas as diretrizes e orientações técnicas constantes nos Termos de Referência. 17 Em se tratando de pequena propriedade rural ou posse rural familiar, conforme definidos em legislação específica, poderá ser apresentado Projeto Simplificado de Recuperação de Área Degradada de Pequena Propriedade Rural ou Posse Rural Familiar - PRAD Simplificado, conforme Figuras abaixo. Figuras 10 a 15: Termo de Referência para PRAD Simplificado. 18 Fonte: IN ICMBIO, 2014. 19 Para os casos em que o PRAD ou o PRAD Simplificado forem considerados desnecessários em virtude do avançado estágio de recuperação natural da área, ou cuja intervenção na área não seja desejável, sua cobrança pode ser dispensada, após vistoria realizada por técnicos do Instituto e análise do processo, sendo assinado somente o Termo de Ajustamento de Conduta, conforme Figura 16. Figura 16 - Termo de Ajustamento de Conduta de Reparação de Dano Ambiental (Para casos em que o PRAD e o PRAD Simplificados não são exigíveis tecnicamente) Fonte: IN ICMBIO, 2014. 3.2.2 Recomposição da Vegetação de Áreas Degradadas ou Perturbadas O artigo 14 da IN nº 11 apresenta que o método de recuperação ou restauração da vegetação deverá ser definido de acordo com as características bióticas e abióticas da área e conhecimentos secundários sobre o tipo de impacto causado, a resiliência da vegetação e a sucessão secundária. O método a ser utilizado deverá ser fundamentado na literatura vigente e justificado tecnicamente no PRAD. O PRAD deve prever ainda a possibilidade de alteração das técnicas definidas inicialmente caso estas não atinjam resultado satisfatório. 20 Dentre as técnicas a serem utilizadas cita-se, por exemplo: Plantio de espécies nativas por mudas ou semeadura direta; Transposição de solo orgânico ou serrapilheira com propágulos; Propagação vegetativa de espécies nativas; Condução da regeneração natural. A primeira ação para garantir a recuperação/restauração da área perturbada/degradada deverá ser a proteção da área em relação a qualquer ação de degradação, como: Espécie invasora Gado Fogo Erosão Dentre outros Em áreas onde houve alteração ou remoção de solo, este deve ser recuperado e os processos erosivos contidos, se necessário, por obras de engenharia antes de qualquer outra intervenção. Desde que justificado tecnicamente, pode-se considerar a possibilidade de implantação e ou manutenção de espécies exóticas não invasoras como forma de propiciar melhores condições para estabelecimento das espécies nativas. Após o estabelecimento das espécies nativas, as espécies exóticas devem ser eliminadas. A utilização de insumos agrícolas como adubos químicos, herbicidas e formicidas deve ser restrito a situações em que a não utilização inviabilize as ações de recuperação/ restauração e quando não existirem outras alternativas. A necessidade da utilização de insumos agrícolas deverá ser justificada e analisada. As espécies vegetais utilizadas nos métodos listados deverão ser listadas e identificadas por família, nome científico, e respectivo nome vulgar. 3.2.3 Monitoramento e Avaliação da Área Durante a execução do PRAD o interessado apresentará ao ICMBIO, anualmente, Relatórios de Monitoramento, conforme Figuras abaixo. 21 Os Relatórios de Monitoramento, a serem elaborados pelo responsável técnico do PRAD, poderão ser solicitados pelo ICMBIO em intervalo menor que aquele estabelecido, caso necessário. Figuras 17 a 19: Relatório de Monitoramento. 22 Fonte: IN ICMBIO, 2014. Os beneficiários que apresentam PRAD Simplificado ficam isentos da apresentação dos relatórios. O sucesso da restauração será medido pelos seguintes parâmetros: I - Presença e diversidade de regeneração espontânea; II - Aumento da cobertura do solo por espécies nativas; III - Redução ou eliminação da cobertura de espécies exóticas invasoras. Fique Ligado!! Espécie Nativa: Espécie que apresenta suas populações naturais dentro dos limites de sua distribuição geográfica, participando de ecossistemas onde apresenta seus níveis de interação e controles demográficos. Espécie Exótica: Qualquer espécie fora de sua área natural de distribuição geográfica, como resultado de dispersão acidental ou intencional por atividades humanas. Artigo 2º - IN ICMBIO nº 11 23 Para a mensuração do sucesso da restauração/recuperação deverão ser monitoradas variáveis que mensurem quantitativamente os parâmetros de sucesso descritos acima, dados estes obtidos de forma amostral, tomados antes das atividades e a cada ação de monitoramento. Os métodos de monitoramento e as metas a serem atingidas para cada um dos parâmetros acima deverão estar indicadas no PRAD. Caso os objetivos e metas propostos no PRAD ou no PRAD Simplificado não sejam alcançados, o projeto será reavaliado e adequações técnicas pertinentes deverão ser adotadas. As Figuras 20 e 21 trazem exemplos de áreas que foram recuperadas. Fique Ligado!! Espécie Invasora: Aquela que, uma vez introduzida a partir de outros ambientes, se adapta e passa a reproduzir-se a ponto de ocupar o espaço de espécies nativas e produzir alterações nos processos ecológicos naturais, tendendo a tornar-se dominante após um período de tempo mais ou menos longo requerido para sua adaptação e cuja introdução ou dispersão ameace ecossistema, habitat ou espécies e cause impactos negativos ambientais, econômicos, sociais ou culturais. Artigo 2º - IN ICMBIO nº 11 24 Figura 20: Recuperação de Área Degradada em João Pessoa, PB. Fonte: Ângela, 2013. Figura 21: Recuperação de Área Degradada na Serra de Madureira, RJ. Fonte: Biovert, S.D. 25 Dica: Saiba mais sobre o PRAD da Serra de Madureira em Nova Iguaçu – RJ no site da Biovert. Disponível em: http://www.biovert.com.br/portfolio/projeto-de- recuperacao-area-degradada-nova-iguacu/ 26 4. PLANEJAMENTO E GESTÃO DE UM PROGRAMA DE RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS Segundo Sánchez (2007), um programa de RAD pode ser entendido como um projeto a ser implementado de modo eficaz e eficiente, isto é, que atinja seus objetivos com os menores recursos possíveis. A Recuperação de Áreas Degradadas pode ser conduzida de acordo com o ciclo clássico de gestão PDCA (plan – do – check – act). Figura 22: Ciclo PDCA. Fonte: Gonçalves, 2018. Os objetivos e os trabalhos de recuperação devem ser planejados antes de qualquer intervenção. O passo seguinte da etapa de planejamento é definir os trabalhos a serem realizados (implantação de sistema de drenagem, plantio de mudas etc.) para atingir os objetivos de recuperação. Em seguida passa-se à implementação do plano (do) e periodicamente deve-se proceder ao controle (check), através de monitoramento, auditorias ou outras formas de verificação. O controle apontará pontos fortes e fraquezas nos procedimentos adotados ou em outros elementos do plano, e caberá à gerência agir para corrigir as deficiências (act). 27 Sánchez (2007) apresenta como exemplo o planejamento da RAD de uma mina. Pressupõe que toda mina constitui uma formatemporária de uso do solo e que ao término da mineração as áreas afetadas devem estar aptas para alguma forma de uso sustentável. O planejamento inclui: A preparação de um Plano de Recuperação de Áreas Degradadas (requisito legal no Brasil), a preparação de um Plano de Fechamento de Mina (exigência que vem se configurando como um novo requisito legal no Brasil, situação já consolidada em vários países); A estimativa de custos de recuperação e de fechamento e a eventual apresentação de garantias financeiras (ainda não é um requisito legal no Brasil, mas o é em vários países e é uma recomendação explícita de organismos de fomento como o Banco Mundial). O plano de fechamento e o PRAD devem considerar diferentes alternativas de uso futuro e deve haver compatibilidade mútua entre o plano de lavra e o plano de fechamento. Para a implementação satisfatória de programas de RAD, a experiência prática internacional sugere que há alguns requisitos a serem atendidos, dentre os quais: Atendimento aos requisitos legais; Conhecimento e consideração dos pontos de vista da comunidade; Orientação técnica especializada para os trabalhos a serem executados; Capacitação técnica da equipe envolvida (do gerente ao pessoal operacional); Desenvolvimento e implementação sistemática de procedimentos operacionais; Provisão de recursos humanos, físicos e financeiros; Acompanhamento, monitoramento, registro e documentação. A implantação de programas de RAD classicamente envolve trabalhos que podem ser classificados em quatro grupos: 28 Práticas de Caráter Topográfico: Envolvem o re-afeiçoamento do relevo. Trata-se de decisões, sob controle do engenheiro de minas, que podem e devem ser compatibilizadas com o plano de lavra. Tanto as medidas de reabilitação da área minerada podem ser adaptadas à geometria final da cava quanto o plano de lavra adaptado às necessidades e aos objetivos de reabilitação. Estas práticas incluem, também, a consideração da posição futura do lençol freático, haja vista que muitas vezes as escavações são preenchidas com água, formando lagos artificiais, ou seja, criando um ambiente inteiramente novo no local minerado. Práticas de Caráter Edáfico: Envolvem o manejo de solo, com especial atenção para um recurso natural raro, o solo orgânico ou superficial, a ser removido separadamente das camadas inferiores do solo, reutilizado imediatamente ou armazenado em condições que permitam sua conservação. Incluem-se também nas práticas edáficas: o O aproveitamento de diferentes fontes de matéria orgânica para incorporação ao solo, como galhos, raízes, composto orgânico, certos resíduos e, eventualmente, serapilheira. o Técnicas de preparação do solo como a subsolagem, para sua descompactação. o A adubação e a calagem, conforme necessidades específicas. Práticas de Caráter Hídrico: Referem-se à coleta, transporte e lançamento de águas pluviais, um aspecto fundamental para a estabilidade física da área recuperada e também para sua estabilidade química (como no caso de potencial de geração de drenagem ácida), assim como para a proteção dos recursos hídricos superficiais. Ocasionalmente são necessárias ações de caráter hídrico associadas à presença de cavas inundadas. Práticas de Caráter Vegetativo: Se referem às ações para o estabelecimento de uma comunidade vegetal em áreas designadas. A escolha das espécies a serem plantadas depende do uso futuro pretendido para a área recuperada, tais como: o Áreas com fins conservacionistas, o que requer o plantio de vegetação nativa. o Florestas plantadas para uso comercial, frequentemente com espécies exóticas. o Culturas agrícolas 29 o Associações florísticas de cunho paisagísticos, sempre de acordo com os objetivos de recuperação e o futuro uso do solo pretendido. A intenção de uso futuro também pode fazer com que partes da área recuperada não recebam vegetação. Dentre as práticas mais usuais de caráter vegetativo incluem-se: o Escolha de procedimentos para seleção, produção ou aquisição de mudas e sementes; o Plantio para proteção contra erosão e para melhoria da qualidade do solo (gramíneas e leguminosas); o Plantio de sementes ou de mudas arbóreas (nativas, exóticas, para produção silvicultural); o Manutenção e monitoramento. A aplicação destas práticas e a execução destas tarefas requerem a adoção de um conjunto de procedimentos operacionais, preferencialmente apresentados como regras ou normas escritas que descrevem com detalhe como serão realizadas e quem são os responsáveis por sua execução. Podem ser preparados procedimentos para: Formação de pilhas de estéreis; Drenagem de águas pluviais e retenção de sedimentos; Construção de barragens e diques; Manejo de solo orgânico; Implantação e manutenção de viveiro de mudas; Plantio de mudas ou sementes; Manutenção do sistema de drenagem; Manutenção de áreas re-vegetadas. 30 2. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ÂNGELA. Governo incentiva recuperação de áreas degradadas. Blog Spot, 2013. Disponível em: http://amdro2003.blogspot.com/2013/09/governo-incentiva- recuperacao-de-areas.html. Acesso em: 19 de agosto de 2020. BIOVERT. Plano de Recuperação de Áreas Degradadas (PRAD). Biovert, S.D. Disponível em: http://www.biovert.com.br/produtos-e-servicos/plano-de-recuperacao- de-area-degradada-prad/. Acesso em: 19 de agosto de 2020. BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da República, [2016]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 18 de agosto de 2020. BRASIL. Decreto nº 97.632, de 10 de abril de 1989. Dispõe sobre a regulamentação do artigo 2°, inciso VIII, da Lei n° 6.938, de 31 de agosto de 1981, e dá outras providências. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1989/decreto-97632-10-abril-1989- 448270-publicacaooriginal-1-pe.html. Acesso em: 18 de agosto de 2020. BRASIL. Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L6938.htm. Acesso em: 18 de agosto de 2020. BRASIL. Lei nº 9.985, de 31 de agosto de 1981. Regulamenta o art. 225, § 1o, incisos I, II, III e VII da Constituição Federal, institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9985.htm. Acesso em: 18 de agosto de 2020. CRAD - UNB. Centros de Referência em Recuperação de Áreas Degradadas – Universidade de Brasília. Brasília, S.D. Disponível em: http://www.crad.unb.br/index.php?option=com_content&view=article&id=38&Itemid= 2. Acesso em: 18 de agosto de 2020. FARIAS, Talden. Considerações sobre o Plano de Recuperação de Área Degradada. Consultor Jurídico, 2016. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2016-out-15/ambiente-juridico-consideracoes-plano- recuperacao-area-degradada. Acesso em: 18 de agosto de 2020. FEAM. Termos de referência. Disponível em: http://www.feam.br/component/content/53?task=view. Acesso em: 18 de agosto de 2020. GONÇALVES, Mariane. O ciclo PDCA na gestão de energia e utilidades. Viridis Blog, 2018. Disponível em: https://viridis.energy/pt/blog/o-ciclo-pdca-na-gestao-de- energia-e-utilidades. Acesso em: 19 de agosto de 2020. 31 ICMBIO. Instrução normativa nº 11, de 11 de dezembro de 2014. Estabelece procedimentos para elaboração, análise, aprovação e acompanhamento da execução de Projeto de Recuperação de Área Degradada ou Perturbada - PRAD, para fins de cumprimento da legislação ambiental. Disponível em: https://www.icmbio.gov.br/cepsul/images/stories/legislacao/Instrucao_normativa/201 4/in_icmbio_11_2014_estabelece_procedimentos_prad.pdf.Acesso em: 18 de agosto de 2020. MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Áreas degradadas serão recuperadas. Disponível em: https://www.mma.gov.br/informma/item/7844-%C3%A1reas- Degradadas-ser%C3%A3o-recuperadas. Acesso em: 18 de agosto de 2020. MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Recuperação de áreas degradadas. Disponível em: https://www.mma.gov.br/informma/item/8705-recupera%C3%A7%C3%A3o-de- %C3%A1reas-degradadas.html. Acesso em: 18 de agosto de 2020. SÁNCHEZ, Luiz Henrique. Planejamento e gestão do processo de recuperação de áreas degradadas. Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. São Paulo, 2007.
Compartilhar