Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Beatriz Machado de Almeida Internato – 10º semestre 1 ENTORSE E LESÃO LIGAMENTAR ANATOMIA • O tornozelo é formado pelo tálus, terço distal da tíbia e fíbula. • Sindesmose: ❖ Mantém a relação articular entre tíbia e fíbula. ❖ É composta por 4 ligamentos (fundamentais para que a articulação seja estável e indolor): tibiofibular anterior, tibiofibular posterior, transverso e interósseo. • Complexo ligamentar lateral: é composto por 3 ligamentos: talofibular anterior, talofibular posterior e fibulocalcâneo. • Complexo ligamentar medial (deltoide): é dividido em feixes superficiais (em torno de 5) e profundos (mais importante – mais forte – estabilização). Resumo: A estrutura ligamentar do tornozelo é composta da sindesmose + complexo ligamentar lateral + complexo ligamentar medial. EPIDEMIOLOGIA • Entorse: ❖ Incidência máxima entre 15-19 anos de idade. ❖ Quase metade ocorrem durante atividade atlética, como basquete e futebol. • Lesão ligamentar: ❖ O talofibular anterior é lesado de 40 a 70% das entorses. Outros: fibulocalcâneo (20%), deltóide (2,5%), sindesmose (1-10%). CLASSIFICAÇÃO • 1º grau: dor e edema localizados. Manutenção da integridade articular. Sem limitação funcional. • 2º grau: Dor intensa, edema difuso e hematoma. Lesão ligamentar e limitação funcional moderada (redução da amplitude de movimento). • 3º grau: Lesão ligamentar. Incapacidade funcional completa (incapacidade de suporte de carga). A classificação da entorse é clínica, não necessitando de exames de imagem para confirmação. • Foto 1: Lesão da parte distal da fíbula. Edema importante na região antero-lateral da perna. • Foto 2: Equimose no tornozelo. Provavelmente é um sangramento que veio da lesão ligamentar há 5- 7 dias (tardia). • Foto 3: Lesão na face medial da perna. Provavelmente lesão do deltoide. DIAGNÓSTICO RADIOGRAFIA: Os critérios de OTTAWA identificam se o paciente precisa ou não realizar o exame. Porém, por se tratar de medicina protetiva, geralmente é solicitado. Tornozelo: AP/AP verdadeiro/Perfil. Imagem. Pé: AP/oblíquo. Consegue ver se o paciente teve uma fratura na base no 5º metatarso (associada a entorse de tornozelo). Se necessário, solicitar RX da perna inteira. RESSONÂNCIA MAGNÉTICA: • Pode ser indicada nos casos de persistência da dor após 8 semanas da lesão inicial. • Não é solicitada pra todo mundo, mesmo tendo lesão ligamentar, porque não é necessária para PATOLOGIAS DO PÉ E TORNOZELO Beatriz Machado de Almeida Internato – 10º semestre 2 fechar diagnóstico e o tratamento (conservador) não depende disso. Objetivo de investigar lesões associadas: ❖ Lesão osteocondral. ❖ Impacto ântero-lateral. ❖ Lesões ligamentares crônicas. TRATAMENTO CONSERVADOR: • Sempre conservador, até que se prove o contrário. • O cirúrgico será em casos de extrema exceção. • PRICE: ❖ P → Proteção. ❖ R → Repouso. ❖ I → ice (gelo): 4 em 4h, sob compressão. ❖ C → Compressão. ❖ E → Elevação do membro: redução do edema. • AINES: redução da inflamação. Tratamento cirúrgico X tratamento conservador: não há evidência na literatura comprovando que o tratamento cirúrgico tem melhores resultados funcionais, taxas de retorno ao esporte, custos ou redução da incidência de novas entorses. • Imobilização: controversa. Sugestão: Lesão grau 3 → imobilização com gesso ou com robofaot – bota de velcro por um curto período de tempo (aprox. 10 dias). Lesão grau 2: muita queixa → imobiliza / Pouca dor → não. Lesão grau 1 → não imobiliza; faz o PRICE. • Fisioterapia: importante. Os ligamentos, quando rompidos, não cicatrizam na forma de ligamento, e sim na forma de fibrose. Em uma RNM, por exemplo, a lesão fica evidente, pois nunca vai voltar ao que era antes, porém, o paciente não tem perda de função (se bem tratada). CIRÚRGICO: • Exceção específica. • Pode ser via cirurgia aberta ou por artroscopia. • Reconstrução dos ligamentos. • Não é superior ao tratamento conservador. HÁLUX VALGO • Definição: deformidade complexa do primeiro raio, caracterizado pelo desvio em valgo do hálux (dedão do pé) e em varo do primeiro metatarso. • Frequentemente doloroso. • Pode estar acompanhado por deformidades e sintomas nos outros dedos. • Clássico de patologia de pé reumático. EPIDEMIOLOGIA • População infantil: 2 meninas : 1 menino. • Forma juvenil: herança autossômica dominante. • População adulta: 15 mulheres : 1 homem. ETIOLOGIA • Fatores extrínsecos: ❖ Calçados: calçado tipo bico fino faz uma deformidade no pé semelhante a um triângulo. Se tiver herança familiar associada, é quase certo que o paciente desenvolva o hálux valgo. • Fatores intrínsecos: ❖ História familiar. ❖ Varismo do 1º metatarsiano: o metatarsus primus varus é condição congênita, responsável pelo surgimento da maioria dos casos de hálux valgo juvenil. No hálux valgo adquirido, o varismo do 1º metatarsiano pode surgir como deformidade secundária em decorrência de forças atuantes sobre a cabeça do 1º metatarsiano. ❖ Fórmula digital do tipo egípcio: o hálux é maior do que os demais artelhos, recebendo a ação das forças valgizantes durante a marcha. ❖ Doenças sistêmicas (neuromusculares e reumáticas): causam alterações no equilíbrio da musculatura intrínseca e extrínseca do pé, nas estruturas capsuloligamentares e articulares. QUADRO CLÍNICO • O diagnóstico é clínico, baseado na constatação da presença do desvio em valgo e graus variados de Beatriz Machado de Almeida Internato – 10º semestre 3 pronação do hálux, acompanhados da presença de massa que se projeta medialmente, na altura da cabeça do 1 metatarsiano. EXAMES COMPLEMENTARES • Radiografia do pé com carga (solicitar que o paciente apoie o pé no chão) nas incidências AP/perfil. CLASSIFICAÇÃO: TRATAMENTO CONSERVADOR: • Uso de calçados mais largos e de saltos baixos. • Uso de calçados especiais com câmaras anteriores amplas: ex. sandália Anabela. • Palmilhas compensatórias: correção do arco do pé. • Órteses noturnas. O tratamento conservador não vai corrigir a deformidade. É apenas para alívio sintomático. CIRÚRGICO: • Indicado quando o paciente já tem uma perda da qualidade de vida e um incômodo muito grande, principalmente em relação a dor e a questão estética, além das limitações durante a realização de atividade física. • Existem várias técnicas cirúrgicas, mas todas atuam no 1º metatarso e no hálux. • Objetivos: 1. Corrigir o valgismo e a pronação do hálux através de medidas que reequilibrem os agentes estáticos (superfícies articulares, cápsula e ligamentos) e dinâmicos (músculos) da região MTF-I. 2. Corrigir o varismo primário ou secundário do 1º metatarsiano, e consequentemente, a subluxação lateral do aparelho aleno-sesamóideo. 3. Reduzir o tamanho da eminência medial através da ressecção da exostose e pelo reposicionamento da cabeça do 1º metatarsiano. 4. Corrigir os fatores etiológicos predisponentes preexistentes. FASCITE PLANTAR A fáscia plantar é um tecido fibroso localizado ao longo da planta do pé (calcanhar a ponta dos dedos). A fascite plantar é a inflamação que ocorre devido a um estresse excessivo dessa região. • Vulgarmente chamado de esporão calcâneo (é apenas um entesófito na região do calcâneo; não causa dor e não tem nada a ver com a patologia). • Bastante comum e dolorosa. ETIOLOGIA • Alterações biomecânicas. • Pé muito cavo, pé chato e pisada hiperpronada. • Sobrepeso. • Calçados inadequados. • Atividade física repetitiva de alta intensidade. A etiologia de encurtamento da cadeia posterior é uma importante causa (ex. pacientes que passam muito tempo com o salto alto). QUADRO CLÍNICO • Dor na sola do pé e calcanhar nos primeiros passos do dia. Beatriz Machadode Almeida Internato – 10º semestre 4 • Dor na sola do pé durante e/ou após atividade física. • Dor na palpação da sola do pé e calcanhar. • Rigidez e tensão na sola do pé. TRATAMENTO • Tratamento conservador: completamente. ❖ Corrigir as alterações nos casos de pé chato ou cavo e hiperpronação. ❖ Perder peso. ❖ Readaptar a prática esportiva. ❖ Readequar o calçado: ex – sapato tipo Anabela (diminui a sobrecarga na faixa posterior do pé). ❖ Usar a palmilha ¨pés sem dor¨: correção da parte biomecânica. Ex – calcanheira (amortecimento + diminuição da sobrecarga). ❖ Alongamento da cadeia posterior. ❖ Gelo: potente anti-inflamatório. ❖ Analgésicos + AINES. ❖ Fisioterapia: sempre indicada. • Tratamento cirúrgico: exceção. INSUFICIÊNCIA DO TIBIAL POSTERIOR • ¨Pé plano adquirido do adulto¨ (pé chato): caracterizado por perda progressiva do arco longitudinal, valgismo do retropé e abdução do antepé, causados pela disfunção do tibial posterior. Quando a pessoa nasce com o pé chato ou o desenvolve na juventude, não significa que tenha insuficiência do tendão tibial posterior, porque pode ser somente uma condição familiar não patológica. ESTABILIZADORES ESTÁTICOS DO ARCO MEDIAL • Ligamento calcaneonavicular plantar (mola/spring): ❖ Conectam o calcâneo e o navicular. ❖ Suporte para a cabeça do talus. ❖ Estrutura óssea. ❖ Responsável pela curvatura clássica do pé. EPIDEMIOLOGIA • Mulheres. • A partir da quarta década. • Lado esquerdo mais comum que o direito. • Bilateral em 5-10% dos casos. • Obesidade. • Diabetes. • Uso de corticoides. • Trauma. • Artrite reumatoide: qualquer patologia reumática pode gerar um processo inflamatório de destruição do tendão tibial posterior, levando ao pé plano adquirido do adulto. Obs: patologias do pé acometem basicamente mulheres. QUADRO CLÍNICO • Depende do estágio da patologia. • Pode variar de dor e flogose localizada no trajeto do tendão (região retromaleolar) a diferentes graus de deformidades. Lembrar que o tibial posterior vem na região retromaleolar e se insere na base do navicular. • Casos mais tardios: pode apresentar o sinal dos muitos dedos (too many toes). EXAMES COMPLEMENTARES • RX-Pitch do calcâneo: normal 15-25º: avaliar se o paciente tem ou não um arco plantar, se o calcâneo está ou não muito próximo ao solo (herança familiar ou condição familiar). • Ressonância: padrão-ouro para avaliar a degeneração/inflamação do tendão. É solicitada quando o paciente está em estágios iniciais, ou seja, tem somente uma dor retromaleolar. Beatriz Machado de Almeida Internato – 10º semestre 5 ESTÁGIOS DE JOHNSON E STROM • Estágio 1: o tendão permanece competente e o pé com o alinhamento normal. ❖ Tratamento conservador: inclui AINES, imobilização (curto período) e fisioterapia. ❖ Casos resistentes: pensar em tenossinovectomia. • Estágio 2: o tendão tibial posterior encontra-se funcionalmente incompetente, o pé é plano valgo, mas permanece móvel. ❖ Tratamento: a utilização de AINES e óteses têm sua melhor indicação nos pacientes em que o tratamento cirúrgico está contraindicado. ❖ Tratamento operatório polêmico. ❖ Desenvolvimento de deformidades ou paciente muito sintomático: pensar em osteotomia. Osteotomia no calcâneo: objetivo de diminuir a valgização do pé / sinovectomia do tibial posterior. Outros: transferências tendíneas (utilizar um tendão pra fazer a função do outro) ou enxerto. • Estágio 3: o tendão está insuficiente, e o pé é plano valgo e rígido. ❖ Tratamento conservador: grupo pequeno. ❖ Tratamento cirúrgico: grande maioria. Cirurgias estabilizadoras, com correção simultânea das deformidades. Artrodese (fusão da articulação). • Estágio 4: o pé plano valgo rígido está associado a valgo e artrose do tornozelo. ❖ Tratamento conservador: AINES e órteses. ❖ Tratamento cirúrgico: artrodese tríplice, tibiotársica ou pantalar.
Compartilhar