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Educação das Relações Étnico-Raciais - livro único_unlocked

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Janguê Diniz 
Diretor-Presidente: 
Jânyo Diniz 
Diretor de Inovação e Serviços:
Joaldo Diniz 
Diretoria Executiva de Ensino:
Adriano Azevedo
Diretoria de Ensino a Distância:
Enzo Moreira
Créditos Institucionais
Todos os direitos reservados
2020 by Telesapiens
AAUTORA 
GLÓRIA FREITAS 
Olá. Meu nome é Gló1ia Freitas. Sou graduada em 
Pedagogia, com mestrado e doutorado na área de educação, 
com diversas experiências técnico-profissionais, na área de 
Educação, desde 1984, perconendo inicialmente pela Educação 
Básica (na Educação Infantil e no Ensino Fundamental I) em 
Escolas, posteri01mente lecionando em fo1mações docentes em 
Organizações Governamentais e Não Governamentais (ONG's 
e OSCIPs), e a paitir de 1990, lecionando os fundamentos e 
metodologias de ensino, na Fonnação Docente Inicial e Pós­
Graduação, no Ensino Superior, em Universidades Públicas 
e Particulares, em São Paulo, Paraná, Ceará, Rondônia e 
Maranhão. Sou apaixonada pelo que faço e adoro transmitir 
minha experiência de vida àqueles que estão iniciando em suas 
profissões. Por isso fui convidada pela Editora Telesapiens a 
integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz 
em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. 
Conte comigo! 
ICONOGRAFICOS 
Esses ícones que irão aparecer em sua trilha de aprendizagem 
significam: 
� 
OBJETI VO 
P0 
OBSERVAÇÃO 
Breve descrição do objetivo 
Uma nota explicativa 
de aprendizagem; 
sobre o que acaba de 
ser dito; 
(D 
CITAÇÃO lini 
RESUMINDO 
Uma síntese das 
Paite retirada de um texto; 
últimas abordagens; 
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TESTANDO 
m DEFINIÇÃO Sugestão de práticas ou 
exercícios para fixação do 
m 
Definição de um 
conteúdo; 
conceito; 
A
IMPORTANTE 
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ACESSE 
O conteúdo em destaque Links úteis para 
precisa ser priorizado; fixação do conteúdo; 
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DICA 
++ 
SAIBA MAIS 
Um atalho para resolver Informações adicionais 
algo que foi introduzido no sobre o conteúdo e 
- conteúdo; temas afins; 
EXPLICA1'.TDO 
� 
SOLUÇÃO 
VI 
DIFERENTE Resolução passo a 
Um jeito diferente e mais passo de um problema 
simples de explicai· o que 
-
ou exercício; 
acaba de ser explicado; 
fx 
EXEMPLO 
'
CURIOSIDADE 
Explicação cio conteúdo ou h1dicação ele miosidades 
conceito paiiinclo ele um e fàtos para reflexão sobre 
• 
caso prático; o tema em estudo; 
-
PALAVRA DO AUTOR 
-
REFLITA 
Uma opinião pessoal e O texto destacado deve 
particular do autor da obra; ser alvo de reflexão. 
SUMARIO 
Explicando a diversidade cultural como característica da nossa formação 
humana e nacional 10 
Explicando a diversidade cultural como característica ela nossa formação 
humana e nacional: conceito ele diversidade cultural 10 
,, ..... ,, ..... , , , .... , , , .... ,,, ..... , , ..... , , 
Explicando a diversidade cultural como característica da nossa formação 
humana e nacional e a presença dela na escola .......................... ............................ ..19
Reconhecendo o discurso pedagógico da diversidade. 
Entendendo a introdução a educação étnico-racial .... 
25 
38 
Entendendo a introdução a educação étnico-racial: conceitos ele etnia e raça.. 38 
Entendendo a introdução a educação étnico-racial na realidade brasileirn..... ... 40 
Analisando os fundamentos legais para a educação das relações étnico­
raciais 44 
Educação das Relações Étnico-Raciais ( 7�-
UNIDADE 
8 ) Educaç
ão das Rela
ç
ões Étnico-Raciais----� 
-
INTRODUÇAO 
Olá! Você estudará nesta unidade acerca da diversidade 
cultural como característica da nossa formação humana e 
nacional e o discurso pedagógico da diversidade, especialmente 
no ambiente escolar. Além disso, veremos sobre a educação 
a partir dos conceitos de etnia e raça, sobreh1do na realidade 
brasileira. E ainda, analisaremos os fundamentos legais da 
educação das relações étnico-raciais. Preparado(a)? Ao longo 
deste esh1do você vai mergulhar neste universo! 
Educação das Relações Étnico-Raciais ( 9�----
OBJETIVOS 
Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 1. Nosso objetivo 
é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências 
profissionais até o término desta etapa de estudos: 
1 Entender a diversidade cultural como caracteristica da nossa formação humana e nacional; 
2 Reconhecer o discurso pedagógico da diversidade; 
3 
4 
Compreender os conceitos básicos da educação 
étnico-racial; 
Analisar os fundamentos legais para a educação 
das relações étnico-raciais. 
Então? Preparado para uma viagem sem volta nuno 
ao conhecimento? Ao trabalho! 
10 ) Educação das Relações Étnico-Raciais----� 
Explicando a diversidade cultural como 
característica da nossa formação humana 
e nacional 
� OBJETIVO 
Ao término deste capítulo você será capaz de reconhecer a 
diversidade cultural como característica da nossa formação 
humana e nacional e o Discurso Pedagógico da Diversidade, o 
conceito de Diversidade Cultural e a presença da Diversidade 
Cultural na escola. Conseguirá explicar a Diversidade Cultural 
como Característica da nossa Fo1mação Humana e Nacional. 
Será capaz de reconhecer o Discurso Pedagógico da Diversi­
dade e entender a introdução a Educação Étnico-Racial. Por fim,
será capaz de analisar os Fundamentos Legais para a Educação 
das Relações Étnico-Raciais. Isto será fundamental para o
exercício de sua profissão. Isto será fundamental para a sua 
compreensão sobre a Diversidade Cultural como Característica 
da nossa Formação Humana e Nacional e o Discurso Pedagógico 
da Diversidade. E então? Motivado para desenvolver esta 
competência? Então vamos lá. Avante! 
Explicando a diversidade cultural como 
característica da nossa formação humana 
e nacional: conceito de diversidade 
cultural 
Vamos começar explicando a Diversidade Cultural como 
Característica da nossa Formação Humana e Nacional, e isso requer 
a busca do conceito de Diversidade Cultural para conseguilmos 
melhor explicá-la. Você já conhece a expressão Diversidade 
Educação das Relações Étnico-Raciais ( 11 
�----
Cultural? Em algum momento de sua fo1mação estudantil já leu 
ou ouviu que a Diversidade Cultural seria algo relevante na nossa 
fom1ação humana e na formação do Povo Brasileiro? Já ouviu 
alguém falando sobre a importância de os futuros educadores 
reconhecerem as diversidades culturais que aparecem dentro de 
sala de aula? E ouviu professores falando sobre isso? 
Estas e outras indagações levam a uma questão inicial 
e que precisará ser respondida: afinal, qual é o significado de 
Diversidade Cultural? Diversidade pode significar variedade, 
diferença e multiplicidade. A diferença é qualidade do que é 
diferente; o que distingue uma coisa de outra, a falta de igualdade 
ou de semelhança (ABRAMOVICH, 2006, p. 12). 
Diversidade Cultural remete ao termo cultura. Cultura está 
relacionada a todo aquele complexo que inclui o conhecimento, 
a arte, as crenças, a lei, a moral, os costumes e todos os hábitos 
e aptidões adquiridos pelo ser humano não somente em família, 
como também por fazer parte de uma sociedade da qual é 
membro. Em 1871, cultura foi definida por Edward Bumett 
Tylor, na sua obra "Acultura primitiva", é todo o complexo de 
conhecimentos, artes, moral, crenças, costumes, leis, costmnes, 
capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem, como membro e 
dentro da sociedade (TYLOR, 1871). 
Entendemos que cultura não pode ser pensada de forma 
singular. O mais certo é dizer culturas, sempre no plural, 
lembrando que são mutantes, ou seja, mudam os valores, leis, 
práticas. São múltiplas as crenças e variadas às práticas. Como 
sã.o diversificadas as instituições, dentre das diferentes formações 
sociais! Na realidade, é verdadeiro afirmar que dentro de uma 
sociedade, como a brasileira, por exemplo, caracterizada por 
ser, como qualquer outra, temporal e histórica, que aconteçam 
muitas transformações culturais (CHAUÍ, 1995). 
Claro que os futuros professores necessitarão dereflexões 
sobre a definição de cultura. Ou seriam definições? O que é 
inegável é que você pertence a mna cultura local, situada em uma 
12 ) Educação das Relações Étnico-Raciais----� 
determinada região do Brasil, e na região em que você vive existem 
distintos grupos sociais. Existem no Brasil minorias étnicas como 
os Povos Indígenas ou Povos Originários do Brasil. E existe uma 
cultura universal e que é patrimônio da humanidade. 
A cultura é um processo de humanização que imprime 
significados da vida social. Em sociedades plurais, como a 
sociedade brasileira, convivem diferentes matrizes culturais, 
diferentes idiomas culturais. Cada uma das culturas consigna uma 
visão de mundo, um quadro próprio de referência, seus próprios 
modos de pensar, de conhecer, de sentir, de fazer, de ser. Assim 
é comum que cada cultura desenvolva seus próprios sistemas de 
classificação, capaz de organizar o real, em conformidade com 
a sua própria lógica simbólica. Sendo assim as distintas culturas 
canegam suas dessemelhanças. Não são mesmo iguais, são 
diversas, são diferentes. Pensando na nossa realidade brasileira, 
a nossa diversidade cultural é resultante da sociedade plural que 
somos de norte ao sul desse imenso país. 
Figura 1 
Fonte: freepik 
Educação das Relações Étnico-Raciais ( 13 
�----
Como querer afirmar que somos sujeitos submetidos a 
uma cultura única e indivisível, chamada Cultura Nacional 
Brasileira? Como somos pertencentes a esta sociedade plural, 
deconente disso surge esta vastidão de diversidades culturais, 
neste país chamado Brasil. O que não quer dizer que tudo é 
pacífico, integrado e ocona em uma perfeita união entre tantas 
diversidades culturais. Algo impede uma maior comunicação 
entre nossas diversidades culturais. 
Diante disso, o que dificulta e impede é o fato de estarmos 
imersos na ideia etnocêntrica de que algumas diversidades 
culturais são superiores ou melhores que outras. O que impede que 
sejamos capazes de reconhecer e respeitar as alteridades, aquilo 
que o outro é e representa diferente de si. E isso causa exclusões 
ou desrespeitos às outras diversidades culturais. Ou seja: 
Embora se intercomuniquem, essa comunicabilidade é 
regida pelo ordenamento social de natureza etnocênt:rica 
queestrnturaasrelaçõesdealtelidadeemnossasociedade. 
Os mecanismos de integração, assimilação, disjunção 
e troca, na medida em que 01ientados etnocentiica­
mente, configuram uma dinâmica assimétiica, exclu­
dente. (BANDEIRA, 2003, p. 143) 
Diversidade cultural pode ser conceituada como a 
representação, dentro de um sistema social, de pessoas afiliadas 
aos grnpos distintamente diferentes, do ponto de vista de 
significado culh1ral (HANASHIRO; CARVALHO, 2005). 
Trazendo a luz à discussão das diversificadas expressões 
culturais, entre diferentes grnpos, majoritários ou minoritários. 
Outra forma de conceituar Diversidade Cultural, levando em 
conta a ideia de Identidade Cultural ( o que se relaciona com as 
certezas que temos de pe1tencimento a uma determinada culh1ra), 
é afirmar que se trata de um conjunto imenso de pessoas, que 
não partilham das mesmas identidades gmpais, suas identidades 
enquanto pertencentes a grupos são distintas e bem delimitadas, 
mesmo que vivam no mesmo sistema social. 
14 ) Educaç
ão das Rela
ç
ões Étnico-Raciais----� 
O autor completa que, a diversidade cultural englobaria os 
mais diversos grnpamentos humanos, perconendo um caminho 
que passa por raça e por gênero, dando conta de abarcar a idade, 
história pessoal e c01porativa, fonnação educacional, função 
e personalidade. Inclui, também, estilo de vida, preferência 
sexual, origem geográfica. 
Além disso, existem conceituações que diferenciam dimen­
sões primárias, definidas como diferenças humanas imutáveis, 
tais como idade, etnia, gênero, raça, orientação sexual e habili­
dades físicas; e diferenças secundárias mutáveis: como fonnação 
educacional, localização geográ-fica e experiência de trabalho. 
Nas nossas ações sociais e culturais demonstramos que 
cada um de nós passa por um processo de produção da iden­
tidade e de diferença. E isso nos diferencia uns dos outros. E 
que precisam ser respeitados socialmente e no âmbito das 
instituições que frequentamos, principalmente na escola. Os que 
trabalham na escola devem ir além da tolerância, do respeito às 
diferenças, com relação a identidade e diferença de cada aluno, 
e isso começa por procurar entender como são produzidas as 
identidades culturais. 
A diversidade biológica pode ser um produto da 
natureza; o mesmo não se pode dizer da diversidade 
culh1ral. A diversidade culh1ral não é, nunca, um 
ponto de origem: ela é, em vez disso, o ponto 
final de um processo conduzido por operações de 
diferenciação. Uma política pedagógica e curricular 
da identidade e da diferença tem a obrigação de ir 
além das benevolentes declarações de boa vontade 
para com a diferença. Ela tem que colocar no seu 
centro uma teoria que permita não simplesmente 
reconhecer e celebrar a diferença e a identidade, 
mas questioná-las. (SILVA,2000, p. 100) 
Educação das Relações Étnico-Raciais ( 15 
�----
É interessante começar a busca pelos significados da 
expressão Diversidade Cultural, destacando o cuidado e diferen­
ciando-a do senso comum, daquilo que costumamos ouvir e de 
opiniões pessoais. Diversidade Cultural não é fazer a defesa de 
que o nosso país, o Brasil, é pluriétnico (formado por muitas etnias 
diferentes, tanto autóctones (nativas) ou que vieram de outros 
continentes como o africano, europeu e asiático, e é pluricultural 
(diferentes culturas estão presentes na nossa realidade). 
Não devemos confundir diversidade cultural com uma polí­
tica universalista, de maneira a contemplar o todo, todas as formas 
culturais, todas as culturas, como se pudessem ser dialogadas, 
trocadas (ABRAMOVICH; RODRIGUES; CRUZ, 2011, p. 94). 
Passando uma impressão eITônea que a diversidade cultural seria o 
campo esvaziado da diferença, ou seja, a diversidade cultural acaba 
por abolir diferenças profundas e intensas das pessoas e de seus 
grnpos sociais de pertencimento. Isso não é verdade! 
A diversidade Cultural precisa ser diferenciada das expli­
cações que aniquilem as desigualdades. Já que as desigualdades 
são reais e expressas em muitos modos, inclusive pelas mani­
festações culturais de distintos grupos sociais. 
Há desigualdades ineconciliáveis, seja de poder, seja 
das classes sociais, mas isto é obscurecido. Portanto, há 
muitas maneiras de esvaziar aquilo que são diferenças 
que é o contrário da constrnção identitária, pois cabe 
às diferenças: boITá-las. Em relação à diversidade 
supõe-se que a troca se realiza entre homens livres e 
iguais, o que sabemos não existe.(ABRAMOVICH; 
RODRIGUES; CRUZ, 2011, p. 94) 
O instigante tema diversidade cultural convoca a um 
posicionamento crítico e político, solicitando um novo olhar. E 
é mais ampliado que consiga abarcar os seus múltiplos recortes. 
Diante de uma realidade cultural e racialmente miscigenada, 
como é o caso da sociedade brasileira, essa tarefa torna-se ainda 
mais desafiadora. 
16 ) Educação das Relações Étnico-Raciais----� 
Ao falar em diversidade cultural, entram em cena partes 
consideráveis da população brasileira: negros, índios, mulheres, 
homossexuais e pessoas com deficiência, ganham visibilidades 
às lutas que estes grupos travaram, ao longo da história do 
Brasil, batalhas para garantir às suas diversidades e o clamor 
por políticas públicas que sejam capazes de atender os seus 
anseios. É interessante ressaltar que alguns sujeitos e gmpos vão 
à luta para garantir suas visibilidades e em busca de políticas 
públicas afirmativas, como os Povos Indígenas Brasileiros e os 
Afrodescendentes. É perceptível que: 
[ ... ] imigração, gênero, sexualidade, raça, etnia, religião 
e língua são os principais fatores que desencadearam um 
processo de mobilização e discussão sobre a diversidade, 
sendo que em vários contextos esses fatores estão inter­
relacionadosou interseccionados. (ABRAMOVICH; 
RODRIGUES; CRUZ, 2011, p. 87) 
É possível entender diversidade cultural como sendo 
as diferenças construídas culturalmente, tomando-se, então, 
empiricamente observáveis; e ainda podemos entender como 
diversidade culh1ral as diferenças também construídas ao longo 
do processo histórico, nas relações sociais e nas relações de 
poder. Muitas vezes, os gmpos humanos tomam o outro diferente 
para fazê-lo inimigo, para dominá-lo. 
Gomes (2003) fala que, tratar da diversidade cultural 
vai além de reconhecer o outro, saber da existência dele com 
e na sua diferença. Constituem pensar a relação entr·e o Eu e 
o Outro. Eis o encantamento em discutir sobre a diversidade.
Ao considerarmos o outro, o diferente, não deixamos de focar a
atenção sobre o nosso grupo, a nossa história, o nosso povo. Ou
seja, falamos o tempo inteiro em semelhanças e diferenças.
Diversidade cultural vai além do ato de analisar um com­
p01tamento individual. E ainda exige uma discussão política, em 
razão de a diversidade cultural tr·atar das relações estabelecidas 
entre os gmpos humanos, e por isso mesmo não está fora das 
Educação das Relações Étnico-Raciais ( 17 
�----
relações de poder. Ela diz respeito aos padrões e aos valores que 
regulam essas relações (GOMES, 2003, p. 72). 
Ao relacionar a discussão da diversidade cultural inseridas 
nas atividades escolares é necessário impedir que ele seja pensado 
como um tema transversal. Muito mais do que um tema ou um 
conteúdo a ser incluído no cunículo, a diversidade cultural é mn 
componente do humano. Ela é constituinte da nossa fonnação 
humana. Somos sujeitos sociais, históricos, culturais e, por isso, 
mesmo diferentes (GOMES, 2003, p. 73). 
Quando a educação se volta para a garantia da diversidade 
cultural, realiza um direito das crianças. E, ainda, faz das 
diferenças um trunfo, explorá-las na sua riqueza, possibilitar a 
troca, proceder como grupo, entender que o acontecer humano 
é feito de avanços e limites. O que significa abrir conexões 
entre tantos elementos distintos da vasta cultura brasileira. Em 
uma busca intensa pelo novo e capaz de incentivar as vidas dos 
educandos, devendo levar os educadores a buscar a adoção de 
práticas pedagógicas, sociais e políticas em que as diferenças 
sejam entendidas como parte de nossa vivência e não como algo 
exótico e nem como desvio ou desvantagem. 
A diversidade é m11a mistura de pessoas, detentoras de 
identidades distintas, mas interagindo em um só sistema social. 
Nesses sistemas, coexistem grupos de maioria e de minoria. Os 
grupos de maioria são os grupos cujos membros historicamente 
obtiveram vantagens em te1mos de recursos econômicos e de 
poder em relação aos outros. 
Ao falar diversidade cultural aparece à necessidade de 
saber o que queremos dizer com a palavra Diversidade e com 
a palavra Cultura, e, posterionnente será possível chegar a um 
significado para a expressão Diversidade Cultural. 
A diversidade cultural é a riqueza da humanidade. 
Para cumprir sua tarefa humanista, a escola precisa 
mostrar aos alunos que existem outras culturas além 
da sua. Por isso, a escola tem que ser local, como 
18 ) Educação das Relações Étnico-Raciais----� 
ponto de partida, mas tem que ser internacional e 
intercultural, como ponto de chegada. Autonomia 
da escola nã.o significa isolamento, fechamento 
numa cultura particular. Escola autônoma significa 
escola curiosa, ousada, buscando dialogar com todas 
as culturas e concepções de mundo. Pluralismo 
nã.o significa ecletismo, um conjunto amorfo de 
retalhos culturais. Significa sobretudo diálogo com 
todas as culturas, a pa1tir de uma cultura que se 
abre as demais. (GADOTTI, 1992, p. 23) 
Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos o acesso à 
seguinte fonte de consulta e aprofundamento: Aitigo: Educação 
para a Diversidade: uma prática a ser constrnída na Educação 
Básica (Silva, 2007), acessível pelo link: https://bit.ly/2MDZSVR. 
(Acesso em 19/12/2019). 
Figura 2: Cerimônia de encerramento da nona e.dição dos Jogos dos Povos Indígenas (Olinda PE) 
Fonte: Wikimedia Commons 
Educação das Relações Étnico-Raciais ( 19 
�----
Explicando a diversidade cultural como 
característica da nossa formação humana 
e nacional e a presença dela na escola. 
Você já é capaz de explicar a diversidade cultural como 
caractetistica da nossa formação humana e nacional e conceituar 
diversidade cultural? Agora, você vai será desafiado a conseguir 
explicar a diversidade cultural como característica da nossa 
formação humana e nacional, e refletir sobre a presença dela na 
escola. 
As reflexões e publicações sobre temas como diversidade 
cultural, na sua relação com as minorias, impôs como um tema 
proeminente, em países da América do Nmte - Canadá e Estados 
Unidos. Desde a década de 60, os movimentos políticos a favor 
da integração racial levaram à promulgação de leis visando à 
igualdade de oportunidades de educação e ao emprego para 
todos (FLEURY, 2000, p.19). 
Zelosos dos seus importantes papéis, os educadores 
deverão agir para integrar as diversidades culturais que coexistam 
dentro da escola e da sala de aula, instaurando um respeito as 
alteridades, aos outros e aos alunos. 
Levando em consideração os discursos simbólicos que 
consigam justificar as relações de alteridade, o formato 
e a maneira como esses discursos se reproduzem ou de 
como enfatizam determinados fragmentos temáticos, 
oportunos em dada situação, momento ou contexto 
particular, sempre transformando a diferença em 
desigualdade (BANDEIRA, 2003, p. 143) 
Estar em uma escola, aprendendo ou lecionando, representa 
momentos significativos para ter contato e adquirir elementos 
importantes da cultura universal. Bem como é uma oportunidade de 
aprender a lidar com as diferenças locais, regionais, de cada grnpo 
social, raciais, de gênero e convivendo com as minorias étnicas. 
20 ) Educação das Relações Étnico-Raciais----� 
A diversidade étnico-cultural nos mostra que os 
sujeitos sociais, sendo históricos, são, também, 
culturais. Essa constatação indica que é necessário 
repensar, rompendo com as práticas seletivas, 
fragmentadas, corporativistas, sexistas e racistas. 
(GOMES e GONÇALVES e SILVA, 2006, p. 25) 
Dentro desta perspectiva, cabe ao educador, ao deparar-se 
com as diversas manifestações culturais populares ou culturas 
da cidadania, agir respeitando-as e dando-lhes vozes, dentro da 
escola. Cultura popular seria, na perspectiva de Paulo Freire, 
tomada de consciência da realidade nacional, para produzir 
transformações e criar formas de relações sociais e políticas; 
significa consciência de direitos, possibilidade de criar novos 
direitos e capacidade de defendê-los contra o autoiitarismo, a 
violência (simbólica ou não) e o arbítrio. 
Interessará, ce1tamente, a cada futuro educador, usar seu 
tempo na universidade, para preparar e consolidar, um modo 
adequado e consistente para o exercício do magistério, focado na 
realidade de que os alunos trazem múltiplas expressões de distintas 
culturas, implicando a necessidade de a educação ser multicultural, 
pluralista (não são homogêneos mesmos os alunos, como não 
somos homogêneos os brasileiros). E, as futuras ações didáticas 
deverão ser focadas no respeito à cultura de cada aluno, portanto, 
democrática. Cada educador deverá estar disposto a instaurar 
a equidade e o respeito mútuo, superando preconceitos de toda 
espécie, principalmente os preconceitos de raça e de pobreza. 
O que significa que o professor deverá ter respeito aos 
direitos dos alunos e que ninguém poderá deixar de matriculado 
e de permanecer na escola por qualquer tipo de preconceito. 
Neste sentido, os estudantes universitários que estão almejando 
os exercícios do magistério deverão aprender sobre a impmtância 
da renovação dos conteúdos culturais escolares, fazendo dialogar 
com a educação regular (aquela que acontece nas salas de aula), 
com os conteúdos aprendidos no âmbito da educação não-formal,firmando compromissos com uma educação para a equidade. 
Educação das Relações Étnico-Raciais ( 21�----
to too ., to touch • 'f• for tvtt 
Fonte: freepik 
Isso acontece quando se leva a sério a diferença cultural. 
O respeito aos direitos humanos é fator para a democracia e, 
justamente, democracia e direitos humanos não se constituíram, 
a não ser muito recentemente e com exceções, em conteúdos 
nodais da escola brasileira. 
É preciso experimentar uma educação multicultural, 
focada no que é universal e ao mesmo tempo é específico de um 
povo. Toda escola deve abrir os horizontes de seus alunos para 
a compreensão de outras culturas, de outras linguagens e modos 
de pensar, num mundo cada vez mais próximo, procurando 
construir uma sociedade pluralista e interdependente. 
As crianças chegam às escolas e canegam suas condições 
sociais próprias e relacionadas aos gmpos sociais que pertencem. 
É necessário perceber que elas não sã.o apenas p01tadoras 
de especialidades biopsicológicas. Os educadores precisam 
entender que a infância é uma construção social. Infância é 
distinta de imaturidade biológica, nã.o é natural nem universal 
e aparece como componente estrutural de muitas sociedades 
(ROCHA; COSTA, 2014, p.85). 
Por isso, é importante verificar as relações sociais em que 
as ciianças estão inseridas, ao mesmo tempo em que devem 
22 ) Educação das Relações Étnico-Raciais----� 
ser vistas como participantes do mundo social e produtores de 
culturas diversas. Devem ser vistas como ativas na constrnção e 
determinação das suas próprias vidas, das vidas dos que cercam 
e das sociedades onde vivem. Crianças não são sujeitos passivos 
das estruturas. 
As crianças interagem com muitos subgrupos etários e 
não ficam estáticos nas suas capacidades de ação, de expressar 
sentimentos e pensamentos, de movimentar-se com autonomia. 
É importante lembrar que as crianças são constituídas como seres 
sociais, e assim sendo disseminam-se pelos diversos modos de 
estratificação social: a classe social, a etnia a que pertencem, 
a raça, o gênero, a região do globo onde vivem. Os diferentes 
espaços estruturais diferenciam profündamente as crianças. 
(SARMENTO, 2005, p. 370) 
Vamos a um exemplo prático, ao comparar um menino 
europeu, na faixa etária entre 6 e 12 anos, pertencente a etnia 
dominante europeia e de raça branca, com família submetida 
as condições econômicas favoráveis e possuindo maiores 
possibilidades de viver com saúde, que tem acesso e permanência 
escolar garantidos, com seus direitos de brincar, ser alimentado 
suficientemente, portar boas roupas, ter brinquedos, viver em 
uma boa casa e ter horas de lazer favorecidas, em comparação 
com uma menina da América do Sul, na Índia ou África, vinda das 
classes populares e mais empobrecidas sul-americanas, indianas 
ou africanas, é imprescindível entender que a diversidade social 
e cultural distingue este menino europeu destas meninas que 
vivem em condições econômicas precárias, em seus distintos 
continentes. Isso significa que são bastante menores, neste caso, 
as possibilidades de estudar, brincar e aceder a bens de consumo, 
e muito maiores as possibilidades de estar doente e de ter sobre 
os ombros as responsabilidades e os encargos domésticos. 
As crianças demandam tratamentos que levem em conta a 
diversidade que as tornam os sujeitos que são. Não é justo que o 
educador, na sala de aula, as veja parcialmente. É imperativo que 
os professores façam distinções efetivas, conceituais, semânticas 
Educação das Relações Étnico-Raciais ( 23 
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(processos de referenciação e significação própiias das crianças 
sobre a infância e suas diversidades culturais, sintáticas (relativas 
às regras de articulação entre os elementos simbólicos) e 
morfológicas (referentes a especificação das formas que adotam 
os elementos característicos das culturas da infância). 
Desta forma, cabe ao professor entender que a criança 
enquanto um sujeito concreto que integra essa categoria 
geracional e que, na sua existência, para além da pe1tença a um 
grupo etário próprio, é sempre um ator social que pert.ence a 
uma classe social, a um gênero etc. Assim, cada criança deverá 
ser tratada como um sujeito que vive mergulhado à sua própria 
diversidade cultural, e que poderá até coincidir em alguns 
elementos com as culturas de seus professores, mas difere em 
muitos pontos e precisará ser respeitada no seu direito a sua 
específica diversidade cultural. 
Junto com seus pares, com as crianças que compartilham 
o seu cotidiano, a escola deverá não coibir a apropriação,
reinvenção e a reprodução que elas produzem juntas, colaborando
para conseguir lidar com experiências contraproducentes, ao
mesmo tempo em que se estabelecem fronteiras de inclusão e
exclusão ( de gênero, de subgrnpos etáiios, de status), que estão
fortemente implicados nos processos de identificação social.
Caberá aos que planejam as rotinas educativas:
[ ... ] constmir novos espaços educativos que 
reinventem a escola pública como a casa das crianças, 
reencontrando a sua vocação primordial, isto é, o lugar 
onde as crianças se constituem, pela ação cultural, 
em seres ditados do direito de paiticipação cidadã no 
espaço coletivo. (SARMENTO, 2002, p. 16) 
É necessário levar em conta a criança enquanto portadora 
de diversidade cultmal, e a responsabilidade do educador como 
quem sustenta, com bastante respeito, lugares de convivências 
criativas. 
24 ) Educaç
ão das Rela
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ões Étnico-Raciais----� 
Deve-se deixá-las livres como atores sociais, nas 
diversidades culturais e nas alteridades delas. Cada criança deve 
ser reconhecida como Outro e reconhecer as demais naquilo que 
elas canegam como Outro também, com os adultos. As condições 
culturais e sociais são heterogêneas, mas incidem perante uma 
condição infantil comum: a de uma geração desprovida de 
condições autônomas de sobrevivência e de crescimento e que 
está sob o controle da geração adulta. 
Os conteúdos e as formas presentes nas culturas infantis 
são interdependentes das culturas das sociedades onde vivem, 
sendo afetadas pelas mais diversas relações de classe, de gênero 
e de proveniência étnica, que impedem definitivamente a fixação 
num sistema coerente único dos modos de significação e ação 
infantil. As crianças precisam ser reconhecidas como produtores 
de cultura própria à sua geração. 
E são estas culturas da infância que exprimem as contradições 
que visualizam na sociedade em que habitam. A escola e a família são 
espaços que oferecem interações diversas e o contato com culturas 
dirigidas pelos adultos (pais e professores) e culturas constmídas 
nesses encontros entre as crianças. Os adultos costumam oferecer 
produtos de suas culturas às crianças. Passam às novas gerações 
suas decisões arbitrálias ao selecionarem ou recusarem alguns 
valores e saberes. Isso acontece com os pais, com os educadores 
e é perceptível no 
conjunto de dispositivos culhirais produzidos para as 
crianças, com uma mientação do mercado, configuradora 
da indústria cultural para a inrancia (literatura infantil, 
jogos e brinquedos, cinema, bandas-desenhadas, 
jogos vídeo e infonnativos, sites e outros dispositivos 
da Internet, serviços variados - de fé1ias, de tempos 
livres, de comemoração de aniversário, de festas, etc.). 
(SARMENTO, 2002, p. 5) 
Educação das Relações Étnico-Raciais ( 25�----
Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos o acesso à seguinte 
fonte de consulta e aprofundamento: Artigo: Multiculturalismo e 
educação: em defesa da diversidade cultural (Silva, 2007), acessível 
pelo link: https://bit.ly/2BHZHq5 (Acesso em 19/12/2019). 
E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo 
tudinho? Agora, só para te1mos ce1teza de que você realmente 
entendeu o tema de estudo até aqui, vamos resumir tudo o que 
vimos. Você deve ter aprendido, até este momento, a explicar 
a Diversidade Cultural como Característica da nossa Fonnação 
Humana e Nacional, o conceito de Diversidade Culh1ral e a 
presençada Diversidade Cultural na escola. 
Reconhecendo o discurso pedagógico da 
diversidade 
Reconhecendo o discurso pedagógico da diversidade é necessário 
para você entender as responsabilidades e adesões da escola e dos 
educadores sobre a importância de promover a diversidade nas 
atividades educativas. Você perc01Terá pela história do discurso 
pedagógico hegemónico, desde a idade moderna, e posteri01mente 
entenderá sua diferenciação com o discurso pedagógico da 
diversidade. 
26 ) Educação das Relações Étnico-Raciais----� 
O Discurso Pedagógico revela aquilo acontece nas relações 
entre os professores e os alunos, dos detalhes mais insignificantes 
aos mais essenciais. Trata nas formas como a escola pretende 
modificar as mentes, os modos de agir e de pensar das novas 
gerações a favor da Diversidade. 
É inegável que as nossas indissociáveis e interdependentes 
identidades e diferenças, são geradas a pmtir da nossa condição 
de sujeitos ou asujeitados à linguagem, no âmbito de um 
específico dentro discurso. Isso deve inspirar os educadores a 
examinar, minuciosamente, seus modos de produção, onde e 
quando foram produzidas, através do discurso. 
A maioria das escolas costumam operar a favor da 
normalização e este movimento, no interior das salas de 
aulas parece estar produzindo mais expurgo da norma do que 
identidades encaixadas na ordem. Quer dizer, há cada vez mais 
'estranhos' do que 'normais'. Na medida em que os professores 
tentam domar as identidades dos seus alunos mais proliferam 
as diferenças. Indagando se não existiria uma possibilidade 
pedagógica para lidar com a diferença sem excluí-la, Costa (2008) 
defende que seria indispensável desessencializar as identidades 
e historicizá-las, mostrar e problematizar as identidades em sua 
face construída, produzida nas injunções políticas do poder no 
interior das sociedades e das culturas. 
O pensamento de Michel F oucault vai aj udm· você a entender 
sobre os discursos e sobre as práticas atreladas a eles. Este autor 
francês entendia que os discursos são poderosos, agem, vigiam 
e controlam os sujeitos. É bem dificil escapar de tanta vigilância 
e das recoITentes punições nas instituições, dos rótulos que vão 
sendo pregados na testa dos que não respeitam as n01mas, a partir 
da saída da Idade Média, na Idade moderna. São 
os discursos eles mesmos que exercem seu próprio 
controle; procedimentos que funcionam, sobretudo, a 
título de princípios de classificação, de ordenação, de 
distribuição, como se tratasse desta vez, de submeter 
Educação das Relações Étnico-Raciais ( 27 
�----
outra dimensão do discurso: a do acontecimento e 
do acaso. (FOUCAULT, 2002 p. 21) 
Historicamente, a pmtir da modernidade, a escola passa a agir 
de mn modo diferenciado das práticas medievais. Foucault bem 
mais tarde estudou este momento histórico (século XX). Estudou 
os colégios da Era Moderna, seus disciplinamentos, vigilâncias e 
punições, respaldadas pelo discurso hegemónico moderno, com 
seus objetivos de controlar e moldar a subjetivação dos sujeitos na 
modernidade, focando na fo1mação do aluno, filho dos burgueses 
e cristãos. Tal discurso can-egava seus mecanismos de poder, 
controle e disciplinamento, que eram vistos como inquestionáveis 
e posteriormente naturalizados como regras infalíveis em nome 
da racionalidade, para educar as novas gerações. 
Interessou a Foucault estudar sobre a história das constrnções 
sociais impostas sobre os alunos, bem como os saberes e poderes 
que os discursos pedagógicos veiculam. Suas pesquisas sobre 
este impo1tante momento da história da educação revelaram o 
aluno, na modernidade, asujeitado ao discurso pedagógico e seus 
métodos, mostrando seu poder dentro dos colégios. E tal poder é 
conhecido como poder disciplinar: 
O poder disciplinar é, com efeito, um poder que, 
em vez de se apropriar e de retirar, tem como 
função maior 'adestrar'; ou sem dúvida adestrar 
para retirar e se apropriar ainda mais e melhor. ( ... ) 
A disciplina 'fabrica' indivíduos; ela é a técnica 
específica de um poder que toma os indivíduos ao 
mesmo tempo como objetos e como instrumentos 
de seu exercício. Não é um poder triunfante que, a 
partir de seu próprio excesso, pode-se fiar em seu 
superpoderio; é um poder modesto, desconfiado, 
que funciona a modo de uma economia calculada, 
mas permanente (FOUCAULT, 1981, p.153) 
Foucault (1981) contribuiu para o entendimento de que 
foram elaborados, a partir da modernidade, métodos capazes de 
28 ) Educação das Relações Étnico-Raciais----� 
realizar o controle meticuloso das operações do co1po, sujeitando-o 
nas suas forças, tomando-o dócil e útil. Estes métodos operados 
para conseguir tal asujeitamento é denominado 'disciplinas'. Tais 
processos disciplinares ou disciplinamentos levariam tempos 
para serem operados nos conventos, oficinas e exércitos e foram 
expandindo seus domínios, passando a serem fó1mulas gerais de 
dominação dos sujeitos, no deconer XVII e XVIII. Diferenciados 
dos tempos e dos modos da escravidão, na antiguidade e nos 
tempos medievais, a modernidade traz novidades, pois não 
fundamentam numa relação de apropriação dos c01pos; é até a 
elegância da disciplina dispensar essa relação custosa e violenta 
obtendo efeitos de utilidade pelo menos igualmente grandes. 
O que fabricaria a disciplina? Foucaultresponde que fabrica 
indivíduos, a disciplina é uma técnica própria e relacionada a 
um poder, que coisifica os sujeitos, transfo1mando-os em objetos 
e instnunentos de seu funcionamento. Não age pelo excesso e 
confiante no seu imenso poder, representa um poder módico, 
acanhado, funcionando a modo de uma economia calculada, mas 
permanente. Humildes modalidades, procedimentos menores, 
se os comprannos aos 1ituais majestosos da soberania ou aos 
grandes aparelhos do Estado. 
Vieram das descobe1tas das ciências modernas, como da 
Medicina e alguns eficazes modelos de normatização, como por 
exemplo, as mtopedizações empregadas para endireitar o cmpo, 
transportado para disciplinar as mentes dos alunos, nos colégios. 
Avançou a pedagogização do conhecimento e o disciplinamento, 
tantos nos cmpos como nas mentes dos alunos. Não parando 
nunca mais e pe1manece atual na estrutura escolar e nos discmsos 
pedagógicos, normatizando os sujeitos, professores ou alunos. 
Normatizou-se primeiro a produção dos canhões e dos 
fuzis, em meados do século XVIII, a fim de assegurar 
a utilização por qualquer soldado de qualquer oficina, 
etc. depois de ter normatizado os canhões, a França 
normatizou seus professores. As primeiras Escolas 
Educação das Relações Étnico-Raciais ( 29 
�----
Normais destinadas a dar a todos os professores 
o mesmo tipo de formação e, por conseguinte, o
mesmo nível de qualificação, apareceram em torno
de 1775, antes de sua institucionalização em 1790
ou 1791. A França normatizou seus canhões e seus
professores, a Alemanha normatizou seus médicos.
(FOUCAULT, 1982, p. 83)
Foucault (2002) comenta que em todas as sociedades 
oconem produção de discurso, que é, simultaneamente, controlada, 
selecionada, organizada e redistribuída por ce1to número de 
procedimentos que têm por fünção conjurar seus poderes e perigos, 
dominar seu acontecimento aleatório, esquivar sua pesada e temível 
materialidade. Um dos procedimentos é a exclusão, outro deles é a 
interdição. Em alguns casos, em lugares e instâncias mais sombrias 
das sociedades, o discurso nem é neutro e tão pouco transparente, a 
política e a sexualidade são alguns destes lugares. 
Os educadores deveriam saber e refletir sobre suas práticas, 
as inter-relações contidas nelas, os modos como são operados 
os objetivos de homogeneizar as diversidades, as diferenças, as 
identidades, contendo os diferentes, os ineverentes, os criativos, 
os que possuem modos distintos dos seus próprios, das suas 
famílias e da sua classe social. E aprender com eles! 
Foucault aponta que ainda que 
o discurso seja aparentemente bem pouca c01sa,
as interdições que o atingemrevelam logo,
rapidamente, sua ligação com o desejo e o poder.
Nisso não há nada espantoso, visto que o discurso -
como a psicanálise nos mostra - não é simplesmente
aquilo que manifesta ( ou oculta) o desejo; e visto
que - isto a história não cessa de nos ensinar - o
discurso não é simplesmente aquilo que traduz as
lutas ou os sistemas de dominação, mas aquilo por
que, pelo que se luta, o poder do qual nós queremos
apoderar. (FOUCAULT, 2002, p. 10)
30 ) Educaç
ão das Rela
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ões Étnico-Raciais----� 
Portanto, nada aniquilará nos educandos os seus desejos de 
serem ouvidos em suas subjetividades, nos seus anseios e nas suas 
manifestações culturais que lhes foram fazendo sentidos nas suas 
jornadas pelas suas existências. Assim, tradicionalmente, o espaço 
escolar é o lugar da disputa entre o discurso pedagógico hegemônico 
(dentro da cabeça dos professores desde a modernidade aos dias 
atuais) e os interesses, desejos e ideias das novas gerações. 
É necessário, na contemporaneidade tentar fazer um esforço 
para ouvir as outras vozes silenciadas dos alunos, procedentes de 
suas quebradas, de seus guetos, de suas comunidades, das suas 
casas e de suas famílias. Invadindo a escola com estes outros 
cantos, outras danças, dissonantes, mas reais. 
Figura 4: Crianças e Dança dos Cabodinhos no Carnaval do Brasil 
Fonte: Wikimedia Commons 
Foucault reflete que para os gregos (século VI) o discurso 
era pronunciado pelo sujeito que tinha direito a ele, em 
conformidade com algum ritual próprio à época. O discurso 
tinha a capacidade de profetizar o füturo, com a adesão dos 
indivíduos. Depois tudo mudou, na passagem da Antiguidade 
Clássica para o início da Idade Média. A verdade se deslocou 
do ato ritualizado, eficaz e justo, de enunciação, para o próprio 
enunciado: para seu sentido, sua forma, seu objeto, sua relação e 
suas referências. (FOUCAULT, 2002, p. 13) 
Educação das Relações Étnico-Raciais ( 31 
�----
Já na chegada à modernidade (lá pelos séculos XVI e 
XVII), Foucault aponta que 
apareceu uma vontade de saber que, antecipando­
se a seus conteúdos atuais, desenhava planos de 
objetos possíveis, observáveis, mensuráveis, 
classificáveis, uma vontade de saber que impunha 
ao sujeito cognoscente (e de certa forma antes de 
qualquer experiência) certa posição, certo olhar e 
certa função (ver, em vez de ler, verificar, em vez 
de comentar); uma vontade de saber que prescrevia 
( e de certo modo mais geral do que qualquer 
instrumento determinado) o nível técnico do qual 
deveriam investir-se os conhecimentos para serem 
verificáveis e úteis. (FOUCAULT, 2002, p. 16/17) 
E a pedagogia estará presente com suas práticas, agindo em 
nome deste sistema moderno e excludente. Serve para reforçar 
e conduzir este projeto de verdade da modernidade, a serviço 
da realização dos procedimentos de controle e de delimitação 
próprios ao discurso pedagógico hegemónico. Isso desfavorece, 
até os dias atuais, que outros discursos não hegemónicos possam 
chegar à escola e democraticamente oferecer suas contribuições, 
aproximando os alunos que se sentem desmotivados por 
discursos outros, distanciados de suas vidas e seus anseios. A 
escola precisa pensar nisso! Rever seus métodos, renovar suas 
intenções e oxigenar velhas práticas. 
E Foucault esclarece o modo de procedimento de um 
discurso, oposta ao lugar do aluno como sujeito capaz de fazer 
comentários sobre o que leu, estando longe de um projeto 
de leitor autônomo e capaz de falar com propriedade e com 
liberdade sobre temas propostos na sala de aula. 
A organização das disciplinas se opõe tanto ao 
princípio do comentário como ao do autor. Ao 
do autor, visto que uma disciplina se define por 
um domínio de objetos, um conjunto de métodos, 
32 ) Educaç
ão das Rela
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ões Étnico-Raciais----� 
um corpus de proposições verdadeiras, um 
jogo de regras e de definições, de técnicas e de 
instrumentos: tudo isso constitui uma espécie de 
sistema anônimo à disposição de quem quer ou 
pode-se servir dele, sem que seu sentido ou sua 
validade estejam ligados a quem sucedeu ser seu 
inventor (FOUCAULT, 2002, p. 30) 
A criação de um autor, suas palavras próprias são 
apropriadas por um determinado discurso que coloca a produção 
dele no anonimato. E este princípio da disciplina que desvaloriza 
a autoria dos que produziram os livros ou textos, desvalorizando 
até mesmo o desejo dos alunos de serem autores, criadores de 
novos textos, este princípio da disciplina 
se opõe também ao do comentário: em uma 
disciplina, diferentemente do comentário, o que é 
suposto no ponto de partida, não é um sentido que 
precisa ser redescobe1to, nem uma identidade que 
deve ser repetida; é aquilo que é requerido para a 
construção de novos enunciados. (FOUCAULT, 
2002, p. 30) 
Assim, nem é solicitado ao aluno que aprenda a comentar 
a própria realidade, o que leu e até o que escreveu. As leituras 
que possam fazer do mundo não são necessárias. Só interessa 
mesmo é que o discurso hegemônico exercido e seus modos de 
agir possam ser apreendidos. 
Foucault fala em biopoder, uma etapa nova e posterior ao 
século XVIII. A diferença é que o biopoder se diferencia do poder 
disciplinar e técnica de adestrar o homem-corpo, punindo-o e 
vigiando constantemente. Parece para agir no campo do homem­
espécie. O biopoder vai operar como uma novidade, uma nova 
tecnologia de poder, distinta do poder disciplinar, mas não o 
descartará, fará uma fusão com ela. Sendo assim preservada e 
operando seus resultados nas instituições modernas ocidentais 
até hoje. Foucault esclarece que 
Educação das Relações Étnico-Raciais ( 33 
�----
a disciplina tenta reger a multiplicidade dos homens 
na medida em que essa multiplicidade pode e 
deve redundar em co1pos individuais que devem 
ser vigiados, treinados, utilizados, eventualmente 
punidos. E, depois, a nova tecnologia que se instala 
se diiige à multiplicidade dos homens, não na medida 
em que eles se resumem em c01pos, mas na medida 
em que ela fonna, ao contrário, uma massa global, 
afetada por processos de conjunto que são próprios da 
vida, que são processos como o nascimento, a m01ie, 
a produção, a doença etc.(FOUCAULT, 1999, p. 291) 
Como vencer as detemúnações deixadas pelo discurso 
pedagógico hegemônico, nascido na modernidade, com todas as suas 
consequências nas mais simples ou complexas atividades escolares, 
para incorporar à diversidade cultural, a multiculturalidade, as 
marcas presentes nas nossas manifestações culturais e trazer um 
novo e progressista discurso pedagógico abe1io às diferenças, 
capaz de conduzii· ações afinnativas às nún01ias desp1ivilegiadas, 
no deconer de mais de 500 anos de exclusão? 
O que travariam a passagem desses discursos pedagógicos 
hegemônicos e tradicionais para os inovadores Discursos 
Pedagógicos da Diversidade? As mudanças têm sido então, 
quase sempre, a burocratização do outro, sua inclusão cunicular 
e, assim, a sua banalização, seu único dia no calendário, seu 
folclore, seu detalhado exotismo. 
Muitos olhares para as diferenças das crianças ficaram 
do lado de fora do foco e das discussões dos educadores. E 
permanecem sem querer ver. 
Se, em algum momento da nossa pergunta sobre 
educação, tínhamos nos esquecidos do outro, agora 
detestamos sua lembrança, maldizemos a hora 
de sua existência e da sua experiência, corremos 
desesperados a aumentar o número de alunos e de 
cadeiras nas aulas, mudamos as capas dos livros que 
34 ) Educaç
ão das Rela
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ões Étnico-Raciais----� 
já publicamos há muito tempo, re-unifonnizamos o 
outro sob a sombra de novas terminologias. Novas 
terminologias sem sujeitos. (SKLIAR, 2003, p.40) 
A escola brasileira repete mn discurso de inspiração dos 
princípios que movimentaram o pensamento sobre a educação e 
a escola republicana francesa, de que deve ser única e igual para 
todos, e desta f 01rna, oculta e mantém uma ética de indiferença 
em relação às diferenças. Ou seja, há uma indiferença ao outro 
como fundamentoda escola. O que levaria a uma visão de 
homogeneização diante de sujeitos heterogêneos (diferentes). 
Impondo, dentro da escola um saber, de urna racionalidade, de 
urna estética, de um sujeito epistêmico único, legitimado corno 
hegemônico como parâmetro único de medida, de conhecimento, 
de aprendizagem e de fo1rnação. 
São impostos parâmetros universais e abolidas as diferenças, 
que tomam desiguais em iguais, atingindo e trazendo para todos 
a mesma medida e avaliação, resultando em classificar o 'outro' 
como inferior, incivilizado, fracassado, repetente, bárbaro etc. 
Um Discurso Pedagógico da Diversidade impõe diferenças 
e modos novos de ver o diferente, propõe-se a tolerância a alguns 
coletivos: as classes populares, os negros, os homossexuais, mas 
ainda os vemos como aqueles que não sabem inferiores, e que 
necessitarão da adesão e empenho de cada educador, diante de 
uma realidade que aponta justamente para o contrário, para a 
exclusão e a indiferença com as diferenças. 
Na busca de outro discurso pedagógico é necessário 
superar a marca pesada que ficou na escolha brasileira a 
favor da escola tradicional, impedindo novas metodologias, 
concepções progressistas, organizações disciplinares inovadoras 
e inspiradas em concepções epistemológicas progressistas, 
criando possibilidades de ampla autonomia e participação dos 
educandos. Fazendo a aposta por uma escola como comunidade 
participativa, refletindo sobre o fato de a escola defender 
Educação das Relações Étnico-Raciais ( 35 
�----
a participação - autonomia, mas comp01ta-se de modo 
autoritário e com contradições: instituição igualitáiia 
que reproduz desigualdade social; instituição 
respeitadora das diferenças e tolerante, mas que 
provoca atitudes discriminatórias; instituição que 
proclama a aprendizagem crítica e criativa, mas usa 
métodos memorísticos e meios verbais; instituição 
democrática, mas que usa hábitos aut01itários que 
limitam a paiticipação. (Maitins, 2006, p. 79) 
Na busca de urna nova pedagogia, já não mais voltada 
aos discursos hegemônicos, surgidos desde a Era Moderna, 
constrntores das escolas tradicionais, ultrapassando-os e apoiando­
se no Discurso Pedagógico da Diversidade é preciso estar abe1to 
para constrnir novas mentalidades, para além de falar apenas 
por falar. O discurso das diversidades pe1rnite entender como 
podemos compreender as distintas diferenças, desde a análise 
da realidade sociopolítica e sociocultural (multiculturalidade, 
interculturalidade). 
Isso significa estar abe1to às diversidades, alteridades e 
diferenças, em fazer encontros interculturais (entre culturas 
diferentes), abrindo espaços de expressão multiculturais (entre 
muitas culturas em diálogo). Querendo constituir bons encontros 
com as várias diversidades culturais trazidas pelos educandos, 
ouvi-los falar sobre estes mundos outros, em suas expressões 
diversas daquelas mais familiares aos educadores e que impliquem 
em novas aprendizagens para os educadores. 
O Discurso Pedagógico da Diversidade destaca a concepção 
humanista da igualdade, do valor e da afürnação das diferenças 
na diversidade cultural, de gênero/sexo, de capacidades e da 
relação entre diferença-semelhança, pluralidade e identidade. Isso 
demandará o acolhimento dos direitos à diferença, o conhecimento 
das histórias e das culturas dos diferentes agrnpamentos sociais, 
que são os formadores, as matiizes do Povo Brasileiro, no ai1tes 
e no depois da colonização portuguesa, a abertura às estéticas 
oriundas das diversidades culturais brasileiras. 
36 ) Educaç
ão das Rela
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ões Étnico-Raciais----� 
É uma grande mudança de concepção e que estará apoiada 
em novas tendências educativas. Estão subjacentes a estas 
apreciações várias tendências educativas, frnto da diversidade 
dos discursos na sua análise às realidades concretas educativas 
(MARTINS, 2006, p. 84). 
Martins defende que na diversidade de discursos 
pedagógicos, os indicativos à necessidade de uma educação 
especial para detenninados coletivos ou gmpos com deficiências 
ou necessidades de aceder ao currículo, às diferenças linguísticas, 
as metodologias adequadas a cada contexto etc. 
O que pode ser apontado para o futuro da educação, em 
uma perspectiva alimentada por um discurso pedagógico da 
diversidade é que poderá caminhar para 'muitos e diversos 
espaços', enquadrando-se no sentido de que cada vez mais 
o indivíduo realiza a sua aprendizagem ou aprendizagens em
espaços diversificados.
O Discurso Pedagógico da Diversidade poderá oferecer 
novas perspectivas. As respostas educativas (enfoques) dessas 
pedagogias inovadoras emergentes falam menos de igualdade 
e mais de liberdade, de qualidade e competências para o 
desempenho profissional (MARTINS, 2006, p. 89). Dando vozes 
aos que costumam ser obrigados a não argumentar com as suas 
próprias diversidades culturais ou seus modos de expressão, 
trazendo-lhes novos capitais culturais, novos conhecimentos, 
acesso amplo as produções culturais da humanidade. 
Os discursos são a favor do acesso à cultura e à 
educação das classes mais desfavorecidas, da 
democratização escolar, do desencadear de novos 
métodos e estratégias e conteúdo, da compreensão 
crítica da realidade, da educação social e cívica 
(cidadania), investigação-ação e resolução de 
problemas, de novos instrumentos metodológicos, 
novos reportórios de técnicas, do desenvolvimento 
de materiais de ensino específicos ('Humanities 
Educação das Relações Étnico-Raciais ( 37 
�----
Project' de Stenhouse), de novos modelos de 
ensino e de formação de professores, novos 
espaços de aprendizagem, da educação integral, 
racional e científica formadora da conduta moral, 
das cidades educativas e comunidades de vida, da 
construçã.o do conhecimento e do desenvolvimento 
da inteligência e criatividade, de novos tipos de 
aprendizagem, de experiências na comunidade, 
etc. (MARTINS, 2006, p. 89) 
O discurso pedagógico da diversidade com seus olhares, 
linguagens e abordagens, diversidades de ideias, temáticas, 
perspectivas, enfoques e tendências devem abrir espaço para 
novas e melhores práticas educativas. 
Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos o acesso à seguinte 
fonte de consulta e aprofundamento: Al.tigo: Multiculturalismo e 
educação:em defesa da diversidade cultural (Silva, 2007), acessível 
pelo link: https://bit.ly/2BHZHq5 (Acesso em 19/12/2019). 
E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo 
tudinho? Agora, só para tennos ce1teza de que você realmente 
entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir h1do 
o que vimos. Você deve ter aprendido que para reconhecer o
Discurso Pedagógico da Diversidade é necessário entender
as responsabilidades e adesões da escola e dos educadores
sobre a ünpo1tância de promover a diversidade, nas atividades
educativas. Você perconeu pela história do Discurso Pedagógico
Hegemónico, desde a Idade Moderna, e posterionnente foi capaz
de entender sua diferenciação com o Discurso Pedagógico da
Diversidade.
38 ) Educação das Relações Étnico-Raciais----� 
Entendendo a introdução a educação 
étnico-racial 
Você será capaz de entender, de um modo introdutório, a 
Educação Étnico-Racial. Isso facilitará a sua futura inserção em 
sala de aula, desenvolvendo suas atividades educadoras para as 
diversidades das crianças. 
Entendendo a introdução a educação 
étnico-racial: conceitos de etnia e raça 
Entendendo a introdução a Educação Étnico-Racial, 
buscando conceitos de Etnia e Raça é impo1tante para diferenciar 
e perceber a dessemelhança entre os conceitos de Etnia e Raça. 
O fato é que a preocupação com uma Educação Étnico­
Racial traz o desafio de pensar em propostas curriculares que 
nã.o neguem as nossas verdades étnico-raciais, bastante fáceis 
de serem conhecidas, através de saberes históricos, sociais, 
antropológicos, bastante reveladores das nossas realidades 
Étnico-Raciais brasileiras. Isso significa ter elementos suficientes 
para realizar um consistente combate ao racismoe as discri­
minações originalmente étnico-raciais. 
É necessário que a escola e os educadores estejam 
dispostos a conhecer ideias que fo1taleçam, dentro dela e 
nestes professores, sendo veiculadas aos alunos, para que os 
conhecimentos novos operem a favor do desenvolvimento de 
valores, atitudes e posturas capazes de educar cidadãos que 
tenham orgulho de seus pertencimentos étnico-raciais. Sejam 
os descendentes de africanos, povos indígenas, descendentes 
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Educação das Relações Étnico-Raciais ( 39 
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de europeus, de asiáticos - para interagirem na construção de 
uma nação democrática, em que todos, igualmente, tenham 
seus direitos garantidos (BRASIL, 2004, p.02), bem como suas 
identidades valorizadas. 
O termo Raça perpassa por uma conotação política, usado 
em demasia no Brasil, nas relações sociais brasileiras, com 
objetivos de informar como determinadas características físicas, 
como cor de pele, tipo de cabelo, entre outras, influenciam, 
interferem e até mesmo determinam o destino e o lugar social dos 
sujeitos no interior da sociedade brasileira. E, posteriormente, as 
populações negras brasileiras, no âmbito de suas organizações 
e lutas político-sociais, foram capazes de ressignificar o termo 
Raça, passando a utilizá-lo com um sentido político e de 
valorização do legado deixado pelos africanos. 
E o termo Étnico, que aparece na expressão étnico-racial, 
é usada para delimitar as verdadeiras, reais e tensas relações 
relacionadas as nossas diferenças, na cor da pele e traços 
fisionômicos o são também devido à raiz cultural plantada na 
ancestralidade africana, que difere em visão de mundo, valores e 
princípios das de origem indígena, europeia e asiática. O termo 
étnico, então, está associado e é imprescindível para delimitar 
que um dado sujeito pode até a mesma cor da pele que seu 
colega de sala de aula, terem os dois o mesmo tipo de cabelo e 
semelhantes traços sociais e culturais que os diferenciem, sendo 
estes dois educandos pertencentes as etnias diferentes. 
Grnpos étnicos são agrnpamentos de pessoas, pmtadoras 
de determinadas características marcantes de suas culturas, 
canegando suas diferenças ancestrais, linguísticas, de valores, 
de hábitos alimentares, costumes e manifestações culturais. E já 
Raça representa uma constrnção social usada para caracterizar 
os diferentes sujeitos, montada em particularidades relacionadas 
a cor da pele ou marcas físicas. O termo raça é sociológico e 
não biológico. E podemos afirmar que todos pertencemos a raça 
humana. Tal espécie humana teria surgido por volta de 350 mil 
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40 ) Educação das Relações Étnico-Raciais----� 
anos atrás, no leste do continente africano. Sendo assim, somos 
ancestralmente todos africanos. 
Entendendo a introdução a educação 
étnico-racial na realidade brasileira 
Entendendo a introdução a Educação Étnico-Racial na 
Realidade Brasileira será possível conhecer mais sobre nossas 
diversidades Étnico-Raciais e culturais. Em mn país fortemente 
marcado pela diversidade, desde os primórdios, nos tempos em 
que os Povos Originários chamavam o nosso Pais e a região da 
América do Sul, pelo nome de Pindorama, que significa terra 
livre dos rnales, segundo os habitantes originários, os povos 
tupis e guaranis. E, ainda, a região da América era chamada de 
Abya Yala, em língua do Povo Indígena Kuna significando a 
'Terra Viva' ou 'Terra em florescimento'. 
Posteriom1ente, já nos tempos da colonização portuguesa, 
entre os primeiros estrangeiros que se tomaram moradores do 
Brasil e vieram de Portugal, constavam pessoas, como Jerônimo de 
Albuquerque ( conhecido corno o Adão Pernambucano), cunhado 
do administrador da Capitânia de Pernambuco, sendo queJ erônimo 
e a sua irmã traziam as marcas das suas ancestralidades rrnmita­
muculmana, muçulmana-semita, negra pré-saaraniana e aqui no 
Brasil chegaram na condição de representantedo rei de Portugal. 
Encontrando aqui no Brasil a filha do Cacique Arcoverde Tabajara 
(do tronco linguístico Tupy), com quem teve vários filhos que 
foram registrados e fizeram história, como também seus inúmeros 
descendentes. (LIMA, 2013) 
Mas, nem tudo foi semelhante e pacífico ao encontro 
inaugural deste casal por volta do ano 1534. O Brasil contava 
com milhões de habitantes indígenas que foram mortos, por não 
aceitar a condição de escravização. O Antropólogo brasileiro 
e Ex-Ministro da Educação, Darcy Ribeiro, considera que no 
processo de Formação do Povo Brasileiro, destacam-se conflitos 
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Educação das Relações Étnico-Raciais ( 41 
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intensos entre índios, negros e brancos. Pode-se afirmar, mesmo, 
que vivemos praticamente em estado de guerra latente, que, por 
vezes, e com frequência, se toma cruento, sangrento. 
Entendendo a introdução a Educação Étnico-Racial, com o 
objetivo de exercer o magistério, em um país fo1temente marcado 
por uma história intensa de dificuldades enh·e seus grupos Étnico­
Raciais, na relação difícil de contatos entre diferentes etnias 
(Inter étnicos) é necessário desvelar os preconceitos, revelar 
as impropriedades das falsas nanativas e entender as verdades 
profundas e que não podem ser caladas, dentro das escolas: 
Conflitos Interétnicos existiram desde sempre, 
opondo as tribos indígenas umas às outras. Mas isto 
se dava sem maiores consequências, porque nenhuma 
delas tinha possibilidade de impor sua hegemonia 
às demais. A situação muda completamente quando 
entra nesse conflito um novo tipo de contendor, de 
caráter ineconciliável, que é o dominador europeu e 
os novos grupos humanos que ele vai aglutinando, 
avassalando e configurando como uma macro etnia 
expan-sionista (RIBEIRO, 1995, p.168). 
Posteriormente, chegaram africanos na condição indigna 
de escravizados em grande número, proibidos de falar a própria 
língua, confessarem a própria religião e obrigado a trabalhar em 
condições absolutamente terríveis, maitirizados ou supliciados 
perversamente. 
Diante disso, as consequências da colonização portuguesa 
e católica sobre as populações indígenas, africanas e afro­
brasileiras foram crnéis e todas as Políticas Públicas Afirmativas, 
de reparação, oferecidas aos povos afro-brasileiros e indígenas, 
são mínimas diante da monstrnosa ação governamental, seja nos 
tempos coloniais, imperiais ou republicanos sobre estes povos e 
seus descendentes. 
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42 ) Educaç
ão das Rela
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ões Étnico-Raciais----� 
Figura 5: Congada, Dança Brasileira nos Tempos Colônias 
Fonte: Wikimedia Commons 
E foram produtoras de práticas racistas e preconceituosas, 
capazes de constmir e reiteradamente repetidas a partir de 
preconceitos, frutos da ignorância que grupos étnicos tidos 
como supeiiores têm acerca da história das organizações e modo 
de vida daqueles considerados inferiores. 
Um dos efeitos foi, e continua sendo, as intensas 
demonstrações de ódio, de preconceito que circulam pela 
sociedade brasileira, incluindo os espaços educacionais e 
atingindo as práticas pedagógicas, por estarem dentro da cabeça 
de muitos professores, presentes nos discursos e até nos livros, 
. . . 
cnou um cenano em que 
o preconceito incutido na cabeça do professor
e sua incapacidade em lidar profissionalmente
com a diversidade, somando-se ao conteúdo
preconceituoso dos livros e materiais didáticos
e às relações preconceituosas entre os alunos de
diferentes ascendências étnico-raciais, sociais e
outras, desestimulam o aluno negro e prejudicam
seu aprendizado. (MUNANGA, 2005: 16)
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Uma experiência de Educação Étnico-Racial necessitará 
trazer à sala de aula a diversidade de linguagens representativas 
na nossa formação étnico-racial brasileira, em toda a sua 
completude, para que os mais diversos sujeitos se sintam 
subjetivamente e culturalmente contemplados, comdireito à 
livre e autoral expressão suas diferenças étnico-raciais, com a 
riqueza de suas manifestações distintas. 
Lembrando e considerando, na sala de aula, 
que a questão do negro e a questão do índio, 
embora do ponto de vista da tradição histórica 
assimilacionista e do processo hegemónico de 
integração social apresentem muitos pontos em 
comum, também mostram profundas diferenças 
do ponto de vista do modo predominante de 
inserção na sociedade de classe, das regulações, 
da 'fabricação' das identidades, da natureza dos 
processos de subordinação e dos mecanismos com 
que são operados, tanto no interior dos grupos 
como externamente (BANDEIRA, 2003, p. 143) 
Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos o acesso à seguinte 
fonte de consulta e aprofundamento: Artigo: Conceitos de gênero, 
etnia e raça: reflexões sobre a diversidade cultural na educação 
escolar (Silva, 2007), acessível pelo link: http://bit.ly/35gA60Q. 
(Acesso em 04/07/2017). 
E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo 
tudinho? Agora, só para te1mos ce1teza de que você realmente 
entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo 
o que vimos. Você deve ter aprendido a entender, de um modo
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44 ) Educação das Relações Étnico-Raciais----� 
introdutório, a Educação Étnico-Racial. Isso facilitará a sua 
futura inserção em sala de aula, desenvolvendo suas atividades 
educadoras. Entendendo, agora, tanto os conceitos de Raça e 
Etnia, bem como aspectos importantes sobre a Educação Étnico­
Racial, na Realidade Brasileira 
Analisando os fundamentos legais para a 
educação das relações étnico-raciais . 
• 
Ao analisar os Fundamentos Legais para a Educação das 
Relações Étnico-Raciais, você terá parâmetros para cumprir e 
propor Projetos Políticos Pedagógicos, cunículos, metodologias 
e práticas educativas. 
As lutas populares pela redemocratização, conduzidas 
pelo povo brasileiro (indígenas, povo negro organizado em 
movimentos, povos do campo e lideranças comunitárias), foram 
intensas antes e depois da promulgação da Constituição de 
1988. Eram esperadas, no conjunto de tantas reivindicações, 
que oconeriam reais mudanças na educação das relações étnico­
raciais brasileira. 
O fmto das lutas está na redação e explicitação de que a 
Educação é um direito de todos, no artigo 205, da Constituição 
da República Federativa do Brasil de 1988. Definindo-a como 
direito de todos e dever do Estado e da família, a ser incentivada 
e promovida com colaboração de toda a sociedade, dirigindo 
o desenvolvimento pleno da pessoa, preparo para exercer
plenamente a cidadania e a qualificação para o trabalho.
Educação das Relações Étnico-Raciais ( 45 
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Neste momento histórico quem seriam as crianças 
aleijadas do seu acesso e permanência na escola? Quem seriam 
os reprovados, ano após ano? Eram aqueles que evadiam da 
escola por ter recebido um acento entre os que fracassaram nela, 
muitas vezes sendo o l .º membro de famílias pobres e negras a 
frequentar uma escola. Tratados como inaptos, imputados por 
diagnósticos que os desabilitavam para a aprendizagem, para 
aprender a ler, escrever e os empunavam ou para uma sala 
especial ou para fora da escola, com eles iam todos os sonhos de 
muitas gerações de seus antecedentes. 
A Constituição Federal, a constihlição da redemocratização 
e cidadã, lhes dá os direitos constitucionais de acesso e 
permanência, com muito o que ser feito, para mudar a realidade 
dentro das escolas, garantindo-lhes o direito à educação, e com 
a concretização deste direito fundamental, ter respaldados a 
sua identidade cultural ( e de seus familiares), a promoção, a 
tolerância e o respeito com relação às suas diferenças étnico­
raciais (BRASIL, 1988). 
O Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8,069/1990) 
foi promulgado 1990, e estava relacionado às diretrizes 
internacionais constituídas pela Convenção dos Direitos da 
Criança, da ONU, em 1989. Representou grande mobilização 
de pais, professores e comunidades. No artigo 5° é garantido 
o direito as crianças ou adolescentes brasileiras de não serem
atingidos por nenhuma forma de discriminação, exploração,
negligência, crueldade, exploração, violência e opressão, com
punições a qualquer atentado, tanto por ação como por omissão,
dos seus direitos fundamentais. Outro elemento significativo
para a garantia da Educação Étnico-Racial, no artigo 16 desta
importante e valorosa lei, respaldando o direito à liberdade,
participando da vida familiar e comunitária, sem nenhum tipo de
discriminação, entre elas configuram as discriminações étnico­
raciais (BRASL, 1990).
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46 ) Educação das Relações Étnico-Raciais----� 
Um pouco mais adiante, na nossa históiia, os parâmetros 
curriculares nacionais/PCN's (BRASIL, 1997) são diretrizes 
curriculares, organizadas pelo Governo Federal para orientar as 
práticas educativas de todas as disciplinas curriculares, da rede 
pública, onde frequentam os estudantes mais empobrecidos, e 
podia ser adotada, sem obrigatoriedade, pela rede privada de 
ensino brasileira. 
A temática da diversidade étnico-racial apareceu 
tomou-se como um tema transversal cunicular, ponto 
de ser contemplado em qualquer disciplina. Logo de 
início o documento afüma que a educação deve ser 
voltada para a cidadania, os vários termos como Ética, 
Meio Ambiente, Saúde, Orientação Sexual, Trabalho 
e Consumo e Pluralidade Cultural são tratados como 
temas a serem incorporados, seguindo uma conexão 
entre a realidade social dos estudantes e saberes teóricos, 
aos campos gerais do curriculo. (ABRAMOVICH; 
RODRIGUES; CRUZ, 2011, p. 90) 
Já o Parecer 017/2001 de 2001, do Conselho Nacional de 
Educação, vai afirmar a conscientização do direito de constituição 
de identidade própria e o dever do reconhecimento da identidade 
do outro, ambos engajados como o direito à igualdade e ao respeito 
às diferenças, afirmando opmtunidades diferenciadas ( o que quer 
dizer o direito a equidade), tantas quantas forem necessárias, com 
vistas à busca da igualdade. O princípio da equidade reconhece a 
diferença e a necessidade de haver condições diferenciadas para o 
processo educacional. (BRASIL, 200, p. 11) 
Diante das históricas e complexas disparidades e discriminações 
que prejudicavam a escolarização da população negra brasileira, o 
CNE- Conselho Nacional de Educação, com seu papel mediador 
entre o Estado, os sistemas de ensino do Brasil resolve ouvir os 
antigos e inaudíveis apelos e mobilizações do movimento negro 
brasileiro para que a escola passasse a ser palco e contemplasse a 
diversidade social e étnico-racial afro-brasileira. 
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Educação das Relações Étnico-Raciais ( 47 
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Na atualidade, o preconceito e a discriminação 
baseada em critérios étnico-raciais estão entre 
os principais motivadores da evasão escolar das 
pessoas negras. A escola como uma instituição 
que reproduz as estruturas da sociedade também 
reproduz o racismo, como ideologia e como prática 
de relações sociais que inviabiliza e imobiliza as 
pessoas, inferiorizando-as e desqualificando-as 
em função da sua raça ou cor. Buscando contribuir 
com a desconstrução desse processo, em 2003 é 
promulgada a Lei Federal nº 10.639 que institui 
a obrigatoriedade do ensino da história e cultura 
afro-brasileira e africana (AGUIAR, 2009, p. 12) 
Isso foi materializado com as Diretrizes Cmriculares 
Nacionais para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e 
Africana (BRASIL, 2004). O Conselho Nacional de Educação 
( CNE) interpretou as detenninações da Lei 1O.639/ 2003 (BRASIL, 
2003) que introduziu na Lei 9394/1996 das Diretrizes e Bases da 
Educação Nacional (BRASIL, 1996), a obrigatoriedade do ensino 
de história e cultura Afro-Brasileira e Africana. 
As políticas inclusivas são aquelas voltadas para 
a redução das desigualdades sociais, promovendo 
a universalização de direitos civis, políticos e 
sociais, estabelecendo a igualdade de fato. As 
políticas públicas includentes não são formuladas 
comoum benefício para um grnpo em detrimento 
de outro, mas sim para combater as discriminações 
que impedem o acesso aos direitos sociais, em 
igualdade de condições, por parte de grupos 
considerados em vulnerabilidade, por terem uma 
história marcada pela exclusão e por desigualdades 
de condições(NUNES, 2014, p. 11) 
Tais DCNs para a Educação das Relações Étnicos­
Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira 
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48 ) Educação das Relações Étnico-Raciais----� 
e Africana vão declarar que: Reconhecimento implica justiça e 
iguais direitos sociais, civis, culturais e econômicos, bem como 
valorização da diversidade daquilo que distingue os negros dos 
outros grnpos que compõem a população brasileira.(BRASIL, 
2003, p. 5). Exigindo mudanças significativas que perpassam os 
discursos, raciocínios, lógicas, gestos, posturas, modo de tratar 
as pessoas negras.(BRASIL, 2003, p. 5) 
Dete1minando o conhecimento da história e cultura afro-
brasileira e africana, para produzir o efeito de 
desconstruir o mi to da democra eia racial na sociedade 
brasileira; mito este que difunde crença de que, se 
os negros não atingem os mesmos patamares que os 
não negros, é por falta de competência ou interesse, 
desconsiderando as desigualdades seculares que a 
estrutura social hierárquica cria com prejuízos para 
o negro. (BRASIL, 2003, p. 5)
Estas novas dete1minações colocaram, no núcleo de novos 
posicionamentos, ordenamentos e recomendações, a educação das 
relações étnico-raciais. Deste modo, conformou uma nova política 
cunicular que passou a atingir no âmago do convívio, trocas e 
confrontos em que têm se educado os brasileiros de diferentes 
origens étnico-raciais, pmiiculmmente descendentes de africanos 
e de europeus, com nítidas desvantagens para os primeiros. 
Figura 6: Pinnira da Festa de Nossa Senhora do Rosário, Padroeira dos negros 
no Brasil, feita pelo artistaalemão Rugendas, em visita ao Brasil, no Século XIX 
Fonte: Wikímedía Commons 
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Os Povos Indígenas, os povos autóctones ou originários 
do Brasil, foram às lutas por seus direitos, nos tempos da 
redemocratização e que culminaram com as lutas por uma nova 
constituição. Esta imensa dívida social do Estado Brasileiro 
com seus povos originários começa a ser equacionado com a 
Constituição de 1988. (BRASIL, 1988) 
É importante ressaltar que a constituição permite ao 
cidadão, seus direitos à educação bilíngue Gá que são falantes da 
língua materna, pe1iencente ao seu povo e da Língua Portuguesa), 
ao acesso aos conhecimentos universais, sem que isso despreze 
tais línguas e seus milenares saberes tradicionais. Com relação a 
isso, o artigo 210 assegurou o direito de empregar suas línguas 
maternas, bem corno seus processos de aprendizagem. 
Assim, a escola passa a ser, por força deste preceito 
constitucional, urna fe1rnrnenta de valorização e sistematização 
de seus mais diversos saberes e múltiplas práticas tradicionais, 
e também o espaço de permanência, de acesso e da obtenção de 
conhecimentos universais, caminhando junto com a obrigatória 
valorização dos conhecimentos étnicos, já que existem diversos 
povos indígenas no Brasil, falantes de dessernelhantes línguas e 
que possuem culturas distintas. 
Além da Constituição de 1988, anos depois para aqueles 
que já esperavam por quase 500 anos, a Lei de Diretrizes de 
Bases da educação Nacional/LBB 9394/96 (BRASIL, 1996) 
passou a reconhecer legalmente as diferenças e peculiaridades do 
diversos Povos Indígenas habitantes do vasto teITitório nacional. 
No seu artigo 78, é garantindo-lhes, aos povos indígenas, 
todos o direito, e apoios que se fizerem necessários, a recuperar 
suas memórias históricas, a reafirmar suas identidades étnicas 
e a obter a valorização de suas línguas maternas e suas 
específicas ciências, com a garantia do acesso às info1mações, 
dos conhecimentos técnicos e científicos da nossa sociedade 
nacional, além e do que for relativo as demais sociedades 
indígenas e não-índias.(BRASIL, 1988) 
50 ) Educaç
ão das Rela
ç
ões Étnico-Raciais----� 
Já Plano Nacional de Educação/PNE de 2001 
(BRASIL, 2001) instituiu objetivos e metas especificas para o 
desenvolvimento da educação escolar indígena diferenciada, 
que deverá ser intercultural, bilíngue ( em língua materna 
indígena e na Língua Português do Brasil), com garantia de 
qualidade. Isso levou a criação de Cursos de Fonnação Superior 
para professores indígenas e que funcionavam nas férias das 
universidades públicas brasileiras. 
Assim, muitos professores indígenas fonnam e atuam nas 
suas aldeias espalhadas pelo Brasil. Uma vitória inigualável 
para conseguir os objetivos firmados nestes marcos legais tão 
significativos, focados na diversidade dos povos indígenas e nas 
suas mais diversas tradições culturais específicas, caminhando 
na concretude da especificidade que é o ensino para crianças 
indígenas, com seus direitos a diferença, a interculturalidade 
(conviver entre culturas diferenças) e da manutenção de suas 
diversidades linguística, pois longe estão os tempos coloniais 
em que eram proibidos de falar a língua materna e obrigados a 
falar a mesma língua do rei de Portugal, além das suas culturas e 
histórias tão diversificadas. 
Existe um longo caminho ainda para ser realizado entre 
indígenas e não indígenas na busca de um diálogo respeitoso 
e tolerante com relação aos povos indígenas e suas diferenças. 
Os não indígenas precisarão aprender a valorizar e preservar 
todas as diversas culh1ras indígenas, reconhecendo os povos 
indígenas, seus direitos ao acesso e pennanência a todos os 
níveis de escolaridade, respeitando as suas histórias e culturas. 
Como já citado, na Lei de Diretrizes e Bases da Educação 
Nacional/LDB (9.394/96) (BRASIL, 1966), foi adicionada a Lei 
10.639/2003 (BRASIL,2003), promovendo o ensino da História 
e Culh1ra Afro-brasileira. 
Essa alteração foi regulamentada com a aprovação 
do Parecer nº. 03/2004 do Conselho Nacional de 
Educação, que estabeleceu Diretrizes Curriculares 
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Nacionais para a Educação das Relações 
Etnicorraciais e para o Ensino de História e Cultura 
Afro-Brasileira e Africana, e da Resolução, nº. 1, de 
17 de junho de 2004. O Parecer CNE/ CP nº. 03, 
de 1 O de março de 2004, indicou conteúdos a serem 
incluídos e também as necessárias modificações nos 
cunículos escolares, enquanto a Resolução CNE/CP 
nº . l detalhou os direitos e as obrigações dos entes 
federados frente à implementação da Lei 10.639/03. 
(NUNES,2014,p. 10) 
Anos depois, foi necessáiio ampliar tal dispositivo legal, 
contemplando os nossos povos originários, os indígenas brasileiros, 
com a promulgação da Lei 11.645/2008. (BRASIL, 2008) 
Estas duas modificações provocadas na LDB trouxeram 
as lutas conjuntas dos povos afro-brasileiros e indígenas em 
prol do combate mútuo ao racismo, que sofrem os negros e os 
indígenas desde os tempos da colonização brasileira, já passados 
120 anos da proclamação da República e do fim da escravidão. 
São os ecos das lutas contra a discriminação as diversidades 
étnica-culturais de indígenas e negros, configurando também em 
uma luta contra os desrespeitos aos direitos à educação das duas 
importantes matrizes da fonnação do povo brasileiro (indígena 
e afro-brasileira). 
A LEI Nº 11.645, data delO de março de 2008, modificou 
o mtigo 26 da LDB (BRASIL, 1996), dando o seguinte novo
texto: Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino
médio, públicos e privados, torna-se obrigatório o estudo da
história e cultura afro-brasileira e indígena. (BRASIL, 2008)
Esclarecendo que o conteúdo programático terá que incluir 
diversos aspectos da história e da cultura que 
caracterizam a formação da população brasileira, 
a partir desses dois grupos étnicos, tais como o 
estudo da história da África e dos africanos, a 
luta dos negros e dos povos indígenas

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