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PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 8ª REGIÃO CARGO 17: ANALISTA JUDICIÁRIO ÁREA JUDICIÁRIA ESPECIALIDADE: OFICIAL DE JUSTIÇA AVALIADOR FEDERAL Prova Discursiva Aplicação: 06/11/2022 PADRÃO DE RESPOSTA 1 Antônio praticou os crimes de sonegação de contribuição previdenciária (art. 337-A, I, do Código Penal – ao omitir da folha de pagamento os prestadores de serviço), de apropriação indébita previdenciária (art. 168-A, do Código Penal – ao não repassar as contribuições descontadas dos empregados à Previdência Social) e descaminho (art. 334, §1º, III, do Código Penal – ao expor à venda os produtos sabendo da introdução clandestina no território nacional). Maria, por sua vez, praticou o crime de descaminho (art. 334, §§ 2º e 3º, do Código Penal), vez que iludiu, no todo, o pagamento de imposto devido pela entrada de mercadoria, via aérea, no país e comercializava os bens na empresa de seu marido e na própria residência. Mário e os outros 120 empregados praticaram o crime de paralisação do trabalho, seguida de violência ou perturbação da ordem (art. 200, do Código Penal). 2 O princípio da insignificância não é aplicável aos crimes de sonegação e de apropriação indébita previdenciária. Embora os Tribunais Superiores reconheçam a natureza tributária das contribuições previdenciárias (crimes materiais), pelo que seria aplicável a Súmula Vinculante n. 24, do STF ( Inq 3.102, voto do rel. min. Gilmar Mendes, P, j. 25-4-2013, DJE 184 de 19-9-2013), importa ressaltar que na hipótese já houve constituição do crédito tributário, ainda que em valor inferior à R$ 20.000,00 (vinte mil reais). Outrossim, o STJ, acompanhando o entendimento do STF, firmou entendimento de que "(...) não é possível a aplicação do princípio da insignificância aos crimes de apropriação indébita previdenciária e de sonegação de contribuição previdenciária, independentemente do valor do ilícito, pois esses tipos penais protegem a própria subsistência da Previdência Social, de modo que é elevado o grau de reprovabilidade da conduta do agente que atenta contra este bem jurídico supraindividual. (AgRg no REsp n. 1.783.334/PB, relatora Ministra Laurita Vaz, Sexta Turma, julgado em 7/11/2019, DJe de 2/12/2019). O crime de descaminho é crime formal, pelo que não se aplica a Súmula Vinculante 24 do STF, consumando-se com a simples conduta de iludir o Estado quanto ao pagamento dos tributos devidos quando da importação ou exportação de mercadorias. (STJ. 6.ª Turma. REsp 1.343.463-BA, Rel. para acórdão min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 20/3/2014; STF. 2.ª Turma. HC 122325, Rel. min. Gilmar Mendes, julgado em 27/05/2014). O crime comporta a aplicação do princípio da insignificância, quando preenchidos os demais requisitos, segundo entendimento adotado pelo STF e STJ ((...) No crime de descaminho, o Supremo Tribunal Federal tem considerado, para a avaliação da insignificância, o patamar de R$ 20.000,00, previsto no art. 20 da Lei nº 10.522/2002 e atualizado pelas Portarias nº 75 e nº 130/2012 do Ministério da Fazenda. (...) HC 155347, Relator(a): min. DIAS TOFFOLI, Segunda Turma, julgado em 17/04/2018, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-087 DIVULG 04-05-2018 PUBLIC 07-05-2018 e (...) incide o princípio da insignificância aos crimes tributários federais e de descaminho quando o débito tributário verificado não ultrapassar o limite de R$ 20.000,00 (vinte mil reais), a teor do disposto no art. 20 da Lei n. 10.522/2002, com as atualizações efetivadas pelas Portarias n. 75 e 130, ambas do Ministério da Fazenda. STJ, REsp 1688878/SP, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 28/02/2018, DJe 04/04/2018). Entretanto, considerando que o montante relatado na situação hipotética ultrapassa em muito o valor de R$ 20.000,00, não seria possível aplicar o princípio da insignificância. Por fim, o crime praticado pelos empregados (art. 200, do CP) não comporta a aplicação do princípio da insignificância, diante da presença de violência ou grave ameaça, conforme entendimento pacífico do STF ((...) É inviável reconhecer a aplicação do princípio da insignificância para crimes praticados com violência ou grave ameaça, incluindo o roubo. RHC 107378, Relator(a): ROSA WEBER, Primeira Turma, julgado em 29/05/2012, PROCESSO ELETRÔNICO DJe- 150 DIVULG 31-07-2012 PUBLIC 01-08-2012). QUESITOS AVALIADOS 2.1 0 – O candidato não apresentou os crimes, os autores e não mencionou os dispositivos legais. 1 – O candidato apresentou de 1 a 2 dos crimes ou dispositivos legais e respectivos autores. 2 – O candidato apresentou 3 dos crimes ou dispositivos legais e respectivos autores. 3 – O candidato apresentou 4 dos crimes ou dispositivos legais e respectivos autores. 4 – O candidato apresentou todos os crimes, com menção dos dispositivos legais, e respectivos autores. 2.2 0 – O candidato não respondeu adequadamente ou não apresentou justificativa legal/jurisprudencial. 1 – O candidato apresentou apenas uma resposta correta, sem mencionar a jurisprudência. 2 – O candidato apresentou apenas duas respostas corretas, sem mencionar a jurisprudência. 3 – O candidato apresentou as três respostas corretas, sem mencionar a jurisprudência. 4 – O candidato elaborou a resposta de forma correta e devidamente fundamentada, de acordo com a jurisprudência e dispositivos legais aplicáveis. CEBRASPE – TRT 8.ª REGIÃO – Edital: 2022 • Nesta prova, faça o que se pede, usando, caso deseje, o espaço para rascunho indicado no presente caderno. Em seguida, transcreva o texto para a FOLHA DE TEXTO DEFINITIVO DA PROVA DISCURSIVA, no local apropriado, pois não será avaliado fragmento de texto escrito em local indevido. • Qualquer fragmento de texto além da extensão máxima de linhas disponibilizadas será desconsiderado. • Na Folha de Texto Definitivo, a presença de qualquer marca identificadora no espaço destinado à transcrição do texto definitivo acarretará a anulação da sua prova discursiva. • Ao domínio do conteúdo serão atribuídos até 10,00 pontos, dos quais até 0,50 ponto será atribuído ao quesito apresentação (legibilidade, respeito às margens e indicação de parágrafos) e estrutura textual (organização das ideias em texto estruturado). -- PROVA DISCURSIVA -- Antônio é proprietário de uma loja de departamento, que conta com quinhentos empregados e trinta prestadores de serviços. A loja comercializa eletrodomésticos, eletroeletrônicos, vestuário e acessórios. Maria, sua esposa, viaja frequentemente aos Estados Unidos da América para adquirir aparelhos eletrônicos, que são expostos à venda na loja de Antônio. Ainda, ela aproveita as viagens para adquirir perfumes importados, que são comercializados em sua residência. Maria nunca declarou à autoridade alfandegária a entrada dos produtos no território nacional, ainda que a quantidade e os valores fossem sabidamente superiores ao legalmente permitido — a aquisição de produtos a cada viagem, com a finalidade de mercancia, ultrapassa o montante de setenta mil reais. Na folha de pagamento da empresa, Antônio desconta os valores referentes às contribuições previdenciárias de todos os empregados, mas repassa à Previdência Social apenas o montante descontado de duzentos e cinquenta deles. Não obstante, omite a existência de todos os prestadores de serviços. Após denúncia anônima, a empresa foi submetida a auditoria e fiscalização por um auditor do trabalho, que constatou as irregularidades e procedeu ao lançamento e constituição do crédito tributário no montante de cinco mil reais, relativos às contribuições previdenciárias dos prestadores de serviços, e de dez mil reais, relativos às contribuições previdenciárias recolhidas dos empregados que não foram repassadas à Previdência Social. Quando tomou ciência do ocorrido, Mário, acompanhado de outros cento e vinte empregados, utilizando-se de violência, organizou uma paralisação coletiva do trabalho,a qual resultou na destruição de diversas mercadorias e móveis do estabelecimento de Antônio. Com base na situação hipotética descrita, elabore, com base na legislação e na jurisprudência dos tribunais superiores, uma dissertação, abordando os seguintes aspectos: os crimes cometidos e seus autores; a possibilidade de aplicação do princípio da insignificância aos crimes praticados e a respectiva justificativa legal e jurisprudencial. CEBRASPE – TRT 8.ª REGIÃO – Edital: 2022 RASCUNHO 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30