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REVISÃO COMPLETA: NOÇÕES DE DIREITO PENAL PARA AGENTE DE POLÍCIA CIVIL - PCSC Material didático preparado especificamente para o concurso de Agente de Polícia Civil de Santa Catarina (PCSC). Este conteúdo aborda todos os tópicos relevantes de Direito Penal cobrados no edital, com explicações objetivas, exemplos práticos e destaques importantes para sua aprovação. Agenda do Material Aplicação da Lei Penal Princípios fundamentais, lei penal no tempo e no espaço, teorias de aplicação Teoria do Crime Fato típico, ilicitude, culpabilidade e seus elementos constitutivos Concurso de Pessoas e Crimes Coautoria, participação, consumação e tentativa Crimes em Espécie Crimes contra a pessoa, patrimônio e administração pública Penalidades e Extinção da Punibilidade Tipos de penas, regimes de cumprimento e causas extintivas Princípios Fundamentais do Direito Penal Os princípios do Direito Penal funcionam como garantias ao cidadão contra o poder punitivo do Estado, estabelecendo limites à intervenção estatal nas liberdades individuais. Princípio da Legalidade Nullum crimen, nulla poena sine lege: Não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal (art. 5º, XXXIX, CF e art. 1º do CP). Princípio da Anterioridade A lei penal deve ser anterior ao fato que se pretende punir, vedando-se a criação retroativa de crimes. Princípio da Intervenção Mínima O Direito Penal deve ser a ultima ratio, intervindo apenas quando outros ramos do direito não forem suficientes. Irretroatividade da Lei Penal Regra: Irretroatividade A lei penal não retroage, aplicando-se apenas aos fatos ocorridos após sua vigência (art. 5º, XL, CF). Exceção: Retroatividade Benéfica A lei penal retroagirá quando: Deixar de considerar o fato como criminoso (abolitio criminis) De qualquer modo favorecer o réu (novatio legis in mellius) Base legal: Art. 5º, XL, CF e Art. 2º, parágrafo único, CP. Conflito de Leis Penais no Tempo Lei mais severa (lex gravior) Não retroage, aplica-se somente aos fatos praticados após sua vigência. Exemplo: Lei que cria novo crime ou aumenta pena. Lei mais benéfica (lex mitior) Retroage para beneficiar o réu, mesmo após trânsito em julgado. Exemplo: Lei que reduz pena ou descriminaliza conduta. Combinação de leis (lex tertia) Posição majoritária: não é possível combinar partes benéficas de leis diferentes. STF: veda a combinação de leis, aplicando-se integralmente a mais benéfica. Lei Penal no Tempo: Conceitos Importantes Vigência Período durante o qual a lei produz seus efeitos jurídicos, desde sua entrada em vigor até sua revogação. Ab-rogação Revogação total da lei por outra posterior. Exemplo: O Código Penal de 1940 ab- rogou o Código Penal de 1890. Ultra-atividade Fenômeno pelo qual uma lei revogada continua a regular fatos ocorridos durante sua vigência, quando mais benéfica ao réu. Lei Excepcional e Lei Temporária Lei Excepcional Editada em situações anormais, como calamidade pública ou estado de defesa. Exemplo: Lei criada durante pandemia que aumenta penas para crimes contra a saúde pública. Lei Temporária Possui período de vigência predeterminado em seu próprio texto. Exemplo: Lei que vigorará por 90 dias para combater determinada situação. Característica comum: Ultra-atividade (Art. 3º CP) Ambas são sempre ultrativas, ou seja, mesmo após cessarem sua vigência, continuam aplicáveis aos fatos praticados durante sua vigência, independentemente de serem mais ou menos benéficas. Lei Penal no Espaço Princípio da Territorialidade Regra geral: a lei brasileira aplica-se aos crimes cometidos no território nacional (Art. 5º, caput, CP). Território nacional inclui: solo, mar territorial, espaço aéreo, embarcações e aeronaves brasileiras (públicas) onde quer que estejam. Princípio da Extraterritorialidade Exceção: a lei brasileira pode ser aplicada a crimes cometidos fora do território nacional nas hipóteses previstas no Art. 7º do CP. Pode ser incondicionada (Art. 7º, I) ou condicionada (Art. 7º, II). Extraterritorialidade da Lei Penal Extraterritorialidade Incondicionada (Art. 7º, I, CP) Crimes contra a vida/liberdade do Presidente da República Crimes contra o patrimônio/fé pública da União Crimes contra a administração pública por funcionário Genocídio por brasileiro ou residente no Brasil Extraterritorialidade Condicionada (Art. 7º, II, CP) Condições (cumulativas): Entrar o agente no território nacional Ser o fato punível também no país onde foi praticado Estar o crime na lista do Art. 7º, II Não ter o agente sido absolvido ou punido no estrangeiro Tempo e Lugar do Crime Tempo do Crime Adota-se a Teoria da Atividade (Art. 4º CP) "Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado." Importante para determinar: Lei aplicável Imputabilidade do agente Prescrição Lugar do Crime Adota-se a Teoria da Ubiquidade (Art. 6º CP) "Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado." Finalidade: ampliar a aplicação da lei penal brasileira, evitando impunidade em crimes à distância. Conceito de Crime O Código Penal brasileiro não traz um conceito explícito de crime. A doutrina desenvolveu diferentes teorias para sua definição: Conceito Formal Crime é toda conduta proibida por lei e sancionada com pena criminal. Conceito Material Crime é toda ação ou omissão que lesa ou expõe a perigo bens jurídicos relevantes protegidos pela lei penal. Conceito Analítico (Tripartido) Crime é todo fato típico, ilícito e culpável. Teoria Tripartida do Crime 1 Culpabilidade Reprovação da conduta 2 Ilicitude Contrariedade ao direito 3 Fato Típico Adequação ao modelo legal A teoria tripartida, adotada majoritariamente pela doutrina brasileira, entende que o crime é composto por três elementos essenciais: fato típico, ilicitude e culpabilidade. A ausência de qualquer um desses elementos descaracteriza o crime. Nas próximas slides, analisaremos cada um desses elementos detalhadamente. Fato Típico: Definição e Elementos O fato típico é o primeiro elemento do crime e consiste na adequação da conduta praticada pelo agente ao modelo abstrato previsto na lei penal (tipo legal). Conduta Comportamento humano voluntário, que pode ser: Ação (comportamento positivo) Omissão (não fazer o que devia) Nexo Causal Relação de causa e efeito entre a conduta e o resultado. Teoria adotada: equivalência dos antecedentes causais (Art. 13, CP). Resultado Modificação no mundo exterior provocada pela conduta. Pode ser: Naturalístico (nos crimes materiais) Normativo/jurídico (em todos os crimes) Tipicidade Adequação da conduta ao tipo penal, que pode ser: Formal: mero enquadramento da conduta Material: efetiva lesão/perigo ao bem jurídico Conduta: Teorias e Elementos Teorias da Conduta Teoria Causal/Naturalista Conduta é movimento corpóreo voluntário que causa modificação no mundo exterior. Teoria Finalista Conduta é comportamento humano voluntário dirigido a uma finalidade. Dolo e culpa são elementos da conduta. Teoria Social Conduta é comportamento socialmente relevante, controlável pela vontade humana. Ausência de Conduta Não há fato típico quando há ausência de conduta. Situações: Atos reflexos (espirros, convulsões) Força física irresistível (externa ao agente) Estados de inconsciência absoluta Movimentos durante o sono Coação física irresistível (vis absoluta) Nexo Causal O nexo causal é a relação de causa e efeito entre a conduta e o resultado. É elemento fundamental para a responsabilização do agente nos crimes materiais. Teoria da Equivalência dos Antecedentes (Art. 13, CP) Também chamada de conditio sine qua non, considera causa toda condição sem a qual o resultado não teria ocorrido. Todas as causas têm valor equivalente para a produção do resultado. Método de verificação Realiza-se o processo de eliminaçãohipotética: se, suprimida mentalmente a conduta, o resultado desaparece, há nexo causal. Limitação A exigência de tipicidade e de dolo ou culpa restringe o alcance dessa teoria, evitando o regresso ao infinito. Causas Interruptivas do Nexo Causal Causa Absolutamente Independente Rompe totalmente o nexo causal com a conduta anterior, quando por si só produz o resultado. Pode ser preexistente, concomitante ou superveniente. Causa Relativamente Independente Não rompe o nexo causal, mantendo a relação de causalidade com a conduta anterior. O agente responde normalmente pelo resultado. Causa Superveniente Relativamente Independente Rompe o nexo apenas quando, por si só, produz o resultado (Art. 13, § 1º, CP). Neste caso, o agente responde apenas pelos atos já praticados. Resultado Conceito O resultado é a modificação no mundo exterior provocada pela conduta do agente. No Direito Penal, pode ser entendido sob duas perspectivas: Resultado Naturalístico Modificação física no mundo exterior, perceptível pelos sentidos (ex: morte, lesão). Presente apenas nos crimes materiais. Resultado Jurídico ou Normativo Lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado pela norma penal. Presente em todos os crimes. Classificação dos Crimes quanto ao Resultado Crimes Materiais Exigem a produção do resultado naturalístico para a consumação (ex: homicídio). Crimes Formais A consumação ocorre com a prática da conduta, independentemente do resultado (ex: extorsão). Crimes de Mera Conduta Não exigem nem permitem resultado naturalístico (ex: porte ilegal de arma). Tipicidade: Conceito e Tipos Conceito A tipicidade é a adequação da conduta praticada pelo agente ao modelo abstrato previsto na lei penal (tipo legal). Tipicidade Formal Mera adequação da conduta à descrição do tipo penal, sem análise valorativa. Tipicidade Material Além da adequação formal, exige efetiva lesão ou perigo concreto ao bem jurídico protegido. Causas de Exclusão da Tipicidade Material Princípio da Insignificância: Conduta causa lesão mínima, inexpressiva ao bem jurídico Princípio da Adequação Social: Conduta socialmente aceita e tolerada Requisitos para aplicação do Princípio da Insignificância (STF) Mínima ofensividade da conduta Ausência de periculosidade social da ação Reduzido grau de reprovabilidade Inexpressividade da lesão jurídica Ilicitude ou Antijuridicidade A ilicitude é a relação de contrariedade entre a conduta praticada e o ordenamento jurídico como um todo. É o segundo elemento do crime na teoria tripartida. Conceito É a contrariedade da conduta à ordem jurídica. Uma conduta típica será ilícita quando não estiver acobertada por nenhuma causa de justificação (excludente de ilicitude). Características Unitária: O que é ilícito para um ramo do direito é ilícito para todos Objetiva: Não depende de elementos subjetivos do agente Normativa: Estabelecida por uma valoração jurídica negativa Excludentes de Ilicitude São circunstâncias que, quando presentes, tornam lícita uma conduta típica. Estão previstas no art. 23 do Código Penal: Estado de Necessidade Sacrifício de um bem jurídico para salvar outro em situação de perigo atual não provocado pelo agente (Art. 24, CP). Exemplo: Quebrar janela de casa em chamas para salvar pessoa. Legítima Defesa Reação proporcional a agressão injusta, atual ou iminente (Art. 25, CP). Exemplo: Ferir assaltante que ameaça com arma. Estrito Cumprimento do Dever Legal Conduta de funcionário público que atua no cumprimento de obrigação imposta por lei. Exemplo: Policial que prende alguém em flagrante. Exercício Regular de Direito Prática de conduta autorizada pelo ordenamento jurídico. Exemplo: Médico que realiza cirurgia com consentimento. Estado de Necessidade Conceito (Art. 24, CP) "Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se." Requisitos Perigo atual Perigo não provocado voluntariamente Inevitabilidade do comportamento lesivo Inexigibilidade de sacrifício do bem ameaçado Conhecimento da situação justificante Tipos de Estado de Necessidade Justificante (Art. 24, §1º) Quando o bem protegido é de valor superior ao sacrificado. Exclui o crime. Exculpante (Art. 24, §2º) Quando o bem protegido é de igual valor ao sacrificado. Pode haver redução de pena. Exemplo Prático Náufragos que disputam tábua de salvação insuficiente para todos: caso clássico de estado de necessidade exculpante. Legítima Defesa Conceito (Art. 25, CP) "Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem." Requisitos Agressão injusta (ilícita) Agressão atual ou iminente Defesa de direito próprio ou alheio Uso moderado dos meios necessários Conhecimento da situação justificante Modalidades de Legítima Defesa Legítima Defesa Própria Defesa de direito próprio (ex: vida, integridade física, patrimônio). Legítima Defesa de Terceiros Defesa de direito alheio (ex: intervir para impedir agressão a outra pessoa). Legítima Defesa Putativa Defesa contra agressão imaginária. É erro de tipo permissivo. Estrito Cumprimento do Dever Legal e Exercício Regular de Direito Estrito Cumprimento do Dever Legal Ocorre quando o agente pratica um fato típico no cumprimento de uma obrigação imposta por lei. Características: Aplicável principalmente a funcionários públicos Deve decorrer de imposição legal Os meios empregados devem ser necessários e proporcionais Exemplo: Policial que prende um indivíduo em flagrante delito, restringindo sua liberdade. Exercício Regular de Direito Ocorre quando o agente pratica um fato típico no exercício de uma faculdade jurídica, autorizada pelo ordenamento. Características: Aplica-se a qualquer pessoa Deve haver autorização no ordenamento jurídico Os meios devem ser moderados Exemplos: Médico que realiza cirurgia com consentimento, práticas esportivas que envolvem violência controlada (boxe, MMA). Excesso nas Excludentes de Ilicitude O excesso ocorre quando o agente, ao praticar uma conduta inicialmente acobertada por excludente de ilicitude, ultrapassa os limites da necessidade ou da moderação. Excesso Doloso O agente consciente e voluntariamente extrapola os limites da excludente. Responde pelo crime praticado com dolo. Exemplo: Continuar a agredir agressor já dominado e incapacitado. Excesso Culposo O agente excede os limites por imprudência, negligência ou imperícia. Responde pelo crime praticado com culpa, se previsto em lei. Exemplo: Atirar para defender-se e, por imperícia, acertar terceiro inocente. Excesso Exculpante O excesso ocorre por perturbação emocional em situação de extremo perigo. Pode haver isenção de pena (controvérsia doutrinária). Exemplo: Reação desproporcional por medo intenso durante um assalto. Culpabilidade A culpabilidade é o terceiro elemento do crime na teoria tripartida, representando o juízo de reprovação pessoal que recai sobre o agente que praticou um fato típico e ilícito. Conceito É a reprovabilidade da conduta típica e ilícita do agente. Representa um juízo de censura pessoal que recai sobre o autor do fato por ter agido de forma contrária ao direito quando podia ter agido conforme o direito. Evolução Histórica Teoria Psicológica: Culpabilidade como relação psíquica entre agente e fato (dolo e culpa) Teoria Psicológico-normativa: Acrescenta elemento normativo (exigibilidade de conduta diversa) Teoria Normativa Pura: Dolo e culpa migram para tipicidade, culpabilidade é puramente normativa Elementos da Culpabilidade Imputabilidade Penal Capacidade de entender o caráter ilícito do fato e de determinar-se de acordo com esse entendimento. Causas de inimputabilidade: Doença mental (art. 26, CP) Menoridadepenal (art. 27, CP) Embriaguez completa acidental (art. 28, §1º, CP) Potencial Consciência da Ilicitude Possibilidade de o agente conhecer o caráter ilícito de sua conduta. Excludente: Erro de proibição inevitável (art. 21, CP) Exigibilidade de Conduta Diversa Possibilidade de exigir do agente comportamento conforme o direito nas circunstâncias concretas. Excludentes: Coação moral irresistível (art. 22, CP) Obediência hierárquica (art. 22, CP) Imputabilidade Penal Conceito Imputabilidade é a capacidade de culpabilidade, ou seja, a capacidade de o agente entender o caráter ilícito do fato e de determinar-se de acordo com esse entendimento. Sistemas de Aferição Biológico: Considera apenas a condição mental ou etária Psicológico: Considera apenas a capacidade de compreensão Biopsicológico: Combina os dois critérios (adotado no Brasil) Causas de Inimputabilidade Doença mental (art. 26, caput): Desenvolvimento mental incompleto ou retardado, que retire a capacidade de entendimento ou autodeterminação Menoridade penal (art. 27): Menores de 18 anos são inimputáveis por presunção absoluta Embriaguez completa acidental (art. 28, §1º): Embriaguez por caso fortuito ou força maior que retire totalmente a capacidade de entendimento Semi-imputabilidade e Embriaguez Semi-imputabilidade (Art. 26, parágrafo único) Ocorre quando o agente, por perturbação mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, não possuía, ao tempo da ação ou omissão, plena capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se. Consequência: Redução de pena de 1/3 a 2/3 ou medida de segurança, a depender da necessidade de tratamento. Embriaguez e Imputabilidade (Art. 28) Embriaguez Voluntária ou Culposa Não exclui a imputabilidade (teoria da actio libera in causa) Embriaguez Preordenada Agravante genérica (art. 61, II, "l", CP) Embriaguez Acidental Completa Caso fortuito/força maior que retire totalmente a capacidade: exclui a imputabilidade Embriaguez Acidental Incompleta Caso fortuito/força maior que diminua a capacidade: redução de pena Potencial Consciência da Ilicitude e Erro de Proibição Potencial Consciência da Ilicitude É a possibilidade de o agente, nas circunstâncias concretas, conhecer o caráter ilícito de sua conduta. Não se exige conhecimento técnico- jurídico, mas sim a compreensão leiga da contrariedade ao direito. A excludente da potencial consciência da ilicitude é o erro de proibição inevitável. Erro de Proibição (Art. 21, CP) Ocorre quando o agente, por desconhecimento ou equívoco, acredita estar agindo licitamente quando, na verdade, sua conduta é ilícita. Erro de Proibição Inevitável: Exclui a culpabilidade (isenta de pena) Erro de Proibição Evitável: Atenua a culpabilidade (redução de pena) Diferença fundamental do erro de tipo: no erro de proibição, o agente sabe o que faz, mas acredita que é lícito. Exigibilidade de Conduta Diversa É a possibilidade de se exigir do agente que, nas circunstâncias concretas, aja conforme o direito. Existem situações em que, embora o agente seja imputável e tenha potencial consciência da ilicitude, não se pode exigir que ele se comporte de acordo com o ordenamento jurídico. Coação Moral Irresistível (Art. 22, 1ª parte) É a grave ameaça dirigida contra alguém para que pratique um crime. Para excluir a culpabilidade, deve ser: Irresistível (insuperável para o homem médio) Atual ou iminente Dirigida contra o agente ou pessoa próxima O coator responde pelo crime. O coagido é isento de pena. Obediência Hierárquica (Art. 22, 2ª parte) Ocorre quando um subordinado cumpre ordem ilegal não manifestamente ilegal de superior hierárquico. Requisitos: Relação de direito público Ordem não manifestamente ilegal Subordinado não exceder os limites da ordem O superior responde pelo crime. O subordinado é isento de pena. Concurso de Pessoas Conceito Concurso de pessoas (ou concurso de agentes) é a cooperação de dois ou mais agentes na prática de uma mesma infração penal. Está previsto nos artigos 29 a 31 do Código Penal. Teoria adotada no Brasil O Código Penal brasileiro adota a teoria monista ou unitária (art. 29): todos os que concorrem para o crime incidem nas penas a ele cominadas, na medida de sua culpabilidade. Exceções à teoria monista Casos de impunibilidade (art. 181, CP) Crimes próprios (art. 30, CP) Cooperação dolosamente distinta (art. 29, §2º, CP) Comunicabilidade das circunstâncias (art. 30, CP) Requisitos do Concurso de Pessoas Pluralidade de Agentes Exige-se a participação de duas ou mais pessoas na prática da infração penal. Não há concurso consigo mesmo. Relevância Causal das Condutas Todas as condutas devem contribuir efetivamente para o resultado criminoso, ainda que minimamente. Liame Subjetivo Deve haver vínculo psicológico entre os agentes (consciência de colaborar para a mesma infração penal). Não existe concurso de pessoas culposo. Identidade de Infração Penal Todos devem colaborar para a mesma infração penal, ainda que com diferentes modos de participação. Autoria e Participação Autoria É a realização direta da conduta típica. Autor é quem pratica o núcleo do tipo penal. Autoria Direta O agente executa pessoalmente a conduta típica. Coautoria Dois ou mais agentes executam conjuntamente a conduta típica. Autoria Mediata O agente usa outra pessoa como instrumento para praticar o crime. Participação É a colaboração para o crime sem praticar o núcleo do tipo. Caráter acessório: depende da existência de um autor principal. Modalidades de Participação Participação moral: Instigação (ideia de cometer o crime) ou induzimento (reforça ideia preexistente) Participação material: Auxílio ou cumplicidade (fornecimento de recursos materiais) Teoria do Domínio do Fato A teoria do domínio do fato é uma das principais teorias sobre autoria e participação. Embora não expressamente adotada pelo Código Penal brasileiro, é amplamente utilizada pela doutrina e jurisprudência para distinguir autores de partícipes. Conceito Segundo esta teoria, autor é quem tem o domínio final do fato, ou seja, quem decide sobre a execução, interrupção e circunstâncias do crime. O autor é o "senhor do fato", aquele que detém o poder de decisão sobre a realização do tipo penal. Formas de Domínio do Fato Domínio da ação: Na autoria direta (execução pessoal) Domínio da vontade: Na autoria mediata (uso de instrumento) Domínio funcional: Na coautoria (divisão de tarefas) A teoria do domínio do fato é especialmente útil nos casos em que o "homem de trás" (mandante) não executa diretamente o crime, mas detém o controle sobre sua realização. Punibilidade no Concurso de Pessoas Regra Geral (Art. 29, CP) "Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade." Embora adote a teoria monista (todos respondem pelo mesmo crime), o CP permite dosagem diferenciada da pena conforme a contribuição de cada agente. Participação de Menor Importância (Art. 29, §1º) "Se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de um sexto a um terço." Cooperação Dolosamente Distinta (Art. 29, §2º) "Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser- lhe-á aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até metade, na hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave." Comunicabilidade das Circunstâncias (Art. 30) Comunicam-se as circunstâncias objetivas (materiais), mesmo que os outros agentes não as conheçam. As circunstâncias subjetivas (pessoais) só se comunicam quando constituem elementares do crime. Desistência Voluntária e Arrependimento Eficaz Desistência Voluntária (Art. 15, 1ª parte) "O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execução ou impede que o resultado se produza, só responde pelos atos já praticados." Características Ocorre durante a execução do crime O agente interrompe voluntariamente a execução Não exigemotivação nobre ("voluntário b espontâneo") Fórmula de Frank: "Posso continuar, mas não quero." Arrependimento Eficaz (Art. 15, 2ª parte) O agente, após concluir todos os atos executórios, impede voluntariamente a produção do resultado. Características Ocorre após a execução completa O agente age positivamente para evitar o resultado Também não exige motivação nobre Exemplo: Ministrar antídoto após envenenar a vítima. Consequência Em ambos os casos, o agente responde apenas pelos atos já praticados que constituam crimes autônomos. Arrependimento Posterior Conceito (Art. 16, CP) "Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o dano ou restituída a coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do agente, a pena será reduzida de um a dois terços." Natureza Jurídica Causa de diminuição de pena (não exclui o crime nem a punibilidade) Requisitos Crime já consumado Ausência de violência ou grave ameaça à pessoa Reparação total do dano ou restituição da coisa Voluntariedade do agente Limite temporal: até o recebimento da denúncia ou queixa Exemplo Agente que comete furto e depois devolve o objeto furtado à vítima antes do recebimento da denúncia. Crime Consumado e Crime Tentado Crime Consumado (Art. 14, I) "Diz-se o crime consumado quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição legal." Caracteriza-se pela realização completa do tipo penal, com a produção de todos os seus elementos. O momento da consumação varia conforme o tipo de crime: Crimes materiais: produção do resultado Crimes formais: realização da conduta Crimes de mera conduta: prática da ação Crime Tentado (Art. 14, II) "Diz-se o crime tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente." Requisitos da Tentativa Início da execução (atos executórios) Não consumação do crime Circunstância alheia à vontade do agente Dolo de consumação (finalidade de consumar) Punição (Art. 14, parágrafo único) Pena do crime consumado, diminuída de 1/3 a 2/3, conforme o iter criminis percorrido. Iter Criminis (Caminho do Crime) Cogitação Fase interna, onde o agente idealiza o crime. Não é punível (cogitationis poenam nemo patitur). Exemplo: Pessoa que planeja mentalmente um roubo. Preparação Fase em que o agente reúne meios para executar o crime. Em regra, não é punível, salvo quando constitui crime autônomo. Exemplo: Comprar ferramentas para um arrombamento. Execução Início da realização do núcleo do tipo. Punível a título de tentativa quando não ocorre a consumação. Exemplo: Iniciar o arrombamento da porta. Consumação Realização de todos os elementos do tipo penal. Punível como crime consumado. Exemplo: Subtração completa do bem alheio. Exaurimento Fase posterior à consumação, com a obtenção da finalidade pretendida. Pode agravar a pena. Exemplo: Vender o bem furtado ou usufruir dele. Espécies de Tentativa Tentativa Imperfeita ou Inacabada O agente não realiza todos os atos executórios que pretendia, sendo interrompido por circunstâncias alheias à sua vontade. Exemplo: Ladrão que começa a arrombar porta, mas é surpreendido pela polícia. Tentativa Perfeita ou Acabada O agente realiza todos os atos executórios, mas o resultado não ocorre por circunstâncias alheias à sua vontade. Exemplo: Atirar contra a vítima, mas errar o alvo. Tentativa Branca ou Inadequada Os meios empregados são absolutamente ineficazes para produzir o resultado, mas o agente desconhece essa circunstância. Exemplo: Tentar envenenar alguém com substância inofensiva que o agente acredita ser tóxica. Crime Impossível Conceito (Art. 17, CP) "Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime." Fundamento A conduta não apresenta qualquer periculosidade objetiva, sendo impossível a produção do resultado. Espécies Ineficácia absoluta do meio: O instrumento utilizado é absolutamente incapaz de produzir o resultado Impropriedade absoluta do objeto: O objeto material sobre o qual recai a conduta é absolutamente inadequado Exemplos Tentar matar com arma desmuniciada (meio ineficaz) Tentar furtar cofre vazio (objeto impróprio) Tentar matar cadáver (objeto impróprio) Diferença para Tentativa Inidônea No crime impossível, a ineficácia ou impropriedade é absoluta, tornando impossível a consumação em qualquer circunstância. Na tentativa inidônea (punível), a ineficácia ou impropriedade é relativa, havendo possibilidade de consumação em outras circunstâncias. Crimes Contra a Pessoa Os crimes contra a pessoa estão previstos no Título I da Parte Especial do Código Penal (arts. 121 a 154). Protegem bens jurídicos fundamentais como a vida, a integridade física e a honra. Crimes Contra a Vida Homicídio, induzimento ao suicídio, infanticídio e aborto. São julgados pelo Tribunal do Júri, conforme determina a Constituição Federal (art. 5º, XXXVIII). Lesões Corporais Ofensa à integridade corporal ou à saúde de outrem. Classificadas em: leve, grave, gravíssima e seguida de morte. Periclitação da Vida e da Saúde Perigo de contágio, abandono de incapaz, omissão de socorro, maus-tratos. Punem a exposição a perigo de bem jurídico alheio. Crimes Contra a Honra Calúnia, difamação e injúria. Protegem a honra objetiva (reputação) e subjetiva (dignidade e decoro). Homicídio (Art. 121, CP) Conceito Homicídio é a conduta de matar alguém. É o crime mais grave contra a pessoa, pois atinge o bem jurídico mais valioso: a vida humana. Elementos do Tipo Sujeito ativo: Qualquer pessoa (crime comum) Sujeito passivo: Qualquer pessoa viva (crime comum) Elemento objetivo: Conduta de matar alguém Elemento subjetivo: Dolo (direto ou eventual) ou culpa (nos parágrafos 3º e 4º) Consumação e Tentativa Consuma-se com a morte da vítima. Admite tentativa quando, iniciada a execução, o resultado morte não ocorre por circunstâncias alheias à vontade do agente. Modalidades de Homicídio Homicídio Simples (Art. 121, caput) Forma básica, sem circunstâncias qualificadoras ou privilegiadoras. Pena: reclusão de 6 a 20 anos. Homicídio Privilegiado (Art. 121, §1º) Cometido por motivo de relevante valor social/moral ou sob domínio de violenta emoção. Causa de diminuição de pena (1/6 a 1/3). Homicídio Qualificado (Art. 121, §2º) Cometido com circunstâncias que denotam maior reprovabilidade. Pena: reclusão de 12 a 30 anos. Crime hediondo (Lei 8.072/90). Homicídio Culposo (Art. 121, §3º) Causado por imprudência, negligência ou imperícia. Pena: detenção de 1 a 3 anos. Qualificadoras do Homicídio (Art. 121, §2º) Motivo (incisos I e II) Mediante paga ou promessa de recompensa (homicídio mercenário) Motivo torpe (repugnante, ignóbil) Motivo fútil (desproporcional, insignificante) Meio (inciso III) Emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel Recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido Finalidade (inciso IV) Para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime Outras (incisos V, VI, VII) Feminicídio (contra mulher por razões da condição de sexo feminino) Contra autoridade ou agente (por sua função) Contra agente de segurança pública ou familiar Lesão Corporal (Art. 129, CP) Conceito Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem. Pode ser física ou mental. Modalidades Lesão Corporal Leve (caput) Forma básica. Pena: detenção de 3 meses a 1 ano. Lesão Grave (§1º) Incapacidade por mais de 30 dias, perigo de vida, debilidade permanente de membro, sentido ou função, aceleração de parto. Pena: reclusão de 1 a 5 anos. Lesão Gravíssima (§2º) Incapacidade permanente para o trabalho, enfermidade incurável, perda/inutilização de membro, sentido ou função, deformidade permanente, aborto. Pena: reclusão de 2 a 8 anos. Lesão Seguida de Morte (§3º) Resultado morte para o qual o agente não quis nem assumiu o risco (preterdolo).Pena: reclusão de 4 a 12 anos. Lesão Corporal Culposa (§6º) Causada por imprudência, negligência ou imperícia. Pena: detenção de 2 meses a 1 ano. Periclitação da Vida e da Saúde São crimes que punem a conduta de expor a perigo a vida ou a saúde de outrem, independentemente de ocorrer um dano efetivo. Perigo de Contágio (Arts. 130-132) Exposição de alguém a contágio de moléstia grave. Inclui doenças venéreas e doenças em geral. Abandono de Incapaz (Art. 133) Abandonar pessoa que está sob seu cuidado, guarda, vigilância ou autoridade, não podendo defender-se dos riscos. Omissão de Socorro (Art. 135) Deixar de prestar assistência à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo. Maus-tratos (Art. 136) Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade, guarda ou vigilância, privando-a de alimentação ou cuidados, sujeitando-a a trabalho excessivo ou inadequado, ou abusando de meios de correção ou disciplina. Crimes Contra a Honra Os crimes contra a honra protegem a reputação, dignidade e decoro das pessoas. Estão previstos nos artigos 138 a 145 do Código Penal. Calúnia (Art. 138) Imputar falsamente a alguém fato definido como crime. Pena: detenção de 6 meses a 2 anos e multa. Exemplo: "João roubou dinheiro da empresa." Difamação (Art. 139) Imputar a alguém fato ofensivo à sua reputação (não precisa ser crime nem falso). Pena: detenção de 3 meses a 1 ano e multa. Exemplo: "Maria traiu o marido várias vezes." Injúria (Art. 140) Ofender a dignidade ou o decoro de alguém (atributos pessoais negativos). Pena: detenção de 1 a 6 meses ou multa. Exemplo: "Você é um incompetente!" Características dos Crimes Contra a Honra Aspectos Comuns Ação penal privada (regra geral) Admitem exceção da verdade (com restrições) Retratação possível antes da sentença (art. 143) Não constituem crime se o agente faz crítica literária, artística ou científica (art. 142, I) Diferenças Principais Crime Honra Conteú do Calúnia Objetiva Fato criminos o falso Difamaç ão Objetiva Fato ofensivo (não crime) Injúria Subjetiv a Qualidad e negativa Exceção da Verdade Possibilidade de o agente provar a veracidade do fato imputado, evitando a condenação. Calúnia: Sempre admitida, exceto se o ofendido foi absolvido por sentença penal irrecorrível Difamação: Admitida apenas se o ofendido é funcionário público e o fato é relativo às funções Injúria: Não admitida (o fato ser verdadeiro não afasta a ofensa) Injúria Real Modalidade qualificada (art. 140, §2º) quando a injúria consiste em violência ou vias de fato (ex: tapa no rosto). Pena aumentada em 1/3. Injúria Preconceituosa Modalidade qualificada (art. 140, §3º) quando a injúria utiliza elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem, condição de pessoa idosa ou com deficiência. Crimes Contra o Patrimônio Os crimes contra o patrimônio estão previstos no Título II da Parte Especial do Código Penal (arts. 155 a 183). Protegem bens jurídicos de valor econômico. Crimes de Subtração O agente retira a coisa da esfera de vigilância da vítima. Exemplos: furto (art. 155) e roubo (art. 157). Crimes de Fraude O agente usa meios ardilosos para obter vantagem ilícita. Exemplos: estelionato (art. 171) e fraude eletrônica (art. 171-A). Crimes de Violência/Ameaça O agente emprega violência ou grave ameaça para obter vantagem. Exemplos: extorsão (art. 158) e extorsão mediante sequestro (art. 159). Crimes de Dano O agente destrói, inutiliza ou deteriora coisa alheia. Exemplos: dano (art. 163) e dano qualificado (art. 163, parágrafo único). Furto (Art. 155, CP) Conceito "Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel." Elementos do Tipo Conduta: Subtrair (retirar, tirar) Objeto: Coisa alheia móvel (com valor econômico) Elemento subjetivo: Dolo + especial fim de agir (para si ou para outrem) Consumação e Tentativa Consuma-se quando a coisa sai da esfera de vigilância da vítima (teoria da amotio ou apprehensio). Admite tentativa quando, iniciada a execução, a subtração não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente. Furto Simples (caput) Forma básica. Pena: reclusão de 1 a 4 anos e multa. Furto Qualificado (§4º) Destruição/rompimento de obstáculo Abuso de confiança/fraude Escalada/destreza Emprego de chave falsa Concurso de pessoas Pena: reclusão de 2 a 8 anos e multa. Furto Privilegiado (§2º) Agente primário, coisa de pequeno valor. Pena: redução de 1/3 a 2/3, substituição por multa ou aplicação somente de multa. Roubo (Art. 157, CP) Conceito "Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência à pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência." Elementos do Tipo Conduta: Subtrair mediante grave ameaça ou violência Objeto: Coisa alheia móvel Meio de execução: Grave ameaça, violência ou redução à impossibilidade de resistência Elemento subjetivo: Dolo + especial fim de agir É crime complexo: fusão de furto + constrangimento ilegal/lesão corporal. Modalidades Roubo próprio: Violência usada para subtrair a coisa Roubo impróprio: Violência usada após a subtração, para assegurar a posse da coisa ou a impunidade Roubo Majorado (§2º) Circunstâncias que aumentam a pena de 1/3 até metade: Emprego de arma Concurso de pessoas Restrição da liberdade da vítima Transporte de valores Veículo automotor com destino a outro estado Substância que cause dependência Extorsão e Extorsão Mediante Sequestro Extorsão (Art. 158) Conceito: "Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar de fazer alguma coisa." Diferenças do roubo: No roubo, o agente subtrai; na extorsão, a vítima entrega No roubo, o objeto é coisa móvel; na extorsão, é qualquer vantagem econômica Na extorsão, a vítima pratica, tolera ou omite ato Pena: reclusão de 4 a 10 anos e multa. Extorsão Mediante Sequestro (Art. 159) Conceito: "Sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate." É crime hediondo (Lei 8.072/90). Pena: reclusão de 8 a 15 anos e multa. Formas qualificadas Se o sequestro dura mais de 24 horas Se o sequestrado é menor de 18 anos Se resulta em lesão corporal grave Se resulta em morte (pena: 24 a 30 anos) Causa de diminuição: delação eficaz (§4º) - redução de 1/3 a 2/3 da pena. Estelionato e Apropriação Indébita Estelionato (Art. 171) Conceito: "Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento." Elementos: Obtenção de vantagem ilícita Prejuízo alheio Meio fraudulento (engano da vítima) Consumação: quando o agente obtém a vantagem ilícita. Pena: reclusão de 1 a 5 anos e multa. Apropriação Indébita (Art. 168) Conceito: "Apropriar-se de coisa alheia móvel, de que tem a posse ou a detenção." Elementos: Apropriação (inversão do título da posse) Coisa alheia móvel Posse ou detenção lícita prévia Diferença do furto: na apropriação indébita, o agente já tem a posse lícita da coisa. Pena: reclusão de 1 a 4 anos e multa. Formas qualificadas: em razão de ofício, emprego ou profissão (§1º), ou contra idoso (§3º). Dano e Receptação Dano (Art. 163) Conceito: "Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia." Elementos: Destruir (acabar, demolir) Inutilizar (tornar imprestável) Deteriorar (danificar, estragar) Coisa alheia (móvel ou imóvel) Pena: detenção de 1 a 6 meses ou multa. Dano qualificado (parágrafo único): Violência ou grave ameaça Emprego de substância inflamável ou explosiva Contra patrimônio público Motivo egoístico ou prejuízo considerável Receptação (Art. 180) Conceito: "Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que sabeser produto de crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte." Elementos: Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar Coisa produto de crime Ciência da origem ilícita Modalidades: Própria: Para proveito próprio ou alheio Imprópria: Influir para que terceiro de boa-fé receba Pena: reclusão de 1 a 4 anos e multa. Crimes Contra a Administração Pública Os crimes contra a Administração Pública estão previstos no Título XI da Parte Especial do Código Penal (arts. 312 a 359). Protegem o regular funcionamento, a probidade e o prestígio da Administração Pública. Divisão Crimes Praticados por Funcionário Público Exigem a qualidade de funcionário público do sujeito ativo (crimes próprios). Exemplos: peculato, concussão, corrupção passiva, prevaricação. Crimes Praticados por Particular Podem ser praticados por qualquer pessoa (crimes comuns). Exemplos: corrupção ativa, contrabando, desacato, desobediência. Crimes Contra a Administração da Justiça Atingem especificamente o funcionamento da Justiça. Exemplos: denunciação caluniosa, falso testemunho, favorecimento. Peculato e Concussão Peculato (Art. 312) Conceito: "Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio." Modalidades: Peculato-apropriação: Funcionário se apropria do bem Peculato-desvio: Funcionário dá destinação diversa ao bem Peculato-furto (§1º): Funcionário subtrai bem de que não tem posse Peculato culposo (§2º): Negligência permite que outrem subtraia Pena: reclusão de 2 a 12 anos e multa. Concussão (Art. 316) Conceito: "Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida." Elementos: Conduta de exigir (impor, ordenar) Vantagem indevida (geralmente econômica) Em razão da função pública Diferença da corrupção passiva: na concussão, o funcionário exige; na corrupção passiva, solicita ou aceita. Diferença da extorsão: na concussão, a exigência é em razão da função; na extorsão, há violência ou grave ameaça. Pena: reclusão de 2 a 12 anos e multa. Corrupção Ativa e Passiva Corrupção Passiva (Art. 317) Conceito: "Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem." Elementos: Solicitar, receber ou aceitar promessa Vantagem indevida Em razão da função pública Sujeito ativo: funcionário público (crime próprio) Pena: reclusão de 2 a 12 anos e multa. Forma qualificada (§1º): se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato de ofício em razão da vantagem (pena aumentada de 1/3). Corrupção Ativa (Art. 333) Conceito: "Oferecer ou prometer vantagem indevida a funcionário público, para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício." Elementos: Oferecer ou prometer Vantagem indevida Para determinação de ato de ofício Sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum) Pena: reclusão de 2 a 12 anos e multa. Causa de aumento (parágrafo único): se, em razão da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou omite ato de ofício, ou o pratica infringindo dever funcional (pena aumentada de 1/3). Prevaricação, Advocacia Administrativa e Outros Crimes Prevaricação (Art. 319) "Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal." Elemento subjetivo específico: satisfazer interesse ou sentimento pessoal. Pena: detenção de 3 meses a 1 ano e multa. Advocacia Administrativa (Art. 321) "Patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a Administração Pública, valendo-se da qualidade de funcionário." Consiste em defender interesse particular junto à Administração usando-se da condição de funcionário. Pena: detenção de 1 a 3 meses ou multa. Resistência (Art. 329) "Opor-se à execução de ato legal, mediante violência ou ameaça a funcionário competente para executá-lo ou a quem lhe esteja prestando auxílio." Protege a execução de atos legais da Administração. Pena: detenção de 2 meses a 2 anos. Desacato (Art. 331) "Desacatar funcionário público no exercício da função ou em razão dela." Tutela a dignidade, o prestígio e o respeito devidos à função pública. Pena: detenção de 6 meses a 2 anos ou multa. Desobediência e Falsidade Documental Desobediência (Art. 330) Conceito: "Desobedecer a ordem legal de funcionário público." Elementos: Ordem legal e direta de funcionário público Competência do funcionário para expedir a ordem Conhecimento da ordem pelo destinatário Não cumprimento deliberado Diferença da resistência: na desobediência, não há violência ou ameaça. Pena: detenção de 15 dias a 6 meses e multa. Falsidade Documental (Arts. 297-304) Falsificação de Documento Público (Art. 297) Falsificar, no todo ou em parte, documento público ou alterar documento público verdadeiro. Falsidade Ideológica (Art. 299) Omitir ou inserir declaração falsa em documento público ou particular. Uso de Documento Falso (Art. 304) Fazer uso de qualquer documento falsificado ou alterado.