Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Compliance e ética na administração pública A palavra COMPLIANCE tem origem no verbo em inglês to comply, que significa agir em conformidade com uma regra, normativa, lei, pedido ou um comando. No âmbito do setor público ou privado, compliance é o conjunto de princípios que visam o cumprimento de todas as normas legais e regulamentares, as políticas e as diretrizes estabelecidas para a execução das atividades da instituição ou da empresa, bem como, evitar, detectar e tratar quaisquer desvios ou inconformidades que possam ocorrer no desenvolvimento das atividades. A principal função do Compliance, seria então, a de garantir que as organizações atinjam seus principais objetivos e funções (econômicas, sociais e ambientais), mantendo intactas a sua imagem e confiabilidade, garantindo a sua continuidade com honra e dignidade. A primeira ideia sobre um programa de Compliance surgiu no século XX, nos Estados Unidos quando as agências reguladoras começaram a emergir como forma de regulamentar determinadas atividades relacionadas, principalmente com a saúde alimentar e ao comércio de medicamentos. Contudo, o tema compliance teve avanço quando relacionado a temas referentes as instituições financeiras, tanto que em 1913 foi criado o Federal Reserve System (Sistema de Reserva Federal) que tinha como objetivo a criação de um sistema financeiro mais estável, seguro e adequado as normas e leis. Já em 1977, foi promulgado, nos Estados Unidos, o FCPA (Foreign Corrupt Pratices Act), a Lei Anti-Corrupção Americana, destinada a criar sanções cíveis, administrativas e penais no combate a corrupção comercial internacional. Esta lei, se aplica a pessoas e empresas americanas que utilizem de corrupção no poder público estrangeiro para obter ou reter transações 2 Capítulo comerciais internacionais. Estabelece ainda, um sistema adequado e transparente de controles internos. Como podemos perceber, o termo compliance nos Estados Unidos não é novo. Já no Brasil o termo é recente, e ainda pode causar estranheza quando associado a Administração Pública tendo em vista sua origem e aplicação na área privada, como empresas multinacionais. Porem, é necessário compreender que o Poder Público não só deve se submeter à legislação, como deve dar o exemplo de boa-fé, bons princípios e boa governança. A corrupção vem atormentando o mundo moderno, em especial o Brasil. Esse cenário causa a necessidade de uma mudança comportamental por parte das organizações sejam elas públicas ou privadas. Nesse sentido nasceram no Brasil algumas normas antisubornos e anticorrupção, que visam evitar, detectar e sanar qualquer tipo de desvio, seja um ato ilícito, uma fraude ou simplesmente irregularidades administrativas. Como exemplos dessas normas que foram criadas no Brasil sobre essa temática, podemos citar: Código de Ética do Servidor Público Civil do Poder Executivo Federal (Decreto 1.171 de 22 de junho de 1994); Lei de Responsabilidade Fiscal (Lei Complementar 101, de 04 de maio de 2000); Programa Nacional de Gestão Pública e Desburocratização (GesPública) instituído pelo Decreto nº. 5.378 de 23 de fevereiro de 2005; Lei nº. 12.527, de 18 de novembro de 2011, chamada Lei de Acesso a Informação; Lei nº. 12.813, de 16 de maio de 2013, chamada de Lei de Conflito de Interesses no exercício de cargo ou emprego do Poder Público Executivo Federal; Lei nº. 12.846, de 1º. de agosto de 2013, intitulada Lei Anticorrupção, com seu respectivo Decreto 8.793 de 29 de junho de 2016 que institui a Política Nacional de Inteligência e a recente Instrução Normativa nº. 5 de 24 de junho de 2019. Vale destacar que a lista apresentada não é tudo, pois existem outros dispositivos, inclusive nos âmbitos Estaduais e Municipais que compõem o ordenamento pertinente ao tema. Para o setor público aderir ao um programa de Compliance é, antes de mais nada, um grande desafio, tendo em vista a necessidade de se adotar estratégias para mudanças no ambiente regulatório, de modo a evitar riscos que podem resultar desse processo e de suas possíveis punições. Outra questão que deve ser levantada é: apenas cumprir as normas/leis de Compliance é suficiente no setor público? Ou será que é preciso conciliar 3 DESTAQUE: Accountability é um termo inglês que pode ser traduzido para o português como responsabilidade com ética e remete a obrigação, a transparência de um órgão administrativo ou representativo de prestar contas a instâncias controladoras ou seus representados. Então, dizemos que o mecanismo Accountability é formado por duas práticas: 1) Promover transparência, responsabilidade e prestação de contas; e, 2) Assegurar a efetiva atuação dos controles e auditorias. esforços para o sucesso na execução das políticas públicas, dos bons resultados e do aprimoramento na qualidade de vida do cidadão? Nesse contexto a cultura Compliance deve ir muito além do que apenas atender a exigências normativas, da legalidade estrita, ao contrário deve ser constituída também com o princípio constitucional da “eficiência”, agregando vários valores éticos e princípios morais, que tenham por objetivo não apenas facilitar o cumprimento da lei, mas fomentar valores aos servidores públicos, dentro de uma ideia de busca por melhores resultados. Portanto, adotar uma postura de compliance apenas para criação de mais controles do cumprimento legal, engessaria ainda mais a administração pública e poderia não ser suficiente para melhorar a eficiência da ação do Estado, mas que seja associada com garantias sobre a eficiência do poder público, agregando cada vez mais a Accountabillity ou prestação de contas e a transparência. O ideal seria uma relação de equilíbrio entre os valores de compliance e accontabillity, uma vez que entendemos que uma cultura de compliance muito importante, porém sem a prestação de contas, que demonstra se os recursos foram bem aplicados com eficiência e eficácia, a gestão não terá êxito, assim como a economia não se desenvolverá e o cidadão não terá resultados satisfatórios no atendimento de suas demandas. Vale saber que no Brasil, a AGU cumpre um importante papel e é a responsável pela expedição de orientações e pela determinação de ações alinhadas com o aumento da transparência, a gestão adequada de recursos, a adoção de mecanismos de punição de agentes públicos, com o objetivo de proteger as administrações públicas contra riscos de corrupção e garantir a prestação de serviços com qualidade à sociedade. 4 LINK: Compliance precisa se tornar um instrumento de gestão na Administração Pública. https://www.cgu.gov.br/noticias/2018/05/entrevista-201ccompliance- precisa-se-tornar-um-instrumento-de-gestao-na-administracao-publica Como pudemos perceber, o termo Compliance tem a ver com Ética, e por extensão, Ética no serviço público. Segundo o dicionário da língua portuguesa, ética deriva do grego e nos demonstra a ideia de conformidade com os costumes, significa: “Parte da Filosofia que estuda os valores morais e princípios da conduta humana; conjunto de princípios morais que devem ser respeitados no exercício de uma profissão”. Como conceito a ética é o ramo da filosofia que tem por objetivo refletir sobre a essência dos princípios, valores e problemas fundamentais da moral, tais como a finalidade e o sentido da vida humana, a natureza do bem e do mal, os fundamentos da obrigação e do dever, tendo como base as normas 5 SAIBA MAIS: Saiba mais sobre Accountability na Admininistração Pública https://revista.tcu.gov.br › ojs › index.php › RTCU › article › view Artigo: Accountability no Setor Público: uma reflexão sobre transparência governamental no combate à corrupção https://www.cgu.gov.br/noticias/2018/05/entrevista-201ccompliance-precisa-se-tornar-um-instrumento-de-gestao-na-administracao-publicahttps://www.cgu.gov.br/noticias/2018/05/entrevista-201ccompliance-precisa-se-tornar-um-instrumento-de-gestao-na-administracao-publica consideradas universalmente válidas e que norteiam o comportamento humano. Ainda podemos entender a ética como o conjunto de princípios, valores e normas morais e de conduta de um indivíduo, de um grupo social ou de uma sociedade. Para Vazques (2005), ética é compreendida como teoria, investigação ou aplicação de um tipo de experiência humana ou forma de comportamento dos homens e possui como função fundamental estudar a essência do comportamento moral e é diferente da moral, propriamente dita. A ética pública está associada aos princípios fundamentais elencados na Constituição Federal de 1988, em seu art. 37 que prevê: “A Administração Pública direta e indireta de qualquer dos poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência (...)” Quanto aos citados princípios constitucionais, podemos entender de acordo com Meirelles (1996): Legalidade – A legalidade, como princípio da administração, significa que o administrador público está, em toda a sua atividade funcional, sujeito aos mandamentos da lei e às exigências do bem comum, e deles não se pode afastar ou desviar, sob pena de praticar ato inválido e expor-se a responsabilidade disciplinar, civil e criminal, conforme o caso. Impessoalidade – O princípio da impessoalidade, (...), nada mais é que o clássico princípio da finalidade, o qual impõe ao administrador público que só pratique o ato para o seu fim legal. E o fim legal é unicamente aquele que a norma de Direito indica expressa ou virtualmente como objetivo do ato, de forma impessoal. Esse princípio também deve ser entendido para excluir a promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos sobre suas realizações administrativas. 6 Moralidade – A moralidade administrativa constitui, pressuposto de validade de todo ato da Administração Pública (...), está estritamente ligado à conduta do administrador público, o qual em suas ações, deve sempre respeitar os bons costumes, a ética, moralidade e estrita legalidade” . Publicidade – Publicidade é a divulgação oficial do ato para conhecimento público e início de seus efeitos externos. (...) O princípio da publicidade dos atos e contratos administrativos, além de assegurar seus efeitos externos, visa a propiciar seu conhecimento e controle pelos interessados diretos e pelo povo em geral, através dos meios constitucionais. Eficiência – O princípio da eficiência exige que a atividade administrativa seja exercida com presteza, perfeição e rendimento funcional. É o mais moderno princípio da função administrativa, que já não se contenta em ser desempenhada apenas com legalidade, exigindo resultados positivos para o serviço público e satisfatório atendimento das necessidades da comunidade e de seus membros. Verificados os princípios constitucionais, podemos dizer que a ética está relacionada diretamente ao comportamento dos indivíduos, dos profissionais, gestores e também dos políticos que elaboram e fazem cumprir as Leis que orientam os comportamentos frente as necessidades em relação ao meio social, entretanto, não é possível para a lei ditar sobre os padrões de comportamento, e é ai que entra um outro ponto importante que é cultura, pois dependendo da época e da região, existem coisas que são éticas e há coisas que são antiéticas. Nós não nascemos absolutamente prontos e aptos para viver em sociedade. Ao contrário, precisamos de cuidados, ensinamentos, orientações, ou seja, só nos tornamos de fato humanos na medida em que convivemos e aprendemos com outras pessoas e outras culturas. Por meio desse aprendizado de vida em sociedade formamos nossas personalidades e valores, passamos a compartilhar e participar de um mundo cultural, com várias referências entre as quais, as éticas. 7 Todas as culturas humanas criaram modos de viver em coletividade, de se organizar politicamente, de se relacionar com o meio ambiente, de trabalhar, produzir e dividir riquezas. Todos os povos desenvolveram linguagens, manifestações artísticas e religiosas, valores morais, vestiários e moradias. Desse modo, essa pluralidade cultural indica, um acumulo de experiências humanas que constituem o patrimônio de todos nós. Nesse contexto a ética se modifica de acordo com o tempo, a época e a sociedade. Como exemplifica o Filósofo Mário Sérgio Cortela, quando diz que “há 150 anos, na Bahia, amarrar um ser humano no ”pau de arara” e chicoteá- lo era considerado um ato moralmente aceitável; assim como, até trinta anos, assassinar uma mulher em nome da defesa da honra, no caso de uma traição. Logo, a ética é como teorizamos a nossa conduta, enquanto a moral é como praticamos essa conduta. A moral é a prática e a prática se altera com o passar do tempo. Sobre práticas, frequentemente constatamos a opinião pública desabonar o comportamento ético do serviço público, ou do servidor público. As críticas feitas pela sociedade, assim como todo senso comum é imediatista e baseada em uma visão superficial da realidade, que entre outras coisas, trabalha com as “generalizações” colocando no mesmo patamar, servidores, gerentes e políticos. De fato, sabemos que essa é uma realidade complexa e que precisa ser analisada com cautela e visão histórica, cada situação deve ser tratada separadamente, dentro de seu contexto e não de forma simplista e apressada. Na década de 1990, com o primeiro impeachment de um Presidente da República, houve uma fase péssima para a imagem do funcionalismo público diante da sociedade, frente a isso, o então presidente 8 Itamar Franco, tomou a iniciativa de tentar mudar a visão da população em relação a administração pública. Assim, constituiu uma comissão para elaboração de uma proposta de código de ética para o funcionalismo público executivo. Dessa forma, o Código de Ética Profissional do Servidor Público Civil do Poder Executivo Federal, aprovado pelo Decreto nº. 1.171 de 22 de junho de 1994, enumera uma série de regras pertinentes ao conjunto de princípios éticos, voltados à observância dos princípios constitucionais: I – A dignidade, o decoro, o zelo, a eficácia e a consciência dos princípios morais são primados maiores que devem nortear o servidor público, seja no exercício do cargo ou função, ou fora dele, já que refletirá o exercício da vocação do próprio poder estatal. Seus atos, comportamentos e atitudes serão direcionados para a preservação da honra e da tradição dos serviços públicos. II – O servidor público não poderá jamais desprezar o elemento ético de sua conduta. Assim, não terá que decidir somente entre o legal e o ilegal, o justo e o injusto, o conveniente e o inconveniente, o oportuno e o inoportuno, mas principalmente entre o honesto e o desonesto, consoante as regras contidas no art 37, caput, e § 4º da Constituição Federal. III – A moralidade da Administração Pública não se limita à distinção entre o bem e o mal, devendo ser acrescida da ideia de que o fim é sempre o bem comum. O equilíbrio entre a legalidade e a finalidade, na conduta do servidor público, é que poderá consolidar a moralidade do ato administrativo. IV - A remuneração do servidor público é custeada pelos tributos pagos direta ou indiretamente por todos, até por ele próprio, e por isso se exige, como contrapartida, que a moralidade administrativa se integre no Direito, como elemento indissociável de sua aplicação e de sua finalidade, erigindo-se, como consequência, em fator de legalidade. V – O trabalho desenvolvido pelo servidor público perante a comunidade deve ser entendido como acréscimo ao seu próprio bem-estar, já que, como cidadão, integrante da sociedade, o êxitodesse trabalho pode ser considerado como seu maior patrimônio. VI – A função pública deve ser tida como exercício profissional e, portanto, se integra na vida particular de cada servidor público. Assim, os fatos e atos verificados na conduta do dia-a-dia em sua vida privada poderão acrescer ou diminuir o seu bom conceito na vida funcional. VII – Salvo os casos de segurança nacional, investigações policiais ou interesse superior do Estado e da Administração Pública, a serem preservados em processo previamente declarado sigiloso, nos termos da lei, a publicidade de qualquer ato administrativo constitui requisito de eficácia e moralidade, 9 ensejando sua omissão comprometimento ético contra o bem comum, imputável a quem a negar. VIII – Toda pessoa tem direito à verdade. O servidor não pode omiti-la ou falseá-la, ainda que contrária aos interesses da própria pessoa interessada ou da Administração Pública. Nenhum Estado pode crescer ou estabilizar-se sobre o poder corruptivo do hábito do erro, da opressão ou da mentira, que sempre aniquilam até mesmo a dignidade humana quanto mais a de uma Nação. IX – A cortesia, a boa vontade, o cuidado e o tempo dedicados ao serviço público caracterizam o esforço pela disciplina. Tratar mal uma pessoa que paga seus tributos direta ou indiretamente significa causar-lhe dano moral. Da mesma forma, causar dano a qualquer bem pertencente ao patrimônio público, deteriorando-o, por descuido ou má vontade, não constitui apenas uma ofensa ao equipamento e às instalações ou ao Estado, mas a todos os homens de boa vontade que dedicaram sua inteligência, seu tempo, suas esperanças e seus esforços para construí-los. X – Deixar o servidor público qualquer pessoa à espera de solução que compete ao setor em que exerça suas funções, permitindo a formação de longas filas, ou qualquer outra espécie de atraso na prestação do serviço, não caracteriza apenas atitude contra a ética ou ato de desumanidade, mas principalmente grave dano moral aos usuários dos serviços públicos. XI – O servidor deve prestar toda a sua atenção às ordens legais de seus superiores, velando atentamente por seu cumprimento, e, assim, evitando a conduta negligente. Os repetidos erros, o descaso e o acúmulo de desvios tornam-se, às vezes, difíceis de corrigir e caracterizam até mesmo imprudência no desempenho da função pública. XII – Toda ausência injustificada do servidor de seu local de trabalho é fator de desmoralização do serviço público, o que quase sempre conduz à desordem nas relações humanas. XIII – O servidor que trabalha em harmonia com a estrutura organizacional, respeitando seus colegas e cada concidadão, colabora e de todos pode receber colaboração, pois sua atividade pública é a grande oportunidade para o crescimento e o engrandecimento da Nação. O código, também enumera os deveres fundamentais do servidor público, tais como assiduidade, razoabilidade, zelo, dedicação, presteza, entre outros a saber: a) desempenhar, a tempo, as atribuições do cargo, função ou emprego público de que seja titular; b) exercer suas atribuições com rapidez, perfeição e rendimento, pondo fim ou procurando prioritariamente resolver situações procrastinatórias, principalmente diante de filas ou de qualquer outra espécie de atraso na 10 prestação dos serviços pelo setor em que exerça suas atribuições, com o fim de evitar dano moral ao usuário; c) ser probo, reto, leal e justo, demonstrando toda a integridade do seu caráter, escolhendo sempre, quando estiver diante de duas opções, a melhor e a mais vantajosa para o bem comum; d) jamais retardar qualquer prestação de contas, condição essencial da gestão dos bens, direitos e serviços da coletividade a seu cargo; e) tratar cuidadosamente os usuários dos serviços aperfeiçoando o processo de comunicação e contato com o público; f) ter consciência de que seu trabalho é regido por princípios éticos que se materializam na adequada prestação dos serviços públicos; g) ser cortês, ter urbanidade, disponibilidade e atenção, respeitando a capacidade e as limitações individuais de todos os usuários do serviço público, sem qualquer espécie de preconceito ou distinção de raça, sexo, nacionalidade, cor, idade, religião, cunho político e posição social, abstendo-se, dessa forma, de causar-lhes dano moral; h) ter respeito à hierarquia, porém sem nenhum temor de representar contra qualquer comprometimento indevido da estrutura em que se funda o Poder Estatal; i) resistir a todas as pressões de superiores hierárquicos, de contratantes, interessados e outros que visem obter quaisquer favores, benesses ou vantagens indevidas em decorrência de ações imorais, ilegais ou aéticas e denunciá-las; j) zelar, no exercício do direito de greve, pelas exigências específicas da defesa da vida e da segurança coletiva; l) ser assíduo e frequente ao serviço, na certeza de que sua ausência provoca danos ao trabalho ordenado, refletindo negativamente em todo o sistema; m) comunicar imediatamente a seus superiores todo e qualquer ato ou fato contrário ao interesse público, exigindo as providências cabíveis; n) manter limpo e em perfeita ordem o local de trabalho, seguindo os métodos mais adequados à sua organização e distribuição; o) participar dos movimentos e estudos que se relacionem com a melhoria do exercício de suas funções, tendo por escopo a realização do bem comum; p) apresentar-se ao trabalho com vestimentas adequadas ao exercício da função; 11 q) manter-se atualizado com as instruções, as normas de serviço e a legislação pertinentes ao órgão onde exerce suas funções; r) cumprir, de acordo com as normas do serviço e as instruções superiores, as tarefas de seu cargo ou função, tanto quanto possível, com critério, segurança e rapidez, mantendo tudo sempre em boa ordem. s) facilitar a fiscalização de todos atos ou serviços por quem de direito; t) exercer com estrita moderação as prerrogativas funcionais que lhe sejam atribuídas, abstendo-se de fazê-lo contrariamente aos legítimos interesses dos usuários do serviço público e dos jurisdicionados administrativos; u) abster-se, de forma absoluta, de exercer sua função, poder ou autoridade com finalidade estranha ao interesse público, mesmo que observando as formalidades legais e não cometendo qualquer violação expressa à lei; v) divulgar e informar a todos os integrantes da sua classe sobre a existência deste Código de Ética, estimulando o seu integral cumprimento. Trata, também das vedações ao servidor público: a) o uso do cargo ou função, facilidades, amizades, tempo, posição e influências, para obter qualquer favorecimento, para si ou para outrem; b) prejudicar deliberadamente a reputação de outros servidores ou de cidadãos que deles dependam; c) ser, em função de seu espírito de solidariedade, conivente com erro ou infração a este Código de Ética ou ao Código de Ética de sua profissão; d) usar de artifícios para procrastinar ou dificultar o exercício regular de direito por qualquer pessoa, causando-lhe dano moral ou material; e) deixar de utilizar os avanços técnicos e científicos ao seu alcance ou do seu conhecimento para atendimento do seu mister; f) permitir que perseguições, simpatias, antipatias, caprichos, paixões ou interesses de ordem pessoal interfiram no trato com o público, com os jurisdicionados administrativos ou com colegas hierarquicamente superiores ou inferiores; g) pleitear, solicitar, provocar, sugerir ou receber qualquer tipo de ajuda financeira, gratificação, prêmio, comissão, doação ou vantagem de qualquer espécie, para si, familiares ou qualquer pessoa, para o cumprimento da sua missão ou para influenciar outro servidor para o mesmo fim; h) alterar ou deturpar o teor de documentos que deva encaminhar para providências; 12 i) iludir ou tentariludir qualquer pessoa que necessite do atendimento em serviços públicos; j) desviar servidor público para atendimento a interesse particular; l) retirar da repartição pública, sem estar legalmente autorizado, qualquer documento, livro ou bem pertencente ao patrimônio público; m) fazer uso de informações privilegiadas obtidas no âmbito interno de seu serviço, em benefício próprio, de parentes, de amigos ou de terceiros; n) apresentar-se embriagado no serviço ou fora dele habitualmente; o) dar o seu concurso a qualquer instituição que atente contra a moral, a honestidade ou a dignidade da pessoa; p) exercer atividade profissional aética ou ligar o seu nome a empreendimentos de cunho duvidoso. Por fim, o Capítulo II, discorre sobre as comissões de ética. As comissões de ética devem ser criadas em todos os órgãos e entidades da Administração Pública Federal, direta ou indireta, autárquica ou fundacional, ou em qualquer órgão ou entidade que exerça atribuições delegadas pelo poder público, compostas por três servidores públicos e respectivos suplentes. As comissões de ética tem por competência instaurar processos sobre ato, fato ou conduta considerada passível de infringência ético-profissional, desde de formuladas por autoridade, servidor, jurisdicionados administrativos. Também tem como incumbência fornecer aos órgãos competentes os registros sobre a conduta ética do servidor, para o efeito de instruir e fundamentar processos de promoção e para os demais procedimentos próprios da carreira do servidor público. Os procedimentos a serem adotados pela comissão de ética para a apuração de fato ou ato, que em princípio, se apresente contrário a ética, terão o rito sumário, ouvido apenas o servidor e o queixante, se houver, cabendo sempre recurso. Dada a eventual gravidade da conduta do servidor ou sua reincidência, poderá a Comissão de Ética encaminhar a sua decisão e respectivo expediente para a Comissão Permanente de Processo Disciplinar do respectivo órgão, se houver, e, cumulativamente, se for o caso, à entidade em que, por exercício profissional, o servidor público esteja inscrito, para as providências disciplinares cabíveis. 13 DESTAQUE: Com o objetivo de garantir a aplicação das normas e procedimentos anticorrupção e de compliance, a Controladoria Geral da União, lançou uma cartilha “Sugestões de Decretos para a Regulamentação da Lei Anticorrupção nos Município”. Essa cartilha propõe as diretrizes: simplificação, suficiência, especificidades municipais e cooperação. http://www.cgu.gov.br/noticias/2017/08/cgu-auxilia-municipios-na- regulamentacao-da-lei-anticorrupcao SAIBA MAIS: Saiba mais sobre a história da ética na Administração Pública https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/176590/000176590. pdf LINK: Veja um pouco mais sobre ética no vídeo: http://www.institutocpfl.org.br/play/etica-no-cotidiano-mario-sergio- cortella-e-clovis-de-barros-filho/ Entende-se por servidor público, para fins de apuração do comprometimento ético, todo aquele que, por força da lei, contrato ou qualquer ato jurídico, preste serviço de natureza permanente, temporária ou excepcional, ainda que sem retribuição financeira, desde que ligado direta ou indiretamente a qualquer órgão estatal, como as autarquias, as fundações públicas, as entidades paraestatais, as empresas públicas e as sociedades de economia mista, ou em qualquer setor em que prevaleça o interesse do Estado (Freire, Motta, 2004). Importante ressaltar que todas as esferas de governo, inclusive as municipais, podem e devem formular suas legislações sobre os vários temas, inclusive os sobre ética e compliance. 14 http://www.cgu.gov.br/noticias/2017/08/cgu-auxilia-municipios-na-regulamentacao-da-lei-anticorrupcao http://www.cgu.gov.br/noticias/2017/08/cgu-auxilia-municipios-na-regulamentacao-da-lei-anticorrupcao https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/176590/000176590.pdf https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/176590/000176590.pdf http://www.institutocpfl.org.br/play/etica-no-cotidiano-mario-sergio-cortella-e-clovis-de-barros-filho/ http://www.institutocpfl.org.br/play/etica-no-cotidiano-mario-sergio-cortella-e-clovis-de-barros-filho/ A ética é um tema diverso e atualmente, podem causar alguns constrangimentos quando sobreposta à administração pública. Quando falamos de ética nos vem a mente temas sobre corrupção, extorsão, propina, ineficiência, fragilidade e até a “Operação Lava Jato”, porém é necessário termos como referência o estabelecimento de um padrão ético, a partir do qual, possamos julgar a atuação da administração e dos servidores públicos ou de todos aqueles envolvidos na vida pública. Esse padrão está relacionado a implantação de um sistema ou programa de compliance. Um bom exemplo de iniciativa de compliance na gestão pública é o caso do Estado do Paraná que assinou neste ano de 2019 a Lei Ordinária Estadual nº. 19.857, de 29 de maio. Esta Lei institui o Programa de Integridade e Compliance da Administração Pública Estadual e da outras providências. De acordo com o art 2º. da citada Lei O Programa de Integridade e Compliance da Administração Pública Estadual do Paraná tem por objetivo: I – adotar princípios éticos e normas de conduta e certificar seu cumprimento; II – estabelecer um conjunto de medidas conexas visando à prevenção de possíveis desvios na entrega dos resultados esperados pelos destinatários dos serviços; III – fomentar a consciência e a cultura de controles internos na busca contínua da conformidade de seus atos, da observância e cumprimento das normas e da transparência das políticas públicas e de seus resultados; 15 IV – aperfeiçoar a estrutura de governança pública, criar e aprimorar a gestão de riscos e os controles da Administração Pública do Estado do Paraná; V – fomentar a inovação e a adoção de boas práticas de gestão pública; VI – estimular o comportamento íntegro e probo dos agentes públicos e políticos; VII – proporcionar a capacitação dos agentes públicos no exercício de cargo, função ou emprego; VIII – estabelecer mecanismos de comunicação, monitoramento, controle, avaliação e auditoria; IX – assegurar que sejam atendidos, pelas diversas áreas da organização, os requerimentos e solicitações de órgãos reguladores e de controle. Com esse trabalho a administração pública estadual espera ter como resultado um plano de integridade, que definirá as condutas que deverão ser seguidas pelos servidores públicos e quais serão as providências a serem tomadas pela gestão caso sejam desrespeitados as normas. O principal foco do programa é mudar a cultura do serviço público, criar a consciência de que todo servidor tem que agir com integridade e com ética. Talvez a sociedade não veja um resultado imediato desse trabalho, porém com o passar do tempo, as pessoas podem perceber que o estado mudou e que não será admitido corrupção, se houver. Esse é o objetivo do programa. 16 17 PARA REFLETIR: BRAGA, Marcus V. de Azevedo. Compliance no setor público: necessário; mas suficiente? Disponível em: https://www.esafi.com.br/financas- publicas/compliance-no-setor-publico-necessario-mas-suficiente/ BRASIL. Decreto n 1.171, de 22 de Junho de 1994. Aprova o Código de Ética Profissional do Servidor Público Civil do Poder Executivo Federal. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d1171.htm>. Acesso em 11 Nov. 2014. BRASIL. Advogacia Geral da União (AGU). Disponível em: http://www.agu.gov.br/ BRASIL. Constituição da República Federal do Brasil. Publicada no Diário Oficial da União, em 05 de outubro de 1988. CORTELA. Mario Sérgio.Qual É A Tua Obra? - Inquietações Propositivas Sobre Ética , Liderança e Gestão. Rio de Janeiro, 24 Ed. Vozes Nobilis, 2015. Dicionário da Língua Portuguesa. Melhoramentos, 2002. p. 122. FREIRE, Elias; Motta, Sylvio. Ética na administração pública: teoria e 630 questões. Niteroi-RJ: Impetus, 2004. MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 30.ed. São Paulo: Malheiros, 2005. PARANÁ. Lei 19.857 - 29 de Maio de 2019. Institui o Programa de Integridade e Compliance da Administração Pública Estadual e dá outras providências. VASQUEZ, A. S. Ética. 26. ed. Rio de Janeiro: Civilização Bra-siliense, 2005. 18 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS https://www.esafi.com.br/financas-publicas/compliance-no-setor-publico-necessario-mas-suficiente/ https://www.esafi.com.br/financas-publicas/compliance-no-setor-publico-necessario-mas-suficiente/ http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d1171.htm http://www.agu.gov.br/ https://jus.com.br/tudo/direito-administrativo 6.1 Transparência na Administração Pública Lei12.527-Acessoà Decreto 6.170 - Regras para celebração de convênios com entidades sem finslucrativos Portal da Transparência 201 200 200 200 200 198 LeiComplementarn.º131 Lei de Responsabilidade Constituição Federal Transparência Pública, controle preventivo e concomitante A idéia de transparência do Estado brasileiro foi incluída na agenda política de controle social apenas com o fim do período de autoritarismo que vigorou no Brasil de 1964 a 1985. A democratização do Estado, que estudaremos nos próximos capítulos, tinha como um de seus pressupostos o maior controle da adminsitração pública pela sociedade civil. Para tal, a transparência do Estado, seria a possibilidade do acesso do cidadão as informações e os conteudos governamentais. Histórico de nomativos que ampliaram o acesso a informação no Brasil A esse respeito Bresser Pereira (2001) argumenta que a eficiência administrativa e democracia são os dois objetivos maiores da sociedade contemporânea, ainda que vistos como contraditórios pelo saber convencional. 19 Capítulo Democracia é um regime político no qual todos os cidadãos elegíveis participam diretamente ou por meio de seus representantes eleitos, na proposta, no desenvolvimento e na criação das leis, podem ainda exercer o poder de governar. Envolve as áreas sociais, econômicas e culturais. A Constituição Federal em seu Art. 1º. Paragrafo Unico, diz que: “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”. A Carta Magna de 1988 garante ao cidadão o acesso aos dados públicos gerados e mantidos pelo governo. É direito de todo o cidadão ter acesso a, por exemplo, de onde vêm as receitas do Estado, como são gastos os recursos dos impostos, quem são os servidores públicos, quanto ganham entre outros dados. Com o Poder Legislativo não é diferente. O dever de publicidade e transparência exige que as informações administrativas e legislativas dos órgãos públicos estejam à disposição do cidadão de forma rápida e simples. Percebemos, então, que a prática da democracia tem se manisfestado no Brasil, dentre outros aspectos pelas manifestações e cobranças cada vez mais intensas por ética e transparência na condução das atividades públicas. Podemos entender a Transparência como um preceito pelo qual se impõem à adminsitração pública a prestação de informações e de prestação de contas de suas ações, por meio da utilização de meios de comunicação. Visando responder a essas demandas dos cidadãos, os instrumentos já existentes na administração federal foram reforçados e outros foram criados para a difusão da informação governamental. Podemos citar alguns exemplos: Lei do Processo Administrativo (Lei nº 9.784/1999), a Lei que criou os pregões presencial e eletrônico (Lei nº 10.520/2002), o Decreto que criou o SICONV - Sistema de Gestão de Convênios e Contratos de Repasse (Decreto nº 6.170/2007) e o Decreto que criou o cartão de pagamento do Governo Federal e extinguiu o fim das contas tipo “B” - suprimento de fundos (Decreto nº 6.370/2008), o Sistema Integrado de Administração Financeira (SIAFI) que registra os gastos efetuados pelo Tesouro Nacional; Sistema Integrado de Dados Orçamentários (SIDOR); a folha de pagamentos e os dados cadastrais dos servidores civis federais (SIAPE); Sistema de Gerenciamento da Receita e Despesa da Previdência Social; o planejamento de ações do governo; a movimentação do cadastro de fornecedores, de preços e do catálogo de 20 materiais e serviços; e o fornecimento de informações sobre a organização governamental e suas macroatribuições. Além dessas normas, outras duas ganham destaque para a garantia da transparência e do acesso à informação: a Lei de Responsabilidade Fiscal – LRF ou Lei Complementar nº 101/2000 e a Lei Complementar nº 131/2009. Assinada em 5 de maio de 2000, a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) é uma lei complementar que regulamenta o artigo 163 da Constituição Federal e estabelece as normas que orientam as finanças públicas no Brasil. Tem como objetivo aprimorar a responsabilidade na gestão fiscal da utilização dos recursos públicos, por meio de ação planejada e transparente que possibilite prevenir riscos e corrigir desvios que possam afetar o equilíbrio das contas públicas. A LRF instituiu os instrumentos de transparência da gestão fiscal – planos, orçamentos, leis de diretrizes orçamentárias (LOD), prestações de contas e parecer prévio, Relatório Resumido da Execução Orçamentária e o Relatório de Gestão Fiscal – determinando que fosse dada ampla divulgação à sociedade dessas informações contábeis/financeiras. Estão sujeitos à LRF os Poderes Executivo, Legislativo, inclusive Tribunais de Contas, e Judiciário, bem como o Ministério Público e os órgãos da administração direta, fundos, autarquias, fundações e empresas estatais de todas as esferas – União, Estados, Distrito Federal e Municípios. O artigo 48 da LRF trata, especificamente, da Transparência na Gestão Fiscal, que diz: “São instrumentos de transparência da gestão fiscal, aos quais será dada ampla divulgação, inclusive em meios eletrônicos de acesso público: os plano, orçamentos e leis de diretrizes orçamentárias; prestações de contas e o respectivo parecer prévio; o Relatório Resumido da Execução Orçamentária e o Relatório de Gestão Fiscal; e as versões simplificadas desses documentos”. Logo, a transparência da gestão fiscal é tratada na Lei como um princípio de gestão, que tem por finalidade principal, franquear ao cidadão 21 Receitas; Despesas; Fornecedores; Programas, ações e projetos. acesso à informações relativas às atividades financeiras do estado e conhecer os procedimentos necessários para essas divulgações (CRUZ, 2009). A segunda importante norma que merece destaque na garantia da transparência e do acesso a informação foi a Lei Complementar Nº. 131, conhecida como Lei da Tranparência. A Lei da Transparência, assinada em 27 de maio de 2009 acrescenta dispositivos à Lei Complementar no 101 (LRF), que estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal, a fim de determinar a disponibilização de informações sobre a execução orçamentária e financeira da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Conforme determinado na Lei Complementar Nº. 131, todos os entes da federação, deverão divulgar na internet, as seguintes informações: Quanto à despesa: todos os atos praticados pelas unidades gestoras no decorrer da execução da despesa, no momento de sua realização, com a disponibilização mínima dos dados referentes ao número do cor-respondente processo, ao bem fornecido ou ao serviço prestado, àpessoa física ou jurídica beneficiária do pagamento e, quando for o caso, ao procedimento licitatório realizado; Quanto à receita: o lançamento e o recebimento de toda a receita das unidades gestoras, inclusive referente a recursos extraordinários; 22 A prumulgação da Lei Nº. 131/09, então, acrescentou novos dispositivos à Lei de Responsabilidade Fiscal, inovando ao determinar a disponibilização, em tempo real, de informações pormenorizadas sobre a execução orçamentária da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municipíos, criando os “portais da transparência”. Essa Lei estabeleceu, também, diversos prazos para o cumprimento de suas determinações para todos os atores. Contudo ainda existem os entes da federação que não estão totalmente adequados com o que a Lei define. Em atendimento ao estabelecido nessas normas, existe um quadro de iniciativas adotadas no âmbito do Governo Federal, que também devem ser implantado pelos Estados e Municipios, para promover a divulgação de informações à sociedade, sobretudo em relação à publicidade da aplicação de recursos financeiros. Um marco das políticas de transparência implementadas foi a criação do Portal da Transparência do Poder Executivo Federal, uma iniciativa da Controladoria-Geral da União lançada em novembro de 2004. O objetivo do Portal é apoiar a boa e correta aplicação dos recursos públicos ao possibilitar o acompanhamento e fiscalização pela sociedade dos gastos públicos. Por meio do Portal da Transparência, sem necessidade de senha ou cadastro, é possível consultar os gastos do Governo Federal lançados até o dia anterior. Dessa forma, a sociedade pode colaborar com o controle das ações de seus governantes, no intuito de checar se os recursos públicos estão sendo usados como deveriam. 23 Outras iniciativas brasileiras que visam à divulgação proativa de informações públicas também merecem destaque, tais como: • Páginas de Transparência Pública: criadas em 2005, são páginas na Internet por meio das quais são divulgadas as despesas realizadas pelos órgãos e entidades da Administração Pública Federal, informando sobre execução orçamentária, licitações, contratações, convênios, diárias e passagens; • Sites Copa 2014 e Jogos RIO 2016 - Transparência em 1º lugar: iniciativas que têm o objetivo de facilitar o controle social dos recursos públicos que serão investidos para os jogos da Copa do Mundo de Futebol em 2014 e Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de 2016 na cidade do Rio de Janeiro; • Sistema de Gestão de Convênios e Contratos de Repasse (SICONV): sistema de acompanhamento e gestão de recursos da União transferidos via convênio ou contrato de repasse. Através desse sistema de recursos e acompanhamento da execução. O acesso a essas informações é oferecido ao público, possibilitando o controle social dos recursos públicos repassados via convênio. Em 25 de junho de 2019, o Governo Federal publicou a Instrução Normativa Nº. 05 de 2019, que dispõe sobre as práticas de governança e gestão dos processos dos órgãos e entidades que atuam nas Transferências Voluntarias da União. Essa Normativa também, inseriu o Sistema de Gestão de Convênios e Contratos de Repasse (SICONV), em uma plataforma mais ampla e completa chamada Plataforma Mais Brasil. 24 SAIBA MAIS: Para saber mais sobre a Lei da Tansparência http://www.leidatransparencia.cnm.org.br/img/download/cartilha.pdf LINK: Conhece mais sobre o trabalho da Contraladoria Geral da União. https://www.cgu.gov.br/sobre/institucional 6.2 Controle na Administração Pública O controle da Administração Pública deve ser entendido como um instrumento da democracia. A existência de uma estrutura formal para controle das finanças públicas, eficiente, eficaz e efetiva, para alcance do objetivo de garantir o bom desempenho das atividades do poder público realizadas no interesse do bem público é um fato comum em um Estado democrático organizado. Di Pietro (2004) define o controle da Administração Pública como o poder de fiscalização e correção que sobre ela exercem os órgãos do Poder Judiciário, Legislativo e Executivo, com o objetivo de garantir a conformidade de sua atuação com os princípios que lhe são impostos pelo ordenamento jurídico. Cada Poder exerce controle sobre os demais. O Poder Legislativo exerce controle sobre os demais poderes, o Tribunal de Contas da União sobre toda a administração, a atuação de controle do Ministério Público e a atuação interna 25 DESTAQUE: As transferências voluntárias são os recursos financeiros repassados pela União aos Estados, Municípios e Entidades, em decorrência da celebração de convênios ou outros instrumentos similares, cuja finalidade é a realização de obras e/ou serviços de interesse comum. http://www.leidatransparencia.cnm.org.br/img/download/cartilha.pdf https://www.cgu.gov.br/sobre/institucional TCU Ministério Público Poder Legislativo Poder Executivo Poder Judiciário Administração Pública 1. Quanto ao órgão, o controle pode ser: do Poder Executivo sobre os seus prórios atos, podem ser vizualizados na figura a seguir: Controle da Administração Pública Fonte: Tribunal de Contas da União (adaptado). Uma vez definido o que é o controle da Administração pública, vemos que o mesmo é dividido em quatro espécies: 1. quanto ao órgão; 2. quanto ao momento em que se efetua; 3. quanto ao ambiente (posição: interno ou externo); 4. de legalidade ou de mérito. 26 2. Quanto ao momento em que se efetua podem ser: • controle administrativo: é o poder de fiscalização e correção que a Administração Pública exerce sobre a própria atuação, sob os aspectos de legalidade e mérito, por iniciativa própria ou mediante provocação; • controle legislativo: basicamente compreende o controle político e o financeiro. O controle político aprecia se as decisões administrativas atendem aos aspectos legais e de oportunidade e conveniência diante do interesse público. O controle financeiro é exercido com auxílio do Tribunal de Contas que implementa fiscalizações contábeis, financeiras, orçamentárias, patrimoniais e operacionais; • controle judicial: dotado de garantias de imparcialidade que permitam apreciar e invalidar os atos ilícitos perpetrados pela Administração Pública. • controle prévio: quando o ato administrativo fica sujeito à autorização ou aprovação prévia, visando impedir que seja praticado ato ilegal ou contrário ao interesse público. É exercido antes da conclusão de um ato administrativo. O objetivo do controle preventivo é assegurar que o ato, ou ação, seja praticado em perfeitas condições de legalidade e em conformidade com os princípios adminsitrativos. Como exemplo podemos citar a aprovação do Senado Federal, na escolha do nome para a Procuradoria Geral da República. • controle concomitante: é o que acompanha a atuação administrativa no momento em que o ato administrativo é executado como, por exemplo, o acompanhamento do procedimento licitatório, a execução orçamentária da despesa etc. É exercido durante o ato administrativo. Possui o mesmo objetivo do controle preventido, o de assegurar que o ato ou ação seja praticado em perfeitas condições de legalidade e em conformidade com os princípios adminsitrativos. 27 3. Quanto à posição (interna ou externa) em que se localiza o controle: 4. Quanto ao controle, podem ser de: • controle posterior: tem o objetivo de rever os atos já praticados, para corrigi- los, desfazê-los ou apenas confirmá-los. Conforme exemplifica Di Pietro, abrange atos como os de aprovação, homologação, anulação, revogação, convalidação. • controle interno: é o controle decorrente de órgão integrante da própria estrutura em que se insere o órgão controlado. Por exemplo,a auditoria interna de um Município realizando auditoria numa Secretaria Municipal; • controle externo: é o controle exercido por um dos Poderes sobre o outro, ou a auditoria realizada por um órgão que não é componente da estrutura da administração que está sendo fiscalizada. • legalidade: é o controle que pode ser exercido pelos três Poderes sobre a legalidade dos atos administrativos verificando se esses estão de acordo com as normas; • mérito: é exercido pela própria Administração Pública verificando a oportunidade de realização do ato administrativo. Todos estes controles apresentados são exercidos nos meandros da Administração Pública pelos Poderes, seus órgãos e entidades. Devemos destacar o controle exercido pela sociedade, denominado controle social, previsto na Constituição Federal de 1988. O controle social é um conceito amplo. Quanto mais transparente for a Administração Pública, maior será o grau de controle social. O controle realizado pelos cidadãos, das ações dos governantes é importante para assegurar que os recursos públicos sejam bem aplicados em benefício da coletividade. É a participação da sociedade no acompanhamento 28 e verificação das ações da gestão pública na execução das políticas públicas, monitorando e avaliando os objetivos, processos e resultados. A Administração Pública conta, em sua estrutura, com outros órgãos específicos incumbidos de exercer o controle sobre a própria administração, tendo sido reservados a eles, atribuições específicas na Constituição Federal de 1988. Vejamos alguns desses órgãos: 1. Ministério Público - Nos termos do art.128 da Constituição Federal de 1988, o Ministério Público abrange: I – Ministério Público da União, que compreende: Ministério Público Federal; Ministério Público do Trabalho; Ministério Público Militar; Ministério Público do Distrito Federal e Territórios; II – o Ministério Público dos Estados. O Ministério Público é um órgão independente e permanente. Incumbido da defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis. Pode promover inquérito civil e ação civil pública para a proteção do patrimônio público e social do meio ambiente e dos interesses coletivos. 2. Polícia Federal – Conforme a Constituição de 88, a Polícia Federal destina- se a apurar infrações contra a ordem pública e social ou em detrimento de bens e serviços de interesse da União. A Polícia Federal exerce, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União, ou seja, é um órgão da segurança do Estado que tem como principal função apurar as infrações penais e a sua autoria por meio da investigação policial, procedimento administrativo com característica inquisitiva, que serve, em regra, de base à pretensão punitiva do Estado formulada pelo Ministério Público, titular da ação penal. 29 DESTAQUE: A Escala Brasil Transparente (EBT) é uma metodologia para medir a transparência pública em estados e municípios brasileiros. A EBT avalia o grau de cumprimento de dispositivos da Lei de Acesso à Informação (LAI). Suas versões três versões concentram-se na transparência passiva e por isso foram realizadas solicitações reais de acesso à informação aos entes públicos avaliados. Confira o ranking do seu Estado e/ou Município. https://www.cgu.gov.br/assuntos/transparencia-publica/escala-brasil- transparente 3. Advocacia Geral da União (AGU) – É a instituição que representa o Governo Federal judicial e extrajudicialmento. Ou seja, a AGU, por meio da Procuradoria Geral, promove ações para proteger a União. Como exemplo de sua atuação, podemos citar as ações de ressarcimento de dinheiro público desviados de forma criminosa. A AGU promove uma pesquisa dos bens do responsável pelo pagamento, com a finalidade de que esses bens garantam a dívida devida. 4. Controladoria-Geral da União (CGU) – é o órgão de controle interno do Poder Executivo Federal. Sua área de atuação engloba a maioria dos órgãos e entidades públicas. É composta por outros órgãos como a Corregedoria Geral da União e a Ouvidoria Geral da União. As ações de controle implementadas pela CGU são: auditorias e fiscalizações. Fiscalizações são ações de controle mais rápidas sobre determinados atos e fatos administrativos, enquanto as auditorias são trabalhos mais extensos e aprofundados sobre determinadas áreas da gestão pública. A CGU, desde 2003, implementou o Programa de Fiscalização a Partir de Sorteio Público, que consiste em verificar a aplicação de recursos públicos federais nas bases municipais e estaduais. Ao encontrar falhas e irregularidades, a Controladoria-Geral da União recomenda ao órgão ou entidade federal repassador dos recursos que implemente os meios necessários para ajustar a aplicação dos recursos federais. 30 https://www.cgu.gov.br/assuntos/transparencia-publica/escala-brasil-transparente https://www.cgu.gov.br/assuntos/transparencia-publica/escala-brasil-transparente LINK: Controle da Adminsitração Pública Federal. https://www.youtube.com/watch?time_continue=100&v=V63d0y95V9E https://www.youtube.com/watch?time_continue=26&v=UL7muZPHYgE 31 SAIBA MAIS: Saiba mais sobre o Controle Social da Administração Pública. https://www.cgu.gov.br/Publicacoes/controle- social/arquivos/controlesocial2012.pdf https://www.youtube.com/watch?time_continue=100&v=V63d0y95V9E https://www.youtube.com/watch?time_continue=26&v=UL7muZPHYgE https://www.cgu.gov.br/Publicacoes/controle-social/arquivos/controlesocial2012.pdf https://www.cgu.gov.br/Publicacoes/controle-social/arquivos/controlesocial2012.pdf BRASIL. Constituição da República Federal do Brasil. Publicada no Diário Oficial da União, em 05 de outubro de 1988. BRASIL. Instrução Normativa Nº. 5, de 24 de junho de 2019. Dispõe sobre as práticas de governança e gestão dos processos dos órgãos e entidades que atuam nas transferências voluntárias de recursos da União BRASIL, Lei Complementar Nº. 101, de 04 de maio de 2000. Estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal e dá outras providências. BRASIL, Lei Complementar Nº. 131, de 27 de maio de 2009. Acrescenta dispositivos à Lei Complementar no 101, de 4 de maio de 2000, que estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal e dá outras providências, a fim de determinar a disponibilização, em tempo real, de informações pormenorizadas sobre a execução orçamentária e financeira da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. BRASIL. Tribunal de Contas da União (TCU). Disponível em https://portal.tcu.gov.br/inicio/ BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos. Democracia, estado social e reforma gerencial. Rev. adm. empres. vol.50 no.1 São Paulo Jan./Mar. 2010. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034- 75902010000100009 CHAVES, Renato Santos. Controle da Administração Pública. Tribunal de Contas da União. Instituto Serzedello Corrêa, Brasília: 2014 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 17 ed. São Paulo: Atlas, 2004. PEREIRA, José Matias. Administração Pública: foco nas instituições e ações governamentais. 5ª. Ed. São Paulo: Atlas, 2018. 32 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS https://portal.tcu.gov.br/inicio/ http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-75902010000100009 http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-75902010000100009 Administração Pública Patrimonialista Democratização estratégica da gestão Quando observamos a evolução histórica da adminsitração pública no Brasil, podemos destacar três modelosde administração: Patrimonialista, Burocrática e Gerencial. Podemos dizer que desde a sua descoberta em 1500 até a Revolução de 1930, o Brasil foi uma grande instituição garantidora de privilégios sociais e econômicos a uma elite rural e aristocrática. Essa elite conseguia do Estado os mais diversos privilégios como empregos, poderes, emprestimos vantajosos, impunidades e uma lista sem fim de outros benefícios. Segundo Weber (1968) o conceito de patrimonialismo se caracteriza pelas formas de dominação política tradicional em que não se separa de forma clara e visível as esferas pública e privada, em que esses dois domínios se misturam na concepção do governante, que entende e controla o Estado como se fosse uma extensão do seu próprio domínio privado. Dessa forma, na Administração Pública patrimonialista, o aparelho de Estado era como uma extensão do poder do Monarca, que não separava o seu patrimônio do patrimônio público, e ainda, um sistema no qual quem trabalhava para o Estado, ou seja os “servidores públicos” possuíam status de nobreza real, uma vez que os cargos funcionavam como recompensas ou premios, o que gera o nepotismo. Esse modo de governar contribuiu para a prática da corrupção, uma vez que o órgão público era controlado pelos soberanos. Em síntese, toda a trajetória, desde o descobrimento, é uma história marcada pela forte presença do Estado, controlado por uma elite patrimonial, dando vida e forma a sociedade brasileira. A herança desse modelo, resulta em uma administração pública caracterizada por um vies patrimonial, que resiste com intensidade, até os dias de hoje. 33 Capítulo O desaparecimento gradual da administração patrimonialista coincide com o início da era capitalista no Brasil, ou seja, com a diminuição do cultivo da cana-de-açucar que foi sendo substituída pela do café. Esse fato, alinhado ao desenvolvimento das comunicações e a urbanização das áreas rurais, fazem com que o domínio agrário se enfraqueça e se torne impotente. A Administração Pública burocrática nasce na segunda metade do século XIX, como um contraponto a administração patrimonialista, pois tinha como objetivo combater a corrupção e o nepotismo do modelo anterior. Propagava como princípios: serviço público profissional; carreira pública; hierarquia funcional; impessoalidade; formalismo; tudo era feito de acordo com o poder legal. Para tanto, era necessário o controle rígido dos processos e do ingresso à carreira pública, com regras na admissão (concursos públicos ou titulações) e controle nas compras visando evitar abusos, ineficiência e incapacidade. A Administração burocrática, teve início então na era do Presidente Getúlio Vargas, que ocasiou um restauro político do Estado com a intenção de atender as pressões modernizantes da iniciante burguesia nacional. Dessa forma, um Estado mais racional e eficiente seria primordial para o bom resultado da intervenção estatal, que objetivava garantir o desenvolvimento econômico e as relações político-social da burguesia e dos setores operários urbanos (PACARELLI, 2011). Se por um lado, o primeiro movimento que modernizou a adminsitração pública com o estabelecimento de padrões, pode promover a reforma no serviço público (por ser um pré-requisito para tornar efetiva a ação da organização estatal); possibilitou treinamentos, formação profissional, salários mais justos e atraentes e garantias legais, por outro lado, fez com que todos os brasileiros dependentes da ação do Estado e por consequencia, da burocracia 34 Administração Pública Burocrática Administração Pública Gerencial interna, sofressem com as insatisfatórias e ineficientes práticas e políticas publicas das áreas de saúde, educação e segurança pública. Nesse contexto, de acordo com Pereira (2018): “quando o Estado passa a ser democrático (século XX), e tem como responsabilidade gerar o bem comum, por meio do atendimento adequado das crescentes demandas da população, ocorre significativa ampliação das suas funções nos campos socioeconômico e político. O aumento dessas pressões e a incapacidade do Estado burocrático de atendê-las de maneira satisfatória colocam em xeque o Estado burocrático. Tem-se, portanto, o início do processo de transformações, com a introdução da reforma da gestão pública, que busca transformar o modelo de Estado burocrático em Estado gerencial”. A administração burocrática, apesar do progresso apresentado, tornou- se inadequada, tendo em vista a ampliação do papel social e econômico do Estado a partir de 1950, e aos interesses da população, visto que suas regras passaram a se sobrepor aos interesses da sociedade. Como resposta a crise do Estado do Bem-Estar Social, surgiu na segunda metade do século XX, a Administração Pública Gerencial, que tem como objetivos principais enfrentar a crise fiscal, reduzir custos e tornar mais eficiente a administração dos bens e serviços de responsabilidade do Estado, focando seus esforços para o resultado. A Administração Pública Gerencial partiu do princípio de combater o nepotismo e a corrupção, observando que, para isso, não são necessários procedimentos tão rígidos, pois, nesse modelo, são universalmente rebatidos quaisquer atos que confundam patrimônio público e privado. Começam a ser utilizadas novas estratégias como a descentralização, a delegação de autoridade, controle sobre o desempenho, etc. Ainda, na administração gerencial, o serviço público não precisa mais ser autorreferente, mas orientar- se pela ideia de serviço ao cidadão. É um serviço para o público, essa é a essência da administração pública gerencial. Outra questão que passa a ter um lugar de destaque é a transparência, visto que a corrupção ainda é um fenômeno que enfraquece a democracia, a confiança no Estado, a legitimidade e moral dos governos e dos políticos. 35 A diferença entre os modelos da Administração Pública burocrática e da gerencial é bastante significativa, na medida em que a última parte de princípios e pressupostos diferentes, com outra visão de funcionários, do Estado e da sociedade. Administração Burocrática Administração Gerencial i. A Administração Pública burocrática é autorreferente e se concentra no processo, em suas próprias necessidades e perspectivas, sem considerar a alta ineficiência envolvida. ii. A Administração Pública burocrática acredita em uma racionalidade absoluta, que a burocracia está encarregada de garantir. iii. A Administração Pública burocrática assume que o modo mais seguro de evitar o nepotismo e a corrupção é pelo controle rígido dos processos, com o controle de procedimentos. iv. Na administração burocrática não existe a confiança. v. A administração burocrática é centralizadora, autoritária. vi. A administração burocrática prega o formalismo, rigidez e o rigor técnico. i. A Administração Pública gerencial é orientada para o cidadão, voltada para o consumidor, e se concentra nas necessidades e perspectivas desse consumidor, o cliente- cidadão. No gerencialismo, o administrador público preocupa-se em oferecer serviços, e não em gerir programas; visa atender aos cidadãos, e não às necessidades da burocracia. ii. A Administração Pública gerencial pensa na sociedade como um campo de conflito, cooperação e incerteza, na qual os cidadãos defendem seus interesses e afirmam suas posições ideológicas. iii. A Administração Pública gerencial parte do princípio de que é preciso combater o nepotismo e a corrupção, mas que, para isso, não são necessários procedimentos rígidos, e sim outros meios, como indicadores de desempenho, controle de resultados etc. iv. Na administração gerencial, a confiança é limitada, permanentemente controlada por resultados, mas, ainda assim, suficiente para permitir a delegação, para que o gestorpúblico possa ter liberdade de escolher os meios mais apropriados ao cumprimento das metas prefixadas. v. A administração gerencial prega a descentralização, com delegação de poderes, atribuições e responsabilidades para os escalões inferiores. vi. A administração gerencial preza os princípios de confiança e descentralização da decisão, exige formas flexíveis de gestão, horizontalização de estruturas, descentralização de funções e incentivos à criatividade e inovação. Fonte: Matias-Pereira (2016a), com adaptações. Continuando o debate sobre a modernização do Estado e da gestão pública no Brasil, é importante constatar que toda a reestruturação do Estado, e a consequente redefinição de suas relações com a sociedade, é um processo eminentemente político. 36 DESTAQUE: A cidadania é o conjunto de direitos e deveres exercidos por um indivíduo que vive em sociedade, no que se refere ao seu poder e grau de intervenção no usufruto de seus espaços e na sua posição em poder nele intervir e transformá-lo. SAIBA MAIS: Artigo DEMOCRATIZAÇÃO DO ESTADO DIGITAL: governança eletrônica ee-participação no ciclo de políticas públicas. http://www.ipea.gov.br/code2011/chamada2011/pdf/area9/area9- artigo8.pdf LINK: Conheça mais sobre o Governo Digital do Brasil. https://www.governodigital.gov.br/sobre-o-programa Com a promulgação da Constituição Federal em 1988, houve uma forte transferência de responsabilidades e atribuições de políticas públicas para a esfera da administração municipal. Essa transferência encontrou barreiras criadas, principalmente, pela falta de ferramentas e de profissionalização dos servidores que compõem a máquina administrativa municipal. Como explica Pascarelli (2011, p. 40) “no quadro institucional que vem sendo delineado, desde o advento da Constituição Federal de 1988, o município passou a ter importantes atribuições, havendo, porém o paradoxo associado a baixa capacidade de criar receita própria e de quase nenhuma competência administrativa, tornando-se muito preocupantes as consequências perversas e explosivas que essa combinação potencializa”. Com a nova ordem constitucional, a sociedade pode invocar a cidadania para cobrar a qualidade no serviço público. 37 http://www.ipea.gov.br/code2011/chamada2011/pdf/area9/area9-artigo8.pdf http://www.ipea.gov.br/code2011/chamada2011/pdf/area9/area9-artigo8.pdf https://www.governodigital.gov.br/sobre-o-programa É neste contexto que o emprego das Tecnologias da Informação e da Comunicação (TIC) começou a ser apresentado como uma estratégia fundamental para superar as limitações dos outros modelos, transformando um processo de reforma com vistas a modernizar e a democratizar o Estado, em especial a administração pública. O desenvolvimento da internet e das demais TIC criou novas possibilidades e oportunidades à Administração Pública, inclusive as municipais, e ao seu relacionamento com o cidadão. As TIC vêm sendo aplicadas tanto na busca de maior celeridade e de menor custo dos processos de governo, quanto na criação de oportunidades de participação popular e de canais de interação entre o administrador e o administrado Nessas condições, nos amplos debates sobre a reforma do Estado de forma objetiva, percebemos que uma considerável estratégia, foi a criação do governo digital. Essa ferramenta atende tanto as demandas por modernização, quanto por democratização. A modernização está ligada a reengenharia e reorganização dos processos do governo, por meio da administração digital. Já a democratização, segundo Pinho (2008) considera que os governos podem fazer uso das TIC (Tecnologia da Informação e da Comunicação) para quatro finalidades principais: a prestação de serviços e informações à comunidade; o apoio na organização de movimentos sociais e formação de redes na sociedade civil; a implementação de mecanismos de democracia eletrônica; a democratização do acesso à comunicação eletrônica. O termo Governo Eletrônico pode ter muitas definições. Vamos considerar governo eletrônico como sendo as ações dos programas de Governo Eletrônico (eGOV) que priorizam o uso das tecnologias da informação e comunicação (TICs) para democratizar o acesso à informação, visando ampliar o debate e a participação popular na construção das políticas públicas, como também aprimorar a qualidade dos serviços e informações públicas prestadas. 38 Essa ferramenta possibilita a contínua otimização da prestação de serviços, a participação dos cidadãos e da governança, por meio de informações das relações internas e externas do governo, proporcionadas pela tecnologia, pela internet e pelos novos meios de comunicação. Em outras palavras, as TIC’s possuem um enorme potencial democrático, desde que haja definições políticas no sentido da participação popular e da transparência, pois o governo pode deixar de oferecer o que não considera tão prioritário em qualquer tempo. Nesse contexto, Ruediger (2002), visualiza o governo eletrônico como um potencializador de boas práticas de governança e catalisador de uma profunda mudança nas estruturas de governo, proporcionando mais eficiencia, transparência e desenvolvimento, do provimento democrático de informações para as decisões, além de ser uma ferramenta de capacitação política da sociedade. No Brasil, a política de Governo Eletrônico segue um conjunto de diretrizes que atuam em três frentes fundamentais: 1. Junto ao cidadão; 2. Na melhoria da sua própria gestão interna; 3. Na integração com parceiros e fornecedores. As diretrizes gerais de implantação e operação do Governo Eletrônico funcionam no âmbito dos Comitês Técnicos de Governo Eletrônico e servem de referência para estruturar as estratégias de intervenção, sendo adotadas como orientações para todas as ações de governo eletrônico, gestão do conhecimento e gestão da TI em toda a Administração Pública Federal, entre elas estão: A prioridade do Governo Eletrônico é a promoção da cidadania; A Inclusão Digital é indissociável do Governo Eletrônico; O Software Livre é um recurso estratégico para a implementação do Governo Eletrônico; A gestão do conhecimento é um instrumento estratégico de articulação e gestão das políticas públicas do Governo Eletrônico; O Governo Eletrônico deve racionalizar o uso de recursos; 39 O Governo Eletrônico deve contar com um arcabouço integrado de políticas, sistemas, padrões e normas; Integração das ações de Governo Eletrônico com outros níveis de governo e outros poderes. Desde 2016, o Governo Federal criou a Estratégia de Governança Digital (EGD) com o intuito de aumentar as possibilidades de participação social e de construção colaborativa de políticas e iniciativas inovadoras de governo digital, com a proposta de oferecer melhores serviços à sociedade. A EGD busca a simplificação e agilização na prestação dos serviços públicos e de melhora do ambiente de negócios e da eficiência da gestão pública. Além do governo eletrônico, outra grande estratégia utilizada pelos governos com o objetivo de modernizar o Estado e fortalecer a democracia é a particição popular. Já sabemos que a paticipação popular fortalece a Democracia. Cidadãos que conhecem o que acontece na administração dos seus municípios, estados e de seu país podem dialogar, propor melhorias e cobrar dos governantes para que elas sejam concretizadas. Esta possibilidade de participação da sociedade é uma das principais marcas da concepção do Estado Democrático de Direito. Como afirma Martins Júnior: “Participação é decisiva para as democracias contemporâneas, contribuindo para a governabilidade (eficiência), a contenção de abusos (ilegalidade), a atenção de todos os interesses (justiça), a tomada de decisões mais sábias e prudentes (legitimidade), o desenvolvimentoda responsabilidade das pessoas (civismo) e tornar os comandos estatais mais aceitáveis e facilmente obedecidos (ordem).” 40 A democracia participativa não pode se resumir a escolha dos governantes pelo povo. Deve ir além da eleição. A participação popular deve existir também na tomada de decisões que envolvam direta ou indiretamente os interesses individuais dos cidadãos. Isso será de fato o exercício da cidadania globalmente considerada. Um dos grandes estímulos á ampliação da participação popular no Brasil foi a instituição da LAI – Lei de Acesso à Informação (Lei Nº. 12.527/2011) esta normativa exige que os órgãos e atores públicos em todas as esferas de governo prestem informações e dêem publicidade de seus atos, conforme o Art. 5º da Constituição Federal: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”. A partir daí a transparência ganhou força e a relação entre a sociedade e seus representandtes se tornou mais próxima. A participação popular vem aumentando signitificamente no país com cidadãos mais engajados do que nunca, que reivindicam clareza em cada atividade ou ato praticado pela administração pública, uma vez que ela permita a promova a participação ativa da sociedade. Conforme falamos, o princípio da participação popular norteia a Administração Pública, amparado em leis e, principalmente, na Constituição Federal. O cidadão, além de buscar saber como funcionam e o que fazem os diferentes segmentos do poder público, pode também colaborar no processo de elaboração, gestão e avaliação das políticas públicas, por meio de alguns instrumentos, dos quais podemos destacar: Conselhos Municipais: também chamados de Conselhos de Políticas Públicas, os conselhos municipais são uma importante forma de participação popular para uma gestão pública mais transparente e participativa em prol dos cidadãos. Esses grupos atuam nas mais diversas áreas como saúde, educação, pessoa idosa e com deficiência, diretos da mulher, direito da criança e do adolescente, assistência social, entre outros, e possuem o papel 41 de mediação entre a sociedade em geral e o Governo (Federal, Estadual ou Municipal) com o intuito de formular e acompanhar a execução das políticas públicas do municípios em todas essas áreas; Portal do Cidadão: pode ser chamado também de “site” da prefeitura ou do órgão público a ser acessado. Esses portais fomentam a transparência e a participação popular. Esse canal de comunicação com a sociedade pode ser utilizado por qualquer pessoa ou qualquer órgão e de qualquer esfera adminsitrativa. Nos portais podemos encontrar encontrar todas as informações relevantes dos entes públicos, como investimentos, folhas de pagamento, projetos e políticas, permitindo que o cidadão conheça a gestão à fundo. A criação dos Portais do Cidadão é um dos reflexos da digitalização dos processos, ou seja, como já falamos, por meio do uso da tecnologia e utilização de soluções inteligentes, é possível melhorar a prestação de serviços públicos. Com o uso de ferramentas digitais (softwares específicos para gestão pública) para gerenciar seus processos, a Administração Pública pode permitir a realização e o encaminhamento de serviços de forma totalmente online. Assim, as pessoas podem fazer buscas e acompanhar processos administrativos de qualquer lugar e ganham autonomia, pois podem, por exemplo, escolher o momento mais adequado para fazer suas solicitações sem ter que se deslocar para lugares específicos e muitas vezes enfrentar filas de espera; Aplicativos e Redes Sociais: esse instrumento possui um grande potencial colaborativo. Os aplicativos móveis têm se tornado grandes aliados do poder público, uma vez que já é possível fiscalizar obras, informando ao órgão competente a situação e o andamento da execução de uma rodovia, por exemplo, com um simples celular, permitindo que as informações sejam integradas e consolidadas no sistema de gestão do órgão. Estão sendo desenvolvidas ferramentas que mesmo sem internet, possibilitam o registro e a consulta de dados enviados pelo cidadão. A 42 DESTAQUE: Investigando portais de governo eletrônico de estados no Brasil: muita tecnologia, pouca democracia http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034- 76122008000300003 SAIBA MAIS: Sociedade Civil e democratização da gestão pública no Brasil. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517- 45222006000200007 utilização das redes sociais pelo poder público pode ajudar também no atendimento as demandas do cidadão. Ele pode, além de receber as reclamações, dar sequência a solicitações e ainda oferecer conteúdos úteis e relevantes para a vida do cidadão. LINK: O Portal e-Cidadania do Senado Federal, foi criado para incentivar a participação da sociedade no processo legislativo. Os cidadãos podem assistir audiências públicas sobre temas em debate na Casa e enviar comentários e perguntas; também podem sugerir propostas para análise dos senadores e opinar sobre projetos em tramitação. https://www12.senado.leg.br/noticias/videos/2018/02/portal-e-cidadania- estimula-participacao-popular-nas-atividades-legislativas Governo Eletrônico https://www.governodigital.gov.br/EGD/historico-1/historico https://www.governodigital.gov.br/EGD/historico-1/diretrizes Lei da Ficha Limpa http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LCP/Lcp135.htm Como vimos, a inclusão da participação popular na gestão e nas tomadas das decisões é mais que um obrigação legal, é um grande auxílio ao trabalho dos governantes. Isso porque, permite que a Administração Pública 43 http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-76122008000300003 http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-76122008000300003 http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-45222006000200007 http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-45222006000200007 https://www12.senado.leg.br/noticias/videos/2018/02/portal-e-cidadania-estimula-participacao-popular-nas-atividades-legislativas https://www12.senado.leg.br/noticias/videos/2018/02/portal-e-cidadania-estimula-participacao-popular-nas-atividades-legislativas https://www.governodigital.gov.br/EGD/historico-1/historico https://www.governodigital.gov.br/EGD/historico-1/diretrizes http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LCP/Lcp135.htm tenha mais eficiência em suas ações, resultando em um maior comprometimento social e com o desenvolvimento dos municípios. Um bom exemplo da importância da participação popular para a administração pública foi a criação da Lei da Ficha Limpa. Esta Lei teve início com um grupo de cidadãos que juntos, levaram ao Congresso Nacional uma proposta com as diretrizes iniciais. Assinada e em vigor desde 2010, a Lei da Ficha Limpa (Lei Complementar Nº. 135/2010), é um dos projetos de iniciativa popular que viraram lei no nosso país. 44 BRASIL. Constituição da República Federal do Brasil. Publicada no Diário Oficial da União, em 05 de outubro de 1988. BRASIL, Lei Complementar Nº. 135, de 04 de junho de 2010. Altera a Lei Complementar no 64, de 18 de maio de 1990, que estabelece, de acordo com o § 9o do art. 14 da Constituição Federal, casos de inelegibilidade, prazos de cessação e determina outras providências, para incluir hipóteses de inelegibilidade que visam a proteger a probidade administrativa e a moralidade no exercício do mandato. BRASIL, Lei Federal Nº. 10.527, de 18 de novembro de 2011. Regula o acesso a informações previsto no inciso XXXIII do art. 5º,
Compartilhar