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Avaliação Fisioterapêutica na UTI A avaliação pode ser definida como o processo, que inclui a anamnese, palpação, inspeção, exame físico e aplicação de testes físicos e/ou consulta de exames complementares, com o objetivo de obter a maior quantidade de informações possíveis sobre o paciente. No caso de uma avaliação fisioterapêutica, esses aspectos coletados devem estar relacionados ao movimento humano, compreendido em uma perspectiva de funcionalidade. “A avaliação fisioterapêutica é a base para a construção do diagnóstico e o posterior direcionamento do planejamento do tratamento fisioterapêutico. É fundamental que o fisioterapeuta quantifique de forma objetiva suas avaliações, com instrumentos de boa qualidade diagnóstica. Isso servirá para um tratamento mais efetivo e com foco em gerar valor em saúde. A ausência disso pode levar o fisioterapeuta a fazer intervenções desnecessárias e que não agregam benefícios ao paciente”. Pela UTI não ser a porta de entrada, em geral o paciente já passou por outras instâncias hospitalares anteriormente. Portanto, podemos ter as informações em: • Consulta em prontuário e exames; • Anamnese; • Exame físico; • Medidas de variáveis respiratórias; • Medidas de variáveis motora e sua avaliação. ANAMNESE Na anamnese é visto o histórico do paciente, podendo ser dividida em: • Identificação – muito importante em ambiente hospitalar; • Histórico da Doença Atual (HDA); • Histórico Familiar; • Antecedentes pessoais; • Hábitos de vida; • História Epidemiológica. INSPEÇÃO FUNÇÃO MENTAL Compreende os aspectos relacionados à colaboração do indivíduo. É avaliado o nível de consciência. Instrumentos: Escalas de Ramsay e de RASS (avaliam o nível de sedação), escala de coma de Glasgow (ECG) e escalas para avaliação da presença de delirium. Avaliar Conhecimento Tratamento Efetividade Níveis de Consciência Confusão O paciente: • Apresenta uma discreta diminuição da consciência; • Apresenta respostas mentais lentas; • Apresenta percepção diminuída ou exacerbada; • Apresenta pensamentos Incoerentes. Obnubilação O paciente: • Acorda com dificuldade • Responde adequadamente quando acordado Delírio O paciente: • Se agita facilmente; • Está irritadiço; • Apresenta alucinações. Estupor O paciente: • Não acorda completamente; • Apresenta diminuição da atividade mental e física; • Responde a dor e apresenta reflexos tendinosos profundos; • Responde lentamente aos estímulos verbais. Letargia O paciente: • Está sonolento; • Acorda facilmente; • Responde adequadamente. Coma O paciente: • Está inconsciente; • Não responde aos estímulos; • Não se move voluntariamente; • Apresenta possíveis sinais de disfunção neuronal motora; superior, como reflexo e Babinski ou hiper- reflexo; • Perde as reflexos com o coma profundo ou prolongado. Avaliação Fisioterapêutica na UTI sedado de forma excessiva. O músculo respiratório sedado ao grau 6 por 24h tem a possibilidade de perder de 30 a 40% da força muscular. Escala de Glasgow Abertura Ocular Espontânea 4 Ao comando verbal 3 À dor 2 Ausente 1 Resposta Motora Obedece comandos 6 Localização à dor 5 Flexão inespecífica (retirada) 4 Flexão hipertônica 3 Extensão hipertônica 2 Sem resposta 1 Resposta Verbal Orientado e conversando 5 Desorientado e conversando 4 Palavras inapropriadas 3 Sons incompreensíveis 2 Sem resposta 1 Traumas Graves: 3 a 8 Traumas Moderados: 9 a 12 Traumas Leves: 13 a 15. Escala de Ramsay Grau 1 Paciente ansioso, agitado; Grau 2 Cooperativo, orientado, tranquilo; Grau 3 Sonolento, atendendo aos comandos; Grau 4 Dormindo, responde rapidamente ao estímulo glabelar ou ao estímulo sonoro vigoroso; Grau 5 Dormindo, responde lentamente ao estímulo glabelar ou ao estímulo sonoro vigoroso; Grau 6 Dormindo, sem resposta; A escala Glasgow foi criada originalmente para trauma, mas é utilizada para medir o nível de consciência em geral. Pacientes com Glasgow menor que 8 são intubados como protocolo para evitar um pior prognóstico. A extensão hipertônica mostrada na escala é mais grave que a flexão hipertônica, e ambas são avaliadas por estímulos dolorosos. O paciente com flexão hipertônica tem a chamada decorticação, onde o córtex perdeu a conexão com o cérebro, que pode ter sido ocasionada por uma infecção ou trauma. Já o paciente com uma extensão hipertônica está descerebrado, ocasionada por uma lesão no núcleo da base, onde o indivíduo perde a conexão do cérebro com a medula. Escala de Ramsey Utilizada para pacientes sedados. O ideal é manter o paciente sedado em grau 4. O grau 5 e 6 demonstra que o paciente está Escala de Glasgow SINAIS VITAIS Valores de normalidade: • Temperatura: 36,5 -37,5; • PA: 90-140 / 60-95; • FC: 60-100; • FR: 16-20; • Saturação: >95% (podendo variar a depender da literatura). Pressão Arterial Podemos avaliar a pressão arterial de duas formas, a direta e a indireta. A direta é obtida de forma invasiva, mediante a introdução de um cateter em artéria periférica. A medida indireta pode ser realizada com o esfigmomanômetro de coluna de mercúrio ou aneroide, a mais utilizada na prática clínica diária. Frequência Respiratória A frequência respiratória deve ser avaliada durante a observação do paciente, e é dada pelo número de incursões torácicas e/ou abdominais observadas em um minuto. • Taquipneia: frequência respiratória aumentada; • Hipopneia; • Bradipneia: frequência respiratória diminuída e superficial. MEDICAÇÕES Drogas vasoativas (DVAs): Usadas para garantir estabilidade hemodinâmica. As instabilidades hemodinâmicas, como hipotensão, hipertensão, bradicardia ou taquicardia, influenciam na fisioterapia. É preciso ter atenção a pacientes com uso de drogas vasoativas. Sedativos: Os mais utilizados são o Propofol, midazolam, ketamina e fentanil. Todos eles diminuem a função muscular. O midazolam geralmente é utilizado em conjunto com o fentanil. O fentanil tem risco de causar contração tetânica nos músculos pulmonares, efeito que é inibido pela midazolam. Este último pode causar hipotensão mesmo com pequenos movimentos. A ketamina promove uma sedação mais leve com rápido retorno pela não interação com o tecido adiposo. O propofol também promove um retorno rápido. Hipotensores: Na UTI inicialmente utiliza- se a medicação via oral. Quando o paciente está em VM pode triturar o medicamento e colocar em água ou soro para ser ministrado com sonda. Em alguns casos, o paciente pode utilizar hipotensivos de forma venosa, como o medicamento Nipride. É importante ter atenção a este caso, pois não pode desligar a medicação devido ao risco de labilidade pressórica (paciente que ora apresenta níveis pressóricos na faixa hipertensiva e ora apresenta pressão arterial normal). A enfermagem pode fazer ajustes das doses. Suporte Cardiovascular: Pacientes que precisam de drogas para melhorar o trofismo cardíaco, como por exemplo a dobutamina, não podem sair do leito. Os Avaliação Fisioterapêutica na UTI exercícios precisam ser feitos em uma frequência cardíaca de menos de 10%, no leito. VIA AÉREA Identificar se o paciente utiliza para respiração a via aérea fisiológica ou artificial. • Via aérea fisiológica: ventilação espontânea (VE), podendo ser VE sem O2, VE com O2, VE com TQT. • Via aérea artificial: ventilação mecânica (VM), podendo ser via TOT (tubo orotraqueal) ou TQT (traqueostomia). O fisioterapeuta na UTI é responsável por manter oxigenação, ventilação, trocas gasosas, via aérea aberta. É importante avaliar as pressões respiratórias, funções com ausculta e examinar radiografias, bem como tomografias. OUTROS PARÂMETROS A SEREM OBSERVADOS NA INSPEÇÃO • Oxigênio suplementar; • Suporte ventilatório; • PMV; • Configuração torácica; • Inspeção estática da traqueia; • Tipo Respiratório; • Ritmo Respiratório; • Função diafragmática; • Atividade expiratória;• RWA; • Componente elástico; • Escala de Borg; • Respiração Paradoxal; • Sinal de Hoover; • Tiragens Intercostais; • Extremidades. AVALIAÇÃO RESPIRATÓRIA Função respiratória: Ação que o sistema respiratório tem de deslocar o ar do ambiente para o pulmão, para posterior troca gasosa e oferta de oxigênio, com o objetivo de suprir as necessidades energéticas do organismo. O fisioterapeuta deverá identificar possíveis problemas na função respiratória, os quais compreendem problemas de ventilação e/ou oxigenação. PARÂMETROS DE AVALIAÇÃO • Ausculta respiratória: compreender a avaliação dos sons que representam a entrada de ar ao longo do sistema respiratório, servindo como importante parâmetro para indicar problemas de ventilação, como alterações de complacência de pulmão – caixa torácica e/ou de resistência das vias aéreas dos sistema respiratório. • Padrão muscular ventilatório: compreende a inspeção do tipo de padrão respiratório do indivíduo, que pode ser torácico, abdominal ou misto, bem como para identificar se há ou não uso de musculatura acessória, o qual sugere sinais de aumento de trabalho respiratório. • Frequência respiratória: é a quantidade de vezes em que o indivíduo realiza um ciclo respiratório, o qual compreende a inspiração e a expiração. Alterações desse parâmetro podem sugerir sinais de aumento de trabalho respiratório por causas diversas ou uma possível redução da ventilação. Avaliação Fisioterapêutica na UTI • Saturação periférica de oxigênio (SpO2): é o parâmetro que representa a oxigenação, sendo usada para dizer se há ou não problemas de oxigenação. • Força muscular respiratória: é o parâmetro que mensura a força muscular inspiratória e expiratória, descrito por meio da pressão inspiratória máxima (PImáxima) e expiratória máxima (PEmáxima). A indicação para sua aferição deve ser uma suspeita de fraqueza muscular respiratória, bem como a necessidade de ter uma base para programar a carga para prescrição de fortalecimento muscular respiratório. • Pico de fluxo expiratório (PFE) e pico de fluxo de tosse (PFT): são parâmetros que visam quantificar a capacidade de tosse em doentes com fraqueza muscular, bem como servem para indicar a obstrução de vias aéreas e/ou resposta a medicações broncodilatadoras. • Capacidade vital (CV): é a soma dos volumes corrente, de reserva inspiratório e expiratório, sendo um parâmetro válido para identificar problemas de ventilação. Uma limitação consiste no fato de não ser específica para descrever se o problema é muscular ou se encontra nos componentes de vias aéreas ou de pulmão – caixa torácica. IMAGEM RADIOLÓGICA Primeiramente, é preciso analisar a qualidade da imagem radiológica. Para isso, a imagem deve possuir: • Paciente com o pulmão bem expandido, sendo visível até a 10ª costela na parte posterior (caracterizadas por serem mais retas na imagem); • Traqueia e Brônquios centralizados (exceto em patologias que podem tracionar a traqueia); • Clavículas paralelas e escápulas fora do campo da imagem; • Penetração ideal do raio-x – Consegue ver até a 5ª vértebra torácica. A avaliação é feita de fora para dentro, analisando nessa ordem: tecidos moles, ossos, pulmões e mediastino. Pulmão: Deve ser observada a traquéia, hilo esquerdo e direito, artérias e veias pulmonares, ápice pulmonar e base pulmonar. O pulmão direito possui três lobos (superior, médio e inferior) e o esquerdo dois (superior e inferior). Mediastino: Inferior e superior; É observado o anel aórtico, veia cava superior e inferior. Coração: Ventrículos do lado esquerdo; Ângulos: Costofrênico e Cardiofrênico. São hipertransparentes; Quando estão hipotransparentes indicam a presença de líquido na pleura. Bolha gástrica no lado esquerdo. Avaliação Fisioterapêutica na UTI AUSCULTA RESPIRATÓRIA Sons normais: • MV • Traqueal Ruidos Adventícios: • Roncos • Sibilos Ins e exp • Crepitações Tardias e Precoces • Sopro Tubário PERCUSSÃO MONITORIZAÇÃO VENTILATÓRIA • Volume minuto; • Volume corrente; • Frequência respiratória; • Resistência aérea; • Complacência; • Pressão inspiratória; • Pressão plateau; • Pressão resistiva; • Tempo de apnéia. As imagens podem apresentar regiões: Hipertransparentes – mais escuro: locais em que o feixe do raio-x passou mais através da estrutura; Hipotransparentes – mais claras: locais em que o feixe de raio-x foi mais absorvido pela estrutura. Tipo Locais Doenças Maciço Coxa Derrame pleural Claro Pulmão normal Bronquite crônica Hipertimpânico Nenhuma Enfisema, pneumotórax Timpanismo Bochecha com ar Pneumotórax extenso OUTRAS FORMAS DE AVALIAÇÃO: • Oximetria de pulso; • Capnometria / Capnografia: A capnometria é o registo da concentração de dióxido de carbono no final da expiração. É uma boa forma não invasiva de se determinar a tensão de dióxido de carbono (PaCo2), sendo assim, uma forma não invasiva de monitorizar a ventilação. O Etco2, geralmente é 5 mmHg mais baixo do que a PaCo2. INSPEÇÃO MOTORA Postura no Leito: Organizado ou desorganizado, a depender do nível de consciência. • Postura em opistótomo: Apenas cabeça e calcanhar no leito. Ex.: Pacientes com tétano. • Paciente descerebrado: Cérebro “desconecta” das vias periféricas por lesões na base do crânio. Postura em extensão. • Paciente decorticado: Córtex “desconecta” da periferia. Postura em flexão. Tremores: Contração muscular com movimento articular. Exemplo: pacientes com disfunções hidroeletrolíticas. Mioclonia: Contração de fibras musculares sem movimento articular. Clonus: Excesso de estímulo do fuso muscular quando ele é estirado. Comum em pacientes com lesões neurológicas. Extremidades: Podendo ser fria, quando o paciente apresenta hipoperfusão, ou quentes, quando o paciente apresenta quadro inflamatório. Isquemia/Necrose: Arroxeamento das ex- Avaliação Fisioterapêutica na UTI -tremidades sem perfusão. Necrose é a evolução da isquemia. Edema: Pode ter consistência dura ou mole. A anasarca é o edema generalizado. Movimentação voluntária. Fraturas. Atrofias musculares. Alterações ósseas e articulares. . RESPIRATÓRIA • Tórax; • Diafragma : Transversalmente/pontas dos dedos subcostal/pinça abdominal; • Intercostais; • Músculos abdominais; • Enfisema subcutâneo; • Expansibilidade torácica; • Assimetria torácica; • Elasticidade torácica. MOTORA • Fraturas; • ADM; • Força Muscular; • Proeminência Óssea; Anasarca PALPAÇÃO • Pontos de Gatilho; • Tônus : estado de tensão do músculo em repouso; • Trofismo; • Monoplegia/Paraplegia/hemiplegia/tet raplegia/Diplegia (2 lesões). Dentre os instrumentos mais usados no ambiente hospitalar destacam-se os de avaliação de força muscular (escala de avaliação de força muscular manual – MRC; dinamometria de preensão palmar e dinamometria Handheld); equilíbrio (escala de Berg); ADM (goniometria, quando necessário); dor (escala visual analógica – EVA). Pode ser organizada da seguinte forma: • Identificação; • Diagnóstico; • Sinais Vitais; • Via aérea; • Avaliação Respiratória; • Radiografia de Tórax/HGA, etc.; • Avaliação Motora; • Diagnóstico Fisioterapêutico; • Plano Terapêutico / Técnica fisioterapêutica; • Resultado; • Finalizado – “deixo o paciente...”. Exemplos de evolução: 1. “Paciente, 73 anos, sexo feminino, internada por asma. Evolui sedada g-r = 3, em uso DVA, VM com modo PCU, FiO2 50% ar...”. Avaliação Fisioterapêutica na UTI 2. Paciente 55 anos, sexo M, com Diag. Hepatopatia crônica, Deficiência respiratória por hipercapnia. Com PAM 89, Fc 87, FR 20. Evolui sedado, ransay de 4. em VM com TOT. Modo PCV. AR: AR..., PMV...., RX..., HGA, SAT..., TC de tórax. AM: FM de 0, sem mov voluntária,sem edema e extremidades aquecidas. DF. Deficiência/Limitação/Restrição Prescrição Fisioterapêutica Resultado Finalizar. A avaliação é progressiva ao longo da internação hospitalar e particularmentena UTI. Ou seja, na admissão não é possível aplicar todos os instrumentos de avaliação; entretanto, conforme o paciente apresenta maior estabilidade torna-se possível e necessária a inclusão de instrumentos viáveis de serem realizados pelo paciente. RESUMO REFERÊNCIAS: SARMENTO, G. J. V.; RIBEIRO, D. C.; SHIGUEMOTO, T. S. O ABC da fisioterapia respiratória. São Paulo, 1ª Edição. 2009. SARMENTO, G. J. V.; CORDEIRO, A. L. L.. Fisioterapia Respiratória aplicada ao paciente crítico. São Paulo. 1ª edição, 2020. AULAS MINISTRADAS PELO PROFESSOR CÁSSIO MAGALHÃES – UFBA. MRC 0 – Ausência de movimento sem mov. 1 – Vestígio de contração sem mov. 2 – ADM completa s/ gravidade 3 – ADM completa contra gravidade não contra a resist. 4 – ADM completa com força adicional 5 – Força normal EVOLUÇÃO EM UTI
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