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1 Introdução a Antropologia

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Prévia do material em texto

MATERIAL DIDÁTICO 
 
 
 
INTRODUÇÃO À ANTROPOLOGIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CREDENCIADA JUNTO AO MEC PELA 
PORTARIA Nº 1.282 DO DIA 26/10/2010 
 
0800 283 8380 
 
www.ucamprominas.com.br 
 
 
Impressão 
e 
Editoração 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO ............................................................................... 03 
 
UNIDADE 2 – ANTROPOLOGIA .......................................................................... 06 
2.1 Conceitos e definições .................................................................................... 06 
2.2 Objeto de estudo e objetivos ........................................................................... 10 
2.3 Divisão e campos de atuação ......................................................................... 12 
2.4 O trabalho do antropólogo ............................................................................... 13 
 
UNIDADE 3 – DIVISÕES E CAMPOS DA ANTROPOLOGIA .............................. 19 
3.1 Antropologia Física ou Biológica ..................................................................... 19 
3.2 Antropologia Social e Cultural ......................................................................... 21 
 
UNIDADE 4 – MÉTODOS UTILIZADOS PELA ANTROPOLOGIA ...................... 34 
4.1 Métodos de pesquisa em Antropologia ........................................................... 36 
4.2 Técnicas de pesquisa em Antropologia ........................................................... 38 
 
UNIDADE 5 – APLICAÇÕES DA ANTROPOLOGIA ........................................... 41 
 
UNIDADE 6 – CULTURA: CONCEITO, ESSÊNCIA E CLASSIFICAÇÃO ........... 45 
6.1 Conceitos para cultura .................................................................................... 46 
6.2 A essência da cultura para os antropólogos .................................................... 50 
6.3 Classificação da cultura................................................................................... 51 
 
REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 56 
 
 
 
 
 
 
3 
 
 
UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO 
 
Nada é bastante ao homem para quem tudo é demasiado 
pouco. 
Epicuro 
 
E assim, com palavras do filósofo grego do período helenístico, Epicuro de 
Samos (341 a.C - 270 a.C.), cuja filosofia prega a procura dos prazeres moderados 
para atingir um estado de tranquilidade e de libertação do medo, com a ausência de 
sofrimento corporal pelo conhecimento do funcionamento do mundo e da limitação 
dos desejos, iniciamos nosso curso de Antropologia. 
A Antropologia, enquanto uma chave de compreensão do homem, é central 
para o entendimento da sociedade como um todo, contribuindo para um 
alargamento do discurso, bem como do olhar, e fornecendo instrumentais teóricos 
para que o aluno analise com maior discernimento a realidade social (BERGER, 
2007). 
A realidade, os fatos, os acontecimentos cotidianos ao redor de todo o 
mundo habitado pelo ser humano, esse ser complexo em sua singularidade, nos 
mostra que somente com diálogo e convivência inter-racial, intercultural e inter-
religiosa será possível “esticar nossa existência” no planeta Terra, afinal de contas, 
violência, guerra, terrorismo, atrocidades são atos cometidos por nós mesmos em 
função de desejos, insatisfações, preconceitos, egoísmos, enfim, “loucuras” que 
permeiam nossos pensamentos. 
Por que iniciamos com Epicuro? Porque ao seu tempo e ao seu modo, ele 
viveu as contradições do mundo novo. Ele entendia a necessidade de distinguirmos 
os desejos inúteis, infundados e frívolos, os naturais, não naturais, necessários e 
não necessários que podem nos levar a uma vida tranquila ou podem nos 
atormentar e essas dualidades que nós vivemos a todo momento, afinal de conta 
somos seres biológicos, sociais e que trazemos ao longo de nossa existência uma 
rica bagagem cultural. 
Como completa Berger (2007), para progredirmos no mundo, a ciência 
antropológica termina por ser um auxiliar imprescindível, pois é conhecendo os 
4 
 
 
povos, suas culturas, seus costumes e religiões, que podemos chegar a entendê-los 
e a respeitá-los. A ignorância só produz medo, desentendimentos e conflitos. O 
conhecimento mútuo gera intercâmbios, cooperação e amizade. 
Eis que vamos nos aproximando dos conteúdos a serem lançados neste 
módulo: a Antropologia em sua essência! 
A Antropologia é o estudo do homem como ser biológico, social e cultural. 
Sendo cada uma dessas dimensões por si só muito ampla, o conhecimento 
antropológico geralmente é organizado em áreas que indicam uma escolha prévia 
de certos aspectos a serem privilegiados como a “Antropologia Física ou Biológica” 
(aspectos genéticos e biológicos do homem), “Antropologia Social” (organização 
social e política, parentesco, instituições sociais), “Antropologia Cultural” (sistemas 
simbólicos, religião, comportamento) e “Arqueologia” (condições de existência dos 
grupos humanos desaparecidos) (SILVA, 1999; MARCONI; PRESOTTO, 2014). 
Qualquer que seja a definição adotada, é possível entender a Antropologia 
como uma forma de conhecimento sobre a diversidade cultural, isto é, a busca de 
respostas para entendermos o que somos a partir do espelho fornecido pelo “Outro”; 
uma maneira de se situar na fronteira de vários mundos sociais e culturais, abrindo 
janelas entre eles, através das quais podemos alargar nossas possibilidades de 
sentir, agir e refletir sobre o que, afinal de contas, nos torna seres singulares, 
humanos (SILVA, 1999). 
Objeto de estudo e objetivos da Antropologia; divisões e campos de estudo; 
métodos de pesquisa utilizados; conceitos, essência e classificação de cultura 
completam o módulo. 
Ressaltamos em primeiro lugar que embora a escrita acadêmica tenha como 
premissa ser científica, baseada em normas e padrões da academia, fugiremos um 
pouco às regras para nos aproximarmos de vocês e para que os temas abordados 
cheguem de maneira clara e objetiva, mas não menos científicos. Em segundo lugar, 
deixamos claro que este módulo é uma compilação das ideias de vários autores, 
incluindo aqueles que consideramos clássicos, não se tratando, portanto, de uma 
redação original e tendo em vista o caráter didático da obra, não serão expressas 
opiniões pessoais. 
5 
 
 
Ao final do módulo, além da lista de referências básicas, encontram-se 
muitas outras que foram ora utilizadas, ora somente consultadas e que podem servir 
para sanar lacunas que por ventura surgirem ao longo dos estudos. 
6 
 
 
UNIDADE 2 – ANTROPOLOGIA 
 
Segundo Costa (2001, p. 11-13), ciência (de scire, saber, conhecer) é uma 
forma especial, diferenciada de conhecimento. É ao mesmo tempo uma atividade e 
um campo de ação. Como atividade, seus objetivos são descrever, interpretar, 
explicar e prever a realidade, como campo de ação, é o terreno comum no qual se 
mesclam e interagem todas as contribuições de todas as áreas do conhecimento 
científico. 
Considerando-se esta acepção, pode-se dizer que a Antropologia é uma 
ciência que estuda o homem em sua totalidade, incluindo os aspectos biológicos e 
socioculturais como parte integral de qualquer grupo e/ou sociedade. Seu objeto de 
estudo é dividido com outras ciências como a Biologia, a História, a Economia, a 
Psicologia, a Política, entre outras. O que distingue a Antropologia, de acordo com 
Mello (2003), “das demais ciências sociais e humanas é o objetivo que a sustenta de 
estudar o homem como um todo”. 
Desse modo, suas questões se concentram no homem, de um lado como 
componente do reino animal e de outro, no seu comportamento como sersocial. 
 
2.1 Conceitos e definições 
No sentido etimológico, a palavra “antropologia” tem a sua origem no grego 
άνθρωπος, ou seja, anthropos que significa homem/pessoa, enquanto logia ou logos 
(λόγος) que quer dizer ciência, estudo. 
Logo, de acordo com Mello (2003), Antropologia é a ciência do homem e, a 
partir da identificação e do estudo dos modos de vida, formas de habitação, 
alimentação e vestuário, das relações sociais, manifestações religiosas, símbolos e 
seus respectivos significados, busca compreender as origens e a dinâmica da 
natureza humana, em suas diversas formas de organização e produção de 
sobrevivência. 
Enquanto campo do conhecimento, a Antropologia contribui para descrever 
e analisar os sentidos mais amplos da variabilidade do ser humano. Por esta razão, 
a Antropologia aborda temas heterogêneos da existência e da produção das 
7 
 
 
diferentes culturas humanas, como a arte, a economia, a família, a história, a língua, 
a literatura, a política, a religião e a biologia humana, entre outros (BRITO, 2007). 
Afirmar que a Antropologia é a ciência do homem não quer dizer muito, pois 
qualquer disciplina entre as chamadas ciências humanas (Psicologia, Sociologia, 
entre outras) trata do homem e é também, portanto, uma ciência do homem. 
Vamos de imediato justificar porque é a “ciência do homem”: 
Em primeiro lugar, significa que é o único saber que acima de tudo, com 
toda a sua grande diversidade temática, tem uma preocupação constante em definir 
o homem. A resposta à pergunta kantiana – o que é o homem? – pode-se colocar de 
diversos pontos de vista. 
Pode-se responder desde a perspectiva empírica, formulando conclusões 
gerais sobre o homem e sua natureza, mediante o conhecimento para o qual 
contribuem as observações sistemáticas, à recompilação dos dados recolhidos por 
todo o mundo e o estudo comparado das variantes físicas e culturais que se 
observam entre os diferentes grupos humanos. 
Podemos também responder que se refere a uma perspectiva humanística e 
filosófica que trata do homem, de seus costumes e seus diferentes modos de vida, 
de suas dimensões fundamentais, de seu destino, entre outros. Todas essas 
posições são próprias da Antropologia porque, conforme nos diz Hoebel (1973), 
cumprem as três características essenciais que distinguem este tipo de 
conhecimento: 
1º. Tratam do homem e suas manifestações como um todo (visão holística). 
2º. Empregam o método comparativo. 
3º. Levam em conta o conceito de cultura como âmbito próprio do humano. 
 
Esta última característica é também válida para a Antropologia Filosófica, 
pois o conceito de cultura traz intrínseco um conceito de homem (AZCONA, 1988). 
Sem dúvida, a tarefa que se atribui à Antropologia é muito vasta, o que 
facilita a proliferação de subdivisões e paradigmas distintos agrupados sob esta 
denominação comum. Denominou-se a Antropologia como cultural, física, 
econômica, social, aplicada, médica, psicológica, linguística, filosófica, cognitiva, 
8 
 
 
ecológica, hermenêutica, funcional, simbólica, estrutural, entre outras. Cada uma 
destas denominações encerra uma particular forma de entender a Antropologia e 
uma série de atividades, às vezes muito divergentes: observação, medição de ossos 
e fósseis, reflexão, medição de variáveis corporais, entrevistas, escavações, entre 
outras. 
Definir a Antropologia como aquilo que fazem os antropólogos é, como 
vemos, muito difícil, ao menos a princípio. Mais adiante vamos tentar pôr um pouco 
de ordem em todas estas possíveis especializações antropológicas (ESPINA 
BARRIO, 2008). 
 
Marconi e Presotto (2014) completam que, como ciência da humanidade, a 
Antropologia se preocupa em conhecer cientificamente o ser humano em sua 
totalidade, o que lhe confere um tríplice aspecto: 
a) Ciência Social: propõe conhecer o homem enquanto elemento integrante 
de grupos organizados. 
b) Ciência Humana: volta-se especificamente para o homem como um todo 
– sua história, suas crenças, usos e costumes, filosofia, linguagem, entre outros. 
c) Ciência Natural: interessa-se pelo conhecimento psicossomático do 
homem e sua evolução. 
9 
 
 
Relaciona-se, assim, com as chamadas ciências biológicas e culturais; as 
primeiras, visando ao ser físico e as segundas, ao ser cultural. 
Hoebel e Frost (1981, p. 3) definem a Antropologia como 
a ciência da humanidade e da cultura. Como tal, é uma ciência superior 
social e comportamental, e mais, na sua relação com as artes e no 
empenho do antropólogo de sentir e comunicar o modo de viver total de 
povos específicos, é também uma disciplina humanística. 
 
A Antropologia tem uma dimensão biológica, enquanto Antropologia Física; 
uma dimensão sociocultural, enquanto Antropologia Social e/ou Antropologia 
Cultural; e uma dimensão filosófica, enquanto Antropologia Filosófica, ou seja, 
quando se empenha em responder à indagação kentiana que falamos acima: o que 
é o homem? 
Apesar da diversidade dos seus campos de interesse, constitui-se em uma 
ciência polarizadora, que necessita da colaboração de outras áreas do saber, mas 
conserva sua unidade, uma vez que seu foco de interesse é o homem e a cultura. 
Pode-se afirmar que há pouco mais de cem anos, a Antropologia conquistou 
seu lugar entre as ciências. Primeiramente, foi considerada como a história natural 
física do homem e do seu processo evolutivo, no espaço e no tempo. Se, por um 
lado, essa concepção vinha satisfazer ao significado literal da palavra, por outro 
restringia o seu campo de estudo às características humanas físicas. Essa postura 
marcou e limitou os estudos antropológicos por largo tempo, privilegiando a 
antropometria, ciência que trata das mensurações do homem fóssil e do ser vivo 
(MARCONI; PRESOTTO, 2014). 
A Antropologia visa ao conhecimento completo do homem, o que torna suas 
expectativas muito mais abrangentes. Dessa forma, uma conceituação mais ampla a 
define como a ciência que estuda o homem, suas produções e seu comportamento. 
O seu interesse está no homem como um todo – ser biológico e ser cultural –, 
preocupando-se em revelar os fatos da natureza e da cultura. Tenta compreender a 
existência humana em todos os seus aspectos, no espaço e no tempo, partindo do 
princípio da estrutura biopsíquica. Busca também a compreensão das manifestações 
culturais, do comportamento e da vida social. 
 
10 
 
 
2.2 Objeto de estudo e objetivos 
A Antropologia como ciência do biológico e do cultural tem seu objeto de 
estudo definido: o homem e suas obras. 
 
Segundo Beals e Hoijer (1968, p. 5 apud MARCONI; PRESOTTO, 2014), 
“seus problemas se centram, por um lado, no homem como membro do reino animal 
e, por outro, no comportamento do homem como membro de uma sociedade”. 
O objeto da Antropologia engloba as formas físicas primitivas e atuais do 
homem e suas manifestações culturais. Interessa-se, preferencialmente, pelos 
grupos simples, culturalmente diferenciados, e também pelo conhecimento de todas 
as sociedades humanas, letradas ou ágrafas, extintas ou vivas, existentes nas várias 
regiões da Terra. Atribui-se ao antropólogo, a tarefa de proceder a generalizações, 
formulando princípios explicativos da formação e desenvolvimento das sociedades e 
culturas humanas. Exemplo: o estudo do homem fóssil, suas mudanças evolutivas, 
sua anatomia e suas produções culturais. 
Mais adiante, falaremos dos métodos de estudo utilizados pela Antropologia, 
mas de imediato, vale saber que toda investigação antropológica vale-se do método 
comparativo em busca de respostas para uma infinidade de porquês, na tentativa de 
compreender as semelhanças e as diferenças físicas, psíquicas, culturaise sociais 
entre os grupos humanos. Exemplos: brancos e negros; línguas diversificadas; a 
indumentária do índio e do não índio; o culto ao Sol e a presença da pirâmide no 
Egito e nas civilizações pré-colombianas, duas regiões muito distanciadas 
geograficamente. 
11 
 
 
Na ausência de um laboratório experimental, o antropólogo lança mão da 
pesquisa de campo, que lhe fornece os dados desejados e permite testar as 
hipóteses levantadas na observação de situações peculiares. Daí a importância da 
contribuição dos antropólogos de campo, fornecendo o maior número possível de 
estudos sobre grupos humanos, uma vez que cada um deles é o produto de uma 
experiência cultural particular. Exemplos: os Apinajé, estudados por Curt 
Nimuendajú; os Guarani, estudados por Egon Schaden; os Esquimós, pesquisados 
por Franz Boas; e os Samoanos, investigados por Margaret Mcad. 
Índios Guaranis 
 
Samoanos 
 
 
12 
 
 
Esquimós 
 
Hoebel e Frost (1981, p. 3-4) afirmam que a “Antropologia fixa como seu 
objetivo o estudo da humanidade como um todo [...]” e nenhuma outra ciência 
pesquisa sistematicamente todas as manifestações do ser humano e da atividade 
humana de maneira tão unificada. 
É um objetivo extremamente amplo, visando ao homem como expressão 
global – biopsicocultural –, isto é, o homem como ser biológico pensante, produtor 
de culturas e participante da sociedade, tentando chegar, assim, à compreensão da 
existência humana (MARCONI; PRESOTTO, 2014). 
 
2.3 Divisão e campos de atuação 
Assim como tem objetivo amplo, a Antropologia, sendo a ciência da 
humanidade e da cultura, tem um campo de investigação extremamente vasto: 
abrange, no espaço, toda a terra habitada; no tempo, pelo menos dois milhões de 
anos e todas as populações socialmente organizadas (MARCONI; PRESOTTO, 
2014). 
Divide-se em dois grandes campos de estudo, com objetivos definidos e 
interesses teóricos próprios: Antropologia Física ou Biológica e Antropologia 
Cultural, a ser visto adiante. 
 
13 
 
 
2.4 O trabalho do antropólogo 
Olhar – ouvir – escrever resumem bem o trabalho desse profissional que 
precisa estar atento a detalhes, a entrelinhas para saber descrever a realidade dos 
fatos seja ela presente ou passado. 
Não nos alongaremos, mas sugerimos a leitura do livro O trabalho do 
Antropólogo (2006), de Roberto Cardoso de Oliveira, que nos envolve em cada 
página dessa obra que traduz muito bem ao que veio. 
Realmente, olhar-ouvir-escrever são as etapas mais estratégicas da 
produção do conhecimento antropológico como o próprio Oliveira (2006, p. 19-33) 
explica. A seguir, uma parte do seu trabalho: 
Talvez a primeira experiência de pesquisador de campo – ou no campo – 
esteja na domesticação teórica de seu olhar. Isso porque, a partir do momento em 
que nos sentimos preparados para a investigação empírica, o objeto, sobre o qual 
dirigimos o nosso olhar, já foi previamente alterado pelo próprio modo de visualizá-
lo. Seja qual for esse objeto, ele não escapa de ser apreendido pelo esquema 
conceitual da disciplina formadora de nossa maneira de ver a realidade. Esse 
esquema conceitual – disciplinadamente apreendido durante o nosso itinerário 
acadêmico, daí o termo disciplina para as matérias que estudamos –, funciona como 
uma espécie de prisma por meio da qual a realidade observada sofre um processo 
de refração – se me é permitida a imagem. É certo que isso não é exclusivo do 
olhar, uma vez que está presente em todo processo de conhecimento, envolvendo, 
portanto, todos os atos cognitivos em seu conjunto. Contudo, é certamente no olhar 
que essa refração pode ser melhor compreendida. A própria imagem ótica – refração 
– chama a atenção para isso. 
Imaginemos um antropólogo no início de uma pesquisa junto a um 
determinado grupo indígena, entrando em uma maloca, uma moradia de uma ou 
mais dezenas de indivíduos, sem ainda conhecer uma palavra do idioma nativo. 
Essa moradia de tão amplas proporções e de estilo tão peculiar, como, por exemplo, 
as tradicionais casas coletivas dos antigos Tükúna, do alto rio Solimões, no 
Amazonas, teriam o seu interior imediatamente vasculhado pelo “olhar etnográfico”, 
por meio do qual toda a teoria que a disciplina dispõe relativamente às residências 
indígenas passaria a ser instrumentalizada pelo pesquisador, isto é, por ele referida. 
14 
 
 
Nesse sentido, o interior da maloca não seria visto com ingenuidade, como 
uma mera curiosidade diante do exótico, porém com um olhar devidamente 
sensibilizado pela teoria disponível. Ao basear-se nessa teoria, o observador bem 
preparado, como etnólogo, iria olhá-la como objeto de investigação previamente 
construído por ele, pelo menos em uma primeira prefiguração: passará, então, a 
contar os fogos – pequenas cozinhas primitivas –, cujos resíduos de cinza e carvão 
irão indicar que, em torno de cada um, estiveram reunidos não apenas indivíduos, 
porém pessoas, portanto seres sociais, membros de um único “grupo doméstico”; o 
que lhe dará a informação subsidiária que pelo menos nessa maloca, de 
conformidade com o número de fogos, estaria abrigada uma certa porção de grupos 
domésticos, formados por uma ou mais famílias elementares e, eventualmente, de 
indivíduos “agregados” – originários de outro grupo tribal. Conhecerá, igualmente, o 
número total de moradores – ou quase – contando as redes penduradas nos 
mourões da maloca dos membros de cada grupo doméstico. Observará, também, as 
características arquitetônicas da maloca, classificando-a segundo uma tipologia de 
alcance planetário sobre estilos de residências, ensinada pela literatura etnológica 
existente [...]. 
Contudo, o olhar não é suficiente... 
Como alcançar, apenas pelo olhar, o significado dessas relações sociais 
sem conhecermos a nomenclatura do parentesco, por meio da qual poderemos ter 
acesso a um dos sistemas simbólicos mais importantes das sociedades ágrafas e 
sem o qual não nos será possível prosseguir em nossa caminhada? O domínio das 
teorias de parentesco pelo pesquisador torna-se, então, indispensável. Para se 
chegar, entretanto, à estrutura dessas relações sociais, o etnólogo deverá se valer, 
preliminarmente, de outro recurso de obtenção dos dados. Vamos nos deter um 
pouco no ouvir. 
Cremos necessário mencionar que o exemplo indígena – tomado como 
ilustração do olhar etnográfico – não pode ser considerado incapaz de gerar 
analogias com outras situações de pesquisa, com outros objetos concretos de 
investigação. O sociólogo ou o politólogo, por certo, terá exemplos tanto ou mais 
ilustrativos para mostrar o quanto a teoria social pré-estrutura o nosso olhar e 
sofistica a nossa capacidade de observação. Entretanto, Oliveira julgou que 
exemplos bem simples são geralmente os mais inteligíveis, e como a Antropologia é 
15 
 
 
sua disciplina, continua a valer-se de seus ensinamentos e de sua própria 
experiência, na esperança de proporcionar uma boa noção dessas etapas 
aparentemente corriqueiras da investigação científica. Portanto, se o olhar possui 
uma significação específica para um cientista social, o ouvir também goza dessa 
propriedade. 
Evidentemente, tanto o ouvir como o olhar não podem ser tomados como 
faculdades totalmente independentes no exercício da investigação. Ambos 
complementam-se e servem para o pesquisador como duas muletas – que não nos 
percamos com essa metáfora tão negativa – que lhe permitem caminhar, ainda que 
tropegamente, na estrada do conhecimento. A metáfora, propositalmente utilizada, 
permite lembrar que a caminhada da pesquisa é sempre difícil, sujeita a muitas 
quedas. É nesse ímpeto de conhecer que o ouvir, complementando o olhar, participadas mesmas precondições desse último, na medida em que está preparado para 
eliminar todos os ruídos que lhe pareçam insignificantes, isto é, que não façam 
nenhum sentido no corpus teórico de sua disciplina ou para o paradigma no interior 
do qual o pesquisador foi treinado. 
Imaginemos uma entrevista por meio da qual o pesquisador pode obter 
informações não alcançáveis pela estrita observação. Sabemos que autores como 
Radcliffe-Brown sempre recomendaram a observação de rituais para estudarmos 
sistemas religiosos. Para ele, “no empenho de compreender uma religião, devemos 
primeiro concentrar atenção mais nos ritos que nas crenças”. O que significa dizer 
que a religião podia ser mais rigorosamente observável na conduta ritual por ser 
essa “o elemento mais estável e duradouro”, se a compararmos com as crenças. 
Porém, isso não quer dizer que mesmo essa conduta, sem as ideias que a 
sustentam, jamais poderia ser inteiramente compreendida. Descrito o ritual, por meio 
do olhar e do ouvir – suas músicas e seus cantos –, faltava-lhe a plena 
compreensão de seu sentido para o povo que o realizava e sua significação para o 
antropólogo que o observava em toda sua exterioridade. Por isso, a obtenção de 
explicações fornecidas pelos próprios membros da comunidade investigada 
permitiria obter aquilo que os antropólogos chamam de “modelo nativo”, matéria-
prima para o entendimento antropológico. Tais explicações nativas só poderiam ser 
obtidas por meio da entrevista, portanto, de um ouvir todo especial. Contudo, para 
isso, há de se saber ouvir. 
16 
 
 
Se, aparentemente, a entrevista tende a ser encarada como algo sem 
maiores dificuldades, salvo, naturalmente, a limitação linguística – isto é, o fraco 
domínio do idioma nativo pelo etnólogo –, ela torna-se muito mais complexa quando 
consideramos que a maior dificuldade está na diferença entre “idiomas culturais”, a 
saber, entre o mundo do pesquisador e o do nativo, esse mundo estranho no qual 
desejamos penetrar. 
De resto, há de se entender o nosso mundo, o do pesquisador, como sendo 
Ocidental, constituído minimamente pela sobreposição de duas subculturas: a 
brasileira, pelo menos no caso da maioria do público leitor; e a antropológica, no 
caso particular daqueles que foram treinados para se tornarem profissionais da 
disciplina. E é o confronto entre esses dois mundos que constitui o contexto no qual 
ocorre a entrevista. É, portanto, em um contexto essencialmente problemático que 
tem lugar o nosso ouvir. Como poderemos, então, questionar as possibilidades da 
entrevista nessas condições tão delicadas? 
Fazendo prevalecer uma relação dialógica, criando um espaço semântico 
partilhado por ambos interlocutores, graças ao qual pode ocorrer aquela “fusão de 
horizontes” – como os hermeneutas chamariam esse espaço –, desde que o 
pesquisador tenha a habilidade de ouvir o nativo e por ele ser igualmente ouvido, 
encetando formalmente um diálogo entre “iguais”, sem receio de estar, assim, 
contaminando o discurso do nativo com elementos de seu próprio discurso. Mesmo 
porque, acreditar ser possível a neutralidade idealizada pelos defensores da 
objetividade absoluta, é apenas viver em uma doce ilusão. Ao trocarem ideias e 
informações entre si, etnólogo e nativo, ambos igualmente guindados a 
interlocutores, abrem-se a um diálogo em tudo e por tudo superior, 
metodologicamente falando, à antiga relação pesquisador/informante. O ouvir ganha 
em qualidade e altera uma relação, qual estrada de mão única, em uma outra de 
mão dupla, portanto, uma verdadeira interação. 
Se o olhar e o ouvir podem ser considerados como os atos cognitivos mais 
preliminares no trabalho de campo – atividade que os antropólogos designam pela 
expressão inglesa fieldwork –, é, seguramente, no ato de escrever, portanto na 
configuração final do produto desse trabalho, que a questão do conhecimento torna-
se tanto ou mais crítica [...]. 
17 
 
 
Devemos entender por escrever o ato exercitado por excelência no gabinete, 
cujas características o singularizam de forma marcante, sobretudo quando o 
compararmos com o que se escreve no campo, seja ao fazermos nosso diário, seja 
nas anotações que rabiscamos em nossas cadernetas. 
É um momento, fora do campo, no qual o antropólogo exerce sua mais alta 
função cognitiva porque está longe do fenômeno sociocultural observado e precisa 
textualizar fidedignamente. 
Se o olhar e o ouvir constituem a nossa percepção da realidade focalizada 
na pesquisa empírica, o escrever passa a ser parte quase indissociável do nosso 
pensamento, uma vez que o ato de escrever é simultâneo ao ato de pensar e é no 
processo de redação de um texto que nosso pensamento caminha, encontrando 
soluções que dificilmente aparecerão antes da textualização dos dados provenientes 
da observação sistemática. Assim sendo, seria um equívoco imaginar que, primeiro, 
chegamos a conclusões relativas a esses mesmos dados, para, em seguida, 
podermos inscrever essas conclusões no texto, portanto, dissociando-se o pensar 
do escrever. 
Pela experiência de Oliveira, o ato de escrever e o de pensar são de tal 
forma, solidários entre si que, juntos, formam praticamente um mesmo ato cognitivo. 
Isso significa que, nesse caso, o texto não espera que seu autor tenha primeiro 
todas as respostas para, só então, poder ser iniciado. Para ele, na elaboração de 
uma boa narrativa, o pesquisador, de posse de suas observações devidamente 
organizadas, inicia o processo de textualização – uma vez que essa não é apenas 
uma forma escrita de simples exposição, pois há também a forma oral –, 
concomitante ao processo de produção do conhecimento. Não obstante, sendo o ato 
de escrever um ato igualmente cognitivo, esse ato tende a ser repetido quantas 
vezes for necessário; portanto, ele é escrito e reescrito repetidamente, não apenas 
para aperfeiçoar o texto do ponto de vista formal, quanto para melhorar a veracidade 
das descrições e da narrativa, aprofundar a análise e consolidar argumentos. 
Isso, por si só, não caracteriza o olhar, o ouvir e o escrever antropológicos, 
pois está presente em toda e qualquer escrita no interior das ciências sociais. 
Contudo, no que tange à Antropologia, esses atos estão previamente 
comprometidos com o próprio horizonte da disciplina, em que olhar, ouvir e escrever 
estão desde sempre sintonizados com o sistema de ideias e valores que são 
18 
 
 
próprios da disciplina. O quadro conceitual da Antropologia abriga, nesse sentido, 
ideias e valores de difícil separação. 
Enfim, os atos de olhar e de ouvir são, a rigor, funções de um gênero de 
observação muito peculiar – isto é, peculiar à Antropologia –, por meio da qual o 
pesquisador busca interpretar – ou compreender – a sociedade e a cultura do outro 
“de dentro”, em sua verdadeira interioridade. Ao tentar penetrar em formas de vida 
que lhe são estranhas, a vivência que delas passa a ter cumpre uma função 
estratégica no ato de elaboração do texto, uma vez que essa vivência – só 
assegurada pela observação participante “estando lá” – passa a ser evocada 
durante toda a interpretação do material etnográfico no processo de sua inscrição no 
discurso da disciplina. Os dados contidos no diário e nas cadernetas de campo 
ganham em inteligibilidade sempre que rememorados pelo pesquisador; o que 
equivale dizer, que a memória constitui provavelmente o elemento mais rico na 
redação de um texto, contendo ela mesma uma massa de dados cuja significação é 
melhor alcançável quando o pesquisador a traz de volta do passado, tornando-a 
presente no ato de escrever (OLIVEIRA, 2006, p. 19-33). 
19 
 
 
UNIDADE 3 – DIVISÕES E CAMPOS DA ANTROPOLOGIA 
 
Brito (2007);Marconi e Presotto (2014) e vários outros estudiosos da área 
citam dois grandes ramos que podemos dividir a Antropologia: Física ou Biológica e 
Sociocultural, mas cada uma delas abrigando diversas correntes de pensamento. 
Com este entendimento, Mello (2003, p. 36-37) assinala que: 
a Antropologia física estuda os aspectos biológicos do homem, misto de 
história natural e ciência natural do homem. [... Enquanto], a Antropologia 
cultural é o nome que se dá ao outro grande ramo da Antropologia geral. O 
campo dessa disciplina especial é vastíssimo, pois ela se propõe estudar a 
obra humana. Ora, essa obra que se denomina cultura é este conjunto 
complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, lei, costumes e 
quaisquer outras capacidades e hábitos adquiridos pelo homem enquanto 
membro da sociedade. 
 
Deste modo, enquanto a Antropologia Física trata da evolução biológica e da 
adaptação fisiológica dos seres humanos, a Antropologia Social ou Cultural se 
ocupa das formas das pessoas viverem em sociedade, ou seja, das dinâmicas 
culturais, com suas respectivas línguas, costumes, valores e tradições. 
 
3.1 Antropologia Física ou Biológica 
A Antropologia Física se ocupa principalmente da evolução do homem, a 
Biologia Humana e o estudo de outros primatas, aplicando métodos de pesquisa 
utilizados nas ciências naturais1. A Biologia Humana é um dos ramos importantes da 
Antropologia Física e constitui o estudo dos povos contemporâneos e de seus 
diferentes traços biológicos. Grande parte dos estudos e discussões antigas se 
concentrou na identificação, no número e nas características das chamadas “raças 
principais”. 
Na medida em que se foram desenvolvendo técnicas mais sofisticadas para 
medir a cor da pele e dos olhos, a textura do cabelo, o tipo sanguíneo, a capacidade 
craniana e outras variáveis, a classificação das raças se tornou muito mais 
sofisticada e complexa. Vale ressaltar que os teóricos atuais sustentam a concepção 
 
1 As ciências naturais têm como principal objetivo o estudo da natureza. Nas ciências naturais são 
estudados os aspectos físicos e não humanos do mundo. São exemplos de ciências naturais: 
Astronomia, Biologia (Botânica e Zoologia), Física, Geografia Física, Geologia e Química. 
20 
 
 
de que qualquer ideia sobre as denominadas “raças puras” ou “modelos originais 
ancestrais” é enganosa e errônea. 
Todos os seres humanos atuais são Homo Sapiens Sapiens e descendem 
dos mesmos originais universais e complexos. Na verdade, os traços genéticos 
sempre variam com a geografia, segundo a resposta biológica de sua adaptação ao 
meio, mas em cada região, a herança genética produz uma gama de variedades de 
tipos e combinações intermediárias. Portanto, a tentativa de associação de pessoas 
a categorias segundo possíveis raças, é mais um recurso que busca camuflar a 
realidade por meio de falaciosas explicações sociais, econômicas, políticas ou 
ideológicas, mas que não tem uma sustentação científico-biológica. Daí talvez se 
possa concluir que os qualificativos “asiático”, “negro”, “hispânico” ou “branco” 
obedecem a definições sociais que comportam uma grande mistura de 
características genéticas e culturais (BRITO, 2007). 
Com o avanço das ciências e ajuda de outros especialistas, os antropólogos 
concentram suas atenções nos complexos moldes da genética humana, estudam a 
interação das adaptações genéticas, bem como os ajustamentos e acomodações 
não genéticas, fisiológicas e culturais, com relação às doenças, à desnutrição e à 
pressão do meio, assim como as grandes altitudes e os climas quentes. 
Os antropólogos, por exemplo, com ajuda de médicos especialistas em 
nutrição, passaram a combinar os enfoques biológicos e genéticos com dados 
culturais e sociais, seja para estudar doenças como a hipertensão e a diabetes ou 
para investigar o crescimento e/ou desenvolvimento dos grupos sociais em 
diferentes condições de alimentação e saúde. 
Estas são as subáreas apresentadas por Marconi e Presotto (2014): 
a) Paleontologia Humana: a Paleontologia (palaios, antigo; onto, ser; logos, 
estudo) Humana ou Paleoantropologia estuda a origem e a evolução humana 
através do conhecimento das formas fósseis do passado, intermediárias entre os 
primatas e o homem moderno. 
b) Somatologia: a Somatologia (somato, corpo humano; logos, estudo) 
descreve variedades existentes do homem, diferenças físicas individuais e 
diferenças sexuais (tipos sanguíneos, metabolismo basal, adaptação, entre outras). 
21 
 
 
c) Raciologia: a Raciologia (raça, etnia; logos, estudo) interessa-se pela 
história racial do homem, preocupando-se com a classificação da espécie humana 
em raças, com a miscigenação (mistura de raças), características físicas, entre 
outras. 
d) Antropometria: a Antropometria (anthropos, homem; metria, medida) usa 
as técnicas de medição, procedimento quantitativo que fornece medidas do corpo 
humano (crânio, ossos, entre outros), elaboradas por instrumentos especiais. Entre 
eles o antropômetro, largamente utilizado. 
 
 
e) Estudos comparativos do crescimento: recentemente, os somatólogos 
ampliaram seu campo de estudo, no sentido de conhecer as diferenças grupais 
relacionadas aos índices de crescimento e a outros aspectos correlatos – 
alimentação, exercícios físicos, maturidade sexual, entre outros. 
 
3.2 Antropologia Social e Cultural 
 A Antropologia Cultural, um dos ramos em que se divide esta ciência, 
estuda as inúmeras culturas e povos existentes no mundo, com o objetivo de 
conhecer e comparar as suas semelhanças e diferenças, bem como as influências e 
os intercâmbios de aspectos/dimensões culturais. 
22 
 
 
Grande parte da investigação antropológica se baseia em pesquisas de 
campo realizadas com diferentes culturas, com o objetivo de observar, por exemplo, 
os ritos, as cerimônias, os símbolos, os valores e as mudanças, entre outros 
aspectos. 
Os estudiosos reconhecem também que a Antropologia Cultural pode ser 
subdividida em: Arqueologia, Etnografia, Etnologia, Linguística e Folclore. 
a) Arqueologia 
A Arqueologia (archaíos, antigo; logos, estudo) tem como objeto de estudo 
as culturas do passado, extintas, que, em épocas remotas, desenvolveram formas 
culturais, representando fases da humanidade não registradas em documentos 
escritos. Trata-se da tentativa de reconstrução do passado por meio da busca de 
vestígios e restos materiais não perecíveis e resistentes à destruição através do 
tempo. Cabe ao arqueólogo desenvolver técnicas adequadas para o trabalho de 
escavação e coleta de material que, devidamente interpretado, possibilitará a 
reconstrução dos fatos do passado (MARCONI; PRESOTTO, 2014). 
A Arqueologia, por sua vez, divide-se em: 
a) Arqueologia Clássica: tenta reconstruir as antigas civilizações letradas 
(Egito, Grécia, Mesopotâmia, Etrúria, entre outras). 
b) Antropologia Arqueológica: trata dos primórdios da cultura, relativa às 
populações extintas (culturas do Paleolítico, Mesolítico e Neolítico). 
b) Etnografia 
A Etnografia (éthnos, povo; graphein, escrever) consiste em um dos ramos 
da ciência da cultura que se preocupa com a descrição das sociedades humanas. 
Lévi-Strauss (1967, p. 14 apud MARCONI; PRESOTTO, 2014) define-a de modo 
mais preciso e objetivo. Para ele, a Etnografia 
consiste na observação e análise de grupos humanos considerados em sua 
particularidade (frequentemente escolhidos, por razões teóricas e práticas, 
mas que não se prendem de modo algum à natureza da pesquisa, entre 
aqueles que mais diferem do nosso), e visando à reconstituição, tão fiel 
quanto possível, da vida de cada um deles. 
 
Mello (2003) também cita Claude Lévi-Strauss,para o qual a Etnografia 
“corresponde aos primeiros estágios da pesquisa”, ou seja, é a especialidade da 
23 
 
 
Antropologia que tem por objetivo o estudo e a descrição dos povos, sua língua, 
raça, religião, e manifestações materiais de suas atividades. Ele considera ainda a 
Etnografia como parte ou disciplina integrante da Etnologia que visa à descrição da 
cultura de um determinado povo, em áreas como o sexo, a morte, ou a produção de 
bens. 
Desse modo, segundo esta corrente teórica, pode-se dizer que a Etnografia 
estuda preponderantemente os padrões mais previsíveis do pensamento e 
comportamento humanos manifestos em sua rotina diária, ou seja, as atividades 
humanas como os fatos e/ou eventos menos previsíveis ou manifestados 
particularmente em determinado contexto interativo entre as pessoas ou grupos. [...] 
O objetivo é documentar, monitorar, encontrar o significado da ação (MATTOS, 
2001). 
No Brasil, a Etnografia é também conhecida como pesquisa social 
ou observação participante e compreende o estudo antropológico sistemático, 
baseado em trabalhos de campo, nos quais os pesquisadores realizam, por certos 
períodos de tempo, as observações diretas e as descrições das formas costumeiras 
de viver de grupos particulares de pessoas. 
Para Mello (2003, p. 39), a 
Etnografia engloba também os métodos e as técnicas que se relacionam 
como trabalho de campo, com a classificação, descrição e análise dos 
fenômenos culturais particulares (quer se trate de armas, instrumentos, 
crenças ou instituições). 
 
Em face disso, assumem importância ímpar as técnicas de registro e a 
documentação. Estes recursos podem, com o uso da técnica de observação 
participante, possibilitar que os pesquisadores tomem parte de situações ou fatos e 
os interprete sistemática e cientificamente até que adquiram significado (BRITO, 
2007). 
O objeto de estudo da Etnografia centra-se nas culturas simples, conhecidas 
como “primitivas” ou ágrafas. São as chamadas sociedades de linhagem e 
segmentarias. São grupos humanos que se opõem às sociedades complexas ou 
civilizadas. Também estas podem constituir-se em foco de atenção do etnógrafo, 
como, por exemplo, o interesse no estudo de sociedades rurais. As sociedades 
simples encontram-se, ainda hoje, espalhadas pela Terra, cada uma desenvolvendo 
24 
 
 
uma cultura específica. Algumas já desapareceram; outras estão em contato com o 
mundo exterior, em processo de mudança; poucas se conservam isoladas. 
Exemplos: “Primitivos” dos Estados Unidos, Canadá, Austrália, África. No 
Brasil, em 1957, dos 143 grupos tribais existentes, 33 estavam ainda isolados, 276 
em contato esporádico, 45 em contato permanente e 38 integrados à sociedade 
nacional (RIBEIRO, 1957 apud MARCONI; PRESOTTO, 2014). 
O etnógrafo é o especialista dedicado ao conhecimento exaustivo da cultura 
material e imaterial dos grupos. Observa e descreve, analisa e reconstitui culturas. 
Trata-se de um investigador de campo dedicado à coleta do material referente a 
todos os aspectos culturais passíveis de ser observados e descritos – primeiro 
passo da pesquisa antropológica. Relaciona-se intimamente com a Etnologia, de tal 
forma que o pesquisador deve ser, ao mesmo tempo, etnógrafo e etnólogo. 
Segundo Brito (2007), na primeira metade do século XX, grande parte dos 
estudos estava orientada a registrar os diferentes estilos de vida de determinadas 
culturas que ainda não tinham experimentado a influência dos processos da 
chamada modernização e/ou ocidentalização. Foram realizadas muitas pesquisas de 
campo (Etnografias) baseadas na descrição da produção de alimentos, da 
organização social, da religião, das diferentes formas de vestir, da cultura material, 
da linguagem e de outros aspectos das diversas culturas. As análises comparativas 
destas descrições etnográficas, que constituem generalizações mais amplas de 
esquemas e dinâmicas culturais, continuam sendo os objetos de estudo da 
etnologia. 
c) Etnologia 
A Etnologia (éthnos, povo; logos, estudo) é outro ramo da ciência da cultura, 
cujos pesquisadores utilizam os dados coletados e oferecidos pelo etnógrafo. 
Em seu aspecto teórico, a Etnologia se dedica ao estudo comparativo e 
sistemático da variedade de povos, ou seja, ao problema de explicar as 
semelhanças e diferenças entre as culturas, analisando o desenvolvimento histórico 
de uma determinada cultura e a sua relação com as outras (MELLO, 2003). 
Esse processo permite a incorporação de novas perspectivas e marcos 
teóricos, como por exemplo, o papel do indivíduo na sociedade, bem como a 
25 
 
 
personalidade de um sujeito e a sua relação com esta sociedade. No entanto, os 
antropólogos também fazem Etnografias. Mas o que vem a ser Etnografia? 
A partir da Etimologia, verifica-se que “grafia” vem do grego graf(o), que 
significa escrever sobre, escrever sobre um tipo particular, enquanto a palavra etn(o) 
indica uma sociedade em particular. No que se refere à nomenclatura, o uso de 
diferentes termos para descrever os campos da Antropologia apresenta variações de 
acordo com as tradições das academias europeias e estadunidenses. O que 
geralmente é chamado de “Antropologia Cultural” nos Estados Unidos; na França se 
reconhece como “Etnologia”; e na Grã-Bretanha, como “Antropologia Social”. No 
caso do Brasil, o termo “Antropologia Cultural” sofreu influências do antropólogo 
Gilberto Freire que estudou com Franz Boas2 na Universidade de Columbia, Estados 
Unidos. Mas na academia brasileira há também influências da nomenclatura 
britânica de Antropologia Social. 
Durante a segunda metade do século XX, a Etnologia (que hoje é conhecida 
como Antropologia Cultural) começou a relacionar seu campo de estudo com o da 
Antropologia Social, desenvolvida por cientistas britânicos e franceses. Em um breve 
período se debateu intensamente se a Antropologia deveria ocupar-se do estudo 
dos sistemas sociais ou de análises comparativas das culturas. 
O nome atual de Antropologia Sociocultural decorre da conclusão dos 
antropólogos atuais, de que as investigações das formas de vida e das culturas 
quase sempre estão relacionadas. Assim, a Etnologia é uma parte mais complexa 
da Antropologia, na qual se realizam estudos comparados de povos ou grupos de 
pessoas com características diferentes (BRITO, 2007). 
Segundo Lévi-Strauss (1967, p. 396 apud MARCONI; PRESOTTO, 2014), 
 
 
 
2 Franz Boas (1858-1942), antropólogo alemão, estabeleceu-se nos EUA e lecionou na Universidade 
de Colúmbia, em Nova York, onde contribuiu para a criação de um dos principais centros de 
pesquisas antropológicas das Américas. Como antropólogo, Boas procurou salientar a grande 
variedade de formas culturais existentes, colocando como a tarefa da Antropologia descobrir, entre as 
variedades do comportamento humano, quais são comuns a toda a humanidade. Ele foi o fundador 
da moderna Antropologia Cultural, que contrapunha as teorias evolucionistas e racistas ainda 
dominantes no início do século XX a uma perspectiva relativizadora, centrada na noção de cultura. 
Este estudioso apontava que cada cultura é uma unidade integrada, fruto de um desenvolvimento 
histórico peculiar. Franz Boas foi um dos pioneiros da pesquisa de campo como método privilegiado 
para o estudo das diferentes culturas (BRITO, 2007). 
26 
 
 
 
Etnografia, Etnologia e Antropologia não constituem três disciplinas 
diferentes ou três concepções diferentes dos mesmos estudos. São, de fato, 
três etapas ou três momentos de uma mesma pesquisa, e a preferência por 
este ou aqueles destes termos exprime somente uma atenção 
predominante voltada para um tipo de pesquisa que não poderia nuncaser 
exclusivo dos dois outros. 
 
d) Linguística 
De todos os ramos da Antropologia Cultural, a Linguística é o mais 
autossuficiente, em função da independência que envolve o seu conhecimento. A 
linguagem é um meio de comunicação e também um instrumento de pensamento. A 
grande diversidade de línguas acompanha a grande variedade de culturas, cada 
uma delas com suas formas e estruturas básicas definidas. 
Exemplo: línguas indígenas brasileiras (Curt Nimuendajú, em 1981, 
relacionou 40 famílias linguísticas). 
e) Folclore 
O folclore também é um dos campos de investigação da Antropologia 
Cultural, definindo-se como o estudo da cultura espontânea dos grupos humanos 
rurais ou urbanizados. É uma ciência Socioantropológica, uma vez que se dedica ao 
estudo de determinados aspectos da cultura humana. Preocupa-se com os fatos da 
cultura material e espiritual que, originados espontaneamente, permanecem no seio 
do povo, tendo determinada função. 
O folclore, sendo uma disciplina autônoma, tem seus próprios métodos e 
técnicas de pesquisa científica. Estuda os fenômenos em sua dimensão espacial e 
temporal. Mesmo gozando desta autonomia, é considerado ramo da Antropologia, 
pela identidade de interesses (o homem e a cultura) desses dois campos de 
conhecimento (MARCONI; PRESOTTO, 2014). 
Exemplos: folguedos populares, danças, artesanato, linguagem, 
alimentação, canções, entre outros. 
 
Guarde... 
São muitas as divisões da Antropologia, mas quase todas se concebem de 
uma bipartição emanada presumivelmente do mesmo ser humano em sua dupla 
dimensão de ser natural (corpóreo e biológico) e ser de cultura (civilizado, 
27 
 
 
simbólico). Traduzem-se aqui clássicas dicotomias (natureza-cultura, biologia-
sociedade, entre outras). 
Uma Antropologia se ocupará do polo natural (Antropologia Física) e outra 
do Sociocultural-simbólico (Antropologia Cultural ou Etnologia). Naturalmente que a 
essas duas divisões empíricas do saber sobre o homem deve-se somar a 
especulativa, própria da Antropologia Filosófica. 
Portanto, podemos definir a Antropologia Física (ou Biológica) como o 
estudo do homem enquanto organismo vivo, atendendo, além disso, a sua evolução 
biológica dentro das espécies animais. 
Quer dizer que o antropólogo físico tem que se ocupar da origem e evolução 
do homem (processo de hominização) e das diferenças físicas que se dão entre os 
seres humanos, da variação genética e das adaptações fisiológicas do homem 
frente aos diversos ambientes. Para isso, conta com uma série de estudos e de 
áreas de especialização: Primatologia (estudo dos primatas, grupo animal próximo 
ao homem), Paleoantropologia (estudo da evolução humana através dos fósseis), 
Antropomorfologia (anatomia comparada de diversos tipos e raças humanas), 
Genética Antropológica, Ecologia Humana, entre outras. 
A atividade concreta destes cientistas costuma consistir em trabalhos 
próximos da Arqueologia, recolhimento de fósseis, Antropometria (medição de 
partes corporais humanas, especialmente, o crânio – craniometria) e, ultimamente, 
análises mais sofisticadas relativas às características serológicas, genéticas ou 
fisiológicas e sua relação com o ambiente. 
 
28 
 
 
Por outro lado, podemos definir a Antropologia Cultural como o estudo e 
descrição dos comportamentos aprendidos que caracterizam os diferentes grupos 
humanos. O antropólogo cultural (ou sociocultural, como é costume denominar-se 
hoje em dia) tem que se ocupar das obras materiais e sociais que o homem criou 
através de sua história e que lhe permitiram fazer frente a seu meio ambiente e 
relacionar-se com seus congêneres. Também na Antropologia Cultural há várias 
subdivisões: a Arqueologia, quando estuda os vestígios materiais de culturas que 
não contaram com testemunhos escritos (ESPINA BARRIO, 2008). 
A Linguística Antropológica (ou Etnolinguística), que se ocupa de todas as 
línguas passadas e presentes, com seus dois enfoques principais: estrutural e 
genético. A linguagem é uma parte da cultura e pode esclarecer muitos aspectos da 
história da cultura e da mudança cultural. 
29 
 
 
 
 
30 
 
 
O resto da Antropologia Cultural, precisamente sua parte mais substancial e 
genuína, está compreendido sob o rótulo de Etnologia Geral (estudo dos povos) e, 
segundo o enfoque que siga, será denominada de Etnografia (se descrever as 
formas de vida de determinados grupos sociais); Etnologia (se enfatiza a 
comparação de culturas, a reconstrução da história das culturas ou o tema da 
mudança cultural) ou Antropologia Social (que também compara as culturas, mas de 
modo a estabelecer generalizações acerca da ligação sociedades humanas-grupos 
sociais) (ESPINA BARRIO, 2008). 
A Etnografia (escrever sobre os povos): 
x é a disciplina mais próxima dos dados empíricos e a primeira que praticaram 
os antropólogos culturais; 
x prepondera nela o enfoque descritivo e utiliza como técnica de coleta de 
dados o trabalho de campo, principalmente, e as contribuições arqueológicas; 
x é a base de toda a Antropologia cultural, pois proporciona os elementos sobre 
os quais vão trabalhar os demais teóricos. 
A Etnologia: 
x vai além da descrição e pretende comparar, analisar as constantes e variáveis 
que se dão entre as sociedades humanas, e estabelecer generalizações e 
reconstruções da história cultural. 
A Antropologia Social: 
x refere-se a problemas relativos à estrutura social – relações entre pessoas e 
grupos, instituições sociais, como a família, o parentesco, as associações 
políticas, entre outros; 
x aqui a perspectiva é mais sincrônica que diacrônica. 
 
A Linguística trata de um aspecto restrito da cultura que é a linguagem. 
A Arqueologia pré-histórica também se reveste de significação para a 
Antropologia Geral (MELLO, 2003, p. 38). 
31 
 
 
Segundo essa perspectiva, o campo antropológico se desdobra nas 
seguintes divisões que, salvo diferenças terminológicas, já podem ser consideradas 
clássicas: 
 
Fonte: ESPINA BARRIO (2008). 
 
Mas, evidentemente que a Antropologia se comunica com outras disciplinas, 
trocando experiências e conhecimentos. 
Como diz Espina Barrio (2008), as disciplinas assinaladas não são as únicas 
que na atualidade desenvolvem campos interdisciplinares como o da Etno-História 
(reconstrução do passado cultural através de documentos escritos) ou o da 
Antropologia Psiquiátrica (cujo tema central é o das relações entre a cultura e a 
doença mental), matérias novas que estão assinalando o caminho deste 
conhecimento holístico que é o antropológico. 
Não há perigo de dissolução da disciplina nos demais saberes humanísticos 
(Psicologia, Psiquiatria, Medicina, Sociologia, História, Psicanálise, Semiótica, entre 
32 
 
 
outros), mas pode resultar numa confluência fecunda de interesses e uma 
comparação de resultados muito necessária, como mostra o quadro abaixo: 
 
Fonte: ESPINA BARRIO (2008). 
 
Relação da Antropologia com outras ciências: 
Como ciência social, a Antropologia oferece e recebe dados teóricos e 
metodológicos da Sociologia, da História, da Psicologia, da Geografia, da Economia 
e da Ciência Política. Como ciência biológica ou natural, liga-se à Biologia, à 
Genética, à Anatomia, à Fisiologia, à Embriologia, à Medicina. 
Também a Geologia, a Zoologia, a Botânica, a Química e a Física vêm 
oferecendo indispensável contribuição aos estudos antropológicos na busca da 
compreensão dos problemas comuns a todas essas disciplinas. 
A Antropologia, considerada a mais jovem das ciências, teve de aguardar o 
desenvolvimento dos conhecimentos ligados à Geologia, à Genética, à Biologia, à 
Sociologia para que se pudessedesenvolver. Pode-se afirmar que, somente após os 
conhecimentos da célula e da evolução terem sido formulados e aplicados ao 
33 
 
 
homem, é que a Antropologia se sistematizou e progrediu como ciência do homem 
(MARCONI; PRESOTTO, 2014). 
Mantêm relações interdisciplinares mais íntimas com as ciências que 
centram seu interesse, especificamente no estudo do homem e que emprestam a 
ela os dados pesquisados e acumulados em relação a todos os aspectos da 
existência humana: Sociologia, Psicologia, Economia Política, Geografia Humana, 
Direito e História. 
A Antropologia vem firmando-se como ciência do homem que exige, cada 
vez mais, a cooperação entre os seus especialistas e os de outras ciências, pois 
cada série de problemas requer a utilização de métodos específicos altamente 
técnicos. 
Como diz Espina Barrio (2008): 
A Antropologia, desde que se constituiu como saber organizado, 
desempenhou tradicionalmente um papel unificador em muitas áreas da 
pesquisa científica, assim como em humanidades, e o pôde fazer porque é 
um conhecimento integral e integrador. 
 
Simplesmente é conhecimento humano que trata do homem, de suas 
manifestações como espécie, de sua humanidade, com uma perspectiva global, 
aberta, integradora. 
34 
 
 
UNIDADE 4 – MÉTODOS UTILIZADOS PELA 
ANTROPOLOGIA 
 
A Antropologia é uma ciência social e humana, perfeitamente caracterizada, 
tendo seus campos de ação bem definidos e seus próprios métodos e técnicas de 
trabalho. Estes permitem ao antropólogo observar e classificar os fenômenos, 
analisar e interpretar os dados obtidos pela pesquisa, capacitando-o a estabelecer 
correlações e generalizações. 
Considerando os dois campos de investigação da Antropologia (o biológico e 
o cultural), faz-se uma distinção entre método e técnica pertinentes a cada um deles. 
Método é, segundo Calderon (1971, p. 165), 
um conjunto de regras úteis para a investigação, é um procedimento 
cuidadosamente elaborado, visando provocar respostas na natureza e na 
sociedade e, paulatinamente, descobrir sua lógica e leis. 
 
Técnica consiste na habilidade em usar um conjunto de normas para o 
levantamento de dados. 
A Antropologia Física ou Biológica e a Cultural recorrem a determinados 
procedimentos a fim de atender a seus objetivos de maneira mais fácil e segura. 
Para isso, valem-se de vários métodos e técnicas que, muitas vezes, são utilizados 
concomitantemente (MARCONI; PRESOTTO, 2014). 
Veremos abaixo os diversos métodos, mas antes, Brito (2007) nos convida a 
perceber que na Antropologia Cultural, a investigação se ampara na ideia 
fundamental da observação participante no interior de uma comunidade ou sistema 
social. 
O antropólogo se introduz (vive) na vida da comunidade e, por meio de 
contatos e observações cotidianas, desenvolve a sua pesquisa. Esta primeira fase 
da investigação de campo requer semanas ou meses, nos casos da necessidade de 
aprender a língua local. Os primeiros etnógrafos obtinham os dados a partir de 
entrevistas em profundidade com alguns informantes principais, como pessoas que 
conheciam profundamente a cultura e o sistema social locais. Estes dados eram 
verificados e cruzados com os de outros informantes e com as observações diretas 
do próprio pesquisador de campo. 
35 
 
 
Sem dúvida, a investigação das distintas sociedades e povos exige hoje 
outras técnicas e instrumentos metodológicos. As entrevistas estruturadas (com 
amostragem) são utilizadas de forma rotineira para a obtenção de uma informação. 
Por exemplo, o pesquisador pode realizar entrevistas para observar o consumo de 
alimentos, o comportamento sanitário, os recursos econômicos, os movimentos 
migratórios de trabalhadores, o tempo livre, entre outros aspectos de um 
determinado grupo social. 
Para analisar a estrutura econômica, o observado participante precisa 
registrar com minuciosidade todas as atividades que envolvem o trabalho, o 
mercado e a produção da sobrevivência da comunidade pesquisada. Quando se 
trata de estudar os aspectos da personalidade, podem ser utilizadas técnicas com 
auxilia da Psicologia. Também se submetem a observação e análise do antropólogo, 
os dados dos registros religiosos, os textos locais, os documentos governamentais e 
outras fontes escritas. 
À medida que os dados são mais complexos e intrincados, e se faz 
necessário o tratamento rotineiro de milhares de fragmentos de informação, os 
antropólogos têm recorrido aos computadores e programas (softwares) sofisticados 
para desenhar as sequências temporais, as relações espaciais e demais esquemas 
sociais. As tendências de mudanças culturais, a interação entre as atividades 
econômicas e sociais globais, as inter-relações étnicas e outros padrões complexos, 
também podem ser estudados pela Antropologia com o auxílio de avançados 
recursos estatísticos. 
Destarte, os modernos recursos metodológicos de investigações 
antropológicas não substituem totalmente os estilos tradicionais de pesquisa de 
campo. Ao contrário, as entrevistas em profundidade com informantes, assim como 
a complexa análise qualitativa dos sistemas simbólicos, as cerimônias e outras 
práticas culturais, constituem também partes essenciais de uma metodologia 
complexa que busca captar os elementos estudados em sua totalidade (BRITO, 
2007). 
 
36 
 
 
4.1 Métodos de pesquisa em Antropologia 
a) Método Histórico 
Consiste em investigar eventos do passado, a fim de compreender os modos 
de vida do presente, que só podem ser explicados a partir da reconstrução da 
cultura e da observação das mudanças ocorridas ao longo do tempo. Nessa análise 
histórica, a cultura do homem é desvendada. 
Exemplo: origem e mudança da sociedade Xavante. 
b) Método Estatístico 
Método muito empregado tanto no campo biológico, verificando as 
variabilidades das populações, quanto no campo cultural, levantando diversificações 
dos aspectos culturais. 
Os dados, depois de coletados, são reduzidos a termos quantitativos, 
demonstrados em tabelas, gráficos, quadros, entre outros. Dessa maneira, podem-
se verificar a natureza, a ocorrência e o significado dos fenômenos e das relações 
entre eles, tanto de natureza biológica quanto cultural. 
Exemplos: dimensões do corpo humano, grupos sanguíneos; variedade de 
religiões, diversificação de habitações. 
c) Método Etnográfico 
Refere-se à análise descritiva das sociedades humanas, principalmente das 
primitivas ou ágrafas e de pequena escala. Mesmo o estudo descritivo requer 
alguma generalização e comparação, implícita ou explícita. Refere-se a aspectos 
culturais. 
Consiste no levantamento de todos os dados possíveis sobre sociedades 
ágrafas ou rurais e na sua descrição, com a finalidade de conhecer melhor o estilo 
de vida ou a cultura específica de determinados grupos. 
Exemplos: estudo dos índios do Alto Xingu e dos Yanomami, de Roraima. 
d) Método Comparativo ou Etnológico 
Método amplamente utilizado tanto pelos antropólogos físicos quanto pelos 
culturais. O método comparativo permite verificar diferenças e semelhanças 
apresentadas pelo material coletado. 
37 
 
 
A Antropologia Física compara aspectos físicos, populações extintas, 
através dos fósseis ou grupos humanos existentes, analisando características 
anatômicas: cor da pele, do cabelo, dos olhos, índice cefálico, textura dos cabelos, 
grossura dos lábios, entre outras. 
Exemplos: através do estudo dos fósseis, é possível verificar a evolução dos 
hominídeos, a distinção entre o homem e o primata. A análise de populações 
humanas vivas possibilita constatar as diferenças raciais. 
O método comparativo, utilizado pelo antropólogo cultural, também chamadométodo etnológico, compara padrões, costumes, estilos de vida, culturas do passado 
e do presente, ágrafas ou letradas. Verifica diferenças e semelhanças a fim de obter 
melhor compreensão desses grupos. 
Exemplos: populações indígenas, rurais e urbanas. Instituições (família, 
religião, política, economia), usos e costumes, linguagem, habitações, meios de 
transporte, entre outros. 
e) Método Monográfico ou Estudo de Caso 
O etnógrafo estuda, em profundidade, determinado caso ou grupo humano, 
sob todos os seus aspectos. Este método permite a análise de instituições, de 
processos culturais e de todos os setores da cultura. Os grupos isolados estão a 
exigir pesquisas, antes que desapareçam como cultura, pelos contatos ou pela 
dizimação. 
Exemplo: índios Makuxi, de Roraima. 
f) Método Genealógico 
Método da Antropologia Cultural que permite o estudo do parentesco com 
todas as suas implicações sociais: estrutura familiar, relacionamento de marido e 
mulher, pais e filhos e demais parentes; informações sobre o cotidiano, a vida 
cerimonial (nascimento, casamento, morte), entre outros. Através do levantamento 
genealógico, não apenas o pesquisador terá a confirmação dos dados já 
observados, mas também novas informações poderão vir à luz. 
É necessária a presença de um informante que revele os nomes das 
pessoas, a filiação clânica, sua posição dentro da estrutura social, o relacionamento 
entre as pessoas, indivíduos ausentes ou já falecidos. 
38 
 
 
Exemplos: sistema de parentesco dos índios Tupi; genealogia de grupos 
étnicos minoritários (japoneses, poloneses e outros). 
g) Método Funcionalista 
Refere-se ao estudo das culturas sob o ponto de vista da função, ou seja, 
ressalta a funcionalidade de cada unidade da cultura no contexto cultural global. 
Uma característica da abordagem funcional é descobrir as conexões 
existentes em uma cultura e saber como funcionam. 
Exemplo: averiguar as funções de usos e costumes de determinada cultura 
que levam a uma identidade cultural. 
 
4.2 Técnicas de pesquisa em Antropologia 
Segundo Marconi e Presotto (2014), no campo biológico são utilizadas 
técnicas clássicas da Antropologia Física, ou seja, a mensuração, ao lado de outras 
mais modernas, de datação. Para tanto, a coleta intensiva de dados vem sendo feita 
há mais de um século, usando-se a mensuração como principal técnica no trato 
desse material. 
As informações descritivas das medidas antropométricas (cabeça, rosto, 
corpo, membros) são o primeiro passo para o conhecimento do material investigado. 
Quando se trata de restos fósseis, as técnicas usadas são as de datação. 
No campo cultural, o antropólogo desenvolve recursos e técnicas de 
pesquisa ligados à observação de campo. Este é o seu laboratório, no qual aplica a 
técnica da observação direta, que se completa com a entrevista e a utilização de 
formulários para registro de dados. 
Vejamos: 
a) Observação 
A observação é uma técnica de coleta em que o pesquisador se vale dos 
sentidos para a obtenção dos dados – ver e ouvir, principalmente. 
A observação pode ser: 
a.1) Sistemática: quando os fenômenos são observados sistematicamente, 
em determinado período de tempo. Divide-se em: 
39 
 
 
• direta – os fatos são observados pessoalmente, no local da investigação; 
• indireta – realizada por meio de outras pessoas. 
a.2) Participante: quando o pesquisador deve ter disponibilidade de 
permanência no campo, por muito tempo, o suficiente para a perfeita compreensão 
da cultura em estudo. Deve ser um arguto observador, objetivo e desprovido de 
qualquer sentimento etnocêntrico, que possa levá-lo a uma observação deformada 
dos fenômenos. Seu instrumento de trabalho é o diário de campo, utilizado para o 
registro de seus dados, complementados com fichas, nas quais os assuntos devem 
ser selecionados criteriosamente. Fotografias, gravações e filmes completarão as 
informações. 
Por meio da observação participante, o antropólogo tem a oportunidade de 
viver entre os grupos tribais, participando intensamente das conversas, dos rituais, 
observando todas as manifestações materiais e espirituais do grupo, as reações 
psicológicas de seus membros, seu sistema de valores e seu mecanismo de 
adaptação. 
b) Entrevista 
Trata-se do contato direto, face a face, entre o pesquisador e o entrevistado, 
a fim de que o primeiro obtenha informações úteis a seu trabalho. 
Pode ser: 
a) Dirigida – quando segue um roteiro preestabelecido. 
b) Não dirigida ou livre – quando é informal e não há um roteiro a ser 
seguido, e o pesquisador leva o entrevistado a manifestar suas ideias 
espontaneamente. 
c) Formulário 
Técnica de coleta semelhante ao Questionário. Trata-se do levantamento de 
dados através de uma série organizada de perguntas escritas, cujas respostas 
deverão ser dadas pelo entrevistado. 
No Formulário, o pesquisador aplica o instrumento de pesquisa, ou seja, faz 
e preenche o rol de perguntas. No Questionário, é o próprio entrevistado quem 
preenche o instrumento de investigação. 
40 
 
 
O Formulário é aplicado a pessoas analfabetas ou semianalfabetas, 
enquanto o Questionário, a pessoas com certa escolaridade. 
41 
 
 
UNIDADE 5 – APLICAÇÕES DA ANTROPOLOGIA 
 
A Antropologia, que é por excelência a ciência do homem e da cultura, 
apresenta dupla dimensão: teórica e prática. Os especialistas da Antropologia 
teórica, que se dedicam à investigação pura, buscam todo conhecimento possível 
que leve à melhor compreensão da humanidade. De posse desses conhecimentos, 
tornam-se capazes de desenvolver atividades práticas, aplicando suas experiências 
junto aos grupos simples, ágrafos, quase sempre sujeitos a influências externas que 
possam provocar mudanças. Trabalham também em benefício das sociedades 
civilizadas, esperando contribuir para o bem-estar dos grupos humanos em geral e 
do homem em particular. 
Toda pessoa que pretenda a prática antropológica, necessita de um 
adestramento baseado no conhecimento de posições teóricas que fundamentam e 
orientam a ação antropológica na compreensão e solução dos problemas. Entre os 
numerosos conceitos consagrados pela Antropologia, três são considerados 
básicos: aculturação, relativismo cultural e etnocentrismo (MARCONI; PRESOTTO, 
2014) e que irão dar o tom do seu trabalho: 
a) O conceito de aculturação é indicativo de situação de contato entre 
grupos portadores de culturas diferentes: grupos tribais e sociedades civilizadas 
(aculturação interétnica) e grupos tribais entre si, como os grupos do Alto Xingu 
(aculturação intertribal). 
Esses contatos vêm ampliando-se progressivamente e, em consequência, 
as culturas simples e isoladas estão mudando ou desaparecendo rapidamente. 
Criam quase sempre uma relação de dominação e de subordinação entre os grupos 
envolvidos. A cultura dominante ou colonizadora, via de regra, impõe seus padrões 
culturais à cultura colonizada, cujas reações à nova situação são as mais variadas. 
Geralmente, conformam-se às próprias condições de contato, que acabam por 
provocar, no interior dessas culturas, desequilíbrio e tensão, exigindo novo esforço 
de adaptação cultural. 
Todo sistema cultural está em contínuo processo de mudança que, a partir 
do contato com o mundo exterior, passa a ser estimulado e acelerado. A importância 
42 
 
 
dos estudos aculturativos leva à compreensão dos problemas gerados 
modernamente pela aproximação entre os grupos humanos. 
b) O conceito de relativismo cultural deve ser adequadamente 
compreendido por todos os indivíduos envolvidos direta ou indiretamente nas 
situações de contato. É um princípio que permite ao observador ter uma visãoobjetiva das culturas, cujos padrões e valores são tidos como próprios e 
convenientes aos seus integrantes. 
Considerando a extrema diversidade cultural da humanidade, pode-se 
compreender cada grupo humano, seus valores definidos, suas exclusivas normas 
de conduta e suas próprias reações psicológicas aos fenômenos do cotidiano; e 
também suas convenções relativas ao bem e mal, à moral e imoral, ao belo e feio, 
ao certo e errado, ao justo e injusto, entre outros. 
A relatividade cultural ensina que uma cultura deve ser compreendida e 
avaliada dentro dos seus próprios moldes e padrões, mesmo que estes pareçam 
estranhos e exóticos. Assegura ao antropólogo atitudes mais justas e humanas, o 
que vem, muitas vezes, contrariar os interesses da cultura dominante que, quase 
sempre, nas situações de contato, não leva em consideração alguns princípios 
humanitários. 
c) O Etnocentrismo. Deve-se considerar que há modos de vida bons para 
um grupo que jamais serviriam para outro. 
Os estudos dos grupos humanos vêm demonstrando que, embora existam 
expressivas diferenças culturais, “outras culturas” não são necessariamente 
inferiores. Mesmo assim, as sociedades “primitivas” são vistas dentro de um prisma 
de inferioridade cultural, sendo consideradas selvagens, bárbaras e de mentalidade 
atrasada. É uma atitude etnocêntrica, condenada pela Antropologia, que defende o 
princípio de que as culturas não são superiores ou inferiores, mas diferentes, com 
maiores ou menores recursos, com tecnologia mais ou menos desenvolvida. 
Os antropólogos adotam procedimentos alicerçados nos conceitos de 
relativismo cultural e etnocentrismo, quando são chamados a desenvolver 
programas de ação junto a grupos humanos sujeitos a mudanças socioculturais. É o 
significado utilitário da Antropologia, ou seja, o emprego prático dos conhecimentos 
43 
 
 
antropológicos, colocados à disposição da sociedade, colaborando, dessa forma, 
para o bem-estar dos grupos humanos sobre os quais atua. 
A Antropologia Aplicada vem adquirindo importância cada vez maior no 
mundo moderno, no qual o isolamento cultural é quase impossível e os contatos são 
inevitáveis e se multiplicam, levando muitas vezes a situações conflitantes. 
O papel da Antropologia Aplicada é bastante amplo. Veremos apenas alguns 
deles: 
a) Empenha-se na solução dessas situações, procurando minimizar os 
desequilíbrios e tensões culturais e tentando fazer com que as culturas atingidas 
sejam menos molestadas e seus padrões e valores respeitados. 
b) Aplica conhecimentos antropológicos, físicos e culturais na busca de 
soluções para os modernos problemas sociais, políticos e econômicos dos grupos 
simples e das sociedades civilizadas. 
Por exemplo, o COLONIALISMO. O antropólogo preocupa-se com os 
problemas gerados pelas situações de colonialismo e com a condição dos grupos 
sujeitos ao domínio colonial. Procura saber como beneficiar essas populações, 
impedindo a introdução dos valores ocidentais (cultura dominante) em detrimento 
dos padrões nativos. 
As tradições dos povos submetidos devem ser respeitadas pelos 
governantes coloniais, que precisam saber como tratar com culturas tão diferentes. 
Administradores, missionários e técnicos devem ser portadores dos conceitos 
antropológicos, a fim de que a interferência seja menos prejudicial. 
Outro exemplo seriam os PROJETOS DE DESENVOLVIMENTO. Os 
antropólogos têm sido chamados a atuar em projetos de desenvolvimento em várias 
partes do mundo, geralmente de iniciativa de órgãos internacionais, como, por 
exemplo, a ONU, a Unesco, entre outros; projetos de colonização de terras, de 
reforma agrária, trabalho junto a sociedades camponesas, campanhas de saúde 
pública, desenvolvimento de comunidade, entre outros. 
Também trabalha na COEXISTÊNCIA POPULACIONAL. A coexistência de 
populações nativas com a população nacional requer a adoção de políticas 
indigenistas adequadas a cada realidade particular. No Brasil, por exemplo, o antigo 
44 
 
 
Serviço de Proteção ao Índio (SPI), norteado pelo Marechal Rondon, foi substituído 
pela Fundação Nacional do Índio (Funai), órgão protetor da população tribal 
brasileira, que nem sempre tem cumprido satisfatoriamente seus objetivos e metas 
(MARCONI; PRESOTTO, 2014). 
No Brasil, as frentes de expansão econômica (extrativa, pastoril e agrícola) 
fazem contactar diferentes grupos tribais com a sociedade nacional, exigindo a ação 
indigenista para amenizar os efeitos do contato. 
A INDUSTRIALIZAÇÃO, esse mal necessário! Nas sociedades civilizadas, a 
expansão da indústria vem exigindo maior desenvolvimento da Antropologia 
Aplicada na busca de soluções para os problemas decorrentes, sobretudo os 
referentes às relações de trabalho: baixos salários, greves, desemprego, injustiças 
sociais, excesso de trabalho, entre outros. Cabe ao antropólogo indagar as causas 
dessas tensões e procurar estabelecer o equilíbrio social nessas e em outras 
relações. 
Enfim, a ação do antropólogo é de relevância, mas a perspectiva histórica 
tem demonstrado que sua tarefa lhe tem sido decepcionante, em face das pressões 
da cultura dominante, que nem sempre concorda com as posições teóricas e os 
métodos humanísticos por ele adotados, ao desempenhar o papel de conciliador 
entre o mundo dominante e o dominado (MARCONI; PRESOTTO, 2014). 
45 
 
 
UNIDADE 6 – CULTURA: CONCEITO, ESSÊNCIA E 
CLASSIFICAÇÃO 
 
O sentido do termo cultura empregado pelos antropólogos difere 
amplamente do que o senso comum está acostumado a atribuir a tal vocábulo e é 
também diferente de outros muitos que historicamente foram associados a esse 
termo. É o sentido antropológico o que nos interessa e o que nos levará a afirmar 
que a cultura é o objeto de estudo privilegiado de nossa disciplina (ESPINA 
BARRIO, 2008). 
A cultura, para os antropólogos em geral, constitui-se no “conceito básico e 
central de sua ciência”, afirma Leslie A. White (1975 apud MARCONI; PRESOTTO, 
2014). 
Como diz Espina Barrio (2008), proveniente do latim clássico, com 
significados associados ao cultivo e à criação, o vocábulo cultura seria aplicado só 
recentemente (cerca de 1750) ao âmbito das sociedades humanas, suplantando, em 
parte, o termo civilização. 
Marconi e Presotto (2014) também corroboram ao afirmar que o termo 
cultura (colere, cultivar ou instruir; cultus, cultivo, instrução) não se restringe ao 
campo da Antropologia. Várias áreas do saber humano – Agronomia, Biologia, Artes, 
Literatura, História, entre outras – valem-se dele, embora seja outra a conotação. 
Muitas vezes, a palavra cultura é empregada para indicar o desenvolvimento 
do indivíduo por meio da educação, da instrução. Nesse caso, uma pessoa “culta” 
seria aquela que adquiriu domínio no campo intelectual ou artístico. Seria “inculta” a 
que não obteve instrução. 
Os antropólogos não empregam os termos culto ou inculto, de uso popular, 
nem fazem juízo de valor sobre esta ou aquela cultura, pois não consideram uma 
superior à outra. Elas apenas são diferentes em nível de tecnologia ou integração de 
seus elementos. Todas as sociedades – rurais ou urbanas, simples ou complexas – 
possuem cultura. Não há indivíduo humano desprovido de cultura, exceto o recém-
nascido e o homo ferus; um, porque ainda não sofreu o processo de endoculturação, 
e o outro, porque foi privado do convívio humano. 
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Para os antropólogos, a cultura tem significado amplo: engloba os modos 
comuns e aprendidos da vida, transmitidos pelos indivíduos e grupos, em sociedade. 
Voltando a Espina Barrio (2008), ele assevera que tanto o conceito de 
cultura como o de civilização estiveram associados no Iluminismo à melhora 
progressiva das faculdades

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