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TÉCNICAS DE EXAME PSICOLÓGICO MARCOS LUCENA @MARCOSLUCENAPSI COMEÇANDO A JORNADA... PERGUNTAIS-ME COMO ME TORNEI LOUCO.... KHALIL GIBRAN • Perguntais-me como me tornei louco. Aconteceu assim: Um dia, muito tempo antes de muitos deuses terem nascido, despertei de um sono profundo e notei que todas as minhas máscaras tinham sido roubadas – as sete máscaras que eu havia confeccionado e usado em sete vidas – e corri sem máscara pelas ruas cheias de gente gritando: “Ladrões, ladrões, malditos ladrões!” Homens e mulheres riram de mim e alguns correram para casa, com medo de mim. E quando cheguei à praça do mercado, um garoto trepado no telhado de uma casa gritou: “É um louco!” Olhei para cima, para vê-lo. O sol beijou pela primeira vez minha face nua. Pela primeira vez, o sol beijava minha face nua, e minha alma inflamou-se de amor pelo sol, e não desejei mais minhas máscaras. E, como num transe, gritei: “Benditos, benditos os ladrões que roubaram minhas máscaras!” Assim me tornei louco. E encontrei tanto liberdade como segurança em minha loucura: a liberdade da solidão e a segurança de não ser compreendido, pois aquele que nos compreende escraviza alguma coisa em nós. •Avaliação Psicológica!? • A avaliação psicológica é um procedimento que visa avaliar, através de instrumentos previamente validados para a determinada função, os diversos processos psicológicos que compõe o indivíduo, sendo o psicólogo o único profissional habilitado por lei para exercer esta função. “TEMOS QUE OUVIR O RONCO SURDO DA BATALHA” (FOUCAULT-VIGIAR E PUNIR) • A ideia que surge neste contexto refere-se a importância que este diagnóstico pode adquirir na vida do sujeito, falando-se tanto em uma relação pessoal (“o teste diz que eu não sou apto para o emprego X”) como para uma relação mais social, onde a avaliação psicológica pode ser motivo de exclusão dos sujeitos nos mais diversos ambientes, desde o familiar até em suas relações sociais dentro da comunidade. • O posicionamento do psicólogo em relação à realidade do paciente\cliente\consulente é outro ponto que deve ser levado em consideração ao realizar a avaliação, sendo que o curso de uma entrevista, por exemplo, é bastante influenciado por variáveis pessoais como sexo, raça, situação sociocultural entre outras. A atenção do psicólogo nestas situações em relação a estas variáveis é de extrema importância, apropriando-se das influências que estas causam ao avaliado sem no entanto abandonar a imparcialidade que a avaliação psicológica existe para comprovar sua validade. • A regulamentação dos testes em 2003 (Resolução n° 2/2003) foi uma reposta do Conselho Federal de Psicologia a uma demanda da categoria profissional e da própria sociedade, que muitas vezes acabava prejudicada pelo uso indevido. Atualmente, existe o Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos (SATEPSI), onde encontra-se documentos sobre a avaliação de testes psicológicos feitas pelo CFP, lista de testes com parecer favorável e desfavorável, além de uma série de outros informativos relacionados ao assunto. INSTRUMENTOS DE INVESTIGAÇÃO PSICOLÓGICA: ENTREVISTA, OBSERVAÇÃO E TESTES PSICOLÓGICOS. • Este processo de investigação é o que fundamenta o trabalho do Psicólogo nas várias áreas de sua atuação (clínica, escolar, organizacional, jurídica) e tem como objeto o indivíduo, mas também um grupo, instituição ou comunidade (CFP, 2010). • Nesse processo, o profissional utiliza métodos e instrumentos a fim de realizar a coleta de dados, estudo e interpretação das informações obtidas. Além disso, busca compreender as relações entre os fenômenos psíquicos, o indivíduo e a sociedade (CPF, 2010). ENTREVISTA • A entrevista busca fornecer ao avaliador, através de subsídios técnicos, informações acerca da conduta, comportamento, conceitos, valores e opiniões do entrevistado. Complementa os dados obtidos por outros instrumentos. • Segundo Bleger (2011), a entrevista é uma relação estabelecida entre duas ou mais pessoas, na qual uma delas é o técnico e a outra a que necessita de intervenção técnica. É utilizada como meio de trabalho a fim de investigar comportamentos e perspectivas da pessoa. ENTREVISTA • Quanto aos objetivos • Diagnóstica: Diagnóstico, prognóstico e indicações terapêuticas; • Psicoterápica: Auxilia no processo psicoterápico; • De encaminhamento: Recomenda o tratamento adequado; • Seleção: Levantamento de informações sobre currículo de acordo com perfil do cargo; • Desligamento: Trabalhar questões relacionadas à alta ou no caso da área organizacional, à saída do trabalhador da empresa; • Pesquisa: Investiga temas de um estudo; ENTREVISTA • Quanto à estrutura • Dirigida ou estruturada: Possui propósito fixado; Ordem predeterminada das perguntas; Busca extrair o máximo de informações com o mínimo de perguntas; • Semidirigida: Entrevistado expõe a partir do tema que escolher e pode excluir o que desejar; Há intervenções do entrevistador para apontar sobre questões relevantes (bloqueios, paralizações) ou buscar mais informações; • Livre, não dirigida, ou não estruturada: Liberdade do entrevistado para se expressar; Poucas perguntas ou intervenções do entrevistador; Busca visão geral do problema e identificação de aspectos da personalidade; Entrevistador formula perguntas durante entrevista; ENTREVISTA • Quanto à sequência temporal • Entrevista inicial: Primeira entrevista de um processo psicodiagnóstico; Paciente expõe sua queixa e o entrevistador obtém primeira impressão do entrevistado; É realizado contrato psicoterápico; Recomenda-se que seja semidirigida; • Entrevistas sequenciais: Após entrevista inicial; Busca apurar os dados coletados com mais detalhes sobre a história do entrevistado; • Entrevista de devolutiva: Utilizada no término do psicodiagnóstico para comunicar resultados observados e indicações terapêuticas; TESTES PSICOLÓGICOS • Definição: Medida objetiva e padronizada de uma amostra do comportamento do indivíduo. Objetivo: Mensuração de diferenças entre indivíduos, ou o mesmo indivíduo em momentos diferentes. • Características • Material fidedigno; • Permite reaplicação; • Possibilita conclusões confiáveis em curto espaço de tempo; • Aplicação dos testes • Deve ser realizada com clareza e objetividade, procurando transmitir tranquilidade ao examinando; • Seguir orientações do manual, sem assumir postura rígida; • Avaliar pessoa com deficiências considerando suas limitações. • Importante: Para utilizar testes psicológicos é necessário ter diploma em Psicologia, inscrição no CRP e capacitação para aplicação; O uso de testes que não estão incluídos na relação de testes aprovados pelo CFP é falta ética do psicólogo. TESTES PSICOLÓGICOS • Parâmetros para analisar qualidade dos testes psicológicos • 1. Validade: Verifica se teste mede o que pretende medir; • 2. Fidedignidade: Indica a confiabilidade e precisão do teste; • 3. Precisão: Considera resultados obtidos pelo mesmo indivíduo quando reaplicado o mesmo teste; • 4. Padronização: Uniformidade de procedimentos utilizados na aplicação; • 5. Normatização: Uniformidade na interpretação dos resultados a partir de parâmetros dos escores brutos; TESTES PSICOLÓGICOS • Parâmetros para analisar qualidade dos testes psicológicos • 1. Validade: Verifica se teste mede o que pretende medir; • 2. Fidedignidade: Indica a confiabilidade e precisão do teste; • 3. Precisão: Considera resultados obtidos pelo mesmo indivíduo quando reaplicado o mesmo teste; • 4. Padronização: Uniformidade de procedimentos utilizados na aplicação; • 5. Normatização: Uniformidade na interpretação dos resultados a partir de parâmetros dos escores brutos; A OBSERVAÇÃO A SERVIÇO DA INVESTIGAÇÃO PSICOLÓGICA • A observação ocupa um lugar significativo como método clínico e de pesquisa, especialmente quando se pretende investigar a infância, os primórdios do desenvolvimento e as relações precoces.observação procede do latim “ob” (diante, ao encontro de) e “servare” (olhar, proteger, conservar); e possui vários sentidos, dentre os quais: portar atenção sobre, procedimento lógico utilizado para constatar particularidades de um fenômeno. A observação é a ação de olhar com atenção os fenômenos para os descrever, estudar, explicar. O processo de observação começa pelo olhar e requer um ato de atenção que amplia ou tem seu foco na percepção de alguns objetos ou aspectos desses objetos, como também pessoas. AVALIAÇÃO, TESTES, OBSERVAÇÃO E ENTREVISTAS, NÃO SÃO “ENQUADRES” EM SI, SÃO “RECURSOS”, “CAMINHOS”, “MEIOS” QUE AUXILIAM A MELHOR COLABORAR COM O PACIENTE\CLIENTE\CONSULENTE, NÃO AO CONTRÁRIO! LINGUAGEM CIENTÍFICA APLICADA A AVALIAÇÃO P SICOLÓGICA • Uma investigação científica, para traçarmos um perfil psicológico, segue procedimentos rigorosos e controlados através de um conjunto de técnicas de exame tais como: entrevistas, métodos de observação, escuta, investigação dos antecedentes e determinantes do comportamento, aspectos familiares, aspectos sociais, aspectos educacionais, relatos da experiência de vida daquele sujeito, heterorrelatos, aspectos da personalidade e do perfil cognitivo, baseado em uma teoria psicológica reconhecida cientificamente. Observamos comportamentos, determinamos o tipo de humor, características do discurso, do emprego das palavras, como os pensamentos se organizam, valores, propósitos, perfil cognitivo (inteligência, memória etc..), autoconceito, juízo crítico, dentre outras variáveis que podem ser enquadradas pelo propósito da avaliação. DETERMINAÇÃO DO COMPORTAMENTO • Avaliar: avaliar é estimar um valor, estabelecer magnitudes ou qualidade do objeto, do fenômeno que se quer medir/conhecer. O que determina o comportamento são aspectos biopsicossociais. A visão é monista, ou seja, não dualista (mentecorpo). Tratase de uma visão integrada e holística. Falar da mente, falar do psicológico ou do cérebro é falar da mesma coisa com vieses diferentes. Uma visão integrativa entre psicologia, ciências da saúde, ciências sociais e neurociências, com essa ideia de base, os determinantes do comportamento podem ser analisados: 1. Em um aspecto físico (mapeamento neurológico); 2. Em um aspecto psicológico (sensopercepção, atenção, pensamento, memória, volição, emoções e sentimentos, etc.); 3. Em um aspecto ambiental/funcional (mapeamento cultural, socioeconômico etc.). VARIÁVEIS Em um olhar simplificado, variável é aquilo que varia e pode ser medido. Normalmente nomeamos as variáveis em condições experimentais, mas podemos admitir que as variáveis de investigação do psicólogo e da psicóloga, como o objeto de estudo (variável dependente) ou como as condições que exercem influência no objeto de estudo (variáveis independentes). Em ciências sociais aplicadas existe uma terceira variável que não vamos encontrar na estatística que são as variáveis intervenientes. Esse olhar crítico, precisa ser desenvolvido no (a) discente, ou seja, estabelecer o objeto, por exemplo, o comportamento, as condições que exercem influência no objeto, por exemplo, perfil de personalidade e perfil cognitivo, e aquilo que pode influenciar e determinar uma grande variabilidade de comportamentos, por exemplo, cultura, estilos parentais, ocorrências no meio interno (fome) e no meio externo (chuva - ausência de sol). Uma pessoa com perfil extrovertido e "muito inteligente" será diferente de outra pessoa extrovertida e "muito inteligente" em função de aspectos culturais, estilos parentais e das ocorrências ambientais (estar ou não com fome ou o ambiente estar ou não com chuva, sem sol), isso sem considerarmos os micro- eventos no ambiente que dificilmente são mapeados. Variáveis exercem influências durante a gestação, durante o desenvolvimento, gerando essa variabilidade comportamental das pessoas, pois o cérebro é plástico e nossas redes neurais que determinam nossas personalidades e estilos cognitivos são um reflexo de nossas experiências e outros fatores. Isso nos permite fazer inferências preditivas, mas com uma margem considerável de erro, pois não somos capazes de mapear e investigar todas as variáveis e/ou como elas se modificam em função de todas as condições a que elas são submetidas no dia a dia das pessoas. Estabelecemos correlações e não causalidades. Nosso olhar é fluido e não cristalizado. Levamos em consideração os determinantes históricos, sociais e econômicos que o sujeito está inserido. Exemplos muito simples, mas que permitem ao aluno começar a compreender a complexidade que envolve a avaliação em psicologia e nossas tomadas de decisão. MAGNITUDES DO FENÔMENO PSICOLÓGICO • Magnitudes do fenômeno psicológico: Admitimos os objetos de estudo e/ou os fenômenos e/ou os processos que a psicologia investiga (avalia) como variáveis que exercem influência no comportamento (normalmente a variável dependente da psicologia). Avaliamos tais variáveis quanto a sua ocorrência, frequência, prevalência, intensidade, extensão dos efeitos etc.. Avaliar em psicologia significa levar em consideração a magnitude de um amplo conjunto de variáveis por meio de observações, inquirições e testagem, desta forma, devido a complexidade da tarefa, não é possível acessar a totalidade do sujeito, ou conhecer plenamente como tais variáveis se modificam quando sob influência de outras variáveis. Fazemos estimativas. Conseguimos estabelecer algumas inferências de caráter preditivo e estabelecer como magnitudes, dessas características, podem influenciar o comportamento e correlacionarmos a determinadas situações, por exemplo, ao perguntarmos se o sujeito está apto a portar armas de fogo, devemos considerar algumas características: Atenção Concentrada; Atenção Difusa; Memória auditiva e visual (memória ecoica, icônica, de curto prazo, de longo prazo, visual); Funções Executivas; Adaptação; Autocrítica; Autoestima; Autoimagem; Controle; Decisão; Empatia; Equilíbrio; Estabilidade; Flexibilidade; Inflexibilidade; Maturidade; Prudência; Segurança; Senso Crítico. Existem ainda indicadores de caráter restritivo, tais como: Transtornos de Personalidade; Conflito; Depressão; Dissimulação; Distúrbios; Exibicionismo; Hostilidade; Frustração; Imaturidade; Imprevisibilidade; Indecisão; Influenciabilidade; Insegurança; Instabilidade; Irritabilidade; Obsessividade. A questão então para o (a) psicólogo (a) e estabelecer as magnitudes dessas características e analisar se estão adequadas para o sujeito portar armas de fogo. Existe uma linha de corte pela qual abaixo dela o indivíduo não apresenta a magnitude desejada daquele atributo necessário para, por exemplo, portar arma de fogo, ou apresenta as características incompatíveis para portar arma de fogo, mas também, através de outras características previamente definidas, estar apto para dirigir, se submeter a uma cirurgia (bariátrica, adequação de genitália, plástica), desempenhar uma determinada função etc.. NORMALIDADE VS. PATOLOGIA VS. ADAPTAÇÃO: • Apresentar alguns critérios de normalidade e discutilos para enquadrá- los a partir de: 1. Capacidade (condições neuroanatômicas, neurofuncionais, psicológica; 2. Incapacidade (dificuldades por deficiência ou disfunção); 3. Habilidades (ações físicas ou mentais adquiridas para se adaptar e interagir com o meio); 4. Competências (resultante de habilidades harmonizadas para o desempenho de tarefas); 5. Funcionalidade (o quanto o meio (interno e externo ao organismo)) propicia os meios necessários ao uso de habilidades, capacidades e competências do indivíduo. Capacidades, Incapacidades, Habilidades, Competências, Funcionalidade, determinam as características de adaptação do sujeito. • Avaliação Psicológica: Conhecer as magnitudes dos indicadores psicológicos e correlaciona-los ao propósito da avaliação, correlacionarmos as características de adaptação do sujeito, correlacionarmos ao ambiente emque o comportamento será empregado (trabalho, cirurgia etc.) permitem ao psicólogo e a psicóloga fazer predições.
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