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FADECH - FACULDADE DE DESENVOLVIMENTO DAS CIÊNCIAS E HUMANIDADES Credenciada pela Portaria nº 424, de 03/09/2019 - DOU: 04/09/2019 O sindicato dos empregados de bares e restaurantes do Distrito Federal celebrou convenção coletiva de trabalho com o sindicato dos bares e restaurantes do Distrito Federal. A referida norma coletiva estabeleceu que, para os trabalhadores integrantes da categoria representada pelo sindicato profissional, a hora noturna, assim considerada aquela compreendida entre 22 horas de um dia e 5 horas do dia seguinte, seria computada como de 60 (sessenta) minutos. O instrumento normativo determinou também que o labor noturno teria remuneração acrescida de 60% (sessenta por cento) do valor da hora diurna. Finalmente, os sindicatos envolvidos estabeleceram o prazo de vigência de três anos para a convenção coletiva. Em face do caso hipotético apresentado, disserte sobre convenções e acordos coletivos de trabalho, enfocando necessariamente os seguintes aspectos: (I) natureza jurídica das normas coletivas; (II) limite ao regramento de condições laborais por convenções e acordos coletivos de trabalho e princípios da proteção e da indisponibilidade dos direitos trabalhistas; Segundo a definição de Mauricio Godinho (2017), o Direito coletivo do trabalho é um “complexo de princípios, regras e institutos jurídicos que regulam as relações laborais entre empregados e empregadores, além de outros grupos jurídicos normativamente especificados, considerada sua ação coletiva realizada autonomamente ou através das respectivas associações”. Assim, o Direito Coletivo pressupõe uma relação coletiva de trabalho, ou seja, aquela relação entre sujeitos de direito, em que a participação dos indivíduos é considerada como membros de uma determinada coletividade como os Sindicatos, por exemplo. E neste ramo do Direito do Trabalho são tratados os interesses coletivos do grupo ou de uma determinada categoria, e os Sindicatos representarão os interesses abstratos desta categoria estatuindo novas condições de trabalho que serão aplicadas aos empregados individualmente considerados. Por conseguinte, as convenções e os acordos coletivos estão disciplinados no art. 611 da CLT, e são os instrumentos normativos utilizados para estabelecer estas novas condições de trabalho e possuem conceitos distintos: enquanto a convenção coletiva é um acordo de caráter normativo pelo qual dois ou mais Sindicatos representativos de categorias econômicas (empregadores) e profissionais (empregados) estipulam novas condições de trabalho que será aplicável às relações individuais de trabalho dos empregados e empregadores abrangidos pelas representações sindicais, os acordos coletivos são um instrumento de caráter normativo celebrado entre o Sindicato de empregados (categoria econômica) e empresa ou grupo de empresas. Segundo Ronaldo Lima (2009): “questionar sobre a natureza jurídica de determinado instituto, equivale a analisar, a partir de seus elementos essenciais, como ele se enquadra no mundo jurídico. Em relação à convenção coletiva de trabalho, por exemplo, significa definir qual o seu caráter normativo, ou seja, se se trata de lei ou de um ato normativo sui generis”. Quanto a natureza jurídica da convenção coletiva de trabalho, existem três correntes as quais discorrem sobre o assunto, que são a contratualista, normativista e mista. A corrente contratualista se vale de institutos contratuais clássicos para explicar a natureza jurídica da convenção coletiva de trabalho, baseando-se para tanto no caráter obrigacional das normas coletivas de trabalho, em decorrência da vontade das partes convenentes. Tem-se como principais teorias contratualistas a teoria do mandato; teoria da gestão de negócios; teoria da estipulação em favor de terceiros; teoria da personalidade moral fictícia e; teoria da representação legal. Já as teorias pertencentes à corrente normativa abandonam as figuras contratuais utilizadas para fundamentar a natureza jurídica da convenção coletiva de trabalho e passam a defender o caráter normativo da convenção coletiva de trabalho. Esta corrente concebe a convenção coletiva como norma geral e abstrata, que, no caso do sistema jurídico pátrio, abrange todos os membros da categoria profissional, independentemente de ser associado ou não. As duas teorias mais discutidas pela doutrina são a teoria regulamentar e a teoria da lei delegada. Por último, a corrente mista busca conciliar as correntes contratualistas e normativas. Sendo assim, os defensores dessa corrente consideram a convenção coletiva de trabalho como um instituto híbrido, ou seja, quanto à formação, identifica-se com um contrato, ao passo que em relação ao seu conteúdo, equivale a uma norma jurídica. Logo, percebe-se que no direito laboral positivo prevalece a teoria mista, quando a Consolidação das Leis do Trabalho, no artigo 611 define a convenção coletiva de trabalho como sendo o “acordo de caráter normativo”. Como regra, o papel da negociação coletiva é buscar algo melhor para o trabalhador do que o existente na lei ou aquilo que ainda não foi regulado pelo Estado, pelo que, a negociação em pejus é exceção. Assim, a autonomia privada coletiva das partes é o efeito da negociação concernente no reconhecimento, por parte do Estado, da prevalência da norma coletiva, fruto da negociação sobre as normas estatais, porque se parte do princípio de que as normas resultantes da negociação coletiva são mais democráticas e têm mais condições de atender especificamente os reclames de seus destinatários, uma vez que elaboradas por eles próprios. Mas é certo que a negociação coletiva, não obstante a sua importância e a autonomia privada coletiva das partes, encontra limites nas normas de ordem pública, porque são estas inderrogáveis ao talante das partes ou de quem quer seja, diante do conteúdo que visam proteger, qual seja, o interesse público. Nesse sentido é a jurisprudência sedimentada do TST, que reconhece, a exemplo do caso em tela que, o acordo coletivo não pode flexibilizar a duração da hora noturna. Para a 8ª Turma, a cláusula de acordo coletivo que flexibiliza a hora noturna, prevista no artigo 73, § 1º, da CLT como de 52 minutos e 30 segundos, é inválida. Isso porque a matéria que diz respeito à saúde e segurança do trabalho não pode ser objeto de negociação coletiva. Ainda que esta convenção tenha destacado a vantagem para o empregado do recebimento de um adicional de 60% para cada período de 60 minutos trabalhados em horário noturno (entre 22 e 5 horas), este e. Tribunal entendeu que não era possível aumentar a duração da hora noturna por meio de instrumento normativo. Caso contrário, haveria violação da norma da CLT. Assim, tudo que for diferente da lei, mais benéfico, poderá ser objeto de convenção ou acordo coletivo de trabalho, desde que não contrarie normas proibitivas estatais de ordem pública, isto porque os contratos de trabalho estão submetidos aos princípios da proteção e da indisponibilidade. Disso decorre que não podem as partes criar, por meio dos instrumentos coletivos de trabalho, condições inferiores ao previsto em normas de ordem pública, que asseguram um conteúdo mínimo obrigatório correspondente aos direitos humanos fundamentais, sem os quais há desrespeito ao princípio da dignidade humana, do valor social do trabalho e do pleno emprego. http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/111983249/consolida%C3%A7%C3%A3o-das-leis-do-trabalho-decreto-lei-5452-43 http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10682327/artigo-611-do-decreto-lei-n-5452-de-01-de-maio-de-1943 http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10758520/artigo-73-do-decreto-lei-n-5452-de-01-de-maio-de-1943 http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10758482/par%C3%A1grafo-1-artigo-73-do-decreto-lei-n-5452-de-01-de-maio-de-1943 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/111983249/consolida%C3%A7%C3%A3o-das-leis-do-trabalho-decreto-lei-5452-43http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/111983249/consolida%C3%A7%C3%A3o-das-leis-do-trabalho-decreto-lei-5452-43 Referências Bibliográficas DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 16 ed. rev. e ampl. São Paulo: LTr, 2017. SANTOS, Ronaldo Limas dos. Teoria das normas coletivas. 2. ed. São Paulo: LTr, 2009, p. 157 e 162.
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