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Autor: Prof. Helcio Raymundo Colaboradores: Prof. Clovis Chiezzi Seriacopi Ferreira Prof. José Carlos Morilla Técnica e Economia de Transportes Professor conteudista: Helcio Raymundo Engenheiro civil pela Escola de Engenharia Mauá (1973), administrador industrial pelo Instituto Mauá de Tecnologia (1975), mestre em Engenharia de Transportes Rodoviários pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (1984) e doutor em Engenharia de Produção pela Universidade Paulista (2018). Professor da Universidade Paulista desde 1994, no curso de Engenharia Civil, atuando como titular da disciplina Técnica e Economia de Transportes e lecionando ainda Gerenciamento de Obras e Tecnologia da Construção/Sistemas Construtivos, além de coordenar as atividades de Trabalho de Curso I e II. No âmbito acadêmico, vem publicando diversos artigos e capítulos de livros. Desde 2015, tem apresentado suas publicações pelo menos duas vezes por ano em eventos nacionais e internacionais, em inglês, espanhol e português. Em 2018, seu artigo intitulado “Measures for passenger-transport performance evaluation in urban areas”, publicado na edição de setembro do periódico da Associação Americana de Engenheiros Civis (Asce), o Journal of Urban and Planning Development, foi indicado pelo editor como melhor artigo da edição. A publicação é resultado de sua tese de doutorado, defendida no Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da Universidade Paulista, sob a orientação do professor doutor João Gilberto Mendes dos Reis. O trabalho divulga uma metodologia inovadora para a avaliação do transporte de passageiros, não mais fundamentada na eficiência, mas nos impactos e nas ineficiências geradas. A publicação, classificada como A1 em Engenharias III, no Qualis, da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), apresenta o maior grau de avaliação entre os periódicos da área, além de contar com fator de impacto JCR (journal citation reports) de 1,5. Fora do âmbito acadêmico, é consultor em planejamento e gestão de empreendimentos de engenharia civil e em engenharia de transportes, atuando desde 1985 como sócio-diretor da R&B Engenharia e Arquitetura Ltda., e em funções de destaque em empresas públicas e privadas brasileiras e multinacionais desde 1974, como Hochtief do Brasil, Sociedade Brasileira de Engenharia e Construção, Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos (EMTU) e Companhia do Metropolitano de São Paulo (Metrô/SP). É associado individual da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP) e membro do conselho editorial da Revista dos Transportes Públicos desde 1985. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) R267t Raymundo, Helcio. Técnica e Economia de Transportes / Helcio Raymundo. – São Paulo: Editora Sol, 2020. 288 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230. 1. Planejamento de transporte. 2. Engenharia de tráfego. 3. Logística. I. Título. CDU 658.5 W508.46 – 20 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcello Vannini Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Deise Alcantara Carreiro – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Ricardo Duarte Lucas Ricardi Vitor Andrade Sumário Técnica e Economia de Transportes APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................9 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................9 Unidade I 1 CONCEITOS BÁSICOS DE TRANSPORTE DE PASSAGEIROS E DE TRANSPORTE DE CARGAS, EXTERNALIDADES E PRINCIPAIS PROBLEMAS .............................................................. 11 2 SISTEMAS OU REDES DE TRANSPORTE POR MODALIDADE OU POR MODOS DE TRANSPORTE, DIVISÃO MODAL E INTERMODALIDADE ................................................................. 15 2.1 Sistemas ou redes de transporte de passageiros e cargas no Brasil ................................ 15 2.1.1 Rede hidroviária ou aquaviária ......................................................................................................... 16 2.1.2 Rede ferroviária ....................................................................................................................................... 21 2.1.3 Rede rodoviária ........................................................................................................................................ 24 2.1.4 Rede aeroviária ........................................................................................................................................ 28 2.1.5 Rede dutoviária ....................................................................................................................................... 36 2.2 Divisão modal do transporte de passageiros e do transporte de cargas no Brasil e no mundo ................................................................................................................................. 39 2.3 Fatores de escolha dos modos de transporte ........................................................................... 41 2.3.1 Quantidade de cargas e passageiros transportados por cada modo de transporte ..................42 2.4 Predominância das rodovias no Brasil ......................................................................................... 49 2.5 Intermodalidade como solução na racionalização da divisão modal ............................. 51 3 PLANEJAMENTO DE TRANSPORTES ......................................................................................................... 51 3.1 Introdução ao planejamento de transportes ............................................................................ 51 3.1.1 Funções do transporte .......................................................................................................................... 52 3.1.2 Conceito ampliado de planejamento de transportes ............................................................... 53 3.2 Desenvolvimento urbano .................................................................................................................. 55 3.3 Evolução e abordagens do planejamento de transportes ................................................... 57 3.4 Conceituação e abrangência do planejamento de transportes ........................................ 60 3.5 Procedimentos do planejamento de transportes .................................................................... 61 3.6 Análise dos problemas de transporte ........................................................................................... 63 3.6.1 Natureza dos problemas ...................................................................................................................... 64 3.6.2 Aspectos dos problemas ....................................................................................................................... 64 3.6.3 Magnitude dos problemas ..................................................................................................................64 3.6.4 Identificação e classificação dos problemas ................................................................................ 65 3.6.5 Hierarquia dos problemas .................................................................................................................... 66 3.6.6 Problemas futuros .................................................................................................................................. 67 3.7 Desdobramento dos problemas de transporte ......................................................................... 68 3.7.1 Problemas específicos do serviço de transporte ........................................................................ 68 3.7.2 Problemas do âmbito do problema geral afetados pelo transporte .................................. 76 3.7.3 Problemas do âmbito do problema geral que afetam o transporte .................................. 80 3.8 Metas e objetivos do transporte .................................................................................................... 82 3.8.1 Metas para resolver problemas do serviço de transporte propriamente dito ................ 83 3.8.2 Metas para resolver problemas do meio ambiente afetados pelo transporte ............... 84 3.8.3 Metas para resolver problemas do meio ambiente que afetam o transporte ............... 84 3.9 Objetivos e critérios relacionados com metas .......................................................................... 84 3.10 Integração do planejamento de transportes ao uso e à ocupação do solo ............... 85 3.10.1 Fatores que condicionam o assentamento das atividades urbanas e regionais ....................85 3.10.2 Modelagem de transportes .............................................................................................................. 86 3.10.3 Projeções socioeconômicas .............................................................................................................. 88 3.10.4 Redes alternativas futuras de transporte ................................................................................... 89 3.11 Caracterização da demanda atual (pesquisa origem e destino) ..................................... 89 3.11.1 Finalidade: definições .......................................................................................................................... 89 3.11.2 Levantamento da demanda atual .................................................................................................. 91 3.11.3 Tipos e técnicas de levantamento .................................................................................................. 93 3.11.4 Montagem de matrizes de viagem ................................................................................................ 98 3.12 Projeção da demanda de viagens ............................................................................................... 98 3.12.1 Geração de viagens ............................................................................................................................. 99 3.12.2 Distribuição de viagens entre as zonas de tráfego ..............................................................102 3.12.3 Divisão de viagens por modo de transporte (divisão modal) ...........................................104 3.12.4 Alocação do tráfego à rede de transporte ...............................................................................106 4 AVALIAÇÃO DE PROJETOS (EMPREENDIMENTOS) DE TRANSPORTE .........................................108 4.1 Aprofundamento dos conceitos de benefício e custo ........................................................110 4.2 Revisão de matemática financeira ..............................................................................................112 4.3 Métodos de avaliação de investimento em empreendimentos de transporte..........113 4.3.1 Valor presente líquido ......................................................................................................................... 113 4.3.2 Relação benefício/custo ou análise custo/benefício ..............................................................116 4.3.3 Taxa interna de retorno ...................................................................................................................... 117 Unidade II 5 ENGENHARIA DE TRÁFEGO .......................................................................................................................124 5.1 Caracterização e definições de engenharia de tráfego ......................................................125 5.1.1 Volume de tráfego ............................................................................................................................... 126 5.1.2 Composição do tráfego ..................................................................................................................... 127 5.1.3 Variação de volume de tráfego ...................................................................................................... 128 5.1.4 Variação horária de volume de tráfego ...................................................................................... 130 5.1.5 Variação anual do volume horário ................................................................................................131 5.2 Velocidade .............................................................................................................................................132 5.3 Relações entre volume, velocidade e densidade ...................................................................133 5.4 Contagem de tráfego .......................................................................................................................135 5.4.1 Necessidade da contagem de tráfego ......................................................................................... 138 5.4.2 Tipos de contagem de tráfego........................................................................................................ 138 5.4.3 Dispositivos de contagem ................................................................................................................ 139 5.5 Conceituação de capacidade e nível de serviço ....................................................................143 5.5.1 Capacidade viária ................................................................................................................................. 143 5.5.2 Níveis de serviço ................................................................................................................................... 144 5.6 Determinação de níveis de serviço em rodovias ...................................................................152 5.6.1 Rodovias de múltiplas faixas (pista dupla) ................................................................................ 153 5.6.2 Rodovias de pista simples ................................................................................................................ 169 6 SEGURANÇA DE TRÂNSITO........................................................................................................................185 6.1 Situação atual da segurança de trânsito no mundo ...........................................................188 6.2 Legislação e comportamento dos motoristas.........................................................................190 6.3 Segurança de veículos e vias .........................................................................................................191 6.4 Perspectivas para a segurança de trânsito ...............................................................................193 Unidade III 7 MOBILIDADE URBANA ................................................................................................................................199 7.1 Planejamento de transportes: da teoria à prática ................................................................201 7.2 Planejamento de transporte urbano, público e coletivo por ônibus em fases ....................2017.2.1 Estatísticas e pesquisas de campo ................................................................................................ 203 7.2.2 Desenvolvimento de uma rede de linhas de ônibus urbanos ............................................ 206 7.3 Capacidade e adequação do transporte urbano, público e coletivo por ônibus ................208 7.3.1 Capacidade de um sistema urbano de ônibus ......................................................................... 208 7.3.2 Adequação dos componentes do sistema de transporte urbano público e coletivo de ônibus .......................................................................................................................................... 209 7.4 Elementos de dimensionamento de linhas de ônibus .........................................................215 7.4.1 Dados básicos necessários para o dimensionamento de linhas de ônibus ...................215 7.4.2 Especificação da oferta ......................................................................................................................216 7.4.3 Tecnologia veicular ..............................................................................................................................216 7.4.4 Desempenho operacional ..................................................................................................................217 7.4.5 Demanda de passageiros ...................................................................................................................217 7.4.6 Análise das viagens ..............................................................................................................................218 7.5 Processo de dimensionamento de linhas de ônibus ............................................................219 7.5.1 Cálculo do tempo de ciclo (TC) ........................................................................................................219 7.5.2 Cálculo da frota operacional (N) ....................................................................................................219 7.5.3 Resumo da operação .......................................................................................................................... 223 7.5.4 Diagrama de marcha .......................................................................................................................... 223 7.5.5 Avaliação da programação .............................................................................................................. 225 7.5.6 Parâmetros legais ................................................................................................................................. 226 8 LOGÍSTICA .........................................................................................................................................................236 8.1 Conceito de logística ........................................................................................................................237 8.2 Evolução do enfoque logístico .....................................................................................................238 8.3 Cenário brasileiro e mundial da logística .................................................................................239 8.4 Relações entre logística e funções administrativas .............................................................242 8.4.1 Atividades da logística em uma empresa .................................................................................. 242 8.4.2 Logística e marketing ......................................................................................................................... 243 8.4.3 Logística e produção .......................................................................................................................... 244 8.5 Gerenciamento dos sistemas logísticos de distribuição (supply chain management)..................................................................................................................244 8.5.1 Objetivo dos sistemas logísticos de distribuição ..................................................................... 244 8.5.2 Custos logísticos ................................................................................................................................... 245 8.6 Projetos de sistemas logísticos .....................................................................................................247 8.6.1 Preparação de estudo logístico ...................................................................................................... 248 8.6.2 Elaboração de estudo logístico ...................................................................................................... 249 8.6.3 Administração de projeto logístico .............................................................................................. 249 8.6.4 Conceitos a considerar nos projetos logísticos ....................................................................... 250 8.7 Nível de serviço logístico .................................................................................................................251 8.7.1 Conceito de nível de serviço logístico ......................................................................................... 252 8.7.2 Gestão do nível de serviço logístico ............................................................................................. 252 8.7.3 Política de qualidade de serviço logístico .................................................................................. 253 9 APRESENTAÇÃO Caro aluno, Esta disciplina trata da caracterização e conceituação dos modos de transporte de passageiros e cargas, dos seus respectivos fluxos de tráfego, das interações entre veículos e vias, bem como dos fundamentos técnicos e econômicos associados ao deslocamento de pessoas e bens e suas consequências (inclusive externalidades). Objetiva-se oferecer ao aluno conceitos e informações básicas, assim como analisar o estado da arte das práticas usuais da engenharia de transportes por meio de uma visão dinâmica, incorporando novas experiências e possibilidades, como a influência de veículos autônomos e de modalidades outras de gestão da mobilidade urbana e da logística na matriz energética e no meio ambiente. Ênfase especial é dada aos dilemas relativos a transporte individual vs. transporte coletivo, uso e ocupação do solo urbano vs. transporte vs. trânsito, e qualidade de vida urbana vs. sustentabilidade, bem como aos conceitos de capacidade viária, segurança e economia no transporte de passageiros e cargas e formas de integração com os outros elementos da infraestrutura social (habitação, saneamento, educação e saúde) e da infraestrutura econômica (energia e comunicações) nas cidades, nas regiões, no Brasil e no mundo. O plano de ensino desta disciplina estabelece como principais tópicos a serem estudados: • planejamento de transporte de passageiros e de transporte de cargas e avaliação de empreendimentos de transporte; • engenharia de tráfego e segurança de trânsito; • mobilidade urbana e logística. Por fim, uma palavra de gratidão e um tributo aos pioneiros desta disciplina na UNIP, em especial ao professor doutor Neuton Karassawa, por ter reunido num único texto suas próprias notas de aula de 1995, e aos professores de sua equipe, Newton Walter Gava e Seiju Kato. Em 2003, após revisão realizada em 2001, o professor Karassawa lançou a apostila que serve de inspiração e dá alma a este livro-texto. Bom estudo! INTRODUÇÃO Ao cursar esta disciplina, os alunos adquirem habilidades básicas para atuar nos setores público e privado, em organizações de diferentes perfis, como concessionárias de operação rodoviária e ferroviária, empresas de consultoria em planejamento e operação de transporte de passageiros e cargas, agências reguladoras e órgãos governamentais de trânsito e transporte, além de universidades e centros de pesquisa. 10 A formaçãotécnico-científica proporcionada por esta disciplina dá aos alunos condições iniciais para: • determinar as melhores formas de estabelecer a movimentação de pessoas, bens e informações, e de alocar recursos em condições técnicas e econômicas adequadas; • interpretar a realidade e nela interferir, identificando, formulando e solucionando problemas; • produzir, aprimorar e divulgar conhecimentos, metodologias e técnicas aplicáveis – em condições de utilização prática e imediata – à prestação de serviços e à operação de sistemas ou redes de transporte. As unidades de ensino-aprendizado da disciplina abrangem: • conceitos básicos de transporte de passageiros e de transporte de cargas, externalidades e principais problemas; • sistemas ou redes de transporte por modalidade ou por modos de transporte, divisão modal e intermodalidade; • planejamento de transportes; • avaliação de projetos (empreendimentos) de transporte; • engenharia de tráfego; • segurança de trânsito; • mobilidade urbana; • logística. Ao longo das unidades, o aluno será capacitado: • a entender, planejar e avaliar empreendimentos de transporte sob óticas pública e privada, social e empresarial; • a associar o movimento de pessoas e bens ao movimento de veículos (engenharia de tráfego), a acidentes de trânsito e à prevenção destes (segurança de trânsito); • a enfrentar e solucionar desafios de mobilidade urbana e logística. 11 TÉCNICA E ECONOMIA DE TRANSPORTES Unidade I 1 CONCEITOS BÁSICOS DE TRANSPORTE DE PASSAGEIROS E DE TRANSPORTE DE CARGAS, EXTERNALIDADES E PRINCIPAIS PROBLEMAS Deve-se, inicialmente, entender as razões da existência do transporte de passageiros (pessoas) e do transporte de cargas (bens). O transporte de pessoas e de bens está primariamente ligado aos processos contínuos de criação, satisfação e recriação das necessidades humanas, o que distingue o homem dos animais, esses últimos tendo em princípio necessidades fixas e imutáveis (ARISTÓTELES, 2006; MARX; ENGELS, 2007). Para satisfazer nossas necessidades, é inevitável empreender atividades, atividades (humanas) que não ocorrem todas no mesmo lugar e ao mesmo tempo, o que impõe a existência do transporte de passageiros (pessoas), ou seja, do deslocamento de pessoas entre pontos de origem e pontos de destino, vinculados a propósitos de viagem bem definidos. Igualmente, a produção e o consumo de bens também não ocorrem no mesmo lugar e ao mesmo tempo, o que impõe a existência do transporte de cargas, ou seja, do deslocamento de matérias-primas, produtos semiacabados e acabados entre pontos de origem e pontos de destino, vinculados ao propósito de permitir a produção e o consumo de bens. Assim, as pessoas precisam se deslocar de um ponto ao outro, e o fazem para produzir (trabalhar), estudar, descansar, se divertir, comprar, cuidar da saúde, e assim por diante. Da mesma maneira, as matérias-primas precisam ser extraídas e deslocadas para permitir a produção dos produtos semiacabados ou acabados, e os produtos acabados precisam ser deslocados para serem consumidos pelas pessoas e pelas organizações, o que move a economia. Portanto, o transporte de passageiros e o transporte de cargas pertencem ao campo da economia, mais especificamente ao campo da infraestrutura econômica. Observação Segundo Vasconcellos e Garcia (1998, p. 21), “a palavra economia deriva do grego oikonomía (de óikos, casa; nómos, lei), que significa a administração de uma casa, ou do Estado, e pode ser assim definida: ‘Economia é a ciência social que estuda como o indivíduo e a sociedade decidem (escolhem) empregar recursos produtivos escassos na produção de bens e serviços, de modo a distribuí-los entre as várias pessoas e grupos da sociedade, a fim de satisfazer as necessidades humanas’”. Outro aspecto importante é compreender as consequências impostas às pessoas e à sociedade pelo uso dos modos de transporte de passageiros e cargas no âmbito das suas externalidades, ou seja, o conjunto de problemas causados pelos transportes (externalidades negativas), a saber: 12 Unidade I • gasto de tempo além do normal devido aos congestionamentos; • acidentes de trânsito; • alto consumo de energia fóssil, passível de redução no futuro pela adoção de energia de fontes renováveis, e poluição do meio ambiente, diretamente ligada ao consumo dos combustíveis fósseis, mas (também) influenciada pela produção e manutenção dos veículos e da infraestrutura. Apesar dessas externalidades negativas, ao deslocar pessoas e cargas, os transportes contribuem para o desenvolvimento econômico de cidades, estados e países. Os sistemas ou redes de transporte podem incluir a faculdade de prover serviços de emergência sem custo adicional, de aumentar o valor da terra e de gerar benefícios relacionados à concentração das atividades urbanas (economia de escala), configurando, então, externalidades positivas. Dessa maneira, para atender às necessidades humanas, grandes quantidades de deslocamentos (viagens) no mundo todo são continuamente realizadas pelas pessoas nos modos de transporte de passageiros, assim como se realizam deslocamentos (viagens) de bens nos modos de transporte de cargas, modos esses organizados em sistemas ou redes de transporte. Os sistemas ou redes de transporte congregam, assim, modos ou modais de transporte compostos de veículos, que, por sua vez, movidos por energia, precisam das vias (próprias ou compartilhadas) e da infraestrutura a eles correlacionada (terminais, pontos de parada, estações, garagens, pátios, estacionamentos) para permitir a movimentação de pessoas e de bens. Isso costuma se dar em condições em que os recursos para proporcionar a oferta de transporte são finitos, quando não escassos, enquanto a demanda pelo transporte, de difícil controle, é vigorosamente concentrada nos espaços urbanos e durante curtos períodos de tempo ao longo do dia (período de pico, hora de pico), chamados popularmente de hora do rush pelos usuários do transporte de passageiros. Pode-se, então, entender o metabolismo do transporte de passageiros e cargas, representado, de um lado, pelo consumo de recursos (espaço, energia, tempo, renda, infraestrutura, investimentos) e, de outro, pela geração de impactos (gastos adicionais de tempo, acidentes e poluição) (VASCONCELLOS, 2016). Nesse ponto, deve ainda ser esclarecido que a demanda pelo transporte de passageiros e cargas é uma demanda derivada, ou seja, de segunda ordem. A demanda primária se refere ao atendimento das necessidades humanas, como já enfatizado, e é essa demanda que gera a demanda propriamente dita pelo transporte de pessoas e bens. Quando se especula sobre essas questões e as soluções aplicáveis, pode-se perguntar, por exemplo: • Como dimensionar a oferta do transporte de passageiros ou de cargas de maneira adequada às necessidades da demanda? • Se cada pessoa usar um automóvel, como ficará a mobilidade nas cidades? 13 TÉCNICA E ECONOMIA DE TRANSPORTES • Se cada deslocamento de cargas usar um caminhão, como ficará a logística nos países e no mundo? A resposta a essas perguntas exige que se definam e se caracterizem quais são os modos de transporte de passageiros e de transporte de cargas e de que forma foram e são constituídos seus sistemas ou redes (incluídos os veículos não motorizados), a saber: • Hidroviários ou aquaviários: barco, navio, embarcações em geral. • Ferroviários: trem, metrô, veículo leve sobre trilhos (VLT), monotrilho. • Rodoviários: automóvel, ônibus, caminhão, bicicleta, patinete, caminhada etc. • Aeroviários ou aéreos: avião, helicóptero. • Dutoviários: oleoduto, gasoduto, mineroduto (exclusivos para o transporte de cargas). A resposta exige também que se compreendam melhor questões relacionadas à divisão modal, ou seja: • Como passageiros e cargas se distribuem pelos modos de transporte no Brasil e no mundo? • Como e por que são estabelecidas as escolhas modais e quais são as opções disponíveis emcada situação? Observação No transporte de passageiros, por exemplo, nas cidades brasileiras com mais de 60 mil habitantes, o cenário em 2016 indicava que a maior parte das viagens era realizada a pé e por bicicleta (42,9%), vindo a seguir os modos de transporte individual motorizado – automóvel e motocicleta (29,1%) – e os modos de transporte público – ônibus, metrô e trem (28,0%) (ANTP, 2018). Já no transporte de cargas, segundo dados de 2015, 65,1% dos deslocamentos de matérias-primas, produtos semiacabados e bens em geral (produtos acabados) se davam pelo modo rodoviário (caminhões), 15,7% pelo modo hidroviário, 15% pelo modo ferroviário, 4% pelos modos dutoviários e 0,3% pelos modos aeroviários (EPL, 2016). Entendido o conceito de divisão modal, cabe ainda especular por que no Brasil predominam os modos de transporte rodoviários. Em grande medida, isso se deve: • à industrialização tardia; • à necessidade de “queimar” etapas de desenvolvimento nos processos evolutivos de construção do país; 14 Unidade I • a déficits ou lacunas de planejamento, ausência de planejamento ou ainda bom planejamento com pouca capacidade (política) de conciliar os interesses envolvidos; • a menores custos iniciais e menores prazos de implantação das rodovias em relação às ferrovias e aos outros tipos de rede/sistema; • à maior flexibilidade (operacional) dos modais rodoviários; • a dificuldades técnicas de engenharia na adoção de outros modos que não o rodoviário; • à adoção por cópia do modelo norte-americano de mobilidade e logística, estruturado, respectivamente, em automóveis e caminhões. Saiba mais A obra mais completa de registros e análise histórica sobre transporte de passageiros e cargas, desde o Brasil Colônia até a década de 1960, é: COIMBRA, C. Visão histórica e análise conceitual dos transportes no Brasil. Rio de Janeiro: Ministério dos Transportes, 1974. Já Margarida Cintra Gordinho aborda os sistemas ou redes de transporte fluvial, ferroviário, rodoviário e aéreo e apresenta esses segmentos de forma abrangente, mostrando o seu desenvolvimento ao longo da história do Brasil, desde o período colonial até o início da década de 2000: GORDINHO, M. C. Transportes no Brasil: a opção rodoviária. São Paulo: Marca D’Água, 2003. Por sua vez, Eduardo Alcântara de Vasconcellos, ainda que enfatizando o universo da mobilidade urbana, explica, mediante uma análise social e política das últimas décadas, quais foram os agentes que mais interferiram nos processos de adoção da opção rodoviária no Brasil, além dos interesses e estratégias envolvidos: VASCONCELLOS, E. A. Políticas de transporte no Brasil: a construção da mobilidade excludente. Barueri: Manole, 2014. Nessas condições, para permitir um entendimento mais abrangente da problemática do transporte de passageiros e do transporte de cargas no Brasil, deve-se também analisar quais são os fatores que influem e balizam a escolha dos modos de transporte pelas pessoas e organizações. 15 TÉCNICA E ECONOMIA DE TRANSPORTES No transporte de passageiros, os fatores de peso na escolha do modal de transporte pelos usuários são: regularidade, confiabilidade, segurança, rapidez, conforto e modicidade tarifária (custo, no caso do transporte individual). Já no transporte de cargas, as organizações consideram: segurança e integridade das cargas, rapidez, confiabilidade, regularidade, integração intermodal e preço do frete. Por fim, cabe um lembrete sobre o tema da intermodalidade como elemento de racionalização da divisão modal, considerando que ela equilibra a divisão modal para melhorar as condições de desempenho geral e ambiental, pelo princípio da hierarquia e da integração intermodal, e no caso do transporte urbano, público e coletivo de passageiros, pela integração física, operacional, tarifária e institucional entre os modos de transporte. De acordo com a Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP, 2007, p. 5), uma rede integrada de transportes proporciona mais qualidade, redução de tempo e custo da viagem, principalmente pela sinergia provocada no conjunto das linhas de transporte, permitindo eliminação de sobreposições e acesso a locais com mais competitividade em relação ao transporte individual. A integração é capaz de reorganizar os sistemas de transporte público. Também pode ser vista como eficaz forma de ordenar a ocupação do solo urbano, de estabelecer prioridades no uso do sistema viário e de fiscalizar a operação do sistema de transporte público. Para que seja completa e harmônica, a integração deve se dar na sua forma física, operacional, tarifária e institucional, o que a torna cada vez mais complexa, pois quanto mais ampla, maior será o número de entidades e atores envolvidos, muitas vezes com interesses distintos. 2 SISTEMAS OU REDES DE TRANSPORTE POR MODALIDADE OU POR MODOS DE TRANSPORTE, DIVISÃO MODAL E INTERMODALIDADE O transporte de passageiros e o transporte de cargas se organizam em sistemas ou redes. As viagens se distribuem pelos modos de transporte e sempre há possibilidade de integração entre eles (intermodalidade). Assim, a partir do conceito de sistema como conjunto de partes ordenadas que buscam um objetivo comum (BERTALANFFY, 1975), redes de transporte podem ser definidas como conjuntos interligados de rotas específicas, nas quais circulam veículos de transporte (NOVAES, 1989), e divisão modal como a distribuição do total de viagens realizadas por pessoas e cargas entre os diferentes modos de transporte (ORTÚZAR; WILLUMSEN, 2011). 2.1 Sistemas ou redes de transporte de passageiros e cargas no Brasil O território do Brasil se estende por uma vasta área de aproximadamente 8,5 milhões km2, quase toda explorável economicamente, seja por atividades agropecuárias, por atividades extrativas ou por assentamento de atividades urbanas. Nem toda essa área, porém, dispõe de acesso aos variados modos de transporte, restringindo-se a movimentação, em algumas regiões remotas, a incursões a pé, em lombo de animais ou por meio de pequenas embarcações – nesse último caso, em especial na Amazônia. Aliás, esse era o quadro primitivo do Brasil, até evoluir para o atual estágio de desenvolvimento. 16 Unidade I Atualmente, a população brasileira, de praticamente 210 milhões de habitantes (IBGE, 2018), dispõe de sistemas ou redes formadas por cinco modalidades ou modos de transporte básicos, ilustrados na figura a seguir: hidroviários, ferroviários, rodoviários, aeroviários e dutoviários. Principais portos Ferrovias Hidrovias Rodovias pavimentadas duplicadas Rodovias pavimentadas Brasil 1.400 km7000 Figura 1 – Principais sistemas ou redes dos modos básicos de transporte no Brasil 2.1.1 Rede hidroviária ou aquaviária A hidrovia, meio natural de transporte, desempenhou uma função histórica como via de colonização, inicialmente por barcos e navios a vela, posteriormente, já no Brasil Império, por navios a vapor. As baías da costa atlântica foram os primeiros pontos de contato dos navegantes, de além-mar, com a nova terra, muitas delas se consolidando como os principais portos da atualidade, beneficiados por um litoral extenso (cerca de 8 mil km) e pouco recortado (AB’SÁBER, 2003). Essa consolidação se iniciou efetivamente em 1808, quando o Brasil, já como Vice-Reino de Portugal, abriu os portos ao comércio marítimo internacional e às nações “amigas”. A partir dos portos, se 17 TÉCNICA E ECONOMIA DE TRANSPORTES estabeleceram os polos de desenvolvimento, incrementando o fluxo pelas ligações naturais em direção ao interior. Ao todo, até 2014, o Brasil dispunha de 34 portos públicos organizados, isto é, devidamente equipados para a conveniente operação comercial ao longo de sua costa, seus rios e seus lagos navegáveis. Esses portos estão listados a seguir e indicados na próxima figura (ANTAQ, 2019): • Angra dos Reis, Forno, Itaguaí (Sepetiba), Niterói e Rio de Janeiro (RJ); • Antonina e Paranaguá (PR); • Aratu, Ilhéus e Salvador (BA);• Areia Branca e Natal (RN); • Barra do Riacho e Vitória (ES); • Belém, Santarém e Vila do Conde (PA); • Cabedelo (PB); • Fortaleza (CE); • Imbituba, Itajaí, Laguna e São Francisco do Sul (SC); • Itaqui (São Luís) (MA); • Macapá (AP); • Maceió (AL); • Manaus (AM); • Pelotas, Porto Alegre e Rio Grande (RS); • Recife e Suape (PE); • Santos e São Sebastião (SP). 18 Unidade I Figura 2 – Portos públicos brasileiros (situação em 2014) Saiba mais O filme Carlota Joaquina, princesa do Brazil, obra histórica e satírica, dirigida por Carla Camurati e estrelada por Marieta Severo e Marco Nanini, traz uma ideia caricata da estada da família real portuguesa no Brasil, mais especificamente na cidade do Rio de Janeiro. Dom João VI e toda a corte, fugindo de Napoleão, “exilam-se” no Brasil entre 1807 e 1820, criando antes aqui um vice-reinado, transferindo o reino de Portugal para o Brasil e fazendo do Rio de Janeiro a capital do reino e do vice-reino. O retorno a Portugal, deixando no Brasil seu filho, que viria a ser denominado posteriormente Dom Pedro I, precipita a Proclamação da Independência, ocorrida em 1822. Veja: CARLOTA Joaquina, princesa do Brazil. Direção: Carla Camurati. Brasil: Copacabana Filmes e Produções, 1995. 100 min. Já o relato do historiador inglês Kenneth Light é um documento acadêmico interessante de aprofundamento, com embasamento científico, nesses importantíssimos acontecimentos históricos que deram origem ao Brasil pós-colonial e que (ainda) influenciam, em alguma medida, os destinos do país: LIGHT, K. A viagem marítima da família real: a transferência da corte portuguesa para o Brasil. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008. 19 TÉCNICA E ECONOMIA DE TRANSPORTES A navegação interior, ou cabotagem, embora pouco expressiva na participação geral no movimento atual de passageiros e cargas no país, constitui, para muitas localidades, o único meio de transporte disponível, principalmente na região amazônica. As bacias fluviais, que estão incorporadas efetivamente à rede de transporte hidroviária brasileira, apresentam condições para a navegação de embarcações fluviais de médio a grande porte durante o ano todo, e em alguns casos, como no rio Jacuí (RS) e no rio Tietê (SP), isso tem sido possível pela implantação de obras hidráulicas do tipo barragem, eclusa, dragagem para aprofundamento de calado ou obras de retificação de traçado. Parte da rede fluvial, ainda que pela localização geográfica pudesse vir a desempenhar um importante papel no escoamento do fluxo de cargas, tem seu aproveitamento dificultado ou até inviabilizado pela existência de trechos encachoeirados ou de condições não perenes para o escoamento da vazão. Até 2007 o sistema hidroviário brasileiro exibia a seguinte configuração (OLIVA, 2009): • 27.420 km de hidrovias navegáveis; • 15.407 km de hidrovias potencialmente navegáveis (dependendo de obras). Mesmo que persistam desencontros entre os números oficiais, pode-se dizer, em termos de ordem de grandeza, que o Brasil possui cerca de 43 mil km de vias potencialmente navegáveis – nas bacias hidrográficas principais (Amazônica, Paraguai, Paraná, Parnaíba, São Francisco, Tocantins-Araguaia e Uruguai) e nas bacias menores de rios do Atlântico Leste, Atlântico Nordeste (Ocidental e Oriental), Atlântico Sudeste e Atlântico Sul –, dos quais praticamente a metade (20 mil km) está na Bacia Amazônica (ver figura a seguir). Por outro lado, efetivamente em uso, são apenas 10 mil km (ALVES, 2007). Figura 3 – Bacias hidrográficas brasileiras 20 Unidade I O transporte na região amazônica é representado basicamente pela navegação fluvial, pelo rio Amazonas e seus afluentes, o que proporciona a integração dos estados do Amazonas e do Pará, tendo nos portos de Manaus e Tabatinga (AM), Belém e Santarém (PA), Porto Velho (RO) e Rio Branco (AC) os principais pontos de movimentação de passageiros e cargas (FREITAS; PORTUGAL, 2006; LOUREIRO, 2007). A Bacia do Tocantins-Araguaia é importante para os estados do Pará, Goiás, Tocantins e Mato Grosso. Os rios Tocantins e Araguaia percorrem o estado de Goiás e Tocantins na direção sul-nordeste, mas encontram alguns trechos de descontinuidade, o que prejudica a navegação plena em razão da limitação das calhas (calado) e das corredeiras em boa parte dos seus cursos. Com a implantação da usina de Tucuruí, esse subsistema fluvial passou a configurar um meio alternativo para o escoamento do minério de Carajás, por meio do porto de Belém (PA). Os principais portos dessa bacia hidrográfica são o de Belém (PA), no estuário do Marajó (PA), e o de Marabá (PA), situado na BR-010, também denominada de rodovia Belém-Brasília (FEARNSIDE, 1999; RIBEIRO; PETRERE; JURAS, 1995). O rio São Francisco, nos estados de Minas Gerais, Bahia e Pernambuco, é navegável entre os portos de Pirapora (MG) e Juazeiro (BA). Com o desenvolvimento do vale do São Francisco, as tradicionais e antigas embarcações hidroviárias estão sendo substituídas por embarcações de maior capacidade e menor custo operacional, para atender o crescente fluxo de passageiros (inclusive turistas) e, principalmente, de cargas produzidas ou consumidas na região (GODINHO; GODINHO, 2003). A transposição do rio São Francisco (deslocamento de parte das águas do rio, nomeado pelo governo brasileiro de Projeto de Integração do Rio São Francisco com Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional, visando irrigar a região Nordeste e semiárida do Brasil) em princípio não deverá alterar os níveis de navegabilidade, ainda que possa promover certa regularização da vazão, limitando o calado. Ela é alvo de críticas porque se considera que o empreendimento não será capaz de suprir as necessidades da população da região, pois o problema não seria o déficit hídrico, que não existe, mas sim a má administração dos recursos, visto que a maior parte da água é destinada à irrigação e que diversas obras estão há anos inconclusas (ZELLHUBER; SIQUEIRA, 2016). A Bacia do Paraná, por sua vez, é formada pelos rios Paraná e Tietê, tendo a jusante como ponto terminal a barragem de Itaipu, no extremo do estado do Paraná (PR), na divisa brasileira com o Paraguai e a Argentina. Outros afluentes são vias de navegação de importância apenas local. O rio Tietê apresenta ao longo de seu curso muitas dificuldades à navegação, motivo pelo qual grandes investimentos foram feitos – em barragens, eclusas e canais – para torná-lo navegável, com a criação da hidrovia Tietê-Paraná. A área de influência direta dessa bacia se estende pelos estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul, sul de Goiás e triângulo mineiro (MG). Seus principais portos são Presidente Epitácio (SP) e Panorama (SP), que constituem pontos de integração de transportes hidroviários, ferroviários e rodoviários (ITAIPU, 2019). Observação A hidrovia Tietê-Paraná é uma via de navegação situada entre as regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil. Ela permite a navegação e o transporte de passageiros e cargas ao longo dos rios Paraná e Tietê. Um conjunto de eclusas viabiliza a passagem pelos desníveis das muitas represas existentes nos dois rios. A hidrovia tem extensão de 2.020 km navegáveis, sendo 1.020 km no rio Paraná e 800 km no rio Tietê (AHRANA, 2019; SÃO PAULO, 2019). 21 TÉCNICA E ECONOMIA DE TRANSPORTES A Bacia do Paraguai se situa no Mato Grosso do Sul e no Mato Grosso e tem como principais componentes os rios Paraguai e Cuiabá, atravessando a região do Pantanal. A Bacia do Uruguai, no Rio Grande do Sul, faz limite com a Argentina. Os rios do Nordeste de maior importância para a navegação são o Paranaíba, entre o Piauí e o Maranhão, e o Pindaré, com foz na cidade de São Luís (MA). Os rios da região Sul, por sua vez, se localizam no Rio Grande do Sul e se estendem até o Uruguai. Entre eles se destacam o Jacuí e o Taquari, ademais dos lagos e lagoas conectados ao porto de Rio Grande (RS), com terminal intermodal distante 120 km de Porto Alegre (RS), o que permitea integração das modalidades hidroviária, rodoviária e ferroviária para o escoamento principalmente de trigo e soja da região (ANA, 2015). Vias economicamente navegadas (2013) Instalações portuárias Vias economicamente navegadas Massa d’água Regiões hidrográficas Região hidrográfica Amazônica Região hidrográfica do Atlântico Sul Região hidrográfica do Paraguai Região hidrográfica do Paraná Região hidrográfica do São Francisco Região hidrográfica do Tocantins-Araguaia Delimitação marítima Linha de base reta Extensão total: 22.037 km Tocantins-Araguaia: 1.360 km São Francisco: 576 km Paraguai: 591 km Atlântico Sul: 500 km 1:5.038.029 N Paraná: 1.359 km Amazônica: 17.651 km Figura 4 – Principais hidrovias brasileiras e sua extensão potencial (situação em 2013) 2.1.2 Rede ferroviária A rede ferroviária do país tem origem em meados do século XIX. Em 1854, entrou em operação o primeiro trecho ferroviário, entre a cidade do Rio de Janeiro (RJ) e a raiz da serra de Petrópolis, para o transporte do café fluminense. 22 Unidade I Observação De acordo com Sodré (2013), “a primeira linha férrea implantada no Brasil foi a da Imperial Companhia de Navegação a Vapor e Estrada de Ferro de Petrópolis, por concessão feita a Irineu Evangelista de Souza (designado Barão de Mauá em 1854 e Visconde de Mauá em 1874), pelo decreto do Poder Executivo de 12 de junho de 1852. A inauguração do primeiro trecho concluído, que ia do porto de Mauá até o Fragoso, próximo da raiz da serra de Petrópolis, se deu em 30 de abril de 1854”. Até o final do Império, em 1889, quase todas as províncias (denominação dada às porções territoriais hoje conhecidas como estados) eram servidas por estradas de ferro, cuja extensão já ultrapassava 9 mil km. O crescimento dessa modalidade de transporte teve, no entanto, seu maior impulso na primeira fase da República. No final desse período, por volta de 1930, na chamada República Velha, a rede ferroviária do país chegou a atingir 32.500 km de extensão. Desde essa época até 2014 pouca coisa foi acrescentada, devendo-se destacar a ligação do Rio de Janeiro (RJ) a Salvador (BA), pela Estrada de Ferro Central do Brasil e pela Viação Férrea Federal Leste Brasileiro, e o prolongamento da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil até Corumbá (MT). Por outro lado, diversos ramais foram desativados por serem considerados antieconômicos, resultando numa rede que atinge atualmente cerca de 30 mil km, concentrados quase que exclusivamente nos estados litorâneos, como mostra a figura a seguir. Desse total, apenas cerca de 2 mil km são eletrificados (BOITEUX, 2014). Concessionárias associadas da ANTF Ferrovia Transnordestina Logística (FTL) Ferrovia Tereza Cristina (FTC) MRS Logística Rumo – Malhas Norte, Oeste, Paulista e Sul Vale – Estrada de Ferro Carajás (EFC) e Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM) VLI – Ferrovia Centro-Atlântica (FCA) e Ferrovia Norte-Sul (FNS) – Tramo Norte Figura 5 – Malha ferroviária brasileira 23 TÉCNICA E ECONOMIA DE TRANSPORTES O sistema ferroviário brasileiro nas últimas duas décadas é fruto de um processo de privatização encetado na década de 1990, que se configurou, inicialmente, como mostra a tabela a seguir. Tabela 1 – Extensão da malha ferroviária brasileira concedida, segundo a data de concessão Malhas regionais Data do leilão Nome da concessionária Início da operação Extensão (km) Oeste 5/3/1996 Ferrovia Novoeste 1/7/1996 1.621 Centro-Leste 14/6/1996 Ferrovia Centro-Atlântica 1/9/1996 7.080 Sudeste 20/9/1996 MRS Logística 1/12/1996 1.674 Tereza Cristina 26/11/1996 Ferrovia Tereza Cristina 1/2/1997 164 Sul 13/12/1996 América Latina Logística do Brasil 1/3/1997 6.586 Nordeste 18/7/1997 Companhia Ferroviária do Nordeste 1/1/1998 4.238 Paulista 10/11/1998 Ferrovias Bandeirantes 1/1/1999 4.236 Total 25.599 Fonte: ANTT (2019c). Em 2017, a extensão da malha brasileira concedida era de 29.075 km, como discriminado na tabela a seguir. Tabela 2 – Extensão da malha ferroviária brasileira concedida (situação em 2017) Malhas regionais Nome da concessionária/ferrovia Extensão/bitola (km) Extensão total (km)Larga Métrica Mista MA/PA Estrada de Ferro Carajás 978 978 PR Estrada de Ferro Paraná Oeste 248 248 ES/MG Estrada de Ferro Vitória a Minas 873 22 895 Centro-Leste Ferrovia Centro-Atlântica 3 7.089 131 7.223 Norte-Sul Ferrovia Norte-Sul – Tramo Central 856 856 Norte-Sul Ferrovia Norte-Sul – Tramo Norte 745 745 Tereza Cristina Ferrovia Tereza Cristina 163 163 Nordeste Ferrovia Transnordestina – FTL 4.275 20 4.295 Sudeste MRS 1.613 73 1.686 MS/MT Rumo Malha Norte 735 735 Oeste Rumo Malha Oeste 1.973 1.973 Paulista Rumo Malha Paulista 1.544 242 269 2.055 Sul Rumo Malha Sul 7.223 7.223 Total 6.474 22.086 515 29.075 Fonte: ANTT (2019c). A título ilustrativo, a figura a seguir mostra a produção total do transporte ferroviário brasileiro de cargas em toneladas úteis (TU) de todas as concessionárias. 24 Unidade I 2018201520112008 2017201420102007 20162012 201320092006 600.000 500.000 200.000 400.000 100.000 300.000 To ne la da s ú te is 0 Figura 6 – Produção do transporte ferroviário de cargas em toneladas úteis (TU) das concessionárias brasileiras 2.1.3 Rede rodoviária Durante o Brasil Colônia e o Brasil Império, formou-se uma rede de estradas pela qual trafegavam carros de bois, carroças, muares de cargas e animais de sela (ABREU, 1976, 1982). Em meados do século XIX, destaca-se a implantação da Estrada do Vergueiro como importante elemento da formação histórica do Brasil, do estado de São Paulo, em geral, e da cidade de São Paulo, em especial, ligando o porto de Santos e o Planalto: Estrada do Vergueiro foi a designação que a antiga Estrada da Maioridade recebeu, após ser reformada entre 1862 e 1864, sob a orientação do comendador José Pereira de Campos Vergueiro, um dos filhos do senador Nicolau Pereira de Campos Vergueiro, grande fazendeiro e comerciante de café de São Paulo. A Estrada do Vergueiro seguia por uma variante do Caminho do Mar, que, passando pelo Ipiranga, afastava-se do rio Tamanduateí e cortava o planalto na direção de São Bernardo, seguindo até o rio Grande, onde acompanhava o rio até suas nascentes, para depois transpor a serra do Mar pelo caminho que, depois de calçado com pedra, se chamou Calçada do Lorena. Com a Estrada da Maioridade, construída em 1844, a serra passou a ser vencida pelo que depois se chamou Estrada Velha de Santos, pavimentada com concreto em 1917 (CASAS BANDEIRISTAS, [s.d.]). Entre o final do século XIX e o início do século XX, os veículos automotores, motorizados ou “autopropelidos” (automóveis) começam a substituir os veículos de tração animal, parecendo estar destinados a concorrer, num futuro próximo, com a então florescente ferrovia (ECKERMANN, 2001). Em 1913, a já citada Estrada do Vergueiro se converte na primeira estrada do Brasil a ser pavimentada, e em 1917 o Caminho do Mar para Santos recebe revestimento em macadame (TOLEDO, 2000). 25 TÉCNICA E ECONOMIA DE TRANSPORTES Macadame Macadame (do inglês macadam) é um tipo de pavimento para estradas desenvolvido por volta de 1820 pelo engenheiro escocês John Loudon McAdam. O método consiste em construir três camadas de agregado graúdo (brita) sobre uma fundação, lateralmente contidas por valas para a drenagem das águas superficiais. As duas primeiras camadas têm profundidade de cerca de 20 cm cada, e recebem brita de tamanho máximo de 7,5 cm. A terceira camada é subdividida em duas, de 5 cm cada, preenchidas com brita de tamanho máximo de 2,5 cm. Cada camada é compactada com um rolo pesado, liso, metálico (um cilindro), “forçando” os vazios das camadas compostas por agregado de maior tamanho a serem preenchidos pelas de menor tamanho. O assentamento de sucessivas camadas de agregado gradualmente menor, levando ao nivelamento da superfície, é conhecido como macadam water-bound. Trata-se de um método construtivode mão de obra intensiva, que até o início do século XX resultava em pavimentos estáveis e de baixo custo, propiciando o tráfego de todos os tipos de veículo o ano todo. As estradas construídas dessa maneira foram designadas como macadamizadas. Com o advento dos veículos motorizados, a poeira tornou-se um problema sério nas estradas macadamizadas. O vácuo criado pelos veículos locomovendo-se rapidamente sugava o pó da superfície da estrada, levantando nuvens de poeira e contribuindo para deteriorar o pavimento. A correção desse problema se deu pela pulverização de alcatrão na superfície, criando-se então o tarmac (alcatrão sobre macadame, tradução para tar-bound macadam). A primeira estrada de macadame no Brasil, em um dos chamados caminhos do mar de São Paulo, ficou conhecida como Calçada do Lorena, aberta no final do século XVIII, em razão das precárias condições do Caminho do Padre José de Anchieta. Desse modo, em 1790 iniciou-se uma nova via, calçada de pedras, por determinação do governador da capitania de São Paulo, Bernardo José Maria de Lorena. A obra ficou a cargo do brigadeiro João da Costa Ferreira, engenheiro da Real Academia Militar de Lisboa. Concluída em 1792, estendia-se por 50 km, reduzindo em cerca de 20% o percurso entre Santos e São Paulo de Piratininga (futuramente São Paulo, como conhecida hoje). No Rio de Janeiro, a Estrada União e Indústria, construída pelo empresário Mariano Procópio e inaugurada em 1861 por D. Pedro II, ligou Juiz de Fora (MG) a Petrópolis (RJ). O macadame evoluiu e hoje estão normalizados o macadame hidráulico, o macadame seco e o macadame betuminoso. A norma DNIT 152/2010-ES, por exemplo, define o macadame hidráulico como uma “camada de pavimento constituída por uma ou mais camadas de agregados graúdos com diâmetro variável de 3,5″ a 1/2″ (88,9 mm a 12,7 mm), compactadas, com as partículas firmemente entrosadas umas às outras, e os vazios preenchidos por agregado para enchimento, com ajuda lubrificante da água”; o macadame seco é constituído por agregados graúdos, naturais ou britados, e seus vazios são preenchidos a seco por 26 Unidade I agregados miúdos, cuja estabilização é obtida pela ação da energia de compactação, aplicada em uma única camada, exclusivamente como base ou sub-base de pavimento, com espessura acabada de cerca de 10 cm; e o macadame betuminoso compreende duas aplicações alternadas de ligante betuminoso sobre agregados de tamanho e quantidades especificadas, espalhadas, niveladas e comprimidas. Adaptado de: Macadame (2018). A implantação da rede rodoviária moderna no Brasil, no entanto, teve efetivamente início no estado de São Paulo, a partir de 1925, com a pavimentação, em concreto de cimento Portland, do trecho da serra do Mar. Seria a primeira experiência com o pavimento denominado rígido na América do Sul (CAMINHOS…, 2004). A partir daí, Washington Luiz, então presidente da República, sob o lema de que governar é abrir estradas, deu início à construção da rede rodoviária no país, por meio da Comissão de Estradas de Rodagens Federais, criada em 1927 e posteriormente, em 1937, transformada no Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER) – tornado autarquia em 1945 –, que em 1944 definiria o Plano Rodoviário Nacional, no qual foram estabelecidas as ligações da capital de cada estado com a capital federal (Rio de Janeiro), além das chamadas rodovias de fronteira. Esse plano, apesar de sofrer sucessivas ampliações e alterações, estabeleceu a estrutura básica da rede rodoviária atual. O DNER foi extinto em 2001, e suas funções foram absorvidas pelo Departamento Nacional de Infraestrutura Terrestre (DNIT), ainda em funcionamento (DNIT, 2001). Deve ser acrescido que o DNER era organizacional e institucionalmente bastante similar ao Bureau of Public Roads, criado nos Estados Unidos em 1918, precedido por diversas agências desde 1893 e sucedido pela Federal Highway Administration, criada em 1966 (BUREAU…, 2015). Atualmente, o Brasil possui uma rede de cerca de 1.700.000 km de rodovias, dos quais 213 mil km são pavimentados, ou seja, 12% do total. Para fins de comparação, segundo dados de 2012 (CIA, [s.d.]), a rede americana apresentava uma rede de cerca de 6.600.000 km de rodovias, dos quais 4.300.00 km eram pavimentados, ou seja, 65% do total. A rede rodoviária brasileira está subdividida em três jurisdições: federal, estadual e municipal. A grande parcela dos 78% das rodovias não pavimentadas (dados de 2015) pertence aos municípios (CNT, 2018). A tabela a seguir mostra a evolução da malha rodoviária brasileira, segundo as jurisdições federal, estadual (Distrito Federal) e municipal, de 2001 a 2017, e a figura na sequência ilustra sua distribuição espacial. Tabela 3 – Malha rodoviária brasileira segundo jurisdição Ano Federal Estadual Coincidentes Municipal Estaduais transitórias, estadual e municipal Total 2001 116.649,0 247.774,0 24.930,9 1.383.804,5 - 1.748.227,5 2002 116.689,4 247.774,0 25.056,7 1.383.804,5 - 1.748.267,9 2003 117.340,9 239.933,9 24.832,1 1.381.715,1 - 1.738.989,9 27 TÉCNICA E ECONOMIA DE TRANSPORTES 2004 117.391,4 252.449,5 24.326,4 1.382.021,1 - 1.751.862,0 2005 117.370,1 267.441,7 24.198,7 1.356.687,8 - 1.741.499,6 2006 117.606,8 267.441,7 24.161,6 1.356.687,8 - 1.741.736,3 2007 117.812,6 267.442,0 23.266,5 1.356.393,0 - 1.741.647,6 2008 118.099,1 254.136,6 23.420,9 1.393.042,3 - 1.765.278,0 2009 118.829,2 254.136,6 23.421,5 1.339.126,9 - 1.712.092,7 2010 119.032,7 254.136,6 23.025,5 1.339.126,9 - 1.712.296,2 2011 119.487,4 255.040,0 22.428,5 1.339.126,9 - 1.713.654,3 2012 119.701,8 255.040,0 22.652,8 1.339.126,9 - 1.713.868,7 2013 119.809,4 255.040,0 22.454,1 1.339.126,9 - 1.713.976,3 2014 119.973,3 261.506,8 21.965,8 1.339.126,9 - 1.720.607,0 2015 119.953,5 261.562,8 25.282,7 1.339.126,9 - 1.720.643,2 2016* 120.582,7 - - - 1.600.329,2 1.720.911,9 2017* 120.554,4 - - - 1.600.145,9 1.720.700,3 * A partir de 2016, as rodovias estaduais e municipais passaram a ser apresentadas agrupadas em rodovias estaduais transitórias, estaduais e municipais Fonte: CNT (2018). Rodovias federais Rodovias estaduais Fonte: MT/DNIT (VGeo) Elaboração: SPGG/Deplan (7/2018) Modal rodoviário no Brasil Figura 7 – Rede rodoviária brasileira (situação em 2016) 28 Unidade I 2.1.4 Rede aeroviária Alberto Santos Dumont é considerado o pai da aviação brasileira. Nascido em 1873 em Palmira (MG), mudou-se para Paris (França) em 1891. De 1897 a 1902 contribuiu para resolver o problema da dirigibilidade em balões por meio de quase uma dezena de experimentos práticos. Em 23 de outubro de 1906, o primeiro avião do mundo, projetado e construído por Santos Dumont, fez seu primeiro voo. Batizado de 14-Bis, o “mais pesado que o ar” se elevou a 50 m de altura depois de voar ao longo de cerca de 200 m de pista. Saiba mais Há muita polêmica sobre quem inventou o avião, se o brasileiro Alberto Santos Dumont ou os irmãos Wright, norte-americanos. Estes voaram primeiro, mas sua aeronave não decolava como o 14-Bis – ela era lançada por uma catapulta (dispositivo destinado a lançar pedras, dardos ou outros projéteis de grande tamanho, atingindo distâncias consideráveis). Para mais detalhes, consultar: NOGUEIRA, S. Quem, afinal, inventou o avião? Superinteressante, São Paulo, 23 out. 2017. Disponível em: https://super.abril.com.br/ tecnologia/quem-afinal-inventou-o-aviao/. Acesso em: 19 maio 2020. Os principais marcos da aviação civil brasileira até a década de 1920 são (HISTÓRIA…, 2012): • 1914: em 24 de fevereiro, o Ministério da Guerra abre oficialmente o primeiro aeródromo e escola de aviação do país, a Escola Brasileira de Aviação, no Campo dos Afonsos, no Rio de Janeiro (RJ), contando já com 45 alunos matriculados e 15 aviões de todas as classes (monoplanos, biplanos e hidroaeroplanos). • 1918: outorga-se a primeira concessão de transporte aéreo, sem prosseguimento por parte do solicitante. • 1919: o Ministério de Viação e ObrasPúblicas inicia os primeiros estudos para o estabelecimento de legislação específica do transporte aéreo. • 1922: foram outorgadas até então sete concessões, todas sem prosseguimento. • 1925: o governo da República, pela autorização do art. 19 da Lei Federal n. 4.911, de 12 de janeiro de 1925, baixou o Decreto Federal n. 16.083, de 23 de julho, regulamentando o serviço de transporte aéreo no Brasil; até então, não havia qualquer ato oficial fixando regras para a navegação aérea, tampouco condições a observar nas concessões. 29 TÉCNICA E ECONOMIA DE TRANSPORTES • 1926: a Condor Syndikat solicitou permissão especial e temporária para o estudo de uma linha aérea regular entre o Rio de Janeiro (RJ) e o Sul do país, autorizada no dia 26 de janeiro de 1927. Em 1927, dois anos depois de ser estabelecida a primeira legislação brasileira relativa à aeronavegação, foi criada a primeira companhia aérea genuinamente brasileira para explorar os serviços de transporte aéreo, a Viação Aérea Riograndense, sediada em Porto Alegre (RS), depois mundialmente conhecida como Varig (HISTÓRIA…, 2012). Ascensão e queda da Varig A Varig foi a primeira empresa aérea brasileira, fundada em 7 de maio de 1927, em Porto Alegre. Ciente do potencial da aviação, o alemão Otto Ernst Meyer mudou-se para o Brasil na tentativa de viabilizar uma empresa aérea. Após tentar obter apoio e financiamento no Recife (PE) e no Rio de Janeiro (RJ), o empreendedor conseguiu em Porto Alegre (RS) completar os fundos para viabilizar o investimento total com diversos empreendedores do Rio Grande do Sul (RS) e alguns sócios alemães. Com 21% das ações, a alemã Condor Syndikat cedeu o hidroavião Dornier Do J Wal à Varig, seu primeiro avião então. O primeiro voo ocorreu ainda em 1927, entre Porto Alegre (RS) e Rio Grande (RS), sobrevoando a lagoa dos Patos. Inicialmente, a Varig operava apenas voos regionais no estado gaúcho, com uma frota composta exclusivamente por aviões de origem alemã. Em 1942, após o rompimento de relações comerciais do Brasil com a Alemanha, em razão da Segunda Guerra Mundial, a empresa recebeu um De Havilland DH-89 Dragon Rapide, que foi utilizado no primeiro voo internacional da companhia, ligando Porto Alegre (RS) a Montevidéu, no Uruguai. Esse voo também marcou a primeira operação internacional realizada por uma empresa aérea brasileira. Com o fim da Segunda Guerra, a Varig recebeu dezenas de aviões considerados excedentes de guerra, com destaque para os Douglas DC-3 e os Curtiss C-46, que permitiram sua rápida expansão nacional. O crescimento econômico do Brasil deu à Varig a oportunidade de inaugurar em 1955 seu primeiro voo de longo curso, ligando Porto Alegre (RS) a Nova York, com escalas em São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Belém (PA) e Ciudad Trujillo (Santo Domingo), utilizando o Lockheed Super Constellation. A segunda metade da década de 1950 marcou uma acirrada competição com o consórcio Real-Aerovias, que disputava tanto o mercado doméstico quanto o mercado internacional. Em 1959, a Varig deu outro passo à frente de suas concorrentes ao receber o primeiro avião a jato do Brasil, o francês Sud Aviation Caravelle. Nos anos seguintes, a empresa aérea esteve envolvida em polêmicas, como a compra do consórcio Real-Aerovias e a absorção da Panair do Brasil. Ao garantir a hegemonia no mercado brasileiro, a Varig passou a competir apenas com as empresas internacionais, mantendo uma acirrada rivalidade com a Pan Am 30 Unidade I (Pan American World Airways, que entrou em falência em 1991), e ainda garantindo por vários anos diversos títulos de excelência. A década de 1980 marcou o fim do monopólio das linhas internacionais com origem ou destino no Brasil, o que, somado à crise econômica da época, levou a empresa a um forte declínio, agravado nos anos seguintes. Sem um modelo de negócios viável, a Varig passou a acumular dívidas, que culminaram com a perda de mercado doméstico para a TAM e posteriormente para a Gol. Com dificuldades em renovar a frota e obter crédito no mercado, a Varig entrou em colapso, sendo a primeira empresa à época a entrar com um pedido de recuperação judicial baseado na nova Lei da Falência. No processo, com patrimônio cada vez menor, a Varig foi desmembrada, e suas rotas e alguns ativos foram vendidos, mantendo-se apenas a dívida com a antiga controladora. Em 2007 a Gol adquiriu a chamada Nova Varig, e em 2010 a justiça decretou a falência da massa falida, e o fim da história da companhia. Adaptado de: Ubiratan (2015). Em 1928, os hidroaviões da Condor Syndikat, precursora da Serviços Aéreos Cruzeiro do Sul, companhia aérea absorvida pela Varig em 1993, passaram a operar linhas entre o Rio de Janeiro (RJ) e Porto Alegre (RS) e entre Corumbá (MT) e Cuiabá (MS) (CRUZEIRO, 2014). Em 1929, nasceu outra das companhias aéreas pioneiras do Brasil, como subsidiária de uma empresa norte-americana, a Nyrba (New York-Rio de Janeiro-Buenos Aires), incorporada pela Pan Am em 1930, e que teve seu nome modificado de Nyrba do Brasil para Panair do Brasil, em referência ao código telegráfico da Pan Am. Foi a principal empresa aérea brasileira entre 1930 e 1950 e perdeu mercado, principalmente o doméstico, na década de 1950, com o crescimento da Varig e da Real Aerovias (fundada em 1946 e absorvida pela Varig em 1961) (REAL…, 2012). A partir de 1946, as ações da Panair começaram a ser transferidas para investidores brasileiros, tornando-a majoritariamente nacional em 1948. A Panair teve suas operações aéreas abruptamente encerradas em 10 de fevereiro de 1965, devido a um decreto do governo militar (durante o período ditatorial de 1964 a 1985), que cassou a concessão da empresa. Até hoje suas linhas encontram-se tecnicamente suspensas (SALADINO, 2005; SASAKI, 2005). A música “Conversando no bar (Saudade dos aviões da Panair)”, composta por Milton Nascimento e Fernando Brant quase dez anos após o fechamento da Panair, e interpretada por Elis Regina, evoca a saudade dos tempos passados, contribuindo para a permanência da Panair do Brasil na memória coletiva associada a uma imagem nostálgica de um Brasil promissor (ANDRADE, 2014). A letra da música está transcrita a seguir. Conversando no bar (Saudade dos aviões da Panair) Lá vinha o bonde no sobe e desce ladeira E o motorneiro parava a orquestra um minuto Para me contar casos da campanha da Itália 31 TÉCNICA E ECONOMIA DE TRANSPORTES E de um tiro que ele não levou Levei um susto imenso nas asas da Panair Descobri que as coisas mudam E que tudo é pequeno nas asas da Panair E lá vai menino xingando padre e pedra E lá vai menino lambendo podre delícia E lá vai menino senhor de todo fruto Sem nenhum pecado, sem pavor O medo em minha vida nasceu muito depois Descobri que minha arma é O que a memória guarda dos tempos da Panair Nada de triste existe que não se esqueça Alguém insiste e fala ao coração Tudo de triste existe e não se esquece Alguém insiste e fere no coração Nada de novo existe neste planeta Que não se fale aqui na mesa de bar E aquela briga e aquela fome de bola E aquele tango e aquela dama da noite E aquela mancha e a fala oculta Que no fundo do quintal morreu Morri a cada dia dos dias que eu vivi Cerveja que tomo hoje é Apenas em memória dos tempos da Panair A primeira Coca-Cola foi Me lembro bem agora, nas asas da Panair A maior das maravilhas foi Voando sobre o mundo nas asas da Panair Em volta dessa mesa velhos e moços Lembrando o que já foi Em volta dessa mesa existem outras Falando tão igual Em volta dessas mesas existe a rua Vivendo seu normal Em volta dessa rua, uma cidade Sonhando seus metais Em volta da cidade... Fonte: Conversando… (s.d.). 32 Unidade I Em 1933 foi criada por 72 empresários, entre eles um sobrinho de Santos Dumont, a Viação Aérea São Paulo (Vasp), cujas primeiras rotas eram entre São Paulo (SP) e São José do Rio Preto (SP) e entre São Paulo (SP), Ribeirão Preto (SP) e Uberaba (MG). Em 1935, em dificuldades financeiras, a recém-criadaempresa foi adquirida pelo governo do estado de São Paulo. Em 1990, como segunda maior empresa aérea brasileira, atuando já no exterior, a Vasp foi privatizada. Houve grande expansão das suas linhas, mas sucederam-se episódios de corrupção do grupo empresarial ao qual a companhia estava ligada, o que, somado a sérios abalos nas crises de desvalorização da moeda nacional e má gestão, levou à decretação de falência em 2008 (VASP, 2009). A criação do Departamento de Aeronáutica Civil, em 1931, por Getúlio Vargas, viria a dar uma pequena e inicial estrutura ao serviço aeroviário do país, pois objetivava estudar, orientar, planejar, controlar, incentivar e apoiar as atividades da aviação civil pública e privada. O órgão nasceu subordinado diretamente ao Ministério de Viação e Obras Públicas. Em 1941 passou para o Ministério da Aeronáutica, e em 1969 seu nome foi modificado para Departamento de Aviação Civil (DAC), permanecendo sob o comando da Aeronáutica até 2006, ao ser substituído pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), situação que permanece até hoje. A Anac tem a finalidade de regular e fiscalizar as atividades de aviação civil, bem como adotar as medidas necessárias para o atendimento do interesse público. Além disso, sua missão é incentivar e desenvolver a aviação civil e a infraestrutura aeronáutica e aeroportuária do país (ANAC, 2006). Ainda na década de 1930, foi criado o Serviço Postal Aéreo Militar, logo em seguida renomeado Correio Aéreo Militar. Com a criação do Ministério da Aeronáutica, em 1941, foram unidos o Correio Aéreo Militar (mantido pelo Exército Brasileiro) e o Correio Aéreo Naval (mantido pela Marinha do Brasil), constituindo-se o Correio Aéreo Nacional (CAN). Esse serviço ampliou-se pela implantação, a partir do litoral, de uma rede de campos de pouso e de pequenos aeroportos por todo o país (BRASIL, 2011a). A política adotada pelo governo durante o período do Estado Novo (ditadura liderada por Getúlio Vargas de 1937 a 1945), favorável à aviação comercial a partir de subvenções à iniciativa privada, nos moldes do que ocorrera nos Estados Unidos entre 1925 e 1934 – subvenções pautadas pelo clientelismo constituído entre a iniciativa privada e o Estado –, teve grandes reflexos após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), ocasião em que surgiram outras pequenas empresas aéreas, ampliando-se o serviço de linhas regulares (BIELSCHOWSKY; CUSTÓDIO, 2011; FERREIRA, 2012). No entanto, “apenas as cidades de maior expressão econômica podiam ser atendidas pelos novos equipamentos. Assim é que, de um total de 335 cidades servidas por linhas aéreas em 1958, somente 92 continuavam a dispor do serviço em 1975”, a maior parte delas dispondo de uma simples pista de terra, com 900 m de extensão, em campos de pouso ou aeroportos precários (MALAGUTTI, 2001, p. 5). 33 TÉCNICA E ECONOMIA DE TRANSPORTES Saiba mais Assista a um documentário sobre a participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial: SENTA a Pua! Direção: Erick de Castro. Brasil: Rio Filme, 1999. 112 min. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=9v2PN4CeCM0. Acesso em: 19 maio 2020. Nas décadas de 1940 e 1950, a frota brasileira de aeronaves em operação era formada basicamente por aviões DC-3, aviões militares americanos remanescentes da Segunda Guerra Mundial adaptados para a aviação civil de passageiros e cargas, no âmbito do que foi denominado à época de war surplus (sobras de guerra), conforme já comentado. Com a redução das subvenções governamentais, porém, o mercado foi se ajustando às novas condições e circunstâncias da economia e da nova ordem mundial, ditada pelo pós-guerra, diminuindo-se, em 1960, para duzentas as cidades servidas por aeroportos e, em 1966, para 120, quantidade aproximada mantida até os dias atuais (RIBEIRO, 2018). O sistema aeroportuário brasileiro atualmente é formado por 2.619 aeroportos civis – sendo 2.044 privados, dos quais 18% têm pistas pavimentadas com asfalto ou concreto, 28% têm pistas em terra batida, e os restantes 54% têm pistas de cascalho, piçarra, grama ou saibro – e 575 aeroportos públicos – 74% com pistas pavimentadas, 15% em terra e 11% com pavimentação precária (ANAC, 2018). A Força Aérea Brasileira, por sua vez, conta com 23 bases aéreas em todo o território nacional (FAB, [s.d.]). Atualmente pouco menos do que uma centena de aeroportos concentra 98% da movimentação de passageiros e cargas no país. A maioria desses aeroportos mais movimentados, o que inclui os aeroportos internacionais, é administrada pela Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero), diretamente ou por concessão à iniciativa privada, empresa pública federal brasileira de administração indireta vinculada ao Ministério da Infraestrutura e criada em 31 de maio de 1973. Em 2017, a Infraero era responsável isoladamente ou em parceria com a iniciativa privada por 58 aeroportos, pelos quais circularam cerca de 110 milhões de passageiros e 500 mil toneladas de carga (INFRAERO, 2018). Por outro lado, a aviação regional no Brasil, ainda que estrategicamente necessária, engatinha desde sempre. Com território extenso e rede de infraestrutura limitada do ponto de vista da qualidade e atualização tecnológica, embora existam muitos aeroportos públicos para desempenhar esse papel, o setor dependeria de investimentos privados, pouco compensadores segundo os empreendedores, e de recursos públicos, que nunca chegam ao seu destino (final) (BETTINI; OLIVEIRA, 2011). As figuras a seguir ilustram a localização dos aeroportos nacionais e internacionais da Infraero e dos aeroportos da aviação regional. 34 Unidade I Sede Superintendência regional Aeroporto internacional Aeroporto internacional com participação acionária Aeroporto nacional Terminal de logística de carga Figura 8 – Aeroportos da Infraero 35 TÉCNICA E ECONOMIA DE TRANSPORTES SPSP PRPR SCSC RSRS RJRJ ESES MGMG DFDF GOGO MSMS MTMT TOTO BABA PIPI SESE ALAL PEPE PBPB RNRNCECE MAMA PAPA RORO AMAM ACAC RRRR APAP Figura 9 – Aeroportos da aviação regional no Brasil Saiba mais Informações básicas sobre as empresas pioneiras da aviação civil brasileira podem ser encontradas em: FERREIRA, J. C. Um breve histórico da aviação comercial brasileira. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE HISTÓRIA ECONÔMICA, 12.; CONFERÊNCIA INTERNACIONAL DE HISTÓRIA DE EMPRESAS, 13., 2017, Niterói. Anais […]. Niterói: Associação Brasileira de Pesquisadores em História Econômica, 2017. Ilustrações e mapas de rotas dessas empresas, desde o início do século XX, são encontradas, por exemplo, em: CRUZEIRO. In: AVIAÇÃO COMERCIAL.NET. 2014. Disponível em: https:// www.aviacaocomercial.net/cruzeiro.htm. Acesso em: 19 maio 2020. REAL Aerovias. In: AVIAÇÃO COMERCIAL.NET. 2012. Disponível em: https://www.aviacaocomercial.net/real.htm. Acesso em: 19 maio 2020 VASP. In: AVIAÇÃO COMERCIAL.NET. 2009. Disponível em: https://www. aviacaocomercial.net/vasp.htm. Acesso em: 19 maio 2020. 36 Unidade I 2.1.5 Rede dutoviária A rede dutoviária brasileira está concentrada nos grandes centros de extração, processamento ou demanda de combustíveis, minerais e outros produtos ou matérias-primas. De acordo com a Lei Federal n. 10.233 (BRASIL, 2001), os dutos podem ser classificados em: • Aquedutos: transporte de água. • Carbodutos: transporte de carvão mineral. • Gasodutos: transporte de gases (gás natural, dióxido de carbono etc.). • Oleodutos: transporte de substâncias derivadas e não derivadas do petróleo (gasolina, diesel, querosene de aviação, óleo combustível, etanol etc.). • Minerodutos: transporte de minérios (minério de ferro, cimento, sal-gema etc.). • Polidutos: transporte de produtos líquidos variados (cerveja, vinho, suco de laranja etc.). Segundo a Agência Nacional de Petróleo (ANP, 2018, p. 117), em 2017, o Brasil contava com 618 dutos destinados à movimentação de petróleo, derivados, gás natural e outros produtos, perfazendo 19,7 mil km. Destes, 151 dutos (14,3 mil km)
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