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AudiologiaAudiologia Tutorial 02 Resumo por Iris Layane 1- Identificar o possível fator etiológico do caso; 2- Compreender qual a relação da perda auditiva com a gestação; 3- Entender a definição do mascaramento e sua aplicação; 4-Discutir os achados esperados na avaliação audiológica básica desse caso (audiometria tonal, logoaudiometria, reflexo e imitânciometria); C.B.N, 27 anos, sexo feminino, procurou uma clínica de Audiologia, por encaminhamento do Otorrinolaringologista, o qual solicitou avaliação audiológica básica. Paciente relatou que “começou a sentir dificuldades para escutar no ouvido direito, há aproximadamente 7 anos, a qual piorou durante a gestação de seu primeiro filho” (SIC – CBN). Durante a realização da audiometria tonal liminar, observou-se diferença de limiares auditivos por via aérea maiores que 40 dB entre as orelhas direita e esquerda, o que chamou a atenção do fonoaudiólogo para o uso do mascaramento. Identificar o possível fator etiológico do caso; Objetivo 1 Otosclerose A otosclerose é uma doença hereditária, degenerativa do osso que forma o ouvido interno, levando à fixação de um ossículo do ouvido médio chamado estribo e dificultando a transmissão do som. O estribo é originalmente móvel e o seu movimento transmite o som para o ouvido interno. Quando ele se fixa, há perda de audição. Os sintomas da otosclerose manifestam-se comumente durante o período gestacional, sendo que grande parte dos casos se dá próximo ao termo ou no pós parto. A literatura sobre o tema ainda é incompleta, entretanto postula-se que o estrogênio estimularia os focos otoscleróticos, gerando atividade osteocítica e ossificação das lesões, resultando em um tecido ósseo desorganizado Um estudo retrospectivo com pacientes com Otosclerose bilateral realizado por Horner KC (2009), demonstrou que há aproximadamente 33% de risco de deterioração auditiva após a primeira gravidez, e que, em uma sexta gestação, o risco de evolução para deterioração atingiria 63%. A doença se manifesta em duas fases: • Primeira: é chamada de Otospongiose (o osso está imaturo, não está fixado); • Segunda: é a Otosclerose propriamente dita (o osso está maduro e já se fixou). A doença pode também afetar isoladamente a cóclea (porção do ouvido interno que contém terminações nervosas responsáveis pela audição). Nesse caso, é chamada de Otosclerose Coclear. → Etiologia A etiologia da otosclerose é obscura. E as propostas envolvem distúrbios genético, metabólico, vascular e infeccioso. Outras teorias citam como fatores causais: a hereditariedade, fatores hormonais, alterações bioquímicas, metabólicas, infecções, traumática, vascular e mais recentemente autoimune. → Fisiopatologia A ocorrência de perda auditiva decorrente da otosclerose é rara em crianças com menos de 15 anos de idade. A doença afeta duas vezes mais o sexo feminino (tendendo a piorar durante ou depois da gravidez) do que o masculino. Na otosclerose ocorre fixação da platina do estribo no contorno da janela oval que mais tarde pode lesionar células ciliadas do Órgão de Corti pelas enzimas proteolíticas do foco otosclerótico. A causa do crescimento ósseo da cápsula ótica permanece desconhecida, e algumas características são consistentes na sua presença. As reais alterações ósseas na otosclerose consistem de neoformação óssea ocorrendo simultaneamente à reabsorção do osso já existente, produzindo um tecido ósseo esponjoso. Este osso anormal pode situar-se em qualquer local da cápsula ótica e dependendo de sua localização o paciente terá uma perda condutiva, neurossensorial, mista ou inexistente. A membrana timpânica é quase sempre normal, exceto nos casos, de adultos jovens, onde o aumento da vascularização pela atividade do osso em formação é observado na membrana timpânica como uma mancha rósea, conhecida como sinal de Schwartze → Sinais e Sintomas Os sinais da otosclerose são: • zumbido persistente; • ausência de problemas otológicos anteriores; • membrana timpânica íntegra; • perda auditiva progressiva, aparecendo por volta dos 20 anos; • frequentemente existe história de antecedentes familiares. → Achados clínicos e audiológicos Antes de qualquer avaliação audiológica, dois problemas precisam ser excluídos, :a existência de colabamento do meato acústico externo e a presença de cerúmen obstruindo o conduto, pois ambos podem produzir falsas perdas auditivas condutivas. Para que isso não ocorra, é fundamental a inspeção do meato acústico externo. O colabamento do meato acústico externo (MAE) é o estreitamento ou fechamento desta região, como resultado da compressão atípica do pavilhão auricular sobre o canal auditivo, sendo comum em um teste audiométrico, quando os fones são colocados na orelha de forma inadequada. Geralmente, o foco mais comum encontra-se anteriormente à janela oval e na medida em que o problema se agrava e evolui atinge a articulação do estribo (platina) com a janela oval, demonstrando, desta forma sinais e sintomas característicos. Segundo Frota (1998), a otosclerose apresenta na sua primeira fase uma perda auditiva condutiva. Na segunda fase uma perda auditiva mista e posteriormente com a sua evolução pode apresentar componente sensorioneural. Os achados audiológicos característicos da otosclerose clínica são: • Perda auditiva condutiva inicialmente nas frequências baixas, que com a evolução do problema atingem as frequências subsequentes, e com o agravamento da ostospongiose, acaba comprometendo a via óssea e as frequências altas. • Com relação ao índice de reconhecimento de fala, encontrase entre 90 e 100%. • A imitanciometria apresenta timpanograma com perfil timpanométrico referente a curva do tipo As e reflexo estapediano ausente. Compreender qual a relação da perda auditiva com a gestação; Objetivo 2 Os distúrbios da audição e equilíbrio podem ser originados a partir de diversas situações, dentre elas, alterações metabólicas, sofrendo influência de compostos como lipídios, glicose, hormônios tireoidianos e variações hormonais femininas. As alterações hormonais no organismo feminino durante o ciclo de vida podem provocar alterações na homeostase dos fluidos do ouvido interno, gerando sintomas vestibulares e auditivos durante o ciclo menstrual, a menopausa ou a gestação, uma vez que influenciam processos enzimáticos e atuação de neurotransmissores. As alterações podem ser centrais ou periféricas e incluem desequilíbrio, instabilidade ao andar, sensação de quedas ou flutuação, sensação rotatória desvios de marcha e quedas, ocasionando prejuízos físicos, psicológicos e redução da qualidade de vida. Com relação a sintomatologia auditiva, podem ocorrer redução da acuidade auditiva, hiperacusia, zumbidos e plenitude auricular A acuidade auditiva é a sensibilidade e capacidade do nosso aparelho auditivo para captar e distinguir os sons percebidos Durante a gestação, as diversas adaptações para a manutenção do bem estar materno e fetal resultam em grandes variações hormonais que influenciam o funcionamento global do organismo, podendo gerar uma variedade de sinais e sintomas nas gestantes. O estrogênio e a progesterona possuem o potencial de interagir com neurotransmissores e receptores específicos presentes tanto no sistema auditivo quanto em estruturas extra-auditivas. Além disso, são capazes de interagir de forma cruzada com receptores de glicocorticoides e mineralocorticoides, presentes em áreas próximas do sistema auditivo. Ainda, modulam o aporte sanguíneo para o sistema auditivo e interagem no equilíbrio de eletrólitos dos fluidos cocleares Segundo Sharma K et al. (2011) e corroborado por Kwatra D et al. (2019), o período gestacional pode impactar na audição de sons de menores frequências, devido à retenção excessiva de água e sal, influenciando a osmolalidade sérica. A diminuição do nível de audição de sons em frequências de 125 Hz, 250 Hz e 500 Hz ocorre gradativamente, conforme a progressão da gestação, mas não atinge níveis patológicos e remite completamentedurante o período puerperal. Já as frequências de 1000 Hz ou mais, não sofrem diferença significativa na gravidez ou no pós parto. Em uma avaliação de 20 gestantes realizada por Sennaroglu G e Erol B (2001), foi observado, ainda, intolerância a sons intensos durante o terceiro trimestre e o período pós parto, sugerindo a ocorrência de dois fenômenos distintos durante a gestação, a tolerância auditiva e a diminuição auditiva em baixas frequências. Dentre os principais sintomas emergentes neste período é possível destacar o surgimento de deficiência auditiva e vertigem, decorrentes principalmente do aumento de estrógeno e progesterona, que impactam na composição de fluidos intracelulares e extracelulares. Com relação às alterações auditivas, segundo Sherlie VS e Varghese A (2014), a perda auditiva pode ser atribuída à disfunção da tuba auditiva, à otosclerose e à perda auditiva neurosensorial súbita. Definição do mascaramento e sua aplicação Objetivo 3 INTRODUÇÃO Um dos principais objetivos da avaliação audiológica é verificar a função auditiva de cada orelha de forma separada e independente. No entanto, existem situações durante a obtenção de limiares seja por via aérea ou óssea, em que não é possível realizar a avaliação de cada orelha separada e independente, pois ocorre o fenômeno chamado audição contralateral. O QUE É A AUDIÇÃO CONTRALATERAL E PORQUE ISSO OCORRE? A audição contralateral é quando há a participação da orelha não testada na resposta ao som apresentado na orelha testada. Isso ocorre, pois, o crânio tem a capacidade de vibração frente a uma estimulação sonora, então se tem um som intenso de um lado esse som atravessa de um lado para o outro, perde energia nessa transição, mas vai de um lado para o outro e acaba sendo percebido pela outra orelha. Então embora os estímulos sejam apresentados por meio de um transdutor diretamente para a orelha sob teste, a orelha contralateral pode contribuir parcial ou totalmente para as respostas obtidas. E QUANDO OCORRE A SUSPEITA DA AUDIÇÃO CONTRALATERAL? Esse evento de audição contralateral irá proporcionar no audiograma um outro evento chamado de curva sombra, que significa que o profissional está anotando um limiar que não é o limiar adequado, correto, verdadeiro para aquela orelha. Pois ocorreu a audição contralateral e a orelha boa respondeu no lugar da orelha com perda auditiva. Sempre que houver a suspeita da audição contralateral, um ruído mascarante deve ser aplicado na orelha não testada para eliminar a sua participação. A suspeita é realizada observando a atenuação interaural. E O QUE É ATENUAÇÃO INTERAURAL? É a redução da energia sonora durante a passagem desta energia de uma orelha para a outra, ou seja, o quanto de energia que perde de uma orelha até a outra. A atenuação interaural por via aérea é a partir de > 40 dB, ou seja, sempre que ao verificar os limiares auditivos das orelhas direita e esquerda e houver uma diferença de limiar de 40 dB é necessário mascarar pois a orelha com os piores limiares pode ainda assim ter recebido “ajuda” da orelha com os melhores limiares. A atenuação interaural por via óssea é sempre 0 dB, pois o estimulo é realizado diretamente na cóclea, sendo assim, toda vez que ao verificar os limiares auditivos e houver um gap (intervalo) de até 10 dB entre via aérea e via óssea é necessário mascarar. A atenuação interaural na logoaudiometria é a 45 dB. Mascaramento auditivo O QUE É? É o fenômeno psicoacustico no qual um som deixa de ser percebido quando outro som é apresentado simultaneamente em intensidade superior. Utiliza-se o mascaramento com o objetivo de ocorrer a diminuição da percepção de um som pela introdução de um ruído, para evitar a participação da orelha melhor na avaliação da orelha pior. O mascaramento pode ser: IPSILATERAL OU CONTRALATERAL. • Ipsilateral: é usado para determinar a quantidade de mudança de limiar produzido por um determinado ruído mascarador e para a calibração do ruído mascarador. • Contralateral: é usado para elevar o limiar da orelha não testada de modo que esta não possa responder ao sinal que está sendo apresentado na orelha testada. Ou seja, é quando o sinal de teste é apresentado em uma orelha e o mascaramento na orelha oposta. O mascaramento apresenta-se em 3 tipos: MÍNIMO, MÁXIMO E SUPERMASCARAMENTO. • Mascaramento mínimo: equivale a menor quantidade de mascaramento necessária para impedir a orelha não testada de responder ao sinal apresentado na orelha testada. Fórmula: MASCmín. = VAONT + 10 dB • Mascaramento máximo: é o nível máximo de ruído mascarante que pode ser utilizado na orelha não testada, sem provocar mudanças nos limiares da orelha testada. • Supermascaramento: é quando o ruído mascarador é apresentado na orelha não testada em uma intensidade suficientemente forte para interferir na resposta da orelha testada. O mascaramento também apresenta 3 métodos, sendo eles: PSICOACUSTICOS, ACÚSTICO E O MÉTODO DE PLATÔ. • Método Psicoacustico: são aqueles baseados em mudanças observáveis dos limiares, medidos em função da presença de níveis de mascaramento efetivos na orelha não testada. • Método Acústico: são aqueles que recomendam o uso de formulas para o cálculo dos níveis de mascaramento a serem utilizados em cada caso. De modo geral, os procedimentos psicoacústicos são considerados apropriados para mensurações de limiares, enquanto que os acústicos se mostram mais eficientes nas avaliações supraliminares. • Método de Platô: descrito por Hood, é um procedimento de método psicoacustico que assegura mascaramento suficiente, sem supermascarar. Na aplicação dessa técnica o mascaramento deverá ser utilizado na orelha não testada quando os limiares não mascarados demonstram um diferencial entre via aérea e óssea. Além disso, o limiar deve ser restabelecido na presença de mascaramento e se houver alguma alteração, novo limiar deverá ser obtido. No método platô, será considerado o limiar que se mantem mesmo após mudanças sucessivas de pelo menos três vezes no mascaramento. Na técnica de platô há a utilização de diferentes níveis de mascaramento. Quanto piores forem os limiares da via aérea na orelha não testada mais elevados serão os níveis de mascaramento mínimo necessários. Por outro lado, os limiares de via óssea da orelha testada afetam o nível máximo de mascaramento, pois, quanto melhores forem os limiares de via óssea na orelha testada, há maior chance de ocorrer Supermascaramento e quando piores forem os limiares de via óssea na orelha testada, níveis de mascaramento maiores poderão ser utilizados sem risco de ocorrência de Supermascaramento. QUAL O ESTIMULO É UTILIZADO PARA O MASCARAMENTO? O estimulo utilizado é o ruído, pois ele é de fácil diferenciação dos outros estímulos de testes (tom puro e fala). Esse estimulo deve ser colocado na orelha não testada utilizando fone de inserção ou fone supra-aural. QUAIS SÃO OS RUÍDOS MASCARADORES? • Ruído branco: é um sinal de banda larga que contem energia acústica em todas as frequências do espectro audível em intensidades aproximadamente iguais. É considerado mais eficiente que o ruído complexo pois mantem energia nas altas frequências até 6000 Hz. • Ruído de fala: é uma filtragem do ruído branco, destinado a mascarar o espectro de longo termo dos sons da fala, contendo a distribuição de energia na faixa de frequências de 250 a 4000 Hz. Por apresentar uma largura de banda que corresponde a da faixa de frequências do espectro da fala que concentram maior energia, necessita de menor intensidade do que o ruído branco. QUANDO MASCARAR? Quando existir a possibilidade de uma orelha estar respondendo pela outra. • VIA AÉREA Sempre que os limiares obtidos sem mascaramento diferirem em >40dB, entre as duas orelhas. • VIA ÓSSEA Sempre que houver um GAP >10dB entre a via aérea e a via óssea da mesma orelha. Para a realização do mascaramento na VA e VO, deve- se observar todas as frequências e só será realizado o mascaramento nas frequências em que forem observadasas diferenças. • LOGOAUDIOMETRIA Será necessário mascarar quando: O Limiar de Reconhecimento da Fala (LRF) da orelha testada e o LRF da orelha não testada diferirem em 45 dB; A diferença entre o LRF da orelha testada e a media tritonal aérea da orelha não testada forem iguais ou superiores a 45 dB; A diferença entre o LRF da orelha testada e a média tritonal óssea da orelha não testada for >45dB. COMO SABER O VALOR INICIAL DO MASCARAMENTO? Utilizando o método de Platô, o valor inicial do mascaramento será achado adicionando mais 10 dB em cima do limiar da orelha não testada. Exemplo: No 1º caso, será adicionado mais 10 dB em cima do limiar da orelha não testada (ONT), que é 10 dB. 10 + 10 dB = 20 dB (valor inicial) Quando o paciente não ouve o estimulo, aumenta mais 10 dB de ruído e aumenta mais 5 dB no limiar. Quando o paciente ouve, aumenta mais 10 dB de ruído e retesta o ultimo limiar até que o limiar do paciente se mantenha mesmo após mudanças sucessivas de pelo menos três vezes no mascaramento. Discutir os achados esperados na avaliação audiológica básica desse caso (audiometria tonal, logoaudiometria, reflexo e imitânciometria) Objetivo 4