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1 Organização do Sistema de Saúde no Brasil Priscila Lucas Barbosa Introdução Nesta unidade, estudaremos os diversos sistemas de saúde que fizeram parte da história do Brasil e em seguida serão apresentados os modelos de assistência à saúde vigentes até a criação do nosso Sistema Uníco de Saúde (SUS) como novo paradigma ao modelo de atenção à saúde pública e coletiva em nosso país. Sistemas de saúde são mecanismos sociais que têm por objetivo garantir aos indivíduos o acesso adequado aos serviços de saúde disponíveis na rede publica e privada. Esses sistemas são organizados com base nos princípios constitucionais de cada país e em conformidade com as políticas publicas de saúde em nível federal, estadual e municipal, com o propósito de garantir o acesso à prevenção, manutenção e recuperação da saúde dos seus cidadãos. O que são políticas públicas de saúde? Compreende-se por políticas públicas o conjunto de diretrizes, programas, ações estabelecidos por leis, que devem ser implementados pelos governos federal, estadual ou municipal, e que afetam todos os cidadãos, de todas as idades, escolaridades, independente de sexo, religião, cor ou classe social. As políticas públicas de saúde no Brasil, não ultrapassa 200 anos. Na atualidade fundamentada no artigo 196 da Constituição Federal Brasileira de 1988; o sistema de saúde no Brasil é híbrido, ou seja, o estado por meio do SUS, assume a maior parte dos serviços de atenção à saude e a outra parte dos serviços é prestada por sistema suplementar, por meio dos planos ou seguros de saúde sob a responsabilidade da iniciativa privada. O acesso aos serviços de saúde no Brasil é regido pelas políticas públicas vigentes e deve ser de amplo conhecimento da população. Objetivos Neste estudo temos por objetivo: • relacionar os modelos de assistencia à saúde implantados no Brasil considerando o contexto histórico, político e social; • descrever o funcionamento de cada modelo de assistência à saúde; • comparar os modelos assistenciais entre si considerando o seu funcionamento; • caracterizar a reforma sanitária no Brasil; Esquema 1.1 Modelos assistenciais historicamente construídos no Brasil 1.1.1 Movimento da reforma sanitária 1.1.2 Modelo medicoassistencial privatista 1.1.3 Modelo assistencial sanitarista 1.1.3.1 Quem era do movimento sanitário? 1.1.4 VIII Conferência Nacional de Saúde: saúde, direito de todos, dever do Estado 1.2 Reorientação do modelo assistencial 1.2.1 O paradigma da promoção da saúde 1.2.2 O papel do território como espaço de mudança e responsabilização em saúde 1.1 Modelos assistenciais historicamente construídos no Brasil Por mais de três séculos (1500-1800), poucos são os registros relacionados à saúde pública em terras brasileiras. É curioso observar que a atenção à saúde começa a ocupar espaço na agenda do Estado brasileiro após a Proclamação da República em1889 (ROSEMBERG, 2018). Dos anos de 1890 a 1930, período conhecido como velha república, foi um período marcado por grandes epidemias, dentre as quais: Febre Amarela, Varíola e a Peste. Naquele momento era de suma importância a organização de movimentos e campanhas para o controle dessas enfermidades. O Serviço Sanitário Paulista, criado em 1892, teve grande importância como organização na prevenção e combate às enfermidades, servindo de modelo para outros estados (LIMA et al., 2006). Em 1904, através de uma lei federal, foi instituída a obrigatoriedade da vacinação contra a varíola em todo território nacional. Então, surge o primeiro e grande movimento popular na cidade do Rio de Janeiro, que ficou conhecido como a Revolta da Vacina, com vários conflitos, que culminou na revogação da obrigatoriedade da vacida, tornando-a opcional à todos. Os primeiros movimentos sanitaristas da primeira república, emergiram no Brasil sob a liderança de médicos higienistas. A partir da década de 1930, as mudanças efetivas na saúde começaram a ser concretizadas no país, o modelo sanitarista começou a dividir espaço com o modelo privatista. Este último, ganhou espaço durante o processo de industrialização do país, quando a saúde dos trabalhadores e classe operária entra no processo de assistência a saúde, baseado na contribuição e formação de Caixas de Aposentadorias e Pensões - CAPs (LIMA et al., 2006). O discurso médico higienista foi um construtor, um balizador em um determinado período histórico que criou e determinou o que era normal e desejável para a sociedade. Para alinhar e civilizar o país de acordo com os padrões europeus foi preciso buscar formas de enquadrar a realidade insalubre em que se encontrava o país com a ideia de modernidade vigente na Europa. Dedicados à tarefa social de regeneração física e moral das crianças e alarmados com a elevada taxa de mortalidade infantil que ocorria no Brasil, os médicos higienistas procuraram soluções para formar os futuros cidadãos. Para eles, só com o apoio da medicina o Brasil poderia enfrentar tais problemas e produziria um maior número de pessoas sadias, fortes e robustas no futuro. (METELSKI; CARMINATI, 2018, p. 100). Saiba mais Assim, os diversos segmentos da sociedade dispunham diferentemente dos serviços de saúde: 1. pobres: rede de saúde estadual (postos de saúde, unidades básicas de saúde), com os programas do modelo sanitarista e de saúde pública. 2. abastados: consultórios médicos privados e atendimento dos médicos particulares. 3. classe trabalhadora: rede de ambulatórios e alguns pequenos hospitais vinculados a CAPs, que prestavam assistência a saúde. Após a queda do presidente Vargas (1945) no estado novo, um dos marcos desse período é a assistência à saúde em nível hospitalar, com a criação dos hospitais estaduais e de grande porte, incluindo aqui os hospitais universitários que passam a ter uma importância muito grande no processo de atenção a saúde individual. Outro marco importante foi a criação do Ministério da Saúde (1953) (LIMA et al., 2006). Contudo, a partir do ano de 1964 até meados da década de 80, muitas mudanças ocorreram no sistema de saúde brasileiro. Os antigos institudos de aposentadoria e pensões, foram unificados no Instituto Nacional de Previdencia Social (INPS) em 1966. Este por sua vez foi posteriormente transformado em Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social – INAMPS (1978) e que culminou no SUS, com o processo de redemocratização do país em 1988 (ROSEMBERG, 2018). No período de 1964 a 1988, o Sistema de Saúde no Brasil caracterizou-se pelo predomínio financeiro das instituições previdenciárias e pela mercantilização crescente da saúde. Nesse período houve uma expansão maciça dos serviços privados de saúde que eram contratados pelo setor público. As ações de saúde individual continuavam desvinculadas dos programas desenvolvidos pelo governo estadual e a medicina tornou-se cada vez mais biologicista e técnica, conforme esclarece Sarah Escorel e colaboradores em seu texto: As origens da reforma sanitária e do SUS de 2006. Naquele período a saúde pública foi relegada a segundo plano e a atuação do estado restringia-se a campanhas de baixa eficácia. Por esse motivo, passou-se a questionar porque a excelência na assistência, não foi capaz de resolver os problemas mínimos e mais frequentes da população? Somente no final do governo Médici (1970-1974), é notório o desgaste do regime militar, período esse marcado pela reorganização dos movimentos sociais e aumento das denuncias sobre a situação da saúde pública brasileira. A crise possibilitou a expansão desses movimentos sociais e a formulação de propostas que atendessem àqueles excluídos de qualquer sistema de proteção social. Na área da sáude, ganhou destaque o movimento da reforma sanitária (LIMA et al., 2006; ROSEMBERG, 2018). 1.1.1 Movimento da Reforma Sanitária O que foi o movimento da reforma sanitária?O movimento da reforma sanitária tinha por finalidade reverter a lógica da assistência à saúde, com base nos seguintes princípios: • universalização ao direito à saúde; • integralização das ações de cunho preventivo e curativo, desenvolvidas pelos Ministérios da Saúde e Previdência separadamente; • promoção da saúde do preventivo ao curativo: inverter a entrada do paciente no sistema de atenção – ao invés de buscar o hospital quando já estivesse doente, o cidadão deveria buscar a prevenção; • descentralização da gestão administrativa e financeira dos recursos destinados à saúde; • promoveção da participação e controle social. Também criticava a forma de organização do sistema denunciando a crise, gastos, privilégios, concentração de renda etc. Para melhor compreendermos os objetivos dessa reforma sanitária, vamos ressaltar os dois modelos assistenciais em saúde predominante no Brasil, basicamente voltados para dois aspectos: demanda espontânea de saúde e para as necessidades de saúde da população (ESCOREL et al., 2006). 1.1.2 Modelo medicoassistencial privatista Este modelo está destinado a conter a demanda espontânea dos usuários. Ou seja, a população tem livre iniciativa para procurar os serviços de saúde, prontos – socorros, consultórios particulares e laboratórios. Caracteriza-se por ser um modelo imediatista, isto é, o indivíduo o procura por apresentar algum sinal ou sintoma de alguma enfermidade. Seu objetivo é simplesmente resolver o sofrimento naquele momento. É uma abordagem centrada na doença e na resolução imediata do problema. É um modelo que se consolidou com o desenvolvimento da medicina capitalizada, mas se reproduz tanto no setor público quanto no setor privado de saúde com um único objetivo: caráter curativo. Fortalecido pelo conceito de saúde como ausência de doença e pelos ganhos de capital de interesse do complexo médico-tecnológico e daqueles meramente mercantilistas, esse modelo tornou-se, incapaz de articular a interface da saúde com os fatores que influem na qualidade de vida das pessoas e das comunidades. 1.1.3 Modelo assistencial sanitarista É caracterizado por programas e campanhas focalizadas em algum problema específico de saúde que o modelo hegemônico anterior não conseguiu resolver. Também é abordado como sinônimo de Saúde Pública. Esse modelo é desenvolvido exclusivamente pelo setor público e tem vínculo e financiamento direto do ministério da saúde e de suas subsecretarias de gestão. Tem sua trajetória marcada no cenário internacional, onde a busca por mudanças na saúde teve seu ponto crucial na Conferência Internacional sobre Atenção Primária em Saúde, realizada na cidade de Alma- Ata (1978), quando a saúde foi consolidada como um dos direitos fundamentais do homem, sob responsabilidade política dos governos. No governo Geisel (1974-1979), a estratégia de distensão política iniciada, possibilitou ao movimento sanitário a apresentação de propostas divergentes do modelo vigente, que contribuíram para a melhoria e democratização do atendimento à saúde, principalmente às populações mais carentes (BRASIL, 2002). 1.1.3.1 Quem era do movimento sanitário? Entre os atores que estiveram à frente do movimento sanitário como força política de resistência ao regime militar, estão técnicos do setor de saúde, acadêmicos, secretários de saúde, simpatizantes da temática, como Centro Brasileiro de Estudos da Saúde – CEBES, e a Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (ABRASCO), na luta e instrumentalização pela democratização do país e pela racionalização e organização dos serviços de saúde, conforme enumera Everardo Duarte Nunes em seu artigo “Saúde Coletiva: uma história recente de um passado remoto”, 2013. Em 1980, a VII Conferência Nacional de Saúde (CNS), conseguiu apontar uma proposta de reforma das políticas de saúde e a formulação do Programa Nacional de Serviços Básicos de Saúde (PREV-SAÚDE). O plano do Conselho Nacional de Administração da Saúde Previdenciária (CONASP) em 1982, juntos a implantação da política de Ações Integradas de Saúde (AIS) em 1983, constituíram uma estragégia de extrema importância para o processo de descentralização da saúde, com propostas que consistiam principalmente em: • convênios com os municípios e estados; • repasse de dinheiro da previdência para o nível mais descentralizado; • ampliação da oferta de serviços de saúde; • criação de instâncias interinstitucionais de gestão; • maior ênfase nas ações básias e preventivas; • maior ambulatorização; • uma integração entre as ações do INAMPS e do MS. Este programa revelou-se uma estratégia importante rumo à universalização do direito à saúde; também constituiu-se uma proposta de integração e racionalização dos serviços públicos de saúde e de articulação destes serviços com a rede conveniada e contratada. Esta articulação comporia um sistema unificado, regionalizado e hierarquizado de referência e contra-referência para o atendimento (ROSEMBERG, 2018). A partir de 1985, mudanças efetivas ocorreram no campo da saúde em nosso país com o fortalecimento do movimento sanitário. O sanitarista Sérgio Arouca, então presidente da Fundação Oswaldo Cruz, convoca para o ano de 1986 a 8ª Conferência Nacional de Saúde. No cenário mundial é realizada a Primeira Conferencia Internacional sobre Promoção da Saúde, em Ottawa, Canadá (1986), que culminou na carta de Ottawa, na qual se define a promoção da saúde como: “conjunto de ações voltadas para prevenção de doenças e riscos individuais” (BRASIL, 2002, p. 1), considerando assim, de suma importância a influência de aspectos sociais, econômicos, políticos e culturais sobre as condições de vida e saúde. Em 1987, é então realizada a 8ª CNS, tendo como sede a cidade de Brasília, resultando na aprovação de um documento de relevância social comum, instrumento de pressão política na área da promoção em saúde. 1.1.4 VIII Conferência Nacional de Saúde: saúde, direito de todos, dever do Estado Três foram as principais estratégias utilizadas para a viabilização das intervenções propostas pela 8ª CNS: 1. Criação das bases jurídicas para a sua implantação (Constituição Federal, Constituições estaduais, leis orgânicas municipais e complementares). 2. Mobilização da opinião pública e setores organizados. 3. Criação do Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde (SUDS), enquanto momento de transição para o SUS (CONFERÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE, 8, 1986, p. 1). Apesar das controvérsias geradas entre dirigentes e reformistas do MS e da Previdência, o SUDS avançou na política de descentralização do orçamento, permitindo uma maior autonomia dos estados na programação das atividades no setor. No ano de 1987, teve início a Assembléia Nacional Constituinte. Uma nova Carta Constitucional viria legitimar todas as propostas reformistas que estavam em andamento. No que tange à saúde, em 1988 é promulgada a nova Constituição Federal e o Sistema Único de Saúde (SUS) foi aprovado (BRASIL, 2009). 1.2 Reorientação do modelo assistencial A partir da criação do SUS, promoção de sáude é o nome dado ao processo de capacitação da comunidade para atuar na melhoria de sua qualidade de vida e saúde, incluindo uma maior participação no controle deste processo. E para atingir um estado de completo bem-estar físico, mental e social, tanto os indivíduos e grupos devem saber identificar aspirações, satisfazer necessidades e modificar favoravelmente o meio ambiente. A saúde deve ser vista como um recurso para a vida e não como o objetivo de viver. Nesse sentido, a saúde é um conceito positivo, que enfatiza os recursos sociais e pessoais, bem como as capacidades físicas. Assim, a promoção da saúde não é responsabilidade exclusiva Caro(a) aluno(a), assista ao vídeo sobre a 8ª Conferencia Nacional de Saúde, a conferência que auscultou oBrasil. Disponível no link: https://www.youtube.com/watch?v=zZAHdF0fNps Ampliando o conhecimento do setor saúde, e vai para além de um estilo de vida saudável, na direção de um bem estar global. 1.2.1 O paradigma da promoção da saúde Quando falamos em um novo paradigma, podemos pensar em um momento de transformações profundas. Então qual o paradigma da área da saúde? Para responder a essa pergunta devemos destacar as principais características dos paradigmas que pemeiam os conceitos de saúde de tempos em tempos. O primeiro, chamado de paradigma cartesiano, foi formulado em meados dos séculos XVI e XVIII, mas que ainda se faz presente em diversas áreas do conhecimento. Fundamenta-se representando um modelo em que a aplicação da razão encontra a explicação dos diversos fenômenos da natureza, ou seja, esse paradigma representa o fortalecimento do racionalismo. O segundo, também conhecido como paradigma da complexidade, no caso da saúde, se instalou porque o paradigma cartesiano não foi capaz de explicar e resolver as novas questões do modelo assistencial em saúde. Edgar Moran (1990), um dos principais estudiosos a discutir a complexidade, nos lembra que o a origem do termo complexo, significa “o que é tecido junto”. Assim, podemos observar o grande desafio que é construir uma nova abordagem da saúde. Para melhor destacarmos as principais características de cada paradigma, visualize o quadro a baixo: Quadro 1 – Os paradigmas da área da saúde. Paradigma Cartesiano Paradigma da Complexidade Conceito de saúde Negativo: ausência de doenças Positivo: qualidade de vida Definição de ser humano Corpo: máquina composta por diferentes partes Corpo: totalidade bio-psico-social e cultural Tratamento Medicalização do corpo e ênfase no aspecto biológico Promoção e prevenção, cura e reabilitação Foco Nos efeitos Nas causas Situação atual Em crise Em consolidação Fonte: Feliciano (2004, p. 70). Em novembro de 1992, realizada em Bogotá, Colombia, a Conferência Internacional em Promoção da Saúde na Região das Américas, reuniu representantes de todos os países do continente americado e o que chamou a atenção nas discuções foram ações transnacionais entre os determinantes da saúde, a globalização da economia, a continuada degradação ambiental e o acesso aos meios de comunicação (BRASIL, 2002). Seja no campo individual ou coletivo, a promoção da saúde nos remete para um enfoque sempre mais abrangente do conceito de saúde e de seus múltiplos determinantes, com todo o seu dinamismo e interatividade, do homem ao ambiente e suas relações. [...] Mesmo indivíduos considerados Paradigma Visão de mundo que predomina em um momento histórico e que influencia os comportamentos, as atitudes e os valores das pessoas (CUNHA et al., 2003, p. 23). saudáveis poderiam migrar para um estado ainda mais saudável ou menos propenso ao adoecimento. (BRASIL, 2003, p. 130). A prevenção trabalha com a detecção precoce de enfermidades, fatores de riscos específicos ou coadjuvantes e causas de enfermidades. O processo de adoecimento ou a doença é a questão central e a detecção dos fatores causadores desta e sua correção são o objeto de trabalho (BATISTELLA, 2007; ROCHA; MENDES, 2007). Para uma melhor compreensão Stachtchenko e Jenick (1990) desenvolveram um esquema que nos favorece nesta análise ainda hoje e pode ser observado no Quadro 2 que se segue: Quadro 2 – Reorientações dos modelos de saúde Categorias Promoção de saúde Prevenção de doenças Conceito de saúde Positivo e multidimensional Ausência de doenças Modelo de Intervenção Participativo Médico Alvo Toda a população no seu ambiente total Principalmente os grupos de alto risco da população Incubência Redes de temas da saúde Patologias específicas Estratégias Diversas e complementares Facilitação e capacitação Geralmente única Direcionamento das medidas Oferecidas à polulação Direcionadoras e persuasivas Objetivos dos programas Mudanças na situação dos indivíduos e de seu ambiente Impostas a grupos-alvo Focam principalmente em indivíduos e grupos de pessoas Executores dos programas Organizações não profissionais Movimentos sociais Governos locais, municipais, regionais e nacionais etc. Profissionais de saúde Fonte: Adaptado de Stachtchenko e Jenicek (1990). Assim, verificamos que enquanto a prevenção de doenças foca o indivíduo e o responsabiliza pelo seu estado de saúde, a promoção serve como mediadora entre o conjunto das pessoas e o ambiente em que vivem, com responsabilidades individuais, sociais e coletivas pela saúde. Aqui o processo saúde-doença deve ser analisado dentro de um contexto social, onde o indivíduo encontra-se inserido para que se tenha subsídios suficientes para interferir na realidade e promover as mudanças necessárias. No entanto, quando se considera a comunidade, a coletividade, as modificações de ações necessárias para a promoção da saúde dentro da saúde pública devemos respeitar as possibilidades e programas fornecidos pelo Estado, enquanto que dentro da saúde coletiva as ações são mais radicais, de acordo com as necessidades apresentadas pelas comunidades. Para tanto é preciso nos apronfundemos na definição das responsabilidades de cada esfera de governo, nas responsabilidades da população, sobretudo, definindo um espaço concreto de atuação das pessoas e instituições. 1.2.2 O papel do território como espaço de mudança e responsabilização em saúde “O território como locus de vida individual, familiar e comunitária, com suas inter-relações deve se constituir na base do sistema de saúde.“ (BRASIL, 2003, p. 133). É o espaço concreto onde vive uma população específica, interagindo com determinantes do processo saúde-doença- cuidado, inclusive com as estruturas dos serviços de saúde (BATISTELLA, 2007). Assim, podemos dizer que É na base territorial local onde interagem diversos atores sociais, com características demográficas, epidemiológicas, tecnológicas, administrativas, políticas e sociais bem definidas, num dinamismo que impõe aos atores intervenções variadas na busca da resolução de seus problemas ou interesses. (BRASIL, 2003, p. 133). Neste sentido, estabelecer a base territorial de ação é fundamental para o real dimensionamento de um determinada população, seu problemas e interesses, visando propostas e intervenções à saúde a bem estar dessa população. Dessa forma é possível estabelecer portas de entrada no sistema de saúde, o respeito à individualização das necessidades, a responsabilização pelo sistema de saúde para o atendimento integral nos diversos níveis de complexidade exigidos para cada caso, de maneira hierarquizada e a conformação de um sistema que deve ser regionalizado, de forma a permitir, uma economia de escala e o acesso mais fácil e mais próximo do local de moradia da população. RESUMO A Organização do sistema de saúde no Brasil, tema do estudo deste capítulo, foi apresentada em sua perspectiva histórica, ressaltando as linhas de pensamento em que se pautaram as ações de saúde pública no território brasileiro. Durante os primeiros tempos da República, destacam-se duas linhas: uma que adotava o modelo sanitarista que se justificava pelo contexto das grandes epidemias, resultando em 1908 na criação de instituições federais que se ocuparam em combatê-las; outra pautada no modelo privatista, a partir dos anos de 1930, visando atender à demanda de trabalhadores para as indústrias. Esse segundo modelo prevaleceu na organização da assistência médica à população até nos anos de 1980. Em ambos modelos, a atenção à saúde era centrada na cura de doenças. A partir dos anos 80, em âmbito internacional, iniciam-se as discussões em torno da prevenção e atenção à saúde, com foco em uma visão mais integral da pessoa humana. Nesse modelo, há o reconhecimento de que as questões de saúde da população implicamas dimensões biológicas, culturais, econômicas e sociais e que o direito à saúde se vincula ao direito à vida preconizado na Declaração dos Direitos Humanos (1948) e na Constituição Brasileira de 1988. Nesse novo modelo o foco é a promoção da saúde. Com base na Constituição Brasileira de 1988, é instituído o Sistema Único de Saúde – SUS fundamentado nos princípios da integralidade, equidade e universalidade que orientam a formulação das políticas públicas direcionadas à atenção à saúde pública bem como as estratégias para o acesso da população ao universo do SUS. REFERÊNCIAS BATISTA, T.W.F; AZEVEDO, C.S.; MACHADO, C. V. (orgs.) Políticas, planejamento e gestão em saúde: abordagens e métodos de pesquisa. Rio de Janeiro: Editora da Fiocruz, 2015. BATISTELLA, C. E. C. Abordagens contemporâneas do conceito de saúde. In: FONSECA, Angélica Ferreira; CORBO, Ana Maria D’Andrea (org.). O território e o processo saúde- doença. Rio de Janeiro: EPSJV/FIOCRUZ, 2007. (Coleção Educação Profissional e Docência em saúde: a formação e o trabalho do agente comunitário de saúde, 1). p. 51-86. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Projeto Promoção da Saúde. 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