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Dermatologia | Anna Julia Pena Dermatologia - aula 2 Prof. Laura de Sena 09/08/19 Eczemas Revisão da aula anterior - Iconografia: Sempre para descreve devemos procurar a lesão primária (pode ser que a gente não ache), que pode ser sólida, de conteúdo líquido, edematosa. E depois tem as lesões secundárias como crosta, escama, exulceração, úlcera, etc. Imagem 1: parece uma moeda. Placa eritematosa com descamação. Bem delimitada. Se chama eczema numular. Imagem 2: ? Imagem 3: crosta �1 Dermatologia | Anna Julia Pena Eczemas: é um padrão de resposta inflamatória da pele. Os eczemas compreendem um padrão clínico e histopatolgico de inflamação cutânea de etiologia variada, constituindo verdadeira síndrome, a síndrome eczematosa. Observa-se que todos os eczemas são dermatites, mas nem todas as dermatites são eczematosas; portanto, quando se emprega o termo “dermatite” para eczemas, a designação mais correta é “dermatite eczematosa”. • Os 5 grandes grupos em medica que englobam todas as doenças: 1. Inflamatória. 2. Infecciosa. 3. Neoplásicas. 4. Traumáticas. 5. Congênitas/ hereditárias. Dentro das doenças inflamatórias tem um monte de grupo e um deles são as doenças eczematosas. Os grupos de doenças inflamatórias são: - Autoimune: segue um padrão (anticorpo se liga a uma proteína específica) e são doenças da imunidade adaptativa porque cria anticorpos. - Autoinflamatório: são doenças da imunidade inata. - Eczemas. - Liquenóides - outra tipo de doença por padrão de resposta inflamatória. De acordo como o eczema se comporta, damos um nome. Por exemplo, eczema atópico. Dermatite atópico é a mesma coisa que eczema atópica. Dermatite é a mesma coisa que eczema? Dermatite é uma inflamação na pele, portanto tem um monte de opção de doença. Então, dermatite são nomes consagrados, por exemplo dermatite atópica, dermatite de contato, dermatite seborreico. Nem todas as dermatites são eczemas. Os eczemas é uma queixa muito frequente no consultório. • Pesquisa da SBD, 2018: > 9.000 consultas. - Eczema: 10º lugar. - 0 - 12 anos: Dermatite atópica 1º lugar. - 12 - 24 anos: paciente começa a trabalhar. • Dermatite de contato 2º lugar. • Dermatite atópico 3º lugar. �2 Dermatologia | Anna Julia Pena - 25 - 59 anos: Dermatite de contato 10º lugar. - 60 anos ou mais: Dermatite contato 7º lugar. Nessa pesquisa, feita em 2018, foram feitas mais 9 mil consultas, mas somente em uma semana em maio, por isso não é tão representativa. Então, tem esse fator limitante porque tem lesões que acontecem mais em setembro, etc. A dermatose mais frequente foi acne. E ela correspondeu a 8%. Porém se juntarmos as duas dermatites daria 7%, o que indica que também é muito frequente. Marcha atópica: todo mundo tem até 1 ano mais frequentemente dermatite atópica. A partir de 10 anos, não é mais frequente. • Significado de eczema: - Grego ekzein = ebulição. - Sintomas: prurido, ardor. �3 Dermatologia | Anna Julia Pena Clinicamente, os eczemas caracterizam-se por eritema, edema, infiltração, vesiculação, secreção, formação de crostas, escamas e liquenificação. Essas lesões se sucedem ou se associam, formando os aspectos multiformes dos eczemas. O termo eczema, do grego ekzein, significa ebulição (ek = fora; zein = ferver) e já induz uma ideia do quadro clínico. As lesões são acompanhadas de prurido, um sintoma constante, e este pode ser ser mínimo, moderado ou intenso. Ele é causado pela liberação de substâncias que excitam as terminações ner-vosas cutâneas, sendo os estímulos levados ao córtex cerebral pelas vias nervosas. Esse padrão de inflamação da pele é uma ebolição. Então, está fervendo. Se está fervendo está ardendo ou coçando. É uma erupção que tem muito sintoma, o prurido é o mais frequente. Se o eczema tem um padrão de resposta a alguma coisa, é um padrão que vai depender do estímulo. Nessa imagem, tem uma lesão na região malar que não tem a epiderme, ou seja, é uma erosão (perda de continuidade da pele/ perda da tecido). Quando batemos o olho, não vemos lesão primária (como pápula, vesícula), mas sim uma erosão. No canto tem crosta hemática (casquinha de machucado) e mais lateralmente escama. O eczema tem fases: uma hora tem crosta e quando evolui faz escama. Mas pode ser que essas fases entrelaçam, como no caso da imagem e se chama escamo- crosta. Então, é uma lesão secundária na imagem. Diante de uma exulceração malar dessa crianças, quais hipóteses diagnósticas podem ser levantadas? Queimadura (caustico, químico, calor), neoplasias (existem lesões neoplásicas que causam exulceração), infecções, eczema atópico, doença congênita (mas não é típico) e inflamatório. Das doenças inflamatórias, essa imagem é um eczema. O eczema atópico é o mais frequente em crianças. Na imagem é a forma clássica do eczema do lactente que se manifesta na forma subaguda. • Fases do eczema: A síndrome eczematosa pode ser classificada em aguda, subaguda ou crônica, de acordo com o aspecto que apresenta. �4 Dermatologia | Anna Julia Pena - Aguda. - Subaguda - Crônica. Não significa que todos os pacientes com eczema tem que passar por todas as fases. Algumas doenças se manifestam primariamente com uma fase. A dermatite atópica do lactente se manifesta primariamente como fase subaguda. Ele não precisa passar pela fase aguda. Essas fases existem, mas elas não precisam aparecer na sequencia. - Agudo: • Eritema - vermelidão. • Edema. • Infiltração - aspecto sólido. • Vesiculação. Quando ocorre eritema, edema, vesiculação e secreção, o eczema é agudo. É o mais vermelho. Seria a queimadura que acabou de acontecer, aguda. A queimadura é uma agressão a pele. Ela destrói a pele. O eczema é uma agressão mais controlada. É algum estímulo que causa uma resposta inflamatória. Pode ser parecido ou diagnóstico diferencial de queimadura. Mas ao invés de destruir a pele/ causar necrose, causa um processo inflamatório (causa coceira) - é uma queimadura light. Por exemplo, ao entrarmos em contato com algum agente químico como caustica, ele vai queimar a pele. Porém se entrarmos em contato com uma quantidade pequena, pode formar uma lesão tipo eczema. Por exemplo, ao entrar em contato com formal e a concentração dele for alta, vai queimar o couro cabeludo (queimadura química). Já se for uma quantidade menor, vai fazer um eczema. Então, eczema é um padrão de resposta inflamatória. �5 Dermatologia | Anna Julia Pena - Subaguda: • Secreção. • Formação de crostas. Se o eritema e o edema são menos intensos e predominam as manifestações de secreção com formação de crostas, tem-se o eczema subagudo que, histopatologicamente, apresenta espongiose, microvesículas incipientes, discreta exocitose de linfócitos e, na derme, vasodilatação (eritema), edema e infiltrado linfocitário (papulas e placas papulosas). Os exsudatos, eliminados em menor quantidade nesta fase, dessecam--se na superfície da pele, determinando a formação de crostas. - Crônico: • Escamas - descamação é o processo que causa a escama. • Liquenificação - pele fica mais grossa. Espessamento da pele com acentuação dos sulcos e hiperpigmentação. O eczema de evolução prolongada, com liquenificação, é a forma crônica na qual, ao lado da liquenificação, há eritema e descamação. Na imagem a palma tem eczema, mas ele está liquenificado. Tem acentuação dos sulcos da pele na mão esquerda e perto da lesão a pele está mais escura. �6 Dermatologia | Anna Julia Pena • Histopatologia: - Eczema agudo - clinicamente vemos vesículas e no histopatologico vemos espongiose, que é o edema intracelular. Esse edema vai aumentando até que forma vesículas visível no microscópio. Histopatologicamente, no eczema agudo, há intensa espongiose e vesículas na epiderme que, ao se romperem, promovem liberação de esxudato com aparecimento de secreção. Na epiderme, ocorreexocitose de linfócitos e, na derme, há vasodilatação (eritema), edema da derme papilar e infiltrado linfocitário (pápulas e placas papulosas). - Eczema crônico - tem acantose, em que a epiderme fica espessada de forma irregular. Histopatologicamente, há hiperqueratose com focos de paraqueratose (descamação), acantose irregular (liquenificação), discreta espongiose, vasodilatação (eritema) e infiltrado linfocitário na derme. Se a acantose fosse toda regular e bonitinha, seria típica de uma outra lesão. A síndrome eczematosa é uma das mais frequentes afecções cutâneas, causada por agentes exógenos (contatantes) ou endógenos (endotantes) que atuam com mecanismos patogenéticos diversos. • Principais dermatoses eczematoses: Por critério clínico e etiopatogênico, podem-se agrupar as seguintes formas de eczemas ou dermatites eczematosas: 1. Eczema de contato. 2. Eczema atópico. �7 Dermatologia | Anna Julia Pena 3. Eczema numular. 4. Eczema de estase. 5. Eczema disidrótico. 6. Eczema por fármaco. O que importa é o padrão. Dependendo da fase e da localização fazemos o diagnóstico de qual eczema que é. Dermatite de contato (eczema de contato): Dermatose causada por substâncias do meio ambiente que entram em contato com a pele. Por isso, é considerada uma dermatose de origem exógena. Na grande maioria dos casos, a dermatite de contato se apresenta como um eczema em sua fase aguda, subaguda ou crônica, localizado na região do corpo do indivíduo que entrou em contato com o agente desencadeante. Os elementos responsáveis pela dermatite de contato podem estar relacionados ao trabalho do paciente, caracterizando, assim, dermatose ocupacional; ou podem estar relacionados a medicamentos, cosméticos e outras atividades. É uma doença dérmica que aparece pelo contato com substâncias. Ela pode ser eczematosa ou não. Com relação à etiopatogenia, a dermatite de contato é classificada em: • Dermatite de contato por irritante primário. • Dermatite de contato alérgica. • Dermatite de contato fototóxica. • Dermatite de contato fotoalérgica. Cerca de 80% das dermatites de contato são por irritação primária. - É uma doença ocupacional mais comum: 30% (industrializados). - Representa até 95% de todos os casos de dermatoses ocupacionais. • 80% são dermatite de contato irritativa. • 20% são dermatite de contato alérgica. - Implicações econômicas e sociais. O sabão é um dos maiores agentes irritativos. Primeira coisa, então, é tirar o excesso de sabão e colocar hidratante. Paciente que trabalha na área da saúde, lava muito a mão com sabão. A chance de ter uma dermatite de contato irritativa é muito grande. E não precisa de nada, �8 Dermatologia | Anna Julia Pena apenas ter contato com sabão que progressivamente vai ficando a mão com eczema. Cada vez mais espessa para se proteger. A alérgica é menos comum. É aquela temos que fazer o teste de contato e da uma baita de uma reação. O teste de contato é um que faz nas costas. Mas é ruim para o paciente porque tem que ficar 5 dias sem lavar as costas. - Origem exógena: • Exposição ocupacional. • Medicamentos - por exemplo antiinflamatório • Cosméticos - como shampoo, perfume. • Hobbies. Algumas pessoas tem alergia ao níquel e por isso não podem usar brincos de bijuteria. Nesses casos, se a pessoa comer muito feijão, estará ingerindo grande quantidade de níquel e pode ter eczema. - Classificação quanto à etiopatogenia: • DC por irritante primário - como o sabão. • DC alérgica. �9 Dermatologia | Anna Julia Pena O sabão tira a gordura da pele. Se nesse recipiente que esta o sabão tivesse soda cáustica, iria causar uma queimadura química na mão. Porém aqui estamos falando de uma concentração que não causa queimadura, mas sim um processo inflamatório. Cerca de 80% das dermatites das mãos, como o eczema do lar (“eczema da dona de casa”) e outros eczemas ocupacionais, são desencadeados por irritante primário relativo. Na face, ocorre uma proporção inversa, sendo 80% dermatite de contato alérgica e 20% por irritante primário relativo. É importante ressaltar que, nos eczemas por irritante primário, os testes de contato são inúteis, já que não existe processo imunológico de sensibilização. A única maneira de investigar é pela exclusão do agente suspeito, com a melhora do quadro e a recidiva pela reexposição. • Eczema de contato por irritante primário (DCIP): Causada pela exposição a agentes com propriedades de provocar dano tecidual. As alterações nos queratinócitos epidérmicos decorrem da ação cáustica das substâncias irritantes. São irritantes comuns: sabões, detergentes, desinfetantes, xampus, limpadores industriais, solventes, álcalis, ácidos, óleos de corte, solventes orgânicos, agentes oxidantes, plantas, pesticidas, secreção de animais. De acordo com o tipo de irritante, a dermatite de contato por irritante primário é subdividida em vários subtipos - Dano tecidual por substâncias irritantes. - Queratinócitos liberam IL1alfa. - Ativação de linfócitos TCD4. Ocorre uma irritação de queratinócitos, predomina na epiderme. Esse queratinócito libera interleucina alfa, ativando os linfócitos e com isso causa a inflamação. Nesse caso, não precisa sensibilizar nada. É uma agressão direta. Inflamou, irritou. Depende da quantidade de exposição. Isso é diferente da sensibilidade do tipo 4, porque ela precisa de sensibilização. Nesse caso só precisa ter a agressão. - �10 Dermatologia | Anna Julia Pena - Dermatites de fraldas: A urina e as fezes são irritantes primários relativos. A dermatite das fraldas é exemplo de dermatite de contato, desde o simples eritema até quadros graves. Em adultos com incontinência urinária ou de fezes, é frequente o quadro de dermatite de contato por irritante primário Essa lesão na imagem acima é eritematosa (não sabemos se é mancha ou placa) obtendo o períneo e a coxa, poupando as dobras (aparentemente) com escamação nas periferias. Mas predomina eritema e edema. Indica um eczema agudo. Histologicamente estamos vendo espongiose, está inflamado. ‘ A etiopatogenia dele é contato com xixi, produtos da urina e das fezes. Além disso, com a umidade, esse ambiente fica propicio para o crescimento de fungos. Por isso, é preciso secar, tirar a umidade. Pode acontecer, da cândida se aproveitar e colonizar a região. Oxido de zinco: ajuda a reepitelizar. E age como uma barreira. Deve ser usado para previnir. Por exemplo uma mãe que vai ficar 4 horas no ônibus e não vai ter como trocar o bebe, dai passa para formar uma barreira. Mas de todo jeito, tem que trocar a fralda. Se mantermos mantermos os irritante, vai cada vez irritar mais. Dai chega uma hora que vai exulcerar, como no bebe da foto com a lesão malar. Portanto, o tratamento é evitar o contato. �11 Dermatologia | Anna Julia Pena Na dermatite de contato por irritante primário, há vários fenômenos consequentes à ação do agente irritante: remoção dos lipídeos da superfície cutânea, alterações na retenção de água, dano das membranas celulares dos queratinócitos e efeitos ci- tóxicos. Embora não haja participação de fenômenos imunológicos, há liberação de citocinas (IL-1 α, IL-1 β, TNF-α, GM--CSF, IL-6) e moléculas de adesão (ICAM-1 e LTA-1) pelos queratinócitos lesados como resultado do processo inflama-tório; também há liberação de leucotrienos e prostaglandinas. A característica química do agente irritante, sua concentração, o pH e o modo e a duração da exposição interferem no processo. Além do fator extrínseco, admite-se a atuação de fatores predisponentes: há evidências de fatores genéticos de sus-cetibilidade. Existe um tipo de polimorfismo do gene TNF que representaria um fator genético de suscetibilidade. Com relação a fatores raciais, suspeita-se de maior suscetibilidade dos caucasianos, mas esse fato não está demonstrado definitivamente. Há predomínio de dermatite irritativadas mãos em mulheres, mas atribui-se essa observação a maior exposição das mulheres a agentes irritantes nas atividades domésticas. A dermatite atópica (DA) é fator de predisposição pelo comprometimento da barreira cutânea, permitindo maior penetração dos agentes. • Eczema de contato alérgico (DCA): Considerada uma ruptura da tolerância aos haptenos do meio ambiente. Corresponde a uma reação imunológica do tipo IV, ativada por uma substância (hapteno) com características que a transformam em um antígeno. A tolerância às substâncias é fornecida pelos LT CD4+, células reguladoras que produzem IL-10, inibidora da reação inflamatória da dermatite de contato alérgica. A estimulação imunológica pelo hapteno leva à produção de LT CD8+, células citotóxicas efetoras da dermatite de contato alérgica. Os vários eventos que ocorrem permitem dividir a dermatite de contato alérgica em três fases: de indução (via aferente), de elicitação (via eferente) e fase de resolução da dermatite de contato alérgica. - Ruptura de tolerância aos haptenos do meio ambiente. - Hipersensibilidade do tipo IV. Precisa ter sensibilização. O sistema imune vai ser ativado. �12 Dermatologia | Anna Julia Pena - Reações de Hipersensibilidade: - Ruptura de tolerância aos haptenos do meio ambiente. - Hapteno: antígeno “incompleto”, capazes de estimular a produção de anticorpos após formarem complexos através da ligação com proteínas tumorais ou tissulares. - Haptenos permanecer por 18 a 24 horas para haver sensibilização. - As células citotóxicas da DCA são linfócitos TCD8+. O antígeno vai estimular as células de Langerhans, vai nos linfócitos e os ativam. Quando menos tempo deixar em contato, menos chance de sensibilizar. Os linfócitos TCD8 são os que vão causar a dermatite, eles voltam para a pele. Quem vai resolver são os TCD4. - Fases da DCA: 1. Fase de indução (“via aferente”): 4 a 5 dias. 2. Fase de elicitação (“via eferente”): 24 a 48 horas após novo contato com antígeno desenvolvimento de lesão. 3. Fase de resolução: linfócitos TCD4+ conseguem agir como reguladores e resolver o processo. �13 Dermatologia | Anna Julia Pena Em um primeiro contato, tem a sensibilização. No segundo contato tem o desenvolvimento da lesão. Se nuca mais entrasse em contato, esse eczema iria se resolver sozinho. Mas em geral, não se resolve sozinho porque entramos em contato com o antígeno de novo. Então vai se somando e não se resolve. Por isso é importante tirar o agente. Via aferente da dermatite de contato alérgica: Nesta fase, a substância química (hapteno) que entra em contato com a pele é o fator desencadeante. Esta substância tem características específicas, como baixo peso molecular, reatividade química e solubilidade lipídica, tornando-a capaz de penetrar no estrato córneo e reagir com componentes do sistema imune. O hapteno ou, eventualmente, algum produto de sua metabolização forma ligações covalentes com proteínas da pele, resultando no conjugado hapteno-proteína, tornando-se um antígeno para a pele. Esse antígeno, por meio de ligações covalentes, liga-se a glicoproteínas (hapteno-transpor-tador proteico) da membrana plasmática das células de Langerhans. Os genes HLA-DR é que fornecem a especificidade ao transportador proteico. Pode haver ligação direta do hapteno com moléculas dos antígenos de histocompatibilidade MHC classe II presentes nas células dendríticas epidérmicas e nas células de Langerhans. Para que a sensibilização do contato ocorra, o hapteno precisa permanecer na pele de 18 a 24 horas. Células de Langerhans: derivadas da medula óssea, são células dendríticas que permitem a ligação entre células, formando uma rede, o que facilita o contato com o antígeno. Constituem 2 a 8% das células epidérmicas e estão localizadas na epiderme. São as principais células apresentadoras de antígeno na dermatite de contato e têm como função: processar e transportar o antígeno para o linfonodo regional, além de produzir IL-1, que estimula os queratinócitos a produzirem TNF e fator estimulador de colônias de granulócitos-macrófagos (GM-CSP). Interação células de Langerhans − linfócitos T (LT): o antígeno ligado a células de Langerhans entra em contato com LT na área paracortical do linfonodo regional, com proliferação de LT contra o antígeno. As moléculas de adesão participam dessa relação entre as células T e as células de Langerhans. Os antígenos podem ser apresentados não somente pelas células de Langerhans, mas também por queratinócitos que expressam HLA-DR, fato que contribui para aumentar a produção de citocinas e intensificar a inflamação. Um grupo de células T se diferencia em células de memória, o que faz o indivíduo acumular LT contra determinado antígeno. Outros linfócitos se tornam células efetoras que, pelo sangue, circulam em todo o corpo levando à disseminação da sensibilidade de contato. O tempo mínimo para se completar a via aferente é de 4 a 5 dias. Em seres humanos, são necessários 14 a 21 dias até que as células efetoras voltem a circular na pele. Via eferente da dermatite de contato alérgica (fase de elicitação): �14 Dermatologia | Anna Julia Pena A fase de elicitação ocorre quando o indivíduo previamente sensibilizado entra novamente em contato com o antígeno. Os linfócitos previamente sensibilizados reagem contra o antígeno e em 24 a 48 horas, a reação inflamatória se desenvolve. Os linfócitos sensibilizados localizam-se na pele, área de deposição do antígeno, por expressarem o antígeno leucocitário cutâneo (CLA). Contribuem ainda para a localização dos linfócitos na área de inflamação seus receptores de quimiocinas, particularmente da CCL27, a qual é produzida pelos queratinócitos, e as quimiocinas CCR10 e CCL27. Além das quimiocinas, moléculas de adesão como VL-4, LFA-1, ICAM e VCAM contribuem para a ligação dos linfócitos sensibilizados ao endotélio dos vasos e favorecem sua diapedese. Os linfócitos, sendo ativados pelo contato com o antígeno, ativam outros linfócitos e, os queratinócitos, havendo liberação de grande quantidade de citocinas, IL-2, IL-3, IL-6, interferon-γ e TNF, induzem a reação inflamatória. Além desses mecanismos, contribuem para o quadro inflamatório a ocorrência de apoptose de queratinócitos por liberação de Fasligante e perfurinas. Histologicamente, observa-se acúmulo perivascular de LT e macrófagos, com edema na derme superior, foco de células mortas e microvesiculação; ocasionalmente, alguns eosinófilos são encontrados, sugerindo que outros mediadores possam estar envolvidos. A reativação do quadro (flare-up), sem nova exposição ao antígeno, acontece quando alguns complexos antígeno-CL permanecem na pele e número suficiente de células T efetoras é gerado. Esses LT retornam ao lugar do contato com a substância, desencadeando dermatite de contato alérgica, sem nova exposição ao hapteno. Esse fenômeno ocorre com potentes sensibilizantes, como o dinitroclorobenzeno (DNCB), e é observado 7 a 10 dias após o contato. Fase de resolução da dermatite de contato alérgica: A terceira etapa do mecanismo imunológico da dermatite de contato alérgica (fase de resolução) corresponde ao término da reação inflamatória. Nessa fase, também são liberadas citocinas como a IL-10, fator transformador de crescimento (TNF-β), que interferem na intensidade da inflamação. Esses mediadores têm papel importante na indução de supressão de LT. Nessa fase, LT CD4+ agem como reguladores, liberando citocinas que resolvem a reação. Alguns trabalhos demonstraram a participação do sistema nervoso na dermatite de contato alérgica por meio de neuroendopeptidases (NEP) e da enzima conversora de angiotensina (ECA). Inativação de NEP e ECA aumenta substância P e bradicinina, que inibem a dermatite de contato alérgica. Modelos em animais mostram que a desnervação interrompe a mobilização de linfócitos. Sem nervos, o mecanismo imunológico não é completo. Além disso, demonstrou-se quea IL-1 medeia a ativação do eixo hipotálamo--pituitário-adrenal. Com relação a fatores predisponentes à dermatite de contato alérgica, admite-se a influência de fatores genéticos de caráter não mendeliano. Essa influência genética parece ser importante na sensibilização ao níquel, mas não se sabe se atua facilitando a conjugação do níquel com proteínas epidérmicas ou se age favorecendo a absorção do níquel. Quanto à atopia, há controvérsias. O defeito imune diminuiria a capacidade de sensibilização, mas a intensa exposição a emolientes e a medicamentos tópicos aumentaria as possibilidades de alergização, explicando resultados de estudos que demonstram frequente sensibilização de atópicos a medicamentos de uso tópico. Ainda com relação a fatores predisponentes, não há �15 Dermatologia | Anna Julia Pena diferenças em relação ao sexo, pois, embora as mulheres apresentem respostas celulares mediadas mais intensas, não apresentam maior suscetibilidade de sensibilização em relação aos homens. Observam-se influências hormonais, variações das respostas aos testes de contato nas diferentes fases do ciclo menstrual e exacerbações de dermatite de contato alérgica nos períodos pré- menstruais, mas essas variações devem decorrer das modificações fisiológicas próprias das oscilações hormonais. Quanto à idade, também não existe variação em relação à suscetibilidade de sensibilização, mas as faixas etárias mais afetadas correspondem aos períodos de maior atividade, adultos jovens, por maior exposição a alérgenos. O mesmo se refere às variações raciais, que parecem ser fruto exclusivo de variações à exposição a antígenos de contato. Registram-se variações ambientais; assim, a exposição aos raios UV diminui as respostas cutâneas aos antígenos de contato por várias alterações imunológicas, especialmente diminuição do número de células apresentadoras de antígenos. No inverno, a xerose cutânea com pequenas fissuras pode favorecer a penetração de antígenos na pele. A sudorese aumenta a possibilidade de sensibilização a antígenos de roupas e calçados, pois a maior umidade pode facilitar a solubilização de antígenos, favorecendo sua penetração cutânea. - Causas: • Plantas. • Cosméticos. �16 Dermatologia | Anna Julia Pena - Diagnóstico do Eczema de contato alérgico (DCA): • Anamnese. • Exame dermatológico. • Teste de contato (Patch test). - Teste de contato para diagnóstico de DCA: São utilizados para confirmar o diagnóstico e investigar a causa da dermatite de contato. Os resultados dependem da indicação, da técnica correta de aplicação e da interpretação da leitura do teste. O mecanismo etiopatogênico dos testes de contato é o mesmo da dermatite de contato alérgica. Supondo-se que o paciente já tenha realizado, em algum momento, a via aferente da dermatite de contato para determinado antígeno, a colocação em uma parte do corpo de substância suspeita induz a formação da via eferente por linfócitos T previamente sensibilizados, produzindo, no local da aplicação da substância, lesão clínica do tipo eczematosa. Os testes epicutâneos são indicados unicamente na investigação de dermatite de contato alérgica. Na dermatite de contato por irritante primário, como referido, não existe mecanismo imunológico. • Tratamento do eczema de contato: - Evitar agentes agressores (sabões) e do agende causador no caso de DC alérgica. �17 Dermatologia | Anna Julia Pena - Hidratantes. - Corticosteróides (na DC alérgica, 14 a 21 dias). • Tópicos. • Sistêmicos: eczema > 20% superfície. - Prednisona 1 a 2 mg/kg (60mg), 7 a 10 dias, redução nos próximos 7 a 10 dias. - Inibidores da calcineurina: Pimecrolimus e tacrolimus. - Antihistamínicos sedantes. - Wet dressings - bom para acalmar a pele. Tem que tratar pelo tempo certo. O quadro clínico da dermatite de contato pode, em fase aguda, subaguda ou crônica, apresentar-se sob forma eritematosa ou por várias modalidades: eritematovesiculosa; eritematovesicossecretante; e eritematossecretante infiltrativa liquenificada. O prurido, como já foi dito, é um sintoma constante. A delimitação e a localização do processo eruptivo são elementos importantes na diagnose dessa forma eczematosa • Dermatite de contato - formas não eczematosas: �18 Dermatologia | Anna Julia Pena A diferença é a etiopatogenia da lesão. Em uma tem a destruição autoimune do melanócito e outra é uma toxicidade (mas é uma dermatite de contato). Dermatite atópica: Também conhecida como eczema constitucional ou neuro-dermite disseminada, é uma manifestação eczematosa peculiar, frequentemente associada à asma e/ou à rinite alérgica e, eventualmente, à urticária. Caracteriza-se pelo curso crônico, com períodos de crises e de acalmia. Os surtos de eczema manifestam-se isolada ou simultaneamente ou intercalam-se com as crises de asma ou rinite. Cerca de 50% dos indivíduos com eczema atópico têm asma, 75% têm rinite alérgica, e 15% têm surtos de urticária. De outro ponto de vista, 70% referem ante-cedentes familiares de atopia (eczema, asma ou rinite alérgica). A DA é, geralmente, a primeira manifestação clínica de atopia. - O diagnóstico da dermatite atópica baseia-se na presença de prurido, morfotopografia típica e tendencia à cronicidade do eczema. Tem que coçar, se não tiver coçando não é esse o diagnóstico. A criança com 10 anos e começou com eczema? É pouco provável. • Marcha atópica: �19 Dermatologia | Anna Julia Pena A dermatite atópica aparece no primeiro ano e depois vai caindo o número de casos. • Sinônimos de dermatite atópica: - Eczema atópico. - Eczema constitucional - termo mais usado na Europa. - Neurodermite disseminada. - 30% tem asma ou rinite alérgica. - 15% tem surtos de urticária. - 70% tem antecedentes familiares de atopia. • Patogenia: O paciente atópico deve ser compreendido como indivíduo cujo limiar de reatividade é anômalo, motivo pelo qual reage anormalmente a inúmeros estímulos: contatantes, ingestantes, inalantes e injetantes. Os mecanismos responsáveis por essa reatividade alterada não são completamente conhecidos, sabendo-se, porém, que participam na patogênese da DA fatores genéticos, mecanismos imunológicos e não imunológicos - Indivíduos com limiar de reatividade anômalo. - Estímulos: • Contatantes. • Ingestantes. • Inalantes. • Injetantes. �20 Dermatologia | Anna Julia Pena • Distribuição das lesões: - Dobras. - Cervical, pálpebras, fronte, face, punhos, dorso dos pés e das mãos. - Doença grave: generalização. O estudo das manifestações clínicas da DA compreende três períodos evolutivos: na infância; no período pré-puberal; e na idade adulta. Em qualquer uma das fases, ocorrem manifestações que representam critérios considerados absolutos para a diagnose da dermatite e os chamados critérios menores, que compreendem várias manifestações cutâneas que costumam ocorrer com frequência nos indivíduos atópicos. • Diagnóstico: - História de cronicidade, morfotopografia típica e sinas (*prurido). - Critérios UK working group: • 1 mandatório (PRURIDO). • 3 ou mais de 5 critérios maiores: - História de acometimento de áreas de dobras (fossa antecubitais, poplíteas, pescoço, perioculares, face anterior dos tornozelos). - História pessoal de atopia (asma, rinite) ou história familiar em parente de 1º grau para crianças menores de 4 anos. - Xerose cutânea no último ano - pele seca. - Início dos sintomas na infância < 2 anos (*critério não usado para crianças < 4 anos). - Dermatite envolvendo flexoras (*para crianças < 4 anos, considerar dermatite na região malar ou fronte e face dorsal das extremidades). �21 Dermatologia | Anna Julia Pena • Manifestações clínicas associadas: - Eczema do mamilo. - Queratose pilar. • Períodos evolutivos: A. Eczema infantil. B. Eczema pré puberal ou juvenil. C. Eczema do adulto. - Podem generalizar. • Eczema infantil:Surge, em regra, a partir do 3º mês de vida, manifestando-se como lesões vesicossecretantes crostosas, localizadas nas regiões malares. Pode permanecer localizado nessa área ou estender-se, atingindo toda a face, couro cabeludo, nuca, �22 Dermatologia | Anna Julia Pena dobras antecubitais e poplíteas e, nos casos mais graves, generalizar-se. O prurido é variável, podendo, às vezes, ser intenso e determinar estado de agitação na criança, pela coçadura quase contínua. A complicação mais frequente é a infecção secundária, devendo-se notar que, mesmo a despeito da intensa coçadura, nunca surge a liquenificação. Complicação grave do eczema infantil é a infecção pelo contato com o vírus do herpes simples ou vaccinia, que determinam o quadro da erupção variceliforme de Kaposi (eczema herpético – eczema vacinal). A criança desenvolve um quadro febril, com sinais de toxemia, ao mesmo tempo que surgem lesões vesicopustulosas disseminadas, particularmente nas áreas eczematosas. A evolução do eczema infantil é por surtos, com predomínio, em geral, nos dois primeiros anos de vida, quando tende a melhorar, podendo desaparecer completamente ou persistir em forma discreta com algumas lesões, surgindo na face ou nas áreas de dobras. O quadro bem conhecido de pitiríase alba pode, mui- tas vezes, representar uma forma mínima de eczema atópico, tendo como fator agravante ou desencadeante a luz solar. - A partir dos 3 meses de vida. - Lesões vésico - secretantes - crostosas. - Bimalares, podem generalizar. - Não liquenificam. - Complicação: infecção viral. - Complicação infecciosa viral: erupção variceliforme de Kaposi. �23 Dermatologia | Anna Julia Pena • Eczema juvenil: Pode manifestar-se como uma continuação do eczema infantil ou surgir alguns anos após o desaparecimento deste. Nas formas mais comuns, são comprometidas as regiões de dobras, como poplítea, pré-cubital e regiões como face, punhos e dorso das mãos e dos pés. O quadro clínico é de áreas de liquenificação com escoriações, isto é, de uma dermatite crônica (FIGURA 15.23). Há, entretanto, fases de agudização com eritema, vesiculação e secreção, podendo, inclusive, ocorrer generalização do quadro. O prurido é variável, às vezes intenso e contínuo, porém, a despeito da coçadura, raramente há infecção secundária. O quadro evolui por surtos, podendo agravar-se ou desaparecer. - Continuação da DA infantil ou recidiva após anos. - Dobras, face, punhos, dorso das mãos e pés. - Eczema crônico com fases de agudização. �24 Dermatologia | Anna Julia Pena - Raramente há infecção secundária. �25 Dermatologia | Anna Julia Pena • Eczema do adulto: O quadro atinge preferencialmente as áreas de flexão, como pescoço, antecubital, poplítea e a face, particular-mente a região periorbital. Caracteriza-se por liquenificação e escoriações, sendo o prurido variável. A pele é seca e ligeiramente descamativa, apresentando o chamado dermografismo branco. A evolução é por surtos com períodos de melhora e por surtos de agudização, e o quadro pode, eventualmente, generalizar-se, chegando à síndrome eritrodérmica. - Sinônimo: neurodermite disseminada. - Dobras antecubitais, poplíteas e pescoço. - Face (periorbital). - Liquenificação - espessamento da pele, hiperpigmentação e acentuação dos sulcos. Começar primariamente no adulto é possível, mas é menos frequente. Nessa imagem a matriz ungueal foi acometida, inflamou e a unha cresce torta por causa disso. Não é micose, é uma inflamação. �26 Dermatologia | Anna Julia Pena Acometimento de dorso da mão e cervical. Eczema crônico com exulceração. �27 Dermatologia | Anna Julia Pena • Diagnóstico diferencial de dermatite atópica: - Dermatite seborreia (infância). - Dermatite de contato. - Nerodermite (líquen simples crônico). - Psoríase. - Imunodeficiências. - Genodermatoses. - Micoses superficiais. - Pitiríase rósea. - Liquen plano. - Histiocitose. - Acrodermatite enteropática. • Tratamento de dermatite atópica: - Cuidados gerias contra xerose. - Medicamentos tópicos: • Corticosteróides. • Imunomoduladores tópicos. • Alcatrões. • Antibióticos. �28 Dermatologia | Anna Julia Pena • Antissépticos. - Medicamentos sistêmicos: • Corticóides. • Antibióticos. • Anti -histamínicos. • Imunomoduladores sistêmicos. • Fototerapia. • Sedativos. • Psicoterapia. • Imunossupressores: ciclosporina, metotrexato, azatioprina, micofenolato de mofetil - Hospitalização. A DA é afecção crônica, recidivante, influenciada por inúmeros fatores etiopatogênicos. Por não existir nenhum recurso para sua cura definitiva, o objetivo do tratamento deve ser o controle da afecção, enquanto se aguarda por uma possível involução espontânea da dermatose, que pode ocorrer. Assim, o tratamento deve ser orientado para diminuir a sintomatologia e a reação inflamatória, reconhecendo, afastando ou excluindo fatores que agravam o quadro evolutivo da afecção. É interessante discutir com o paciente ou, no caso de crianças, com os pais, a cadeia multifatorial de causas da DA como estabelecida por Sulzberger. �29
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