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2019 IntelIgêncIa emocIonal e estratégIas de enfrentamento Prof. Kelvin Custódio Maciel. 1a Edição Copyright © UNIASSELVI 2019 Elaboração: Prof. Me. Kelvin Custódio Maciel. Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: M152i Maciel, Kelvin Custódio Inteligência emocional e estratégias de enfrentamento. / Kelvin Custódio Maciel. – Indaial: UNIASSELVI, 2019. 177 p.; il. ISBN 978-85-515-0313-3 1. Inteligência emocional. - Brasil. 2. Estratégias de enfrentamento. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 152.4 III apresentação Olá, prezado acadêmico! Preparamos esse livro com o intuito de fazê-lo refletir sobre questões teóricas e práticas que discutem a inteligência Emocional e Estratégias de Enfrentamento. Assuntos ligados ao sucesso, fracasso, habilidades e emoções, bem como as formas de expressão e comunicação. Nesse sentido, abordaremos de uma maneira dialógica alguns temas importantes respeitantes à inteligência emocional ao longo do livro. Na Unidade 1 abordaremos assuntos específicos do universo da inteligência emocional, tais como: competências emocionais, pessoais e sociais; estados de ânimo e transtornos emocionais. Por que estudar sobre inteligência emocional? Ora, se você aprender a coordenar e agenciar o que você pensa e sente, certamente será capaz de ter um melhor relacionamento consigo mesmo, será mais fácil enfrentar situações adversas em sua vida e em seu trabalho, terá maior capacidade de conquistar seus objetivos, saber se portar frente a relacionamentos interpessoais e se autoconduzir diante de uma negociação, quando você for comprar ou vender algo. Portanto, nessa unidade vamos refletir a partir de alguns questionamentos que são pertinentes numa sociedade que cada vez mais fragmenta e coloca em “caixinhas” as múltiplas potencialidades que uma pessoa possui, tendo em vista as demandas do mercado de trabalho. Essa indiferença em relação às possibilidades que podemos ser são visíveis quando olhamos para a instituição escolar, por exemplo. Quando nos perguntamos: Quantas crianças consideradas prodígios não fizeram mais proezas do que colecionar boas notas nas escolas? Quantas pessoas com alto quociente de inteligência (QI) tiveram uma carreira profissional decadente, ao passo que pessoas cujo QI não era destacável foram longe, profissionalmente falando? Mas tais questões serão exploradas ainda mais na segunda unidade desse livro, então não deixe de fazer a leitura e mergulhar nesse universo para se autoconhecer e conhecer o outro. Na Unidade 2 apresentaremos a teoria das Inteligências Múltiplas, a sua aplicabilidade no contexto escolar, as estratégias de ensino que podem reconfigurar a prática pedagógica e como a teoria das Inteligências Múltiplas pode estar ligada à linguagem e à saúde. Refletiremos sobre o caráter inovador dessa teoria, como possibilidade de quebrar o paradigma das estruturas pedagógicas contemporâneas. A abertura para uma abordagem multicultural nos espaços escolares e o estímulo ao engajamento dos alunos são algumas características de um ensino que considera o aluno enquanto dotado de múltiplas inteligências. IV Nesse sentido, a contribuição recente da teoria das Inteligências Múltiplas evidencia o poder de inserção de uma visão pluralista da mente, reconhecendo diversas facetas da cognição, reconhecendo que as pessoas têm potenciais e estilos diferenciados de aprender, e que não cabe à escola impor um ensino homogêneo sem considerar que cada estudante é um universo singular e uma potência a ser explorada e guiada. Portanto, como o desenvolvimento das potencialidades que permeiam os domínios da inteligência emocional podem auxiliar na saúde? Você verá que os pacientes com câncer, que apresentam maior inteligência emocional, também apresentam melhor saúde mental e atitudes mais esperançosas diante do diagnóstico de câncer. Além disso, o desenvolvimento e o estímulo do autoconhecimento e da inteligência emocional podem beneficiar qualitativamente a vida dos profissionais da saúde, bem como pacientes que estão em situações de fragilidade emocional. Por esses e outros motivos, convidamos você a se engajar na leitura e nas reflexões dessa unidade, compreendendo que a educação é a principal ferramenta para a transformação do mundo e do homem. Por fim, na Unidade 3, trataremos das múltiplas estratégias de enfrentamento que estão relacionadas ao fortalecimento da inteligência emocional, na medida em que o sujeito consegue superar uma situação adversa em sua vida ou em seu trabalho. A superação de uma situação de adversidade, o fato de se colocar em uma posição de autodefesa ou de enfrentamento de uma situação adversa, diz respeito a um movimento da psicologia denominado “fenômeno da resiliência humana”. Provavelmente você já ouviu, em algum momento da sua vida, alguém dizendo que foi resiliente em tal situação, ou que conseguiu superar um problema ou uma dificuldade aparentemente impossível de se recuperar. Nessas circunstâncias “moram” alguns conceitos que trabalharemos nessa unidade. Vamos conhecer mais sobre os conceitos denominados de coping e de buffers, que são de grande importância quando tratamos de fatores de proteção no qual a pessoa lança mão diante de um fator de risco ou de vulnerabilidade. A partir do estudo dessa unidade, você aprenderá a identificar no seu quotidiano quando uma pessoa está utilizando fatores de proteção internos (coping) e externos (buffers), e ficará por dentro das estratégias mais eficazes para obter maior rendimento profissional sem prejudicar a saúde física e psíquica. Como superar a ansiedade e o estresse originado de uma situação adversa? Como prevenir o aparecimento de doenças diversas, como fadiga, dores de cabeça, insônia, alterações intestinais? Um dos caminhos é através das estratégias de enfrentamento, da assertividade em ativar os fatores de proteção para compreender a situação e superá-la. A partir disso, esperamos que esse livro didático contribua para a sua formação docente e que, por meio dele, você possa se engajar num projeto de educação que compreenda o estudante em sua totalidade, estabelecendo V Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! pontes entre a vontade de aprender do estudante e o compromisso de ensinar do professor.Pois como indaga o filósofo contemporâneo Zygmunt Bauman: “Como se pode lutar contra as adversidades do destino sozinho, sem a ajuda de amigos fiéis e dedicados, sem um companheiro de vida, pronto para compartilhar os altos e baixos?”. Num mundo em que as relações humanas se evidenciam cada vez mais frágeis e líquidas, um caminho possível é ser resiliente, desenvolvendo as potencialidades e respeitando as diferenças que se fazem presentes em todos os momentos de nossas vidas. Bons estudos! Professor Me. Kelvin Custódio Maciel. NOTA VI VII UNIDADE 1 – INTELIGÊNCIA EMOCIONAL: CONCEITOS E DESENVOLVIMENTO ...... 1 TÓPICO 1 – INTELIGÊNCIA EMOCIONAL: CAPACIDADES MENTAIS, EMOÇÕES, RACIONALIDADE E HABILIDADES .................................................. 3 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3 2 O QUE É INTELIGÊNCIA EMOCIONAL? ..................................................................................... 4 3 AS CAPACIDADES MENTAIS E O DESENVOLVIMENTO DO CÉREBRO .......................... 8 4 AS EMOÇÕES E A RACIONALIDADE ........................................................................................... 11 5 AS HABILIDADES DA INTELIGÊNCIA EMOCIONAL ........................................................... 12 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 14 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 15 TÓPICO 2 – INTELIGÊNCIA EMOCIONAL: COMPETÊNCIAS PESSOAIS, COMPETÊNCIAS SOCIAIS E MENSURAÇÃO ........................................................ 17 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 17 2 COMPETÊNCIA EMOCIONAL ........................................................................................................ 17 2.1 COMPETÊNCIAS PESSOAIS ........................................................................................................ 22 2.2 COMPETÊNCIAS SOCIAIS ........................................................................................................... 26 3 MENSURAÇÃO DA INTELIGÊNCIA EMOCIONAL ................................................................ 31 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 35 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 36 TÓPICO 3 – ESTADOS DE ÂNIMO E TRANSTORNOS EMOCIONAIS .................................. 37 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 37 2 ESTADOS DE ÂNIMO ........................................................................................................................ 37 3 TRANSTORNOS EMOCIONAIS ..................................................................................................... 41 3.1 ESTRESSE .......................................................................................................................................... 42 3.2 ANSIEDADE..................................................................................................................................... 43 3.3 DEPRESSÃO ..................................................................................................................................... 43 3.4 TRANSTORNO OU SÍNDROME DO PÂNICO ......................................................................... 44 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 46 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 52 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 53 UNIDADE 2 – INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS ................................................................................ 55 TÓPICO 1 – TEORIAS DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS ....................................................... 57 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 57 2 TEORIAS DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS .......................................................................... 57 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 70 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 75 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 76 sumárIo VIII TÓPICO 2 – INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS NA EDUCAÇÃO .................................................77 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................77 2 INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS NA EDUCAÇÃO: ESTRATÉGIAS DE ENSINO ...............77 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................87 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................89 TÓPICO 3 – INTELIGÊNCIA EMOCIONAL, INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS E A SAÚDE ........ 91 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................91 2 INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS, SAÚDE E LINGUAGEM .......................................................92 3 INTELIGÊNCIA EMOCIONAL E CÂNCER .................................................................................97 4 INTELIGÊNCIA EMOCIONAL E ATITUDES SUICIDAS ........................................................98 5 INTELIGÊNCIA EMOCIONAL E PROFISSIONAIS DA SAÚDE ..........................................100 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................104 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................105 UNIDADE 3 – ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO ..............................................................107 TÓPICO 1 – ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO: CONCEITOS .......................................109 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................109 2 CONCEITOS RELATIVOS ÀS ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO .............................110 2.1 RESILIÊNCIA .................................................................................................................................110 2.2 COPING ...........................................................................................................................................113 3 RELAÇÕES ENTRE COPING E ESPIRITUALIDADE ................................................................113 4 COPING E ADOLESCÊNCIA/JUVENTUDE ................................................................................118 5 COPING E ADULTEZ ........................................................................................................................119 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................126AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................127 TÓPICO 2 – ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO EM AMBIENTE DE TRABALHO ....129 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................129 2 ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO: FATORES DE PROTEÇÃO ...................................130 3 ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO EM AMBIENTE DE TRABALHO.........................135 3.1 MEDIDAS DE ENFRETAMENTO DO ESTRESSE NO TRABALHO ....................................140 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................144 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................146 TÓPICO 3 – ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO: SAÚDE E EDUCAÇÃO .....................149 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................149 2 ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO NA ÁREA DA SAÚDE ...........................................150 3 ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO EM AMBIENTES EDUCACIONAIS ...................154 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................160 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................164 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................166 REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................167 1 UNIDADE 1 INTELIGÊNCIA EMOCIONAL: CONCEITOS E DESENVOLVIMENTO OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • compreender o conceito de inteligência emocional; • compreender as competências emocionais, tanto pessoais quanto sociais; • conhecer os estados de ânimo; • conhecer os principais transtornos emocionais. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – INTELIGÊNCIA EMOCIONAL: CAPACIDADES MENTAIS, EMOÇÕES, RACIONALIDADE E HABILIDADES TÓPICO 2 – INTELIGÊNCIA EMOCIONAL: COMPETÊNCIAS PESSOAIS, COMPETÊNCIAS SOCIAIS E MENSURAÇÃO TÓPICO 3 – ESTADOS DE ÂNIMO E TRANSTORNOS EMOCIONAIS 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 INTELIGÊNCIA EMOCIONAL: CAPACIDADES MENTAIS, EMOÇÕES, RACIONALIDADE E HABILIDADES 1 INTRODUÇÃO “Inteligência emocional” – que expressão misteriosa e ao mesmo tempo aparentemente inusitada, talvez até incongruente? Afinal, estamos acostumados a ler e a ouvir frases que parecem cindir inteligência e emoção, como se uma coisa fosse uma coisa e outra coisa fosse outra coisa... Talvez seja por isso que "inteligência emocional" soa algo como “vitamina de manga”. Poucos anos atrás, as mães sempre diziam que não era possível misturar leite com manga, que tal mistura era tão perigosa que poderia causar um “revertério” fatal no sistema digestivo do sujeito que resolvesse experimentar tal iguaria! Algo que é bem mais familiar aos nossos ouvidos são as canções e as histórias literárias que ora engrandecem a razão, ora engrandecem a emoção. Por exemplo, a obra Um Sopro de Vida, de Clarice Lispector (1999), mostra um diálogo entre um autor e uma das personagens criadas por ele. Uma das frases do diálogo nos conclama a pensar em temas que entrecruzam esse tópico: "Mas é preciso me amar como involuntariamente sou. Apenas me responsabilizo pelo que há de voluntário em mim e que é muito pouco" (LISPECTOR, 1999, p. 130). Então, o que há de voluntário seria consciente, portanto, ligado à cognição, à inteligência? E o involuntário (que ocupa a maior parte) é da ordem do inconsciente, portanto, ligado à emoção? Prezado acadêmico, não foque sua leitura visando responder às perguntas que acabou de ler. Apenas continue lendo, com o aviso de que você encontrará alguns frutos de estudos sobre interações entre emoção (manga?) e inteligência (leite?). UNIDADE 1 | INTELIGÊNCIA EMOCIONAL: CONCEITOS E DESENVOLVIMENTO 4 2 O QUE É INTELIGÊNCIA EMOCIONAL? A expressão “Inteligência Emocional” foi se tornando amplamente conhecida em virtude dos estudos do professor da famosa Universidade de Harvard, Daniel Goleman. Em 1995, Goleman publicou o livro intitulado Inteligência Emocional. Contudo, ele não foi o pioneiro a pesquisar sobre essa temática, já que os psicólogos americanos Peter Salovey e John Mayer foram os primeiros a explicar esse conceito (COBÊRO, 2003). É válido lembrar que, em 1990, na primeira vez que utilizaram o termo "Inteligência Emocional", Peter Salovey e John Mayer estavam partindo dos estudos do psicólogo Howard Gardner acerca das "Inteligências Múltiplas", com o intuito de questionar a supremacia da inteligência cognitiva nas pesquisas sobre inteligência (ALMEIDA; SOBRAL, 2005). ESTUDOS FU TUROS Você estudará sobre as "Inteligências Múltiplas" descritas por Gardner na Unidade 2 desse livro didático. NOTA O que significa supremacia da inteligência cognitiva? Até então, a quantidade massiva de pesquisas que diziam respeito à inteligência era aquela que se concentrava nas esferas intelectuais, que envolvia lógica, razão, habilidades de memorizar e analisar proposições, características que se destacam na escola, relacionadas à apropriação dos conteúdos que eram abordados no ambiente educacional, por exemplo. Agüera (2008), por sua vez, atribui a criação do termo “Inteligência Emocional” ao psicólogo israelita Reuvem Baron, em 1985, que também foi o pesquisador que criou a denominação “quociente emocional”. Segundo Woyciekoski e Hutz (2009), a inteligência emocional explicita um convite à reflexão sobre os conceitos tradicionais de inteligência, passando a agregar à inteligência dimensões emocionais e sentimentais. Conforme Almeida e Sobral (2005), tão logo a expressão inteligência emocional tenha sido cunhada, já foi embebida com os sentidos de perceber, compreender e regular as próprias emoções. TÓPICO 1 | INTELIGÊNCIA EMOCIONAL: CAPACIDADES MENTAIS, EMOÇÕES, RACIONALIDADE E HABILIDADES 5 Em linhas gerais, a inteligência emocional se refere à consonância entre a razão e a emoção. Trata-se, assim, de manejar as emoções de modo inteligente (REGO; ROCHA, 2009). Já para Agüera (2008), a inteligência emocional equivale à capacidade humana de fazer a gestão das emoções, isto é, adaptar-se às circunstâncias que emergem no dia a dia. Por conseguinte, facilmente pode-se supor os motivos pelos quais tantas pessoas têm procurado saber mais sobre esse assunto. Santos, Almeida e Lemos (1999) esclarecem que está cada vez mais evidente que a inteligência não é uma habilidade de teor exclusivamente cognitivo, isto é, intelectual/mental. Não basta se destacar em habilidades e competências intelectuais e não conseguir controlar as próprias emoções. Seguindo essa linha de raciocínio, Roberts, Flores-Mendoza e Nascimento (2002) acrescentam que a inteligência emocional de uma pessoa possibilita que se anteveja seu futuro desempenho profissional. Por isso, as empresas têm procurado analisar as habilidades cognitivas, comportamentais e emocionais, antes de efetuar a contratação de profissionais. Para Santos, Almeida e Lemos (1999, p. 401), “[...] ser emocionalmente inteligente está se tomando requisito imprescindível para todo profissional”, principalmente porque o mercado de trabalho tem se mostrado cada vez mais competitivo, na medida em que passa a ser mediado por dispositivos tecnológicos e apresenta baixos níveis de emprego, aumentando assim a concorrência e a disputa por uma vaga detrabalho entre os desempregados. Portanto, as pessoas que têm investido no desenvolvimento de sua inteligência emocional estão apresentando um diferencial, potencializando sua empregabilidade. Santos, Almeida e Lemos (1999, p. 403) são ainda mais contundentes ao declararem que "[...] não existe mais espaço para o profissional que não consegue desenvolver habilidades de compreender como se efetuam os mecanismos de manejo relacionados ao controle, estabilização e utilização das emoções". Por essas e outras, a inteligência emocional vem sendo discutida em inúmeros países, e diversas áreas do conhecimento têm contribuído nos estudos sobre ela. Por isso, ela está se caracterizando como uma temática de interesse multidisciplinar. Algumas áreas que estão se debruçando sobre ela são a Psicologia, a Sociologia, a Comunicação Social, a Administração, a Medicina, a Biologia e a Educação (GONZAGA; MONTEIRO, 2011). Além de ampliarem as chances no mercado de trabalho, as pessoas que são mais hábeis no comando das próprias emoções provavelmente desfrutam de melhor qualidade de vida (ROBERTS; FLORES-MENDOZA; NASCIMENTO, 2002). UNIDADE 1 | INTELIGÊNCIA EMOCIONAL: CONCEITOS E DESENVOLVIMENTO 6 Por que? Porque ter capacidade para coordenar o que pensam e o que sentem, provavelmente lhes dá possibilidades mais eficazes de: • terem um melhor relacionamento consigo mesmas; • enfrentarem circunstâncias adversas; • conquistarem seus objetivos; • lutarem por seus sonhos; • se portarem diante dos relacionamentos interpessoais, envolvendo família, amigos etc.; • conduzirem adequadamente uma negociação quando forem comprar ou vender algo. Talvez seja mais fácil entender que o desenvolvimento da inteligência emocional possibilite que uma pessoa seja "bem resolvida" consigo mesmo. Mas será que esse atributo poderia interferir nos relacionamentos com outras pessoas? "Acredita-se que ela [Inteligência Emocional] esteja associada à capacidade das pessoas de perceber e gerenciar suas próprias emoções assim como perceber e, porque não, conduzir as dos outros (ROBERTS; FLORES-MENDOZA; NASCIMENTO, 2002, p. 89). Caso você discorde que a inteligência emocional dá o poder de "conduzir as emoções de outrem", ao menos, faça o exercício de imaginar uma situação tensa entre duas pessoas. Pode ser no contexto jurídico, por exemplo, dois advogados oponentes em uma audiência. Se aquele que dispõe de uma inteligência emocional mais desenvolvida não puder interferir diretamente nas emoções do outro advogado, ao menos terá uma suposta vantagem por conseguir manter-se calmo, concentrado na ocasião, assumindo uma postura mais profissional. O advogado opositor, por sua vez, poderá perder a assertividade, entregar-se por completo às emoções e perder as estribeiras no tribunal. É possível que você esteja pensando que desenvolver a inteligência emocional lhe dará garantias de sucesso na vida pessoal, familiar, profissional etc. No entanto, é necessário clarificar que a inteligência emocional pressupõe um construto psicológico que surgiu há pouco tempo, além de apresentar um campo conceitual complexo, se considerarmos o estilo e material de seu conteúdo. Consequentemente, tem demonstrado dificuldades metodológicas (WOYCIEKOSKI; HUTZ, 2009). Tanto as investigações quanto os debates em torno da inteligência emocional ainda estão em estágio inicial, portanto, há impasses conceituais, além dos metodológicos, cujas medidas necessitam ser aprimoradas. Por exemplo: a inteligência emocional diz respeito a um tipo específico de inteligência, ou seria mais adequado enquadrá-la no campo da personalidade? É possível medir, mensurar o grau de inteligência emocional de cada pessoa? (ROBERTS; FLORES- MENDOZA; NASCIMENTO, 2002). TÓPICO 1 | INTELIGÊNCIA EMOCIONAL: CAPACIDADES MENTAIS, EMOÇÕES, RACIONALIDADE E HABILIDADES 7 Essas são apenas algumas perguntas que permanecem sem respostas conclusivas sobre essa temática, alguns questionamentos que dividem opiniões entre os pesquisadores. Mas não é por ser um conhecimento que está em fase de construção (se é que algum conhecimento pode-se afirmar como completamente concluído) que deve ser desprezado. Sendo assim, agora que você já tem uma noção do que a inteligência emocional abrange e de como anda o desenvolvimento de suas pesquisas, vamos aprofundar um pouco mais esse conceito? A inteligência emocional (IE) constitui um campo de estudo que reúne pesquisas extensivas sobre a inter-relação entre pensamentos, sentimentos e habilidades. Sobretudo, investigam-se as reações e interpretações emocionais de sujeitos, bem como a função das emoções no comportamento inteligente. A consideração das interações entre cognição e emoção poderia resultar no reconhecimento da capacidade do homem em lidar com suas emoções de forma inteligente e compatível com seus mais caros objetivos de vida (WOYCIEKOSKI; HUTZ, 2010, p. 152). Essa citação parece se articular aos tópicos que foram listados nos parágrafos anteriores, sobre a forma de lidar com os relacionamentos, sonhos, situações funestas etc. Assim, passa-se a fortificar a ideia de que o ser humano tem virtudes que lhe permite direcionar seu estado emocional de modo perspicaz, em sintonia com seus propósitos de vida. Acadêmico, essas frases disparam algum gatilho de memória de cunho religioso em você? Parecem assemelhar-se às ideias contidas nos versículos bíblicos que seguem? • "Melhor é o homem paciente do que o guerreiro, mais vale controlar o seu espírito do que conquistar uma cidade". Provérbios 16:32 • "Como a cidade com seus muros derrubados, assim é quem não sabe dominar-se". Provérbios 25:28 • "Mas o fruto do Espírito é amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio. Contra essas coisas não há lei". Gálatas 5:22-23 (BÍBLIA ON, 2019, s.p., grifo do autor). Quiçá, as frases que você tem lido nesse livro estão lhe fazendo recordar das "filosofias" orientais que enfatizam o aniquilamento da ira. Na concepção de Agüera (2008), a ideia de não se deixar apoderar-se pelas paixões remonta à Idade Antiga, sendo Platão, um filósofo que a defendia. Na filosofia platônica, as paixões e sensações pertencem ao mundo das ilusões e das ideias imperfeitas. Para o pensador, não devemos nos conduzir pelas paixões, pois as paixões são efêmeras e passageiras. UNIDADE 1 | INTELIGÊNCIA EMOCIONAL: CONCEITOS E DESENVOLVIMENTO 8 Porventura, você que conhece um pouco sobre abordagens relacionadas à Psicologia, está se perguntando se a contenção das emoções pode causar danos psicológicos à pessoa que tem buscado frear as emoções que julga nocivas para ela. Porém, o que acontece com as pessoas que soltam totalmente os freios e lançam-se por inteiro aos impulsos emocionais? Será que elas correm riscos de desenvolver psicopatologias? E o que dizer das perdas (que poderiam ser evitadas) que elas podem sofrer em seu cotidiano? Só para constar, o desregramento emocional pode acarretar: • Término de relacionamentos amorosos/familiares/profissionais/amigáveis. • Diversos prejuízos financeiros (dívidas, compras ou vendas das quais depois se arrepende). • O contágio de doenças (DST, por exemplo). • O surgimento de doenças que não são contagiosas (o descontrole sobre o apetite pode desencadear a obesidade, por exemplo). • Desistência de sonhos ou de objetivos (como os estudos, uma viagem que se almeja, aquisições, hobbies). • Dificuldades para conseguir se inserir no ambiente de trabalho ou manter-se nele. Na Psicologia e em muitas de suas áreas afins, raramente pode-se dar garantias tangíveis, por envolver assuntos subjetivos (influenciados por incontáveis fatores e nem sempre plenamente previsíveis). De qualquer modo, Agüera (2008) argumenta que a inteligência emocional pode interferir na saúde e na qualidade das relações que a pessoa estabelece com outrem. 3 AS CAPACIDADES MENTAIS E O DESENVOLVIMENTO DO CÉREBRO De acordo com Agüera(2008), existem cinco capacidades mentais que se destacam: os instintos, as emoções, os raciocínios, as intuições e as estratégias. QUADRO 1 – PRINCIPAIS CAPACIDADES MENTAIS INSTINTOS São espontâneos, reflexos. Isto é, acontecem involuntariamente. Podem atiçar emoções e também podem sinalizar a necessidade de atuar racionalmente. EMOÇÕES São reações fisiológicas incitadas pelos instintos. Apesar de apresentarem um alto grau de automatismo, possibilitam maior controle do que os instintos. RACIOCÍNIOS Procedem dos estímulos enviados pelos instintos, pelas emoções ou pelas intuições. Seu processamento é mais vagaroso, está diretamente aliançado à lógica e à análise de fotos objetivos. INTUIÇÕES Emanam da interseção entre emoções e raciocínios e recebem influências de ambos. Há elementos conscientes e inconscientes por trás delas. Ainda que não existam fatos comprovados, há indícios de que as intuições proporcionam colaborações subjetivas. ESTRATÉGIAS São possibilitadas pelas interações das quatro capacidades (instintos, emoções, raciocínios e intuições). Portanto, é a capacidade mental mais refinada e sofisticada, também denominada de planejamento estratégico. Envolve a organização e delegação de atividades das demais capacidades mentais. FONTE: Adaptado de Agüera (2008) TÓPICO 1 | INTELIGÊNCIA EMOCIONAL: CAPACIDADES MENTAIS, EMOÇÕES, RACIONALIDADE E HABILIDADES 9 Conforme o ciclo vital vai se desenrolando na vida de uma pessoa, é possível observar que seu cérebro vai se desenvolvendo. Consequentemente, falar de inteligência emocional na infância é diferente do que falar de inteligência emocional na vida adulta. Portanto, seguem algumas dicas de leitura, caso você queira se aprofundar nas primeiras fases do desenvolvimento humano, isto é, no período da vida até a puberdade: DICAS Para visualizar como vai se processando o desenvolvimento da compreensão emocional já na infância, recomendamos a leitura de dois artigos: 1- Desenvolvimento da Compreensão Emocional, publicado em 2015, por Franco e Santos. Você pode encontrá-lo no link: http://www.scielo.br/pdf/ptp/v31n3/1806-3446-ptp-31-03 -00339.pdf. 2- Compreensão de emoções, aceitação social e avaliação de atributos comportamentais em crianças escolares, publicado em 2011, por Pavarini, Loureiro e Souza. Você pode encontrá-lo no link: http://www.scielo.br/pdf/prc/v24n1/v24n1a16.pdf. Rego e Rocha (2009) fizeram um estudo sobre a educação emocional instigando reflexões sobre o foco das escolas nos dias atuais. Considerando que já existem embasamentos teóricos acerca da importância da educação das emoções, por que as escolas continuam praticamente girando em torno do desenvolvimento da inteligência intelectual, analítica das crianças? Assim, voltamos à discussão que já emergiu nas primeiras linhas desse tópico: a hegemonia da inteligência analítica, lógico-matemática, intelectual, acadêmica. Vale lembrar que esse tipo de inteligência, que costumeiramente é mensurado com testes de QI (quociente de inteligência), não deveria ser usado para medir a inteligência global das pessoas e, sim, a inteligência intelectual (AGÜERA, 2008). Até porque um bom QI não assegura que uma criança terá bom rendimento escolar ou que um funcionário apresentará excelente desempenho profissional, ou que um idoso terá mais propensões a ter boa saúde, ou a se relacionar bem com os seus cuidadores. Quantas crianças que foram consideradas prodígios não fizeram maiores proezas do que colecionar boas notas nas escolas? Quantas pessoas com alto quociente de inteligência tiveram uma carreira profissional decadente, ao passo que pessoas cujo QI não era destacável foram longe, profissionalmente falando? UNIDADE 1 | INTELIGÊNCIA EMOCIONAL: CONCEITOS E DESENVOLVIMENTO 10 Como as pessoas reagem aos percalços que a vida lhes apresenta? Como elas administram suas próprias vidas? (SANTOS; ALMEIDA; LEMOS, 1999). Como explica Agüera (2008), bom resultado no teste de QI não dá mostras sobre as habilidades dessa pessoa no que tange o trabalho em equipe, tampouco sobre como enfrenta situações de estresse ou de frustração. Sendo assim, acompanhe na sequência o resumo do artigo pertinente, elaborado por Rego e Rocha (2009, p. 135): O papel da inteligência emocional dentro e fora da escola, exige "educar" as emoções para que as pessoas tornem-se aptas a lidar com frustrações, angústias e medos. Este artigo tem como objetivo geral avaliar a importância da educação emocional no contexto da educação, partindo-se das seguintes indagações: será que a Educação Emocional pode contribuir no processo de ensino-aprendizagem, favorecendo o equilíbrio entre aspectos cognitivos racionais e emocionais do educando? Em caso positivo, que caminhos teórico-metodológicos podem ser trilhados e/ou apontados para que a Educação Emocional se torne realidade nas escolas? A opção metodológica foi a pesquisa- ação, realizada em quinze oficinas, com participação de 14 docentes, 1 coordenador e a pesquisadora. Os resultados das oficinas constituíram- se em um plano de ação que visou disseminar os estudos da educação emocional nas escolas. As conclusões da pesquisa apontam que as competências da inteligência emocional, como autoconhecimento, autogestão, consciência social e administração de relacionamentos, podem contribuir para a qualidade do processo de ensino-aprendizagem, conduzindo o ser humano ao equilíbrio da razão e emoção. Ao final dessa unidade, você pode ler um pouco mais sobre esse artigo na seção de leitura complementar. Consideramos esse artigo muito oportuno, até porque ele aborda a relação da inteligência emocional com a qualidade de vida. Na vida adulta, a inteligência emocional também é muito importante, inclusive no contexto profissional. A enfermagem é uma profissão que requer habilidades atinentes à inteligência emocional, como a empatia, por exemplo (SANTOS; ALMEIDA; LEMOS, 1999). Por isso, além de concordarmos que é conveniente estimular o desenvolvimento da inteligência emocional nas escolas, pensamos que também seja apropriado promover seu desenvolvimento nos cursos profissionalizantes e/ou superiores, sobretudo, naqueles que formam profissionais que precisarão ter competências emocionais. DICAS Para obter informações sobre a inteligência emocional na fase adulta e na senilidade, leia o artigo: Bem-estar psicológico e inteligência emocional entre homens e mulheres na meia-idade e na velhice, publicado por Queroz e Neri, em 2005. Disponível na íntegra em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-79722005000200018&script=sci_ abstract&tlng=pt. TÓPICO 1 | INTELIGÊNCIA EMOCIONAL: CAPACIDADES MENTAIS, EMOÇÕES, RACIONALIDADE E HABILIDADES 11 Agora que você já sabe quais são as principais capacidades mentais e que ao longo do desenvolvimento humano as formas de lidar com a inteligência emocional podem ir se aperfeiçoando, voltemos, com um pouco mais de atenção e propriedade à questão da "superioridade" da racionalidade sobre as emoções, ou seria das emoções sobre a razão? 4 AS EMOÇÕES E A RACIONALIDADE O que é mais importante: A razão ou a emoção? Eis uma pergunta com várias possibilidades de respostas! Por exemplo, o tempo pode mudar a resposta dada a ela. No Império Romano, há grandes indícios de que a razão era valorizada, pois há muitos escritos daquele período que enaltece a temperança (AGÜERA, 2008). A temperança perpassa pelo domínio da emoção, que se subjuga pela razão. A História da Arte também nos dá notícias sobre épocas ou movimentos, artistas que valorizavam a racionalidade acima das emoções: Renascença, Neoclassicismo, Cubismo, Bauhaus, arte abstrata, minimalismo e gótico exemplificam essa valoração à razão (AGÜERA, 2008). Também existiram as épocas, ou movimentos, ou, os artistas que valorizavam as emoções em detrimento da razão. Assim, nota-se maior abertura à sensibilidade e à criatividade. Agüera (2008) cita como exemplos: Românico, Arte Flamenca, Barroco, Romantismo,Modernismo, Impressionismo, Surrealismo. A inteligência mais cognitiva, relacionada ao raciocínio e à lógica é tradicionalmente medida pelos testes tradicionais (SANTOS; ALMEIDA; LEMOS, 1999). A inteligência emocional, por sua vez, interfere na forma de se relacionar com outrem, no estilo de exercer liderança, na expressão da criatividade, na adaptação às mudanças que a vida requer, no reconhecimento de sentimentos, no discernimento emocional, na autocompreensão (SANTOS; ALMEIDA; LEMOS, 1999). [...] a Inteligência Emocional é um aprendizado permanente, mas que urge para a sobrevivência no mundo moderno, pois se permitirmos que as emoções fujam do nosso controle, corremos o risco de analisar a realidade muito subjetivamente, distorcendo as informações e até mesmo tendo um comportamento ineficiente para determinadas situações comuns no dia a dia (SANTOS; ALMEIDA; LEMOS, 1999, p. 407). Não significa que a inteligência intelectual não tenha participação alguma nesses processos que foram associados à inteligência emocional. Apenas reiteramos que ela não pode ser considerada à inteligência global de uma pessoa. Até porque, "[...] a incapacidade de observar nossos verdadeiros sentimentos nos deixa à mercê destes" (SANTOS; ALMEIDA; LEMOS, 1999, p. 408). E ser levado para lá e para cá pelas próprias emoções não soa algo muito inteligente, não é mesmo? UNIDADE 1 | INTELIGÊNCIA EMOCIONAL: CONCEITOS E DESENVOLVIMENTO 12 5 AS HABILIDADES DA INTELIGÊNCIA EMOCIONAL Como já foi visto, há uma forte relação entre a inteligência emocional e as "inteligências múltiplas" apresentadas em 1995 por Gardner (ROBERTS; FLORES- MENDOZA; NASCIMENTO, 2002). Por isso, a inteligência emocional foi caracterizada, já em sua gênese, por duas dimensões: intrapessoal e interpessoal – ambas aparecem nas inteligências múltiplas. Vamos compreender o significado dessas duas dimensões para a inteligência emocional? QUADRO 2 – DIMENSÕES DA INTELIGÊNCIA EMOCIONAL CONFORME GOLEMAN Inteligência Emocional Dimensão Intrapessoal Dimensão Interpessoal Autoconhecimento. Autocontrole. Compreensão e identificação dos próprios impulsos emocionais e dirigi-los para proveito seu. Conhecimento de outrem. Empatia. Compreensão dos estímulos emocionais dos outros, sopesando as circunstâncias sob o prisma de outrem. FONTE: Adaptado de Almeida e Sobral (2005) Esse quadro permite inferir que inteligência emocional é constituída por dimensões internas (intrapessoais) e externas (interpessoais). Em outras palavras, as dimensões internas referem-se à compreensão e ao controle que a própria pessoa sente. Já as dimensões externas requerem que a pessoa olhe para além dela, para que consiga entender o que o outro está sentindo e em seguida encontre meios para ajudar regular as emoções dele. Por exemplo: um bombeiro está diante de uma pessoa que anunciou que pulará do vigésimo andar de um prédio. O bombeiro procurará ajudar tal pessoa a regular suas emoções. Então, não pense que a regulação das emoções de outrem é sempre manipulativa para o benefício unicamente daquele que está manipulando. Agora, vamos visualizar o modelo definido pelos precursores Mayer e Salovey? QUADRO 3 – CATEGORIAS DA INTELIGÊNCIA EMOCIONAL PRECONIZADAS POR MAYER E SALOVEY Categorias da Inteligência Emocional Identificação e percepção emocional. Facilitação emocional do pensamento. Compreensão emocional. Gestão emocional. Reconhecimento e a entrada da informação no sistema emocional. Envolve o uso da emoção para melhorar o processamento cognitivo. Envolve o processamento cognitivo da emoção. Autorregulação emocional e a regulação das emoções nas outras pessoas.O processamento posterior de informação e enfatizam a resolução de problemas. FONTE: Adaptado de Costa e Faria (2014) TÓPICO 1 | INTELIGÊNCIA EMOCIONAL: CAPACIDADES MENTAIS, EMOÇÕES, RACIONALIDADE E HABILIDADES 13 Esse quadro parece esmiuçar o quadro anterior, ou seja, minuciar, pormenorizar. No Tópico 2, você entrará em contato mais íntimo com as competências pessoais e sociais da inteligência emocional. O objetivo de trazer esses quadros mais sucintos nesse momento é permitir que você compare as primeiras definições de inteligência emocional, bem como vá construindo conhecimentos iniciais que serão aprofundados nos tópicos que seguem. Já que estamos apresentando sínteses dos pioneiros no campo da inteligência emocional, segue agora uma síntese inspirada na teoria de Baron: QUADRO 4 – FATORES DA INTELIGÊNCIA EMOCIONAL CONFORME BARON Categorias da Inteligência Emocional Percepção Compreensão Regulação Capacidade de discernir, identificar emoções. Capacidade de distinguir e entender mudanças que atingem as emoções com o passar do tempo. Antever a manifestação de emoções e observar como elas se mesclam. Capacidade de nortear, moderar as emoções perante escolhas difíceis, impasses, ou situações nefastas. Fonte: Adaptado de Agüera (2008) Talvez a palavra "regulação" soe menos familiar do que "percepção" e "compreensão". A regulação está relacionada com possibilidade de conseguir pensar numa estratégia mais acertada para resolver um problema específico. Portanto, está atrelada ao coping (PAVARINI; LOUREIRO; SOUZA, 2011). ESTUDOS FU TUROS A palavra coping reaparecerá na Unidade 3 desse livro, uma vez que está relacionado com o enfrentamento de situação estressante. Para o desfecho desse tópico, apresentamos as palavras com as quais Bueno e Muniz (2006, p. 29) nos brindam: A percepção das emoções abrange desde a capacidade de identificar emoções em si mesmo, em outras pessoas e em objetos ou condições físicas, até a capacidade de expressar essas emoções e as necessidades a elas relacionadas, e ainda a capacidade de avaliar a autenticidade de uma expressão emocional, detectando sua veracidade, falsidade ou tentativa de manipulação. 14 Neste tópico, você aprendeu que: • Por muitas décadas, as pesquisas pareceram privilegiar a inteligência intelectual. • O campo de investigação da inteligência emocional é um tanto quanto novo. • O campo “inteligência emocional” surgiu com o intuito de disseminar a importância dos fatores emocionais atrelados à inteligência. • Impera uma crença de que a inteligência emocional está diretamente ligada ao bem-estar de cada pessoa, bem como ao seu sucesso acadêmico e profissional. • Inteligência emocional explicita um grupo de capacidades que se relacionam entre si e propiciam que a pessoa note a presença de emoções, identifique uma emoção entre outras, e consiga motivar emoções oportunas. • A inteligência emocional abarca o entendimento dos sentimentos, emoções, pensamentos, a moderação deles a partir de ponderações racionais. • A inteligência emocional circunscreve a avaliação de sentimentos e emoções, bem como a manifestação deles. RESUMO DO TÓPICO 1 15 1 No decorrer da leitura desse tópico, você passou seus olhos por algumas expressões específicas do universo da inteligência emocional. A proposta dessa atividade é que você faça uma pesquisa nos motores de busca da internet, como Google, por exemplo, com expressões relacionadas à inteligência emocional que mais chamaram a sua atenção. Esse tópico trouxe, em algum momento, a expressão "consciência social". Então, poderíamos inferir que existe um tipo de consciência que é individual ou uma consciência de si mesmo, isto é, uma consciência de caráter intrapessoal. Sendo assim, procure nos motores de busca, as palavras: a) Consciência de si mesmo: b) Autocontrole: c) Empatia: Atenção! Lembre-se de que seus colegas também farão a mesma atividade, então, se todos escreverem os primeiros significados que aparecerem, haverá pouco material para trocarem ideias no encontro presencial ou nos ambientes de aprendizagem mediados pelas tecnologias de informação e comunicação. Portanto, aplique-se com esmero! 2 Em um artigo acerca de propostas de redução da maioridade penal, os autores observam que:"[...] seguindo a lógica penal, os legisladores procuram um indivíduo consciente, autônomo, pleno de suas capacidades mentais e responsável por seus atos" (VAVASSORI; TONELI, 2015, p. 1189, grifo do autor). Desse modo, cite as cinco principais capacidades mentais. 3 Você concorda com Agüera (2008), no sentido que o Renascimento, o Neoclassicismo, o Cubismo, Bauhaus, a arte abstrata, o minimalismo e o estilo gótico exemplificam a valorização da razão? Escolha um desses itens para justificar sua resposta, citando pelo menos três características. 4 Você concorda com Agüera (2008), no sentido que o românico, a arte flamenca, o Barroco, o Romantismo, o Modernismo, o Impressionismo e o Surrealismo exemplificam a valorização da emoção? Escolha um desse itens para justificar sua resposta, citando, pelo menos três características. AUTOATIVIDADE 16 17 TÓPICO 2 INTELIGÊNCIA EMOCIONAL: COMPETÊNCIAS PESSOAIS, COMPETÊNCIAS SOCIAIS E MENSURAÇÃO UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO A inteligência emocional poder ser medida, potencializada e desenvolvida? A partir dos conhecimentos adquiridos no primeiro tópico sobre as especificidades da inteligência emocional, você aprofundará neste segundo tópico noções como competência emocional e suas subdivisões: competências pessoais e sociais. No decorrer do tópico você obterá orientações para desenvolver a sua competência emocional. Você aprenderá que as competências sociais estão relacionadas à empatia e às habilidades que desenvolvemos no contexto social que estamos inseridos. Você consegue administrar bem seus relacionamentos interpessoais? Neste tópico também serão apresentados dicas e conselhos – por isso fique atento aos UNIS – que buscam fortalecer as relações interpessoais e levar a um aprendizado sobre si mesmo. Por fim, entrará em contato com algumas pesquisas acerca da mensuração da inteligência emocional, ou seja, instrumentos de avaliação que se propõem a medir, aferir a inteligência emocional de uma pessoa. Boa leitura! 2 COMPETÊNCIA EMOCIONAL Para retomar o conceito de inteligência emocional, apresentado no tópico anterior, traremos as palavras de Miguel, Zuanazzi e Villemor-Amaral (2017, p. 1853): “Inteligência emocional diz respeito à capacidade de perceber e compreender adequadamente as emoções e gerenciá-las de maneira adaptativa e construtiva”. Você já deve ter notado que as palavras “perceber”, “compreender”, “gerenciar”, “adaptar”, associadas à palavra “emoções”, frequentemente fazem parte dos conceitos de inteligência emocional. A palavra “construtiva” não havia aparecido nos conceitos que foram apresentados nas páginas anteriores. “Construtiva” foi um vocábulo acertadamente utilizado por Miguel, Zuanazzi e Villemor-Amaral (2017), pois seus significados envolvem algo positivo, edificante, instrutivo, no sentido de levantar, crescer, valorizar. UNIDADE 1 | INTELIGÊNCIA EMOCIONAL: CONCEITOS E DESENVOLVIMENTO 18 Antes de focalizar o conceito de competência emocional em si, segue mais um conceito de inteligência emocional, dessa vez elaborado por Dantas e Noronha (2006, p. 59): “[...] capacidade de perceber, entender e usar precisamente as emoções em si e em relação aos outros, bem como gerenciá-las para facilitar os processos cognitivos e promover o crescimento pessoal e intelectual”. Nessa conceituação, fica evidente que é possível gerir as emoções em prol dos processos intelectuais, visando a um progresso ou elevação inclusive na dimensão pessoal. Talvez você esteja se fazendo uma dessas perguntas: • Mas um dos motivos que estimulou as primeiras pesquisas sobre inteligência emocional não foi justamente romper com a hegemonia da intelectualidade que repousava sobre o termo inteligência? • E, agora, vemos uma pesquisa de 2006 afirmando que a inteligência emocional pode contribuir para o desenvolvimento intelectual de uma pessoa? Não parece contraditório? O que ocorre é que até a década de 90, os pesquisadores pareciam considerar “mais inteligentes” aquelas pessoas que apresentavam os melhores resultados nos testes de QI – que se destacavam no desempenho acadêmico, que “sabiam” sobre mais conteúdos geralmente vistos na escola. Não importava se essas pessoas soubessem gerir as próprias emoções ou não. O que a pesquisa de Dantas e Noronha (2006) sugere é que a inteligência global das pessoas pode resultar da junção de dimensões cognitivas/intelectuais e emocionais, e que essa somatória pode contribuir para o desenvolvimento intelectual da pessoa (dentre outros desenvolvimentos). Caso isso ainda não ficou compreensível para você, aproveite a oportunidade para desenvolver sua paciência. Fique tranquilo, nos próximos parágrafos isso poderá ficar mais claro. Enquanto você procura assimilar essas novas informações, compreendê-las, já consegue presumir o que é a competência emocional? Antes de entregar esse novo conceito para você, segue um trecho da pesquisa feita por Ferreira et al. (2018, p. 22) acerca da prevenção do abandono dos estudos por parte de estudantes da educação em nível superior: No que se refere aos resultados da relação entre o abandono escolar com as variáveis sociodemográficas e com as competências emocionais, verificou-se que a perceção emocional estabelece uma relação direta com a dimensão organizacional, sugerindo que quanto mais perceção emocional os estudantes têm menos percecionam a dimensão organizacional como fator de abandono escolar. A expressão emocional estabelece uma relação direta com a dimensão gestão de vida, sugerindo que quanto mais expressão emocional os estudantes têm menos percecionam a dimensão gestão de vida como fator de abandono escolar, enquanto o sexo estabelece uma relação TÓPICO 2 | INTELIGÊNCIA EMOCIONAL: COMPETÊNCIAS PESSOAIS, 19 inversa, indicando que, independentemente do sexo, os estudantes mais perceção têm da dimensão gestão de vida como potencial fator de abandono escolar. A expressão emocional também estabelece uma relação inversa com a dimensão relacional, sugerindo que quanto menos expressão emocional os estudantes têm maior é perceção da dimensão relacional como fator de abandono escolar, enquanto a capacidade de lidar com a emoção estabelece uma relação direta, indicando que quanto menos capacidade de lidar com a vida têm os estudantes mais perceção têm da dimensão relacional como latente fator de abandono escolar. O sexo estabelece uma relação inversa com a dimensão profissão/carreira e com o abandono escolar global, sugerindo que, independentemente do sexo, maior é perceção da dimensão profissão/carreira como fator de abandono escolar e do abandono escolar na sua globalidade. NOTA A palavra “perceção” existe! Ela é mais utilizada em Portugal, onde se encontravam boa parte dos pesquisadores durante a realização da pesquisa que acabou de ser mencionada. O significado da palavra é muito parecido com o da palavra “percepção”. Com base nesse trecho da pesquisa, sobre o abandono dos estudos, você já se aventura a rascunhar um conceito de “competência emocional”? Conforme Agüera (2008), a competência emocional consiste nas habilidades de: • monitorar e refrear os impulsos emocionais; • se desvencilhar de estados de ânimo desfavoráveis; • entender que para obter grandes gratificações geralmente é necessário abrir mão de pequenas gratificações, ou, no mínimo, deixá-las para depois. Essas habilidades parecem se articular harmoniosamente com as palavras de Primi, Bueno e Muniz (2006, p. 29): A emoção, como facilitadora do ato de pensar, diz respeito à influência que as emoções têm nos processos cognitivos, e, ao mesmo tempo, à eficácia com que a pessoa compreende e utiliza a informação desse sistema de alerta que dirige a atenção e o pensamento para as informações (internas ou externas) mais importantes no processo de solução de problemas. Para que isso fique mais perceptível para você, convidamos você a refletir sobre suas atitudes, agora que está ocupando o papel de universitário.Você sente vontade de estudar o tempo todo? Você se sente empolgado todos os dias para ler ou fazer as atividades de estudo? Você sempre se sente com energia suficiente para continuar concentrado por horas em seus estudos? Ou, às vezes, você sente vontade de trocar as leituras, atividades acadêmicas por atividades de lazer? UNIDADE 1 | INTELIGÊNCIA EMOCIONAL: CONCEITOS E DESENVOLVIMENTO 20 Sejamos francos! Cursar uma graduação requer muitos esforços. Uma pessoa que sempre e prontamente cede aos impulsos emocionais de largar os livros para dormir ou para passear, ou para ficar navegando nas redes sociais, têm menor chance de concluir os estudos universitários, simplesmente porque ela provavelmente desistirá deles ou acabará reprovando em várias disciplinas. Então, ser universitário exige uma coibição de impulsos emocionais dia após dia. Enquanto cursamos a faculdade, nossa vida continua paralelamente, e assim como com todas as pessoas, surgem problemas vez ou outra. Aparecem situações adversas, queiramos ou não. Se nos deixarmos abater por elas, e passarmos longos períodos entristecidos, irritados, irados, desanimados, também corremos grande risco de sairmos da instituição de ensino superior antes de concluirmos o curso. Já que estamos aprendendo sobre inteligência emocional, lembre-se de que você precisará conseguir sair, libertar-se de estados emocionais negativos para conseguir se concentrar nos estudos. Não significa fingir que nada está acontecendo. Significa ser resiliente e dar continuidade aos seus projetos de vida, ainda que em meio aos problemas. E as gratificações? Só quem conclui um curso superior pode dizer quantas festas, viagens, jantares, almoços, precisou deixar de frequentar para ficar estudando – ou para economizar dinheiro para pagar as mensalidades da faculdade. Quantas horas de sono foram perdidas? E o distanciamento de seus hobbys? De um jeito ou de outro, é necessário abrir concessões para seguir a vida acadêmica. Quem não consegue trocar os prazeres imediatos vindos dessas ou outras situações, pela gratificação da obtenção de conhecimento, da conquista de um novo diploma, também pode ter maiores dificuldades de prosseguir nos estudos. Ficou claro, agora, por que Dantas e Noronha (2006) afirmam que a inteligência emocional pode ser proveitosa para o crescimento pessoal ou intelectual de uma pessoa? Quem sabe, nessas alturas das suas leituras e reflexões, você esteja se perguntando se é possível desenvolver a própria inteligência emocional, ou se é algo que já está determinado geneticamente. A pesquisa realizada por Bueno e Primi (2003) lhe permitiu constatar que sujeitos na fase adulta deram maiores demonstrações de inteligência emocional do que os adolescentes. Isso parece sinalizar que com o transcorrer dos anos de vida e das experiências que cada um vai vivenciando, a inteligência emocional vai sendo enriquecida. Agüera (2008) alega que por meio da reflexão íntima e interior, costumeiramente chamada de introspecção e da prática, ou seja, do aprendizado, treino, exercício, a inteligência emocional pode ser aperfeiçoada, otimizada. Diante dessa afirmação, não seria espantoso se uma pergunta que passasse a pulsar em meio aos seus pensamentos, nesse momento fosse: “Como eu posso desenvolver minha a inteligência emocional?”, ou: “O que eu tenho que fazer para melhorar competência emocional?”. TÓPICO 2 | INTELIGÊNCIA EMOCIONAL: COMPETÊNCIAS PESSOAIS, 21 Que tal algumas respostas? O primeiro passo é ler e ponderar sobre o quadro que segue: QUADRO 5 – PARA DESENVOLVER A COMPETÊNCIA EMOCIONAL Como aumentar a sua competência emocional? Produza, suscite motivação para si mesmo. Se você se deparar com fracassos, não aceite ficar triste, acabrunhado por muito tempo. Levante- se. Persevere. Siga adiante. Comande seus impulsos em vez de permitir que eles comandem você. Policie e contenha seus estados de ânimo. Se esforce para ter compreensão com os outros. Faça o exercício de tentar olhar para as circunstâncias a partir do ponto de vista deles. Viva de modo que suas ações demonstrem segurança, credibilidade, confiabilidade. Tente transformar positivamente o ambiente em que está. Comporte-se de modo gentil, cortês e benevolente. FONTE: Adaptado de Agüera (2008) Você percebeu que habilidades como autocontrole, entusiasmo, automotivação, expressão e empatia entremeiam essas orientações? Antes de passar para o próximo subtópico, releia o quadro que acabou de ser exposto. Você observou que algumas das frases dizem mais respeito ao relacionamento consigo mesmo e outras se referem ao relacionamento com outrem? NOTA Precisa de algumas dicas para desenvolver a sua abertura para outros pontos de vista? Agüera (2008) tem algumas delas para você: Seja eclético e flexível. Permita-se considerar atentamente os argumentos das outras pessoas, até mesmo daquelas que pensam de maneira totalmente diferente da sua. Não é preciso mudar de opinião sempre, mas é benéfico recordar que grande parte das discordâncias possuem mais dois pontos de vista além do seu! Ou seja, o de seu interlocutor e de outras pessoas que olhem para a situação a partir de outro lugar (observam as coisas por um prisma diferente do seu e do seu interlocutor). Além do mais, quem garante que você é realmente o detentor da verdade? Assim como o seu interlocutor pode estar equivocado, você também pode. Cuidado para não cair na armadilha de julgar as circunstâncias de modo irrefletido, tomado exclusivamente por emoções. Procure não rejeitar com veemência os argumentos dos outros. Existem maneiras mais socialmente aceitas de ouvir contrapalavras e de se posicionar diante delas. Tomando esses cuidados, você aumenta as probabilidades de desenvolver a sua empatia! UNIDADE 1 | INTELIGÊNCIA EMOCIONAL: CONCEITOS E DESENVOLVIMENTO 22 Existem conselhos para melhorar a competência emocional nos dois sentidos, porque elas dividem-se em competências pessoais e sociais, como você poderá conferir a seguir. 2.1 COMPETÊNCIAS PESSOAIS Na concepção de Agüera (2008), as competências pessoais definem a maneira pela qual uma pessoa se conecta com suas emoções e sentimentos individuais e sobre como ela estabelece relações com o que sente. As competências pessoais pressupõem a consciência de si, a autorregulação e a motivação, como você pode visualizar na sequência: • Consciência de si: Engelmann (2002) esclarece que a consciência é a via pela qual cada um pode tanto sentir-se quanto saber-se algo. A consciência é imprescindível para a construção do conhecimento, para o saber, e é individual. Isso inclui o sentir e o saber sobre as próprias emoções, estados de ânimo e sentimentos. NOTA Quer desenvolver sua consciência de si? Que tal começar literalmente pela escrita de sua própria história? “O exercício de (re)memoração autobiográfica é desencadeador de um processo de produção de consciência de si. Escrever sua história de vida é, portanto, o dispositivo que, ao ser acionado, permite a construção de uma representação de si” (CUNHA, 2016, p. 96, grifo do autor). • Autorregulação: para Bendassolli et al. (2016, p. 2), a autorregulação é um “[...] processo psicológico individual que contribui bastante com o desempenho profissional, já que influencia a agência das ações”. A autorregulação inicia com o policiamento das próprias sensações e afetos, bem como com a análise de ambos. Tendo identificado as emoções, os sentimentos e os estados de ânimo, a pessoa tem condições de manejá-las em certa medida, controlando-as de modo a ajustar as próprias atitudes e ações positivamente. Trata-se do autocontrole emocional, que está associado ao autorreforço e autoeficácia orientados para metas, por exemplo. TÓPICO 2 | INTELIGÊNCIA EMOCIONAL: COMPETÊNCIAS PESSOAIS, 23 DICAS Você sabia que a palavra autorregulação tem sido muito associada com a aprendizagem atualmente? Indicamos ler o artigo Atividades de Ensino que desenvolvem a Autorregulação daAprendizagem, publicado em 2018 por Basso e Abrahão. Disponível no link: http://www.scielo.br/pdf/edreal/v43n2/2175-6236-edreal-43-02-495.pdf. • Motivação: você já deve ter ouvido alguém dizer que as empresas deveriam investir mais na motivação de seus funcionários, ou, que os professores deveriam instigar a motivação de seus alunos. Então, será que a motivação é algo que só vem de fora para dentro? Ou uma pessoa pode ser capaz de produzir motivação em si mesma? Há indícios de que é possível gerar uma motivação em si mesmo. É o que parece defender Clement et al. (2014, p. 46) ao propalarem a expressão: “[..] motivação autônoma (formas autodeterminadas de motivação extrínseca e motivação intrínseca)”. Vale lembrar que a palavra extrínseca se refere ao que é externo, de fora, enquanto intrínseca significa inerente, interno, de dentro. “A motivação intrínseca se caracteriza pelo interesse e satisfação pela atividade em si, ou seja, o envolvimento é livre e voluntário e não necessita de recompensas ou punições” (CLEMENT et al., 2014, p. 46). Dito em outras palavras, a motivação abrange inclinações, predisposições internas que favorecem que objetivos sejam atingidos. Portanto, ao analisarmos as correlações entre essas três características, que, para Agüera (2008), compõem o substrato das competências pessoais da inteligência emocional, podemos inferir que o autoconhecimento, a percepção e o entendimento das próprias emoções, ânimos e ponderações são qualidades que definem as pessoas que possuem a intrínseca inteligência emocional. No entanto, é válido lembrar que não é possível dominar completamente as emoções, desde o surgimento até o seu desfecho. Até porque, quando somos repentinamente afetados por uma emoção, não conseguimos antever o que pode acontecer, reduzindo assim nosso poderio sobre ela. Algumas emoções nos acometem de modo totalmente inesperado (AGÜERA, 2008). Por que às vezes nos sentimos surpreendidos por emoções e ficamos sem saber como reagir, ou agimos impensadamente em resposta a elas? O sistema límbico assume o controle antes que a parte do cérebro pensante (neocórtex) tenha tomado consciência de nossa emoção (sentimento) e tenha elaborado uma decisão. O sistema emocional “decide” uma atuação com base nas lembranças e impressões guardadas em nossas memórias emocionais, antes que chegue à consciência do neocórtex de que emoção se trata e que ação estamos tomando (AGÜERA, 2008, p. 97). UNIDADE 1 | INTELIGÊNCIA EMOCIONAL: CONCEITOS E DESENVOLVIMENTO 24 NOTA O que é o sistema límbico? Está relacionado às estruturas cerebrais cujas bases neurais estão associadas às emoções (ESPERIDIÃO-ANTONIO et al., 2008). FONTE: <https://www.infoescola.com/wp-content/uploads/2010/10/sistema-limbico- 450x340.jpg>. Acesso em: 15 jan. 2019. Sistema Límbico Cérebro Cerebelo Hipocampo Medula espinhal Amígdala Corpo mamilar Núcleo septal Fórnix Giro cingulado IMPORTANT E O que é o neocórtex? São as regiões cerebrais responsáveis pela coordenação de distintas informações obtidas pelas vias sensitivas e sensoriais do corpo humano. Pode- se dizer que é o núcleo do planejamento de ações, abrangendo também a organização e administração até das ações desencadeadas pelas emoções (RIBAS, 2007). Por isso, algumas vezes somos precipitados, impulsivos, agimos imponderadamente, porque o comportamento se desdobra antes que dê tempo para a reflexão, a análise dos fatos, a ponderação. TÓPICO 2 | INTELIGÊNCIA EMOCIONAL: COMPETÊNCIAS PESSOAIS, 25 NOTA Para exemplificar uma situação em que o comportamento antecede o pensamento, sugerimos a apreciação da música “Refrão de Bolero”, do grupo Engenheiros do Hawaii. Um dos trechos da música é esse: Mas eu falei sem pensar Coração na mão Como um refrão de um bolero Eu fui sincero como não se pode ser FONTE: <http://www.suasletras.com/letra/Engenheiros-do-Hawaii/Refrao-de-Bolero/111 36>. Acesso em: 14 jan. 2019. Falar sem pensar, ser sincero além do que deveria revela uma situação em que a pessoa não refletiu antes de agir, e acabou "metendo os pés pelas mãos". Segundo Primi, Bueno e Muniz (2006), o processo decisório, isto é, as tomadas de decisão podem ser beneficiadas, incrementadas quando a pessoa desenvolve sua capacidade de gerar sentimentos em si mesma. Assim, a pessoa pode avaliar as circunstâncias, treinando a si própria para gerar suas emoções, examiná-las sensatamente, senti-las de modo conveniente e manuseá-las positivamente antes de definir sua escolha. Ainda assim, Agüera (2008) defende que prontamente podemos controlar a durabilidade da emoção, ou seja, pelo menos é possível reger, sem demora, o espaço de tempo que a emoção ocupará. A capacidade de comedir a extensão da emoção é fundamental para que ela não se apodere inteiramente do nosso estado de ânimo ou para que ela não perdure mais tempo do que o inevitável. Assim, podemos reagir de forma mais apropriada perante os dilemas e percalços da vida. Existem pessoas que não conseguem se ajustar adequadamente as suas emoções, permitindo-se ser o tempo todo sugestionáveis pelo o que sentem. Entregam-se globalmente às emoções e, assim, correm riscos de paulatinamente serem desmantelados por elas, ou, minimamente danificados. Inclusive, seus relacionamentos ficam vulneráveis, prestes a ruir. Esses são mais alguns motivos para que tais pessoas procurem psicólogos e/ou médicos (AGÜERA, 2008). Quando a motivação está muito baixa, as demais habilidades da inteligência emocional podem ser avariadas, abaladas, deixando de ser demonstradas de forma propícia (AGÜERA, 2008). ATENCAO UNIDADE 1 | INTELIGÊNCIA EMOCIONAL: CONCEITOS E DESENVOLVIMENTO 26 Antes de avançarmos para a temática das competências sociais, vamos recapitular que o conhecimento emocional inclui algumas capacidades, conforme Primi, Bueno e Muniz (2006): • identificar as emoções; • indicar as diferenças e gradações entre elas; • compreender sentimentos complexos; • passar de um sentimento para outro. NOTA Você quer mais orientações para desenvolver suas competências pessoais? Aceitar os próprios erros e procurar o lado positivo das coisas sãos dois conselhos deixados por Agüera (2008). Veja as demais sugestões deixadas pelo mesmo autor: • Lembre-se que seus erros podem lhe propiciar aprendizado, depois de terem sido assimilados por você. • Todos os seres humanos são suscetíveis a errar, e ter a hombridade para admitir que um erro foi cometido por você pode, inclusive, elevar o nível de confiança nas pessoas que convivem ao seu redor. • Faça o máximo possível para consertar as complicações que seus erros causaram. • Focar no lado positivo das coisas pode lhe ajudar a superar os momentos mais sofríveis. • Procure ampliar seu campo de visão. Não focalize tanto nos problemas. Olhe para os lados, em outras direções. Talvez você descubra oportunidades em meio às adversidades. • Ter uma atitude positiva pode melhorar o seu entorno e a sua vida como um todo! 2.2 COMPETÊNCIAS SOCIAIS A maneira pela qual uma pessoa se comporta em âmbito social, isto é, quando seus comportamentos são diretamente direcionados a outrem, é influenciada por seus pensamentos acerca das interações sociais e pelo seu repertório de habilidades sociais. Os pensamentos dela acerca dos contatos sociais incluem suas impressões sobre os acontecimentos sociais em que está inserida (PEREIRA; DUTRA-THOME; KOLLER, 2016). Assim, pode-se afirmar que as competências sociais explicitam a maneira pela qual nos relacionamos com as outras pessoas, e são compostas pela empatia e pelas habilidades sociais (AGÜERA, 2008): • Empatia: é a capacidade de reparar quais são/perceber como são as emoções, os sentimentos, as necessidades, as apreensões das outras pessoas. Para desenvolver a empatia é essencial saber ouvir e ter capacidade para observar outrem atentamente. Então, é possível captar e concatenar os indícios verbais e não verbais do estado de ânimo alheio. A empatia é imprescindívelpara formar relacionamentos sociais adequados tanto na esfera pessoal (íntima, familiar) TÓPICO 2 | INTELIGÊNCIA EMOCIONAL: COMPETÊNCIAS PESSOAIS, 27 quanto na esfera profissional, acadêmica (SOMBRA NETO et al., 2017). “É a sensibilidade para detectar os sinais externos que mostram o que os outros querem ou precisam” (AGÜERA, 2008, p. 97). NOTA Se você constata que necessita desenvolver-se em termos de empatia, que tal iniciar por prestar atenção na vida e no cotidiano de seus familiares ou de pessoas que são importantes por você? Observe-os. Ouça-os. Mantenha-se concentrado no que dizem quando falam com você. Entretanto, a empatia não é suficiente para estabelecer relacionamentos interpessoais saudáveis. Agüera (2008) chama a atenção para o fato de que há pouca serventia em ter habilidade refinada de compreender as emoções de outrem, se não souber manobrá-las ou usá-las. Por isso, o segundo fator que compõe as competências sociais são as habilidades sociais: • Habilidades sociais: capacidades melindrosas formadas por vários elementos e aspectos que permitem ao sujeito a emissão de comportamentos interpessoais relativos à expressão adequada de sentimentos (SIMÕES; CASTRO, 2018). De acordo com Agüera (2008, p. 97), as habilidades sociais representam “[...] as capacidades para induzir respostas desejáveis nos outros”. Habilidades sociais revelam a capacidade de relacionar-se bem com as emoções alheias, coerentemente. Englobam ainda a maestria em solucionar conflitos entre pessoas, ter inclinação para confiar nos outros e transmitir confiança a eles. Para Carneiro et al. (2007), as habilidades sociais abrangem distintos comportamentos sociais realizados para lidar apropriadamente com as situações interpessoais. Assim, as habilidades sociais parecem estar relacionadas à autoconfiança, atitudes/ pensamentos positivos acerca das interações sociais, disposição para apresentar- se a outrem, facilidade para iniciar conversas e sustentá-las, competências para o diálogo, demonstração de sentimentos, estratégias de enfrentamento, assertividade e moderação de comportamentos coléricos ou aborrecidos. DICAS Você sabia que pessoas com um repertório enriquecido de habilidades sociais tendem a ser mais saudáveis e a desfrutar de melhor qualidade de vida quando idosas? Para saber mais sobre o assunto, indicamos a leitura do artigo intitulado Qualidade de vida, apoio social e depressão em idosos: relação com habilidades sociais, publicado em 2007 por Carneiro et al. Você pode acessá-lo por meio do link: http://www.scielo.br/pdf/prc/v20n2/a08v20n2.pdf. UNIDADE 1 | INTELIGÊNCIA EMOCIONAL: CONCEITOS E DESENVOLVIMENTO 28 Além de maiores indicadores de saúde e de melhor qualidade de vida, pessoas com vasto repertório de habilidades sociais costumam estabelecer relações de amizade de melhor qualidade (PEREIRA; DUTRA-THOME; KOLLER, 2016). As habilidades sociais não interferem apenas em relacionamentos entre amigos, mas também a outros estilos de relacionamentos: “[...] um repertório bem desenvolvido em habilidades sociais pode melhorar as relações interpessoais, tendo como consequência melhor bem-estar psicológico” (QUELUZ et al., 2018, p. 537). As habilidades sociais consideradas como recursos convenientes utilizados pelo estudante afetam positivamente no seu próprio desempenho escolar, como apontam Fernandes et al. (2018). Pessoas que dispõem de diversificadas habilidades sociais ainda são mais propensas a solicitar ajuda quando precisam, portanto possuem maiores chances de resolver problemas (PEREIRA; DUTRA-THOME; KOLLER, 2016), “[...] além de saber estabelecer boas equipes de colaboradores para enfrentar questões coletivas” (AGÜERA, 2008, p. 98). Assim, pode-se afirmar que as habilidades sociais possibilitam vantagens no que tange o suporte social. Queluz et al. (2018) trazem uma informação que pode parecer contraditória. Alegam que quanto mais desenvolvida for uma pessoa em termos de habilidades sociais, ela tende a usufruir de maior suporte emocional, bem como de maior autoestima e de melhor qualidade da relação. Em contrapartida, pode experimentar sobrecarga, níveis mais elevados de estresse além da presença de conflitos. Você pode levantar hipóteses das causas de mais estresse, conflito e sobrecarga em pessoas mais hábeis socialmente? Em geral, pessoas ricas em habilidades sociais possuem empatia, portanto se importam com os outros e possuem maior propensão a serem sensíveis às emoções deles. Isso faz com que elas fiquem preocupadas com o bem-estar alheio, contribuindo para a elevação do estresse e para a sobrecarga. Talvez você conheça alguém que busque resolver os problemas de várias pessoas que o cercam. Isso pode gerar alto investimento de tempo e de energia na tentativa de ajudar os outros. Agora, vamos pensar na pessoa que não possui um repertório muito rico de habilidades sociais. Possivelmente, é uma pessoa que não se implica tanto com os problemas alheios, nem se aplica sobremaneira em tentar resolvê-los – por isso, menos estressada e menos sobrecarregada. E quanto à presença de conflitos? Dispor de variadas habilidades sociais não isenta a pessoa de lidar com conflitos. Ela pode ter empatia e facilidades de resolver impasses que emerjam em seu relacionamento com outras pessoas, mas nem sempre as outras pessoas estão dispostas a solucioná-los. Então, hipoteticamente, uma pessoa com escasso repertório de habilidades sociais pode simplesmente afastar-se das pessoas com quem estabelece conflitos. Fugir dos conflitos não é necessariamente positivo, ou se ela não fugir, tende a não se preocupar muito com o fato de que sua opinião diverge da opinião de alguém. Pessoas com mais habilidades sociais dificilmente se satisfarão em simplesmente TÓPICO 2 | INTELIGÊNCIA EMOCIONAL: COMPETÊNCIAS PESSOAIS, 29 afastar-se de quem discorda delas. Há uma tendência ao diálogo e à construção coletiva de novas possibilidades de solução. E enquanto o conflito continuar, tendem a ficar pensando em maneiras de resolver a situação. Elas se importam. É válido destacar que mesmo entre duas pessoas que desenvolveram suas habilidades sociais, é inevitável o surgimento de conflitos. Conflitos não podem ser considerados como algo necessariamente negativo! Barrios (2016) nos lembra de que os conflitos interpessoais são constitutivos da personalidade, sendo assim, relevantes nos processos de socialização, desenvolvimento e educação moral desde a infância. Por isso, a escola representa um lócus privilegiado para o desencadeamento de tais experiências que contribuem para o desenvolvimento psicológico e social, como indicam as palavras de Barrios (2016, p. 263, tradução nossa): “[...] a perspectiva sociocultural construtivista, que enfatiza a importância dos conflitos interpessoais no processo de socialização, desenvolvimento e educação moral da criança, além de ver a escola como um contexto central para esses processos”. Ser paciente, tolerante, flexível, benevolente e tratar as pessoas com respeito são ótimas formas de safar-se de conflitos que por vezes são evitáveis e infrutíferos. ATENCAO Algo que precisa ficar compreensível, antes que você dê continuidade a sua leitura, é que a falta de inteligência emocional pode acarretar diversos dispêndios ou malefícios a si mesmo e/ou aos demais. Começando pelo fato de que pessoas que necessitam desenvolver sua inteligência emocional com urgência estão fadadas a dilacerar suas relações pessoais em qualquer uma das esferas (profissional, familiar, social), podendo, ainda, gerar impactos preocupantes na saúde física, enquanto protelam em fazer algo para desenvolver sua inteligência emocional (AGÜERA, 2008). IMPORTANT E Agüera (2008) esclarece que a inteligência intrapessoal pode auxiliar tanto na escolha por um parceiro (em qualquer esfera), ou na escolha do ambiente de trabalho, quanto no processo de adaptação a eles. UNIDADE 1 | INTELIGÊNCIA EMOCIONAL: CONCEITOS E DESENVOLVIMENTO