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Laura da Cunha Casimiro – Odontologia FORP-USP Erosão dental Definição · Processo químico que provoca a perda dos tecidos dentários mineralizados, causado por exposição a ácidos de origem não microbiana. · Condição clínica proveniente dos ácidos Origem intrínseca Ácidos endógenos · Doença do refluxo gastroesofágico · Gastrite · Regurgitação · Distúrbios alimentares: · Bulimia · Anorexia Origem extrínseca · Hábitos alimentares (refrigerantes, sucos ácidos, alimentos) · Estilo de vida (natação) · Medicamentos com baixo pH (AAS) · Fatores ocupacionais Erosão dentária na infância e adolescência · Patológica · 30,4% dos dentes permanentes em crianças e adolescentes · 19,9 % em 6 - 12 anos · 26,9% em 12 anos Consequências do desgaste erosivo · Fratura em esmalte · Exposição dentária e sensibilidade dolorosa · Destruição coronária progressiva e exposição pulpar · Perda da dimensão vertical e DTM (?) · Perda precoce dos dentes decíduos · Importante avaliar Idade do paciente + quantidade de desgaste + presença de sintomatologia Características de mineralização dos tecidos · Todos os tecidos mineralizados são afetados pela erosão: esmalte, dentina e cemento, pois o ácido leva à perda de minerais. · O esmalte é composto por · 97% de conteúdo inorgânico (minerais) · 2% de água · 1% de conteúdo orgânico (proteínas). · Os minerais são representados pelos cristais de fosfato de cálcio, que se organizam em · Fluorapatita · Apatita fluoretada · Hidroxiapatita (maior parte) · Hidroxiapatita carbonatada deficiente de cálcio · Com relação à solubilidade, esta é crescente nas substâncias citadas, ou seja, é menor na fluorapatita e maior na hidroxiapatita carbonatada deficiente de cálcio. · A erosão no esmalte é mais devagar que na dentina, pois sua quantidade de mineralização é maior e pela presença de matriz passível de modificação presente na dentina (colágeno e outros), que favorece o processo erosivo. Os dentes decíduos são mais susceptíveis à erosão? Sim, pois possuem · Prismas menores e mais espaçados · Menor grau de mineralização · Maior quantidade de apatita carbonatada – maior solubilidade O processo químico da erosão dentária · A erosão dentária depende do pH, da concentração, composição e capacidade de dissociação (pKa) do ácido. · O ácido clorídrico é um ácido com alto pKa, ou seja, tem alta capacidade de dissociação, sendo, portanto, um ácido forte e com alto potencial erosivo HCl H+ + Cl- · Já o ácido cítrico é um ácido com baixo pKa e pH dependente, ou seja, se dissocia por etapas de acordo com o pH (não libera os H+ diretamente). Assim, é capaz de desmineralizar os dentes em pHs variados e não apenas no pH ácido, sendo, portanto, um ácido fraco, mas com elevado potencial erosivo. C6H8O7 Cinética da erosão dentária · O ácido modifica a estrutura da hidroxiapatita, deixando o dente suscetível à desmineralização. · Com a progressão, há perda estrutural (desgaste erosivo com a perda de sua estrutura prismática), que pode ser detectada clinicamente, inclusive com redução da microdureza (camada amolecida). · Essa camada amolecida após o desafio erosivo é capaz de se remineralizar, ou seja, é reversível, entretanto quando há PERDA de estrutura essa condição já não é reversível, sendo necessária utilização de materiais restauradores. Erosão inicial · Aspecto acetinado · Perda das periquimácias · Perda da textura superficial Fatores moduladores do desgaste erosivo Ambiente · Educação e comportamento · Hábitos · Ocupação (prática de esportes - natação) Dieta · Propriedades do ácido (pH, pKa, capacidade tampão, concentração, propriedades quelante, adesão à estrutura dentária) · Fosfato e cálcio · Fluoretos · Isoladamente, o produto que tem maior potencial erosivo é o vinagre (afeta mais a dureza do dente), porém ele tem contato menor com a estrutura do dente do que se for comparar com a frequência de ingestão de uma Coca-Cola, por exemplo. Ou seja, o potencial é afetado pelo TEMPO DE EXPOSIÇÃO. A ingestão frequente de sucos artificiais e refrigerantes, bem como de suco de laranja, pode afetar o processo de erosão dentária. Indivíduo Saliva · A saliva confere proteção, limpeza, diluição do ácido, capacidade tampão e remineralização. · Fluxo: não estimulado 0,3mL/min e estimulado 1mL/min · Composição: serosa x mucosa (há proteção maior pela saliva serosa) · Película adquirida · Barreira de difusão com permeabilidade seletiva · Composição: mucinas glicoproteínas, proteínas ricas em prolina, enzimas · Efeito protetor em desafios ácidos de curta duração Higiene bucal · Força e frequência de escovação · Diâmetro e maciez das cerdas · Dentifrícios abrasivos · É mito ter que aguardar 30min ou mais após as refeições para poder escovar os dentes Hábitos alimentares · Tipo e quantidade do alimento ácido · Ingestão: frequência, quantidade forma e horário Problemas gastrointestinais · Doença do refluxo gastroesofágico: 4 – 7% da população sofrem, sendo 25% dessa porcentagem assintomáticos. Possuem azia persistente, disfagia, regurgitação, vômito, tosse crônica, dor no peito, pneumonia, rouquidão, faringite. · Na infância acomete 19% das crianças (10% no Brasil) e gera presença de lesões erosivas, devendo ser diferenciada da regurgitação infantil fisiológia. · A prevalência de desgaste erosivo em crianças sem histórico de refluxo é de 5% · Bulimia, anorexia Medicamentos · Vitamina C · AAS · Ferro · Beta-simpatomiméticos Diagnóstico diferencial Erosão x cárie · Origem dos ácidos · Processo de desmineralização (aspecto de ilhas de restauração na erosão) · Superfícies acometidas (P, L, O na erosão de origem intrínseca e V e O na erosão de origem extrínseca) Abrasão · Desgaste de 3 corpos · Dentifrícios abrasivos · Escovação com força excessiva · Escova com cerdas duras · Hábito de segurar objetos entre os dentes Atrição · Desgaste de 2 corpos · Facetas de desgaste planas · Margens agudas · Aspecto brilhante Índice de avaliação clínica · Cada sextante é avaliado pelo maior score das faces · Depois, soma-se os 6 sextantes para obter o valor de referência Prevenção Baixo risco · Redução do consumo de alimentos e bebidas ácidas · Consumo de alimentos ricos em cálcio · Encaminhar o paciente em caso de suspeita de DRGE, bulimia e/ou anorexia Médio e alto risco · Redução do consumo de alimentos e bebidas ácidas · Consumo de alimentos ricos em cálcio · Usar dentifrício com baixa abrasividade · Aplicação de fluoretos (efeito protetor) · Procedimentos restauradores A presença constante de fluoretos é dinamicamente importante no meio bucal para evitar: · Diminuição do pH, · Solubilização da camada protetora de fluoretos (barreira ácido resistente) · Dissolução do CaF2 (depósitos de fluoreto de cálcio). · Aplicação tópica de vernizes fluoretados: fluoreto de sódio 5% ou fluoreto de sódio 6% + fluoreto de cálcio 6% · Dentifrícios fluoretados preventivos/terapêuticos x Dentifrícios fluoretados abrasivos · Monofluorfosfato de sódio (MPF) – NaPO3F Silica Si02 · Fluoreto de sódio NaF Carbonato de cálcio CaCO3 · Fluoreto de estanho SnF2 Fosfato de cálcio di-hidratado · Fluoreto de amina (CaHPO4.2H2O) Papel do fluoreto na cavidade bucal Efeito local ↓DESMINERALIZAÇÃO ↑REMINERALIZAÇÃO · Outras associações em dentifrícios: maior deposição de sais de cálcio sobre o esmalte e dentina e menor desmineralização: - Silicato de cálcio (tecnologia NR3) - Fosfosilicato de sódio e cálcio (tecnologia NovaMin) Métodos alternativos ao fluoreto para redução da desmineralização na cárie ou na erosão dentária · CPP: fosfopeptídeo de caseína · CPP – ACP: fosfopeptídeo de caseína – fosfopeptídeo de cálcio amorfo · CPP – ACFP: fosfopeptídeo de caseína – fosfopeptídeo de cálcio amorfo com fluoreto Recaldent© · Creme dental (CPP – ACP e CPP – ACFP) · Goma de mascar (CPP – ACP) · Verniz (CPP – ACFP) Em pacientes pouco colaboradores · Adesivo dentinário (durabilidade de 3 meses) · Selantes e infiltrantes (durabilidade de 9 meses) Tratamento daerosão dentária Perda da estrutura · Restaurações minimamente invasivas com CIV ou resina composta · Hipersensibilidade dentinária · Envolvimento pulpar · Comprometimento estético-funcional · Perda da dimensão vertical de oclusão Protocolo clínico · Fotografia inicial · Profilaxia · Afastamento gengival · Aplicação do agente dessensibilizante de ação neural (nitrato de potássio a 3%) · Aplicação do agente dessensiblizante de ação obliteradora (glutaraldeído) · Aplicação do verniz fluoretado Considerações finais · Diagnóstico precoce · Condutas terapêuticas minimamente invasivas (atuação nos fatores causais e monitoramento) · Redução dos agravos na idade adulta
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