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Asma Bro nquica: Patologia da Asma Brônquica. A Asma brônquica é uma doença caracterizada por inflamação difusa das vias respiratórias, desencadeada por diversos estímulos deflagradores, que resulta em broncoconstrição parcial ou completamente reversível. Os sinais e sintomas envolvem dispneia, opressão torácica e desenvolvimento de sibilos.Efetua-se o diagnóstico com base na história, no exame físico e nos testes de função pulmonar. O tratamento envolve controle dos fatores deflagradores e terapia medicamentosa, mais comumente com a inalação de beta-2 agonistas e corticoides. O prognóstico é bom com o tratamento. Bruna Melo Tavares Chaves. Patologia. 1 Definição: A Asma brônquica é uma doença caracterizada por inflamação difusa das vias respiratórias, desencadeada por diversos estímulos deflagradores, que resulta em broncoconstrição parcial ou completamente reversível. Os sinais e sintomas envolvem dispneia, opressão torácica e desenvolvimento de sibilos. Efetua-se o diagnóstico com base na história, no exame físico e nos testes de função pulmonar. O tratamento envolve controle dos fatores deflagradores e terapia medicamentosa, mais comumente com a inalação de beta-2 agonistas e corticoides. O prognóstico é bom com o tratamento. Epidemiologia da asma: A prevalência da asma aumentou continuamente a partir da década de 1970 e a OMS estima que essa doença afete 235 milhões de pessoas em todo o mundo. Ela também ocorre com mais frequência em negros não hispânicos e porto-riquenhos. Contudo, apesar de sua crescente prevalência, tem havido um recente declínio na mortalidade. Nos EUA, cerca de 3.400 mortes ocorrem anualmente devido a asma. No entanto, a taxa de mortalidade é 2 a 3 vezes maior em negros do que em brancos. A asma está entre as principais causas de hospitalização de crianças, e a condição crônica número 1 que acarreta absenteísmo no ensino elementar. Etiologia da asma: O desenvolvimento de asma tem múltiplos fatores e depende de interações entre múltiplos genes suscetíveis e fatores ambientais. Os fatores ambientais do risco de asma podem ser: Exposição a alergênicos. Dieta. Fatores perinatais. As evidências implicam claramente alérgenos domésticos (p. ex., pó oriundo de ácaros, baratas e animais de estimação) e outros alérgenos ambientais no desenvolvimento da doença em crianças mais velhas e adultos. Alimentação com baixo teor de vitaminas C, vitamina E e ácidos graxos ômega 3 foram relacionadas com a asma, bem como com a obesidade; entretanto, a complementação alimentar com essas substâncias parece não prevenir a asma. A asma também é relacionada com fatores perinatais, como baixa idade materna, nutrição materna precária, prematuridade, baixo peso ao nascer e ausência de aleitamento materno. Componentes genéticos e ambientais podem interagir. Especialistas acreditam que os lactentes tenham predisposição para desenvolver respostas imunes TH2 pró-inflamatórias e pró-alérgicas, caracterizadas pelo crescimento e pela ativação de eosinófilos e produção de IgE. No início da infância, a exposição a endotoxinas e infecções bacterianas e virais conduzem o corpo a respostas do tipo TH1, o que suprime as TH2 e induz tolerância. As tendências de países desenvolvidos de constituírem famílias menores, ambientes internos mais limpos e uso precoce de vacinas e antibióticos podem privar as crianças dessa supressão de TH2 e das exposições indutoras de tolerância e explicar parcialmente o aumento contínuo da prevalência da asma Bruna Melo Tavares Chaves. Patologia. 2 nos países desenvolvidos (hipótese da higiene). Síndrome de disfunção reativa das vias respiratórias (SDRVR) e asma induzida por irritantes: A síndrome de disfunção reativa das vias respiratórias (SDRVR) é o início rápido (minutos a horas, mas não > 24 horas) de uma síndrome do tipo asmática que: Ocorre em pessoas sem história de asma. Ocorre após uma única exposição específica por inalação a uma quantidade significativa de gás ou partículas irritantes. Persiste por ≥ 3 meses. Numerosas substâncias foram implicadas, como gás cloro, óxidos de nitrogênio e compostos orgânicos voláteis (p. ex., tintas, solventes e colas). A exposição costuma ser evidente para o paciente, especialmente quando os sintomas são quase imediatos. Asma induzida por irritantes diz respeito a uma resposta do tipo asmática persistente após exposição inalatória, várias ou regular, a altos níveis de substâncias irritantes similares. Às vezes, as manifestações são mais insidiosas e, portanto, a conexão com a exposição inalatória só fica clara em retrospecto. SDRVR e asma crônica induzida por irritantes têm muitas semelhanças clínicas com a asma (p. ex., sibilância, dispneia, tosse, restrição do fluxo respiratório, hiper- reatividade brônquica) e respondem significativamente a broncodilatadores e frequentemente a corticoides. Ao contrário da asma, não se considera a reação à substância inalada uma alergia mediada por IgE; exposições de baixo nível não causam SDVRR ou asma induzida por irritantes. Mas a exposição repetida ao agente iniciador pode desencadear sintomas adicionais. Fisiopatologia da asma: A asma envolve: Broncoconstrição. Edema e inflamação das vias respiratórias. Hiper-reatividade das vias respiratórias. Remodelamento das vias respiratórias. Em asmáticos, as células TH2 e outros tipos celulares — notavelmente, eosinófilos e mastócitos, mas também outros subtipos CD4+ e neutrófilos — formam um infiltrado inflamatório extenso, no epitélio e na musculatura lisa das vias respiratórias, levando ao remodelamento desta última (i.e., descamação, fibrose subepitelial e hipertrofia da musculatura lisa). A hipertrofia da musculatura lisa obstrui as vias respiratórias e aumenta a reatividade Gatilhos da asma: Os gatilhos comuns da exacerbação da asma incluem. Alergênios ambientais e ocupacionais. Ar frio e seco. Infecções. Exercício. Inalação de agentes irritantes. Emoção. Ácido acetilsalicílico e outros anti- inflamatórios não esteroides (AINEs). Doença do refluxo gastresofágico (DRGE). Bruna Melo Tavares Chaves. Patologia. 3 Os desencadeadores de infecção em crianças pequenas incluem vírus sincicial respiratório, rinovírus e infecção pelo vírus parainfluenza. Em crianças maiores e adultos, as infecções do trato respiratório superior (particularmente por rinovírus) e pneumonia são desencadeadores infecciosos comuns. Exercícios podem ser um gatilho, principalmente em ambientes frios ou secos, e ar frio por si só também pode desencadear os sintomas. Irritantes inalados, como poluição do ar, fumaça de cigarro, perfumes e produtos de limpeza também podemdesencadear os sintomas nos pacientes com asma. Emoções como ansiedade, raiva e agitação algumas vezes desencadeiam exarcerbações. O ácido acetilsalicílico é o deflagrador em até 30% dos pacientes com asma grave e em até 10% de todos os asmáticos. A asma sensível ao ácido acetilsalicílico é tipicamente acompanhada de pólipos nasais com congestão nasal e dos seios da face, que é um quadro conhecido como tríade de Samter (asma, pólipos nasais e sensibilidade ao ácido acetilsalicílico e AINEs). A doença do refluxo gastresofágico é um gatilho entre alguns pacientes com asma, possivelmente por broncoconstrição reflexa induzida por ácido esofágico ou por microaspiração do ácido. Contudo, o tratamento da doença do refluxo gastresofágico assintomática (p. ex., com inibidores da bomba de prótons) não parece melhorar o controle da asma. A rinite alérgica frequentemente coexiste com a asma, porém, não está estabelecido se as duas são manifestações diferentes do mesmo processo alérgico ou se a rinite é um deflagrador distinto de asma. Resposta: Na presença de deflagradores, há estreitamento reversível das vias respiratórias e ventilação pulmonar desigual. Nas regiões pulmonares distais ao estreitamento das vias respiratórias, a perfusão relativa excede a ventilação relativa; por isso, a tensão alveolar de oxigênio cai e a tensão alveolar de dióxido de carbono aumenta. Geralmente, essa hipóxia com hipercarbia regional causa vasoconstrição pulmonar compensatória a fim de compatibilizar a relação entre a ventilação e a perfusão local; entretanto, esses mecanismos compensatórios falham durante a crise de asma por causa dos efeitos vasodilatadores das prostaglandinas que sofrem modulação positiva durante a crise. A maioria dos pacientes pode compensar pela hiperventilação, mas em exacerbações graves, a broncoconstrição difusa provoca aprisionamento intenso de gás, coloca os músculos respiratórios em uma desvantagem mecânica profunda, de modo que o trabalho respiratório aumenta. Sob essas condições, ocorre agravamento da hipoxemia e do esforço excessivo e eleva- se a PaCO2. Podem ocorrer acidose respiratória e acidose metabólica que, se não tratadas, causam parada respiratória e cardíaca. Classificação da asma: [Ao contrário da hipertensão (p. ex., em que um parâmetro [pressão arterial] define a gravidade do distúrbio e a eficácia do tratamento), a asma provoca uma série de alterações clínicas e nos exames complementares. Também ao contrário da maioria dos tipos de hipertensão, as Bruna Melo Tavares Chaves. Patologia. 4 manifestações de asma geralmente aumentam ou diminuem. Assim, o monitoramento (e estudo) da asma exige uma terminologia consistente e um modelo definido. O termo estado asmático descreve o espasmo brônquico grave, intenso e prolongado que é resistente ao tratamento. Gravidade: A gravidade é a intensidade intrínseca do processo patológico (o grau de gravidade da asma — ver tabela Classificação da gravidade da asma). A gravidade normalmente pode ser avaliada diretamente apenas antes do início do tratamento, porque os pacientes que responderam bem ao tratamento, por definição, têm poucos sintomas. A gravidade da asma é classificada como: Intermitente. Persistente leve. Persistente moderada. Persistente grave. É importante lembrar que a categoria gravidade não prevê quão grave pode ser a exacerbação de um paciente. Por exemplo, um paciente com asma leve com longos períodos assintomáticos ou com sintomas leves e função pulmonar normal pode ter uma exacerbação grave com risco de vida. Controle: Controle é o grau em que os sintomas, a incapacidade e os riscos são minimizados por meio do tratamento. O controle é o parâmetro avaliado em pacientes que receberam tratamento. O objetivo é controlar bem a asma em todos os pacientes, independentemente da gravidade da doença. O controle da asma é classificado como: Bem controlada. Não bem controlada. Muito mal controlada. Deficiência: Comprometimento diz respeito à frequência e à intensidade dos sinais e sintomas dos pacientes e às limitações funcionais. Pode-se medir o comprometimento por espirometria, principalmente pelo volume expiratório forçado no primeiro segundo (VEF1) e na proporção entre VEF1 e a capacidade vital forçada (CVF), mas se manifesta como características clínicas como: A frequência dos sintomas. Com que frequência o paciente acorda durante a noite. Com que frequência o paciente usa um beta2-agonista de curta duração para alívio dos sintomas. Com que frequência a asma interfere nas atividades normais. Risco: O risco refere-se à probabilidade de futuras exacerbações ou declínio da função pulmonar e o risco de efeitos adversos. O risco é avaliado por tendências a longo prazo na espirometria e características clínicas como: Frequência da necessidade de corticoides orais. Necessidade de internação. Necessidade de admissão em unidade de terapia intensiva (UTI). Bruna Melo Tavares Chaves. Patologia. 5 Necessidade de entubação. Sinais e sintomas da asma: Os pacientes com asma leve intermitente ou leve persistente normalmente são assintomáticos entre as exacerbações. Aqueles com doença mais grave ou exacerbações desenvolvem dispneia, aperto no tórax, ausculta de sibilos e tosse. A tosse pode ser o único sintoma em alguns pacientes (tosse como variante de asma). Os sintomas podem seguir um ritmo circadiano e piorar durante o sono, frequentemente em torno das 4 horas da manhã. Muitos pacientes com doença mais grave desenvolvem despertares noturnos (asma noturna). Diagnóstico da asma: Avaliação clínica. Testes de função pulmonar. O diagnóstico baseia-se na história e no exame físico, sendo confirmado pelos testes de função pulmonar. Também é importante o diagnóstico de causas subjacentes e a exclusão de doenças que provocam sibilos. Algumas vezes confunde- se asma com doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) pois esses distúrbios causam sintomas parecidos e produzem resultados semelhantes nos testes de função pulmonar, mas diferem em aspectos biológicos importantes que nem sempre são clinicamente evidentes. Testes de função pulmonar: Os pacientes presumidamente com asma devem ser submetidos a testes de função pulmonar, para confirmar e quantificar a gravidade e a reversibilidade da obstrução das vias respiratórias. A qualidade dos dados da função pulmonar depende de esforço e requer a orientação do paciente antes do teste. Avaliação das exacerbações: Os pacientes asmáticos em crise devem ser avaliados com base em critérios clínicos, mas algumas vezes também têm indicação de fazer certos exames: Oximetria de pulso. Aferição do pico do fluxo expiratório (PFE). Prognóstico da asma brônquica: Na maioria das crianças, a asma regride com a idade, mas para aproximadamente 1 em cada 4, os sibilos persistem até a idade adulta ou desenvolve-serecidiva após muitos anos. Sexo feminino, tabagismo, início em idade precoce e sensibilidade à poeira de acarinos domésticos constituem fatores de risco de a persistência e a recidiva. Tratamento da asma: Controle de fatores deflagradores. Terapia medicamentosa. Monitoramento. Orientação do paciente. Tratamento das agudizações. O objetivo do tratamento é minimizar a incapacidade e o risco, envolvendo a prevenção das exacerbações e dos sintomas crônicos, incluindo os despertares noturnos; a redução danecessidade de procurar o setor de emergências ou de internações; a manutenção da função pulmonar basal (normal) e dos níveis de atividade; e a tentativa de evitar os efeitos adversos do tratamento. Pontos-chave: Os gatilhos para a asma variam de Bruna Melo Tavares Chaves. Patologia. 6 alérgenos ambientais e irritantes respiratórios a infecções, aspirina, exercícios, emoção e doença do refluxo gastresofágico. Considerar a asma em pacientes que têm tosse persistente inexplicada, especialmente à noite. Se houver suspeita de asma, fazer testes de função pulmonar, com provocação por metacolina se necessário. Orientar os pacientes sobre como evitar os gatilhos. Controlar a asma crônica com fármacos que modulam a resposta imunitária e alérgica — normalmente corticoides inalatórios — adicionando outros fármacos (p. ex., broncodilatadores, estabilizadores de mastócitos, inibidores de leucotrienos de ação prolongada) de acordo com a gravidade da asma.
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