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filosofia da matemática apostila 1

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Prévia do material em texto

Tópicos de Filosofia e 
História da Matemática
Material Teórico
Responsável pelo Conteúdo:
Profa. Dra. Ana Lucia Nogueira Junqueira
Revisão Textual:
Profa. Ms. Selma Aparecida Cesarin
Pensamento Filosófico
• Introdução
• O Que é o Pensar Filosófico?
• Como Surge o Pensar Filosófico?
• Mitologia na Arte
• Filosofia Associada à Grécia Antiga
• Considerações Finais
 · Nesta unidade, o objetivo principal é propiciar a reflexão acerca do 
pensamento filosófico. Nesta direção, apresentamos as noções de 
mito e pensamento mítico das civilizações ancestrais, evidenciando 
situações que influenciaram a transição do pensamento mítico para 
o pensamento filosófico, característico da Filosofia.
OBJETIVO DE APRENDIZADO
Seja bem-vindo(a) às nossas discussões sobre Tópicos de Filosofia e História 
da Matemática.
A Disciplina como um todo trata dos aspectos de evolução do pensamento. 
Nesta primeira Unidade, vamos abordar o que é o mito, o pensamento mítico 
e sua transição para o pensamento filosófico.
Iniciamos com algumas inquietações que sempre estiveram presentes na 
história do ser humano, desde os primórdios, e que se perpetuam pelos 
tempos, em graus diferentes de complexidade ou aprofundamento.
Nesse sentido, a ênfase é o questionamento e é importante termos em mente 
algumas questões, como, por exemplo: Quem somos? Para que viemos ao 
mundo? Qual é a origem desse mundo? Qual futuro nos é reservado? 
Vamos ver alguns pensamentos e crenças primevos, destacando sua evolução 
ao longo dos tempos e de acordo com a cultura dos respectivos povos nas 
respectivas épocas.
ORIENTAÇÕES
Pensamento Filosófi co
Portanto, o mais importante é procurar entender o contexto dessas culturas 
elencadas com a mente aberta e, preferencialmente, o mais livre possível de 
pré-conceitos.
É um conteúdo que instiga à reflexão. Assim, para além do conteúdo teórico 
apresentado, o quanto mais você puder pesquisar, explorar, de acordo com 
a sua necessidade, melhor será o seu aproveitamento, com certeza!
Por isso, seja curioso(a)! Deixe a mente aberta e disposta a investigar, de 
acordo com sua inquietação ou necessidade de aprender mais sobre algum 
tema ou ideia que apareça no desenvolvimento da temática. 
Alerto que você pode encontrar algumas questões com mais de uma versão 
ou visões diferentes. Isso é normal, pois se trata do pensar filosófico e, 
portanto, não raro encontramos opiniões divergentes. 
Procuramos mostrar as principais noções, mesmo com visões distintas ou 
até contraditórias, de maneira a deixar fluir a ideia principal, com diferentes 
concepções, de acordo com a cultura ou o pensamento da época. 
O importante é mostrar que não há um pensamento único, um único olhar; 
ele depende basicamente do contexto cultural em que ocorre. O foco, nesse 
caso, é não concluir, mas conhecer. 
Assim, organize seus estudos, procure apreender as noções e conceitos 
tratados no texto, notadamente a ideia principal da Unidade, que é a 
transição do pensamento mítico para o pensamento filosófico, bem como as 
principais características destes dois tipos de pensamento, para se preparar 
para as atividades.
No material há videoaulas e diversas leituras indicadas, bem como sugestões 
de material complementar. E lembre-se de que você é responsável pelo seu 
processo de estudo; portanto, aproveite ao máximo esta vivência digital
7
Contextualização
Você já foi acometido de indagações para as quais nem sempre consegue ter 
respostas que sejam claras, objetivas ou que façam sentido, ou mesmo que vez por 
outra retornam à sua mente na forma de dúvidas, inquietações ou incertezas?
É raro encontrar alguma pessoa que não tenha passado por uma situação deste 
tipo. Arriscaria dizer sobre uma pessoa que afirma não ter dúvidas ou inquietações, 
que tem certeza de tudo, que esta pessoa mente (acima de tudo para si) ou não 
reflete sobre si e sobre a vida que lhe cerca. Cabe aqui um pensamento de Carl 
Gustav Jung (1875-1961):
“Sábio é aquele que admite não saber algo, pois se um homem não 
sabe o que uma coisa é, já é um avanço do conhecimento. Entretanto, 
se ele não sabe, mas finge saber, engana-se e retrocede, pois inibe a 
busca do conhecimento”.
Carl Gustav Jung (1875-1961) – Jung, criador da psicologia analítica, em con-
traposição à tese freudiana do inconsciente, postula que o comportamento humano 
é condicionado não apenas pela história individual, mas também racial e coletiva
Fonte: Wikimedia Commons
Mas vejamos algumas questões que costumam nos ocorrer:
7
UNIDADE Pensamento Filosófico
O Que é o Destino?
O ser humano possui um destino estabelecido ou direciona sua vida de for- 
ma voluntária?
Esse questionamento é sempre presente na sociedade. Mas, o que é destino? 
O que cabe ao ser humano realizar? Temos liberdade de ação ou devemos, 
simplesmente, obedecer às circunstâncias da vida?
Segundo o Dicionário Houaiss:
Destino, substantivo masculino:
1. tudo que é determinado pela providência ou pelas leis naturais; sorte, fado, 
fortuna.”quis o d. que ele se fosse cedo”
2. o que há de vir, de acontecer; futuro.”ninguém sabe o seu d.”
3. objetivo ou fim para o qual se reserva algo; destinação, serventia.”o d. das 
doações era uma ajuda aos desabrigados”
4. local aonde alguém vai; direção, destinação, meta, rumo.” partiu sem d.”
Entretanto, destaquei alguns pensamentos sobre destino, que seguem:
Fonte: Wikimedia Commons
“O fato é que tenho nas minhas mãos um destino e no entanto não me 
sinto com o poder de livremente inventar: sigo uma oculta linha fatal. 
Sou obrigado a procurar uma verdade que me ultrapassa” (Lispector, C. 
A Hora da estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 1999, fala do narrador SM, 
p. 21).
Frases de Carl Gustav Jung:
“O que não enfrentamos em nós mesmos acabaremos encontrando como 
destino”.
“Até você se tornar consciente, o inconsciente irá dirigir sua vida, e você 
vai chamá-lo de destino”.
8
9
Segundo Stegmaier (2010, p.248), Nietzsche emprega o termo “destino” mais 
de cem vezes em seus escritos, primeiramente referindo-se ao destino do herói 
trágico, depois ao destino da formação e da cultura alemã e, por fim, no sentido de 
um acontecimento imprevisível e inalterável, ao qual podem ser submetidos povos 
e Estado, instituição e valores, como também religiões e filosofias.
Ainda segundo este autor, desde cedo, Nietzsche anotou em seus registros: 
“O destino do filósofo é pensar”, ao mesmo tempo permanece cético em relação 
ao conceito de destino (fragmentos póstumos de 1876-1877).
Em Assim falou Zaratustra III, Zara-
tustra alerta contra a ‘ilusão’ de um des-
tino fatal.
Assim, Nietzsche faz com que Zaratustra 
chame o destino como uma “vivência”, 
algo que pode ser vivenciado, mas não 
conceitualizado. Nesse sentido, como 
filósofo, pode-se ser um destino quando se 
colocam em dúvida conceitos e convicções 
sobre os quais até então se constrói a 
própria vida com naturalidade e quando 
se aportam novos valores para discussão 
sobre os quais se pode reconstruí-la.
Fonte: Wikimedia Commons
O perigo da felicidade – agora tudo está dando certo para mim, amo 
qualquer destino. Quem quer ser meu destino? (Friedrich Nietzsche)
Certamente teríamos outras tantas reflexões sobre esse conceito. No entanto, a 
noção do que é destino se alterou muito ao longo do tempo. Se formos buscar nas 
origens, como na Grécia antiga, podemos discutir um pouco como esse conceito 
foi pensado.
Os gregos não viam o destino como algo 
estático (predestinação), mas sim como algo 
mutável e dinâmico. Um fluxo, não um 
ponto. As deusas gregas responsáveis por 
tecer e cortar aquilo que seria o fio da vida 
de todos os indivíduos se chamam Moiras 
(µοῖρα – significa “uma parte do todo”) e 
são três mulheres responsáveis por “fiar”, 
“sortear” e “afastar”. Entender essa noção 
fluida da destinação tem uma importância 
para o como levamos a vida.
É importante sentir e aproveitar o fluxo 
buscando nossa destinação. As coisas na 
vida são longe de ser estáticas!
Roda da Fortuna
Fonte:Wikimedia Commons
9
UNIDADE Pensamento Filosófico
As Moiras fiavam a vida com a Roda da Fortuna (ou Roda da Sorte), figura que 
ainda está presente em várias simbologias atuais.
Encontramos, por exemplo, a Roda da Fortuna na abertura da famosa ópera 
intitulada Carmina Burana, que é uma coleção de canções germânicas profanas.
https://youtu.be/AP_CSQgBPpQ
Ex
pl
or
Na Mesopotâmia, o destino do ser humano era determinado pelas estrelas. Já 
os Romanos, veneravam a fortuna (que poderia ser favorável ou desfavorável) e o 
fatum, que indicava uma decisão irresistível.
Ainda hoje, alguns acreditam que o destino é uma força misteriosa que determina 
os acontecimentos na vida das pessoas, incluindo vidas passadas. De acordo com 
o Cristianismo, por exemplo, o destino não existe, e sim a vontade de Deus, que 
controla e determina os acontecimentos.
A expressão “sem destino” descreve algo ou alguém com manifestação aleatória, 
que vive ao acaso.
Já um indivíduo descrito como “senhor ou dono do seu próprio destino” é uma 
pessoa que controla o seu próprio futuro.
Como está relacionada com o futuro, a palavra destino é frequentemente 
associada a práticas esotéricas como tarô, horóscopo, numerologia etc.O estudo 
acerca do destino também culminou em alguns pensamentos filosóficos acerca do 
fatalismo, graças a Spengler, Max Scheller e Heidegger.
O Que é Cosmo?
Fonte: Wikimedia Commons
10
11
Desde a Antiguidade, o homem tem curiosidade por essa imensa abóboda que 
nos cerca. Do que é feita? O que são os pontos brilhantes que aparecem na noite 
e desaparecem durante o dia. Por que temos o dia e a noite? Que astros são estes? 
E quem somos nós nesta imensidão?
São questões que sempre despertaram tanto o deslumbramento pela beleza 
quanto os temores pelo que se mostrava assustador (como os eclipses) e também 
suscitaram grandes reflexões, discussões e estudos para desvendar o desconhecido.
Segundo o dicionário Houaiss:
Cosmo
1. cosm espaço universal, composto de matéria e energia e ordenado segundo suas 
próprias leis; universo;
2. fi l na fi losofi a grega, a harmonia universal; o universo ordenado em leis e 
regularidades, organizado de maneira regular e integrada.
Na Antiguidade, a observação dos astros e a interpretação religiosa mantiveram 
uma ligação praticamente una. Os povos primitivos já utilizavam símbolos 
representando os corpos celestes nas manifestações de arte rupestre. No antigo 
Egito e outras civilizações, acreditava-se que a Terra fosse plana, e os astros 
lâmpadas fixas numa abóbada móvel; em muitas civilizações existiam crenças nas 
quais se acreditava que o Sol nascia a cada amanhecer para morrer ao anoitecer, 
crenças essas que acabaram por se tornar a base de muitas religiões antigas.
Os gregos, sobretudo os seguidores de Pitágoras, acreditavam que os corpos 
celestes tinham seus movimentos regidos rigorosamente pelas leis naturais, na 
esfericidade da Terra e na harmonia dos mundos; já os seguidores de Aristóteles 
consideravam a teoria geocêntrica, de acordo com a qual a Terra era o centro 
do universo.
As especulações sobre a natureza do Universo remontam aos tempos pré-
históricos, em que o céu vem sendo usado como mapa, calendário e relógio. Os 
registros astronômicos mais antigos datam de aproximadamente 3000 a.C. e se 
devem aos chineses, babilônios, assírios e egípcios. 
Naquela época, os astros eram estudados com objetivos práticos, como medir a 
passagem do tempo (fazer calendários) para prever a melhor época para o plantio 
e a colheita, ou com objetivos mais relacionados à Astrologia, como fazer previsões 
do futuro, já que, não tendo qualquer conhecimento das leis da natureza (física), 
acreditavam que os deuses do céu tinham o poder da colheita, da chuva e mesmo 
da vida.
Vários séculos antes de Cristo, os chineses sabiam a duração do ano e usavam 
um calendário de 365 dias. Deixaram anotações precisas de cometas, meteoros e 
meteoritos desde 700 a.C. Mais tarde, também observaram as estrelas que agora 
chamamos de novas.
11
UNIDADE Pensamento Filosófico
Os babilônios, assírios e egípcios também sabiam a duração do ano desde épocas 
pré-cristãs. Em outras partes do mundo, evidências de conhecimentos astronômicos 
muito antigos foram deixadas na forma de monumentos, como o de Newgrange, 
construído em 3200 a.C. (no solstício de inverno, o Sol ilumina o corredor e a 
câmara central) e Stonehenge, na Inglaterra, que data de 3000 a 1500 a.C.
Segundo Marcondes (2010), o significado do termo kosmos para os gregos 
desse período liga-se diretamente às ideias de ordem, harmonia e mesmo beleza, já 
que a beleza resulta da harmonia das formas: vem daí o termo “cosmético”.
O cosmos é assim o mundo natural, bem como o espaço celeste, enquanto 
realidade ordenada de acordo com certos princípios racionais. A ideia básica de 
cosmo é, portanto, a de uma ordenação racional, hierárquica, em que certos 
elementos são mais básicos, o que se constitui de forma determinada, tendo a 
causalidade como lei fundamental.
O cosmo, assim entendido como ordem, opõe-se ao caos, que seria precisamente 
a falta de ordem, o estado da matéria anterior à sua organização.
Importante notar que a ordem do cosmo é uma ordem racional, “razão” 
significando aí exatamente a existência de princípios e leis que regem e organizam 
essa realidade.
A racionalidade deste mundo é que o torna compreensível, por sua vez, ao 
entendimento humano, porque há na concepção grega o pressuposto de uma 
correspondência entre a razão humana e a racionalidade do real – o cosmo – é que 
este real pode ser compreendido, pode-se assim fazer ciência, isto é, pode-se tentar 
explicá-lo teoricamente.
Daí se origina o termo “cosmologia”, como explicação dos processos e 
fenômenos naturais e como teoria geral sobre a natureza e o funcionamento do 
Universo. A cosmologia se incumbe, também, da busca pela origem, pela estrutura, 
evolução e composição do Universo.
Portanto, cosmos ou cosmo é o universo em seu todo. É o conjunto de tudo 
que existe, desde o microcosmo ao macrocosmo, das estrelas até as partículas 
subatômicas.
O microcosmo é o mundo pequeno, o resumo do universo, o próprio homem 
como expressão do Universo. O macrocosmo é o grande mundo, o Universo 
como um todo orgânico, em oposição ao ser humano (microcosmo), segundo as 
doutrinas filosóficas que admitem uma correspondência entre as partes constitutivas 
do Universo e as partes constitutivas do Homem.
Bom, poderíamos continuar indefinidamente colocando grandes questões que 
preocuparam e ainda preocupam a humanidade como sendo temas de discussão, 
com opiniões muitas vezes divergentes, notadamente as que tratam de temas que 
envolvem religiosidade, fé, ideologia etc.
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Veja na charge abaixo as defi nições diferentes referentes ao Método Cientifi co e ao Método 
Criacionista. Disponível em: https://goo.gl/nPdPZkEx
pl
or
Para finalizar, deixo uma questão para pesquisarem e refletirem:
A Matemática foi descoberta ou inventada?
A imagem da estátua “O Pensador” muito representa o que faremos nes-
ta Disciplina.
"O Pensador" de Auguste Rodin
Fonte: Wikimedia Commons
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UNIDADE Pensamento Filosófico
Introdução
A vida de todos nós é repleta de afazeres que nos mantém ocupados e muitas 
vezes preocupados. Essas ocasiões costumam nos levar a refletir, olhando para trás 
e perguntando o que significa tudo isto.
É bem provável que comecemos a questionar coisas fundamentais, de caráter 
existencial, que nem sempre nos acometem ou com as quais nos importamos.
Isto pode acontecer acerca de qualquer aspecto da vida. Por exemplo, na polí-
tica é comum ouvirmos falar sobre “liberdade”, “igualdade” e “justiça social”. Se 
questionamos sobre o que é entendido sobre liberdade e qual é a noção de igualda-
de, podemos nos deparar com um desafio incômodo: liberdade e igualdade pare-
cem estar em conflito entre si, pois se formos inteiramente livres para viver a vida 
como quisermos, não podemos prejudicar outras pessoas, ou provocarsituações 
que evidenciam tratamentos desiguais ou mesmo cometer injustiças sociais?
Se indagarmos que tal conflito poderia ser evitado com a interferência do 
governo, por acaso não estaremos sendo contraditórios quando somos a favor da 
igualdade e da liberdade?
Quando pensamos assim, estamos começando a pensar filosoficamente, no 
caso, no âmbito da Filosofia social e política.
O Que é o Pensar Filosófico?
O pensar filosófico não é um campo de pensamento estranho ou misterioso. 
Também não é verdade que apenas algumas pessoas possam pensar filosoficamente.
Toda e qualquer pessoa pode pensar filosoficamente, desde que já tenha 
procurado justificar ou se esforçado mentalmente para encontrar uma resposta 
para um determinado problema filosófico.
A grande diferença reside em “como pensar” acerca de um problema filosófico, 
sendo neste “como pensar” que se encontra um dos grandes contributos da Filosofia.
Para fazer um pouco de humor sobre este conceito, observe as tirinhas a seguir:
https://goo.gl/71rfuXEx
pl
or
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Como Surge o Pensar Filosófi co?
O pensar filosófico emerge naturalmente das circunstâncias humanas. Por sua 
natureza intrínseca, induzido e conduzido por razões imanentes, como a dúvida, 
a incerteza ou o desespero, o homem não consegue eximir-se de atitudes filosó-
ficas, ou seja, interroga-se sobre si mesmo e sobre o sentido de sua existência, 
sua razão de ser.
Em crise existencial ou na euforia da vida, alguém que começa a indagar sobre 
o porquê da própria vida está começando a filosofar, isto é, tendo uma atitude 
filosófica. A atitude filosófica nos mergulha num mundo espetacular, terrível e 
fantástico ao mesmo tempo: a busca da sabedoria e da verdade.
Podemos afirmar que existe O pensar filosófico desde que existe a Humanidade: 
o Homem, por sua natural predisposição para o saber, sempre se questionou acerca 
de si próprio, dos outros e de tudo aquilo que o rodeia.
É neste sentido, que o Homem, desde sempre, colocou a si próprio questões 
filosóficas, como, por exemplo: “Como os seres da minha espécie surgiram na 
face da Terra?”, que é o mesmo que se perguntar, atualmente, “Como surgiu o ser 
humano?”, ou mesmo dizer “Como surgiu o Universo?”, e por aí em diante.
O pensar filosófico surge a partir do momento em que começamos a questionar 
as coisas que nos rodeiam e cuja solução ou resposta percebemos que não pode ser 
encontrada pela experimentação, ou seja, tocando ou simplesmente observando, 
entre outras modalidades possíveis de experiência empírica.
Isso quer dizer que a maior parte das pessoas já pensou sobre alguma questão 
filosófica. Ao pensar num problema filosófico, já procurou obter uma resposta para 
ele e, neste sentido, todos nós podemos dizer, de certa maneira, que já tivemos um 
pensar filosófico.
Mas pensar sobre um problema filosófico não é propor uma resposta e dizer que 
ela é a única que pode ser verdadeira, devendo-se, antes, aceitar a crítica e outra 
possível justificação para o mesmo problema com vista ao seu melhoramento: de 
outro modo, não se está a praticar Filosofia.
Mas antes de falarmos da Filosofia propriamente dita, cabe meditar um pouco 
no sentido popular da Filosofia como um princípio orientador dos indivíduos, que 
lhes permite unidade nas ações e na conduta. A priori, a Filosofia se debruça sobre 
a necessidade humana de compreender melhor a vida, meditar sobre a própria vida 
para poder viver melhor.
As crianças costumam fazer muitas perguntas, elas têm espírito investiga-
tivo por natureza e muitas vezes nos surpreendem com o teor filosófico dos 
seus questionamentos.
15
UNIDADE Pensamento Filosófico
Segue uma tirinha ilustrativa:
https://goo.gl/oeQgZ0
Ex
pl
or
Concepções filosóficas são sistemas teóricos que apresentam entendimentos 
sobre: o que é a realidade ou o mundo (ontologia); o ser humano (Antropologia 
filosófica); o conhecimento, a verdade (teoria do conhecimento); o processo 
de valoração (axiologia); o bem (Ética); o belo (Estética); a sociedade, o poder, 
a liberdade (Filosofia social e política); e alguns temas específicos como História 
(Filosofia da história); conhecimento científico, ciência (epistemologia), matemática 
(Filosofia da matemática), linguagem (Filosofia da linguagem), educação (Filosofia 
da educação) e dimensão espiritual (Filosofia da religião), entre outros.
As Origens
A palavra Filosofia deriva do grego “PHILOSOPHIA” (Φιλοσοφíα: philia 
- amor, amizade + sophia - sabedoria). Portanto, traz o significado de amor à 
sabedoria, ao conhecimento.
Modernamente é uma Disciplina, ou uma área de estudos, que envolve a 
investigação, análise, discussão, formação e reflexão de ideias (ou visões de mundo) 
em uma situação geral, abstrata ou fundamental.
Os problemas estudados pela Filosofia são, basicamente, a existência, o conhe-
cimento, a verdade, os valores morais, a estética, a mente e a linguagem.
Filosofar constitui-se na atitude de refletir, criticar e especular sobre as condições 
do ser humano e dos outros seres vivos, tendo em mente, principalmente, seus 
papéis no universo.
Desta maneira, a Filosofia envolve todas as concepções de Ciência, conhecimento 
e saber racional. É importante ter em mente que a Filosofia se preocupa com ques-
tões referentes ao ser humano, mas de uma maneira diferente da Religião, que se ba-
seia na fé, na convicção, embora também tenhamos Ciência e Filosofia da Religião.
Filosofia e Religião pertencem a esferas autônomas e diferentes; ambas 
comparecem perante alto grau da consciência humana; ambas correspondem a 
ansiedades inconfundíveis.
O homem provoca uma tensão na existência, é o único ser que toma consciência 
da possibilidade efetiva da não-existência. Em outras palavras, o homem é o ser 
que tem experiência imediata de participar da realidade e, ao mesmo tempo, ao 
tomar consciência da própria morte, reconhece a precariedade de ser o que é.
Assim, Religião e Filosofia emergem da mesma experiência de tensão existen-
cial. Todavia, elas percorrem trilhas distintas; a Religião sacraliza e glorifica tal 
constatação, enquanto a Filosofia busca justificá-la, dar razão de si e dos seus pró-
prios fundamentos.
16
17
Esse teor de discussão não é nosso foco aqui. O nosso enfoque terá o viés do 
conhecimento, como construção racional feita pelo homem.
A Filosofia originou-se da inquietação gerada pela curiosidade humana em 
compreender e questionar os valores e as interpretações comumente aceitas pelo 
homem sobre a sua própria realidade.
Essas interpretações constituem inicialmente o embasamento de todo o conheci-
mento e foram adquiridas, enriquecidas e repassadas de geração em geração.
Ocorreram inicialmente pela observação dos fenômenos naturais e sofreram influ-
ência das relações humanas estabelecidas até a formação da sociedade, em confor-
midade com os padrões de comportamentos éticos ou morais tidos como aceitáveis 
em determinada época por um determinado grupo ou determinada relação humana.
A partir da Filosofia surge a Ciência, pois o Homem reorganiza as inquietações 
que assolam o campo das ideias e utiliza experimentos para interagir com a sua 
própria realidade.
Assim, a partir da inquietação, o homem, por meio de instrumentos e procedi-
mentos, equaciona o campo das hipóteses e exercita a razão. São organizados os 
padrões de pensamentos que formulam as diversas teorias agregadas ao conhe-
cimento humano. Contudo o conhecimento científico, por sua própria natureza, 
torna-se suscetível às descobertas de novas ferramentas ou instrumentos que apri-
moraram o campo da sua observação e manipulação, o que, em última análise, 
implica tanto a ampliação, quanto o questionamento de tais conhecimentos.
Embora seja extremamente difícil e delicado estabelecer quaisquer subdivisões da 
Filosofia, por refletirem a visão de quem as faz, vamos destacar, para efeito didático, 
que a Filosofia pode ser subdividida, sumariamente,como linha de investigação, em:
• Lógica: trata da preservação da verdade e dos modos de seevitar a inferência 
e raciocínio inválidos;
• Metafísica ou ontologia: trata da realidade, do ser e do nada. Seu objetivo é 
fornecer uma visão abrangente do mundo, como ponto de partida do sistema 
filosófico, na medida em que examina os princípios e causas primeiras;
• Epistemologia ou teoria do conhecimento: trata da crença, da justificação 
e do conhecimento;
• Ética: trata do certo e do errado, do bem e do mal;
• Filosofia da Arte ou Estética: trata do belo;
• Filosofia política: investiga os fundamentos da organização sociopolítica do Estado;
• Metafilosofia: é a “filosofia da filosofia”, procura investigar, entre outras coi-
sas, as limitações e objetivos enquanto ramo do saber. 
Os estudos filosóficos têm como espinha dorsal o estudo da história da Filosofia. 
Mesmo assim, ao consultarmos livros sobre história da Filosofia, encontramos abor-
dagens diferentes, o que denota a diversidade de enfoques que pode ser adotada para 
falar sobre Filosofia: alguns desfilam por linhas de pensamento ao longo da História; 
17
UNIDADE Pensamento Filosófico
outros abordam as principais ideias de cada período histórico e sua evolução no tem-
po; outros, ainda, elegem os principais pensadores e tratam de suas ideias.
Como trataremos de alguns tópicos de Filosofia, nesta Unidade queremos 
abordar as primeiras noções que instigaram o pensamento filosófico.
Nesse sentido, vamos começar com um dos pensamentos primevos: o 
pensamento mítico, que também depende da cada época e cultura em que surgiu.
Vamos abordar o papel do mito e do pensamento mítico como um precursor do 
pensamento filosófico.
O Mito
Mythos, em grego, significa “palavra”, o que se diz, “narrativa”. A consciência 
mítica é predominante em culturas de tradição oral, quando ainda não há escrita.
O pensamento mítico formou-se com o Homem e corresponde à primeira forma 
de pensar a realidade.
Os mitos são narrações cujos protagonistas são seres sobrenaturais, que existi-
ram num passado remoto (tempo primordial). Neles costumamos encontrar expli-
cações sobre a origem do Cosmos, bem como sobre outros aspectos da realidade, 
tais como origem do homem, doenças, crenças etc. Os mitos, enquanto narrativas, 
foram os primeiros discursos elaborados no mundo.
O mito tem por finalidade acomodar e tranquilizar o ser humano, que vive num 
mundo inseguro, assustador e, muitas vezes, hostil.
Vejamos alguns exemplos:
Fonte: Adaptado de Wikimedia Commons
A Fênix (em grego clássico: ϕοῖνιξ) é um pássaro da mitologia grega que, 
quando morria, entrava em autocombustão e, passado algum tempo, renascia das 
próprias cinzas.
Outra característica da Fênix é sua força: capaz de transportar em voo cargas 
muito pesadas, havendo lendas nas quais chega a carregar elefantes. Podia se 
transformar em uma ave de fogo.
Teria penas brilhantes, douradas e vermelho-arroxeadas, e seria do mesmo 
tamanho ou maior do que uma águia.
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19
Segundo alguns escritores gregos, a Fênix vivia exatamente quinhentos anos. 
Outros acreditavam que seu ciclo de vida era de 97.200 anos. Seu habitat eram 
os desertos escaldantes e inóspitos da Arábia, o que justificava sua fama de quase 
nunca ter sido vista por alguém.
No final de cada ciclo de vida, quando Fênix percebia que sua vida secular estava 
chegando ao fim, fazia um ninho com ervas aromáticas e entrava em combustão 
ao ser exposta ao sol, queimando-se nessa pira funerária, até não deixar vestígios, 
renascendo assim de suas próprias cinzas, a ave Fênix se fazia perpétua para ser 
adorada como se fosse o Sol, astro do qual viria seu dom lendário. Suas lágrimas 
tinham propriedades para curar qualquer tipo de doença ou ferida. A vida longa da 
Fênix e o seu dramático renascimento das próprias cinzas transformaram-na em 
símbolo da imortalidade e do renascimento espiritual
Os gregos parecem ter se baseado em Bennu, da mitologia egípcia, repre-
sentado na forma de uma ave acinzentada semelhante à garça, hoje extinta, que 
habitava o Egito. Cumprido o ciclo de vida do Bennu, ele voava a Heliópolis (que 
hoje faz parte da mancha urbana da cidade do Cairo), pousava sobre a pira do 
deus Rá, ateava fogo em seu ninho e se deixava consumir pelas chamas, renas-
cendo das cinzas.
Pela vontade de Nun, a essência latente do deus-criador, aconteceu o que parecia 
faltar a sua complementação, nasceu o deus Sol, denominado de Rá. Entre outras 
formas, o Sol teria emergido de Nun na esteira de uma enorme Serpente Cósmica, 
ou como o desabrochar de uma gigantesca flor de Lótus Primordial, ou ainda como 
a ave Fênix, chamada pelos egípcios de Bennu, alçando voo e irradiando como 
astro-rei, ou ainda como um escaravelho que ganhava altura no espaço infinito 
conforme ia rolando como uma gigante bola de fogo solar.
a) Um dos livros mais antigos, de 1805, sobre história da mitologia, de autoria de Thomas 
Bulfi nch (1796-1867), pode ser consultado no link: https://goo.gl/27YgrZ
b) Entre os povos indígenas habitantes das terras brasileiras, encontramos diversas fi guras 
míticas e suas histórias são contadas em forma de lendas. Entre elas, temos uma que 
mostra como os índios pensavam o céu, em várias versões. Um dos relatos sobre a 
origem da noite é dos maués, nativos dos rios Tapajós e Madeira, inventores da cultura 
do guaraná. A lenda do dia e da noite, baseada na versão dos índios karajás, foi escrita 
por Ruy de Oliveira e depois transformada em curta-metragem que pode ser visto no 
link do trecho a seguir;
Observe que, embora em culturas, épocas e localidades distintas, como as que vimos na 
mitologia grega, egípcia e indígena, os mitos sobre a origem do Cosmos têm grandes 
semelhanças. Veja a versão de Rui de Oliveira sobre a lenda brasileira do dia e da noite, 
da tribo Karajá, no link: https://youtu.be/4-qu-88Fx0s
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c) Aproveite e veja também a lenda do Uirapuru no link: https://youtu.be/QUY8eP1mj4E
d) Acerca dessa ave, Câmara Cascudo ressaltou que o primeiro estrangeiro a ouvir o 
canto do Uirapuru e a registrar sua melodia foi o botânico Richard Spruce, em uma 
excursão ao rio Trombetas, na metade do século XIX. Segundo esse pesquisador, o 
Uirapuru cantava para todo o mundo como uma caixa de música. As lendas relativas 
ao Uirapuru inspiraram, inclusive, vários artistas. Uma conhecida música popular foi 
composta por Waldemar Henrique, em 1934. Em 1917, o maestro Heitor Villa-Lobos 
(1887-1959) compôs um poema sinfônico baseado em material folclórico coletado 
em viagens pela Região Norte. Uirapuru, W133 (Symphonicpoem for orchestra) 
(1917): https://youtu.be/Wgh8CzHPKok
Mitologia na Arte
Para reforçar a relevância que o mito exerceu por muito tempo, e ainda exerce na 
atualidade, destacamos o papel da Mitologia como inspiração nas Artes, que é uma 
expressão da cultura dos povos, temporais como suas particularidades, que imprime 
significado histórico e cultural, mas atemporais como obra de arte; por isso costuma-
se dizer que o mito não fala da História, mas dá sentido à História e à Cultura.
Destacamos algumas obras de arte retratando a Mitologia ou feitos mitológicos, 
notadamente em pinturas e esculturas, como da Mitologia greco-romana, a pintura 
Os Doze Deuses do Olimpo (Zeus no trono), de Nicolas-André Monsiau (1754-
1837), pintor Neoclassicista do final do século XVIII.
Os deuses olímpicos moravam em 
um imenso palácio, em algumas ver-
sões de cristais, construído no topo 
do monte Olimpo, uma montanha 
que ultrapassaria o céu.
A composição clássica dos doze 
deuses olímpicos (o doze canônico da 
arte e da poesia) inclui os seguintes 
deuses: Zeus, Hera, Poseidon, Atena, 
Ares, Deméter, Apolo, Artemis, He-
festo, Afrodite, Hermes e Dionísio.
Os doze deuses romanos corres-
pondentes eram Júpiter, Juno, Neptu-
no, Minerva, Marte, Ceres, Febo, Dia-
na, Vulcano, Vênus, Mercúrio e Baco.
Vejamos outra obra, a pintura a 
óleo: Hércules e o Leão de Nemeia. Fonte: Wikimedia Commons
Hércules é o nome romano do semideus grego Héracles, filho de Zeus comuma mortal. Conhecido pela sua força física, enfrentou inúmeros desafios, devidos 
principalmente à cólera e à vingança da deusa Hera, esposa de Zeus.
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Fonte: artuk.org
A pintura registra um dos Doze Trabalhos penitenciais do herói mitológico, 
Hércules nu, no ato de asfixia do Leão de Nemeia, que é elevado acima em seus 
quartos traseiros; um tigre de queixo aberto e um crânio humano em seus pés, de 
autoria de Rubens.
Peter Paul Rubens (1577-1640) foi um pintor flamengo, desenhista e diplomata. 
Ele era um artista barroco versátil e influente, empregado pelos governantes do sul 
da Holanda como seu embaixador e se tornou pintor para as cortes da Europa. 
Rubens mistura características do Alto Renascimento italiano, com o qual ele se 
familiarizou durante uma visita prolongada para a Itália, com o realismo do Norte 
e amor à paisagem.
Ele tinha um profundo conhecimento e 
compreensão da Arte e da Literatura clás-
sicas traduzidas com sucesso em imagens 
vívidas de carne e osso.
Esta obra da coleção do Victoria and Al-
bert Museum (308-1864) parece ser uma 
cópia do final do século 18 ou início do sé-
culo 19, da versão original reduzida de Ru-
bens, datada de 1615, atualmente em uma 
coleção particular em Bruxelas.
Além de telas, encontramos várias es-
culturas representando cenas mitológicas, 
como O Rapto de Proserpina, datada de 
1621-1622, esculpida em mármore branco 
por Bernini, considerado um dos maiores 
artistas do século XVII, tendo seu trabalho 
quase todo centrado na cidade de Roma. Fonte: Wikimedia Commons
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UNIDADE Pensamento Filosófico
O mito romano do rapto de Proserpina por Plutão é uma lenda que também 
aparece na cultura grega, na qual Plutão se chama Hades e Proserpina é Perséfone, 
filha da deusa das colheitas Deméter, que encantou o obscuro deus com sua beleza.
Ela então é raptada e levada para as profundezas da Terra, deixando sua mãe 
enfurecida. O rapto fez com que Deméter castigasse o mundo, arrasando as 
plantações, entregando o mundo ao caos e à fome.
Conta-se que Perséfone não podia comer nada que lhe fosse oferecido ou ela 
nunca mais voltaria para casa. Enquanto Zeus tentava convencer Plutão a liberar a 
moça, Perséfone comeu algumas sementes de romã, selando o seu destino. Assim, 
ela se viu obrigada a casar com Plutão, o que deixou Deméter ainda mais furiosa. 
Zeus teria então interferido. Perséfone passaria metade do ano com o marido e a 
outra metade com a mãe.
Dessa maneira, Deméter aceitou e assim os gregos explicavam as épocas do 
ano. Quando era verão e primavera, sua filha estava ao seu lado. No inverno e 
no outono, épocas frias, sem colheitas, Perséfone estava com o marido. Esta obra 
encontra-se na Galleria Borghese, em Roma.
Gian Lorenzo Bernini (1598-1680) foi um eminente artista do barroco 
italiano, trabalhando principalmente na cidade de Roma. Distinguiu-se como 
escultor e arquiteto, ainda que tivesse sido pintor, desenhista, cenógrafo e criador 
de espetáculos de pirotecnia. Esculpiu numerosas obras de arte presentes até os 
dias atuais em Roma e no Vaticano
Exemplos de Arte Referentes a outras Mitologias são também Numerosas
Vejam as famosas pinturas Tanjore em Thanjavur, Índia. A cidade de 
Thanjavurfoi fundada pelos governantes prósperos e dinâmicos da dinastia Chola, 
no início da era cristã e ainda carrega a essência desse legado.
Os cholas emergiram como o império mais poderoso do subcontinente no 
século IX e mantiveram seu domínio até o século XII. Além do Grande Templo de 
Brihadiswara , a cidade é conhecida por seus artesãos (brassware). A arte desses 
artesões é famosa em toda a Índia e no exterior.
As pinturas Tanjore são feitas em tábuas de madeira sólida, chamadas de 
padampalagai (palagai = “prancha de madeira”; padam = “foto”), no linguajar local 
e têm como temas principalmente os deuses e as deusas hindus. São famosas por 
sua riqueza de superfície, cores vivas e composição compacta.
Veja um exemplo de pintura Tanjore contendo uma vaca, símbolo sagrado da 
cultura hindu. A vaca é identificada com uma série de divindades do panteão hindu, 
ocasionalmente com mais de uma ao mesmo tempo.
São diversas as histórias de deuses e deusas que assumem a forma de uma vaca, 
encarnam em alguma ou de vacas desempenhando papeis junto a eles. A vaca 
também goza de uma pureza elevada, capaz de influenciar itens e pessoas que 
entrarem em contato com seu corpo ou com o que ele produzir.
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A capacidade purificadora e a associação com divindades são pontos que 
embasam a sacralidade da vaca, bem como as relações da vaca com as ideias de 
fertilidade e fecundidade e o uso do animal como alegoria para tratar das noções 
de tempo e espaço.
Fonte: Wikimedia Commons
Também temos registros artísticos de Mitologia de povos do continente 
americano. Os astecas, precedidos pelos olmecas e toltecas, constituíam um povo 
que teve a sua origem na região centro-sul do México, cuja mitologia era formada 
por deuses e criaturas sobrenaturais. Assim como fez o povo romano, o asteca foi 
acrescentando à sua crença divindades das populações que eram conquistadas. Eles 
acreditavam que os deuses gostavam de sacrifícios, que geralmente eram realizados 
com prisioneiros de guerra. Segundo eles, era uma honra dar a vida por um deus.
Os sacrifícios humanos eram feitos, além de prisioneiros de guerra, com 
escravos e, particularmente, crianças; órfãos e filhos ilegítimos eram comprados 
especialmente para a ocasião.
Antes da influência tolteca, porém, os sacrifícios de animais devem ter sido 
muito mais comuns do que de humanos, e perus, cachorros e iguanas estavam 
entre as espécies consideradas apropriadas para oferendas aos deuses.
Nos sacrifícios humanos, os sacerdotes eram auxiliados por quatro homens mais 
velhos, conhecidos como chacs, em honra ao deus da chuva, Chac.
Esses homens seguravam os braços e pernas da vítima enquanto seu peito era 
aberto pelo nacom, um comandante militar, que arrancava o coração ainda pulsante. 
Também estava presente o chilam, xamã, que em transe recebia mensagens dos 
deuses, e cujas profecias eram interpretadas pelos sacerdotes.
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UNIDADE Pensamento Filosófico
Vejam um exemplo de arte Asteca.
Fonte: Wikimedia Commons
Claro que temos muitos outros exemplos artísticos, quer sejam artes plásticas, 
visuais e literárias, envolvendo temas míticos, mas a intenção aqui foi apenas ilustrar 
algumas reproduzindo diferentes culturas ancestrais.
Hinduísmo
Há aproximadamente 3,5 mil anos, as comunidades radicadas na região do Vale do Indo 
– atual Norte da Índia – começaram a organizar um dos sistemas religiosos mais antigos 
de que se tem notícia na História da Humanidade: o Hinduísmo. Ao longo de muitos 
séculos, suas crenças foram transmitidas, oralmente, de geração em geração, culminando 
em transcrições nos Vedas, cujo conteúdo é a compilação de hinos e preces considerados o 
primeiro livro sagrado da História da Religião, composto de quatro volumes de textos em 
versos que explicam a unidade e a variedade das múltiplas correntes do Hinduísmo.
Por meio de seus ensinamentos mais importantes, o conjunto de livros é sagrado para 
mais de 1 bilhão de adeptos que seguem seitas diferenciadas entre si, a ponto de serem 
monoteístas, politeístas ou panteístas e, mesmo assim, integrarem a mesma Religião.
A primeira versão em papel dos Vedas provavelmente foi no século II a.C., quando o 
povo hindu desenvolveu um sistema de escrita. Historiadores indianos e especialistas 
em História da Índia contam que estima-se que os quatro Vedas – RigVeda, YajurVeda, 
SamaVeda e AtharvaVeda – que teriam sido compilados entre 1490 e 900 a.C. Todavia, 
seja qual for a sua origem, é nos textos védicos que estão os principais conceitos e 
símbolos do Hinduísmo como, também, os deuses, as lendas e os ensinamentos que lhe 
dão forma e unidade à Religião.
Atenção
Não se deve confundir os termos hindu e indiano. Os habitantes da Índia são os indianos, 
entre os quais aqueles que adotam o Hinduísmo, como religião,são os hindus.
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Olmecas
Olmeca é a designação do povo e da civilização que estiveram na origem da antiga cultura 
pré-colombiana da Mesoamérica e que se desenvolveram nas regiões tropicais do centro-
sul do atual México durante o pré-clássico, próximo de onde hoje estão localizados os 
estados mexicanos de Veracruz e Tabasco, no Istmo de Tehuantepec, numa zona designada 
área nuclear olmeca. 
Segundo Diehl (2004), o período clássico dos Olmecas é geralmente considerado de 1200 
d.C. a 400 d.C., embora alguns artefatos encontrados datem próximo de 1500 a. C.
A cultura olmeca fl oresceu nesta região e se crê que tenha sido a civilização-mãe de todas 
as civilizações mesoamericanas que se desenvolveram posteriormente, como os astecas. No 
entanto, desconhece-se a sua exata fi liação étnica, ainda que existam numerosas hipóteses 
colocadas para tentar resolver esta questão.
A origem Olmeca intriga estudiosos desde os três Colossais Zapotes, gigantes cabeças 
humanas esculpidas em pedras basálticas, descobertas em 1862; hoje já são 17 cabeças 
descobertas, datando de 1500 a.C. a 400 a.C., a menor com 1,47 m, e a maior com 3,40 m 
de altura.
Desde estas descobertas, a cultura e a arte Olmeca vêm sendo atribuídas a viagens 
marítimas africanas ou asiáticas de egípcios, núbios, fenícios, japoneses, chineses ou outros 
povos antigos.
Mas para Diehl, como frequentemente acontece, a verdade é infi nitamente mais lógica e 
menos romântica: os olmecas são nativos americanos que criaram uma cultura única no 
sudeste do México, no Istmo de Tehuantepec.
Arqueologistas agora buscam traços de uma cultura pré-Olmeca. Assim, Diehl descarta 
qualquer teoria e evidência de contato transoceânico. Entretanto, outros estudiosos ainda 
veem semelhanças étnicas e culturais dos Olmecas com povos de outro lado do oceano. 
Pesquisas mais à frente devem desvendar isso.
Alguns teóricos explicam o mito pela função que desempenham no cotidiano da 
comunidade primitiva ou tribo.
Segundo Aranha (2009), podemos destacar alguns exemplos:
• Origem da agricultura: para o mito indígena tupi, a mandioca, alimento 
básico da tribo, nasce do túmulo de uma criança chamada Mandi; no mito 
grego, Perséfone (deusa das ervas, frutas e flores) é levada por Hades (deus 
supremo dos mortos) para um castelo tenebroso, mas a pedido da mãe Deméter 
(deusa da agricultura) retorna em certos períodos. Este mito simboliza o trigo 
enterrado como semente e renascendo como planta;
• A fertilidade das mulheres: para o aruntas (povos nativos da Austrália), os 
espíritos dos mortos esperam a hora de renascer e penetram no ventre das 
mulheres quando elas passam por certo lugares; o mesmo podemos dizer 
sobre a lenda amazônica do boto cor de rosa;
• O caráter mágico das danças e dos desenhos: como a dança de algumas 
tribos indígenas como ritual para fazer chover e os registros pictóricos da 
Arte Rupestre, pinturas em cavernas feitas pelos homens pré-históricos, 
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UNIDADE Pensamento Filosófico
representando capturas de animais. Na opinião de Aranha, talvez não o fizessem 
para demonstrar suas habilidades pictóricas, mas para agir magicamente e 
garantir de antemão o sucesso nas caçadas; essa suposição se deve ao fato de 
que geralmente os desenhos eram feitos nas partes mais escuras da caverna. 
Eliade (2010) também é da opinião de que essas grutas eram uma espécie 
de santuário, por serem em geral inabitadas e as pinturas ficarem em lugares 
quase inacessíveis. Um exemplo são as famosas pinturas das Cavernas de 
Lascaux, França, que datam aproximadamente de 15 mil anos atrás, obras-
primas da arte paleolítica, que ficam numa galeria inferior, cujo acesso é por 
corda através de um poço de cerca de 7 metros de profundidade.
Fonte: Wikimedia Commons
O Que Dizem Alguns Estudiosos sobre o Papel do Mito
O mito tem diversas definições, que variam segundo o autor. Um dos maiores 
mitólogos do século XX, o romeno Mircea Eliade, comenta que seria difícil encontrar 
uma definição do mito que fosse aceita tanto por eruditos, quanto acessível aos 
não-especialistas.
E se questiona se haveria uma única definição que contemplasse todos os tipos 
e todas as funções do mito. Entretanto, afirma que o mito é uma realidade cultural 
extremamente complexa, que pode ser abordada e interpretada por perspectivas 
múltiplas e complementares.
E completa:
A definição que a mim, pessoalmente, me parece a menos imperfeita, 
por ser a mais ampla, é a seguinte: o mito conta uma história sagrada; 
ele relata um acontecimento ocorrido no tempo primordial, o tempo 
fabuloso do “princípio”. Em outros termos, o mito narra como, graças 
às façanhas dos Entes Sobrenaturais, uma realidade passou a existir, seja 
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uma realidade total, o Cosmo, ou apenas um fragmento: uma ilha, uma 
espécie vegetal, um comportamento humano, uma instituição. É sempre, 
portanto, a narrativa de uma “criação”: ele relata de que modo algo foi 
produzido e começou a ser. O mito fala apenas do que realmente ocorreu, 
do que se manifestou plenamente. Os personagens dos mitos são os 
Entes Sobrenaturais. Eles são conhecidos sobretudo pelo que fizeram 
no tempo prestigioso dos “primórdios”. Os mitos revelam, portanto, 
sua atividade criadora e desvendam a sacralidade (ou simplesmente 
a “sobrenaturalidade”) de suas obras. Em suma, os mitos descrevem 
as diversas, e algumas vezes dramáticas, irrupções do sagrado (ou do 
“sobrenatural”) no Mundo. É essa irrupção do sagrado que realmente 
fundamenta o Mundo e o converte no que é hoje. E mais: é em razão 
das intervenções dos Entes Sobrenaturais que o homem é o que é hoje, 
um ser mortal, sexuado e cultural. [...] mas é importante frisar, desde já, 
um fato que nos parece essencial: o mito é considerado uma história 
sagrada e, portanto, uma “história verdadeira”, porque sempre se refere 
a realidades. O mito cosmogônico é “verdadeiro” porque a existência do 
Mundo aí está para prová-lo; o mito da origem da morte é igualmente 
“verdadeiro” porque é provado pela mortalidade do homem, e assim por 
diante (ELIADE, 1972, p.9). 
Para o antropólogo Claude Levy-Strauss, o mito é a história de um povo, é a 
identidade primeira e mais profunda de uma coletividade que se quer explicar.
O mitólogo e antropólogo americano Joseph Campbell escreve que “os mitos 
são metáforas da potencialidade espiritual do ser humano, e os mesmos poderes 
que animam nossa vida animam a vida do mundo.
Mas há também mitos e deuses que têm a ver com sociedades específicas ou 
com as deidades tutelares da sociedade” (CAMPBELL, 1991, p.37).
Em outras palavras, ele afirma que há duas espécies totalmente diferentes de 
Mitologia: a mitologia que relaciona o homem com sua própria natureza e com 
o mundo natural, da qual é parte, e a Mitologia estritamente sociológica, que liga 
o homem a uma sociedade em particular: não é apenas um homem natural, é 
membro de um grupo particular.
Nesta frase de Campbell, já temos alguma indicação sobre como devemos 
encarar os mitos, como uma Mitologia, ou seja, o estudo dos mitos lida com os 
mitos nos termos que se mostram mais adequados ao conhecimento de uma época 
– de sua própria época.
Mircea Eliade (1907-1986), historiador romeno, o mais destacado especialista de religiões 
no mundo contemporâneo, dedicou toda uma vida a estudar os mais diferentes credos.
Entre suas obras, destacamos: O sagrado e o profano: a essência das religiões, O mito do 
eterno retorno: arquétipos e repetição, Aspectos do mito e História das crenças e ideias 
religiosas, uma obra monumental, a mais importante e cultuada de sua carreira, dividida 
em três volumes.
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Nesta última, o autor empreende, em ordem cronológica, a análise das manifestações do 
sagrado nas sociedades humanas, com um estudo singular dos momentos criadores das 
mais diferentes tradições religiosas do Oriente e do Ocidente.
Seu percurso começa na pré-história, passando pelo 
confucionismo, taoísmo, surgimento de Cristo e da 
IgrejaCatólica e culminando, no terceiro volume, 
com o surgimento de Maomé, a difusão do islã no 
Oriente, sua expansão até a Europa e a reação cristã, 
com as Cruzadas, incluindo, ainda, estudos dedicados 
à mística judaica, às religiões euro-asiáticas e 
tibetanas, chegando à época das Reformas com seus 
principais criadores, Calvino e Lutero.
Os fãs de Harry Potter e de O Senhor dos Anéis 
vão gostar de saber que foi na obra do filósofo e 
historiador das religiões Mircea Eliade que os autores 
desses dois best-sellers encontraram a matéria prima 
para compor suas histórias, tão cheias de magia. Fonte: Wikimedia Commons
Claude Lévi-Strauss (1908-2009), antropólogo e filósofo, nasceu na Bélgica e viveu na 
França. É considerado fundador da Antropologia estruturalista e um dos grandes pensadores 
do século XX.
Na década de 1930, foi professor da Universidade 
de São Paulo e pesquisou tribos indígenas do Brasil 
Central. Entre suas obras, podemos citar: A vida fa-
miliar e social dos índios nhambiquaras, Tristes 
trópicos, Antropologia estrutural, O pensamento 
selvagem.
Meu único desejo é um pouco mais de respeito para 
o mundo, que começou sem o ser humano e vai ter-
minar sem ele – isso é algo que sempre deveríamos 
ter presente
(LÉVI-STRAUSS, aos 97 anos, em 2005, quando 
recebeu o 17º Prêmio Internacional Catalunha, 
na Espanha). Fonte: Wikimedia Commons
Joseph Campbell (1904-1987) nasceu e cresceu em White Plains, Nova Iorque. Fascinado 
pela cultura nativa americana, tornou-se especialista nos vários aspectos dessa cultura, o 
que o conduziu a uma vida dedicada ao mito e ao estudo e mapeamento das semelhanças 
que aparentemente existiam entre as mitologias das mais diversas culturas humanas.
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Sua obra O Herói de Mil Faces foca as ideias el-
ementares da Mitologia, baseando-se principal-
mente na Psicologia, enquanto seu extenso tra-
balho de quatro volumes As Máscaras de Deus 
cobre a Mitologia ao redor do mundo, da Mi-
tologia antiga à moderna, focando nas variações 
históricas e culturais do monomito e se baseia 
mais na Antropologia e na História.
Campbell faleceu aos 83 anos em sua casa em 
Honolulu, Havaí, pouco depois de completar a 
filmagem do documentário O Poder do Mito, com 
Bill Moyers.
Fonte: Wikimedia Commons
Outras Considerações sobre o Mito
O caráter inconsciente do mito é objeto de estudo de pesquisas da linha 
psicológica. Um dos mais conhecidos, Sigmund Freud, fundador da psicanálise, e 
seu discípulo e dissidente Carl Jung, enfatizam o caráter existencial e inconsciente 
do mito, como revelador do sonho, da fantasia e dos desejos mais recônditos do 
ser humano.
Freud, por exemplo, ao analisar o mito de Édipo, realça o amor e ódio 
inconsciente que permeiam a relação familiar.
Já Jung se refere ao inconsciente coletivo encontrável em grupos de pessoas em 
qualquer época ou lugar.
Uma questão que se coloca: existe o mito atual?
Certamente que sim. Os contos de fadas, os super heróis de filmes ou de história 
em quadrinhos, as personalidades como artistas famosos, líderes políticos e atletas 
campeões ou de destaque, entre outros.
Há de se chamar atenção para o apego exacerbado a crenças ou ideologias 
que levam ao prevalecimento de maniqueísmos, que em certas circunstâncias traz 
riscos de preconceitos, que é o lado obscuro do mito, como pode ser verificado 
durante o nazismo de Hitler (mito), que culminou com o genocídio de judeus, 
ciganos e homossexuais; o perigo da xenofobia, homofobia ou fanatismo de 
qualquer natureza.
Maniqueísmo: Dualismo religioso sincretista que se originou na Pérsia (numa região que 
hoje é o Iraque), fundado e propagado por Maniqueu, fi lósofo-religioso de origem irani-
ana do século III, cuja doutrina gnóstica foi amplamente difundida no Império Romano 
nos séculos III e IV d.C. Tal dualismo divide o mundo simplesmente entre Bom (ou Deus) e 
Mau (ou Demônio). Com a popularização do termo, maniqueísta passou a ser um adjetivo 
para toda doutrina fundada nos dois princípios do Bem e do Mal.
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Por outro lado, o nosso comportamento atual é repleto de rituais: casamentos, 
formaturas, comemorações de nascimento, aniversários, ano-novo, trote estudantil, 
todos representando ritos de passagem.
Além disso, carnaval, festas juninas, campeonatos de futebol etc. são carregados 
de componente mítico de manifestação do imaginário nacional e de expansão das 
forças inconscientes.
Assim, segundo Aranha (2009), vemos que o mito não se resume às lendas, 
mas faz parte da vida humana desde os seus primórdios e ainda persiste no nosso 
cotidiano como experiências possíveis do existir humano, expresso em crenças, 
temores e desejos que nos mobilizam.
A diferença é que hoje os mitos não emergem com a mesma força com que 
se impuserem nas sociedades tribais, porque o exercício da crítica racional nos 
permite legitimá-los ou rejeitá-los quando nos desumanizam, embora venhamos 
assistindo em alguns grupos ou culturas ações que beiram à barbárie.
A Necessidade do Estudo do Mito para a Filosofia
Filosofia é a busca incessante da sabedoria, baseada na verdade e na consciência 
do respeito por si mesmo e pelos outros. É um projeto de transformação pessoal, 
movido pelo sendo crítico do homem.
A Filosofia surge como espanto diante da possibilidade de estranhar o mundo e 
concebê-lo de forma racional, de ter a compreensão do ser enquanto algo natural e 
capaz de ser apreendido pelo Lógos (razão, palavra, discurso).
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A explicação mítica é contrária à explicação filosófica. A Filosofia se caracteriza 
pela procura, por meio de reflexões, discussões e argumentos, de saber e explicar 
a realidade com razão e lógica. Já o mito não explica racionalmente a realidade, 
procura interpretá-la a partir de lendas e de histórias sagradas, provocando 
argumentos muitas vezes díspares para suportar a sua interpretação.
O pensamento mítico precedeu a Filosofia. Quanto a isso, parece não haver 
dúvidas ou discordâncias. A questão que se coloca é quando tentamos saber em 
que consiste o pensamento mítico e como o podemos caracterizar. Segundo 
Campbell (1991, p.46): “Mitos e sonhos vêm do mesmo lugar. Vêm de tomadas 
de consciência de uma espécie tal que precisam encontrar expressão numa 
forma simbólica”.
Tudo indica que a primeira manifestação da consciência humana foi a consciência 
da morte. Quando o homem teve essa consciência, também teve a consciência da vida.
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Na opinião de Viviane Mosé (2014, p. 21-2), a percepção da morte e, portanto, 
da vida, fez nascer o indivíduo humano, o que o tornou distinto como espécie. 
Foi um pouco antes da extinção do Homo neanderthalensis que a inumação 
(sepultamento) passou a ser praticada sistematicamente. Na mesma época, cerca 
de 100 mil anos atrás, o Homo sapiens passou a ter como hábito enterrar e cultuar 
seus cadáveres, num clara distinção do cadáver de outros elementos. As outras 
espécies conhecem a morte e a evitam, mas por instinto de sobrevivência.
O que se evidencia no Homo Sapiens é a consciência individual da morte como 
destino inexorável, de futuro. Esta consciência que extrapola o concreto ou a 
reflexão do concreto é o sinal desse tipo de inteligência, consciente de si e que vai 
além da sobrevivência instintiva, é que distingue a espécie humana.
Vale ressaltar, entretanto, segundo Mircea Eliade (2010, p.21), que os caçadores 
primitivos consideravam os animais semelhantes aos homens, embora possuam 
poderes sobrenaturais; criam que os homens podiam se transformar em animais e 
vice versa, que as almas dos mortos podiam penetrar nos animais e que existiam 
relações misteriosas entre um homem e determinado animal, com distinções entre 
os espíritos guardiães teriomorfos (parte humana, parte animal) e as divindades 
protetoras da caça e dos caçadores.
Mesmo em tempos mais atuais, como na Mitologia tupi-guarani, encontramos 
Anhangá (ou Anhanguera), que é o protetor da caça no campo e Caaporã, da 
caça no mato.
Na cultura egípcia, quemumificava seus cadáveres, os mortos eram tratados 
como divindades.
Mas além dos egípcios, quase todas as culturas cultuam os mortos como 
intercessores entre os vivos e um Ser superior.
Algumas culturas de nativos da América e orientais veneram seus ancestrais 
de forma a garantir que tenham um bem estar contínuo em outra vida, além da 
crença de que os mortos podem influir na vida dos vivos, fazendo-lhe favores ou 
lhes dando assistência.
Na Ilíada, poema de Homero, escrito cerca de 8 séculos antes de Cristo, tão 
importante quanto defender a vida de um guerreiro, era lutar pela preservação do 
seu corpo para que pudesse receber as honras fúnebres.
Três séculos mais tarde, a tragédia Antígona, de Sófocles, trataria do mesmo 
tema: Antígona é encerrada viva em uma caverna, onde deveria permanecer até 
a morte, mas não abre mão de sepultar o irmão que, por trair a cidade, havia sido 
condenado a não receber o tratamento digno dos mortos.
31
UNIDADE Pensamento Filosófico
A Transposição do Pensamento Mítico para 
o Pensamento Filosófico
Para transpor do pensamento mítico ao pensamento filosófico necessitou-se 
de mudança estrutural do pensamento rumo à maturação racional, o que se deu de 
forma gradual.
Lembremos que originalmente a palavra grega mythos significava simples-
mente palavra ou fala, mas o termo remetia também à noção de palavra proferi-
da com autoridade.
Mudanças nessa direção já podem ser percebidas no poema do mito cosmogônico 
(descrição da origem do mundo) Teogonia, escrito por Hesíodo no século VIII a. 
C., cujas deidades representam fenômenos ou aspectos da natureza, como também 
nas histórias épicas na Ilíada de Homero, publicada nos anos 700 a.C., permeadas 
de intervenções sobrenaturais, nas quais os mythos já trazem o sentido de serem 
anúncios revestidos de autoridade, dignos de crédito e reverência.
Gradualmente, o termo foi assumindo outro sentido e, à época de Platão e 
Aristóteles, o mythos era empregado para caracterizar histórias fictícias ou absurdas 
que se afastariam do logos – isto é, do discurso racional.
Aristóteles, por exemplo, considerava a Filosofia um empreendimento 
intelectual completamente distinto das elaborações mitológicas. Na Metafísica, ao 
tratar do problema da incorruptibilidade, Aristóteles menciona Hesíodo e descarta 
peremptoriamente suas opiniões, pois, segundo ele, “não precisamos perder 
tempo investigando seriamente as sutilezas dos criadores de mitos”. 
Vale ressaltar que, para o ser humano, pensamento e linguagem têm origens 
diferentes. Inicialmente, o pensamento não é verbal e a linguagem não é intelectual. 
De acordo com Vygotsky (2002), todas as atividades cognitivas básicas do 
indivíduo ocorrem de acordo com sua história social e acabam se constituindo no 
produto do desenvolvimento histórico-social de sua comunidade (Luria, 1976). 
Portanto, as habilidades cognitivas e as formas de estruturar o pensamento do 
indivíduo não são determinadas por fatores congênitos, mas resultado das ativi-
dades praticadas de acordo com os hábitos sociais da cultura em que o indivíduo 
se desenvolve.
Não é intenção entrar na discussão da questão sobre antecedente e consequente 
entre pensamento e linguagem, mas vamos assumir a existência de uma íntima 
relação entre estes dois conceitos. O certo é que há um longo período de tempo 
entre o gradual aparecimento do homem na Terra e o gradual aparecimento do 
homem utilizador da razão abstrata.
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Podemos estimar em cerca de 70 mil anos para o definitivo estabelecimento do 
Homo Sapiens nas planícies europeias. Também podemos estimar em cerca de 
3 mil anos para o estabelecimento definitivo, na civilização grega clássica, do uso 
preferencial do discurso racional como instrumento de conhecimento do homem 
sobre a realidade.
Nesse ínterim, o homem aprendeu a modelar a pedra, o barro, a madeira, o 
ferro, construiu variados tipos de casas em função dos materiais que tinha à mão, 
estabeleceu regras de sociedade, como as de casamento e de linhagem familiar, 
distinguiu as plantas e os animais, descobriu o fogo, a agricultura, a arte da pesca, 
da caça coletiva etc.
No plano estritamente filosófico, interessa-nos, sobretudo, a descoberta desse 
instrumento que permitiu ao homem acelerar o desenvolvimento do processo de 
conhecimento da realidade por via da conservação das descobertas transmitidas de 
geração em geração: a palavra, a linguagem.
No processo de desenvolvimento cognitivo, a linguagem tem papel crucial 
na determinação de como se aprende a pensar, vez que formas avançadas de 
pensamento são transmitidas pelas palavras.
É pela palavra que se vai condensar a experiência que as mãos e os olhos 
vão adquirindo ao longo de gerações. A palavra surge, assim, como dotada de 
uma força energética, que sai de dentro, que não se toca e não se vê, mas que 
se conserva para além do ciclo da vida e da morte, capaz de por si só reevocar 
acontecimentos passados, que se estabelecem como modelos de ação para o 
presente, e igualmente capazes de prefigurar o futuro, forçando-os a serem 
conformes aos desejos humanos.
Dessa forma, foi pelo o uso da palavra que o homem primitivo desenvolveu e 
sintetizou sua capacidade de apreensão de conhecimentos da realidade que o cerca.
Assim, o chamado Mito Clássico é o repositório de narrativas, longas ou breves, 
que as sociedades antigas, anteriores à Grécia clássica, ou as mais recentes e até 
atuais sociedades primitivas, legaram,-nos, contemplando sua secular experiência 
de vida.
O modo como encaravam a dualidade vida e morte, os ciclos de renascimento 
da natureza, o conhecimento sobre a flora e a fauna da sua região, a forma como 
viam e interpretavam os astros no céu, o processo cíclico do dia e da noite, os 
atos de nascimento, de reprodução e de casamento, bem como tudo o que dizia 
respeito à vida quotidiana e às regras pelas quais se relacionavam entre si.
Pode-se dizer que a Filosofia surge como uma espécie de rompimento com a visão 
mítica do mundo. Enquanto os mitos se organizavam em narrações, imagens e seres 
particulares, a Filosofia inaugurava o discurso argumentativo, abstrato e universal. 
33
UNIDADE Pensamento Filosófico
Além disso, ao contrário dos autores de mitos, os filósofos tentaram com afinco 
elaborar concepções de mundo que fossem isentas de contradições e imperfeições 
lógicas (veremos que nem sempre isto ocorre, gerando polêmicas discussões e até 
novos paradigmas).
A retórica, que significa a arte de bem falar e de bem argumentar, teria 
nascido no século V a.C., na Sicília, e foi introduzida em Atenas pelo sofista 
Górgias, desenvolvendo-se nos círculos políticos e judiciais da Grécia antiga e 
atingiu o apogeu no mesmo século, com a democracia ateniense.
Nessa época, na cidade-estado de Atenas, a argumentação era um fator decisivo 
de poder. Ao se dedicarem às coisas públicas, os cidadãos precisavam de boa 
capacidade de argumentação para aprovar suas ideias nas discussões políticas.
Nesse contexto, os sofistas – grupos de mestres que viajavam de cidade em 
cidade, realizando aparições públicas para atrair estudantes, de quem cobravam 
taxas para oferecer educação – encontraram em Atenas o ambiente favorável para 
discutir e questionar a tradição, o conhecimento e até a religião. 
Vale um breve parêntese para acrescentar que a ideia do nascimento do Direito 
teve seus primórdios na Grécia e surge precisamente ligado à Retórica.
Pesquisadores dessa área do saber indicam que a normatividade se exprime de 
múltiplas formas e se mescla com diversas manifestações do mágico, do sagrado e 
do poder.
Apesar de se firmarem na Grécia as mais velhas raízes do Direito propriamente 
dito, foi em Roma, sob a inspiração helênica, que o Direito floresceu prática e 
historicamente como entidade epistêmica autônoma.
Filosofia Associada à Grécia Antiga
Por conta das considerações aqui expostas, a Filosofia fica muito associada à 
Grécia antiga, ainda que possamos identificar muitos e densos pensamentos em 
diversospovos, como os egípcios, japoneses, chineses e hindus, entre outros.
Por exemplo, na Antiga China, tivemos a figura de Confúcio (551-479 a.C.), 
pensador chinês, cuja Filosofia, conhecida como Confucionismo, sublimava uma 
moralidade pessoal e governamental, a justiça, a sinceridade e procedimentos 
corretos nas relações sociais.
Confucionismo, então, como Filosofia, é a ideologia política, social e religiosa 
defendida por esse pensador chinês.
Confúcio é mais um filósofo do que um pregador religioso. Suas ideias sobre 
como as pessoas devem comportar-se e conduzir sua espiritualidade se fundem 
aos cultos religiosos mais antigos da China, que incluem centenas de imortais, 
considerados deuses, criando um sincretismo religioso. Confúcio expressou o 
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conhecido princípio, “não faças ao outro o que não queres que te façam a ti”, 
uma das versões mais antigas da ética da reciprocidade.
O Confucionismo foi a doutrina oficial na China durante quase 2 mil anos, do 
século II até o início do século XX. Fora da China, a maioria dos confucionistas está 
na Ásia, principalmente no Japão, na Coréia do Sul e em Cingapura.
As primeiras críticas ao Confucionismo surgem com a República: a doutrina 
é considerada conservadora e associada às estruturas feudais. A perseguição aos 
confucionistas acirra-se após a ascensão dos comunistas ao poder, em 1949, 
sobretudo durante a Grande Revolução Cultural Proletária (1966-1976, comandada 
por Mao TséTung.
Vale lembrar, também, outros sábios que vieram do Oriente no século VI a.C., 
à mesma época em que a Filosofia surgiu na Grécia, como Zaratustra, na Pérsia, 
LaoTsé na China e Gautama Buda, na Índia.
Há muito se discute se haveria uma “Filosofia” como um sistema codificado 
de preceitos, fora do que se entende como Filosofia no Ocidente, baseado nos 
sistemas oriundos da antiga escolástica grega, com estudos sobre epistemologia, 
ética, moral e que teriam dado toda a base do pensamento ocidental, passando 
por Sócrates, Platão, Aristóteles, São Tomás de Aquino, Espinosa, Kant e Husserl, 
entre muitos outros não menos importantes.
Mesmo reconhecendo a importância e relevância de sábios que viveram nas mes-
mas épocas em outros lugares do Oriente e África, encontramos opiniões diferentes.
Os que preconizam a inexistência de uma Filosofia de bases não gregas justificam 
que todos os sistemas de pensamento de origem oriental (incluindo a filosofia 
chinesa) e africana, são basicamente acerca de conceitos teológicos, ou seja, mais 
vinculados à religião do que propriamente à reflexão filosófica.
Os que defendem, argumentam que as filosofias do Oriente e África também 
estiveram fora da esfera exclusivamente teológica, abordando temas de Ética, 
Estética, entre outros, e dizer que somente o Ocidente possui Filosofia seria usar de 
um argumento não apenas logicamente falho, mas também eurocêntrico, racista e 
preconceituoso.
Em sua obra História da Filosofia, o filósofo alemão Georg Wilhelm Friedrich 
Hegel (1770-1831), um dos criadores do Idealismo Alemão, enfatiza a distinção 
entre “Filosofia Oriental” e “Filosofia Grega”, segundo a qual a primeira é 
representada por ser religião contrastando com a segunda, que Hegel descreve 
como uma ruptura frente à religião.
O fato é que o pensamento mítico esteve (e está) presente em todas as culturas 
dentro do contexto de cada época e de cada povo ou grupo cultural. Entretanto, 
como uma característica própria da Filosofia, para todas as questões postas 
encontramos opiniões diferentes e mesmo divergentes.
35
UNIDADE Pensamento Filosófico
Esse é o caso para a questão que estamos querendo colocar: o desenvolvimento 
do pensamento reflexivo teria decretado a morte da consciência mítica?
Para compreender as considerações a seguir vamos avançar um pouco e lembrar 
que a Ciência surge a partir da Filosofia, quando o Homem, ao reorganizar as 
inquietações que assolam o campo das ideias, realiza experimentos para interagir 
com sua própria realidade, fazendo uso de instrumentos e procedimentos com os 
quais equaciona o campo das hipóteses e exercita a razão.
Dessa forma, são organizados os padrões de pensamentos que formulam as 
diversas teorias agregadas ao conhecimento humano. Contudo, pela própria 
natureza, o conhecimento científico torna-se susceptível às descobertas de novos 
artefatos ou instrumentos que aprimoraram o campo da observação e manipulação, 
o que implica tanto a ampliação quanto o questionamento de tais conhecimentos.
 Voltando à questão, antecipamos as ideias defendidas por alguns filósofos cujas 
linhas de pensamento evidenciam respostas a essa questão, sob enfoques distintos 
e mesmo contraditórios.
Augusto Comte (1798-1857), fundador do positivismo, responde 
afirmativamente a esta pergunta. Seu sistema filosófico tem como núcleo a teoria 
dos três estados, segundo o qual o espírito humano na sua evolução passa por três 
etapas: a teológica, a metafísica e a positiva.
Em sua opinião, as chamadas ciências positivas (baseada em fatos, dados de 
experimentação) surgem quando a Humanidade atinge a terceira etapa. Para Comte, 
as ciências se ordenaram hierarquicamente da seguinte maneira: Matemática, 
Astronomia, Física, Química, Biologia, Sociologia; cada uma tomando por base a 
anterior e atingindo nível mais elevado de complexidade. Assim, opõe radicalmente 
o mito e a razão.
Todavia, encontramos outros pensadores com ideias divergentes desta. Segundo 
Aranha (2009), as primeiras fissuras da crise da razão surgiram no século XVIII, 
com o ceticismo do filósofo e historiador britânico, nascido na Escócia, David 
Hume (1711-1776) e se tornaram mais agudas com o criticismo do filósofo 
prussiano Immanuel Kant (1724-1804), considerado o último grande filósofo da 
era moderna e que abalou a Metafísica.
Hume, ao afirmar que todo conhecimento só se adquire empiricamente, nega a 
possibilidade de uma ciência metafísica e seu ceticismo fez com que Kant declare, 
em sua obra Crítica da Razão Pura, que foi o filósofo escocês quem o fez despertar 
de seu “sono dogmático”.
No final do século XIX, a crise da razão se acentuou e delineou-se por todo 
século XX, o que levou à necessidade de se repensar a Filosofia. Ainda, segundo 
Aranha, pensadores influentes como o alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900) e 
o dinamarquês Sören Kierkegaard (1813-1855) são alguns que puseram à prova 
os alicerces da razão.
Kierkegaard foi um dos precursores do existencialismo contemporâneo e severo 
crítico da Filosofia moderna. Ele retoma questões de razão e fé argumentando 
que o ser humano, desde Descartes até Hegel, não é visto como existente, mas 
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como uma abstração – reduzida ao conhecimento objetivo – quando na verdade a 
existência subjetiva, pela qual o indivíduo toma consciência de si, é irredutível ao 
pensamento irracional e, portanto, possui valor filosófico fundamental.
Já Nietzsche afirma que o conhecimento resulta de um compromisso entre 
instintos e, pelo procedimento genealógico, ao compreender a avaliação que é 
feita destes instintos, descobre-se que o único critério que se impõe é a vida. O 
critério da verdade, portanto, deixa de ser um valor racional para adquirir um valor 
de existência.
Já os filólogos clássicos, o também poeta inglês Francis Macdonald Cornford 
(1874-1943), autor da obra Princípio do Saber: as origens do pensamento 
filosófico grego, e o escocês John Burnet (1863-1928), autor do livro A aurora 
da filosofia grega, defendem a continuidade na linha de pensamento entre o Mito 
e a Filosofia. 
O historiador e antropólogo francés Jean-Pierre Vernand (1914-2007), 
especialista na Grécia antiga, particularmente na Mitologia grega, sintetiza tanto 
o pensamento de Burnet como de Cornford sobre a dependência da Filosofia em 
relação à Mitologia na frase “os filósofos não precisaram inventar um sistema de 
explicação do mundo: acharam-no já pronto”.
Acerca do “mito vivo”, Eliade (1972) comenta:
Todos sabem que, desde os tempos de Xenófanes (cerca de 565-470) 
— quefoi o primeiro a criticar e rejeitar as expressões “mitológicas” 
da divindade utilizadas por Homero e Hesíodo — os gregos foram 
despojando progressivamente o mythos de todo valor religioso e 
metafísico. Em contraposição ao logos; assim como, posteriormente, 
a história, o mythos acabou por denotar tudo “o que não pode existir 
realmente”. (...) Não é nesse sentido — o mais usual na linguagem 
contemporânea — que entendemos o «mito». Mais precisamente, não é 
o estádio mental ou o momento histórico em que o mito se tornou uma 
«ficção» que nos interessa. (...) as sociedades onde o mito é — ou foi, 
até recentemente — “vivo” no sentido de que fornece os modelos para 
a conduta humana, conferindo, por isso mesmo, significação e valor à 
existência. Compreender a estrutura e a função dos mitos nas sociedades 
tradicionais não significa apenas elucidar uma etapa na história do 
pensamento humano, mas também compreender melhor uma categoria 
dos nossos contemporâneos (ELIADE, 1972, p. 6)
Como podemos ver só por esses exemplos, as discussões filosóficas não se 
esgotam: avançam baseadas em ideias anteriores, mas sempre que surge uma nova 
corrente filosófica, aceita por determinado tempo por uma ou várias sociedades, 
mais à frente é sobrepujada por outras correntes, com ideias diversas e até mesmo 
contrárias, na maioria das vezes coexistindo entre si.
Portanto, vimos que não é o caso de “decretar morte” a nenhum tipo de 
pensamento, mas tomá-lo como processo fundamental da evolução das ideias.
37
UNIDADE Pensamento Filosófico
Nesse sentido, o estudo do mito e do pensamento mítico é de fundamental 
importância para o desenvolvimento do pensamento filosófico e, portanto, para 
o entendimento da Filosofia com sua multiplicidade de correntes de pensamento.
Ainda para reforçar esta ideia, na crítica “Mito e Filosofia: Continuidade ou 
ruptura?”, Silva (2005) afirma que diante do impasse entre as diversas interpretações, 
isto é, de querer sustentar a tese de que a Filosofia seria um “Milagre grego” ou 
a tese da continuidade entre Mito e Filosofia, seria mais prudente de nossa parte 
determinar o próprio ato de filosofar. E, a partir daí, verificar-se o que a Filosofia 
traz de novo em relação ao Mito e o que o pensamento mítico deixa a desejar para 
a Filosofia.
A grande questão é que o discurso mítico diz diferentemente o que a Filosofia 
viria a dizer depois. Não há como negar esta evidência, pois tanto o Mito como a 
Filosofia tratam das mesmas preocupações.
Silva (2005) ainda completa que não tem dúvidas de o quando a Filosofia se 
distanciou da explicação Mitológica a ponto de se manter distante o bastante com 
o surgimento de novos problemas que o Mito ainda não tematizava.
Afirma, ainda, não ter dúvidas de que o discurso mítico é a base sem a qual 
não haveria Filosofia, o que não quer dizer que no seu interior a Filosofia carregue 
consigo as mesmas características do pensamento mítico.
Há, sim, uma mudança de enfoque oriunda de uma nova mentalidade adquirida 
pelos Gregos, que adquire um estatuto de credibilidade não alcançado pelo discurso 
mítico. A originalidade da Filosofia se deve ao fato de que esta se detém no real, ou 
seja, naquilo que o pensamento apreende sem intervenção alguma.
Portanto, o que marca o surgimento da Filosofia é o seu caráter racional. Os 
homens passam de uma explicação mitológica do mundo para uma explicação 
baseada em argumentos racionais. Ao perceberem contradições e limitações dos 
mitos, racionalizam as narrativas míticas, transformando-as em uma explicação 
inteiramente nova e diferente, baseada na razão.
Algumas Correntes Filosóficas
Apresentamos aqui uma síntese de algumas correntes filosóficas, notadamente 
as que foram citadas no texto teórico, visando a dar uma ideia dos pensamentos e 
pensadores determinantes em cada uma delas.
É claro que é só uma noção geral, para conhecimento.
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Racionalismo
A palavra racionalismo deriva do latim ratio, que significa razão. O termo 
designa a doutrina que deposita total e exclusiva confiança na razão humana 
como instrumento capaz de conhecer a verdade. Os racionalistas afirmam que a 
experiência sensorial é uma fonte permanente de erros e confusões sobre a complexa 
realidade do mundo. Somente a razão humana, trabalhando com os princípios 
lógicos, pode atingir o conhecimento verdadeiro, capaz de ser universalmente 
aceito. Para o racionalismo, os princípios lógicos fundamentais seriam inatos na 
mente do homem; daí por que a razão deve ser considerada como a fonte básica do 
conhecimento. O racionalismo é baseado nos princípios da busca da certeza e da 
demonstração, sustentadas por um conhecimento a priori, ou seja, conhecimentos 
que não vêm da experiência e são elaborados somente pela razão.
O filósofo, físico e matemático francês René Descartes (1596-1650) foi 
racionalista convicto; procurou combater os céticos e reabilitar a razão. Os céticos 
duvidavam ou negavam mesmo que a razão pudesse conduzir ao conhecimento.
Descartes procura demonstrar que a razão é a origem do conhecimento 
humano. Para ele: “nunca nos devemos deixar persuadir senão pela evidência de 
nossa razão”. Descartes, por vezes chamado de “o fundador da Filosofia moderna” 
é considerado um dos pensadores mais importantes e influentes da História do 
Pensamento Ocidental. Inspirou contemporâneos e várias gerações de filósofos 
posteriores; boa parte da Filosofia escrita a partir de então foi uma reação às 
suas obras ou a autores supostamente influenciados por ele. Muitos especialistas 
afirmam que, a partir de Descartes, inaugurou-se o racionalismo da Idade Moderna. 
Décadas mais tarde, surgiria nas Ilhas Britânicas um movimento filosófico que, de 
certa forma, seria o seu oposto – o empirismo, com John Locke e David Hume.
Empirismo
A palavra empirismo tem sua origem no grego empeiria, que significa 
experiência sensorial. Defende que todas as nossas ideias são provenientes de 
nossas percepções sensoriais (visão, audição, tato, paladar, olfato).
Ao longo de toda a história da Filosofia, diversos pensadores abordaram a 
questão, dando importância ao conhecimento da experiência (da sensibilidade) ao 
invés de apenas ao intelectual. Entretanto, o principal defensor do empirismo foi 
John Locke (1632-1704), filósofo inglês. 
O empirismo defendido ficou conhecido como empirismo britânico e influenciou 
diversos filósofos. Locke defendeu que a experiência forma as ideias em nossa 
mente, na introdução do seu livro Ensaio, acerca do entendimento humano, ele 
escreve que “só a experiência preenche o espírito com ideias”.
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UNIDADE Pensamento Filosófico
Para argumentar a favor, Locke critica o conceito de que já existem ideias em nos-
sa mente (ideias inatas). Ele procura demonstrar que qualquer ideia que temos não 
nasce conosco, mas se inicia na experiência. Ressalta que “nada vem à mente sem 
ter passado pelos sentidos”. A experiência, assim, seria uma apreensão da realidade 
externa através dos sentidos, que forma a base necessária de todo conhecimento.
Depois de Locke, o empirismo britânico conheceu a reformulação feita pelo 
irlandês George Berkeley (1685-1753).
Para ele, o que conhecemos do mundo não é realmente o que o mundo é. O 
mundo não é o que percebemos dele. Podemos perceber o mundo através dos 
sentidos, mas não conhecê-lo de verdade.
Mais radical do que o empirismo de Berkeley está o que pensou David Hume 
(1711-1776), natural de Edimburgo, Escócia. De acordo com Hume, só existe o 
que percebemos. Todas as relações que fazemos entre o que conhecemos não são 
conhecimentos verdadeiros. Podemos conhecer uma bola e podemos conhecer 
um pé, porém se chutamos uma bola não há nada que confirme que a bola se 
move porque foi o pé que a moveu. Com isto, Hume critica as Ciências, pois 
trabalham com a ideia de causa e efeito. Essa relação de causalidade (causa-efeito) 
é uma relação entre ideias e é, portanto, não verdadeira. Tudo o que pensamos ser 
verdadeiro, como a causa do movimento da bola, é imaginação.

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