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MÓDULO – FUNDAMENTOS DE SAÚDE DISCIPLINA -Epidemiologia e processos de saúde doença AULA 05 – Vigilância Epidemiológica Professora Ivana Maria Saes Busato Introdução: Nessa aula, vamos entender a Vigilância Epdemiológica como informação para ação, neste sentido, pretende-se que a epidemiologia aplicada possa instrumentalizar profissionais de saúde na interpretação do diagnóstico da situação de saúde, analisar as condições de vida e saúde, identificar os problemas que exijam maior atenção, além de apontar alternativas na organização dos serviços, e do planejamento na gestão dos serviços. Estudando o conceito, as funções, e os tipos de dados coletados na vigilância epidemiológica. Contextualizando: No Sistema Único de Saúde a vigilância epidemiológica integra a Vigilância em Saúde. A vigilância em saúde tem por objetivo a observação e análise permanente da situação de saúde da população, articulando-se em um conjunto de ações destinadas a controlar determinantes, riscos e danos à saúde de populações que vivem em determinados territórios, garantindo-se a integralidade da atenção, o que inclui tanto a abordagem individual como coletiva dos problemas de saúde. O conceito de vigilância em saúde inclui: a vigilância epidemiológica (controle das doenças transmissíveis; a vigilância das doenças e agravos nãotransmissíveis), a vigilância da situação de saúde, vigilância ambiental em saúde, vigilância da saúde do trabalhador e a vigilância sanitária. A vigilância epidemiológica permite o conhecimento da situação de saúde das pessoas e da população, importante para o conhecimento, a detecção ou prevenção de qualquer mudança nos fatores determinantes e condicionantes de saúde individual ou coletiva, e tem como finalidade recomendar e adotar as medidas de prevenção e controle das doenças ou agravos. (BRASIL, 2006 a) O Sistema Único de Saúde na Lei Federal n° 8.080/90 define a vigilância epidemiológica como “um conjunto de ações que proporciona o conhecimento, a detecção ou prevenção de qualquer mudança nos fatores determinantes e condicionantes de saúde individual ou coletiva, com a finalidade de recomendar e adotar as medidas de prevenção e controle das doenças ou agravos”. Além de ampliar o conceito, as ações de vigilância epidemiológica passaram a ser operacionalizadas num contexto de profunda reorganização do sistema de saúde brasileiro, caracterizada pela descentralização de responsabilidades, pela universalidade, integralidade e equidade na prestação de serviços. As funções da vigilância epidemiológica são: coleta de dados; processamento de dadoscoletados; análise e interpretação dos dados processados; recomendação das medidas de prevenção e controle apropriadas; promoção das ações de prevenção e controle indicadas; avaliação da eficácia e efetividade das medidas adotadas; divulgação de informações. As atividades da vigilância epidemiológica dependem da disponibilidade de dados que sirvam para alimentar o sistema de informação, sua qualidade e confiabilidade dependem diretamente da coleta de dados gerados no local onde ocorre o evento sanitário (doença ou agravo). Essas funções da vigilância epidemiológica devem ser desempenhadas em cada um dos níveis do sistema de saúde (municipal, estadual e federal) de forma organizada e com grau de especialidade diferente em cada nível: a) Nível municipal – exerce a maioria das ações, em especial a coleta e processamento de dados b) Nível estadual – ações estratégicas e de coordenação c) Nível nacional - ações estratégicas e de coordenação, atua apenas de modo complementar, quando os problemas de saúde sob vigilância epidemiológica ultrapassam a capacidade de resolução de estados e municípios. A articulação entre estes três níveis de atuação em conjunto com de instituições do setor público e privado do Sistema Único de Saúde, compreendem o Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica.O Ministério da Saúde instituiu o Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica - SNVE, recomendação da 5ª Conferência Nacional de Saúde, realizada em 1975, por meio de legislação específica, a Lei n° 6.259/75 e o Decreto n° 78.231/76. O SNVE tem a participação de todos os seus componentes que, direta ou indiretamente, notificam doenças, agravos e eventos, prestam serviços a grupos populacionais ou orientam a conduta a ser tomada para a prevenção e controle de doenças e agravos (BRASIL, 2008 a). A vigilância epidemiológica fornece orientação técnica permanente para os profissionais de saúde, que têm a responsabilidade de decidir sobre a execução de ações de controle de doenças e agravos, disponibiliza informações atualizadas sobre a ocorrência de doenças e agravos, bem como dos fatores que condicionam a saúde de uma área geográfica ou população definida. O sistema de vigilância deve abranger o maior número possível de fontes geradoras, com regularidade e oportunidade da transmissão dos dados. Temos alguns tipos de dados e informações que alimentam o Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica, são: dados demográficos, ambientais, socioeconômicos, morbidade e de mortalidade (BRASIL, 2005 a): a) Dados demográficos, ambientais e socioeconômicos - os dados demográficos permitem saber a quantidade de pessoas, famílias existentes numa área geográfica. O número de habitantes, nascimentos e óbitos devem ser mostrados segundo características de sua distribuição: sexo, idade, situação do domicílio, escolaridade, ocupação, condições de saneamento, etc. Dados ambientais (ex: acesso ao saneamento básico) e socioeconômicos (ex: escolaridade, renda) complementam informações sobre as condições gerais de vida de uma população. b) Dados de morbidade – mostram o número de casos e sua distribuição de portadores de doenças ou agravos, como também de sequelas, são os dados mais utilizados em vigilância epidemiológica, por permitirem análise e conhecimento imediato e precoce de problemas sanitários. c) Dados de mortalidade - são dados referentes ao número ou quantidade de pessoas que morrem num determinado período por determinada doença ou agravo. São de fundamental importância para avaliar a gravidade de alguma doença ou agravo. Sua obtenção provém de declarações de óbitos, padronizadas e processadas nacionalmente. A vigilância epidemiológica depende da disponibilidade de dados que sirvam para subsidiar o processo de produção de informação para ação. A coleta de dados ocorre em todos os níveis de atuação do sistema de saúde. O valor da informação depende da precisão com que o dado é gerado. Portanto, os responsáveis pela coleta devem ser preparados para aferir a qualidade do dado obtido. A partir de fontes selecionadas e confiáveis, pode-se acompanhar as tendências da doença ou agravo, com o auxílio de estimativas de casos, sem necessariamente conhecer a totalidade dos casos.As fontes de coleta de dados acontece por meio de diversas estratégias: investigação epidemiológica, informações de laboratórios e hospitais, imprensa e população, estudos epidemiológicos, sistema de notificação. Investigação Epidemiológica Os achados de investigações epidemiológicas de casos e de emergências de saúde pública, surtos ou epidemias complementam as informações da notificação, no que se referem a fontes de infecção e mecanismos de transmissão, dentre outras variáveis. Também podem possibilitar a descoberta de novos casos que não foram notificados. Laboratórios e Hospitais Os resultados laboratoriais vinculados à rotina da vigilância epidemiológica complementam o diagnóstico de confirmação de casos e, muitas vezes, servem como fonte de conhecimentode casos ou de eventos que não foram notificados. Também devem ser incorporados os dados decorrentes de estudos epidemiológicos especiais, realizados pelos laboratórios de saúde pública em apoio às ações de vigilância. Hospitais podem possibilitar a descoberta precoce de casos de doenças ou epidemias que não foram notificados. Imprensa e população Informações oriundas da imprensa e da própria comunidade são fontes importantes de dados, devendo ser sempre consideradas para a realização da investigação pertinente. Podem ser o primeiro alerta sobre a ocorrência de uma epidemia ou agravo inusitado, principalmente quando a vigilância em determinada área é insuficientemente ativa. Estudos Epidemiológicos Além das fontes regulares de coleta de dados e informações para analisar, do ponto de vista epidemiológico, a ocorrência de eventos sanitários, pode ser necessário, em determinado momento ou período, recorrer diretamente à população ou aos serviços, para obter dados adicionais ou mais representativos. Esses dados podem ser coletados por inquérito, investigação ou levantamento epidemiológico. Notificação Notificação é a comunicação da ocorrência de determinada doença ou agravo à saúde, feita à autoridade sanitária por profissionais de saúde ou qualquer cidadão, para fins de adoção de medidas de intervenção pertinentes. Historicamente, a notificação compulsória tem sido a principal fonte da vigilância epidemiológica, a partir da qual, na maioria das vezes, se desencadeia o processo informação-decisão-ação. A listagem das doenças de notificação nacional é estabelecida pelo Ministério da Saúde entre as consideradas de maior relevância sanitária para o país. A atual Portarianº 1271 de 06/2014especifica as doenças de notificação obrigatória (suspeita ou confirmada), além das doenças ou eventos de “notificação imediata” (informação rápida – ou seja, deve ser comunicada por e-mail, telefone, fax ou Web). A escolha dessas doenças obedece a alguns critérios, razão pela qual essa lista é periodicamente revisada, tanto em função da situação epidemiológica da doença, como pela emergência de novos agentes, por alterações no Regulamento Sanitário Internacional, e também devido a acordos multilaterais entre países. IMPORTANTE Epidemia – elevação do número de casos de uma doença ou agravo, em um determinado lugar e período de tempo, caracterizando, de forma clara, um excesso em relação à frequência esperada. Surto – tipo de epidemia em que os casos se restringem a uma área geográfica pequena e bem delimitada ou a uma população institucionalizada (creches, quartéis, escolas, etc.). O sistema de vigilância epidemiológica mantém-se eficiente quando seu funcionamento é aferido regularmente, para seu aprimoramento. A avaliação do sistema presta-se, ainda, para demonstrar os resultados obtidos com a ação desenvolvida. As medidas quantitativas de avaliação de um sistema de vigilância epidemiológica incluem: Sensibilidadeé a capacidade do sistema detectar casos; Especificidadeexpressa a capacidade de excluir os “não-casos”. Representatividadediz respeito à possibilidade de o sistema identificar todos os subgrupos da população onde ocorrem os casos. Oportunidaderefere-se à agilidade do fluxo do sistema de informação. Simplicidadedeve ser utilizada como um princípio orientador dos sistemas de vigilância, tendo em vista facilitar a operacionalização e reduzir os custos. Utilidade expressa se o sistema está alcançando seus objetivos. Flexibilidadese traduz pela capacidade de adaptação do sistema a novas situações epidemiológicas ou operacionais com pequeno custo adicional. Aceitabilidadese refere à disposição de indivíduos, profissionais ou organizações de participarem e utilizarem o sistema. SAIBA MAIS acesse a Revista Epidemiologia e Serviços de Saúde e mantenha-se atualizado no link abaixo: http://portal.saude.gov.br/portal/svs/visualizar_texto.cfm?idtxt=21199 A pressão demográfica, mudanças no comportamento social e alterações ambientais, a globalização que integrou os países, refletindo no aumento da circulação de pessoas e mercadorias, são fatores que contribuem na ocorrência de epidemias e pandemias por doenças emergentes ou reemergentes, havendo necessidade de aprimorar os serviços de vigilância em saúde. Neste sentido foi instituído o Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (CIEVS) são estruturas técnico-operacionais que implantadas nos diferentes níveis do sistema de saúde (nacional, estadual e municipal). Essas estruturas, voltadas para a detecção e resposta às emergências de Saúde Pública, vieram aprimorar continuamente o processo de estruturação e aperfeiçoamento do serviço de recebimento, processamento e resposta oportuna às emergências epidemiológicas. O CIEVS tem como objetivos: Identificar emergências epidemiológicas, de modo contínuo e sistemático, por meio de notificação telefônica, eletrônica e mineração de informações nos principais meios de comunicação (Clipping Cievs). Aperfeiçoar os mecanismos de triagem, verificação e análise das notificações para identificar e responder às emergências epidemiológicas. Fortalecer a articulação entre todos os órgãos e/ou instituições, para o desencadeamento de resposta às emergências epidemiológicas. Apoiar as áreas técnicas do Ministério da Saúde, Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde na formulação de Planos de Respostas às emergências epidemiológicas. Monitorar e avaliar a implementação dos Planos de Respostas às emergências epidemiológicas, para os eventos de relevância nacional, pelos seguintes meios de comunicação: Disque Notifica, E-notifica, Monitor Cievs, Fórum Cievs, Sinan Surtos, fax e instrumentos de avaliação desenvolvidos pelo CIEVS. Disponibilizar, às áreas técnicas estrutura física e de tecnologia da informação, para a análise de situação de saúde dos programas prioritários Disponibilizar informações oportunas sobre as emergências epidemiológicas de relevância nacional e programas prioritários. Pesquisa Considerando que a aula apresentou faça uma pesquisa de boletins de CIEVs municipal, estadual e nacional do ano de 2014 para avaliar a disponibilidade de informações para profissionais de saúde e instituições de saúde. Síntese Nesta aula foi vimos o conceito da vigilância epidemiológica como componente da vigilância em saúde. As funções da vigilância epidemiológica permitem o conhecimento da situação de saúde das pessoas e da população, importante para o conhecimento, a detecção ou prevenção de qualquer mudança nos fatores determinantes e condicionantes de saúde individual ou coletiva, e tem como finalidade recomendar e adotar as medidas de prevenção e controle das doenças ou agravos. Os tipos de dados (demográficos, socioeconômicos, ambientais, morbidade e mortalidade). As fontes de coleta de dados: investigação epidemiológica, informações de laboratórios e hospitais, imprensa e população, estudos epidemiológicos, sistema de notificação, destacando a importância da qualidade dos dados para a vigilância epidemiológica. A implantação dos CIEVS para estruturação e aperfeiçoamento do serviço de recebimento, processamento e resposta oportuna às emergências epidemiológicas.