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SAÚDE ÚNICA 
AULA 5 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. Benísio Ferreiro da Silva Filho 
Profª Ivana Maria Saes Busato 
 
 
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CONVERSA INICIAL 
VIGILÂNCIA EM SAÚDE E EPIDEMIOLOGIA 
Vamos entender a Vigilância em Saúde como informação para ação em 
saúde única, que possibilita análise situacional de um território, de forma 
integrada, compreendendo quatro vigilâncias: sanitária, epidemiológica, saúde 
do trabalhador e ambiental, que trabalham multi e interdisciplinarmente. 
TEMA 1 – CONCEITO DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE 
A vigilância em saúde tem por objetivo a “observação e análise 
permanente da situação de saúde articulando um conjunto de ações destinadas 
a controlar determinantes, riscos e danos à saúde de populações que vivem num 
território, garantindo a integralidade da atenção, o que inclui tanto a abordagem 
individual como coletiva dos problemas de saúde” (Teixeira; Pinto; Vilasboas, 
2004). 
Conforme Brasil (2005a, p. 13), Alexandre Langmur, em 1963, conceituou 
a vigilância em saúde como: 
[...] observação contínua da distribuição e tendências da incidência de 
doenças mediante a coleta sistemática, análise da morbidade e 
mortalidade, e outros dados relevantes, e a regular disseminação 
dessas informações a todos os que necessitam conhecê-la. 
A vigilância em saúde tem como foco principal controlar os fatores de 
risco, os determinantes e as condicionantes da saúde por meio de um conjunto 
de ações. “O principal objetivo da vigilância em saúde está na garantia da 
integralidade da atenção diante dos problemas de saúde, incluindo a abordagem 
individual e a coletiva” (Brasil, 2006). São componentes da vigilância em saúde: 
vigilância ambiental, vigilância sanitária, vigilância epidemiológica e saúde do 
trabalhador, todas integradas pela promoção da saúde. 
As vigilâncias ambiental, sanitária, epidemiológica e saúde do 
trabalhador, que compõem a vigilância em saúde, intercambiam suas 
especificidades, no monitoramento situacional de populações, no contexto de 
saúde única. 
 
 
 
 
3 
1.1 Vigilância de saúde do trabalhador e ambiental 
Avalia e analisa qualquer mudança do ambiente que pode interferir nos 
fatores que determinam e condicionam a saúde. Ela tem a função de recomendar 
e adotar medidas de prevenção e controle dos fatores de risco ambiental 
relacionados às doenças e outros agravos à saúde, com prioridade em: vigilância 
da qualidade da água para consumo humano, do ar, e do solo; desastres de 
origem natural; substâncias químicas e acidentes com produtos perigosos; 
fatores físicos; e o ambiente de trabalho (Brasil, 2002, p. 7-8). 
A saúde do trabalhador, outro componente da vigilância em saúde, utiliza 
todos os conhecimentos das vigilâncias para identificar, monitorar e prevenir os 
riscos ambientais ocupacionais que comprometem o ambiente de trabalho, além 
da proposição de medidas de prevenção e promoção da saúde do trabalhador. 
1.2 Vigilância sanitária e Agência Nacional de Vigilância Sanitária 
A vigilância sanitária tem como missão a proteção e promoção à saúde 
da população e defesa da vida. Para alcançar essa missão, a vigilância sanitária 
deve interagir fortemente com a sociedade, buscando prioritariamente ações de 
interesse coletivo. Ela é um conjunto de ações capaz de eliminar, diminuir ou 
prevenir riscos à saúde e de intervir nos problemas sanitários decorrentes do 
meio ambiente, da produção e circulação de bens e da prestação de serviços de 
interesse da saúde (Brasil, 2006). 
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) foi instituída pela Lei n. 
9.782, de 26 de janeiro 1999. Compõe o Sistema Nacional de Vigilância Sanitária, 
dentro do Sistema Único de Saúde. A Anvisa é uma autarquia sob regime 
especial, que tem sede e foro no Distrito Federal, e está presente em todo o 
território nacional por meio das coordenações de portos, aeroportos, fronteiras e 
recintos alfandegados. 
Tem por finalidade institucional promover a proteção da saúde da 
população, por intermédio do controle sanitário da produção e consumo de 
produtos e serviços submetidos à vigilância sanitária, inclusive dos ambientes, dos 
processos, dos insumos e das tecnologias a eles relacionados. 
 
 
 
 
4 
TEMA 2 – O TRABALHO DA EPIDEMIOLOGIA NA SAÚDE ÚNICA 
O estudo do processo saúde-doença em grupos distintos e diferentes 
populações se dá por meio de ferramentas observacionais, matemáticas e 
técnicas de ciências da saúde compreendida como “Epidemiologia”. Sendo 
assim, se quisermos saber a origem, o curso de uma doença, como ela é 
transmitida e qual o risco de uma população frente a essa doença, recorremos 
aos trabalhos epidemiológicos para estabelecer prevenção e ações e combate 
às doenças. 
É de suma importância que os profissionais de saúde saibam usar o 
conhecimento epidemiológico; afinal, todos os profissionais estão diariamente 
observando o que ocorre na população, seja por relatos, novos sinais e sintomas, 
aumento do número de casos de uma determinada condição ou até mesmo pelo 
aumento do número de óbitos de um determinado local para que se inicie o 
processo de investigação e monitoramento. Segundo Gomes (2015), a 
Epidemiologia de forma simplificada deve ser compreendida como o estudo 
direcionado para o campo da saúde que observa aquilo que afeta a população. 
Esse estudo utiliza as três áreas principais de conhecimento: a estatística, as 
ciências biológicas e as ciências sociais. 
O uso da Epidemiologia na descrição das condições de saúde de uma 
determinada população, na investigação de fatores determinantes da situação 
de saúde bem como da avaliação do impacto das ações capazes de alterar uma 
condição que está prejudicando a saúde de uma população permite que 
saibamos o que fazer em tempo hábil para garantir a manutenção da saúde de 
uma população. 
2.1 O que a Epidemiologia deve olhar? Indicadores 
As ferramentas de observação, estatística e intervenção em saúde 
avaliam o cenário de uma população, sua saúde, desenvolvimento social e 
econômico. Com um olhar voltado para saúde única, mostra a situação da 
organização e infraestrutura dos serviços de saúde, além da informação, 
percepção e educação da população em relação ao que está acontecendo. Os 
indicadores são, portanto, dados importantes para o acompanhamento e 
parâmetros para tomadas de decisão e políticas que intervenham com intuito de 
trazer melhorias. 
 
 
5 
Vamos considerar como importantes indicadores de saúde as medidas de 
frequência de doenças, indicadores de mortalidade e indicadores de morbidade. 
Existem outros, que não devem ser menosprezados, porém o impacto causado 
por esses três faz com que rapidamente decisões sejam tomadas a curto prazo. 
Logo, daremos ênfase aos três. 
As medidas de frequências de doenças olham os descritores 
socioeconômicos e avaliam a vida e a saúde de uma população por seus 
índices, ou seja, valores quantitativos que nos dão uma noção de aumento ou 
diminuição de algo, o que permite inferir, por exemplo, se aumentou o número 
de pessoas com problemas intestinais ou não. Sendo assim, precisamos ver a 
incidência que é a frequência de novos casos de determinada condição de 
saúde em um período temporal específico e que está no momento da 
observação. Fica fácil, então, perceber que os casos novos são aqueles que 
ocorrem na população logo após o início da observação epidemiológica. A 
incidência é uma medida de frequência importante para a investigação etiológica 
(investigar a causa da doença). 
Outra medida é a prevalência, importante para o planejamento de ações 
e serviços e políticas, sendo essa diferente da incidência, pois é uma medida a 
ser usada em observações de longa duração, ideal para doenças crônicas, por 
exemplo. O aumento ou diminuição da incidência influencia na prevalência, 
entenda então a incidência com algo mais dinâmico, com um tempo de 
observação menor e a prevalência como uma medida que defineo que é mais 
frequente ou não por ter um tempo de observação muito maior. 
A mortalidade é o mais antigo e bem definido indicador de saúde. É o 
mais empregado e indicado como principal índice de avaliação de saúde. Cada 
óbito será registrado, e os dados são fáceis de serem coletados, percebidos em 
determinado período provocando ações de urgência ou não. A mortalidade não 
se restringe somente ao óbito individual, podendo ser apresentado de acordo 
com o sexo e a faixa etária, auxiliando, assim, na investigação etiológica. 
Obtendo dados de forma correta e confiável, é possível obter informação 
sobre a morbidade, que é o índice de indivíduos portadores de determinada 
doença em uma população estudada no mesmo período em que os demais 
índices estão sendo observados. 
Portanto, os indicadores devem ser vistos como dados informativos cujo 
profissional que está trabalhando na investigação epidemiológica possa guiar os 
 
 
6 
profissionais de saúde e aqueles que consultam e pedem informações para 
tomada de decisão. Se necessário, os profissionais de saúde devem realizar 
inquéritos epidemiológicos caso os dados não sejam por diversos motivos 
confiáveis, em sua grande maioria, com relação a obtenção, ausência de 
informação, detecção de erros etc. 
Figura 1 – A epidemiologia observa e coleta dados que irão guiar os profissionais 
nas tomadas de decisão causando impacto direto na saúde 
 
Crédito: Pongimages/Shutterstock. 
TEMA 3 – VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA: HISTÓRIA E CONCEITO 
A história da vigilância epidemiológica remonta a história das civilizações, 
representada por registros de dados, como o número de nascimentos, o de 
mortes e o de aglomerados, de casos de doenças, a descrição das doenças, e 
as propostas de tratamentos, em especial das doenças transmissíveis. As 
primeiras medidas associadas à vigilância epidemiológica foram: quarentena e 
isolamento de doentes. 
No Brasil, século XIX, as principais medidas relacionadas à vigilância 
eram representadas pela contagem de população, principalmente de escravos, 
https://www.shutterstock.com/g/pongampaphoto
 
 
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além do combate e descrição das doenças infecciosas, que afetavam as cidades 
portuárias, ambas com finalidades comerciais. 
A vigilância epidemiológica, que integra a Vigilância em Saúde, possibilita 
o planejamento e a organização dos serviços, monitoramento e 
acompanhamento da saúde de territórios, além de propor ações de prevenção 
das doenças e promoção da saúde. 
Na década de 1970, o Ministério da Saúde instituiu o Sistema Nacional de 
Vigilância Epidemiológica (SNVE), por recomendação da 5ª Conferência 
Nacional de Saúde, de 1975, na Lei n. 6.259/1975 e no Decreto n. 78.231/1976. 
A Lei n. 6.259/1975, no art. 1º, define que o Ministério da Saúde coordena as 
ações relacionadas com o controle das doenças transmissíveis, orientando sua 
execução inclusive quanto à vigilância epidemiológica, à aplicação da notificação 
compulsória, ao programa de imunizações e ao atendimento de agravos 
coletivos à saúde, bem como os decorrentes de calamidade pública (Brasil, 
1975; 1976). 
Com a implantação do Sistema Único de Saúde (SUS), o Sistema 
Nacional de Vigilância Epidemiológica tornou-se parte integrante do SUS, e foi 
regulamentado na Lei n. 8080/1990, que define a vigilância epidemiológica como 
[...] um conjunto de ações que proporciona o conhecimento, a 
detecção ou prevenção de qualquer mudança nos fatores 
determinantes e condicionantes de saúde individual ou coletiva, 
com a finalidade de recomendar e adotar as medidas de 
prevenção e controle das doenças ou agravo. (Brasil, 1990, art. 
6º, parágrafo 1º). 
Brasil (2002, p. 12) aponta que a vigilância epidemiológica fornece 
orientação técnica permanente para os profissionais de saúde, para as ações de 
controle de doenças e agravos, disponibilizando informações atualizadas sobre 
a ocorrência de doenças e agravos, bem como os fatores de risco em 
determinada área geográfica ou população definida. 
As funções devem ser desempenhadas nos três níveis do sistema de 
saúde (municipal, estadual e federal) com graus de responsabilidade variáveis. 
A vigilância epidemiológica tem as funções de: realizar a coleta de dados; o 
processamento de dados coletados; a análise e interpretação dos dados 
processados; recomendação das medidas de prevenção e controle apropriadas; 
promoção das ações de prevenção e controle indicadas; avaliação da eficácia e 
efetividade das medidas adotadas; e divulgação de informações pertinentes. 
 
 
8 
A vigilância epidemiológica instrumentaliza os profissionais de saúde e 
gestores na interpretação do diagnóstico da situação de saúde, na análise das 
condições de vida e saúde, identificando os problemas e necessidades que 
exijam maior atenção, e o monitoramento das condições de saúde de 
populações. 
3.1 Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica (SNVE) 
O SNVE é um dos componentes do SUS, que, na Lei n. 8.080/1990, 
redefiniu a vigilância epidemiológica como um conjunto de ações que 
proporciona o conhecimento, a detecção ou a prevenção de qualquer mudança 
nos fatores determinantes e condicionantes de saúde individual ou coletiva, com 
a finalidade de recomendar e adotar as medidas de prevenção e controle das 
doenças ou agravos (Brasil, 1990). 
Com o SNVE dentro do SUS, as ações de vigilância epidemiológica 
passaram a ser operacionalizadas em um contexto de reorganização do sistema 
de saúde brasileiro, caracterizada pela descentralização de responsabilidades, 
pela universalidade, integralidade e equidade na prestação de serviços. As 
ações de vigilância epidemiológica executadas pelo SNVE, nas três esferas de 
gestão do SUS, são desenvolvidas de modo ininterrupto e consistem em coletar, 
processar, analisar e interpretar dados; propor medidas de prevenção e de 
controle; avaliar a eficácia e a efetividade de medidas adotadas; e divulgar 
informações. 
A vigilância epidemiológica utiliza dados de dois tipos de fonte: primária, 
com dados coletados pelas equipes de saúde no território ou na área de 
abrangência de cada Unidade de Saúde, em especial pelo Sinan; e fonte 
secundária, com dados coletados de outros órgãos e de instituídos oficiais 
municipais, estaduais e nacionais; por exemplo, hospitais sentinelas, 
laboratórios centrais. A coleta de dados deve ser feita no ponto de ocorrência do 
evento sanitário (Brasil, 2009a, p. 19). 
Segundo o Guia de Vigilância Epidemiológica (Brasil, 2009a, p. 23), os 
achados de investigações epidemiológicas de casos e de emergências de saúde 
pública, surtos ou epidemias “complementam as informações da notificação, no 
que se referem a fontes de infecção e mecanismos de transmissão, dentre outras 
variáveis. Também podem possibilitar a descoberta de novos casos que não 
 
 
9 
foram notificados”. Devem ser consideradas, também, informações oriundas da 
imprensa e da própria comunidade como fontes importantes de dados. 
3.2 Centro de informações estratégicas em vigilância em Saúde (CIEVS) 
A globalização integrou os países, refletindo no aumento da circulação de 
pessoas e mercadorias, e com as mudanças demográficas e epidemiológicas, 
contribui na ocorrência de epidemias e pandemias por doenças emergentes ou 
reemergentes, o que deve ser primordial aprimorar os serviços de vigilância em 
saúde mundiais. 
A Portaria n. 30, de 7 de julho de 2005, institui o Centro de Informações 
Estratégicas em Vigilância em Saúde, define suas atribuições, composição e 
coordenação. 
[...] a finalidade de fomentar a captação de notificações, mineração, 
manejo e análise de dados e informações estratégicas relevantes à 
prática da vigilância em saúde, bem como congregar mecanismos de 
comunicação avançados. (Brasil, 2005b, art 1º). 
Com a implantação do CIEVS, dentro da estrutura do Sistema Único de 
Saúde, promoveu-se sua ampliação e descentralização nos diferentes níveis do 
sistema de saúde (nacional,estadual e municipal). O objetivo da Rede CIEVS é 
aperfeiçoar os mecanismos de detecção, monitoramento e resposta a 
emergências em saúde pública, organizando processos de trabalho 
padronizados entre as três esferas de comando do SUS, para a gestão 
coordenada dessas ocorrências. Os CIEVS de todos os níveis (nacional, 
estadual e municipal) devem trabalhar de forma integrada para identificar as 
emergências epidemiológicas, de modo contínuo e sistemático, utilizando a 
notificação telefônica, eletrônica, e buscando as informações nos principais 
meios de comunicação, especialmente no uso do Clipping Cievs, que resume 
essas informações coletadas. 
As competências do CIEVS incluem o desenvolvimento de atividades de 
manejo de crises agudas, incluindo o monitoramento de situações sentinelas e 
apoio ao manejo oportuno e efetivo de emergências epidemiológicas, facilitando 
a formulação de respostas rápidas e integradas nas diferentes esferas de gestão 
do SUS. 
A Rede tem a responsabilidade da identificação de emergências 
epidemiológicas, em conjunto com as demais áreas técnicas e o 
 
 
10 
aperfeiçoamento dos mecanismos de triagem, verificação e análise de riscos e 
notificações para identificar e desencadear resposta a emergências 
epidemiológicas. 
TEMA 4 – SAÚDE ÚNICA GLOBAL E EPIDEMIOLOGIA NO SÉCULO XXI 
Algumas doenças ficavam restritas devido à geografia, e, principalmente, 
pelas distâncias que deveriam ser vencidas para que indivíduos de um 
determinado local fosse até outro, levando consigo vírus, bactérias, fungos e até 
parasitas. Com o surgimento das primeiras rotas comerciais vieram os primeiros 
casos históricos de grandes surtos de doenças, com alta mortalidade. 
Por exemplo, a peste negra, causada pela bactéria Yersinia pestis, melhor 
descrita entre 1346 a 1353, saiu da China para Índia através de rotas mercantes, 
especialmente a rota da seda, chegou à Europa pela Crimeia. Como 
conseguimos apresentar esse resumo para você? Por meio de informações 
“epidemiológicas”. Podemos afirmar a gravidade, pois temos os números de 
mortos e o período em que esses casos ocorreram. Sabemos da gravidade da 
peste negra e podemos comparar com outros casos por meio dos dados. 
Hoje temos ferramentas modernas de investigação e sabemos que esse 
não foi o primeiro caso de surto da peste negra. Técnicas moleculares como o 
PCR e o sequenciamento de DNA confirmaram que 3000 anos a.C. já havia 
casos de peste na própria Europa, derrubando o discurso inicial de que surgiu 
na China (Rasmussen et al. 2015). Os trabalhos epidemiológicos mapearam a 
peste negra de tal forma que sabemos, hoje em dia, o que deve ser feito para 
que possamos conter o avanço da doença caso surja novamente com a mesma 
velocidade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 
Figura 2 – Hoje temos, além das ferramentas matemáticas e de observação, 
técnicas modernas que auxiliam no trabalho epidemiológico 
 
Crédito: Tilialucida/Shutterstock. 
Precisamos, hoje, dentro do conceito de saúde única, usar todas as 
ferramentas e as especialidades para usar o trabalho epidemiológico frente aos 
avanços da modernidade. Antes nós tínhamos as rotas mercantes e as grandes 
navegações. Muitos morreram na América do Sul, Central e América do Norte 
após a chegada dos Europeus. Eles trouxeram consigo microrganismos que 
causaram a morte de milhares. Uma doença foi deslocada de um local para outro 
nesse exemplo, e isso acontece ainda hoje. Por isso que a epidemiologia é mais 
importante do que nunca. 
Figura 3 – Com a evolução da tecnologia, ocorreu também o avanço na 
distribuição de causas de diversas doenças 
 
Crédito: Anutaberg/Shutterstock. 
https://www.shutterstock.com/g/anyaivanova
https://www.shutterstock.com/g/AnutaBerg
 
 
12 
Lembre-se do que ocorreu nestes últimos anos de 2020, 2021 e início de 
2022. Todo o trabalho de observação, levantamento de dados de mortalidade, 
morbilidade, os índices que chegaram a ser divulgados semanalmente e em 
alguns países diariamente, permitiram monitorar, avaliar quais os períodos que 
deveriam ter uma intervenção mais radical, diminuir as restrições, confirmar 
eficiência das vacinas através da diminuição de índices de um grupo em 
específico que começou a ser vacinado antes. Temos, recentemente, um 
período de valorização do trabalho epidemiológico. 
4.1 Mais modernidade exige mais velocidade no monitoramento 
O movimento de pessoas no mundo aumento, e, hoje, com a globalização, 
o deslocamento rápido de um microrganismo ocorre em questão de, no máximo, 
24 horas. As conexões permitem que o que ocorria antes em questão de meses, 
anos, ocorra hoje em dia em menos de uma semana. As conexões de todas as 
linhas aéreas representam a maior for de disseminação de um microrganismo 
ao redor do mundo. Estamos preparados não só para detectar o início de um 
problema de saúde, levantar dados e analisá-los, mas também temos condições 
de realizar o monitoramento mundial de um problema de saúde, pela rápida 
comunicação da internet. 
Figura 4 – O mundo está conectado pelo transporte marítimo e, principalmente, 
o aéreo. Veja toda a malha de conexões de voos civis no mundo 
 
Crédito: Underdog_Cg/Shutterstock. 
https://www.shutterstock.com/g/cetus
 
 
13 
O Regulamento Sanitário Internacional (RSI) é o marco legal aprovado 
pelos países na 58ª Assembleia Mundial da Saúde que estabelece os 
procedimentos para proteção contra a disseminação internacional de doenças. 
A primeira versão do Regulamento foi instituída em 1951, sendo revisado em 
1969, sofrendo alterações até a publicação de 2005 (Brasil, 2009b). 
O propósito e a abrangência do Regulamento são: “prevenir, proteger, 
controlar e dar uma resposta de saúde pública contra a propagação internacional 
de doenças, de maneiras proporcionais e restritas aos riscos para a saúde 
pública, e que evitem interferências desnecessárias com o tráfego e o comércio 
internacionais” (Brasil, 2009b). Esse regulamento determina as ações de 
definições, propósito e abrangência, princípios e autoridades responsáveis, 
informação e resposta em saúde pública, recomendações, pontos de entrada e 
as medidas de saúde pública. O Decreto Legislativo n. 395, de 9 de julho de 
2009, confirma a aderência do Brasil. 
O RSI tem como finalidade aumentar a segurança sanitária mundial com 
a mínima interferência nas viagens e comércio internacional. Ao adotar o RSI, a 
comunidade internacional concordou em trabalhar em conjunto para cumprir 
esses desafios. É juridicamente obrigatório em qualquer Estado-membro da 
Organização Mundial da Saúde (OMS) (Busato, 2016, p. 174). 
TEMA 5 – EMERGÊNCIA DE SAÚDE PÚBLICA DE IMPORTÂNCIA 
INTERNACIONAL E NACIONAL 
O termo Emergência de saúde pública de importância internacional foi 
definido no RSI (2005) como evento extraordinário, o qual é determinado por 
constituir um risco de saúde pública para outro Estado pela propagação 
internacional de doenças e por requerer uma resposta internacional coordenada. 
No Brasil, as emergências de saúde pública de importância nacional se 
deram pela implantação do Centro de Informações Estratégias e Respostas em 
Vigilância em Saúde, pela Portaria n. 30/2005, visto que permite o 
monitoramento contínuo de eventos que podem se constituir em emergências de 
importância nacional, após avaliação de risco, utilizando processo de análise 
semelhante ao adotado pelos países e pela OMS, com os instrumentos criados 
a partir da entrada em vigor do RSI (2005). 
O Decreto n. 7.616, de 18 de novembro de 2011, definiu as 
regulamentações sobre a declaração de Emergência em Saúde Pública de 
 
 
14 
Importância Nacional (Espin), e instituiu a Força Nacional do Sistema Único de 
Saúde. A declaração e suspensão de Espin é de responsabilidade exclusiva do 
Ministério da Saúde. 
O art. 3º do Decreto define que será declarada Espin em virtude da 
ocorrência de situações, e epidemiológicas, de desastres;ou de desassistência 
à população. No parágrafo 1º as situações epidemiológicas, os surtos ou 
epidemias que apresentem risco de disseminação nacional; que sejam 
produzidos por agentes infecciosos inesperados; que representem a 
reintrodução de doença erradicada; que apresentem gravidade elevada; ou que 
extrapolem a capacidade de resposta da direção estadual do Sistema Único de 
Saúde. 
5.1 Globalização de doenças infecciosas 
A globalização potencializou a migração de pessoas de um país a outro e 
entre continentes. O impacto da mobilidade populacional na saúde e na 
utilização dos serviços de saúde dos países anfitriões está mais importante. Seja 
um processo de migração de pessoas por questões econômicas ou por conflitos, 
surge uma necessidade de gestão e controle de doenças infecciosas em áreas 
de recepção dos imigrantes. Um trabalho importante tanto na observação e 
detecção de patógenos que não são comuns do local que recebe essas pessoas 
como no processo de comunicação do que está sendo detectado. 
É preciso deixar claro aqui que, sim, existem casos em que uma doença 
é transportada de outras formas, através de objetos e alimentos de origem 
animal, por exemplo, mas o potencial é o transporte desses patógenos através 
de pessoas. Quando viajam, as pessoas levam consigo doenças, mesmo 
naquele período da janela imunológica, em que a pessoa não apresenta 
debilidade nem sintomas e estão infectadas. É nesse momento que patógenos 
viajam, junto com as pessoas e por conta da globalização, mais rápido e mais 
longe. Pessoas que estão se sentindo mal, não viajam, porém, caso estejam 
bem, e estiverem infectadas, levarão consigo os patógenos. 
 
 
 
 
 
15 
Figura 5 – Até começarem os sinais clínicos as pessoas mesmo infectadas irão 
se locomover. Esse tempo até começarem os primeiros sintomas é o que permite 
a rápida disseminação de doenças 
 
Crédito: Tynyuk/Shutterstock. 
O trabalho epidemiológico para esses casos globalizados deve ser 
pensado pelos governos da seguinte forma: desenvolvimento de orientações de 
gestão, particularmente para doenças não endêmicas; acesso a intervenções 
diagnósticas e terapêuticas para as apresentações clínicas exóticas ou raras; e 
monitorização da utilização dos serviços de saúde e resultados de saúde, tanto 
para imigrantes quanto a populações locais (Gushulak; Macpherson, 2004). 
É necessário que os novos profissionais de saúde saibam das 
ferramentas modernas capazes de realizar o trabalho epidemiológico 
globalizado em saúde única, integração de novas fontes de informação 
molecular e digital na vigilância de doenças, a assimilação de tais dados em 
modelos de disseminação de patógenos e a crescente contribuição de modelos 
para a prática de saúde pública. É importante que sejam formados e que sejam 
capazes de coordenar, executar ações e pôr em prática estratégias para 
responder com análises, detecção, correlacionar sinais clínicos a 
microrganismos, abordagens, tratamentos e administração de políticas de 
vacinação. 
NA PRÁTICA 
De forma rápida, como foi todo o trabalho de identificação do SARS-CoV-
2 ao redor do mundo? 
https://www.shutterstock.com/g/Alexey0210
 
 
16 
Faça uma análise pelo conceito de saúde única. 
FINALIZANDO 
Fique sempre em alerta, pois a saúde única requer um trabalho contínuo. 
Apesar dos esforços contínuos para melhorar os sistemas de saúde em todo o 
mundo, as epidemias de patógenos emergentes continuam sendo uma grande 
preocupação de saúde pública. A resposta eficaz a esses surtos depende de 
uma intervenção oportuna, idealmente informada por todas as fontes de dados 
disponíveis. 
Figura 6 – A coleta de dados é a parte mais importante na compreensão de uma 
nova doença 
 
Crédito: Cryptographer/Shutterstock. 
Avanços recentes levaram ao surgimento da análise de surtos, mais 
rápida e eficiente, uma ciência emergente focada nos aspectos tecnológicos e 
metodológicos modernos, desde a coleta até a análise, modelagem e relatórios 
para informar a resposta a surtos. 
 
 
 
https://www.shutterstock.com/g/cryptography
 
 
17 
REFERÊNCIAS 
BRASIL. Lei n. 6.259, de 30 de outubro de 1975. Diário Oficial da União, Brasília, 
DF, 31 out. 1975. 
______. Decreto n. 78.231, de 12 de agosto de 1976. Diário Oficial da União, 
Brasília, DF, 13 ago. 1976. 
______. Lei n. 8.080, de 19 de setembro de 1990. Diário Oficial da União, Seção 
1: Brasília, DF, 19 set. 1990. 
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ed. Brasília: Funasa, 2002. 
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	Conversa inicial
	Vigilância em saúde e epidemiologia
	Na prática
	FINALIZANDO

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