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1 - conceituar, classificar (critérios de Framingham) e entender o quadro clínico da insuficiência cardíaca. DEFINIÇÃO = A insuficiência cardíaca (IC), via final da maioria das cardiopatias, é uma síndrome clínica complexa resultante de qualquer distúrbio cardíaco estrutural ou funcional que comprometa a capacidade ventricular de receber ou ejetar sangue, ocasionando inadequado suprimento sanguíneo para atender às demandas metabólicas teciduais. Atualmente, o conceito da IC envolve, ao menos nos adultos, a disfunção sistólica, causada por comprometimento da função contrátil do músculo cardíaco e responsável por cerca de 60% dos casos, e a disfunção diastólica, definida por alterações do relaxamento e da complacência ventricular, presente em 40% dos casos, particularmente na população idosa. CLASSIFICAÇÃO = NYHA = avaliação funcional do paciente, em relação ao seu grau de limitação ao esforço. Essa avaliação funcional deve ser realizada de maneira detalhada, levando em consideração a idade do paciente, o estilo de vida, a condição antes da doença e a quantificação detalhada dos diferentes tipos de esforço. A classificação funcional da NYHA, a despeito de sua subjetividade, torna possível avaliar a gravidade da doença, orientar e avaliar a resposta terapêutica, além de fornecer informações prognósticas. New York Heart Association (NYHA): ■Classe funcional I: ausência de sintomas durante atividades cotidianas ■Classe funcional II: sintomas desencadeados por atividades cotidianas ■Classe funcional III: sintomas desencadeados aos pequenos ou mínimos esforços ■Classe funcional IV: sintomas em repouso. AHA/ACC = Em 2002, a American Heart Association/American College of Cardiology (AHA/ACC) propôs uma classificação para IC, que se divide em quatro estágios, contemplando não somente o componente funcional, como também o componente estrutural, podendo ser mais útil por ser menos subjetiva, orientar a terapêutica e dar informação sobre o prognóstico. ■Estágio A: presença de fatores de risco para desenvolvimento de disfunção ventricular (hipertensão, diabetes) na ausência de sintomas ou doença estrutural perceptível ■Estágio B: presença de lesão estrutural cardíaca e ausência de sintomas ■Estágio C: presença de lesão estrutural associada a sintomas atuais ou pregressos de grau leve a moderado ■Estágio D: presença de lesão estrutural e sintomas graves mesmo ao repouso ou IC refratária. QUADRO CLÍNICO = A doença pode se apresentar sob diferentes formas clínicas, desde disfunção ventricular assintomática até as formas graves, como edema agudo de pulmão e choque cardiogênico. Podem predominar na apresentação, ainda, os sinais de congestão sistêmica e/ou de baixo débito. A redução do débito cardíaco determinará o aparecimento de intolerância ao esforço, inicialmente caracterizada por dispneia aos esforços, cansaço fácil, fadiga e palidez cutânea. São comuns distúrbios do sono, sonolência diurna e apneia. Existe tendência permanente para retenção de sódio e água, o que determinará o aumento da volemia, a elevação das pressões de enchimento e o aparecimento dos sintomas de congestão pulmonar, como dispneia, taquipneia, ortopneia, dispneia paroxística noturna, tosse, sibilos e hemoptóicos. A congestão sistêmica levará ao aparecimento de ingurgitamento jugular, congestão visceral com hepatomegalia dolorosa, refluxo hepatojugular, ascite e edema de membros inferiores. Noctúria por reabsorção de edema e oligúria por baixo débito cardíaco com frequência estão presentes. Podem surgir palpitações ou síncope por arritmias. Na evolução, é frequente o emagrecimento com atrofia da musculatura esquelética e respiratória, que agrava a dispneia e leva ao quadro de caquexia cardíaca. 2 - entender o mecanismo fisiopatológico da insuficiência cardíaca. Trata-se de condição fisiopatológica de etiologia variável, progressiva, que tem início com redução da contratilidade miocárdica, redução do débito cardíaco e elevação das pressões de enchimento. Em resposta à redução do desempenho cardíaco, surgem os chamados mecanismos de compensação, como aumento de frequência cardíaca, aumento de contratilidade, vasoconstrição periférica e aumento da volemia por retenção renal de sódio e água. Essas respostas decorrem da ativação integrada do sistema neuro-hormonal, mediada pela atividade adrenérgica, pela ativação do sistema renina-angiotensina-aldosterona (SRAA), da arginina vasopressina, da endotelina e das citocinas inflamatórias. (Referencia) A ativação de todos esses sistemas tem início mesmo antes do aparecimento dos sintomas e determinará os efeitos deletérios. A ativação adrenérgica promove liberação e aumento dos níveis séricos de catecolaminas, as quais determinam vasoconstrição, aumento da pós-carga, aumento do consumo de oxigênio, isquemia miocárdica, arritmias e morte celular. O aumento da angiotensina II determina vasoconstrição, aumento da pós-carga, isquemia miocárdica, hipertrofia, morte dos miócitos e fibrose. A aldosterona promove retenção de sódio e água, aumento da volemia, hipopotassemia, arritmias ventriculares e parece ser importante indutor de fibrose. A ação dessas substâncias determinará, a longo prazo, uma situação hemodinâmica desfavorável, com perpetuação da deterioração ventricular, dilatação progressiva, perda de miócitos e substituição por fibrose, levando a remodelação ventricular desfavorável com agravamento dos sintomas e elevado risco de morte por arritmia ventricular.(Referencia) 3 - citar fatores de risco da insuficiência cardíaca. A ICFEP é mais frequente no sexo feminino idosas com comorbidades como fibrilação atrial, HAS e sobrepeso, enquanto a ICFER prevalece mais no sexo masculino, havendo predomínio da etiologia isquêmica. A principal etiologia no Brasil é a cardiopatia isquêmica crônica. O principal fator de risco no mundo é a doença isquêmica cardíaca, que se desenvolve em pacientes com HAS, diabetes, dislipidemia, tabagismo, história familiar de doença cardiovascular, consumo de álcool, doença de chagas, valvopatia reumática e cardiomiopatia dilatada idiopática. 4 - entender o diagnóstico, exames complementares e diagnóstico diferencial da insuficiência cardíaca. O diagnóstico da IC fundamenta-se em anamnese e exame físico detalhado, nos quais se procura valorizar os sinais e os sintomas decorrentes do baixo débito cardíaco e dos fenômenos congestivos pulmonar e sistêmico. Na anamnese, é importante buscar elementos a fim de poder chegar ao diagnóstico etiológico da disfunção ventricular, como antecedentes de sopros ou defeitos cardíacos na infância, febre reumática, epidemiologia para Chagas, fatores de risco para doença coronariana, hipertensão, diabetes, alcoolismo, uso de drogas e tratamento com quimioterápicos. No exame físico, procuram-se sinais de congestão pulmonar e sistêmica e sinais de baixo débito cardíaco, como palidez, extremidades frias, perfusão periférica lenta, pulso filiforme, pulso alternante, pressão arterial baixa e convergente, bulhas hipofonéticas, ou hiperfonese de B2, presença de terceira bulha (forte marcador de disfunção sistólica) e sopros de regurgitação valvar mitral e/ou tricúspide por dilatação dos anéis atrioventriculares. Na ausculta pulmonar, frequentemente são encontrados sinais de congestão venocapilar pulmonar com estertores crepitantes, subcrepitantes, sibilos e derrame pleural. A ocorrência de estase jugular, hepatomegalia, pulso hepático, refluxo hepatojugular, ascite e edema de membros inferiores é indicativa de congestão venosa sistêmica por IC direita. O diagnóstico pode ser estabelecido com a valorização dos sinais e sintomas descritos, podendo ser utilizados os critérios adotados no estudo de Framingham ou os critérios de Boston, com a combinação necessária de pontos para o diagnóstico de IC. (II Diretriz Brasileira de Insuficiência Cardíaca), CRITÉRIOS DE BOSTON = O diagnóstico de insuficiência cardíaca é classificado como “definitivo” com uma pontuação entre 8 e 12 pontos; “possível”, entre 5 e 7 pontos; e “improvável”, 4 ou menos pontos.CRITÉRIOS DE FRAMINGHAM = O diagnóstico de IC requer a presença simultânea de, pelo menos, dois critérios maiores ou um critério maior em conjunto com dois critérios menores. • Critérios maiores: – Dispneia paroxística noturna. – Turgência jugular. – Crepitações pulmonares. – Cardiomegalia (à radiografia de tórax). – Edema agudo de pulmão. – Terceira bulha (galope). – Aumento da pressão venosa central (> 16cmH2 átrio direito). – Refluxo hepatojugular. – Perda de peso > 4,5kg em 5 dias em resposta ao tratamento. • Critérios menores: – Edema de tornozelos bilateral. – Tosse noturna. – Dispnéia a esforços ordinários. – Hepatomegalia. – Derrame pleural. – Diminuição da capacidade funcional em um terço da máxima registrada previamente. – Taquicardia (frequência cardíaca [FC] > 120bpm). Considera-se IC com fração de ejeção preservada (ICFEP) o conjunto de sinais ou sintomas da síndrome e fração de ejeção (FE) ≥ 50% e IC com fração de ejeção reduzida (ICFER) quando FE ≤ 50%. Do ponto de vista prático, para diagnóstico e terapêutica, não há nenhuma vantagem em se admitir a terminologia de FE limítrofe ou borderline, como proposto pela European Society of Cardiology. Distinguir clinicamente a ICFER da ICFEP imediatamente após a admissão é tarefa muitas vezes difícil e enganosa em virtude da frequente superposição dos sinais e dos sintomas em ambas as situações. Sabe-se que pacientes com IC e FE preservada não diferem em mortalidade daqueles com disfunção sistólica. Com frequência, trata-se de idosos, mulheres, hipertensos, diabéticos e obesos. A radiografia de tórax e o ecocardiograma tornam-se ferramentas importantes nessa análise, em associação ao exame físico. EXAMES COMPLEMENTARES = Em geral, diagnostica-se a IC a partir de dados da anamnese e do exame clínico. Entretanto, existem exames necessários para caracterizar o quadro, realizar o diagnóstico diferencial com outras causas de dispneia e, principalmente, quantificar o grau de disfunção ventricular e/ou de lesão valvular, a fim de chegar a um diagnóstico etiológico e auxiliar na tomada de decisão terapêutica. Exames laboratoriais: Diferentes exames podem revelar condições capazes de agravar os sintomas da IC. Hemograma é exame indispensável para avaliar se há anemia, que pode causar ou agravar os sintomas da IC e está relacionada com um pior prognóstico. A dosagem de creatinina é indispensável para avaliação da função renal, visto que a insuficiência renal é uma comorbidade importante, estando presente em, pelo menos, um terço dos pacientes com IC grave e associada a piora dos sintomas, descompensação, menor resposta ao tratamento e, sobretudo, a um pior prognóstico. A urina I pode demonstrar a presença de infecção urinária ou proteinúria, que indica lesão renal ou, ainda, glicosúria pela ocorrência de diabetes. A dosagem do sódio tem fundamental importância, visto que a hiponatremia é indicativa de pior prognóstico. A dosagem do potássio pode evidenciar hipopotassemia, geralmente associada a uso de doses elevadas de diuréticos, e, também, hiperpotassemia, que pode estar associada à insuficiência renal ou ao uso de medicamentos bloqueadores do SRAA. Recomenda-se a dosagem dos hormônios tireoidianos visto que tanto o hipertireoidismo quanto o hipotireoidismo podem ser a causa primária ou agravar a disfunção ventricular. Sorologias para HIV, vírus da hepatite B, hepatite C e doença de Chagas podem ser necessárias dentro de um contexto clínico epidemiológico. Peptídeo natriurético atrial (BNP) e NT pró-BNP: A d osagem sanguínea do peptídeo natriurético atrial (BNP) e do seu precursor, o NT pró-BNP, hormônios produzidos pelos miócitos atriais e ventriculares, se eleva em situações de estresse hemodinâmico, como ocorre na IC. Por ter forte correlação com pressões de enchimento elevadas, indica-se esse exame para o diagnóstico diferencial de dispneia na sala de emergência. Também pode ser um bom parâmetro de resposta terapêutica em pacientes com IC crônica, bem como um forte indicador independente de mortalidade em pacientes com IC aguda. Não são indicadas medidas seriadas de BNP/NT pró-BNP como rotina para complementar o exame físico e guiar tratamento da IC. Para o diagnóstico de IC, os valores de corte são BNP > 100 pg/dℓ ou NT pró-BNP > 300 pg/dℓ. Na atenção primária, em pacientes com fatores predisponentes, o BNP > 35 pg/dℓ pode identificar aqueles com risco de desenvolver sintomas de IC. Eletrocardiograma: Em geral, está alterada nos pacientes com IC por disfunção sistólica. Apesar de inespecífica em relação à etiologia da disfunção ventricular, pode sugerir etiologias como doença de Chagas e cardiopatia isquêmica. Devem ser avaliados o ritmo, os distúrbios da condução atrioventricular, os bloqueios de ramo, a sobrecarga de câmaras, a presença de arritmias e os sinais de hipertensão pulmonar. Radiografia de tórax: Importante para avaliar a área cardíaca e a circulação pulmonar, podendo evidenciar sinais de congestão pulmonar, derrames nas fissuras e derrames pleurais. Também pode sugerir doenças pulmonares decorrentes da dispneia (p. ex., enfisema, doenças intersticiais, focos pneumônicos e infarto pulmonar). Ecocardiograma bidimensional: Exame obrigatório na avaliação de qualquer paciente com IC, o ecocardiograma possibilita a avaliação precisa da anatomia cardíaca, afere o tamanho das cavidades, quantifica a disfunção sistólica (contratilidade) com aferição da FE, avalia a anatomia e a dinâmica das válvulas, estima o grau de estenoses, mede a área valvar e o grau de refluxo e avalia o pericárdio. Também torna possível a caracterização dos quadros de IC com função sistólica preservada demonstrando as alterações de complacência e do relaxamento ventricular. A partir desse exame, é possível aferir o grau de pressão na artéria pulmonar. Por todas essas informações, o ecocardiograma possibilita diagnosticar com precisão a presença e o grau da disfunção cardíaca e sua provável etiologia. Atualmente, o uso do denominado ecocardiograma hemodinâmico vem ampliando as indicações desse exame. O ecocardiografista treinado pode oferecer informações valiosas sobre débito cardíaco e estado de volemia com a avaliação sequencial do diâmetro e da variação de fluxo da veia cava inferior, auxiliando não somente no diagnóstico e na estratificação, aspectos comuns ligados ao exame, mas também na melhor terapia e na evolução do tratamento. Medicina nuclear: Técnicas como single photon emission tomography (SPECT) podem ser utilizadas para avaliar a perfusão miocárdica e a função ventricular. A cintilografia miocárdica de perfusão é empregada com maior frequência para o diagnóstico de doença arterial coronariana, fornecendo informações sobre isquemia e viabilidade miocárdica. Indica-se a tomografia por emissão de prótons (PET) para avaliação da viabilidade miocárdica. Cateterismo cardíaco: A coronariografia é mandatória para diagnóstico etiológico na suspeita de etiologia isquêmica. O cateterismo cardíaco direito possibilita a avaliação completa da hemodinâmica cardiovascular com aferição das pressões de enchimento, pressão pulmonar, débito cardíaco e cálculos de resistências sistêmicas e pulmonares (cateter de Swan-Ganz). O monitoramento hemodinâmico invasivo pode ser importante nas situações de instabilidade hemodinâmica para orientar o manuseio de fármacos vasoativos e avaliar a dinâmica das pressões de artéria pulmonar no paciente candidato a transplante cardíaco. É indispensável na avaliação da resistência vascular pulmonar em pacientes candidatos a transplante cardíaco quando o ecocardiograma identifica pressão sistólica pulmonar acima de 55 mmHg. Biopsia endomiocárdica: Procedimento invasivo que pode ser útil no diagnóstico etiológico da disfunção miocárdica. Está indicada na suspeita de miocardites, doenças infiltrativas do miocárdio (hemocromatose e amiloidose) e doenças de depósito (miocardiopatias restritivas). Teste cardiopulmonar: Exame que assume grande importância nas fases mais avançadas da doença, possibilita a medida direta do consumode oxigênio (VO2) e de equivalente ventilatório de CO2 (VE/VCO2), e, consequentemente, a avaliação mais objetiva do grau de limitação física e da diferenciação de limitação por outras condições clínicas, como doença pulmonar e obesidade. Pacientes que atingem um VO2 maior que 14 mℓ/kg/min apresentam melhor prognóstico a longo prazo. O teste cardiopulmonar tem grande indicação atual na estratificação dos pacientes potenciais candidatos a transplante cardíaco, visto que aqueles com VO2 < 12 mℓ/kg/min e VE/VCO2 > 35 apresentam maior risco de morte e devem ser considerados para transplante cardíaco. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL = asma, tep, dpoc. 5 - elucidar o tratamento medicamentoso e não medicamentoso. O tratamento da IC tem como objetivos principais o alívio dos sintomas, a melhora da qualidade de vida e a redução de mortalidade. No planejamento terapêutico, deve-se, sempre que possível, determinar a etiologia da IC e afastar os fatores agravantes ou precipitantes da descompensação cardíaca, como negligência à restrição de sal e hídrica, não adesão ao tratamento farmacológico, isquemia miocárdica silenciosa, arritmias supraventricular (fibrilação atrial e flutter atrial) e taquicardia ventricular (TV), infecção pulmonar, tromboembolismo pulmonar, anemia, insuficiência renal, uso de anti-inflamatórios e disfunção tireoidiana. É preciso enfatizar o tratamento não farmacológico como dieta hipossódica (2 g sal/dia), restrição hídrica (1l a 1,5l), interrupção do tabagismo, etilismo e prescrição de atividade física e vacinas contra influenza e pneumococo. O tratamento farmacológico fundamentado em evidência baseia-se na combinação de medicamentos que bloqueiam tanto a atividade neuro-hormonal quanto a remodelação ventricular, com drogas que inibem ou antagonizam a angiotensina II, a aldosterona, e a atividade adrenérgica. Quando há adesão ao tratamento, muda-se radicalmente a história natural da doença com reduções expressivas de morbidade e mortalidade. Treinamento físico (reabilitação cardiovascular): A IC exerce efeitos devastadores sobre a capacidade física dos pacientes, o que decorre da redução do débito cardíaco, da disfunção endotelial e, principalmente, do comprometimento muscular esquelético e respiratório. O treinamento físico exerce efeitos benéficos na IC modulando a atividade neuro-hormonal, reduzindo a atividade simpática e a atividade inflamatória, além de promover melhora da função endotelial e consequentes efeitos importantes na reversão das alterações musculares esqueléticas decorrentes do baixo débito cardíaco. Atualmente, está bem estabelecido que a atividade física programada melhora a qualidade de vida e a capacidade para exercícios e reduz hospitalizações, sobretudo em pacientes com classes funcionais NYHA II e III. Ainda não está completamente definido se a reabilitação física reduz a mortalidade. Diuréticos: A ativação neuro-hormonal que acompanha a IC determina estímulos permanentes para a retenção de sódio e água e consequente hipervolemia, que promoverá dilatação cardíaca progressiva, aumento dos refluxos valvares atrioventriculares, hipertensão venocapilar pulmonar, congestão visceral e hipertensão venosa renal, além de contribuir para o agravamento da insuficiência renal. A congestão é responsável pelos principais sintomas da IC e pela maioria das hospitalizações. Os diuréticos são fármacos imprescindíveis para a prevenção, o alívio e o controle dos fenômenos congestivos sistêmicos e pulmonares, promovendo maior excreção de sódio e água. Os diuréticos que atuam na alça de Henle (furosemida) são os mais potentes, aumentando a excreção renal de sódio em 20 a 35% e mantendo a eficácia mesmo em pacientes com disfunção renal moderada (clearance de creatinina < 30 mℓ/min). Têm início de ação rápido e meia-vida curta, devendo ser utilizados em intervalos curtos para uma maior eficiência diurética. A dosagem depende da gravidade da doença e da presença, persistência ou recorrência de fenômenos congestivos, variando de 40 a 320 mg/dia. (REFERENCIA) Já os diuréticos tiazídicos atuam no túbulo distal e aumentam a excreção de sódio em 10 a 15% dos casos. Em pacientes mais graves ou com “resistência a diurético”, pode ser necessário associar mais uma classe de diuréticos (bloqueio sequencial do néfron) para controle adequado dos sintomas congestivos (diurético de alça + tiazídico) com doses de tiazídicos de 12,5 a 50 mg/dia. Na IC descompensada, com congestão grave, a furosemida deve ser utilizada por via intravenosa (IV), em doses que variam de 60 a 160 mg/dia, divididas em até quatro doses. Nos pacientes mais graves com deterioração de função renal e congestão grave, é preciso utilizar a furosemida em infusão IV contínua, na dose de 20 a 40 mg/h. A infusão venosa contínua está associada a maior eficiência diurética, compensação mais rápida e redução no tempo de hospitalização. Digitálicos: Agentes inotrópicos positivos mais utilizados na descompensação cardíaca, atuam inibindo a sódio-potássio adenosina trifosfatase para promover melhora da qualidade de vida, amenizando os sintomas pelo aumento da contratilidade miocárdica e do débito cardíaco. Atuam, também, sobre o sistema neuro-hormonal, diminuindo o tônus simpático, com consequente diminuição dos níveis plasmáticos de catecolaminas e menor estimulação do SRAA. Melhoram, ainda, a função barorreceptora. Em pacientes ambulatoriais, o digital não apresenta efeito sobre a mortalidade, mas se mostrou efetivo em reduzir a morbidade da IC, com redução de sintomas e da necessidade de internação hospitalar. Além de seu efeito sobre o desempenho cardíaco, o digital é bastante útil nos pacientes que apresentam IC e fibrilação atrial, pois exerce ação rápida e eficaz no controle da resposta ventricular, fornecendo maior estabilidade hemodinâmica. Os efeitos colaterais mais comumente observados são alterações gastrintestinais, como náuseas, vômitos e anorexia, alterações visuais e arritmias cardíacas. A dose média preconizada da digoxina em adultos é 0,25 mg/dia, porém esta deve ser adequada a idade, massa corporal e função renal do paciente, sendo possível variá-la entre 0,125 e 0,50 mg/dia.Nos pacientes do sexo feminino, idosos e portadores de doença pulmonar obstrutiva crônica, deve-se reduzir a dose pelo maior risco de intoxicação. (REFERENCIA) Inibidores da enzima de conversão da angiotensina (IECA) ou bloqueadores do receptor da angiotensina II (BRA): Os IECA reduzem os níveis de angiotensina II e elevam os níveis de bradicinina. Têm efeitos hemodinâmicos altamente favoráveis com redução dos sintomas, aumento da tolerância ao esforço e melhora da qualidade de vida, além de diminuírem a progressão da disfunção ventricular e a mortalidade por IC. Existem aproximadamente duas dezenas de moléculas de IECA, porém as mais amplamente testadas são o captopril, na dose de 100 a 150 mg/dia, via oral (VO), e o enalapril, na dose de 20 a 40 mg/dia. Os BRA têm efeitos superponíveis e podem ser usados nos pacientes que não toleram IECA, com evidências fortes e recentes de não se tratar de fármacos inferiores aos IECA. O ideal é o uso de losartana em doses otimizadas de 100 a 150 mg/dia. Betabloqueadores adrenérgicos: Pilares da terapia moderna da IC, os bloqueadores dos receptores adrenérgicos (b1 e b2) antagonizam os efeitos adversos da estimulação adrenérgica crônica na IC, com efeitos antiarrítmico, anti-isquêmico e de proteção celular. bisiprolol, o carvedilol e o succinato de metoprolol. Espironolactona: Usada há muitos anos como diurético, refere-se a um bloqueador dos receptores de aldosterona. A aldosterona aumentada nos pacientes com IC determina aumento na reabsorção de sódio e água. O aumento na excreção de magnésio e potássio contribui para o aparecimento de arritmias e morte súbita. Outro efeito deletério da aldosterona é a indução de fibrose no miocárdio e na parede vascular. Os efeitos colaterais mais frequentes dessa classe de medicação são a ginecomastia (10%) e a hiperpotassemia (5%), esta última mais frequente empacientes idosos, diabéticos e portadores de insuficiência renal. Anticoagulante oral: Disfunção ventricular grave, congestão sistêmica, imobilidade e presença de fibrilação atrial aumentam o risco de tromboembolismo pulmonar e sistêmico em portadores de IC. A anticoagulação oral está recomendada para os pacientes com algum episódio tromboembólico pregresso, com trombo intracavitário, aneurisma ventricular extenso e fibrilação atrial. Ivabradina: Nova medicação utilizada para o tratamento da IC, trata-se de um inibidor seletivo do nó sinusal, determinando redução da frequência cardíaca. Atualmente, indica-se essa medicação em pacientes com ritmo sinusal, disfunção sistólica e classes funcionais NYHA II a IV, que mantêm frequência cardíaca maior que 70 bpm apesar do uso de IECA ou BRA e betabloqueadores nas doses máximas toleradas. A dose preconizada é de 5 mg, 2 vezes/dia, inicialmente, e otimização com 7,5 mg, 2 vezes/dia, dependendo da resposta da frequência cardíaca. Cardiodesfibrilador implantável: A morte súbita é responsável por 40 a 50% dos óbitos em pacientes com IC, acometendo principalmente aqueles mais estáveis Na prevenção secundária de morte súbita, há indicação formal de cardiodesfibrilador implantável (CDI) para todo paciente com miocardiopatia de qualquer etiologia, sobrevivente de parada cardíaca decorrente de fibrilação ventricular (FV), TV ou taquicardia ventricular sustentada (TVS) com instabilidade hemodinâmica, excluindo-se causa reversível ou, ainda, paciente com doença cardíaca estrutural com documentação de TVS espontânea estável ou instável. A indicação de CDI deve ser considerada em pacientes com síncope recorrente com indução de TVS instável ou FV no estudo eletrofisiológico. Na prevenção primária de morte súbita, o implante do CDI associado à terapia farmacológica atual otimizada mostrou-se eficaz em reduzir a morte súbita em pacientes com miocardiopatia de etiologia isquêmica, com FE abaixo de 35% e em classes funcionais II e III. Com esses critérios de inclusão, estudos clínicos MADIT II10 e SCD-HeFT11 consolidaram a indicação do CDI na prevenção primária de morte súbita. Considera-se recomendação de indicação IA o uso de CDI para prevenção primária em pacientes portadores de miocardiopatia isquêmica após infarto do miocárdio com pelo menos 6 meses de evolução, com FE ≤ 35%, em classes funcionais II ou III com terapia clínica otimizada, sem indicação de revascularização e expectativa de vida de pelo menos 1 ano. Considera-se indicação IIaB o uso em pacientes com as mesmas características, porém portadores de miocardiopatia não isquêmica. É importante ressaltar, contudo, que a análise de custo-efetividade mesmo em países europeus ou nos EUA não se mostrou positiva quando se trata da prevenção primária. É importante ressaltar que o CDI pode piorar a qualidade de vida pela elevada incidência de choques inapropriados, levando a ansiedade e depressão, bem como acarretar maior risco de internação por IC, possivelmente transformando o mecanismo de morte do paciente, reduzindo o risco da morte súbita e aumentando o risco de morte por progressão da IC, fato que compromete, de certo modo, os benefícios irrefutáveis do implante do dispositivo. Ressincronização ventricular: Um terço dos pacientes com diagnóstico de IC apresenta QRS alargado acima de 120 ms com frequência decorrente do bloqueio do ramo esquerdo (BRE). Associa-se a essa condição a dissincronia ventricular eletromecânica, ocasionada pelo retardo na despolarização ventricular, que determina dissincronia de contração ventricular, ocasionando redução do débito cardíaco, aumento do consumo de oxigênio, encurtamento do tempo de enchimento ventricular e favorecimento da insuficiência mitral. Com desfechos relacionados com o aumento da FE, diminuição do diâmetro ventricular esquerdo e redução de mortalidade, vários estudos mostraram a eficácia do uso do marca-passo multissítio para terapia de ressincronização ventricular (TRV). Com base principalmente nos estudos CARE-HF12 e COMPANION13, a indicação IA para o implante do ressincronizador cardíaco envolve pacientes com IC em classe funcional III, ritmo sinusal, tratamento farmacológico otimizado, FE < 35 e QRS > 120 ms. Essa modalidade de dispositivo, apesar da indiscutível evidência de indicação, tem diversas limitações, como experiência da equipe implantadora para posicionamento adequado do eletrodo na veia cardíaca posterior esquerda, ecocardiografista experiente para ajustar melhor o intervalo atrioventricular e o tempo diastólico e reavaliação frequente da sincronia. Estudos mais recentes têm demonstrado benefícios da terapia de ressincronização em pacientes com classes funcionais II e III e QRS com duração ≥ 150 ms. Tratamentos cirúrgicos: A cirurgia de revascularização do miocárdio está indicada em pacientes com disfunção ventricular esquerda e lesão do tronco da artéria coronária esquerda ≥ 50% ou com lesões ≥ 70% proximais em artérias descendente anterior e circunflexa (equivalente de tronco) ou, ainda, naqueles com sintomas anginosos limitantes e isquemia documentada. Entretanto, o estudo STICH14 não demonstrou benefício significativo no tratamento cirúrgico quando comparado ao tratamento clínico em pacientes com doença coronariana e FE ≤ 35% (excluindo pacientes com lesões de tronco e angina grave). Nas lesões orgânicas valvares, mitral e aórtica, a cirurgia deve ser considerada mesmo na presença de grave disfunção ventricular. Dispositivos de assistência ventricular: Os dispositivos de assistência ventricular podem ser utilizados no tratamento do choque cardiogênico ou na manutenção das condições circulatórias em pacientes com IC refratária ao tratamento medicamentoso como ponte para o transplante cardíaco. Mais recentemente, novos dispositivos têm sido preconizados com terapêutica de destino ou definitiva para os pacientes com IC refratária, principalmente para os não elegíveis para transplante. Transplante cardíaco: Está indicado para pacientes com IC refratária, classes funcionais NYHA III ou IV permanentes, com sintomas graves e hospitalização frequente, sem alternativas de tratamento e terapêutica otimizada. Para os pacientes ambulatoriais, um critério de indicação é VO2 < 12 mℓ/kg/min (em vigência de betabloqueadores) ou VE/VCO2 acima de 35. 6 - entender o prognóstico da insuficiência cardíaca. O prognóstico da ICFER é pior do que a ICFEP. História • Idade > 65 anos. • Múltiplas internações hospitalares. • Falta de aderência ao tratamento. • Maior intensidade dos sintomas (classe III/IV – NYHA). • Caquexia. • Anorexia. • Síncope. • Apneia do sono. • Diabetes mellitus. • Doença pulmonar associada. • Depressão. • Parada cardiorrespiratória revertida. • Redução de função cognitiva. Exame clínico • Má perfusão. • Congestão. • Hipotensão. • Taquicardia. • Presença de B3. Etiologia • Chagásica. • Isquêmica. Capacidade para exercício • Baixo VO2 máx. • Aumento do VE/VCO2 slope. • Diminuição da distância de 6 minutos. • Diminuição acentuada da tolerância ao exercício. Alterações estruturais e funcionais • Cardiomegalia acentuada (índice cardiotorácico > 0,55). • Dilatação progressiva do VE. • Aumento do índice de massa do VE. • Aumento do diâmetro do átrio esquerdo. • Aumento do diâmetro do ventrículo direito. • FEVE < 30%. • Redução da fração de ejeção do ventrículo direito. • Insuficiência mitral. • Insuficiência tricúspide. • Padrão restritivo/pseudonormal. Alterações hemodinâmicas • Redução do débito cardíaco. • Elevação de pressões pulmonares. • Elevação do gradiente transpulmonar. • Elevação da resistência vascular sistêmica (RVS). Alterações eletrofisiológicas • Fibrilação atrial. • Arritmias complexas (taquicardia ventricular [TV] sustentada e não sustentada). • BRE (dissincronia). Onda T alternante. • QT longo. • Alteração de dispersão do QT. • Redução da variabilidade da FC. Exames laboratoriais • Sódio plasmático < 130mEq/L. • Níveis elevados de BNP. • Níveis elevados de citocinas. • Ativação neuro-hormonal (noradrenalina). • Anemia (hemoglobina< 11g/dL). • Creatinina > 2,5mg/dL.
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