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P3: EDEMA (TRG) 1 P3: EDEMA (TRG) 📌 OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM: 1) Conceituar edema; 2) Caracterizar a fisiopatologia do edema; 3) Descrever as características semiológicas do edema; 4) Identificar os grandes grupos de causa do edema (renal, CV, hepática, hormonal, nutricional, linfática, vascular, inflamatória, neoplasias). 📚 REFERÊNCIASS: Artigo “Mecanismos de formação de edemas”; ACL; Site PatoArteGeral. 1) CONCEITUAR EDEMA Edema é o acúmulo anormal de líquido no tecido intercelular (intersticial), nos espaços ou nas cavidades do corpo. Esse líquido é constituído por uma solução aquosa de sais e ptns plamáticas em diferentes qtdes, variando de composição conforme a causa que o originou. P3: EDEMA (TRG) 2 O edema pode ser classificado em 2 tipos: Exsudato: edema inflamatório, com alta qtde ptns, densidade >1,020g/mL e rico em céls inflamatórias (leuco) ⇒ EDEMA LOCALIZADO Transudato: edema com aspecto não inflamatório, com baixa concentração ptns, densidade baixa (<1,020g/mL) e com líquido citrino ⇒ EDEMAS PULMONAR E CEREBRAL Para que o edema ocorra, deve haver uma quebra dos mecanismos que controlam a distribuição do volume de líquido no espaço intersticial. Essa desrregulação pode ser localizada e envolver apenas os fatores que alteram o fluxo de fluido ao longo do leito capilar ou, ainda, pode ser 2ª a alterações do mecanismo de controle do volume do compartilhamento extracelular e do líquido corporal total ⇒ edema generalizado= anasarca. Podem ser pequenos edemas nas extremidades dos membros ou até chegar a envolver grandes cavidades (hidrotórax, hidroperitônio e hidropericárdio). 2) CARACTERIZAR FISIOPATOLOGIA EDEMA O conteúdo do edema é originário dos capilares sanguíneos e vasos linfáticos, que são estruturas permeáveis (existe uma complexa hidrodinâmica entre esses vasos e nossos tecidos, de modo que todo líquido que sai da circulação, a princípio também retorna para ela). E para reger esta hidrodinâmica existem diversas forças, responsáveis por uma troca equilibrada de líquidos entre os vasos e os tecidos. A entrada e a saída de líquido do leito vascular dependem principalmente de 2 fatores: Pressão hidrostática capilar: força exercida pelo sangue contra a parede do vaso (”empurra” o líquido para fora do vaso). Pressão oncótica/coloidosmótica/osmótica capilar: exercida pelas ptns plasmáticas que não atravessam a parede vascular (”puxa” o líquido para o vaso) ⇒ Albumina. A pressão oncótica NÃO varia muito, pois a [ptn plasmática] é quase constante. MAAASS, a pressão hidrostática varia bastante: na porção arteriolar ela é MAIOR que a pressão oncótica (líquido tende a sair do vaso); já na porção venular ela é MENOR que a pressão oncótica (líquido tende a voltar para o vaso). Há também uma pressão hidrostática e uma pressão oncótica intersticiais, que são BASTANTE PRÓXIMAS P3: EDEMA (TRG) 3 na maioria das situações, anulando-se e não influindo significativamente na geração do edema. ⚠⚠⚠ Este equilíbrio NÃO é perfeito: geralmente a saída de líquido do vaso é ligeiramente MAIOR que o seu retorno, o que poderia gerar um edema tecidual. Este problema é resolvido pelos VASOS LINFÁTICOS, estruturas que drenam um volume limitado de líquido dos tecidos, devolvendo este pequeno “excesso” de plasma à circulação sanguínea. Por isso, em situações em que os linfáticos são lesados, desenvolve-se um EDEMA DURO. � Hidrodinâmica entre os compartimentos intersticial e intravascular. Na porção arteriolar, a pressão hidrostática é maior do que na porção venular, o que permite a saída de líquido pela arteríola e a entrada deste pela vênula. O líquido restante é drenado pela via linfática. � Situação em que há um desequilíbrio provocado pelo ↑ pressão hidrostática, principalmente na porção arteriolar. A tendência é a maior saída de líquido para o meio extravascular, provocando o acúmulo deste no interstício. P3: EDEMA (TRG) 4 � Em casos especiais, pode haver a obstrução da via linfática, sem alteração nas pressões oncótica e hidrostática. O resultado também é o acúmulo de líquido no interstício em decorrência da falta de drenagem. � O DESEQUILÍBRIO entre os fatores que regem essa hidrodinâmica entre interstício e meio intravascular é que origina o EDEMA. Esses fatores compreendem a pressão hidrostática sanguínea e intersticial, a pressão oncótica vascular e intersticial e os vasos linfáticos: 1) Pressão hidrostática sanguínea: quando essa pressão ↑, ocorre saída excessiva de líquido do vaso, situação comum em estados de hipertensão e drenagem venosa defeituosa (por exemplo, em casos de varizes, insuficiência cardíaca etc). 2) Pressão hidrostática intersticial: se ↓ essa força, o líquido não retorna para o meio intravascular, acumulando-se intersticialmente. 3) Pressão oncótica sanguínea: a ↓ pressão oncótica provoca o não deslocamento do líquido do meio intersticial para o interior do vaso. Essa variação da pressão oncótica é determinada pela ↓ quantidade de protéinas plasmáticas presentes no sangue. Ex.: hipoalbuminemia (cirrose hepática; desnutrição; sd nefrótica; enteropatia perdedora ptn). 4) Pressão oncótica intersticial: um ↑ quantidade de ptns no interstício provoca o ↑ sua pressão oncótica, o que favorece a retenção de líquido nesse local. Além disso, o ↑ dessa força contribui para a dificuldade de drenagem linfática na região. 5) Vasos linfáticos: as obstruções dos capilares linfáticos (ex. elefantíase) podem gerar um mecanismo fisiopatológico particularmente grave, uma vez que as ptns plasmáticas que extravasarem os capilares não são removidas do interstício. Isso gera um ciclo vicioso, já que não há outro mecanismo para a retirada das mesmas. P3: EDEMA (TRG) 5 Causas anatômicas genéticas são: Linfangiectasia: dilatação dos vasos linfáticos com incompetência valvular concomitante; Hipoplasia: ↓ nº linfáticos (oligoplasia) em determinada região e/ou ao seu pequeno diâmetro (microplasia), o qual impede o transporte eficaz da linfa; Fibrose 1ª linfonodos: hipodesenvolvimento embrionário do linfonodo. Causas secundárias geralmente por obstrução extrínseca, por destruição total ou parcial da rede linfática (radioterapia), destruição de linfonodo (metástase), incompetência valvular e dilatação ou ectasia por linfangite de repetição. 💡 Esse mecanismo fisiopatológico explica os edemas mais difíceis de tratar, para os quais deve ser usada terapêutica combinada. Como nos casos de trauma, a regeneração da rede linfática que foi lesada pode ocorrer, porém não de forma plena 😃. 6) Acúmulo de sódio no interstício: ocorre quando há ingestão de sódio maior do que sua excreção pelo rim; o sódio em altas concentrações ↑ pressão osmótica do interstício, provocando maior saída de água do vaso. 7) Aumento permeabilidade capilar: em muitas regiões do endotélio, as junções intercelulares que são relativamente lábeis entre as células endoteliais podem se dilatar para a passagem de algumas moléculas, sob a influência de fatores hemodinâmicos (↑ PA) e vasoativos (citocinas, histaminas e outros produtos imunes). Equilíbrio de Starling ❓O que é? São as forças fisiológicas que controlam o movimento de fluidos ao longo do leito capilar, e que, quando alteradas, podem gerar o edema. Fluxo dos fluidos no nível capilar: depende da permeabilidade parede capilar, definida pela constante Kf, e pela diferença entre as variáveis da pressão hidrostática (Pc) e da pressão oncótica (c) ao longo do leito capilar. Assim: P3: EDEMA (TRG) 6 Na extremidade arteriolar: pressão hidrostática > pressão oncótica ⇒ Extravasamento de fluido para interstício ⇒ ↑ [ptns] intracapilares ⇒ ↑ pressão oncótica Na extremidade venosa: pressão oncótica > pressão hidrostática (inversão do gradiente de pressão) ⇒ Excesso líquido no espaço intersticial é drenado pelos vasos linfáticos. Perturbações nas variáveis que regem o equilíbrio de Starling poderão ocasionar edema. Edema localizado: perturbações num território capilar restritoGrandes edemas: alterações sistêmicas mais complexas. Ocasionados por perturbações nos mecanismos de controle do volume extracelular ⇒ ↑ volume extracelular e ↑ peso corpóreo. O aparecimento de edema é consequência de alterações na homeostase do sódio e da água. Processo multifatorial: Os processos (mórbidos) são multifatoriais, ou seja, vários fatores atuam simultânea e conjuntamente para desencadear o edema. Assim, cada caso de edema resulta da composição de um ou vários fatores daqueles mostrados na Figura 1 e na 2. Classificação: Na dependência de tais fatores, ficam caracterizados os edemas como: cardíaco, renal, cirrótico ou nutricional. Alças fisiológicas de controle do volume extracelular �� Atuam no sentido de reter sódio!! P3: EDEMA (TRG) 7 SNAs e o SRAA dependem do envolvimento renal: Rins: principal efetor no balanço de água e sódio e importante sensor (leva informações ao SNC sobre o volume extracelular através das aferências nervosas). Arteríolas Aferentes: sensores de volume e pressão. Mácula densa: é um sensor [sódio] nos túbulos renais ⇒ Controla liberação de renina do aparelho justaglomerular junto com o SNAs. Formação dos edemas generalizados: ↓ volume de sangue arterial efetivo (VSAE) ⇒ Ativa mecanismo de controle de volume ⇒ Retenção renal de água e sódio. 💡 VSAE: parâmetro de difícil mensuração, representa o volume de sangue necessário para manter o RV, a perfusão tecidual e o DC dentro dos valores normais. O VSAE depende do volume de sangue ejetado pelo coração (volume sistólico), que é diretamente influenciado pelo RV ao AD (lei de Frank-Starling), que, por sua vez, depende do tônus das grandes veias e, principalmente, do volume de sangue intravascular. As sds dos grandes edemas são acompanhadas de alterações do VSAE ou do seu principal órgão regulador, os rins. Apenas para não tornar a figura muito complexa, estão omitidas algumas alças natriuréticas, como o fator natriurético atrial (FAN), as PGs, as cininas e o NO, assim como o hormônio antidiurético (HAD). P3: EDEMA (TRG) 8 3) DESCREVER CARACTERÍSTICAS SEMIOLÓGICAS EDEMA A caracterização clínica inicia-se na anamnese, qdo se abordam o período de duração, a localização e a evolução, complementando-se com o EF: localização, distribuição, intensidade, consistência, elasticidade, temperatura, sensibilidade e outras alterações da pele circunjacente. O primeiro passo a ser dado visa a busca de pistas diagnósticas para a identificação de edemas localizados ou generalizados. As Tabelas I, II e III resumem os principais pontos a serem explorados para se atingir esse objetivo. P3: EDEMA (TRG) 9 Em adição, as Figuras 4 e 5 ilustram exemplos de edemas localizados. Entretanto, dois aspectos são passíveis de comentários mais detalhados. O 1º relaciona-se à importância da aferiçao sequencial do peso corporal. Edemas generalizados sao acompanhados do ↑ peso e esse é um importante parametro para avaliação da eficácia terapêutica. Considera-se que seja necessário cerca de 4-5% de ↑ peso corpóreo para que o edema seja notado. O 2º refere-se ao sinal do cacifo ou de Godet (Figura 3). Esse sinal é realizado, comprimindo-se a região pré-tibial com o polegar por cerca de 10 seg e observando-se se há formação de depressão. A profundidade da depressão pode ser comparada com escala de cruzes, variando de + a ++++. Para efeito de comparação, a intensidade máxima (++++) é atribuída a edemas que formam depressões maiores ou iguais a uma polpa digital. Uma segunda informação pode ser obtida, observando-se o tempo necessário para o desaparecimento da O edema é localizado quando acomete apenas um segmento do corpo (sacral, MMSS, face e, mais comumente, MMII). Salvo essa situação, considera-se generalizado. P3: EDEMA (TRG) 10 depressão após a remoção da compressão digital. Caso a depressão desapareça em um tempo menor que 15 seg, suspeita-se de baixa pressão oncótica, ou seja, hipoalbuminemia. Tempos maiores que esse sugerem edema secundário ao ↑ pressão hidrostática. No exame físico do edema, avaliaremos: Localização: localizado ou generalizado Intensidade: sinal cacifo/Godet. Outros: técnica do deslocamento água, perimetria Consistência: mole (retenção hídrica e é de curta duração) ou duro (proliferação fibroblástica em quadros de duração prolongada ou de recorrentes episódios de inflamação) Elasticidade: elástico quando a fóvea rapidamente se desfaz edema inflamatório) ou inelástico, caso perdure Temperatura da pele circunjacente: pele de temperatura normal, quente (estados inflamatórios) e fria (lesão de irrigação sanguínea) Sensibilidade da pele circunjacente: observada na dígito-pressão. Encontra-se edema doloroso, como o inflamatório e o indolor Outras alterações da pele circunjacente: palidez (lesão da irrigação sanguínea), cianose (distúrbio venoso) ou rubor (inflamação). Outros pontos avaliados são a textura e a espessura. A pele é lisa e brilhante no edema recente; espessa se edema prolongado; e enrugada na cessação do edema. P3: EDEMA (TRG) 11 4) IDENTIFICAR OS GRUPOS DE CAUSA DO EDEMA HEPÁTICAS: Cirrose hepática O processo cirrótico (fibrose e regeneração nodular) afeta a função hepática em consequência de: A) Alterações funcionamento hepatócitos por causa das lesões celulares (necrose, proliferação), comprometendo, assim, a síntese albumina. B) Destruição arquitetura lobular, canalicular e vascular, levando a distorções estruturais, que dificultam o livre fluxo de sangue e linfa nos sinusóides hepáticos ⇒ ↑ pressão território venoso (portal) e linfático (intra-hepático) = HIPERTENSÃO PORTAL. Isso faz com que o sangue busque vias alternativas de tráfego, forçando o aparecimento de circulação colateral venosa, que promoverá ↑ capacitância (venosa) esplâncnica ⇒ Aprisionamento de sangue no território mesentérico. Esse sangue, sequestrado no leito venoso “ampliado”, irá prejudicar o enchimento vascular arterial underfilling, causando ↓ volume efetivo sangue com todas as P3: EDEMA (TRG) 12 consequências mostradas na figura 2. Além disso, como mostra a figura 9, a hipoalbuminemia provocada pela deficiente síntese de albumina ↓ pressão oncótica do plasma e concorre para a formação edema. C) Formação shunts arteriovenosos. A insuficiência hepática é acompanhada de um tônus vascular, deslocado para uma condição de relaxamento devido à ↓ metabolismo várias substâncias vasodilatadoras e ao ↑ produção NO. Assim, com a ↓ resistência vascular periférica, há ↓ VAES e ativação mecanismos controle volume extracelular (figura 2) no sentido de retenção renal sódio e agua. Há, em pctes cirróticos com ascite, uma hiperatividade simpática e a ativação SRAA, com consequente hiperaldosteronismo secundário. A exist~encia de hipertensão portal torna o território esplâncnico mais vulnerável na presença de hipoalbuminemia, daía a ocorrência de transudação líquida para cavidade peritoneal ⇒ Ascite. RENAIS: Sd nefrítica; Sd nefrótica EDEMA NEFRÍTICO Nas sds nefríticas agudas, das glomerulonefrites (GN) agudas, p ex, que se manifestam com edema, hematúria, hipertensão - sem proteinúria importante (>3,5 g/dia) - a causa fundamental do edema é a ↓ TFG. O edema é tão mais grave quanto maior for a ↓ TFG, pois, como consequência desta, ocorrerá uma ↓ muito acentuada da carga filtrada de sódio (solutos) que será ainda P3: EDEMA (TRG) 13 mais reduzida após a maior reabsorção tubular desse íon. Assim, a pequena oferta distal de sódio permitirá a reabsorção quase total do Na+ tubular no nefro distal. Cai a excreção renal de sódio e acontece, desse modo, retenção de Na+ (e água, de equilíbrio osmótica). Essencialmente, é um rim com capacidade muito pequena de excreção de Na+. Se fizermos restrição dietética de NaCl (rigorosa), pode não se formar edema - pois equilibrar-se-ia a ingestão com a baixa excreção, sem retenção. Mas se o consumo de sódio for liberal, ocorrerá retenção de Na+ e expansão do volume do extracelular (VEC), como mostraa Figura 6. Nessas condições, haverá edema e hipertensão arterial. Nos casos de IRA (necrose tubular aguda) pode haver ou não a formação de edema. Essa doença cursa com destruição das células tubulares e pode evoluir desde oligoanúria até poliúria. Assim, a presença de edema dependerá da associação entre ↓ TFG, a ↓ carga excretada de sódio e o aporte de sódio na dieta. Cabe lembrar que a presença de IRA é comum em pacientes críticos, sujeitos a grande aporte de líquidos por infusão parenteral, ricos em sódio, fator que pode levar a expansão do volume extracelular, ↑ pressão hidrostática capilar e edema. EDEMA NEFRÓTICO Sempre que uma dça renal tiver a presença de lesões específicas da membrana basal glomerular e/ou dos pedicelos das células epiteliais glomerulares, haverá um ↑ permeabilidade glomerular às macromoléculas. Nessas condições, as proteínas plasmáticas são filtradas em grandes quantidades e a perda urinária (proteinúria) P3: EDEMA (TRG) 14 ultrapassa 3,5 g/24 h. Clinicamente, manifesta-se por urina espumosa (proteinúria) e edemas. O edema reflete a redução na pressão oncótica do plasma, o que irá acarretar uma menor reabsorção do fluido intersticial, na extremidade venosa do leito capilar. A Figura 7 mostra, esquematicamente, as alterações presentes na sd nefrótica, responsáveis pelo edema. A hipoproteinemia, resultante da perda urinária de proteínas, é agravada pelo ↑ catabolismo da albumina, que acontece na sd nefrótica. A ↓ pressão oncótica do plasma, resultante da hipoproteinemia, por si só, leva ao aparecimento de edema. Além disso, pode provocar contração do volume intravascular, que pode acarretar ↓ DC (↓ pré-carga) e consequente ↓ perfusão renal. Esta, por sua vez, leva à ativação do SRAA, reduzindo a excreção renal de sódio. A ↓ PA ou do volume plasmático pode, ainda, estimular a liberação de hormônio antidiurético, que irá provocar retenção de água e hiponatremia. Nessas condições, haverá maior reabsorção de Na+ e de água pelos túbulos renais, com retenção de sódio e água. Quando houver maior atividade antidiurética, poderá ocorrer retenção de água (livre de solutos), que promoverá diluição do extracelular, causando hiponatremia. Esse fluido retido representa um efeito diluidor das ptns plasmáticas, agravando a ↓ da pressão oncótica do plasma e reciclando o estímulo à formação de edema. Clinicamente, o edema renal caracteriza-se pela localização facial, particularmente com a presença de edema palpebral - é um edema matinal, que tende a dissipar-se com o correr do dia - além do inchaço de MMII, que (ao contrário) se exacerba com o passar das horas, constituindo um edema vespertino. Pacientes nefróticos com albumina plasmática muito baixa podem apresentar edema generalizado, intenso e extenso (anasarca), inclusive com derrames cavitários (serosites: ascite, derrames pleural e/ ou pericárdico). P3: EDEMA (TRG) 15 CARDÍACAS: Insuficiência cardíaca (IC) O que leva à formação desse edema é a ↓ DC, em consequência da falência do miocárdio. Como resultado, ↑ pressão venosa sitêmica + ↓ volume arterial efetivo sangue (VAES). O volume de sangue, que banha os átrios cardíacos, o VE, o arco aórtico, o seio carotídeo e a arteríola aferente renal, é crítico para o controle da volemia, pois esses são segmentos providos de receptores volume e pressorreceptores que acusam um maior ou menor enchimento do lado arterial da circulação. Desse modo, fala-se em repleção vascular (overfilling), ou depleção vascular arterial (underfilling). Aqui, VAES = enchimento deficiente do leito vascular arterial e expansão do VAES corresponderá a um enchimento supérfluo do leito CV arterial. P3: EDEMA (TRG) 16 A figura 8 mostra que a ↓DC na ICC acarreta uma ↑ pressão venosa sistêmica e distúrbio do equilíbrio das forças de Starling nos capilares periféricos. Prevalecendo a pressão hidráulica intravascular na extremidade venosa do capilar, fica dificultando o retorno do liquido intersticial para o capilar, e água acumula-se no interstício. Essa redistribuição do fluido extracelular concorre para a formação edemas. A figura mostra ainda que outra consequência da ↓DC é a ↓ VAES, ou seja, ocorrerá um enchimento deficiente do leito vascular arterial, com sensibilização de volumerreceptores e/ou pressorreceptores (figuras 2 e 8). A figura 2 mostra o papel do SRAA ⇒ Retenção Na. Além disso, a retenção água, desacompanhada de soluto (água livre), por ação do HAD, pode levar à diluição do Na plasmático (hiponatremia). Clinicamente, é um edema gravitário, pelo ↑ pressão venosa nas extremidades e, portanto, acentua-se com a ortostase, no correr do dia (edema vespertino). Em um pcte com edema generalizado, o dx de IC é realizado na presença de história de dispneia progressiva, que se inicia aos grandes esforços e culmina com ortopneia; a presença episódios de dispneia paroxística noturna; nictúria, hemoptise, tosse ou cianose; antecendentes pessoais de dças cardíacas (Chagas, IAM, miocardiopatia, hipertensão arterial e febre reumática) e aos achados do EF (↑FC com ritmo galope, 3ª bulha, desvio do íctus cordis, estase jugular, estertores pulmonares crepitantes, derrame pleural e hepatomegalia). 💡 Edema de origem cardiogênica: mole, elástico, indolor, de intensidade variável e onde a pele pode apresentar-se brilhante e lisa. HORMONAIS: Hipotireoidismo; Hiperaldosteronismo; Pré-menstrual; Gravidez HIPOTIREOIDISMO Edema é determinado pela deficiência na produção ou na atuação dos hormônios tireoidianos (HT). O iodo é o elemento essencial para a síntese dos HT. Sua ausência acarreta alterações físicas profundas em longo prazo. Quadro: pele torna-se cérea, pálida ou amarelada por impregnação do caroteno, podendo surgir o mixedema. O mixedema é um edema duro, inelástico, não muito intenso, localizado especialmente na região pré-tibial, secundário ao acúmulo de mucopolissacarídeos no tecido celular SC. Há lentidão dos movimentos e dos reflexos P3: EDEMA (TRG) 17 osteotendíneos. Os sinais e sintomas dependem principalmente da intensidade do hipotireoidismo. Diagnóstico: Os exames laboratoriais para avaliação do edema de origem hormonal incluem TSH, T3 e T4, anticorpo antimicrossomal e antitireoglobulina (positivos na tireoidite de Hashimoto), prolactina sérica, sódio, glicemia e hemograma. HIPERALDOSTERONISMO Provém do acúmulo de sódio nos túbulos renais e pela acentuada eliminação de potássio. Quadro: dores musculares, parestesias, ↓ reflexos neurológicos, arritmias e atonia gastrintestinal. Diagnóstico: USG ou TC de adrenal. EDEMA CÍCLICO PRÉ-MENSTRUAL Edema ocorre devido às flutuações hormonais durante um determinado período ou ciclo menstrual. Fisiopatologia: baseia-se na retenção hidrossalina que pode ocorrer na presença do ↑ alguns hormônios. Quadro: Na maioria das vezes, esse edema não é bastante intenso, contudo, os sintomas da paciente são exacerbados. Tratamento: tensão pré-menstrual, utilizando-se diuréticos de pequena ação nos casos muito sintomáticos. EDEMA GRAVÍDICO Tem origem no nível elevado de estrogênio, juntamente do ↑ permeabilidade vascular e da pressão do crescimento fetal sobre os vasos pélvicos, resultando em uma leve flobostase e linfostase dos MMII. Quadro: Apesar de ser uma condição fisiológica nesse período, pode ter componente patológico, quando secundário à gestação tardia ou toxicose gravídica. Nesse caso, o edema é simétrico, profundamente depressível e, por vezes, associado a cãimbras. Terapêutica é baseada na otimização dos níveis pressóricos por meio do uso da alfa- metildopa ou betabloq, bem como na utilização de diuréticos. Outras alternativas são a fisioterapia e o uso de meias elásticas compressivas. INFLAMATÓRIAS: Erisipela; Esclerose sistêmica; Cisto Baker Roto ERISIPELA Mecanismo básico é a dilatação e ↑ vasos linfáticos, e a infiltração de leucócitos, polimorfonucleares, linfocitose de outras células inflamatórias P3: EDEMA (TRG) 18 Fatores predisponentes: locais(linfangite crônica, insuficiência venosa, história anterior de cirurgia de varizes e cirurgia cardíaca com safenectomia) e sistêmicos (obesidade, DM e HAS). Quadro: O edema pode ser localizado, de intensidade leve a mediana, elástico, doloroso, com a pele circunjacente lisa, brilhante, vermelha e quente. Diagnóstico é eminentemente clínico, mas a comprovação pode ser feita com cultura de material colhido nas áreas afetadas, com isolamento do microorganismo. ESCLEROSE SISTÊMICA Doença crônica do tecido conjuntivo caracterizada por fibrose e alterações vasculares. Além do espessamento de pele e vísceras, que é considerado a principal característica da ES, um endotélio vascular “ativado” é muito frequente, causando úlceras isquêmicas e alterações vasculares viscerais. Quadro: Edema: geralmente ocorre nos pés. É esclerótico, duro e pode abranger a fáscia muscular, com consequente dor ao estiramento e limitação dos movimentos. Fenômeno de Raynaud: três fases ⇒ palidez, cianose e hiperemia. Úlceras isquêmicas. Espessamento cutâneo (fase edematosa, fase indurativa e fase atrófica). Calcinose: acúmulos de cristais de cálcio e hidroxiapatite em locais de uso excessivo ou trauma. Alterações de pigmentação. Artralgia, artrite e tenossinovites. Fraqueza muscular. Diagnóstico: História clínica: acometimento de outros sistemas, como pele, CV, pulmonar e TGI. Dosagem de anticorpos específicos: FAN, anti-centrômero. CISTO DE BAKER ROTO Lesão benigna, caracterizada pelo acúmulo de líquido em uma pequena bolsa que surge atrás do joelho (região poplítea), formando um cisto, que se apresenta como um nódulo abaixo da pele. Quadro: Edema na região posterior do joelho; Dor e desconforto local; Sensação de pressão na região; Rigidez muscular adjacente; Sintomas podem piorar após exercícios físicos, longos períodos em pé ou em uma mesma posição Diagnóstico: clínico e USG local, mostrando a ruptura. VASCULARES/LINFÁTICAS: Varizes MMII; TVP VARIZES MMII P3: EDEMA (TRG) 19 Insuficiência venosa: O organismo dispõe de mecanismos que, quando competentes, impedem que ocorra acúmulo de líquido nas extremidades. Um desses sistemas funciona por meio de válvulas venosas. Cada vez que a musculatura das pernas é tencionada, veias presentes no seu interior e as adjacentes são comprimidas. Essa compressão leva ao deslocamento do sangue para um nível superior, em direção ao coração. O excesso de pressão venosa pode levar ao ↑ diâmetro das veias. Contudo, os folhetos valvulares não conseguem ↑ seu tamanho, provocando uma incompetência dessas válvulas e retenção de mais líquido. Esse mecanismo leva à formação de edema nos MMII toda vez que o paciente ficar por mais de alguns minutos em ortostase. Veias varicosas ou varizes são descritas como veias permanentemente dilatadas, tortuosas, alongadas e insuficientes. Quadro: Geralmente tem edema maleolar após períodos prolongados em pé; Fadiga ou dor nas pernas após várias horas em pé, melhora com elevação das pernas; Cãibras, geralmente durante a noite; Pode ter prurido, ulceração, sangramento das varizes. Dx: USG venoso com Doppler MMII. TROMBOSE VENOSA PROFUNDA (TVP) Formação de trombos nas veias localizadas profundamente em relação às fáscias musculares nos membros e pescoço ou encerradas em cavidades, como o abdome ou tórax Clínica: Dor, edema assimétrico e mole; Pele com temperatura mais fria, cianose dependendo do grau de comprometimento vascular; O sinal de Homans pode ser positivo; O edema é causado pelo ↑ permeabilidade capilar causada pelo trombo Fatores de risco: episódio anterior de TVP, cirurgia ortopédica, cirurgias pélvicas, imobilização prolongada, câncer, trombofilias, lúpus, gravidez e puerpério, IAM recente ou ICC, vítimas de politraumatismo, catéters venosos centrais, obesidade mórbida, síndroeme nefrótica, uso de ACO... Exames complementares: D-dímero, USG com Doppler, flebografia. NUTRICIONAIS: Desnutrição proteico-calórica; Hipoalbuminemia DESNUTRIÇÃO PROTEICO-CALÓRICA: A) KWASHIOKOR: Fisiopatologia: Privação proteica. Anamnese teve haver relato de dieta à base de carboidratos; ↓ pressão oncótica P3: EDEMA (TRG) 20 Clínica: Edema generalizado (bilateral), inelástico, mole, depressível, indolor; Sinal da bandeira (marcas de cabelos claros de permeio a coloração normal); Fácies típicas de distrofia faríngea; Hipoatividade Diagnóstico: ↓ albumina sérica e hemograma com anemia. Diagnóstico diferencial com outras causas de hipoalbuminemia. B) MARASMO: Fatores: A perda de peso acentuada e a ↓ gordura SC e da massa muscular são as principais características observadas. Quadro: A perda de gordura e de massa muscular torna as costelas, as articulações e os ossos faciais proeminentes; A pele mostra-se fina, solta e pregueada. HIPOALBUMINEMIA Causas: linfoma gastrointestinal, gastrite hipertrófica gigante (dça Menestrier), dça celíaca, colite ulcerativa, dça de Crohn, alergias intestinais e tumores de estomago e cólon etc. ONCOLÓGICAS: Compressão linfática extrínseca; Neoplasias do sistema linfático; QMT; RDT COMPRESSÃO E NEOPLASIA LINFÁTICAS P3: EDEMA (TRG) 21 Pode manifestar-se das mais variadas formas, sendo uni ou bilateral, simétrico ou assimétrico, generalizado ou localizado. No início do quadro, pode ser de pequena intensidade e se agravar lentamente. Fisiopatologia engloba dois principais mecanismos: a perda proteica pelo estado de hipercatabolismo (anemia e hipoalbuminemia) e obstrução linfática, que pode ser tanto extrínseca, quando intrínseca. Obstruções linfáticas extrínsecas advêm de compressões sobre o sistema linfático, que se originam em lesões provocadas por expansão de massa tumoral. Causas intrínsecas se referem às neoplasias do próprio sistema linfático, assim como obstruções ocasionadas por metástase para linfonodos. QUIMIOTERAPIA (QMT) E RADIOTERAPIA (RDT) Uma outra causa de lesão importante do sistema linfático que está relacionada à etiologia oncológica se refere à quimioterapia e, principalmente, à radioterapia, na qual pode ocorrer a destruição da cadeia linfática. Esse tipo de edema é de grande relevância clínica porque geralmente evolui com grandes edemas, formação de fibrose, inclusive nos pacientes com melhor prognóstico, o que pode provocar alterações psicológicas importantes. Principalmente porque os pacientes veem o edema como um problema estético, sem relevância, diante da gravidade do diagnóstico principal. Tto engloba tanto aspectos dietéticos, quanto a abordagem multidisciplinar, incluindo sempre a fisioterapia. LINFÁTICAS: linfedema LINFEDEMA Linfedema contém mais proteínas do que aquele proveniente de outras causas. A doença é progressiva e tem quatro componentes principais: excesso de proteínas nos tecidos, edema, inflamação crônica e fibrose. Fisiopatologia: O ↑ espaço intersticial pelo acúmulo de proteínas e de fluidos nos tecidos ↓ ação de fatores linfogênicos nos tecidos, como a contratilidade muscular, agravando ainda mais o edema. Ocorre liberação de substâncias fibrinogênicas pelos tecidos (devido ao acúmulo de proteínas), levando à estimulação de fibroblastos e à formação de colágeno no local. Linfedemas primários (34% de todos os linfedemas: apesar de primário, esse edema pode se manifestar em qualquer fase da vida, porém quanto mais avançada a idade, P3: EDEMA (TRG) 22 mais raro o aparecimento. Acontece nas fases de maior crescimento do indivíduo. Linfedemas primários podem ser uni ou bilaterais, sendo que no caso de ocorrência destes últimos, aparece primeiro em um membro e depois de meses ou anos, no outro. Não há característica definida quanto ao seu padrão de aparecimento. Podem ocorrer edemas completos de hemicorpo, assim como edemas descendentes. Característica do edema de origem linfática pode variar segundo sua fase evolutiva. Pode ser mole no início e, com o passar do tempo, se tornar não depressível, com a pele circunjacente, espessada e, por vezes, ulcerada e escurecida. É nessa classe de edemasque surgem os edemas gigantes, chamados de elefantiásicos. Lesões secundárias do sistema linfático ocorrem por razão de alterações nos ductos linfáticos e/ou linfonodos, por diferentes causas, sendo as principais: neoplasias (obstrução linfática de linfonodos e linfáticos), radioterapias, processos cicatriciais decorrentes de traumas, filariose etc. Linfedema de causa cirúrgica pode ocorrer em qualquer tipo de cirurgia. Contudo, o linfedema MMII pode ocorrer em duas modalidades cirúrgicas bastante frequentes atualmente: a dermo lipectomia crural, realizada em pacientes submetidos à cirurgia bariátrica, e a exérese de safena magna para cirurgia de revascularização de miocárdio. Filariose: Comum em países tropicais, a filariose é provocada pelo parasito Wuchereria bancrofti. Quanto à sintomatologia, difere pouco das outras causas de linfedema. Sua peculiaridade é o processo inflamatório iniciar-se no linfonodo inguinal e se dirigir para a extremidade. Aguda vs crônica: Na linfangite aguda, a lesão se inicia a partir de um nódulo e, então, surge um cordão vermelho, doloroso, que percorre todo o trajeto do vaso troncular. Nos quadros crônicos, pode-se observar linfedema, febre, elefantíase e quilúria. Diagnóstico: A linfocintilografia é o exame que fecha o dx.
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