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PESTE SUÍNA AFRICANA: 23 DE JANEIRO DE 2020 OS DESAFIOS E AS OPORTUNIDADES QUE A GLOBALIZAÇÃO ADICIONA À GESTÃO SANITÁRIA PE ST E SU ÍN A AF RI CA N A PESTE SUÍNA AFRICANA: OS DESAFIOS E AS OPORTUNIDADES QUE A GLOBALIZAÇÃO ADICIONA À GESTÃO SANITÁRIA 2 CEPEA - CENTRO DE ESTUDOS AVANÇADOS EM ECONOMIA APLICADA - ESALQ/USP A Peste Suína Africana (PSA) é uma enfermidade que ataca os suídeos domésticos e asselvaja-dos (javalis e cruzamentos com suínos domés- ticos) e é causada por um vírus de grande virulência, caracterizando-se essencialmente por sua forma he- morrágica – ou seja, os sintomas clínicos podem ser febre alta, perda de apetite, letargia, hemorragias na pele e órgãos internos – com alta mortalidade, entre 4 e 10 dias (EMBRAPA, 2018¹). Não existem vaci- nas para Peste Suína Africana e 70% das causas de difusão da doença são derivadas da ação humana². Desde meados de 2018, casos da enfer- midade começaram a ser registrados na Europa e, na sequência, na Ásia. Até outubro de 2019, a China já havia abatido 1,19 milhão de cabeças de suínos. Relatório do Rabobank estima que a queda na produção de suínos na China pode ter atingido entre 25% e 35% em 2019. No Vietnã, há regis- tro da enfermidade em todas as províncias, com mais de 5,6 milhões de animais sacrificados. Esti- mativas da OIE até outubro de 2019 indicam que o continente asiático soma quase 7 milhões de animais sacrificados (FAO, 2019, e SNA, 2019³). A alta velocidade de espalhamento na Ásia decorre, em especial, dos seguintes fatores: elevada densidade de granjas; muitos dos países da região carecem de controle da movimentação e do abate de animais; intensa circulação ilegal de animais en- tre países da própria região; falta de mecanismos de compensação aos produtores na maioria dos países. Dessa maneira, muitos produtores vendem animais quando percebem sinais da doença. Um fator que agrava a situação de disseminação da doença é que as granjas têm muita água no solo e, ao se enterrar animais abatidos infectados, o vírus vai para a água. No continente europeu, o grande desafio em relação a difusão da PSA encontra-se na movimen- tação de animais selvagens, cujo controle é inviável. A América, por enquanto, é o único conti- nente não infectado. Na região, as fronteiras terrestres são o maior fator de risco, pois não existe forma de controlar 100% da movimentação de animais (tam- pouco de pessoas) entre os países, principalmente em áreas de fronteira seca, sem rios e florestas. Sen- do assim, a vigilância em grande escala é fundamen- tal para prevenir a entrada do vírus e para a detec- ção precoce de uma eventual introdução da doença. Os Estados Unidos são referência nesse as- pecto, com uma forte cultura de biossegurança entre os produtores e um serviço sanitário com sistema de monitoramento e de ação rápida em casos de crise quando são identificados focos de doenças. É interessante ressaltar que o Serviço de Inspeção Sanitária de Plantas e Animais do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (APHIS/USDA), a partir do modelo de simulação InterSpread e de um modelo econômico de equilíbrio parcial, já rea- lizou um estudo sobre potenciais impactos de uma eventual introdução da PSA nos Estados Unidos. Os resultados desse estudo mostram que, na média, um surto de PSA nos Estados Uni- dos poderia gerar uma perda econômica líquida com magnitude entre US$ 6 bilhões e US$ 8 bi- lhões. No caso de um surto de grande magnitu- de, o prejuízo poderia chegar a US$ 12 bilhões . Os pesquisadores do APHIS/USDA con- sideram que, ainda que o modelo não seja to- talmente adequado em relação à realidade, es- tes resultados são importantes para a tomada de decisão, isto é, para a escolha de estratégias na formulação dos planos de resposta e controle, em caso de crises sanitárias relacionadas à PSA. Os países das Américas, enquanto gru- po junto à Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), organizaram um Fórum sobre PSA e sobre Inquéritos aos Serviços Veterinários e Capacidades de Diagnóstico em abril de 2019, em Otawa, no Canadá. No evento, avaliou-se a situação epidemio- lógica atual no continente, foram acordadas linhas de trabalho em conjunto e planejadas atividades para reforçar a biossegurança, coordenação e comu- nicação dos riscos entre os países do continente². ¹ Embrapa: https://www.embrapa.br/suinos-e-aves/psa/nota-tecnica. Acesso em 18/10/2019. ² Informação de Luís Barcos, da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), no Siavs (Salão Internacional de Avicultura e Suinocultura), em 28 de agosto de 2019. ³ FAO: “ASF situation in Asia”, acesso em 17/10/2019, e https://www.sna.agr.br/peste-suina-fao-eleva-para-6-954-milhoes-o-numero-de-ani- mais-eliminados-pela-doenca-na-asia/, acesso 23/01/2020. 4 4 Informação da economista Kamina Johnson, do APHIS/USDA em comunicação pessoal no dia 21 de agosto de 2019. PESTE SUÍN A AFRICAN A PESTE SUÍNA AFRICANA: OS DESAFIOS E AS OPORTUNIDADES QUE A GLOBALIZAÇÃO ADICIONA À GESTÃO SANITÁRIA 3 CEPEA - CENTRO DE ESTUDOS AVANÇADOS EM ECONOMIA APLICADA - ESALQ/USP MIRANDA, S.H.G.; CORRER, N.G.; DAMASCENO, R.; MENEZES, T.C. Peste Suína Africana: os desafios e as oportunidades que a globalização adiciona à gestão sanitária. Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, v. 1, n. 1, janeiro 2020. Em continuidade a estas atividades, houve ainda uma reunião em setembro de 2019 no Pana- má de um grupo de especialistas em PSA dos paí- ses das Américas, com discussões e possíveis ações relacionadas às áreas de biossegurança, fronteiras, comunicação e animais selvagens. Em dezembro de 2019 outras duas reuniões desse grupo de trabalho foram realizadas, uma no México – onde foram dis- cutidas questões sobre testes de laboratórios sobre a doença – e outra na Colômbia – momento em que foram apresentadas as ações já realizadas em cada país em relação à PSA e também uma agenda para 2020 com novas ações conjuntas, como os riscos de introdução da enfermidade nos países da América. E O BRASIL? De acordo com estimativas da Embrapa, os prejuízos de uma introdução de PSA no Brasil, cuja população de suínos é cerca de dois terços da norte-americana, seriam em tor- no de US$ 5,5 bilhões. Contudo, destaca-se a di- ficuldade de se estimar valores, tendo em vista as particularidades da produção nacional e de pa- râmetros de dispersão, assim como a diferença nos sistemas de vigilância e de monitoramento. Especialmente para Brasil, há recomen- dações elencadas pela Embrapa para a prevenção da entrada do vírus da PSA no País. Destacam-se: necessidade de se reportar imediatamente os casos suspeitos ao Serviço Veterinário Estadual; garantir um diagnóstico laboratorial rápido; necessidade de treinamento e capacitação de veterinários e produ- tores para reconhecer a doença; e, sobretudo, buscar adequar o sistema nacional de vigilância com base em fatores de risco para a PSA, garantindo apoio legal e provisão de recursos (fundos, diagnóstico) para a implementação de medidas de controle. O desafio para o Brasil é trabalhar a cul- tura das notificações entre os produtores rurais (vigilância passiva), ao mesmo tempo em que se discute o formato de composição e funcionamento de um fundo ou sistema de financiamento da vi- gilância e para indenização passível de ser criado, público-privado, para dar um suporte técnico e fi- nanceiro para os produtores em situação de crise. Adicionalmente, é importante a modernização do sistema de vigilância ativa, incorporando cada vez mais o instrumento de análises de risco na tomada de decisão e as novas tecnologias disponíveis para monitoramento, integração de bases de dados, en- tre outras facilidades disponíveis, que permitem re- duzir o custo dos serviços e aumentar a eficiência. O Brasil tem muito a perder com as do- enças que acometem rebanhos, perdas que vão além da produção e das transações comerciais, que causam impactos socioeconômicos impor- tantes e que podemter efeitos de longo prazo na imagem do País. Imagem, esta, que ainda pre- cisa ser comunicada de forma mais fidedigna e confiável, informando os consumidores dos pa- íses importadores sobre a qualidade, inocuida- de e confiabilidade dos nossos produtos agroin- dustriais, particularmente, em termos sanitários. 5 5 “Informe: Primera reunión del Grupo Permanente de Expertos del GF-TADs de las Américas”. Disponível em https://rr-americas.oie.int/en/events/standing- group-of-experts-on-asf/ acesso 23/01/2020.