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Educação especial na perspectiva da educação inclusiva Rosanna Claudia Bendinelli Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Jeane Passos de Souza – CRB 8a/6189) Bendinelli, Rosanna Claudia Educação especial na perspectiva da educação inclusiva / Rosanna Claudia Bendinelli. – São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2021. (Série Universitária) Bibliografia. e-ISBN 978-65-5536-573-3 (ePub/2021) e-ISBN 978-65-5536-574-0 (PDF/2021) 1. Educação 2. Educação inclusiva 3. Educação espe- cial 4. Educação especial : Professor 5. Atendimento Educacional Especializado I. Título. II. Série 21-1242t CDD – 371.9 BISAC EDU026000 DU048000 Índice para catálogo sistemático 1. Educação especial : Educação inclusiva 371.9 2. Educação inclusiva : Educação especial 371.9 M at er ia l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . EDUCAÇÃO ESPECIAL NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA Rosanna Claudia Bendinelli M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. Administração Regional do Senac no Estado de São Paulo Presidente do Conselho Regional Abram Szajman Diretor do Departamento Regional Luiz Francisco de A. Salgado Superintendente Universitário e de Desenvolvimento Luiz Carlos Dourado M at er ia l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . Editora Senac São Paulo Conselho Editorial Luiz Francisco de A. Salgado Luiz Carlos Dourado Darcio Sayad Maia Lucila Mara Sbrana Sciotti Jeane Passos de Souza Gerente/Publisher Jeane Passos de Souza (jpassos@sp.senac.br) Coordenação Editorial/Prospecção Luís Américo Tousi Botelho (luis.tbotelho@sp.senac.br) Dolores Crisci Manzano (dolores.cmanzano@sp.senac.br) Administrativo grupoedsadministrativo@sp.senac.br Comercial comercial@editorasenacsp.com.br Acompanhamento Pedagógico Ariadiny Carolina Brasileiro Maciel Designer Educacional Alexsandra Cristiane Santos da Silva Preparação e Revisão de Texto Eloiza Mendes Lopes Projeto Gráfico Alexandre Lemes da Silva Emília Corrêa Abreu Capa Antonio Carlos De Angelis Editoração Eletrônica Michel Iuiti Navarro Moreno Sidney Foot Gomes Ilustrações Michel Iuiti Navarro Moreno Sidney Foot Gomes Valdemir Nunes da Costa Imagens Adobe Stock Photos E-pub Ricardo Diana Proibida a reprodução sem autorização expressa. Todos os direitos desta edição reservados à Editora Senac São Paulo Rua 24 de Maio, 208 – 3o andar Centro – CEP 01041-000 – São Paulo – SP Caixa Postal 1120 – CEP 01032-970 – São Paulo – SP Tel. (11) 2187-4450 – Fax (11) 2187-4486 E-mail: editora@sp.senac.br Home page: http://www.livrariasenac.com.br © Editora Senac São Paulo, 2021 Sumário M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. Capítulo 1 Educação especial na perspectiva da educação inclusiva: como chegamos até aqui?, 7 1 Diferença, diversidade e inclusão, 8 2 História da educação especial: paradigmas da exclusão, institucionalização, integração e inclusão, 10 Considerações finais, 15 Referências, 16 Capítulo 2 Diretrizes e legislação nacional e internacional da educação especial, 17 1 Políticas públicas de educação especial, 18 2 Do Brasil Império a 2020: uma breve análise da legislação brasileira de educação especial, 20 Considerações finais, 27 Referências, 27 Capítulo 3 Público-alvo da educação especial: alunas e alunos com deficiência, 31 1 Deficiência e diferenças funcionais, 32 2 Medicalização da educação, 35 Considerações finais, 37 Referências, 38 Capítulo 4 Público-alvo da educação especial: alunas e alunos com transtorno do espectro autista e altas habilidades/ superdotação, 39 1 Público elegível ao atendimento pela educação especial, 40 2 Transtorno do espectro autista (TEA), 42 3 Altas habilidades/superdotação, 45 Considerações finais, 47 Referências, 48 Capítulo 5 Atendimento educacional especializado: objetivos e atribuições do professor especializado, 51 1 Atendimento educacional especializado: um serviço da educação especial, 52 2 As salas de recursos multifuncionais, 54 3 Os encaminhamentos ao atendimento educacional especializado: alguns desafios, 56 Considerações finais, 58 Referências, 59 Capítulo 6 O professor na educação inclusiva: articulação, cooperação e colaboração, 61 1 Cooperação e colaboração: o papel da formação docente, 62 2 Rede de apoio na escola , 64 Considerações finais, 66 Referências, 67 6 Educação especial na perspectiva da educação inclusiva Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo .Capítulo 7 Inclusão escolar: o papel das tecnologias da informação e comunicação e tecnologias assistivas, 69 1 Desenho universal de aprendizagem e seu papel na educação inclusiva, 70 2 Tecnologias de informação e comunicação e tecnologias assistivas, 72 Considerações finais, 78 Referências, 78 Capítulo 8 Gênero e sexualidade na educação especial, 81 1 Gênero e educação especial, 82 2 Gênero e o alunado elegível aos serviços de educação especial: o papel das professoras e professores, 85 3 Sexualidade: direitos humanos em questão, 87 Considerações finais, 89 Referências, 90 Sobre a autora, 93 7 M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. Capítulo 1 Educação especial na perspectiva da educação inclusiva: como chegamos até aqui? Algumas palavras entram na moda e acabam por fazer parte das novas expressões utilizadas em diferentes circuitos, muitas vezes esva- ziadas de sentido. São palavras que entram para o senso comum cuja conceituação torna-se até desvirtuada. Assim tem sido com a palavra “inclusão”. Muito se fala sobre “inclu- são social”, “inclusão no mercado de trabalho”, “inclusão escolar”, mas pouco se reflete sobre o que isso de fato significa. 8 Educação especial na perspectiva da educação inclusiva Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo .É imprescindível abordarmos os significados de cada conceito, para podermos discutir a educação especial na perspectiva da educação in- clusiva, sem incorrermos em compreensões ingênuas ou capacitistas. Neste capítulo, discorreremos sobre os conceitos de diferença, di- versidade e inclusãoe nos aprofundaremos na compreensão histórica pela qual o conceito de deficiência passou. Para compreendermos nos- so tempo histórico e como chegamos até os paradigmas, concepções e legislação atuais, precisamos olhar para trás e reconhecer todo o per- curso percorrido. 1 Diferença, diversidade e inclusão Os seres humanos são diferentes, têm características funcionais dis- tintas, as quais são inerentes à nossa existência e não atendem a pa- dronizações. A escola atende diferentes alunas e alunos,1 cada um com suas características pessoais, físicas, de religião, étnicas, raciais e assim por diante, o que deve ser valorizado e não ignorado. Segundo Mantoan: Felizmente, no Brasil e em toda parte, a indiferença às diferenças está passando da moda. Nada mais desfocado da realidade atual do que ignorá-las; nada mais regressivo do que discriminá-las e iso- lá-las em categorias genéricas, típicas da necessidade moderna de agrupar os iguais, de organizar pela abstração de uma característi- ca qualquer, inventada e atribuída de fora. (2007, p. 323) 1 Com o objetivo de garantir uma linguagem não sexista e inclusiva, o gênero feminino e masculino das palavras foi flexionado para aquelas que o permitem, como “professoras e professores” ou “alunas e alunos”. Já aquelas de gênero neutro exigiriam que seus artigos fossem flexionados, como “as/os estudantes” ou “as/os docentes”; nesses casos, optamos por manter o artigo apenas no masculino. Essa decisão se deu por respeitarmos leitoras e leitores que terão acesso a esta produção, entre os quais estão cegos ou pessoas com dislexia, por exemplo. É importante compreender que ao utilizar barras ou parênteses como “os/as” “os(as)”, “um/uma” ou “um(a)”, a leitura do texto se torna muito cansativa para esse público, seja pela maneira que os diferentes leitores de tela usados pelas pessoas com deficiência visual operam, seja pelas questões específicas de leitura das pessoas com dislexia. 9Educação especial na perspectiva da educação inclusiva: como chegamos até aqui? M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. Essas diferenças combinadas e que se encontram em uma identida- de coletiva chamamos de diversidade. Segundo Silva: temos grupos de pessoas que vivem, se comunicam, se alimentam e se divertem das mais variadas maneiras, produzindo assim uma diversidade de culturas que, por sua vez, marcam as diferenças en- tre esses mesmos grupos. (2017, p. 22) IMPORTANTE Ou seja, não há como a escola atual desconsiderar a imensa diversidade étnica, cultural, racial, de gênero, religiosa, social, econômica, etc. exis- tente no país. Finalmente, para entendermos o conceito de inclusão, é inevitável dis- cutirmos a exclusão, a segregação e o capacitismo. Vivemos em uma so- ciedade extremamente competitiva e meritocrática, que exclui constan- temente. São diversas desigualdades sociais e econômicas que levam à violação de direitos humanos de uma grande parcela da sociedade. Com vistas a minimizar essa marginalização e tratando de garantir acesso aos direitos sociais, diferentes políticas públicas são elaboradas. Assim, ao pensarmos em inclusão escolar, referimo-nos às políticas pú- blicas voltadas à garantia de acesso, permanência e aprendizagem de todas as alunas e alunos. É necessário, contudo, não ser ingênuo e acre- ditar que apenas a promulgação de políticas públicas garante direitos, pois a inclusão escolar avança para além da legislação, são necessárias diversas ações em âmbito tanto da escola quanto do sistema de ensino, para não cairmos em ações excludentes com roupagem de inclusivas. A inclusão está atrelada, portanto, a um processo democrático que lo- gre transpor as questões políticas, econômicas, sociais e culturais que historicamente excluem (GENTILI, 2009). 10 Educação especial na perspectiva da educação inclusiva Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . 2 História da educação especial: paradigmas da exclusão, institucionalização, integração e inclusão Compreendidos os conceitos dispostos, vamos estudar como cada momento histórico contou com determinadas visões, paradigmas e concepções de deficiência. Passaremos neste capítulo por quatro pa- radigmas históricos: o da exclusão, o da segregação, o da integração e o da inclusão. 2.1 Paradigma da exclusão O paradigma da exclusão remonta às Idades Antiga e Média das sociedades greco-romanas. Na primeira, as pessoas com deficiência, vistas como improdutivas para a guerra, cultivo ou construções, eram descartadas, mortas sumariamente; na segunda, a sociedade cristã passa a compreender as pessoas com deficiência como filhas de Deus e, portanto, merecedoras da vida e da caridade (ARANHA, 2001). Na Idade Média, mortes, castigos e torturas físicas acompanhavam a realidade das pessoas com deficiência, mesmo quando confinadas em conventos. Alguns grupos as tratavam na perspectiva caritativa; outros as castigavam severamente por compreenderem que essas pessoas e seus corpos diferentes eram enviados pelo demônio, ou mesmo por acreditarem que castigo seria uma forma de caridade “pois é meio de salvar a alma do cristão das garras do demônio e livrar a sociedade das condutas indecorosas ou antissociais do deficiente” (PESSOTTI, 1984, p. 7); outros simplesmente matavam-nas. Nesses séculos, então, tanto na Idade Antiga quanto na Média, as pessoas com deficiência eram ex- cluídas e acreditava-se que sua vida não era digna de ser vivida. 11Educação especial na perspectiva da educação inclusiva: como chegamos até aqui? M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. PARA SABER MAIS Filmes e livros também retratam tempos históricos importantes! O livro de Umberto Eco O nome da Rosa, que posteriormente inspirou o filme de mesmo nome, dirigido por Jean-Jacques Annaud, e O Corcunda de Notre Dame, de Victor Hugo, que inspirou a animação homônima da Disney, são ótimas referências. 2.2 Paradigma da segregação ou institucionalização Aranha (2001) sinaliza que, no paradigma da segregação, o confina- mento teve continuidade com novas ideias e em novos espaços, aque- les reservados ao possível “tratamento” das pessoas com deficiência. Com as discussões iluministas,2 a sociedade passa a compreender que pessoas são diferentes umas das outras, algumas mais e outras menos afortunadas. Segundo o filósofo inglês John Locke, os bebês nasceriam como uma tábua rasa, ou seja, sem conhecimento algum, e por isso todos podem aprender desde que esse conhecimento seja dis- ponibilizado. No caso das pessoas com deficiência, tidas como menos afortunadas, compreendidas também como doentes, haveria então a possibilidade de educá-las. Nesse momento, século XVI, houve grande expansão das áreas da medicina, da filosofia e da educação, cujas produções e pesquisas reve- laram a necessidade do confinamento das pessoas com deficiência em instituições como hospitais psiquiátricos, instituições para tratamen- to e educação e em instituições asilares e de custódia, denominadas 2 Lembramos que o Iluminismo refere-se aos séculos XVII e XVIII e contou com filósofos, artistas e outros intelectuais europeus que, em contraposição à Idade Média, defendiam o uso da razão acima da religião. Com basenos ideais burgueses, traziam ideias liberais e pensavam no homem como centro do conhecimento. 12 Educação especial na perspectiva da educação inclusiva Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo .instituições totais (sob a égide de que elas precisariam estar salvas da sociedade, assim como a sociedade deveria ser protegida delas). As pessoas eram mantidas até sua morte em ambientes totalmente se- gregados, apartados de suas famílias e do restante da sociedade em condições prisionais e sub-humanas. As instituições totais só foram alvo de análise e crítica a partir dos anos 1960, década que contou com pesquisas e publicações que ana- lisavam quanto a reclusão era prejudicial a qualquer ser humano, ava- liando as consequências da exclusão e da segregação, dando início ao movimento de desinstitucionalização, o qual tinha como objetivo a reti- rada das pessoas das instituições “colocando-as num sistema, o mais próximo possível do que fosse o estilo de vida normal numa comunida- de” (ARANHA, 2001, p. 171). PARA SABER MAIS Jean Itard foi um médico francês que assumiu cargo de médico-chefe no então Instituto Imperial dos Surdos-Mudos, onde recebeu, no início do século XIX, para sua análise e educação, o chamado “menino selva- gem de Aveyron”. O filme de 1970 O garoto selvagem, dirigido por Fran- çois Truffaut, retrata essa história. 2.3 Paradigma da integração As ideias de “normalidade” e de “desvio” configuraram o paradigma da integração, em que as pessoas com deficiência teriam uma vida o mais próxima possível da normalidade, ou seja, vivendo em suas casas, estudando em escolas e assim por diante. Para tanto, foi necessário um processo de retirada do público com deficiência das instituições totais e uma oferta de diferentes serviços para seu atendimento. about:blank about:blank 13Educação especial na perspectiva da educação inclusiva: como chegamos até aqui? M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. Nesse paradigma, as pessoas com deficiência eram alvo de mudan- ça, a qual se acreditava ser possível ao longo do tempo e por meio dos atendimentos em diferentes serviços ofertados. Esses serviços eram unidades de transição (de um mais a um menos segregado) que visa- vam promover um certo grau de autonomia à pessoa com deficiência por meio de treinamento para a vida diária e em comunidade, bem como desenvolvimento de habilidades sociais (ARANHA, 2001). Como exem- plos podemos citar as classes e as escolas especiais que preparariam as alunas e os alunos para que pudessem, após desenvolverem habili- dades acadêmicas determinadas, fazerem parte das classes comuns. O paradigma da integração recebeu diversas críticas, seja por parte dos pesquisadores e acadêmicos, seja por parte das pessoas com defi- ciência e seus familiares, pois se esperava que o sujeito se adequasse à sociedade, e não o contrário. Compreendia-se que as barreiras estavam no corpo dessas pessoas que não atendiam a um padrão de normalida- de estabelecido. Além das críticas realizadas, discussões sobre todas as pessoas se- rem cidadãs e detentoras de direito passaram a aumentar, admitindo- -se que não há que separá-las, classificá-las ou modificá-las, cabendo, sim, à sociedade ofertar os serviços de que as pessoas com deficiência precisassem. IMPORTANTE O capacitismo reside nessa concepção de que a pessoa com deficiên- cia é menos sujeito de direito que as demais pessoas sem deficiência, pois compreende que as barreiras estão nelas, na sua forma de ser e estar no mundo. O capacitismo atende a um padrão estético de norma- lidade que não admite a diferença, “hierarquiza sujeitos em função da adequação de seus corpos a um ideal de beleza e capacidade funcional” (MELLO, 2016). 14 Educação especial na perspectiva da educação inclusiva Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . 2.4 Paradigma da inclusão A partir da compreensão de que as barreiras não estão nas pes soas com deficiência, mas na sociedade, não se aceita mais que esta se adé- que às normas funcionais e estéticas importadas, mas sim que a so- ciedade compreenda que todos têm diferenças funcionais e uma forma particular de ser e estar no mundo, tratando, assim, de garantir a inclu- são das pessoas com deficiência no mercado de trabalho, na família, na escola, na cultura, no esporte, acessando todos os direitos sociais, sem discriminação. É necessário que haja um movimento social na quebra de barreiras atitudinais, arquitetônicas, urbanísticas, de comunicação e assim por diante, para que todas e todos possam usufruir dos direitos humanos constitucionalmente garantidos (BRASIL, 1988). Portanto, a educação inclusiva não é sobre como incluir aquela aluna ou aquele alu- no com deficiência, transtorno do espectro autista (TEA) ou altas habi- lidades/superdotação, mas como pensar e planejar uma educação que abranja todas e todos equitativamente. Ao pensarmos em educação inclusiva, compreendemos que o cen- tro de nossa atenção não é a deficiência, mas o sujeito; não é o que a aluna e o aluno têm, mas quem a aluna e o aluno são. Finalmente, esclarecemos a diferença entre educação especial e educação inclusiva: a primeira é uma modalidade transversal a todos os níveis, etapas e modalidades de ensino (BRASIL, 1996) que conta com políticas voltadas a um público específico: pessoas com deficiência, TEA e altas habilidades/superdotação, estes fazem parte da concepção de educação inclusiva: uma educação para todas e todos, independen- temente do sexo, identidade de gênero, raça/cor, cultura, situação de deficiência, etc. 15Educação especial na perspectiva da educação inclusiva: como chegamos até aqui? M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. PARA PENSAR Acesse no site da Human Rights Watch o relatório denominado “Eles ficam até morrer” e faça a seguinte reflexão: será que os paradigmas históricos que estudamos foram realmente transpassados ou convive- mos com diferentes paradigmas concomitantemente? A Human Rights Watch é uma organização não governamental de direitos humanos, sem fins lucrativos, que conta com aproximadamente 400 membros localiza- dos em diversos países do mundo. Todo paradigma faz parte de um processo histórico e, como tal, não “surge” ou “desaparece” momentaneamente. Há características de cada um desses paradigmas que ainda residem em boa parte da sociedade. Para que a lógica capacitista seja quebrada, é necessário reconhecer todo o processo histórico, para entender que direitos humanos não po- dem ser relativizados, pois, cada vez que um direito é contestado, as consequências são gravíssimas. O direito à educação é um dos direitos humanos e este só é efetivado em ambientes inclusivos, heterogêneos, desafiadores, respeitosos e acolhedores. Considerações finais Neste capítulo, aprendemos conceitos importantes como diferença, diversidade e inclusão, bem como percorremos a históriada educação especial, observando como a concepção de deficiência mudou ao longo dos séculos. Compreendemos, também, que a escola que se espera inclusiva, considera e trabalha com vistas ao respeito à diversidade que atende as diferentes necessidades de cada uma de suas alunas e alunos, realizan- do, dessa forma, um trabalho inclusivo. 16 Educação especial na perspectiva da educação inclusiva Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . Referências ARANHA, Maria Salete Fabio. Paradigmas da relação da sociedade com as pes- soas com deficiência. Revista do Ministério Público do Trabalho, n. 21. p. 160- 173, 2001. BRASIL. Casa Civil. Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Brasília, 1996. Disponível em: http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm. Acesso em: 2 fev. 2021 BRASIL. Congresso Nacional. Constituição da República Federativa do Brasil. Diário Oficial da União, Brasília, 1988. GENTILI, Pablo. O direito à educação e as dinâmicas de exclusão na América Latina. Educação & Sociedade, Campinas, v. 30, n. 109, p. 1059-1079, set./dez. 2009. MANTOAN, Maria Tereza Eglér. Igualdade e diferenças na escola: como andar no fio da navalha. Educação, Santa Maria, v. 32, n. 2, p. 319-326, 2007. Disponível em: https://periodicos.ufsm.br/reveducacao/article/view/675/485. Acesso em: 15 set. 2020. MELLO, Anahi Guedes de. Deficiência, incapacidade e vulnerabilidade: do ca- pacitismo ou a preeminência capacitista e biomédica do Comitê de Ética em Pesquisa da UFSC. Ciência e Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 21, n. 10, p. 3265-3276, out. 2016. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script= sci_arttext&pid=S1413-81232016001003265&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 18 out. 2020. PESSOTTI, Isaias. Deficiência mental: da superstição à ciência. São Paulo: Edusp, 1984. SILVA, Cleber Nelson de Oliveira. Educação inclusiva. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2017. (Série Universitária). https://periodicos.ufsm.br/reveducacao/article/view/675/485 http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232016001003265&lng=en&nrm=iso http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232016001003265&lng=en&nrm=iso Capítulo 1 Educação especial na perspectiva da educação inclusiva: como chegamos até aqui? 1 Diferença, diversidade e inclusão 2 História da educação especial: paradigmas da exclusão, institucionalização, integração e inclusão Considerações finais Referências Capítulo 2 Diretrizes e legislação nacional e internacional da educação especial 1 Políticas públicas de educação especial 2 Do Brasil Império a 2020: uma breve análise da legislação brasileira de educação especial Considerações finais Referências Capítulo 3 Público-alvo da Educação Especial: alunos e alunas com deficiência 1 Deficiência e diferenças funcionais 2 Medicalização da educação Considerações finais Referências Capítulo 4 Público-alvo da Educação Especial: alunas e alunos com Transtorno do Espectro Autista e Altas habilidades/superdotação 1 Público elegível ao atendimento pela educação especial 2 Transtorno do espectro autista (TEA) 3 Altas habilidades/superdotação Considerações finais Referências Capítulo 5 Atendimento Educacional Especializado: objetivos e atribuições do professor especializado 1 Atendimento educacional especializado: um serviço da educação especial 2 As salas de recursos multifuncionais 3 Os encaminhamentos ao atendimento educacional especializado: alguns desafios Considerações finais Referências Capítulo 6 O professor na educação inclusiva: articulação, cooperação e colaboração 1 Cooperação e colaboração: o papel da formação docente 2 Rede de apoio na escola Considerações finais Referências Capítulo 7 Inclusão escolar: o papel das tecnologias da informação e comunicação e tecnologias assistivas 1 Desenho Universal de Aprendizagem e seu papel frente a educação inclusiva 2 Tecnologias de Informação e Comunicação e Tecnologias Assistivas Considerações finais Referências Capítulo 8 Gênero e sexualidade na educação especial 1 Gênero e educação especial 2 Gênero e o alunado elegível aos serviços de educação especial: o papel das professoras e professores 3 Sexualidade: direitos humanos em questão Considerações finais Referências
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