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APG 25 - Laços de sangue Nayara Viana, 3 período, unifipmoc Objetivos: 1) Revisar a cascata de coagulação 2) Descrever a fisiopatologia, fatores de risco, epidemiologia e fatores genéticos da hemofilia. 3) Compreender as manifestações clínicas, diagnóstico e tratamento da hemofilia. Cascata de coagulação HEMOSTASIA Forma que o organismo tem de manter em equilíbrio o estado do sangue, sendo um processo fisiológico que mantém o sangue líquido e livre de coágulos. Permitindo caso exista alguma lesão no endotélio dos vasos sanguíneos, a rápida criação de tampão de plaquetas e fibrina no local da lesão vascular. O mecanismo hemostático inclui três processos: Hemostasia primária – vasoconstrição Hemostasia secundária (eventos da coagulação) – agregação/ativação plaquetária. Fibrinólise - ao mesmo tempo em que ativa a coagulação, também existem estímulos para que essa coagulação não seja exacerbada, como se fosse um feedback negativo. Quando os vasos sanguíneos são danificados ou sofrem ruptura, a resposta hemostática precisa ser rápida, localizada na região do dano e cuidadosamente controlada para que seja efetiva. Três mecanismos reduzem a perda de sangue: (1) espasmo vascular, (2) formação de tampão plaquetário e (3) coagulação sanguínea. Quando bem-sucedida, a hemostasia evita hemorragia, que consiste na perda de grande volume de sangue dos vasos. HEMOSTASIA PRIMÁRIA É o processo inicial da coagulação desencadeado pela lesão vascular. Imediatamente, mecanismos locais produzem vasoconstrição, sendo a noradrenalina e endotelina 1 que irão promover essa ação. Ocorre alteração da permeabilidade vascular e assim favorece a agregação plaquetária, devido ao vWF (Fator de Von Willebrand) que auxilia nesse evento. Quando as plaquetas grudam no endotélio, elas vão liberar o conteúdo dos seus grânulos (ADP e tromboxano A2 - TXA2), esse conteúdo altera a conformação da parede de outras plaquetas e isso favorece a adesão das plaquetas. o Em um estado normal as plaquetas não se unem, mas com esses fatores a polaridade das mesmas mudam, umas passam a ficar negativas e outras positivas, favorecendo a agregação. HEMOSTÁSIA SECUNDÁRIA A coagulação sanguínea consiste na conversão de uma proteína solúvel do plasma, o fibrinogênio, em um polímero insolúvel, a fibrina, por ação de uma enzima denominada trombina. A coagulação envolve uma série de reações químicas entre várias proteínas que convertem pró- enzimas (zimógenos) em enzimas (proteases). Essas pró-enzimas e enzimas são denominadas fatores de coagulação – são produzidos nos hepatócitos (fígado); excetoVIII (células endoteliais ou células de Kupffler). A coagulação consiste em uma cascata complexa de reações enzimáticas na qual cada fator de coagulação ativa várias moléculas do fator seguinte em uma sequência fixa. Por fim, forma-se a proteína insolúvel fibrina. Duas vias, chamadas de via extrínseca e intrínseca, que serão descritas brevemente, levam à formação de protrombinase. Uma vez formada a protrombinase, as etapas envolvidas nas duas fases seguintes da coagulação são as mesmas tanto na via intrínseca quanto na extrínseca e, juntas, essas duas fases são chamadas Nayara Viana, 3 período, unifipmoc de via comum. A protrombinase converte a protrombina (uma proteína plasmática formada pelo fígado) na enzima trombina. A trombina converte fibrinogênio solúvel (outra proteína plasmática formada pelo fígado) em fibrina insolúvel. A fibrina forma os filamentos do coágulo. Via extrínseca A via extrínseca da coagulação sanguínea apresenta menos etapas que a via intrínseca e ocorre rapidamente – em uma questão de segundos se o traumatismo for importante. É assim chamada porque uma proteína tecidual chamada de fator tecidual (FT), também conhecida como tromboplastina, passa para o sangue a partir de células do lado de fora dos vasos sanguíneos (extrínsecas aos) e inicia a formação da protrombinase. O FT é uma mistura complexa de lipoproteínas e fosfolipídios liberada das superfícies de células danificadas. Na presença de Ca2+, o FT começa uma sequência de reações que, por fim, ativa o fator de coagulação X. Uma vez ativado, o fator X se combina com o fator V na presença de Ca2+ para formar a enzima ativa protrombinase, completando a via extrínseca. Via intrínseca A via intrínseca da coagulação sanguínea é mais complexa que a via extrínseca e ocorre mais lentamente, em geral em alguns minutos. A via intrínseca é assim chamada porque seus ativadores ou estão em contato direto com o sangue ou estão contidos no sangue (intrínsecos ao): não há necessidade de dano tecidual externo. Se as células endoteliais se tornam rugosas ou são danificadas, o sangue pode entrar em contato com as fibras de colágeno no tecido conjuntivo ao redor do endotélio do vaso sanguíneo. Além disso, o trauma às células endoteliais causa danos às plaquetas, resultando na liberação plaquetária de fosfolipídios. O contato com as fibras de colágeno ativa o fator de coagulação XII, que começa uma sequência de reações que, por fim, ativa o fator de coagulação X. Fosfolipídios plaquetários e Ca2+ também podem participar da ativação do fator X. Uma vez ativado, o fator X se combina com o fator V para formar a enzima ativa protrombinase (assim como acontece na via extrínseca), completando a via intrínseca. Via comum A formação de protrombinase marca o começo da via comum. No segundo estágio da coagulação do sangue, a protrombinase e o Ca2+ catalisam a conversão da protrombina em trombina. No terceiro estágio, a trombina, na presença de Ca2+, converte fibrinogênio, que é solúvel, em filamentos de fibrina frouxos, que são insolúveis. A trombina também ativa o fator XIII (fator estabilizador da fibrina), que fortalece e estabiliza os filamentos de fibrina em um coágulo forte. O plasma contém um pouco de fator XII, que também é liberado pelas plaquetas presas no coágulo. A trombina exerce dois efeitos de feedback positivo. Na primeira alça de feedback positivo, que envolve o fator V, acelera a formação de protrombinase. A protrombinase, por sua vez, acelera a produção de mais trombina e assim por diante. Na segunda alça de feedback positivo, a trombina ativa plaquetas, que reforçam sua agregação e a liberação dos fosfolipídios plaquetários. Retração do coágulo Uma vez formado, o coágulo tampa a área rompida do vaso sanguíneo e, dessa forma, interrompe a perda de sangue. A retração do coágulo consiste na consolidação ou fortalecimento do coágulo de fibrina. Os filamentos de fibrina fixados às superfícies danificadas do vaso sanguíneo vão gradativamente se contraindo conforme são recobertos pelas plaquetas. Com a retração do coágulo, as margens do vaso danificado são aproximadas, diminuindo o risco de mais dano. Durante a retração, um pouco de soro pode escapar por entre os filamentos de fibrina, sem perder elementos figurados do sangue. A retração normal depende da concentração adequada de plaquetas no coágulo, que liberam fator XIII e outros fatores, fortalecendo e estabilizando o coágulo. Assim, pode ocorrer o reparo permanente do vaso sanguíneo. Por fim, os fibroblastos formam tecido conjuntivo na área rompida e novas células endoteliais reparam o revestimento do vaso. Nayara Viana, 3 período, unifipmoc Função da vitamina K na coagulação A coagulação normal depende de níveis adequados de vitamina K no corpo. Embora a vitamina K não esteja envolvida na formação do coágulo propriamente dito, ela é necessária para a síntese de quatro fatores de coagulação. Normalmente produzida por bactérias que habitam o intestino grosso, a vitamina K é lipossolúvel. Com frequência, as pessoas que sofrem de distúrbiosque retardam a absorção de lipídios (p. ex., liberação inadequada de bile no intestino delgado) apresentam sangramento descontrolado em consequência da deficiência de vitamina K. É responsável pela síntese dos fatores plasmáticos da coagulação (II, VII, IX e X), logo a coagulação depende de vitamina K Fibrinólise Uma vez formado o coágulo de fibrina sobre a área lesada, o processo de coagulação deve se limitar ao sítio da lesão para evitar a oclusão trombótica do vaso. Ocorre ativação de quatro anticoagulantes naturais: o Inibidor da via do fator tecidual (TFPI). Proteína C (PC), Proteína S (OS), Antitrombina (AT). Plasmina: é ativa no final do processo como uma forma de moldar esse trombo formado (quando ocorre diminuição na fibrina devido sua estabilização), para que não exista nenhuma elevação no endotélio e ele fica mais próximo de sua forma original. Fases da coagulação Nayara Viana, 3 período, unifipmoc HEMOFILIA A hemofilia A (hemofilia clássica) e a hemofilia B (doença de Christmas) são doenças hemorrágicas hereditárias, decorrentes de deficiências quantitativas ou qualitativas dos fatores VIII e IX, respectivamente. Hemofilia A -> deficiência fator VIII. Hemofilia B -> deficiência do fator IX. IMPORANTE: na deficiência de um desses fatores não existe a produção do complexo tenase, logo o complexo protrombinase não é ativo e não existe produção de trombina. Complexo tenase -> complexo protrombinase -> trombina -> fibrinogênio -> fibrina -> coagulação. A hemofilia A corresponde a 80% dos casos e sua prevalência é de cerca de 1/5.000 nascimentos do sexo masculino. A prevalência da hemofilia B é estimada em 1/30.000 nascimentos do sexo masculino. GENÉTICA - HEMOFÍLIA As hemofilias são doenças de transmissão recessiva ligada ao cromossomo X, sendo transmitidas a indivíduos do sexo masculino através de mães portadoras da mutação. Em cerca de 30% dos casos, a doença origina-se a partir de uma mutação de novo, fenômeno que pode ocorrer na mãe ou no feto. Os genes que codificam os fatores VIII e IX estão localizados no braço longo do cromossomo X. Em indivíduos do sexo masculino que não possuam o alelo normal, a deficiência manifesta-se clinicamente como hemofilia. Homens afetados: Filhos homens -> não terão a doença, ao menos que a mãe tenha o alelo alterado. Filhas mulheres -> todas serão portadoras do alelo alterado, só serão hemolíticas caso a mãe também passe um alelo alterado. Mulheres afetadas: Filhos homens -> serão afetados. Filhas mulheres -> 50% de chance de serem afetadas, dependendo se o pai também ser portador do alelo alterado. As mulheres quando portadoras do gene mutante são habitualmente assintomáticas. Para a ocorrência de mulheres hemofílicas, existem as seguintes possibilidades: A forma mais comum é a observada numa minoria de mulheres heterozigotas, onde a “ionização” é extrema, resultando na inativação do alelo normal na maioria das células. Resultado da união de um hemofílico com uma mulher portadora. Presença de um alelo mutante em uma mulher com somente um cromossomo X, como na síndrome de Turner (genótipo XX/XO). Raros casos de hemofilia A transmitida como doença autossômica dominante, decorrente de uma nova mutação. CLASSIFICAÇÃO HEMOFILIA A frequência e a gravidade do quadro hemorrágico estão, geralmente, relacionadas com as concentrações plasmáticas do fator deficiente. De modo que a gravidade da doença é diretamente proporcional ao grau de deficiência do fator. As hemofilias A e B são classificadas em graves, moderadas e leves. Graves (níveis plasmáticos do fator VIII ou IX inferiores a 1%). Moderadas (níveis plasmáticos do fator VIII ou IX entre 1 e 5%). Leves (níveis plasmáticos do fator VIII ou IX > 5% até 40%). O paciente hemofílico grave terá história de hemorragias desde a infância, com o aparecimento posterior de sangramentos intra-articulares, hematomas musculares pós-traumáticos e mesmo espontâneos. A presença de sangramentos pós- exodontias e procedimentos cirúrgicos, é outro sintoma característico. As formas leves de hemofilia podem trazer problemas diagnósticos, especialmente se o paciente nunca foi submetido à cirurgia, por esse Nayara Viana, 3 período, unifipmoc motivo, oferecem até mesmo risco de vida a esse individuo (já que pode descobrir apenas em casos graves, ex: durante uma cirurgia). MANIFESTAÇÕES CLÍNICA DA HEMOFILIA Como as hemofilias apresentam manifestações hemorrágicas semelhantes, não é possível distinguir a hemofilia A da hemofilia B somente através de critérios clínicos. As hemofilias caracterizam-se clinicamente pelo aparecimento de sangramentos, que ocorrem após traumatismos de intensidade mínima. HEMOFILIA GRAVE Apresentam manifestações hemorrágicas de repetição e hemartroses graves, as quais, quando não tratadas adequadamente, evoluem para artropatias crônicas e incapacitantes. Esses pacientes estão sujeitos a hemorragias graves, que podem comprometer órgãos vitais. HEMOFILIA MODERADA Os hematomas e hemartroses nem sempre estão associados a traumatismos evidentes. Essas manifestações não são tão intensas quanto na hemofilia grave, mas se não tratadas adequadamente poderão evoluir com instabilidade articular, resultando em sangramentos importantes e frequentes. HEMOFILIA LEVE Os sangramentos somente ocorrem após traumas ou cirurgias, porém podem apresentar hemartroses espontâneas, especialmente em articulações onde previamente ocorreu hemorragia pós-traumática não tratada corretamente. Muitas vezes, essa forma de hemofilia é diagnosticada somente na idade adulta. CRIANÇAS No período neonatal somente surgem sangramentos se o recém-nascido é submetido a traumatismos ou cirurgias (por exemplo, postectomia). As manifestações hemorrágicas surgem quando começam a engatinhar. Nessa ocasião os sangramentos orais são frequentes, principalmente os originados da mordedura da língua e dos lábios, tendendo a ser intermitentes e podendo persistir por semanas. Quando a criança começa a andar, surgem as hemorragias articulares e musculares, além das equimoses pós-traumáticas. HERMATROSES É o nome dado ao sangramento que acontece dentro de uma articulação. Sendo mais acometido os joelhos, cotovelos, tornozelos, ombros, punhos. Podem acontecer de forma espontânea. Nayara Viana, 3 período, unifipmoc Muitos pacientes irão apresentar uma articulação com sangramentos mais frequentes, por causa das alterações crônicas que resultam na artropatia hemofílica, especialmente quando o tratamento não é bem feito. HEMATOMAS Segunda causa mais comum de sangramento em pacientes hemofílicos graves, podendo ocorrer espontaneamente ou após pequenos traumatismos. Quando pequenos e superficiais, os hematomas são autolimitados e não apresentam maior significado clínico, exceto o desconforto local. Os hematomas, quando não tratados adequadamente, podem resultar em organização fibrosa, com contratura muscular. HEMATÚRIA Presença de sangue na urina. É uma manifestação comum, ocorrendo em 2/3 dos hemofílicos, em geral após os 12 anos de idade. Sua intensidade é variável, desde leve alteração da coloração urinária à hematúria franca, com eliminação de coágulos. É persistente e, principalmente, pós-traumática, deve ser investigada. SANGRAMENTO GASTRINTESTINAL A presença de sangramento gastrintestinal, na forma de hematêmese e/ou melena, não é incomum. Na maioria dos casos em que o sangramento é persistente, ou recorrente, existe uma lesão anatômica,mais comumente gastrite ou úlcera péptica. Dez vezes mais frequente na população hemofílica. SANGRAMENTO EM SISTEMA NERVOSO CENTRAL O sangramento intracraniano é o evento hemorrágico mais perigoso para o paciente hemofílico, ocorrendo após traumatismos ou espontaneamente. Todo hemofílico com cefaleia não habitual, especialmente se intensa ou com duração superior a 4 horas, deve ser investigado quanto à presença de sangramento intracraniano. OUTROS SANGRAMENTOS Ferimentos superficiais, geralmente, não apresentam sangramento anormal. Os ferimentos mais extensos e profundos podem, inicialmente, não sangrar, visto que a hemostasia primária é normal. Porém, tendem a apresentar sangramento tardio, se não há tratamento de reposição adequado. As punções venosas quando traumáticas podem gerar sangramento. Devem ser evitadas as injeções intramusculares de grandes volumes. DIAGNÓSTICO HEMOFÍLIA O diagnóstico das hemofilias baseia-se na quantificação da atividade coagulante dos fatores VIII (hemofilia A) e IX (hemofilia B). A suspeita diagnóstica baseia-se na história clínica hemorrágica e/ou antecedentes familiares. – EXAMES LABORATORIAS Fatores VIII e IX fazem parte do mecanismo intrínseco da coagulação, ao avaliar essas vias elas estarão anormais. Tempo de tromboplastina parcial ativado (TTPa): prolongado (coagulação demorada). Contagem de plaquetas e tempo de protrombina: normais. Nayara Viana, 3 período, unifipmoc Tempo de sangramento: prolongado em 15 a 20% dos pacientes com hemofilia A. Para diagnóstico diferencial: Hemograma com baixa atividade do fator VIII: HEMOFILIA A e hemograma com baixa atividade do fator IX: HEMOFILIA B. TRATAMENTO - HEMOFILIA CUIDADOS Orientar o paciente e a família sobre cuidados a serem tomados. IMPORTANTE: evitar o uso de AAS e outros medicamentos que interferem na coagulação (AINEs, ácido mefenâmico). Boa assistência dentária. TRATAMENTO Sangramento não complicado nos tecidos moles ou presença de hemartroses: Infusão de fator VIII. (aumentar ativ. em 15-20%). - Hemartrose extensa OU Sangramento retroperitoneal: 2 infusões, 2x/dia, por 3 dias ou mais. - Sangramento potencialmente fatal no SNC: necessário aumentar em +50% a atividade do fator deficiente por 02 semanas, em casos de sangramento potencialmente fatal do SNC. - Procedimento cirúrgico: no pré- operatório e até 1-2 semanas pós-operatório: ativ. > 50%. MEDICAÇÃO - HEMOFILIA A Derivados plasmáticos enriquecidos com fator VIII (crioprecipitado, concentrado de fator VIII). Por pelo menos duas vezes ao dia. - HEMOFILIA B Concentrado de fator IX: p/ hemorragia moderada-grave e p/ pacientes submetidos a cirurgia. Plasma fresco congelado para sangramento leve a moderado (quando não tiver concentrado de IX).
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