Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
14 8 INTRODUÇÃO À LIGAÇÃO QUÍMICA E M BUSCA D E U M A CONFIGURAÇÃO ESTÁVEL De que maneira os átomos se combinam para formar moléculas, e por que os átomos formam ligações? Uma molécula será formada somente se esta for mais estável e tiver menor energia do que os átomos individuais. Para compreendermos o que está acontecendo em termos de estrutura eletrônica, consideremos inicialmente os elementos do Grupo 18. Eles compreendem os gases nobres, o hélio, neônio, argônio, criptônio, xenônio e radônio, conhecidos por sua inércia química. Os átomos dos gases nobres geralmente não reagem com nenhum outro átomo, e suas moléculas são monoatómicas, isto é, contém apenas um átomo. A baixa reatividade decorre do fato de suas energias já serem baixas, e não poderem ser diminuídas ainda mais através da formação de compostos. A baixa energia dos gases está associada ao fato deles terem o nível eletrônico mais externo completamente preenchido. Essa estrutura é frequentemente denominada estrutura de gás nobre, e se constitui num arranjo de elétrons particularmente estável. A formação de ligações químicas envolve normalmente só os elétrons do nível mais externo do átomo e, através da formação de ligações, cada átomo adquire uma configuração eletrônica estável. O arranjo eletrônico mais estável é a estrutura de um gás nobre, e muitas moléculas possuem essa estrutura. Contudo, arranjos menos estáveis que a de gás nobre ocorrem regularmente nos elementos de transição. TIPOS D E LIGAÇÕES Os átomos podem adquirir uma configuração eletrônica es tável por três maneiras: perdendo, recebendo ou compartilhando elétrons. Os elementos podem ser classificados em: 1. Elementos eletropositivos, cujos átomos perdem um ou mais elétrons com relativa facilidade. 2. Elementos eletronegativos, que tendem a receber elétrons. 3. Elementos com reduzida tendência de perder ou receber elétrons. Dependendo do caráter eletropositivo ou eletronegativo dos átomos envolvidos, três tipos de ligações químicas podem ser formadas. Elemento eletropositivo + Elemento eletronegativo Elemento eletronegativo Ligação iónica Ligação covalente Elemento eletronegativo E1 emento eletropositivo Ligação metálica Elemento eletropositivo A ligação íõnica envolve a transferência completa de um ou mais elétrons de um átomo para outro. A ligação covalente envolve o cc*npartilhamento de um par de elétrons entre dois átomos, e na ligação metálica os elétrons de valência são livres para se moverem livremente através de todo o cristal. Esses tipos de ligações são representações idealizadas. Embora um dos tipos de ligação geralmente predomine, na maioria das substâncias as ligações se encontram em algum ponto entre essas formas limites. Por exemplo, o cloreto de lítio é considerado um composto iônico, mas ele é solúvel em álcool, o que sugere um certo caráter de ligação covalente. Caso os três tipos limites de ligações sejam colocados nos vértices de um triângulo, os compostos com ligações que tendem a pertencer a um dos três tipos limites serão representados por pontos próximos dos vértices. Compostos com ligações intermediárias entre dois tipos, situar-se-ão ao longo dos lados do triângulo, enquanto que compostos = r : r ; i . - . : i r . i : in :i:;::e::5ticas dos três tipos de ligação serão representados por pontos no interior do triângulo. TRANSIÇÕE5 ENTRE 0 5 PRINCIPAIS T I P P S DE LI5AÇÛE5 15 TRANSIÇÕES E N T R E OS PRINCIPAIS TIPOS D E LIGAÇÕES Poucas ligações são totalmente iónicas, covalentes ou metálicas. A maioria das ligações são intermediárias entre esses três tipos e possuem algumas características de duas delas, às vezes das três. Ligações iónicas Formam-se ligações iónicas quando elementos eletro- positivos reagem com elementos eletronegativos. Considere o composto iônico cloreto de sódio. O átomo de sódio tem a configuração eletrônica l s 2 2s2 2p 6 3 S 1 . O primeiro e o segundo níveis eletrônicos estão completamente preenchidos, mas o terceiro nível contém somente um elétron. Quando esse átomo reage, ele o faz de maneira a atingir uma configuração eletrônica mais estável. Os gases nobres apresentam um arranjo eletrônico estável, sendo o neônio o gás nobre mais próximo do sódio, cuja configuração é l s 2 2s2 2p 6. Se o átomo de sódio perder o elétron de seu nível mais externo, ele atingirá uma configuração eletrônica estável, e assim fazendo o sódio adquire uma carga positiva + 1, sendo denominado íon sódio, N a + . A carga positiva surge porque o núcleo contém 11 prótons, cada qual com uma carga positiva, mas restam apenas 10 elétrons. Os átomos de sódio tendem a perder elétrons dessa maneira quando lhes é fornecida energia. Logo, o sódio é um elemento eletropositivo. Na -» Na+ + elétron átomo de sódio íon de sódio Átomos de cloro possuem a configuração eletrônica l s 2 2s2 2p 6 3s2 3p 5. Falta apenas um elétron para se chegar a estrutura estável do gás nobre argônio l s 2 2s2 2p 6 3s2 3p 6. Assim, quando os átomos de cloro reagem, recebem um elétron. O cloro é, portanto, um elemento eletronegativo. Cl + elétron-» CL átomo de cloro íon cloreto Adquirindo um elétron, o átomo de cloro eletricamente neutro se transformará num íon cloreto, que possui uma carga negativa, Cl". M e t á l i c a Li / \ A g N a 3 B i / \ S n N a 3 S b / \ A s N a 3 A S / \ Te N a 3 P / \ S N a 3 N \ • CCI4 - B F 3 - B e F 2 - N a 3 0 l 2 - C I F - O F 2 - N F 3 - I F , - S F 6 - P F 6 • S i F 4 - A I F 3 - M g F 2 C o v a l e n t e \ C s F I ó n i c a Figura 2.1 — Triângulo ilustrando as transições entre ligações iônica, covalente e metálica (reproduzido de "Chemical Constitution" de J.A.A. Ketelaar, Elsevier) Quando sódio e cloro reagem entre si, o elétron no nível mais externo do átomo de sódio é transferido para o átomo de cloro, de modo a formar íons sódio, Na + , e íons cloreto, Cl". Atração eletrostática entre os íons positivos e negativos os mantêm juntos num retículo cristalino. O processo é energeticamente favorecido, pois os dois tipos de átomos atingem a configuração eletrônica estável de gás nobre, tal que o cloreto de sódio, Na + Cl", é facilmente formado. Isso pode ser ilustrado graficamente por meio de um diagrama de Lewis, no qual os elétrons externos são representados por pontos: Na Cl [Na] + + átomo de sódio átomo de cloro Cl A formação de cloreto de cálcio CaCl2 pode ser explicada de maneira semelhante. Os átomos de cálcio possuem dois elétrons no nível mais externo. O Ca é um elemento eletropositivo, de modo que cada átomo de Ca perde dois elétrons para dois átomos de Cl, gerando um íon cálcio, Ca2 + , e dois íons cloreto, Cl". Considerando-se apenas os elétrons mais externos, a reação pode ser representada como se segue: C a : + C l : C l [ C a ] 2 + + á t o m o de cálcio á tomos de cloro íon cálcio C l C l íons cloreto Ligações covalentes Quando dois átomos eletronegativos reagem entre si, ambos têm a tendência de receber elétrons mas nenhum mostra tendência alguma de ceder elétrons. Nesses casos os átomos compartilham elétrons para atingir a configuração eletrônica de gás nobre. Vamos inicialmente considerar o diagrama abaixo, que mostra como dois átomos de cloro Cl reagem para formar uma molécula de Cl 2 (estão sendo representados apenas os elétrons mais externos): Cl Cl Cl Cl átomos de cloro molécula de cloro Cada átomo de cloro compartilha um de seus elétrons com o outro átomo. Assim, um par de elétrons é compar- tilhado igualmente pelos dois átomos, de modo que cada átomo possui agora oito elétrons em seu nível mais externo (um octeto estável) — a estrutura de gás nobre do argônio. Na representação gráfica (estrutura de Lewis) o par de elétrons compartilhado é representado por dois pontos en- 16 INTRODUÇÃO À LIBAÇÃO QUÍMICA tre os átomos, Cl : Cl. Na representação por ligações de valência essespontos são substituídos por uma linha que representa uma ligação, Cl-Cl. Analogamente, uma molécula de tetraclorometano, CC14, é obtida a partir de um átomo de carbono e quatro átomos de cloro: + 4 • Cl Cl ->C1 : C Cl Cl O átomo de carbono necessita de quatro elétrons para chegar à estrutura de gás nobre, de modo que ele formará quatro ligações. Os átomos de cloro precisam de um elétron para chegar à estrutura de gás nobre, e cada um deles formará uma ligação. Compartilhando elétrons dessa maneira, tanto o átomo de carbono como os quatro átomos de cloro atingem a estrutura de um gás nobre. Deve-se frisar, contudo, que embora seja possível obter moléculas dessa maneira e entender suas estruturas eletrônicas, não se pode concluir que os átomos envolvidos reajam diretamente. No presente caso, carbono e cloro não reagem diretamente entre si, sendo que o tetraclorometano é obtido por reações indiretas. Uma molécula de amónia NH 3 é constituída por um átomo de nitrogénio e três de hidrogénio: N • + 3[H] -> H : N : H H O átomo de nitrogénio necessita de três elétrons para chegar à estrutura de um gás nobre, enquanto que os átomos de hidrogénio precisam receber um elétron para chegar à estrutura de um gás nobre. O átomo de nitrogénio forma três ligações, enquanto cada átomo de hidrogénio forma uma única ligação, para alcançar uma configuração estável. Um par de elétrons do átomo de nitrogénio não participa da formação de ligações, sendo denominado par isolado de elétrons. A água (com duas ligações covalentes e dois pares isolados) e fluoreto de hidrogénio (uma ligação covalente e três pares isolados), são mais alguns exemplos de compostos com ligações covalentes. H : O H H : discutida no capítulo 6). Um procedimento alternativo é "quebrar" (teoricamente) a molécula, removendo-se todos os á tomos ligados na forma de íons e, em seguida, determinando a carga remanescente no átomo central. Deve- se frisar que as moléculas não são realmente destruídas, nem os elétrons são realmente removidos. Por exemplo, na água, H 2 0, a retirada de dois íons H + deixa uma carga -2 no átomo de oxigénio, tal que o estado de oxidação do O na água é (-II) . Analogamente, no H2S o estado de oxidação do S é (-II); no F 20 o estado de oxidação do O é (+ II); no SF4 o estado de oxidação do S é (+ IV), enquanto que no SF6 o estado de oxidação do S é (+ VI). O conceito de número de oxidação funciona igualmente bem no caso de compostos iónicos. Assim, no CrCl 3 o átomo de Cr tem estado de oxidação (+ III) e forma íons Cr3 + e no caso do CrCl2 o Cr se encontra no estado de oxidação ( + 11), ou seja na forma de íons Cr2 + . Ligações coordenativas Uma ligação covalente resulta do compartilhamento de um par de elétrons por dois átomos, sendo que cada um deles contribui com um elétron para a formação da ligação. É possível também ter ligações nos quais o par de elétrons provém de apenas um dos átomos, sendo que o outro não contr ibui com nenhum e lé t ron . Essas l igações são denominadas ligações coordenativas ou dativas. Visto que nos compostos de coordenação um par de elétrons é compartilhado por dois átomos, a diferença em relação às ligações covalentes normais reside apenas na maneira em que as ligações são formadas. Uma vez formada, as ligações coordenativas são idênticas às ligações covalentes normais. Embora a molécula de amónia tenha uma configuração eletrônica estável, ela pode fazer uso de seu par de elétrons isolados para se ligar a um íon H + , formando o íon amónio, N H 4 + : H H + H 1 H : N : + [H] + -> H : N H ou 1 H — N ->H 1 H H 1 H Ligações covalentes normais são geralmente repre- sentadas por uma linha reta unindo os átomos envolvidos. Por sua vez, as ligações coordenativas são representadas por setas que indicam qual é o átomo que está doando os elétrons. Da mesma forma que no caso do íon NH 4 + , a amónia pode doar o par isolado para o trifluoreto de boro. Assim, o boro atinge a configuração estável de oito elétrons. Números de oxidação O número de oxidação de um elemento num composto covalente é calculado inicialmente considerando-se que os elétrons compartilhados pertencem ao elemento mais eletronegativo. A seguir determina-se a carga teórica remanescente em cada átomo (a eletronegatividade será H H H H : N : + B : F - » H — N -» B — F H TRANSIÇÕES ENTRE 0 5 P R I N C I P A S TIPOS DE LIBAÇÕES 17 Analogamente, uma molécula de BF3 pode receber um par de elétrons de um íon F" formando uma ligação dativa. + B : F -» F —B —F Dentre os vários outros exemplos podemos citar: PC1S + cr SbF5 + F" • [PC16] [SbF6]- Ligações duplas e triplas Às vezes dois átomos compartilham mais de um par de elétrons. Se quatro elétrons são compartilhados, formam-se duas ligações, e esse arranjo é chamado de ligação dupla. Se seis elétrons são compartilhados, forma-se uma ligação tripla: H H C : C H H : C H C : H H H \ / C = C / \ H H H : C = C : H molécula de eteno (ligação dupla) molécula de etino (ligação tripla) Ligações metálicas e estruturas metálicas Os metais são formados por íons positivos empacotados, normalmente segundo um dos três arranjos: 1. Cúbico de empacotamento compacto (também chamado cúbico de face centrada). 2. Hexagonal compacto. 3. Cúbico de corpo centrado. Os elétrons negativamente carregados mantêm esses íons unidos. O número de cargas positivas e negativas são exatamente iguais, visto que os elétrons se originam dos átomos neutros dos metais. As propriedades mais marcantes dos metais são suas condutividades elétrica e térmica extremamente elevadas. Ambas decorrem da mobilidade dos elétrons através do retículo. Os arranjos dos átomos nessas três estruturas metálicas são mostrados na Fig. 2.2. Em dois desses arranjos (o cúbico compacto e o hexagonal compacto) os átomos se encontram o mais próximo possível uns dos outros. Nesses casos, supõe- se que os íons metálicos se comportem como se fossem esferas, dispostas de modo a preencher o espaço da maneira a mais efetiva possível, como mostrado na Fig. 2.3a. Assim, cada esfera toca seis outras esferas numa mesma camada. Uma segunda camada de esferas se dispõe sobre essa primeira camada, de modo que as partes protuberantes dessa nova camada se encaixem nas concavidades da primeira, Figura 2.2 — As três estruturas metálicas, a) Estrutura hexagonal de empacotamento compacto mostrando a sequência de camadas ABABAB... e os 12 vizinhos que circundam cada esfera, b) Estrutura cúbica de empacotamento compacto (o número de coordenação também é 12) mostrando camadas repetidas ABCABC. c) Estrutura cúbica de corpo centrado mostrando os 8 vizinhos que circundam cada esfera como mostrado na Fig. 2.4a. Uma esfera da primeira camada toca três esferas da camada situada acima dela e três esferas da camada situada abaixo dela, além das seis esferas da própria camada, perfazendo assim um total de doze. Portanto, o número de coordenação, ou seja, o número de átomos ou íons em contato com um determinado átomo, é igual a doze num arranjo de empacotamento compacto. Nesse caso, as esferas ocupam 74% do espaço total. Todavia, dois arranjos diferentes são possíveis quando se adiciona uma terceira camada de esferas, preservando cada uma delas o arranjo de empacotamento compacto. Se a primeira esfera da terceira camada for colocada na depressão X mostrada na Fig. 2.4a, então esta esfera ficará exatamente acima de uma esfera da primeira camada. Portanto, todas as esferas da terceira camada estarão situadas exatamente acima de outra esfera da primeira camada, como mostrado na Fig. 2.2a. Se a primeira camada for representada por A e a segunda por B, o esquema de empacotamento compacto que se repete é ABABAB... Essa estrutura apresenta simetria hexagonal e por isso é designada estrutura hexago- nal compacta. Alternativamente, a primeira esfera da terceira camadapode ser colocada numa depressão, tal como mostrada na Fig. 2.4a. Nesse caso, essa esfera não estará exatamente acima de uma esfera da primeira camada. Logo todas as 18 INTRODUÇÃO À LIBAÇÃO QUÍMICA a) b) F i g u r a 2.3 — Diferentes possibilidades de empacotamento de esferas iguais em duas dimensões, a) empacotamento compacto (preenche 74% do espaço), b) cúbico de corpo centrado (ocupa 68% do espaço) esferas da terceira camada não es ta rão localizadas exatamente acima das esferas da primeira camada (Fig. 2.4b). Se cada uma das três camadas for representada por A, B e C, então o esquema de repet ição das camadas será ABCABCABC... (Fig. 2.2b). Essa estrutura apresenta simetria cúbica e é denominada estrutura cúbica compacta. Um nome alternativo é estrutura cúbica de face centrada. A diferença entre os empacotamentos hexagonal e cúbico compactos está representada na Fig. 2.5. Formas aleatórias de empacotamento, tais como ABABC ou ACBACB, são possíveis mas estes raramente ocorrem de fato. Todavia, os empacotamentos densos hexagonal ABABAB e cúbico ABCABC são muito comuns. A terceira estrutura metálica comum é denominada estrutura cúbica de corpo centrado (Fig. 2.2c). As esferas se encontram empacotadas segundo camadas, como mostrado na Fig. 2.3b. As esferas da segunda camada ocupam as depressões da primeira camada e as esferas da terceira camada ocupam as depressões da segunda camada. Nesse caso, as esferas da terceira camada também se situam imediatamente acima das esferas da primeira camada. Contudo, essa forma de empacotamento é menos eficiente na ocupação do espaço que o empacotamento compacto (compare as Figs. 2.3a e b). Numa estrutura cúbica de corpo centrado, as esferas ocupam 68% do espaço total e apresentam número de coordenação 8, enquanto que na estrutura de empacotamento compacto 74% do espaço são ocupados e o número de coordenação é 12. Os metais sempre possuem estruturas com elevado número de coordenação. a) b) Figura 2.4 — Camadas suporpostas de esferas de empacotamento compacto, a) duas camadas de esferas de empacotamento compacto (a segunda camada está sombreada), b) três camadas de esferas de empacotamento compacto (segunda camada sombreada, terceira camada, círculos pretos). Observe que a terceira camada não se situa acima da primeira; trata-se pois de um arranjo ABCABC... (cúbico de empacotamento compacto) a) b) Figura 2.5 — Disposição dos 12 vizinhos mais próximos, em estruturas hexagonal e cúbica de empacotamento compacto. (Observe que as camadas superior e central são iguais, mas na estrutura cúbica de empacotamento compacto a camada inferior sofre uma rotação de 60' em relação à estrutura hexagonal de empacotamento compacto), a) hexagonal de empacotamento compacto, b) cúbico de empacotamento compacto As teorias de ligação em metais e ligas metálicas serão descritas no Capítulo 5. A ligação metálica não ocorre somente em metais e ligas, mas também em vários outros tipos de compostos: 1. Boretos, carbetos, nitretos e hidretos intersticiais formados pelos elementos de transição (e também por alguns dos lantanídios). Alguns haletos de metais de transição de baixo estado de oxidação também per- tencem a esse grupo, pois os compostos apresentam condutividade elétrica e imagina-se que contenham elétrons livres localizadas em bandas de condução. 2. Compostos do tipo "cluster" dos metais de transição e compostos do tipo "cluster" do boro, nos quais as ligações covalentes se encontram deslocalizadas ao longo de vários átomos. Nesse caso, as ligações são equivalentes a uma forma restrita de ligação metálica. 3. Um grupo de compostos com ligação metal-metal, que inclui os carbonilmetálicos. Os compostos do tipo "clus- ter" (aglomerados) e os compostos com ligações metal- metal têm ajudado na compreensão do papel dos metais como catalisadores. Pontos de fusão Os compostos iónicos são geralmente sólidos, com elevados pontos de fusão e de ebulição. Ao contrário, os compostos covalentes são geralmente gases, líquidos ou sólidos de baixo ponto de fusão. Esses contrastes são decorrentes das diferenças nas ligações e na estrutura dos mesmos. Os compostos iónicos são constituídos por íons positivos e negativos, dispostos de maneira regular num retículo cristalino. A atração entre os íons é de natureza eletrostática e não-direcional, estendendo-se igualmente em todas as direções. Fundir o composto significa romper o retículo. Isso requer uma energia considerável. Por isso, os pontos de fusão e de ebulição geralmente são elevados e os compostos são muito duros. TRAN5IÇÛE5 ENTRE 0 5 P R I N C I P A S TIPOS DE LIBAÇÕES 19 Compostos contendo ligações covalentes são, em geral, consti tuídos por moléculas discretas. As ligações são direcionais e fortes ligações covalentes mantêm os átomos unidos para formar uma molécula. No estado sólido, as moléculas são mantidas por forças de van der Waals fracas. Para fundir ou evaporar os compostos, precisamos apenas fornecer uma quantidade de energia suficiente para sobrepujar as forças de van der Waals. Consequentemente, compostos covalentes são geralmente gases, líquidos ou sólidos moles, com baixo ponto de fusão. Em alguns casos, como no diamante e na sílica, Si0 2, todos os átomos estão ligados covalentemente formando um retículo gigante, ao invés de moléculas discretas. Nesses casos, existe um retículo tridimensional, apresentando ligações covalentes fortes em todas as direções. Uma grande quantidade de energia é necessária para romper esse retículo. Por isso o diamante, a sílica e outros materiais que possuem retículos tridimensionais gigantes são muito duros e apresentam elevados pontos de fusão. Condutividade Compostos iónicos conduzem a eletricidade quando fundidos ou em solução. A condução se deve aos íons que migram para os respectivos eletrodos sob a ação de um potencial elétrico. Se uma corrente elétrica for passada através de uma solução de cloreto de sódio, os íons Na + serão atraídos pelo eletrodo negativo (cátodo), onde eles recebem um elétron e formam átomos de sódio. Os íons Cl" são atraídos pelo eletrodo positivo (ânodo), onde eles perdem um elétron e se transformam em átomos de cloro. Esse processo é designado eletrólise. As transformações ocorridas se devem à transferência de elétrons do cátodo para o ânodo, mas a condução ocorre por um mecanismo iônico en- volvendo a migração dos íons positivos e negativos em direções opostas. No estado sólido, os íons estão presos a lugares definidos no retículo cristalino. Como eles não podem migrar, são incapazes de conduzir eletricidade por aquele mecanismo. Contudo, é errado afirmar que sólidos iónicos não conduzem eletricidade, sem definir melhor o que queremos dizer. O cristal pode conduzir eletricidade em pequeno grau por semicondução, se ele contiver defeitos. Suponha que uma posição no retículo esteja desocupado e haja uma "vacância" nesse local. Um íon pode migrar de sua posição normal no retículo para essa posição desocupada. Ao fazer isso, cria uma vacância num outro local. A nova vacância pode ser preenchida por outro íon, e assim por diante. Assim, a vacância pode migrar através do cristal e uma carga seria transportada no sentido inverso. Evidentemente, a quantidade de corrente conduzida desse modo é muito pequena, mas mesmo assim, os semicondutores são de grande importância nos modernos dispositivos eletrônicos. Os metais conduzem a eletricidade mais eficientemente que qualquer outro material, mas nesse caso a condução se deve ao movimento de elétrons e não de íons. Compostos covalentes não contêm íons (em contraste com os compostos iónicos), nem elétrons móveis (ao contrário dos metais). Por isso, são incapazes de conduzir a corrente elétrica, tanto no estado gasoso como no líquido ou no sólido. Compostos covalentes são, portanto, isolantes. Solubilidade Se forem solúveis , os compostos iónicos serão dissolvidospreferencialmente em solventes polares. São solventes com elevada constante dielétrica, tais como água ou os ácidos minerais. Compostos covalentes normalmente não são solúveis nesses solventes, mas se forem solúveis dissolver-se-ão preferencialmente em solventes apoiares (orgânicos) de baixa constante dielétrica, tais como benzeno ou tetraclorometano. A regra geral é formulada às vezes como "semelhante dissolve semelhante". Assim, os compostos iónicos geralmente são solúveis em solventes polares (iónicos) e compostos covalentes em solventes apoiares (covalentes). Velocidade das reações Geralmente os compostos iónicos reagem muito rapidamente, ao passo que os compostos covalentes geralmente reagem lentamente. As espécies envolvidas nas reações iónicas são íons, e como estes já se encontram presentes no meio, basta que eles colidam com o outro íon. Por exemplo, durante o teste com nitrato de prata, para verificar a presença de íons cloreto numa solução, a precipitação de cloreto de prata é muito rápida. A g + + Cl" -> AgCl Nas reações envolvendo compostos covalentes, geralmente há quebra de uma ligação seguida da substituição ou adição de um outro grupo. Logo, é necessário fornecer energia para quebrar a ligação. Essa energia é denominada energia de ativação, e frequentemente torna as reações lentas. As colisões entre as moléculas de reagentes só serão efetivas se as energias forem suficientes. Por exemplo, a redução de nitrobenzeno a anilina, em quantidades apreciáveis, leva várias horas. Analogamente, a reação de H 2 com Cl 2 é surpreendentemente lenta, a não ser quando a mistura é exposta diretamente à luz solar. Nesse caso pode haver uma explosão: C 5 H 5 N0 2 + 6[H] - » C 6 N 5 NH 2 + 2H 2 0 H 2 -> 2H < Cl 2 H> 2C1 H+C1^HC1 É importante lembrar que geralmente as ligações não são 100% covalentes ou iónicas e que existem ligações de caráter intermediário. Se uma molécula for constituída por dois átomos idênticos, ambos terão a mesma eletronega- tividade e, portanto, a mesma tendência de atrair elétrons (ver capítulo 6). Numa molécula desse tipo, o par de elétrons que forma a ligação covalente é igualmente compartilhado pelos dois átomos. Temos, assim, uma ligação 100% covalente, às vezes denominada ligação covalente apolar. É mais frequente a formação de moléculas a partir de átomos diferentes, e as eletronegatividades dos dois átomos envolvidos serão distintas. Considere por exemplo as moléculas de CIF e HF. O flúor é o átomo mais eletronegativo, e quando ligado covalentemente atrai elétrons com mais força do que qualquer outro elemento. Os elétrons da ligação S O INTRODUÇÃO À LIBAÇÃO QUÍMICA permanecem mais tempo ao redor do flúor do que junto ao outro átomo. Logo, o flúor adquire uma pequena carga negativa 8" e o outro átomo (Cl ou H) uma pequena carga positiva 5+. 5+ 5- ô+ 5- Cl—F H—F Embora essas ligações sejam essencialmente covalentes, elas possuem um certo caráter iônico e, às vezes, são designadas ligações covalentes polares. Nessas moléculas, uma carga positiva e uma carga negativa de mesmo módulo estão separadas por uma certa distância. Isso gera um momento de dipolo permanente na molécula. O momento dipolar de uma molécula mede a tendência da molécula alinhar suas cargas, quando colocadas num campo elétrico. Moléculas polares apresentam elevadas constantes dielétricas, enquanto que moléculas não-polares possuem constantes dielétricas baixas. A constante dielétrica é a razão da capacitancia de um capacitor com o material entre as placas à capacitancia do mesmo capacitor com vácuc entre elas. Realizando tais medidas poderemos determinar a constante dielétrica e sua magnitude indicará se o mate- rial é polar ou apolar. Nos próximos capítulos, as ligações iónicas, covalentes e metálicas serão discutidas mais detalhadamente. FSA
Compartilhar