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Prática de Ensino em Matemática nos Anos Finais do Ensino Fundamental Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Ms. Douglas Tinti Revisão Textual: Profa. Esp. Márcia Ota Planejamento, implementação e avaliação de processos de ensino e aprendizagem 5 • As diferentes esferas do planejamento • Implementação de propostas de ensino e o movimento de (auto) avaliação da ação docente. • Um olhar para os indicadores educacionais: avaliações internas e externas (as macroavaliações). Os objetivos desta Unidade são: » Identificar e analisar os currículos prescritos para as redes de ensino; » Perceber a relação entre os diferentes níveis de currículo; » Investigar a relação do currículo prescrito com os diferentes documentos curriculares utilizados pelo professor; » Refletir sobre os processos de planejamento, implementação e avaliação de processos de ensino e de aprendizagem, envolvendo conceitos matemáticos prescritos para os anos finais do Ensino Fundamental; » Subsidiar as discussões e ações do Estágio Curricular Supervisionado. Nesta unidade, faremos algumas reflexões sobre o planejamento, a implementação e a avaliação de processos de ensino e de aprendizagem envolvendo conceitos matemáticos prescritos para os anos finais do Ensino Fundamental. Buscaremos entender a relação entre o currículo prescrito e outros materiais curriculares, como o livro didático e o planeamento docente. Não esqueça de assistir à videoaula. Nela, será apresentada uma temática complementar às discussões que iniciamos aqui. Desejamos sucesso nesta nova etapa profissional. Abraços virtuais! Planejamento, implementação e avaliação de processos de ensino e aprendizagem 6 Unidade: Planejamento, implementação e avaliação de processos de ensino e aprendizagem Contextualização Planejamento Hoje, vamos acompanhar mais um dia de estágio vivenciado por nosso amigo Leandro. Depois que mapeou toda a realidade escolar, estudou o Projeto Político-Pedagógico da escola e adentrou sala de aula para acompanhar o Professor Adriano. Leandro, agora, depara-se com um novo desafio: pensar num planejamento de aula. Como será que ele se saiu? Quais foram suas dificuldades? Vamos juntos acompanhar mais um episódio e refletir com ele sobre nossa própria prática? Planejando aulas de Matemática para a turma do 6º ano do Ensino Fundamental Nossa! Já faz mais de um mês que estou observando as aulas do Professor Adriano. No começo, assustava-me com as coisas que presenciava, mas com o tempo fui me desprendendo de um olhar que julga e só vê coisas ruins e, agora, percebo que estou mais reflexivo. Não sei o que se passa comigo! Percebo que estou mudando, pois olho para as salas do Professor Adriano e tento me colocar no lugar dele e percebo que ele, assim como eu, possui limitações, mas que isso não o impede de fazer com que os alunos aprendam Matemática. Ontem, na sala dos professores, conversamos muito. Já me sinto mais à vontade para adentrar esse espaço que antes percebia como um “não lugar” para mim. Conversamos sobre currículo e planejamento docente. Contei a ele que, no curso, estudei uma disciplina que se voltava à discussão do currículo na perspectiva da Educação Matemática e que estudei os diferentes níveis de currículo, tal como o prescrito, o praticado e o avaliado. O Professor Adriano me contou que, em sua formação, não estudou a temática de currículos e teve muitas dificuldades quando prestou um concurso público e, sobretudo, quando iniciou a carreira docente. Ele me contou, também, que, quando chegou na escola, ninguém o explicou, por exemplo, como se fazia um planejamento, se quer lhe explicaram que havia um currículo oficial seguido pela rede de ensino que estava inserida a escola. Mas ele disse que isso não iria passar comigo, pois ele mesmo me ensinaria o “caminho das pedras”. Fiquei muito feliz com o gesto do Professor Adriano e pude perceber que a nossa profissão docente se constitui, também, nas relações pautadas pela colaboração e pelo respeito mútuo. Importante compartilhar que o Professor Adriano me deu um exemplar impresso do currículo de Matemática da rede de ensino e pediu para que eu fizesse uma leitura e, em caso de dúvidas, que o perguntasse. Me sugeriu que eu não fosse à sala de aula, naquele dia, e que ficasse lendo os documentos, pois seria de grande importância para a minha formação. Assim, o fiz! Ao ler o currículo, recordei-me que, conforme estudei no curso, esse documento pode ser entendido como um currículo prescrito e que nele estão apontados os conceitos matemáticos, as estratégias de ensino a serem consideradas, o processo de avaliação, dentre outras coisas. 7 Enquanto lia o documento, adentrou na sala uma professora que, ao me ver lendo o currículo, me disse: “não perca seu tempo com isso, não serve pra nada. Isso aí foi uma coisa imposta pelo nosso governador. Eu não o sigo! Onde já se viu impor o que eu tenho que fazer na minha sala de aula, com meus alunos. Onde fica a minha autonomia docente? ”. Confesso que, na hora, meu coração quase saiu pela boca. Fiquei sem reação. Depois de “despejar” esse monte de coisas sobre mim, a professora se apresentou, disse que era Eliane e que era professora efetiva de Matemática do Ensino Médio e trabalhava nesta escola há mais de vinte e cinco anos. Me apresentei, também, disse que era um futuro professor e que estava muito feliz em poder aprender com os professores desta escola, sobretudo com os mais experientes como ela. Ela disse que, se eu precisasse de algo, ela estaria à disposição e, depois disso, se despediu. Fiquei um tempo com aquelas afirmações martelando na minha cabeça: O currículo prescrito é imposto? Ele tira a autonomia do professor? Mas se cada um fazer o que quiser como fica a trajetória de aprendizagem dos alunos? Até onde vai a autonomia docente? Em outras profissões, há uma autonomia total ou há parâmetros que definem a atuação profissional? Quantos questionamentos ... Passados alguns minutos, a Dona Glória e a Professora Cida adentraram a sala dos professores e me cumprimentaram. Ao verem que eu estava lendo o currículo de Matemática da rede, elogiaram. A Professora Cida me explicou que este documento, antes de se tornar o currículo oficial, era denominado Proposta Curricular. Essa proposta foi elaborada por pesquisadores, professores e gestores educacionais em conjunto com a Secretaria da Educação e foi experimentada por dois anos pelos docentes. Depois disso, houve ajustes e ele se consolidou no Currículo Oficial. Nossa eu não fazia ideia de que o processo era assim! Perguntei a ela se os professores eram obrigados a seguir. Ela me devolveu a pergunta: Você sabe quantas escolas possuímos em nossa rede? Sabe quantos alunos atendemos? Quantos professores? Eu sorri e disse que não. Pois bem, disse ela, trata-se de uma rede muito grande e é necessário termos mecanismos de gestão e o currículo é um deles. Imagine, Leandro, um aluno que estude aqui no 6º ano com o Professor Adriano e que, no meio do ano letivo, este aluno pede transferência para outra escola da rede. Se os professores destas duas escolas não estiverem trabalhando os mesmos conceitos o que acontece com este aluno? Na minha concepção, entendo que ele perde o direito dele de aprender, como previsto pela nossa legislação vigente. Mas é a minha opinião, ok? Ela me disse, que todos os mecanismos de gestão têm seus prós e contras, há pessoas que os defendem e pessoas que o criticam. Muitos falam que ele “tira a nossa autonomia”, mas que ela entende que todas as profissões possuem certos protocolos que devem ser seguidos. Além disso, afirmou que, enquanto não enxergarmos a docência como profissão, o fardo ficará cada vez mais pesado. Que há professores, disse ela, que querem fazer o que lhes convêm ou ensinarsomente o que sabem, mas nossa profissão exige estudo constante e temos que zelar pelo direito do aluno de aprender. Você, mais do que eu, sabe da importância da Matemática para o desenvolvimento da cidadania do aluno, não é mesmo Leandro? Me desculpe por tomar seu tempo, não vamos te atrapalhar mais, precisamos ir atender o pai de um aluno. Agradeci e desejei um bom trabalho, mas confesso que fiquei confuso. Agora, eu tinha duas percepções diferentes do currículo prescrito e precisava refletir e construir a minha. Por isso, segui lendo o documento acompanhado dessa mescla de sensações. 8 Unidade: Planejamento, implementação e avaliação de processos de ensino e aprendizagem Ao final daquele turno, o Professor Adriano passou na sala dos professores e me perguntou se estava tudo bem. Partilhei com ele tudo o que aconteceu e ele me contou sua percepção sobre o currículo e me propôs um desafio: elaborar um plano de aula para as turmas do 6º ano, considerando o tema frações. Ele me disse que pretende fazer uma revisão dos conceitos abordados e contaria com minha ajuda para desenvolver algumas aulas. Então, entregou-me um plano de ensino, elaborado por ele e pediu para que eu elaborasse o meu, pois nas próximas semanas, eu iria conduzir as aulas juntamente com ele. Agradeci a ele e topei o desafio. Agora, estou aqui, inquieto com as coisas que li e ouvi, planejando a aula. Minha nossa! São tantas informações: objetivos, estratégias, metodologia, avaliação .... será que eu consigo? Reflita a) Inicialmente, vamos refletir sobre o currículo enquanto mecanismo de gestão. Reflita sobre os seguintes questionamentos: » O que é currículo? » Na escola que você está estagiando, há um currículo oficial? Você já o leu? » O que dizem os professores sobre este currículo? » Você acredita que seja importante as escolas seguirem um mesmo parâmetro em relação aos conceitos abordados em cada ano de escolarização? Por quê? b) Agora, vamos refletir sobre a postura profissional dos envolvidos no relato do nosso amigo Leandro: » Como você tem percebido os professores (ou professor) que têm acompanhado seu Estágio Curricular Supervisionado? Seu olhar tem sido pejorativo ou reflexivo? » O gesto do Professor Adriano revela que nossa profissão é permeada de relações que exigem respeito e colaboração profissional: como tenho me portado ao longo do meu período de formação inicial? Tenho respeitado e colaborado com meus colegas, tutores, professores e demais envolvidos neste processo? Tenho respeitado e colaborado com o(s) professor(es) que acompanha(m) minha inserção no ambiente escolar? » Você encontrará nas escolas muitas professoras semelhantes às professoras Eliana e Cida. Acreditamos que elas evidenciam lados distintos de uma balança. Com qual deles você se identifica? Será que nessa relação não há um equilíbrio? » O Professor Adriano ofereceu ao Leandro uma oportunidade de aprendizagem inserida na prática: conhecer o currículo e planejar aulas. Você vivenciou essa experiência no seu estágio? Se não, sugiro que converse com o(s) professor(es) que o acompanha(m) e tente vivenciá-la. Perceberá o quanto este momento é importante para o desenvolvimento de aprendizagens docentes, haja vista que ser professor não equivale a ter apenas o diploma de licenciado. Isso é condição mínima, mas não suficiente, pense nisso! c) Se coloque, agora, no papel do nosso amigo Leandro ... » Como se elabora um plano de ensino? » Considerando o conceito de frações, o que os alunos precisam aprender no 6º ano? Como estão agrupados estes conceitos ou conteúdos? (Relação com o currículo prescrito). » Desta relação, o que os alunos já aprenderam? (Relação com o currículo planejado pelo professor e com o diário de classe – currículo praticado). » Que estratégias de ensino posso utilizar para abordar estes conceitos? Quais são utilizadas pelo professor que estou acompanhando? 9 As diferentes esferas do planejamento O planejamento docente é uma ação complexa que está contida nos processos de gestão e organização escolar. Se retomarmos a história da Educação do nosso país, veremos que, em diferentes momentos, o planejamento foi assumido como uma tarefa burocrática e de controle do trabalho alheio, quer seja por parte das organizações de ensino quer seja pelas escolas. Pensar o planejamento em educação implica, dentre outras, em duas perspectivas: uma perspectiva burocrática e uma perspectiva democrática. Se considerarmos o planejamento como uma ação burocrática, identificaremos a predominância de uma ação individualizada e de um viés técnico-instrumental, ou seja, aquele que, por exemplo, segue uma estrutura padronizada e que, muitas vezes, é utilizada pelos docentes ano após ano sem uma revisão oriunda de um movimento de reflexão. É possível que alguns professores, por exemplo, quando iniciam um novo ano letivo, peguem o planejamento do ano anterior e só modificam as datas ou, então, fazem do sumário de um livro didático o seu planejamento. Isso acontece, pois não assumiram o planejamento como um direcionador se sua prática profissional e sim como algo desconexo de sua prática e meramente burocrático: faço porque me pedem. Nesse contexto, evidencia-se uma perspectiva do planejamento como uma ação burocrática e desvinculada dos processos de ensino e de aprendizagem. Você sabia? O Planejamento deve ser entendido como uma bússola que auxilia o professor a conduzir os processos de ensino e de aprendizagem, considerando certos parâmetros, como o currículo e a aprendizagem dos alunos, por exemplo. Por outro lado, uma perspectiva democrática entende que o planejamento é uma ação participativa que pode fortalecer as práticas e a organização escolar, por enxergar a escola como um todo e não em partes segmentadas. Neste sentido, Menegolla (2001, p. 61-62) destaca que: Planejar é um ato participativo e comunitário, e não simplesmente uma ação individualista ou de um grupo fechado no seu restrito existencial ou profissional. O planejar individualista é um ato condicionante do pensar, do prever, do decidir e do fazer; ele é delimitador e reduz o campo de ideias, diminuindo a possibilidade de revolução e transformação da realidade. Ele será o resultado de uma visão limitada que pode se opor e contrariar ideias mais abrangentes e significativas. Em outras palavras, pensar um planejamento coletivamente implica em pensar na trajetória dos alunos, ao longo dos ciclos escolares, considerando o currículo prescrito e as especificidades do público da escola. 10 Unidade: Planejamento, implementação e avaliação de processos de ensino e aprendizagem LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996): Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/ldb.pdf Neste contexto, se considerarmos a Lei de Diretrizes e Bases (LDB - Lei nº 9.394/96) perceberemos que a legislação sinaliza que o planejamento se define em diferentes esferas educacionais. No artigo 9°, aponta-se para a esfera governamental, destacando que uma das incumbências da União é elaborar o Plano Nacional de Educação (PNE). Entretanto, os estados e municípios, também, são responsáveis e devem constituir seus sistemas de ensino, tal como apontam os artigos 10 e 11 da LDB. Além disso, a LDB aponta a responsabilidade de outras duas esferas: a escola e o professor. De acordo com o artigo 12, compete aos estabelecimentos de ensino a tarefa de “elaborar e executar sua proposta pedagógica” e, de acordo com o artigo 13 da referida lei, aos professores, dentre outras funções, a de “participar da elaboração da proposta pedagógica do estabelecimento de ensino; elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a proposta pedagógica do estabelecimento deensino”. Em linhas gerais, podemos destacar que, falar de planejamento em educação é reconhecer que ele se define em diferentes níveis e, também, na relação entre eles, tal como apresentamos na figura a seguir: Sistemas e redes de ensino Unidade escolar Professor Em relação ao planejamento no âmbito dos sistemas e redes de ensino, destacam-se as intervenções, do Estado por exemplo, no intuito de implementar uma política educacional como, por exemplo, um currículo oficial. Reflita A rede educacional a que pertence a escola onde você está estagiando possui um currículo ou uma política educacional em vigor? Como se constituiu? É uma política de estado ou uma marca de um governo? Artigo “Desenvolvimento curricular em Matemática no Brasil: trajetórias e desafios” de autoria de Célia Maria Carolino Pires e Marcio Antonio da Silva. Disponível em: » http://gpcem.dominiotemporario.com/doc/2011_-_Quadrante.pdf 11 Se olharmos para a trajetória das políticas educacionais ou dos currículos nos estados e municípios brasileiros perceberemos um movimento de descontinuidade e uma forte influência de ações político-partidárias. Por exemplo, uma cidade A inicia uma implementação de uma nova prescrição curricular. Para isso, faz formações com seus professores e equipe gestora e o implementa. Passado o período da gestão deste governo que o implementou, o novo governo que assume, muitas vezes, desconsidera o que foi feito e inicia uma nova prescrição curricular com vistas, dentre outras coisas, a imprimir uma nova marca de governo. Deste modo, todo o investimento financeiro e humano em torno deste movimento de implementação é ignorado e inviabiliza o progresso educacional da cidade A. Reflita Você conhece a trajetória curricular da rede municipal ou da rede estadual da sua cidade? Elas apresentam estas características? Quais foram os avanços e os retrocessos? Converse com os professores mais experientes da escola que está estagiando e com a equipe gestora para ficar a par desta trajetória curricular. Ao olharmos para o planejamento no âmbito da unidade escolar, evidenciaremos a construção de um documento que pode favorecer e indicar caminhos para o trabalho coletivo e a superação da fragmentação. Trata-se do Projeto Político-Pedagógico (PPP) da Escola, mais conhecido como Projeto Pedagógico. Libâneo (1994, p.223) destaca as seguintes funções do planejamento escolar: » Explicitar princípios, diretrizes e procedimentos do trabalho docente que assegurem a articulação entre as tarefas da escola e as exigências do contexto social e do processo de participação democrática. » Expressar os vínculos entre o posicionamento filosófico, político-pedagógico e profissional e as ações efetivas que o professor irá realizar na sala de aula, através de objetivos, conteúdos, métodos e formas organizativas do ensino. » Assegurar a racionalização, organização e coordenação do trabalho docente, de modo que a previsão das ações docentes possibilite ao professor a realização de um ensino de qualidade e evite a improvisação e a rotina. » Prever objetivos, conteúdos e métodos a partir da consideração das exigências postas pela realidade social do nível de preparo e das condições socioculturais e individuais dos alunos. » Assegurar a unidade e a coerência do trabalho docente, uma vez que torna possível inter-relacionar, num plano, os elementos que compõem o processo de ensino: os objetivos (para que ensinar), os métodos e técnicas (como ensinar) e a avaliação, que está intimamente relacionada ao demais. » Atualizar o conteúdo do plano sempre que é revisto, aperfeiçoando-o em relação aos progressos feitos no campo de conhecimentos, adequando-o às condições de aprendizagem dos alunos, aos métodos, técnicas e recursos de ensino que vão sendo incorporados na experiência cotidiana. 12 Unidade: Planejamento, implementação e avaliação de processos de ensino e aprendizagem » Facilitar a preparação das aulas: selecionar o material didático em tempo hábil, saber que tarefas professor e alunos devem executar, replanejar o trabalho frente a novas situações que aparecem no decorrer das aulas. Você já leu o Projeto Político-Pedagógico da escola em que está estagiando? Se não, recomendamos que o faça. Sugerimos alguns questionamentos para auxiliá-lo(a) na leitura e análise do mesmo: Quem o escreveu? Quando o escreveu? Qual a estrutura deste documento? Ele é atualizado? Com qual periodicidade? Os professores o conhecem? Qual a relação dele com os planejamentos docentes? Além dessas duas esferas, também, podemos evidenciar o planejamento no âmbito do ensino, ou seja, o planejamento do professor. Para Libâneo (1994, p.222), O planejamento é um processo de racionalização, organização e coordenação da ação docente, articulando a atividade escolar e a problemática do contexto social. A escola, os professores e os alunos são integrantes da dinâmica das relações sociais; tudo o que acontece no meio escolar está atravessado por influências econômicas, políticas e culturais que caracterizam a sociedade de classes. Isso significa que os elementos do planejamento escolar – objetivos, conteúdos, métodos – estão recheados de implicações sociais, têm um significado genuinamente político. Por essa razão, o planejamento é uma atividade de reflexão acerca das nossas opções; se não pensarmos detidamente sobre o rumo que devemos dar ao nosso trabalho, ficaremos entregues aos rumos estabelecidos pelos interesses dominantes da sociedade. Com relação ao planejamento do professor, podemos destacar que há diferentes formatos que são modelados pelas unidades escolares, pelo sistema ou pela rede de ensino. Em linhas gerais, há uma diversidade estrutural quanto ao planejamento docente, podendo variar de escola para escola ou de rede para rede, como já enfatizado. Geralmente, é composto dos seguintes elementos: título, público-alvo, descrição, objetivos, materiais necessários, desenvolvimento, avaliação e referências bibliográficas. Sugestão para a elaboração do Planejamento: » dar um título para este planejamento; » descrever o público-alvo; » descrever os objetivos ou metas desta aula; » descrever os recursos indispensáveis para a realização da atividade; » apresentar, detalhadamente, o percurso metodológico esperado para a aula; » apresentar quais os possíveis instrumentos avaliativos que serão considerados; » apontar as referências bibliográficas utilizadas. O Ministério da Educação (MEC) disponibiliza aos professores uma página denominada Portal do Professor. Nela, há uma aba denominada “Cursos e Matérias”, onde se pode consultar algumas propostas de Planos de aula. Disponível em: http://portaldoprofessor.mec.gov.br/cursos_materiais.html 13 Implementação de propostas de ensino e o movimento de (auto) avaliação da ação docente. Ao implementar uma proposta de ensino, como um plano de aula, por exemplo, o professor deve considerar fatores como: o Projeto Político-Pedagógico da escola, o currículo, os recursos disponíveis na escola, os conhecimentos prévios dos alunos, dentre outros. Além disso, o professor deve investir um tempo para o estudo dos conceitos a serem abordados na aula e, no desenvolvimento das aulas com os alunos, gerenciar o tempo e as aprendizagens. É uma tarefa complexa! Afinal, envolve diferentes variáveis! Muitas redes de ensino remuneram os professores, parcialmente, para desempenharem o planejamento. Em algumas redes, esta atividade de planejamento é paga como horas de trabalho pedagógico (HTP), mas cada rede tem sua especificidade. Sugerimos que você, também, se inteire como se compõe a jornada de um professor nesta rede e quanto se paga por cada componente da jornada. Lamentavelmente, em nossa prática, podemos observar que, alguns professores, depreciam o movimento de planejamento deaulas e relatam que se trata de uma “perca de tempo”. Alguns já possuem seus cadernos (geralmente, bem amarelinhos em função do tempo de uso) com esquemas de aula contendo definições, fórmulas e exercícios. É importante destacar que a docência é uma profissão e que o planejar é inerente à profissão, ou seja, é parte integrante e constituinte da mesma. Está implícito que um professor deve planejar as suas aulas e, mais do que isso, refletir sobre a sua prática constantemente. Esta reflexão sobre a própria prática pode ser entendida enquanto um agente potencializador da profissão docente que impulsiona o docente: na busca pela melhoria constante de suas intervenções; no processo de aprendizagem e formação contínua e, consequentemente, no seu Desenvolvimento Profissional. Este movimento de reflexão sobre a própria prática ou de (auto)avaliação é destacado por Libâneo (1994), quando sinaliza que o professor deve avaliar constantemente a sua prática em sala de aula a partir de questões como: Os objetivos e conteúdos foram adequados à turma? O tempo de duração da aula foi adequado? Os métodos e técnicas de ensino foram variados e oportunos para suscitar a atividade mental e prática dos alunos? Foram feitas verificações de aprendizagem no decorrer das aulas (informais e formais)? O relacionamento professor-aluno foi satisfatório? Houve uma organização segura das atividades, de modo a ter garantido um clima de trabalho favorável? Os alunos realmente consolidaram a aprendizagem da matéria, num grau suficiente para introduzir matéria nova? Foram propiciadas tarefas de estudo ativas e independentes dos alunos? (LIBÂNEO, 1994, p.243). 14 Unidade: Planejamento, implementação e avaliação de processos de ensino e aprendizagem Além disso, o autor destaca que o processo de (auto)avaliação supera a análise focada no aluno por contemplar a avaliação do trabalho docente. Para Libâneo (1994, p.202), o professor pode realizar, neste processo, os seguintes questionamentos: [...] meus objetivos estão suficientemente claros? Os conteúdos estão acessíveis, significativos e bem dosados? Os métodos e os recursos auxiliares de ensino estão adequados? Estou conseguindo comunicar- me adequadamente com todos os alunos? Estou dando a necessária atenção aos sucedidos, aos mais dóceis e obedientes? Estou ajudando os alunos a ampliarem suas aspirações, a terem perspectivas de futuro, a valorizarem o estudo? (LIBÂNEO, 1994, p. 202). Diante do exposto, podemos perceber que ser professor vai muito além de ter um diploma de licenciado e vai muito mais além de “dar aulas”. Ser professor implica numa identificação profissional e num processo de constituição contínua por meio da prática e da reflexão sobre a prática profissional. Por isso, aconselhamos que você viva intensamente este momento formativo que é o Estágio Curricular Supervisionado. As reflexões e sugestões que propomos a você foram pensadas para auxiliá-lo(a) neste processo; portanto, não as desconsidere! Para pensar Você já planejou, implementou e avaliou um plano de aula? Quais foram as suas conclusões? O que mudaria? O que manteria? O que este processo contribuiu para a sua formação docente? Se você não teve a oportunidade de realizar ainda, converse com o professor que acompanha seu estágio na escola e planeje junto com ele a vivência destas três etapas. Um olhar para os indicadores educacionais: avaliações internas e externas (as macroavaliações). Outro termômetro que os professores podem utilizar para avaliar seus planejamentos ou para defini-los são as avaliações internas e externas. No âmbito das avaliações internas, podemos destacar as avaliações diagnósticas ou de sondagem elaboradas pelos docentes, pela equipe gestora ou pela própria gestão da rede. É um instrumento que ajuda a perceber a realidade local e, assim, auxiliar os professores na elaboração de seus planejamentos. Além desses instrumentos, as avaliações realizadas pelos professores, também, podem ser entendidas como instrumentos de avaliação interna da escola e embasar a tomada de decisões. No âmbito das avaliações externas, destacam-se as macroavaliações como, por exemplo, Prova Brasil; Saeb; Pisa e o SARESP. 15 O Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (SARESP) é uma avaliação realizada pelo Governo do Estado de São Paulo. Na região/cidade onde você mora há alguma outra macroavaliação? Pesquise! Prova Brasil e o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb) Disponível em: » http://provinhabrasil.inep.gov.br/ Programme for International Student Assessment (Pisa) Disponível em: » http://portal.inep.gov.br/pisa-programa-internacional-de-avaliacao-de-alunos Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (Saresp) Disponível em: » http://www.educacao.sp.gov.br/saresp Para pensar Você conhece os indicadores das macroavaliações referente à escola em que está estagiando? O que estes dados revelam? Em Matemática, quais são as principais dificuldades que os alunos apresentam? Que ações a escola e o professor vêm desenvolvendo para a superação dessas dificuldades? Contudo, para finalizar nossas reflexões, gostaríamos de destacar que: Planejando, executando e avaliando juntos esses professores desenvolvem habilidades necessárias à vida em comum com os colegas. Isso proporciona, entre outros aspectos, crescimento profissional, ajustamento às mudanças, exercício da autodisciplina, responsabilidade e união à nível de decisões conjuntas (TURRA, 1996, p.19, grifos nossos). A seguir, apresentaremos alguns focos que poderão auxiliá-lo(a) nesta trajetória formativa. Possíveis focos de observação, participação e regência. Sugestões de observação: Nesta unidade, abordamos o planejamento docente ancorando nossas reflexões na relação com o currículo e os demais materiais curriculares. As sugestões que seguem vão neste direcionamento. Sinta-se à vontade para ampliá-las! » O planejamento do professor está adequado com o currículo? » Como se dá o processo de planejamento escolar? Qual a periodicidade? É feito conjuntamente? Quem conduz este processo? Quem o valida? É apenas um documento em papel ou os professores fazem uso dele constantemente? » Como o professor registra as ações desenvolvidas em sala de aula? Estes registros refletem o que realmente fazem ou é uma cópia do planejamento? Lembre-se que nem tudo sai como planejado! Por isso, é preciso ter coerência neste registro! 16 Unidade: Planejamento, implementação e avaliação de processos de ensino e aprendizagem » Os professores da escola seguem o currículo proposto pela rede de ensino? Se não, por qual motivo? Como o professor faz uso deste currículo? » A escola adota outros materiais curriculares, tais como livros didáticos ou apostilas? Qual a relação destes materiais com o currículo proposto? E com o planejamento docente? Muitas vezes, percebe-se que o planejamento é a cópia do sumário dos livros didáticos adotados. Você acha isso coerente? Quais os prós e os contras desta ação? » Como os professores utilizam os dados das avaliações internas e externas para planejar suas aulas? » Que ações a escola desenvolve para auxiliar os alunos com dificuldades de aprendizagem? Há processos de recuperação paralela? Como eles ocorrem? » Como o professor avalia os alunos? Como avalia o seu planejamento? Como e quando o modifica? Que critérios utiliza? Sugestões de participação: As sugestões que seguem abaixo devem ser negociadas com a escola. Partilhe com o professor e com a equipe gestora antes de iniciar qualquer ação. » Caso queira você pode realizar entrevistas ou questionários com os gestores e professores, visando entender a percepção que eles têm do currículo, do planejamento anual e do planejamento constante das aulas. » Vocêpoderia propor a elaboração de uma avaliação diagnóstica para compreender as dificuldades dos alunos. Para isso, pode considerar os indicadores internos e externos. » Você poderia elaborar materiais didáticos, como jogos por exemplo, que pudessem ser utilizados pelo professor nas aulas que irá ministrar nos próximos dias. Por isso, é fundamental conhecer o planejamento dele, se preparar e apresentar a ele com antecedência suas intenções. Isso pode abrir a possibilidade de regências. » Caso o professor permita, você poderá auxiliar os alunos na resolução dos exercícios propostos por ele. Mas cuidado para não atrapalhar o andamento das aulas. Se puder auxiliar os alunos com mais dificuldade ou estar próximo daqueles que são mais agitados, poderá colaborar com o bom desenvolvimento da aula e com o professor. Lembre-se da importância da colaboração profissional! 17 Sugestões de regência: » A regência é o momento em que você assume o papel de professor, acompanhado pelo professor responsável pela sala. Nem todos os professores dão esta abertura; por isso, é necessário dialogar com o professor que o acompanha. Trata-se de um momento importante no estágio e no processo de constituição profissional. Se prepare, dialogue com o professor e vença seus medos. Entendemos que a aprendizagem docente se torna mais significativa no lócus profissional. » Como apontado anteriormente, sugerimos que você planeje uma regência com base no planejamento do professor. Escolha algum conceito que ele irá abordar, por exemplo, no próximo mês. Partilhe com ele seu planejamento e peça autorização para conduzir algumas aulas. Estude! Se prepare! Tudo dará certo! Pode ser que nem tudo saia como planejou, isso é normal! Vença seus medos, se desafie, encante os alunos! Você é capaz. Partilhe conosco, posteriormente, como foi esta experiência! 18 Unidade: Planejamento, implementação e avaliação de processos de ensino e aprendizagem Material Complementar Vídeos: O planejamento na prática pedagógica - Educação - Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=NjM6G4Q9UI0 O projeto político-pedagógico - Passo a passo - Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=WeVoq_mak1Y Palestra José Carlos Libâneo - “Práticas de ensino em um contexto de mudanças” Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=AcZEWkA8--E Livros: MOREIRA, A. F. B. (Org). Currículo: políticas e práticas. 12.ed. Campinas, SP: Papirus, 2010. (e-book) MUNHOZ, M. O. Propostas metodológicas para o ensino de matemática. Curitiba, InterSaberes, 2013. (e-book) PICONEZ, S C. B. (Coord.). A prática de ensino e o estágio supervisionado. São Paulo: Papirus, 1995. (e-book) SADOVSKY, P. O ensino de matemátiaca hoje: enfoques, sentidos e desafios. São Paulo: Ática, 2007. (e-book) SILVEIRA, E.; MIOLA, R. J. Professor-pesquisador em Educação Matemática. Curitiba: InterSaberes, 2013. (e-book) Sites: FIORENTINI, D. Alguns modos de ver e conceber o ensino de matemática no Brasil. Zetetike: Revista de Educação Matemática, Campinas, v. 3, n. 4, 1995. Disponível em: https://www.fe.unicamp.br/revistas/ged/zetetike/article/view/2561 Leituras: BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Parâmetros Curriculares Nacionais: Matemática. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1997. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro03.pdf 19 Referências BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Parâmetros Curriculares Nacionais: Matemática. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1997. Disponível em: http://portal. mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro03.pdf. Acesso em: 13 de junho de 2015. _______. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Parecer CNE/CES Nº 1302, de 06 de novembro de 2001 que estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de Matemática – Bacharelado e Licenciatura. Disponível em: http://portal.mec.gov. br/cne/arquivos/pdf/CES13022.pdf. Acesso em: 13 de junho de 2015. _______. Conselho Nacional de Educação. Resolução CNE/CP Nº 01, de 18 de Fevereiro de 2002, que estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/rcp01_02.pdf. Acesso em: 13 de junho de 2015. _______. Conselho Nacional de Educação. Resolução CNE/CP Nº 02, de 19 de Fevereiro de 2002, que institui a duração e carga horária dos cursos de licenciatura. Disponível em: http:// portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/CP022002.pdf. Acesso em: 13 de junho de 2015. LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 1994 (Coleção magistério 2° grau. Série formação do professor). TURRA, C. M. G. et al. Planejamento de ensino e avaliação. Porto Alegre: Sagra, 1996. MENEGOLLA, M; SANT’ANNA I. M; Por que Planejar? Como Planejar. Petrópolis: Vozes, 2001. SACRISTÁN, J. G.. O Currículo - Uma reflexão sobre a prática. 3ª ed. Porto Alegre: Artmed Editora, 2000. 20 Unidade: Planejamento, implementação e avaliação de processos de ensino e aprendizagem Anotações
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