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NEUROLOGIA EQUINA O exame neurológico nos ajuda a confirmar o envolvimento do SN e localizar a lesão no SN. A avaliação neurológica consiste na identificação do animal, anamnese, exame físico geral e especifico (neurológico), lista de diagnósticos diferenciais e realização de exames complementares (RX, mielografia, coleta e análise do líquor, hemograma, bioquímico, testes específicos para algumas doenças, endoscopia de bolsa gutural tomografia e ressonância. AFECÇÕES VIRAIS – 1) Herpesvírus equino (Mieloencefalite Equina por Herpesvírus) – É um DNA vírus, envelopado, pertencente a família Alphaherpesvirinae e da ordem Herpesvirales. Herpesvírus Respiratório Nervoso Aborto Morte neonatal Alfa EHV-1 X X X X EHV-3 EHV-4 X x x Gama EHV-2 EHV-5 x Patogenia pós infecção: • Transmissão se dá por gotículas (tosse/espirro), de forma direta (secreção/muco), por contato com feto abortado e fluidos placentários ou por fômites e ambiente. • O vírus entra no organismo e chega nos pulmões, causando um quadro respiratório, onde pode desenvolver latência e se reativar em caso de estresse (cortisol). O vírus pode chegar nos linfonodos e então atingir os leucócitos, causando viremia com aproximadamente 7 a 10 dias, podendo causar manifestações em locais secundários com 8 a 13 dias. Na viremia o animal possui um segundo pico de febre, sendo que o primeiro foi no quadro respiratório (febre bifásica característica). A doença é extremamente contagiosa e na grande maioria das vezes fatal, pois causa vasculite necrotizante de vasos do SNC. É mais comum em animais com mais de 3 anos, sendo rara em potros. Fatores de risco: muares, que são reservatórios silenciosos. Qual a diferença nos casos em que há evolução para doença neurológica? Mutação viral que aumenta virulência D752 vs N752. Sinais clínicos: • Início agudo: ataxia simétrica e paresia que pode progredir ao decúbito; • Sinais mais intensos nos membros pélvicos; o Posição de cão sentado. • Paralisia de bexiga e incontinência urinaria; • Diminuição do tônus de cauda e ânus; • Após segundo pico de febre; • Sinais vestibulares e alterações de nervos cranianos – raros; • Febre e/ou sinais prévios respiratórios ou casos de aborto na propriedade são achados comuns. Diagnóstico: • Líquor – xantocromia; • PCR swab nasal e sangue • Isolamento viral swab nasal e capa leucocitária; • Ideal = coleta de sangue e swab ao mesmo tempo; • Sorologia pareada (14 a 21 dias de intervalo); o Aumento de 4x associado a sinais clínicos confirma infecção recente. • Histologia: vasculite clássica. Para evitar surto neurológico: Diagnóstico precoce; Prevenir disseminação (isolamento de doentes, segregar grupos, medir temperatura BID, cessar movimentação animal, prevenir stress, vacinação – evita o surto); Tratamento de suporte dos casos clínicos: o Sondagem uretral, o Macas; o Fluidoterapia; o DMSO; o Valaciclovir (anti-viral pouco efetivo quando a enfermidade está estabelecida, sendo melhor o Ganciclover IV nestes casos); o AINES; o Corticoides (em casos graves ou de rápida progressão). Prevenção: • Vacinação (previne a doença respiratória, consequentemente menor disseminação do vírus; previne o aborto, mas não a forma neurológica); • Quarentena de novos animais; • Segregação em pequenos grupos; • Diminuição de stress. 2) ENCEFALOMIELITE EQUINA – Temos 3 tipos: Leste (BR tem mais essa), Oeste e a Venezuelana. É um vírus RNA da família Togaviridae e do gênero Alfavírus que podem levar a sinais neurológicos e morte de equinos e humanos, com período de incubação de 5 a 14 dias. Etiopatogenia: • A doença possui uma febre de início agudo, depressão e sinais neurológicos. Ainda, pode causar ataxia, cegueira, head-pressing, hiperestesia, decúbito, head-tilt e turn. • É uma doença que afeta qualquer idade, sexo e raça, mas é infrequente em potros com menos de 3 meses, mas que possui alta mortalidade (principalmente a do Leste). Transmissão: • Os pássaros são agentes virêmicos, não manifestando a doença. Além deles o mosquito Culex transmite o vírus aos humanos e aos equinos, sendo que ambos são hospedeiros acidentais. • Não existe transmissão cavalo/cavalo ou cavalo/outras espécies. • Na do Leste e Oeste os equinos não amplificam o vírus, diferentemente da Venezuelana. Diagnóstico: • Sorologia: aumento de 4x IgG num intervalo de 10 a 14 dias - sem influência vacinal de IgM; • Líquor: xantocromia (aumento de proteína), pleiocitose (linfocítica). Tratamento: • Sintomático, sendo o prognóstico bem desfavorável. Prevenção: • Vacinação (leste e oeste); • Combate dos mosquitos. 3) VÍRUS DO NILO OCIDENTAL (“West Nile Virus”) – É um RNA vírus da família Flavivirus, que surgiu na Uganda, mas que foi se espalhando pela América por meio de aves migratórias. No Brasil, o primeiro caso foi relatado no ES, em abril de 2018. O vírus pode causar doença neurológica em equinos e humanos, além de outros mamíferos, sendo que os equinos representam 96.9% dos casos em mamíferos não humanos. “se um equino tem, o vírus está circulando”. Transmissão: Obs.: há mais de 300 espécies de aves capazes de reservar o vírus. Elas podem eliminar o vírus por via oral e cloaca. Obs.: o equino é o hospedeiro terminal da doença, mas possui viremia baixa, logo nem todos apresentam sinais. Obs.: humanos podem transmitir via transplacentária, pelo leite, doação de sangue ou de órgão. Sinais clínicos: • Agudos e progressivos, aparecendo com 5 a 22 dias após infecção; • Causa ataxia, fraqueza muscular fasciculações musculares (lábio e pescoço), fotofobia, hiperestesia, febre é achado inconsistente; • Pode evoluir para decúbito e morte ou recuperação (3 a 7 dias). • Sinais neurológios persistentes gera sequelas. Diagnóstico: • Sorologia: ELISA IgM para exposição recente ELISA ou PRNT IgG não difere vacinação de exposição); • Exame post mortem (amostra de cérebro e medula espinhal PCR e isolamento viral); Obs.: doença de notificação obrigatória! Tratamento: • Sintomático: AI (AINES ou corticoide – casos agudos e graves, curto período), fluidoterapia se necessário, DMSO, vitamina E, maca. Prevenção: • Controle de mosquitos; • Vacina ainda não está disponível no Brasil. 4) RAIVA – • Sempre deve ser considerada como diagnóstico diferencial em equinos com sinais neurológicos agudos e progressivos, pois gera grande variedade de sinais clínicos iniciais, sendo de progressão rápida, culminando na morte do animal; • Não existe diagnóstico ante-mortem; • Prevenção: vacinação; • ZOONOSE – usar luvas. OUTRAS DOENÇAS – 5) MIELOENCEFALITE PROTOZOÁRIA EQUINA (EPM ou MEP) – Os sinais clínicos são causados pela infecção do SN pelo protozoário, sendo que o local da lesão no SN na grande maioria é a medula espinhal, mas menos de 5% apresentam alteração encefálica. É causada por um coccídeo do filo Apicomplexa, da família Sarcocystidae, gênero Sarcocystis (Sarcocystis neurona) ou por Neospora hughesi. Transmissão: • É uma doença das Américas (únicos onde há Gambás, hospedeiros definitivos – Didelphis albiventris américa central e do Sul; Didelphis virginiana américa do Norte), sendo que os casos europeus se deram devido a importação de animais oriundos do continente americano. • Os equinos são infectados ao ingerirem as formas imaturas do protozoário liberados pelo gambá nas fezes, em que alguns animais chegam ao SNC, causando a doença. Ou o esporocisto é ingerido pelos hospedeiros intermediários, indo para a musculatura e se transformando em sarcocisto, que será ingerido pelos gambás (são animais carniceiros). Obs.: hospedeiros intermediários - guaxinim, tatu-galinha, cangambá, gato doméstico e lontra marinha. Obs.: aves e insetos podem transportar esporocistos. Patogenia: • Progressão lenta; • Fatores de risco: o Animais de 1 a 5 anos e > 13 anos; o Muito relacionadaa falta de sistema de proteção de água e alimentos, além de animais de vida livre; o Estresse; o Presença do gambá; o Presença de florestas e matas. • Sinais clínicos – “3 As”: o Ataxia, assimetria e atrofia; o Incoordenação assimétrica dos membros devido a lesão assimétrica da medula espinhal; o Fraqueza muscular / Paresia; o Déficits proprioceptivos = posturas anormais; o Atrofia muscular neurogênica; o Normalmente só há um único animal afetado; o Sinais vitais normais. Diagnóstico: • Presença de sinais clínicos condizentes com EPM no exame neurológico; • Exclusão de outros diagnósticos diferenciais; • Imunodiagnóstico – soro E líquido cefalorraquidiano (LCR). o Há outros testes: Western Blot, IFAT, ELISA (SAGs). • Histopatologia e imuno-histoquímica. Tratamento: • Longa duração (mínimo 1 mês). • Sulfonamidas + Pirimetamina por meses OU Diclazuril por 21/28 dias OU Toltrazuril por 28 dias OU Ponazuril por 28 dias (até 42/56 dias) A primeira opção acaba saindo no mesmo preço que as outras opções. • Suporte: AINES/AI, vitamina E (8000 UI/dia), imunoestimulantes, fisioterapia e reabilitação. Prevenção: • Impedir acesso dos gambás aos alimentos e água fornecida aos animais Difícil; • Controlar a população de vetores nas baias; • Retirar e dar destino adequado aos animais encontrados mortos; • Diclauzuril e toltrazuril: prevenção. 6) MIELOPATIA CERVICAL ESTENÓTICA (SÍNDROME DE WOBBLER”) – Consiste na alteração no desenvolvimento das vértebras cervicais, caracterizada pelo estreitamento do canal vertebral cervical, resultando na compressão intermitente ou contínua da medula espinhal. Intermitente: ventroflexão: C3-C4; C4-C5. Estática: contínua: C5-C6; C6-C7. É uma doença multifatorial, relacionada a genética e ambiente. Ainda, muito relacionado a machos, jovens, bem alimentandos e de crescimento rápido. Em animais velhos está relacionada a artrite, podendo afetar vértebras cervicais mais distais (C5 – C7). Sinais clínicos: • Ataxia simétrica dos 4 membros; • Ataxia de anteriores normalmente um grau menor do que posteriores; • Dor cervical variável o resistência a flexão de pescoço Mais comum: artrite; • Sem alteração de estado mental ou nervos cranianos; • Piora: elevando a cabeça, manobras especiais. Diagnóstico: • RX (sugere estenose do canal medular) – cálculo da proporção sagital intravertebral, sendo que <52% está relacionada a C3-C6 e <56% a C6-C7; • Mielografia (definitivo) em 3 posicionamentos (neutra, flexão e extensão). Tratamento: • Anti-inflamatório, repouso; o Melhora transitória em animais que tiveram piora abrupta por traumatismo. • Artrodese cirúrgica; o Pacientes jovens, sinais leves, pouco tempo de duração, compressão em 1 a 2 locais: melhora prognóstico para retorno a vida atlética. • Potros com menos de 1 ano. o Dieta restrita em proteína e energia (65 a 75% do recomendado); o Alguns potros apresentaram melhora dos sinais clínicos e alterações radiográficas. 7) LEUCOENCEFALOMALÁCIA – É conhecida como a “doença do milho mofado”, pois ocorre devido a liberação de fumonisina do fungo Fusarium moniliforme, que gera degeneração da substância branca do cérebro. A fumonisina bloqueia a síntese de esfingolipídeos, que são importantes para a estrutura e função do SNC, o que gera uma necrose celular por coagulação. A ocorrência se dá pelo efeito acumulativo da ingestão de 8 a 10 ppm, por 7 a 0 dias, sendo fatal, pois causa uma síndrome neurotóxica e síndrome hepatotóxica. Rápida progressão! Síndrome neurotóxica: • Alteração de comportamento; o Depressão, Pressão de cabeça contra objetos. • Ataxia; • Cegueira; • Tremor muscular, Hiperexcitabilidade; • Alteração de nervos cranianos; • Convulsões; • Anorexia, letargia, atonia intestinal. Diagnóstico: • Sinais clínicos + milho mofado; • Sem alterações no LCR; o Pode haver aumento de proteína. • Análise da ração; • Bioquímico: enzimas hepáticas; • Necropsia: o MACRO – Degeneração e necrose da substância branca do cérebro. 8) TÉTANO – Causada pelas toxinas liberadas pela bactéria gram positiva anaeróbica Clostridium tetani. Essa bactéria produz 2 toxinas: Tetanolisina (gera necrose local, o que aumenta a área de anaerobiose) e a Tetanospasmina, que é a causadora do tétano, pois bloqueia sinapses inibitórias de receptores GABA. O aparelho digestivo e o solo servem como reservatório, por meio do “cultivo” de esporos, que não produzem toxinas e podem ser viáveis por anos. Quando então em anaerobiose passam a ter a forma vegetativa, que produz toxinas. • Período de incubação= 10 a 21 dias, sendo influenciada por: o Quantidade de tetanospasmina produzida numa lesão; o Toxigenicidade da amostra; o Quantidade de toxina na corrente sanguínea e as vias neurais; o Dimensão de necrose do ferimento; o Título antitoxina do hospedeiro. Sinais clínicos: • Primeiras 24 horas: sinais de desconforto abdominal, claudicação do membro de inoculação. • Após 24 horas: andar rígido, rigidez de cabeça e pescoço, narinas dilatadas, hiperestesia, resposta exacerbada ao som e luz, cauda em bandeira, protusão 3ª pálpebra, sudorese, taquipneia, taquicardia, trismo mandibular. Tratamento: • Tranquilizantes (Acepromazina); • Ambiente escuro e silencioso; • AINES; • Relaxantes musculares; • Fluidoterapia + Nutrição; • Eliminar foco de infecção e produção de toxina; o Ferida + antibiótico sistêmico (Penicilina, Metronidazol). • Neutralizar toxina não ligada ao SNC; o Soro antitetânico 100 U/Kg IV ou IM; o Intra-tecal. • Piso adequado. Obs.: sem histórico fazemos o soro antitetânico em dose preventiva. É importante lavar a ferida e usar o ATB. Prevenção: • Vacinação.
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