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INTRODUÇÃO: Prurido é a sensação desagradável que leva a coçadura – é o principal sintoma dermatológico Relacionado a doenças sistêmicas e específicas da pele Caráter subjetivo, sendo desde sensação leve até extremamente desagradável com piora importante da qualidade de vida Não há lesão específica, mas quando há lesão específica chamamos de PRURIGO Prurigo: Significa que há lesão papulosa acompanhando o prurido. FISIOPATOLOGIA: Sensibilização periférica: Redução do limiar de percepção associada ao aumento da atividade basal de receptores na pele com estímulo de terminações nervosas livres na junção dermoepidérmica e é mediada por mediadores – histamina, proteases e substância P. Sensibilização central: Pelo centro do prurido no cérebro, sendo que estímulos não prurigênicos são percebidos como prurido e isso é o prurido neurogênico ou neuropático. Estímulos produtores de dor podem ativar as vias do prurido – comum paciente confundir dor com prurido. CLASSIFICAÇÃO: 1) Duração Agudo Crônico 2) Extensão Generalizado Localizado 3) Intensidade Grave Discreto 4) Evolução Contínuo Em surtos 5) Tipos: Pruridoceptivo: surge na pele doente, naquele paciente com dermatoses (dermatite atópica, urticária, líquen plano) Neurogênico: quando tem ação do SN, ação de mediadores sem lesões orgânicas Neuropático: quando há lesão das vias sensoriais aferentes do SNP e SNC Psiquiátrico: de origem puramente psíquica Além disso, o prurido pode ser estimulado por fatores como: Calor Exercício Transpiração Suor é irritativo para a pele Fricção Roupas oclusivas Alterações bruscas de temperatura Também pode ser secundário a várias medicações: Opioides – morfina, codeína, tramadol Fentanil Sulfas Captopril Estrógenos Clorpromazina Metoxipsoraleno (uso no vitiligo) Fibratos, estatinas BB Retinoides Tamoxifeno Paracetamol Minociclina Isoniazida Amoxicilina Lítio Cloroquina Clonidina PRURIDO E PRURIGOS PRURIDO – ABORDAGEM PRÁTICA ABORDAGEM PRÁTICA DO PRURIDO: Quando o paciente chega com queixa de prurido, o primeiro passo é pesquisar a causa do prurido. No caso, focaremos no prurido crônico. Causas mais comuns de prurido dermatoses inflamatórias Eczemas: atópico e de contato, seborreico, asteatósico (pele seca), de estase. Eczema asteatósico (1ª foto) que é aquele eczema de pele seca. Podem se dividir em fases agudas, subagudas e crônicas. Essa fase é subaguda, pois tem eritema e descamação. Eczema numular (2ª foto) é aquele que lembra uma moeda, é agudo, geralmente ocorre em pacientes atopicos, nos membros, em forma de moeda. Eczema de contato (3ª foto) Eczema atópico (4ª foto) Eczema desidrótico (1ª foto): vesículas sobre base eritematosa ou não, confluentes, nas palmas, plantas e quirodáctilos. Eczema de estase (2ª foto): ocorre em pacientes com insuficiência venosa crônica, com hipersensibilidade a estase Líquen simples crônico/Eczema crônico (3ª foto): são lesões liquenificadas, de coloração acastanhada, violácea, causada por coçadura. Líquen escleroso e atrófico (4ª foto): lesões hipocrômicas, atróficas, localizadas no dorso superior, nuca, genitália. Líquen plano: manifesta com lesões papulosas, de centro violáceo, poligonais, achatadas, de aspecto brilhante. Comumente no punho. Mastocitose: são lesões secundárias a proliferação de mastócitos, essa é a forma generalizada. Ptiríase rubra-pilar: dermatose inflamatória, rara. Ptiríase rósea: doença inflamatória de hipersensibilidade após infecção viral e temos pa´pulas eritemato-escamosas, disseminadas, com configuração de árvore de natal Urticária: placas, pápulas Esclerodermia: área espessada, coloração hipocrômica Penfigoide bolhoso: bolhas mais profundas, pacientes idosos, início pela virilha, evolui com exsulcerações extensas, recobertas por crostas. Dermatite herpetiforme: relacionada a doença celíaca. Lesões anulares ou policíclicas, com bolhas pequenas, de diâmetros variados, conformação anular. Erupção polimorfa a luz: pápulas eritematosas em regiões fotoexpostas Dermatomiosite: colagenose, inflamatória, com manifestação cutânea – pápulas de Gotran, nas regiões interfalangianas. Heliotrópico. 1) Paciente com ictiose hereditária, congênita que se manifesta com xerose disseminada, chega a formar placas, pápulas hipercrômicas, com ectrópico. Pelo fato de terem pele xerótica, vão coçar bastante. 2) Doença de Hailey-Hailey: lesões nas axilas principalmente que vão se manifestar como placas eritematosas e intensamente pruriginosas 3) Micose fungóide – linfoma cutâneo de células T: placas eritematosas e infiltradas, começam menos eritematosas e vão evoluindo com inflamação. 4) Doença de Dariet: pápulas hipercrômicas acastanhadas no tórax anterior e dorso superior. É rara. DIAGNÓSTICO: História clínica minuciosa e exame físico completo Características do prurido – duração, localização, qualidade, intensidade, caráter, fatores de melhora e piora Antecedentes pessoais: doenças concomitantes, medicações em uso Avaliar alterações cutâneas – diferenciar causas dermatológicas ou sistêmicas Se há história familiar, pensamos em escabiose, se em neoplasia.. Temos que avaliar: Prurido é induzido mecanicamente: se o paciente te coça muito, tem dermatite atópica, urticária, mastocitose e doença colestática que o paciente de coça muito. Prurido aquagênico: paciente que só coça quando entra em contato com a água, então tem que investigar doenças hematológicas. Avaliar intensidade do prurido ao longo das consultas Questionar sobre depressão, ansiedade ou distúrbios do sono e prejuízo da qualidade de vida RED FLAGS: Sintomas constitucionais – pensamos em malignidade História sexual: HIV, hepatite C Poliúria, polidipsia – pesquisar diabetes História de nefropatia Intolerância ao frio – hipotireoidismo Alterações de humor, sintomas obsessivos EXAMES COMPLEMENTARES: Pede os exames de acordo com a suspeita etiológica Causa dermatológica: iremos biopsiar, exames dermatológicos Causa sistêmica: pedimos hemograma, eletrólitos, VHS, ureia e creatinina, função hepática – TGO, TGP, GGT, fosfatase alcalina, bilirrubinas, DHL, T4 livre e TSH, eletroforese de proteínas séricas, glicemia, ferro sérico, ferritina, sorologias para HIV e hepatites. Protoparasitológico de fezes e radiografia de tórax para investigar linfoma. Paciente com prurido exame físico lesão dermatológica? Se sim, é sugestiva de doença primária da pele? Se sim, trata causa de base, se não, faz exame complementar dessa lesão cutânea (exame micológico, biópsia, culturas). Se forem conclusivos, tratamos. Se não conclusivos faz os testes laboratoriais já citados. Se não apresenta lesão dermatológica pesquisa as características do prurido, início, se é generalizado ou localizado, se é limitado ou não a área exposta, se há moradores da casa coçando, exposição ocupacional. Quando não sugere causa sistêmica pede testes laboratoriais. Se tem questões positivas tratamento com medidas gerais e avaliar se foi eficaz. Acompanhamento do paciente com prurido: Anamnese, exame clínico Causa identificada – trata Causa não identificada – faz tratamento antes sintomático antes da investigação com anti-histamínico sistêmico emoliente e avaliar em 2 semanas Se não melhorou, pede exames Aprofunda em exames direcionados de acordo com anamnese endoscopia, mielograma, dosagens.. Acompanhar o paciente sempre TRATAMENTOÉ complexo. Inicialmente orientar todos os pacientes quanto a cronicidade e refratariedade. Medidas gerais: Cortar as unhas Banhos mornos e rápidos Evitar roupas sintéticas Ambiente fresco Emolientes Medicamentoso: Anti-histamínicos Corticoterapia tópica Inibidores da calcineurina: tacrolimus Capsaicina tópica: prurido localizado de causa neurogênica Tratar a causa!! Fototerapia Antidepressivos (amitriptilina, ISRS) Ansiolíticos PRURIGO É quando o paciente tem prurido + lesões papulosas As pápulas podem ser foliculares, individuais, puntiformes, poligonais, brilhantes, agrupadas, edematosas, encimadas por vesículas. Geralmente ocorre após algum tempo de coçadura Paciente começa com prurido, coça bastante e desenvolve o prurigo TIPOS: Prurigo estrófulo É o mais comum de todos É uma reação de hipersensibilidade a picada de inseto Geralmente melhora na puberdade Acomete crianças de 1 a 6 anos São lesões uritcadas, encimadas por vesículas. Pápulas eritemato-edematosas. As vesículas viram crostas e melhora Mais comum em atópicos, em áreas expostas, evolui em surtos e pode ser que aconteça infecção secundária Pode ocorrer cicatrizes e hipocromia pela coçadura Evitar a lesão repelente Tratamento: anti-histamínicos orais, corticoides tópicos de média para alta potência e dessensibilização (feita com alergistas com imunoterapia) Prurigo simples do adulto: Adultos jovens ou mais velhos Semelhante ao prurido estrófulo Hipersensibilidade a causa variadas Seropápulas eritemato-urticadas em surtos, são simétricas Mais comum na face extensora das extremidades Tratamento depende da etiologia, mas podem ser utilizados antihistaminicos orais, corticoides tópicos e emolientes. Prurigo nodular de Hyde Quadro mais raro Se manifesta em dois grupos – atópicos e não atópicos Etiologia desconhecida Pápulas e nódulos hipercrômicos, confluentes. Nódulos numerosos ou não e tamanhos variados. Distribuição simétrica Tratamento é com cuidados gerais, corticoides tópicos, anti-histaminicos, doxepina, fototerapia que é 2ª linha, ciclosporina, talidomida, naltrexona. DEVOLUTIVA: Paciente do sexo feminino, 52 anos, branca, refere prurido no couro cabeludo há 3 meses, que generalizou há 1 mês (“coça tudo”), sem predileção de horário. Há 15 dias vem sentindo muita sede e acordando várias vezes à noite para urinar. Nega outros familiares com prurido. É diabética e hipertensa há 8 anos e faz uso de captopril 50 mg/dia e metformina 1g/dia. Perdeu o acompanhamento na UBS e não colhe exames há algum tempo. Ao exame dermatológico apresentava escoriações difusas por todo o corpo e xerose leve. Em relação a esta paciente, responda as questões abaixo: 1) Qual a classificação e provável etiologia do prurido desta paciente? A paciente apresenta um prurido crônico (há 3 meses), de início localizado, mas que se tornou generalizado, de intensidade provavelmente grave pois procurou ajuda e de evolução contínua. De acordo com o caso, a paciente apresenta sintomas sistêmicos de polidipsia e poliúria e apresenta escoriações generalizadas e xerose, então provavelmente a etiologia seria sistêmica, como uma descompensação do diabetes da paciente. 2) Qual seria a conduta mais importante no manejo desta paciente? Solicitar exames, em especial, o HGT para ver a glicemia da paciente, se está descompensada, hemograma, eletrólitos, função hepática, renal e recomendar medidas gerais como banhos rápidos e mornos, hidratar a pele com emolientes, preferir ambientes frescos, cortar as unhas. Nesse caso, o uso de medicação seria apenas sintomático, visto que precisamos interferir na causa real do prurido, de acordo com a suspeita de doença primária.