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Doença cárie e fatores de risco CLÍNICA DA CRIANÇA I Escola Bahiana De Medicina E Saúde Pública (EBMSP) Aluna: Maria Clara Pereira Dos Santos Processo saúde-doença e o desenvolvimento da doença Cárie dentária o A cárie é uma doença dinâmica mediada pelo acúmulo de microrganismos sobre a superfície dental na forma de um consórcio multiespécies denominado placa dental bacteriana/ biofilme dental. o A formação desse biofilme é natural, ou seja, o biofilme sempre está presente em cavidade oral acumulado nas superfícies dentais. o O biofilme se forma assim que os dentes irrompem na cavidade bucal e imediatamente após a escovação dental e profilaxia profissional. Dieta – fator modulador o Fatores moduladores, como a dieta, caracterizam a razão do desenvolvimento de um biofilme com potencial cariogênico. o Os açucares ingeridos durante a alimentação são metabolizados pelas bactérias do biofilme dental que produzem ácidos, ou seja, bactérias acidogenicas, sendo o ácido lático o principal deles. o Todas as vezes em que esses ácidos são produzidos, o pH na interface dente-biofilme reduz, levando a perda de minerais da estrutura dental (desmineralização). o Na medida em que o pH é neutralizado pelos sistemas tampões da saliva e do biofilme dental, parte dos minerais que foram perdidos são redepositados na superfície dental como consequência da capacidade remineralizadora inerente da saliva (remineralização). o No entanto, sempre haverá mais mineral perdido que aquele redepositado pela saliva, uma vez que a capacidade remineralizadora da saliva é limitada. o A frequência pela qual ocorre o processo de des-re implica grandemente no desenvolvimento ou não da doença cárie. o Simultaneamente, a produção de ácidos pelas bactérias do biofilme induz modificações ecológicas no biofilme dental. o Na medida em que o pH diminui, cria-se pressão seletiva na microbiota, que viabiliza o crescimento de microrganismos capazes de tolerar o ambiente mais acidificado, quando comparados aos microrganismos comensais e que são compatíveis com o biofilme associado á saúde. o A cárie dentária é entendida como uma disbiose, uma doença causada por um desequilíbrio microbiológico relacionado á redução na proporção de microrganismos em baixa cariogenicidade, com aumento da proporção de microrganismos cariogênicos (mais acidogênicos e mais acidúricos). o Quanto mais frequentes as quedas de pH na cavidade bucal durante o dia, mais intensa a chance de ocorrer alterações ecológicas. o A microbiota presente em biofilmes associadas ás lesões de cárie é altamente diversificada, formada por grupos distintos de bactérias e fungos, ou seja, tem característica polimicrobiana. Streptococcus mutans o Atuam como importante fator de virulência, pois se associa a cariogenicidade do biofilme. o Usam a sacarose como substrato (o carboidrato mais cariogênico presente na dieta) o São microrganismos altamente acidogenicos e ácido-tolerantes. o Produzem polímeros extracelulares ricos em glicose (polissacarídeos extracelulares insolúveis) a partir da metabolização da sacarose. o Esses polissacarídeos promovem uma grande modificação no biofilme dental, tornando-o mais pegajoso e viabilizando a adesão entre os microrganismos e a superfície dental. o Aumentam ainda a porosidade do biofilme, possibilitando quedas do pH na interface entre biofilme e superfície dental sejam mais prolongadas e intensas. Ação do fluoreto o Age modulando essas perdas minerais, ou seja, reduzindo a des e ativando a remineralização o Na cavidade bucal o fluoreto deve estar presente de modo constante e em baixas concentrações por meio do uso diário do dentifrício fluoretado – com concentração de flúor superior a 1.100ppm F ou pela ingestão de água otimamente fluoretada. o Não é transmissível/ infecciosa Desenvolvimento e progressão das lesões de cárie o Lesões de cárie: representam os sinais clínicos manifestantes da doença. o Essas têm início com a dissolução mineral em nível ultraestrutural e com mudanças na superfície do esmalte, podendo alcançar a dentina. o A lesão de cárie em dentes decíduos apresenta rápida taxa de progressão devido as características morfológicas desses dentes: apresentam menor espessura de esmalte e dentina, menor taxa de mineralização, túbulos dentinários mais amplos e maior área de contato proximal, que possibilitam o maior acúmulo de biofilme e consequentemente, levam ao início e a progressão da lesão cariosa. Lesões de cárie em superfície oclusal o A superfície oclusal é caracterizada por um sistema de fóssulas e fissuras, sendo uma área favorável para a estagnação do biofilme. o A parte mais profunda da fissura abriga biofilme dental e a lesão se inicia pela difusão de ácidos do metabolismo bacteriano do biofilme. Lesões de cárie em superfície lisa/proximal o Essas lesões resultam do acúmulo de biofilme ao longo das margens gengivais e seguem a forma do contorno gengival, podendo progredir para uma cavidade em esmalte e mais profundamente em dentina. Doença cárie e fatores de risco CLÍNICA DA CRIANÇA I Escola Bahiana De Medicina E Saúde Pública (EBMSP) Aluna: Maria Clara Pereira Dos Santos o Nas superfícies proximais, o acúmulo de biofilme ocorre na região entre a face de contato e a margem gengival. o A lesão pode se estender para as direções vestibular e lingual, seguindo o contorno gengival. Epidemiologia o As crianças com faixa etária de 5 anos são as mais afetadas. Cárie da primeira infância o É caracterizada pela presença de 1 ou mais dentes decíduos cariados. o Representa o índice de dentes perdidos ou restaurados pela presença de cárie. Impactos da doença cárie no paciente o Gera algia o Infecção o Problemas psicológicos, causados pela perda precoce da (s) unidades dentárias o Baixa autoestima Etiologia o Disbiose açúcar dependente o Biofilme: aglomerado de micro-organismos; o Alimentação: pode gerar um processo de DES-RE pela saliva; o O flúor age equilibrando o pH bucal o A sacarose favorece a proliferação de bactérias acidúricas e acidogênicas o Determinante: açúcar (carboidrato) fermentável o Sacarose, glicose, frutose e lactose são os carboidratos fermentáveis metabolizados pelas bactérias do biofilme, de modo que agem na produção de ácidos que desencadeiam a queda do pH (pH cítrico 5,5/6,5 e por fim causando a desmineralização do dente. o A junção do fator biofilme + sacarose ocasiona a perda de minerais. o Quando ocorre a ininterrupção da ingestão de açúcar, acontece a diluição e neutralização dos ácidos, elevando o pH (+5,5). o A saliva supersaturada de íons cálcio e fosfato tende a repor minerais no esmalte e na dentina, gerando equilíbrio entre o ciclo de DES X REMINERALIZAÇÃO. o Esse processo ocorre em virtude das sucessivas quedas de pH. o A perda mineral da estrutura dentária ocorre em estágios progressivos: 1. Molecular 2. Subclínica 3. Mancha branca (visível clinicamente) 4. Formação de cavidade 5. Destruição total Estratégias preventivas para o controle da cárie o A desorganização do biofilme é necessária para que ocorra o controle da doença cárie – remoção mecânica desse biofilme. o Higiene bucal o É desejável que aconteça a restrição da ingestão de açúcar. Doença cárie X lesão de cárie o Doença cárie: é causada pelo desequilíbrio dos fatores responsáveis pela causa da doença, ou seja, os fatores etiológicos presentes na cavidade oral do paciente. o A doença precisa ser controlada para que não ocorra recidiva. o Lesão de cárie: é a consequência da doença cárie, ou seja, é a manifestação clínica. o É resultante do desequilíbrio de múltiplos fatores etiológicos. o É o sinal clínico desse desequilíbrio. o Écaracterizada por destruição localizada dos tecidos duros do dente. Odontologia de mínima intervenção (OMI) o É o modelo atual o Mantém na cavidade oral determinado nível de tecido cariado que ainda pode se remineralizar. o Prevê a detecção precoce o Prevenção o Procedimentos minimamente invasivos o Objetiva manter os dentes saudáveis por mais tempo o Modelo antigo: odontologia restauradora Detecção das lesões de cárie em superfícies oclusais e proximais o Consiste na avaliação criteriosa das superfícies dentais, identificando: a presença de lesão, a presença de cavidade, a sua extensão ou profundidade e o status de atividade. Exame visual-tátil o Se baseia no uso de espelho e sonda OMS (ball- point), em uma superfície dental limpa, seca e bem iluminada. o Critérios subjetivos como cor, translucidez e dureza da estrutura dental facilitam o exame e o monitoramento dessas lesões. o É de fácil execução o É rápido o Não traz desconforto ao paciente o É o único método capaz de detectar atividade das lesões de cárie o Para que, características como integridade de superfície,coloração,textura, translucidez/opacidade e localização da lesão sejam visualmente identificadas. o Superfícies oclusais: o exame-visual tátil é indicado para identificar a presença de uma lesão, a Doença cárie e fatores de risco CLÍNICA DA CRIANÇA I Escola Bahiana De Medicina E Saúde Pública (EBMSP) Aluna: Maria Clara Pereira Dos Santos presença de cavidade em esmalte ou em dentina, avaliar sua profundidade ou status de atividade. o Superfícies proximais: apenas lesões profundas, com cavidades evidentes são passíveis de serem detectadas e visualizadas durante o exame visual- tátil. o As lesões proximais iniciais, devido a presença de ponto/superfície de contato são difíceis de serem visualizadas em exame clínico. Pode ser indiciada pela opacidade das cristas marginais ou por um sinal clínico visível da lesão que se estenda até a superfície vestibular/lingual. o O exame radiográfico pode ser visto como um método complementar para mensurar a profundidade das lesões e a proximidade com a câmara pulpar. Avaliação da atividade de lesões de cárie o A sonda OMS é utilizada com o objetivo de avaliar a textura da superfície do esmalte e de remover o biofilme do local. o Lesões ativas em esmalte (lesão de mancha branca ativa): são opacas, porosas (giz) e rugosas. o Estão localizadas em regiões de maior acúmulo de biofilme. o Em sulcos e fissuras (superfícies oclusais) e próximo á margem gengival (superfícies vestibulares). o Lesões inativas em esmalte (lesão de mancha branca inativa) : são lisas, brilhantes e polidas, devido ao ciclo de remineralização. o estão afastadas da margem gengival o Lesões ativas em dentina: se apresentam amolecidas e amareladas. o Normalmente não há placa nas lesões. o Lesões inativas em dentina (superfícies oclusais): são endurecidas, mineralizadas, escurecidas e com aspecto brilhante. o Apresentam fissuras escurecidas (sulcos pigmentados). o São lesões paralisadas – formadas por material orgânico de origem extrínseca que foi incorporado ao tecido dental. o São áreas mais resistentes a um novo desafio cariogenico. o A conduta para identificação mais acurada da lesão seria a realização de uma radiografia interproximal. Passo a passo para a detecção de lesões 1. Profilaxia profissional – o biofilme pode impedir a visualização das lesões. 2. Boa iluminação e secagem da superfície dental – para permitir a visualização de lesões incipientes 3. Identificação do sinal clínico compatível com a lesão de cárie. 4. Registro da presença ou não de cavidade. 5. Se houver presença de cavidade, registrar a sua localização (esmalte ou dentina) 6. Caso haja cavidade em dentina visível, registro de possível sombreamento. 7. Caso a lesão em dentina esteja cavitada, deve-se registrar a profundidade. 8. Em casos de dúvidas relacionadas à profundidade da lesão ou à proximidade da câmara pulpar, realiza-se o exame radiográfico. Sonda exploradora o Deve ser utilizada para limpeza suave – para remover detritos e biofilme dos sulcos. o Não aumenta a precisão do diagnóstico realizado pelo método visual. Doença cárie e fatores de risco CLÍNICA DA CRIANÇA I Escola Bahiana De Medicina E Saúde Pública (EBMSP) Aluna: Maria Clara Pereira Dos Santos o Em casos em que houver a sondagem de superfícies já desmineralizadas, pode haver danos irreversíveis. Exame radiográfico Técnica radiográfica interproximal ou bitewing o É utilizado para detectar lesões que estão clinicamente ocultas ao exame clínico visual. o Avalia a profundidade das lesões em superfícies oclusais e proximais: identifica a presença de lesão (radiolucidez); a profundidade; e a proximidade com a polpa. o Ponto de incidência: centro da pupila o Ângulo vertical: 5 a 10° o Ângulo horizontal: paralelo aos espaços interproximais. Técnica radiográfica periapical o Identifica possíveis comprometimentos endodônticos e a possibilidade de uma endodontia ou exodontia. Avaliação do risco de cárie o A abordagem da doença cárie se pressupõe em avaliar fatores para determinar se o paciente tem risco alto, moderado ou baixo de cárie, de acordo com a propensão ao desenvolvimento de novas lesões. o Essa avaliação auxilia o clínico na elaboração de um bom plano de tratamento e na individualização das consultas de cada paciente. Fatores para a avaliação do risco de cárie o Idade: bebês, pré-escolares e escolares apresentam mais risco de desenvolver a doença cárie. O núcleo familiar de crianças tem mais dificuldade em instituir hábitos saudáveis de higiene bucal e controle alimentar. o Condições socioeconômicas: famílias de baixa renda e/ou com menor nível educacional conhecem pouco os fatores responsáveis pelo início de progressão da doença cárie. o Saúde médica: o uso de alguns medicamentos, drogas recreativas ou condições sistêmicas podem causar alterações na cavidade bucal que dificultam a higienização. o Radiação de cabeça e pescoço: pacientes submetidos a radioterapia tem mais risco de desenvolver a doença cárie, devido aos efeitos colaterais ou sequelas do tratamento (xerostomia, hipossalivação e mucosite) afetam hábitos alimentares e práticas de higiene bucal. Provocam ainda alterações da sensação gustativa, gerando um possível aumento do consumo de alimentos cariogênicos. o Dieta: quantidade, frequência e consistência de uma dieta rica em açúcar estão diretamente relacionadas a presença de lesões. O alto consumo de açúcar também se associa a presença de doenças sistêmicas (diabetes e obesidade). o Flúor: crianças que não utilizam o dentifrício fluoretado (acima de 1100ppm F) tem alto risco de desenvolver lesões de cárie. Visto que é efetivo na redução da incidência de cárie na dentição decídua. o Frequência de escovação: se a escovação estiver sendo feita 2 vezes ao dia, é capaz de reduzir a desmineralização do esmalte dental, mas em casos em que o consumo de açúcar é inferior a 6 vezes ao dia. o Saúde bucal da mãe: mães que tem a saúde bucal inadequada (lesões de cárie ativas e alto consumo de açúcar) são de risco, aumentando o número de dentes decíduos cariados, perdidos e obturados (índice ceo-d). Fatores que auxiliam na estimativa do risco de desenvolvimento de novas lesões de cárie no exame físico intraoral o PUFA: esse índice avalia clinicamente as consequências das lesões de cárie não tratadas que podem levar a exposição pulpar, úlcera, fístula e abcesso. Pacientes que tem esses tipos de lesões são considerados pacientes com alto risco de cárie. o Lesões de cárie ativas: alta atividade de cárie + múltiplas lesões ativas. o Experiencia passada decárie: pacientes que apresentam lesões de cárie tratadas, tratamentos endodônticos e/ou extrações devido á cárie tem maior risco de desenvolver novas lesões. o Higiene bucal: a má higiene bucal leva a altos índices de biofilme + lesões iniciais de cárie ativas. o Sangramento gengival: se associa diretamente ao acúmulo de biofilme na superfície dental. o Molares permanentes em processo irruptivo: o período em que ocorre o irrompimento desses dentes é de grande risco para o desenvolvimento de lesões de cárie (primeiro molar permanente). Esses dentes se encontram na parte posterior da cavidade bucal e Doença cárie e fatores de risco CLÍNICA DA CRIANÇA I Escola Bahiana De Medicina E Saúde Pública (EBMSP) Aluna: Maria Clara Pereira Dos Santos abaixo da linha de oclusão, dificultando a desorganização do biofilme acumulado na superfície oclusal por meio da técnica de escovação de rotina. o Defeitos de desenvolvimento do esmalte (DDE): constituem alterações na estrutura dos tecidos dentais e podem contribuir para um maior acúmulo de biofilme em um tecido já desestruturado, aumentando o risco de cárie. o Aparelhos ortodônticos / ortopédicos: colaboram para o maior acúmulo de biofilme dental, e aumentam o risco de cárie.
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