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PAPM III Letícia Iglesias Jejesky Med 106 1 Pulso Venoso – parte 1 da aula Referência bibliográfica: Semiologia médica – Porto; páginas 572 e 573. Objetivos da aula Entender a informação de repercussão hemodinâmica do pulso venoso Identificar a veia ideal a ser analisada Saber diferenciar um batimento venoso de um batimento arterial na região do pescoço História com informações clínicas de doenças do coração direito O pulso venoso é o reflexo do átrio direito. Quais são os sintomas relacionados ao AD? Plenitude pós-prandial Fadiga Cianose Edema de membros inferiores Ascite Hepatomegalia Turgor jugular A sequência do exame físico cardiovascular 1. História clínica 2. Exame físico geral 3. O pulso venoso 4. O pulso artéria 5. O precórdio 6. Ausculta cardíaca O pulso venoso é o reflexo da função do coração direito à beira do leito Quando avaliamos o pulso venoso, estamos avaliando as pressões nas quais o lado direito está submetido. Qual a veia ideal a ser analisada? A veia ideal para avaliar o pulso venoso é a que tem a ligação direta mais reta com o AD. Sendo assim, a veia jugular interna direita é a mais ideal, já que ela praticamente não tem ângulo nenhum com o AD, ou seja, segue uma linha reta entre o pescoço e o AD. Toda vez que as pressões aumentam no AD, esse aumento é passado para a veia jugular interna. A veia que vamos avaliar para o pulso venoso é a veia jugular INTERNA direita, pois a jugular externa faz muitas curvas, o que atrapalha o exame, já que essas curvas fazem com que ela não reflita adequadamente o pulso. Ou seja: sempre veia jugular interna direita – avaliação do pulso venoso é SOMENTE DO LADO DIREITO. A jugular externa é a veia mais visível, mas não é a veia ideal pois a informação não é precisa. A veia jugular externa passa por cima do ECOM e, apesar de ser a veia mais visível, não é ideal para avaliação do pulso. PAPM III Letícia Iglesias Jejesky Med 106 2 Técnica de exame 1. Paciente à 45 graus – ao contrário do restante, a avaliação do pulso é o único exame feito com o paciente à 45 graus, sendo essa posição obrigatória. Se a avaliação for feita com o paciente de pé, a gravida irá jogar o sangue para a parte inferior e a coluna venosa fica imperceptível. Ou seja, o primeiro passo para o exame de pulso venoso é posicionar o paciente corretamente – decúbito dorsal a 45 graus, braços estendidos e relaxados. 2. Posicione-se atrás da cabeça – é importante posicionar-se do lado direito e na parte de trás do paciente. 3. Pescoço rodado contra lateralmente, não deve ser muito e nem pouco – devemos solicitar que ele faça uma rotação do pescoço para o lado esquerdo, no entanto, essa rotação não deve ser muito grande, pois isso pode tencionar o ECOM e prejudicar o exame. 4. Procurar um batimento da pele do pescoço no trajeto da jugular – realizamos a procura do batimento da pele e do pescoço no trajeto da veia jugular interna. 5. Trajeto entre o tragus e o terço proximal da clavícula 6. O uso da lanterna neste sentido facilita a visualização – o uso da lanterna é importante para fazer o jogo de luz e sombra tentando procurar a veia jugular interna, facilitando a visualização dos batimentos. Achamos o pulso... pergunta básica: esse pulso é de artéria ou da veia jugular interna direita? O pulso é da veia jugular ou da artéria carótida? A carótida e a jugular estão intimamente ligadas, sendo separadas apenas pelo nervo vago. Diferenças entre pulso venoso X pulso arterial 1. Trajeto Veia jugular interna direita: passa entre a clavícula e o tragus – atravessa o ECOM. Artéria carótida comum: passa na borda anterior do ECOM. 2. Desenho de onda Pulso arterial: onda bifásica Pulso venoso: é polifásico, multiondas, aspecto tremido – há varias ondas, sobe tremendo e desce tremendo. Ele forma cinco ondas ao longo da pulsação que serão vistas mais adiante nessa aula. 3. Sensação tátil Arterial: amplo e de alta pressão – quando palpamos e conseguimos sentir, ou seja, pulso artéria tem alta sensação tátil. Venoso: baixa sensação tátil ou nenhuma, apesar de ser visível o sistema é de baixa pressão – quando palpamos ou pulso venoso quase não sentimos e na maioria das vezes não sentimos, isso acontece pela baixa pressão dentro das veias. Além disso, o pulso venoso é depressível e o arterial não é depressível. PAPM III Letícia Iglesias Jejesky Med 106 3 4. Quanto a compressão próxima à clavícula Arterial: não desaparece Venoso: desaparece ou diminui muito Se ao comprimir a base da clavícula o pulso some, significa que esse pulso é venoso. Se não some com compressão, esse pulso é arterial. 5. Mudança de decúbito Arterial: não muda com variação da posição Venoso: desaparece ou diminui muito – venoso aumenta à zero grau e desaparece em pé. As veias são sistemas de baixa pressão, sendo susceptíveis à gravidade. Sendo assim, quando deitamos o paciente à zero grau, o pulso aumenta a intensidade. 6. Inspiração Arterial: não muda – alteração na pressão torácica não altera o pulso venoso. Venoso: muda – durante a inspiração, devido à queda da pressão intratorácica, observa-se diminuição da amplitude do pulso e este tende a se aproximar da base do pescoço, ou mesmo deixar de ser visível, por ter se deslocado para o interior da cavidade torácica. Pulso venoso – parte 2 da aula Objetivos: Saber identificar uma pulsatilidade venosa fisiológica de uma patológica Entender a importância do pulso venoso no diagnóstico de insuficiência cardíaca Saber a origem das ondas do pulso venoso Identificar a correlação de doenças com alterações do pulso venoso Lembrar! A veia jugular interna é a veia ideal para se analisar o pulso venoso. O pulso venoso reflete coisas que estão acontecendo no átrio direito. Se as pressões aumentarem no AD, isso reflete na veia jugular interna direita. O pulso venoso é uma informação crucial para o diagnóstico de Insuficiência Cardíaca Importante! Edema e dispneia – sinais cardinais da IC Edema: problema no coração direito Dispneia: problema no coração esquerdo É muito sugestivo de insuficiente cardíaca direita quando a coluna venosa está aumentada – insuficiância cardíaca congestiva. Critérios de Framinghan – para diagnósticos de IC Para diagnóstico de IC é preciso ter pelo menos dois critérios maiores ou um maior e dois menores. Como saber se um pulso venoso é fisiológico ou patológico? De acordo com algumas características podemos diferenciar o pulso venoso fisiológico do pulso venoso patológico. 1. Altura da coluna venosa Fisiológico: até 4,5 centímetros de altura Patológico: maior ou igual a 5 centímetros de altura É preciso ver até onde pulsa o nível superior da coluna venosa. Como medir a altura do pulso venoso? O paciente precisa estar deitado à 45 graus e identificar o pulso venoso. Após isso, procura-se o limite máximo ao longo do pescoço onde esse batimento venoso é visível. O limite máximo é marcado da seguinte forma: usa-se duas réguas, uma delas é posicionada no ângulo de Louis (com o zero marcando no ângulo de Louis), essa régua precisa formar ângulo reto com o solo, ou seja, paralelo à perna da maca. Já a ponta da outra régua fica posicionada no nível superior da coluna venosa, formando ângulo de PAPM III Letícia Iglesias Jejesky Med 106 4 noventa graus com a outra régua (a que está posicionada do ângulo de Louis). Essas réguas precisam estar perpendiculares – o valor que encontramos é a medida da coluna venosa (ponto máximo da coluna). 2. Queda inspiratória Fisiológico: queda inspiratória da coluna venosa Patológico: sem queda inspiratória da coluna venosa, podendo até mesmoacontecer elevação 3. Refluxo hepatojugular Fisiológico: aumento inicial da coluna e queda durante os 30 segundos de manobra Patológico: aumento inicial da coluna e manutenção durante os 30 segundos da manobra, retornando ao normal somente após a retirada da mão Como é refluxo hepatojugular? Realizamos uma manobra de compressão o mesogástrio. Consequentemente, as veias do fígado também sofrem compressão, o que aumenta o retorno venoso. Com retorno venoso aumentado, em pacientes com pulso fisiológico, há aumento inicial da coluna venosa, mas os mecanismos de Starling fazem com que a queda da coluna ocorra em até 30 segundos. Já no paciente com pulso venoso patológico, enquanto quem realiza o exame estiver com a mão posicionada no mesogástrio o pulso ficará aumentado e só vai reduzir quando tira a mão. O que pode alterar o pulso venoso e não ser doença cardíaca? Patologias que aumentam a pressão intratorácica e a pressão intra-abdominal. Ascite volumosa Crise de broncoespasmo – quando é severo gera uma obstrução da saída do ar, que fica retido no tórax, fazendo com que a caixa torácica fique cada vez mais insuflada – provoca aumento da pressão intratorácica, aumentando o nível superior da coluna venosa. Pneumotórax Hidrotórax – derrame pleural volumoso aumenta a pressão dentro do tórax, alterando o pulso venoso. Nem sempre o pulso venoso indica problema de insuficiência cardíaca direita. Muitas patologias que aumentam a pressão no tórax e dentro do abdômen estão relacionadas com alterações no pulso venoso. Lembrar! A onda de pressão jugular reflete o que está acontecendo no AD. Pulsações venosas jugulares Existe uma sequência cinco ondas. As pressões que acontecem no átrio direito são refletidas na jugular. Quando o átrio contrai, ele empurra o sangue para dentro do ventrículo e para a veia cava superior (e consequentemente para dentro da veia jugular interna direita) isso gera a onda A. Logo após a contração atrial, acontece o relaxamento atrial. Imediatamente após o átrio contrair, acontece o fechamento das válvulas tricúspides (B1). B1 corresponde à onda C, pois PAPM III Letícia Iglesias Jejesky Med 106 5 com o fechamento das válvulas tricúspides o sangue “quica” nessa válvula e dá uma leve voltada para a veia cava (enquanto isso acontece o átrio continua relaxando). Quando o átrio relaxa, isso faz com que chegue sangue na cavidade atrial. No colapso X o átrio já relaxou completamente, porém, mesmo com a parada do relaxamento atrial o sangue continua chegando no AD (afinal, o retorno venoso é contínuo). Nesse momento, as pressões começam a subir pela chegada de novo sangue até o ponto da onda V. Quando ocorre o pico da chegada de novo sangue, acontece a abertura das válvulas tricúspides. A abertura dessas válvulas, faz com que a pressão caia rapidamente pois o sangue flui para o ventrículo direito (enchimento rápido). Logo após o enchimento rápido, acontece o enchimento lento. Na fase de enchimento lento o sangue continua escorrendo do átrio para o ventrículo, assim como continua escorrendo sangue das veias cavas para o átrio. Para jogar essa quantidade razoável de sangue (aproximadamente 25%) dentro do ventrículo, o átrio precisa contrair. Ou seja, acontece novamente a contração atrial e há uma nova onda A. Semiologia Médica – Porto 8ª Edição– página 405 O pulso venoso é formado por três ondas e duas deflexões que, quando registradas, constituem o flebograma. Ressalta-se que há dificuldade em reconhecer as ondas de flebograma pela inspeção do pescoço. ONDA A A onda A resulta da contração atrial direita. Coincide, portanto, com o momento em que a pressão sobe dentro desta cavidade, fenômeno que dificulta o escoamento do sangue drenado pela jugular. Por essa razão, a veia jugular se distende, formando a onda A. ONDA C A onda C traduziria o transitório aumento da pressão dentro do átrio direito que ocorre ao aumentar a pressão ventricular durante a fase de contração isovolumétrica. Outros autores, entretanto, acreditam que a onda C do flebograma seja, simplesmente, a transmissão do pulso carotídeo até a veia jugular que lhe é contígua. ONDA V A onda V resulta do aumento da pressão sanguínea no átrio direito que se transmite à jugular durante o enchimento atrial. PAPM III Letícia Iglesias Jejesky Med 106 6 Deflexão X (colapso X) A deflexão X, chamada também de colapso sistólico, traduz o relaxamento atrial. Deflexão Y (colapso Y) A deflexão Y ou colapso diastólico deve-se à abertura da valva tricúspide e corresponde à fase de enchimento ventricular. Tamponamento pericárdico Nessa condição existe um excesso de líquido entre os folhetos e, consequentemente, o coração fica espremido e não consegue relaxar. Por não conseguir realizar o relaxamento de maneira efetiva, o coração não enche totalmente de sangue, o que vai reduzir o débito cardíaco e faz com que mais sangue fique represado no sistema venoso – turgência jugular. Em casos de tamponamento cardíaco o paciente vai apresentar pulso venoso patológico por conta do aumento de pressão no AD. Além disso, ele apresenta taquicardia como reflexo na tentativa da manutenção do débito cardíaco (com o tamponamento, o volume sistólico diminui e, para tentar mandar o débito cardíaco, há aumento da frequência – taquicardia). Como o débito cardíaco está baixo, a pressão arterial fica baixa – hipotensão. Hipofonese das bulhas: entre o coração e o estetoscópio existe uma camada de líquido, o que abafa o som das bulhas cardíacas e faz com que elas fiquem hipofonéticas. Tríade de Beck Turgência jugular, bulhas hipofonéticas e hipotensão.
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