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´ ´ ´ ´ ´ Bonifácio José Tamm de Andrada, professor e advogado, nascido em Barbacena/MG, onde foi vereador, por um man- dato, eleito deputado estadual em Minas Gerais por 4 legislatu- ras, onde foi também Presidente da Assembleia Legislativa; secretário de Estado e deputado federal por 10 mandatos conse- cutivos até 2019. É professor de Direito Constitucional, tendo lecionado na PUC Minas e na UNB em Brasília, de onde é professor aposentado. Também é Reitor da UNIPAC e presidente da FUPAC, fundação de Ensino Superior criada por ele em Barbacena, em 1963, que chegou a ter mais de 200 esco- las de Ensino Superior em cidades mineiras. Ao longo de sua carreira, seja pública ou acadêmica, foi home- nageado por diversas institui- ções. É membro da Academia SOBRE O AUTOR Bonifácio José Tamm de Andrada Mineira de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico Mineiro e da Academia Brasileira de Ciên- cias Morais e Políticas, dentre outras entidades das quais faz parte. Participou ativamente da Assembleia Nacional Constituin- te de 1987/1988, onde foi um dos líderes no Centrão Demo- crático, tendo papel decisivo em Ainda, na Câmara dos Deputa- dos, exerceu as funções de relator da concordata Brasil- Santa Sé e relator da segunda denúncia contra o presidente Michel Temer, que poderia resul- tar em um processo de impeach- ment, também exerceu o cargo de Procurador da Câmara dos Deputados. Como escritor é autor de vários livros sobre temas jurídi- cos, políticos, sociais e literários. Bonifácio Andrada é filho do antigo deputado federal José Bonifácio Lafayette de Andrada e de D. Vera Tamm de Andrada; Andrada, de cujo consórcio tem oito filhos. É pai do atual deputa- do federal Lafayette Andrada, eleito em 2018 para a 56ª legis- latura da Câmara dos Deputa- dos. História política do Brasil: de Pedro Álvares Cabral a Jair Bolsonaro Bonifácio Andrada Barbacena Bonifácio José Tamm de Andrada 2019 História política do Brasil: de Pedro Álvares Cabral a Jair Bolsonaro Bonifácio Andrada Barbacena Bonifácio José Tamm de Andrada 2019 Ficha Técnica Autor da Obra Bonifácio Andrada Transcrição e Revisão Maria do Carmo Pedro e Edson Brandão Projeto Gráfico Wuallen Leandro José Dornelles Ribeiro Capa Caravana Grupo Editorial Ano de Publicação Set./2019 Catalogação na fonte: Rosy Mara Oliveira – CRB6/2083 A553h Andrada, Bonifácio História política do Brasil: de Pedro Álvares Cabral a Jair Bolsonaro. – Barbacena: o autor, 2019. 70p. il. color. ISBN: 978-65-901254-0-8 1. Brasil - História 2. Ciência política I. Título. CDD – 981 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................................6 Capítulo I – O Descobrimento - ORIGEM PORTUGUESA ...............................................................................8 Capítulo II – Brasil Colônia - O INÍCIO DA ADMINISTRAÇÃOCOLONIAL .....................................................10 O TRATADO DE TORDESILHAS E OS CONFLITOS COM A ESPANHA ....................................................... 11 O TRATADO DE MADRID E AS FRONTEIRAS DO BRASIL ..........................................................................12 A EXPANSÃO DA RIQUEZA E A ESCRAVIDÃO ............................................................................................12 A INCONFIDÊNCIA MINEIRA E OUTROS CONFLITOS ................................................................................14 UNIÃO DAS COROAS DE PORTUGAL E ESPANHA E A INVASÃO HOLANDESA ...................................... 15 NAPOLEÃO E A VINDA DE D. JOÃO VI .........................................................................................................16 Capítulo III – Brasil Império - AS CORTES PORTUGUESAS CONTRA A INDEPENDÊNCIA ....................... 20 Primeiro Reinado - D. PEDRO COROADO IMPERADOR ..............................................................................20 A PRIMEIRA ASSEMBLEIA NACIONAL CONSTITUINTE ..............................................................................21 A DISSOLUÇÃO DA ASSEMBLEIA NACIONAL CONSTITUINTE E O EXÍLIO DOS DEPUTADOS .............. 21 A GUERRA DA CISPLATINA ...........................................................................................................................22 A OUTORGA DA CONSTITUIÇÃO DE 1824 ..................................................................................................22 Período Regencial - O INÍCIO DAS REGÊNCIAS E AS REAÇÕES POPULARES ........................................ 23 Segundo Reinado - A MAIORIDADE DE D. PEDRO II E ALGUMAS REVOLTAS POLÍTICAS ..................... 25 GUERRA DO PARAGUAI E ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA ........................................................................26 Capítulo IV – Brasil República - O SURGIMENTO DO PARTIDO REPUBLICANO E A QUEDA DA MONARQUIA .........................................................................................................................28 Primeira República - OS GENERAIS DEODORO DA FONSECA E FLORIANO PEIXOTO ........................... 30 GOVERNOS DE PRUDENTE DE MORAES E CAMPOS SALES ..................................................................32 GOVERNOS DE RODRIGUES ALVES E AFONSO PENA .............................................................................33 GOVERNOS DE NILO PEÇANHA E HERMES DA FONSECA .....................................................................34 GOVERNOS WENCESLAU BRAZ E EPITÁCIO PESSOA.............................................................................36 GOVERNOS ARTHUR BERNARDES E WASHINGTON LUÍS .......................................................................37 DESENTENDIMENTOS POLÍTICOS COM MINAS GERAIS .........................................................................39 A REVOLUÇÃO DE 1930 E A JUNTA MILITAR ..............................................................................................41 Segunda República - GOVERNO VARGAS E A REVOLUÇÃO DE 1932 ....................................................... 42 CRISE POLÍTICA E O GOLPE DE ESTADO DE 1937 ...................................................................................43 A QUEDA DE VARGAS E A NOVA ASSEMBLEIA NACIONALCONSTITUINTE ............................................ 44 O GOVERNO DE EURICO DUTRA E O RETORNO DE VARGAS ................................................................45 CARLOS LACERDA E O SUICÍDIO DE VARGAS ..........................................................................................46 CAFÉ FILHO E O GOLPE DO GENERAL LOTT ............................................................................................47 A ELEIÇÃO DE KUBISTCHEK E SUA SUCESSÃO POR JÂNIO QUADROS................................................ 48 O GOVERNO DE JOÃO GOULART ...............................................................................................................49 O BRASIL DURANTE A CRISE INTERNACIONAL .........................................................................................50 GOVERNOS MILITARES E O ENFRENTAMENTO AOS GRUPOS ESQUERDISTAS ................................. 51 A REVOLUÇÃO DE 1964 E A JUNTA MILITAR NO GOVERNO ....................................................................51 O GOVERNO DO GENERAL CASTELO BRANCO E A CONVOCAÇÃO DO CONGRESSO CONSTITUINTE ..............................................................................52 GOVERNO DO GENERAL ARTUR DA COSTA E SILVA ................................................................................53 A MORTE DE COSTA E SILVA E A NOVA JUNTA MILITAR ...........................................................................54 GENERAL MÉDICI ASSUME A PRESIDÊNCIA ..............................................................................................54 OGOVERNO DE GEISEL E A DEMOCRATIZAÇÃO .....................................................................................55 O GOVERNO DE JOÃO BATISTA FIGUEIREDO ...........................................................................................56 ELEIÇÃO DE TANCREDO NO COLÉGIO ELEITORAL E SEU FALECIMENTO .............................................. 57 O GOVERNO DE JOSÉ SARNEY ..................................................................................................................58 A ASSEMBLEIA NACIONAL CONSTITUINTE E A CONSTITUIÇÃO DE 1988 .............................................. 58 FERNANDO COLLOR É AFASTADO E ASSUME ITAMAR FRANCO ...........................................................59 OS MANDATOS DE FERNANDO HENRIQUE CARDOSO ............................................................................60 AS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS DE 2002 E 2006 LULA E AS CAMPANHAS DO PT ...................................................................................................................61 A ELEIÇÃO DE DILMA ROUSSEFF E O PROCESSO DE IMPEACHMENT .................................................62 O GOVERNO DE MICHEL TEMER ................................................................................................................63 JAIR BOLSONARO VENCE AS ELEIÇÕES DE 2018 E ASSUME O GOVERNO ......................................... 64 REFERÊNCIAS ...............................................................................................................................................65 SOBRE O AUTOR ...........................................................................................................................................67 OBRAS DO AUTOR ........................................................................................................................................68 História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada 6 INTRODUÇÃO O presente trabalho tem por objetivo focalizar os principais fatos históricos da evolução po- lítica do nosso país, inclusive os últimos anos que foram influenciados por poderosas tendências políticas que recaíram sobre o governo brasileiro após a Constituição de 1988. Os capítulos deste livro buscam descrever momentos históricos de forma sintética sem ig- norar os principais fatos que revelam os respectivos cenários de nosso desenvolvimento político. Na verdade, a Ciência da História indica, através das análises dos séculos, que os melhores historiadores se esforçam por mostrar isenção, mas se esquecem muitas vezes das ocorrências magnas que se encontram no fundo dos cenários humanos. Em contrapartida, negativamente, muitos se valem em suas observações do vestiário político partidário que adotam. Por outro lado, o leitor ou estudioso fica impedido, em alguns casos, de analisar com cla- reza os aspectos da realidade devido ao posicionamento ditado pelas emoções no modo de se interpretar certos acontecimentos históricos. Na linguagem de alguns autores brasileiros é interessante constatar a influência marxista que predomina em suas conceituações, como também pela compreensão weberiana que se faz sentir em muitos instantes. Exemplo curioso entre nós é a simbolização da palavra “coronelismo” geralmente mal analisada, mas útil ao palavreado dos historiadores esquerdistas, ou por eles influenciados. Por isto, entre nós há que se identificar determinados conceitos com os quais a técnica marxista, em vários momentos, procura fixar ocorrências de acordo com as suas premissas dou- trinárias. Este trabalho, quer na visão que se tem dos primeiros dias do aparecimento da Nação ou no Brasil Colonial, ou na fase do Império, ou no período republicano, tem em vista os fatos histó- ricos significativos, fugindo das afirmações panfletárias que visam doutrinar o leitor ao invés de informá-lo. História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada 7 Sendo assim, o posicionamento do historiador, que tem por objetivo descrever, mostrar e analisar da melhor forma os fatos da realidade, deve ser o de promover um esforço que seja capaz de localizar a verdade histórica, proporcionando ao estudioso a melhor compreensão das ocorrências ao longo da evolução humana ou de suas áreas sociais. As linhas do presente trabalho, uma modesta contribuição ao estudo histórico, se fixam nesta última conceituação visando informar e esclarecer o que verdadeiramente vem ocorrendo ao longo dos acontecimentos que começaram com Pedro Álvares Cabral e seguem até os dias de hoje, com a presidência de Jair Bolsonaro. O Autor História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada 8 Capítulo I – O Descobrimento ORIGEM PORTUGUESA A expansão ultramarina portuguesa se deve, em parte, a D. Henrique de Sagres que, através de uma espécie de instituto, orientou Portugal a se expandir pelos mares e conquistar Colônias. A grande obra de Portugal foi a descoberta do Brasil que ocorreu prati- camente ao mesmo tempo que a descoberta da Amé- rica, ombreando com Cristóvão Colombo a conquista de terras no Atlântico. Os portugueses tiveram notícias de que havia outras terras ao longo dos mares, perto de Portugal. Com isso fora organizada a grande esquadra dirigida por Pedro Álvares Cabral que, atravessando o Atlân- tico, chegou a regiões desconhecidas, mas que ao Norte foram exploradas por Colombo, navegador es- panhol. Nestas terras, Cabral encontrou o território que mais tarde seria o Brasil. Pedro Álvares Cabral entrou em contato com os índios, habitantes do lugar, e deixou os primeiros laços para a criação de feitorias e depois a Colônia. Possuindo terras nessa região, chamada pelos espanhóis de América1, que era o nome do escrevente da embarcação de Colombo, os portugueses iniciaram o conhecido sistema de exploração do território mantendo contato com os índios e verificando a riqueza da respectiva Terra. Depois de certo tempo foi montado o primeiro sistema colonial, quando os portugueses criaram as Capitanias Hereditárias, faixa do Território doada aos nobres de Portugal. 1 Américo Vespúcio (1454-1512). Nascido na Itália. Navegador e mercador, foi o primeiro a afirmar que ao contrário do que acreditava Colombo, as Américas não eram parte da Ásia, mas sim uma nova massa continental desconhecida. História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada 9 As terras portuguesas foram identificadas e se confundiam com as dos espanhóis, daí os conflitos entre os dois países. Desse fato decorreu, após entendimentos, a assinatura entre os dois países do Tratado de Tordesilhas que dividia o mundo em duas partes, entre portugueses e espanhóis. Ao que o rei da França se pronunciou criticando: “que Deus não dividiu o mundo entre Portugal e Espanha”. É de 1530 a importante expedição de Martim Afonso de Sousa2 que praticamente deu início ao domínio português sobre as terras brasileiras. Martim Afonso partiu de Lisboa para criar a primeira Vila no Brasil, sendo esta São Vicente, no Sul do país. Após a expedição de Martim Afonso de Sousa, Portugal criou as Capitanias Hereditárias, isto é, a divisão das terras brasileiras em quatorze faixas, que foram doadas a membros da elite portuguesa para desenvolver o território. Porém, as Capitanias não deram o resultado esperado, apesar da presença de alguns de seus donatários, o que fez com que a Coroa portuguesa con- siderasse que a solução seria a criação da administração central, de modo a coordenar todo o território brasileiro. 2 Martim Afonso de Sousa (c.1490-1564). Nascido em Portugal. A partir de 1531 navegou do atual litoral de Pernambuco até o Rio da Prata, no Sul do continente. História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada 10 Capítulo II – Brasil Colônia O INÍCIO DA ADMINISTRAÇÃO COLONIAL A Administração Colonial portuguesa começou a se situar, aos poucos, em alguns luga- res fundamentais do Brasil, parte em Pernambuco outra parte na Bahia e outra parte no Rio de Janeiro. A parte daBahia ficou sendo realmente o governo central dos portugueses no Brasil, nomeando assim os primeiros governadores do país que foram Tomé de Sousa – 1549, Duarte da Costa – 1553, e Mem de Sá – 1558, acompanhados dos Jesuítas, entre os quais José de An- chieta e o Padre Manuel da Nóbrega, que criaram o Colégio São Paulo que deu origem à cidade de São Paulo. Com a implantação dos governos teve início no Brasil uma administração colonial que se organizou, procurando, aos poucos, dominar todo o território brasileiro. Assim, Portugal iniciou suas atividades administrativas no Brasil criando a Administração Colonial que sucedeu as Capi- tanias, concentrando todo o governo em Salvador, na Bahia. Tempos depois foram instaladas as primeiras Câmaras Municipais nas vilas que iam sur- gindo, sendo estas o órgão representativo da população dos respectivos povoados que foram inseridos na vida colonial. História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada 11 O TRATADO DE TORDESILHAS E OS CONFLITOS COM A ESPANHA Com a presença do governo português se iniciaram as tributações em nosso território, em busca de riquezas. Esta fase é marcada pela chamada economia açucareira com plantações de açúcar em todo o Nordeste do país, principalmente em Pernambuco. A América do Sul ficou dividida ao meio pelo Tratado de Tordesilhas, assinado em 1494, cuja linha passava em cima do território brasileiro, fronteiriço com o território que pertencia à Espanha. Nesse momento, em que os portugueses se interessavam pela importância dos territórios, sobretudo os paulistas, tiveram início as chamadas Bandeiras, que atuaram por toda a região das Américas. As Bandeiras, or- ganizadas por grupos de indivíduos em São Paulo, não davam importância às linhas do Tratado de Tordesilhas e ultrapassavam as mesmas alcançando várias partes do Oeste da América, o que resultou em conflitos entre os portugueses e algumas autoridades espanholas, embora os portugueses, durante muito tempo, tivessem tomado conta da maior parte desta área do Oeste sul-americano, fora da linha do Tratado de Tordesilhas. História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada 12 O TRATADO DE MADRID E AS FRONTEIRAS DO BRASIL Depois de muitas discussões e procura de soluções sob a liderança de Alexandre de Gus- mão, jurista e homem público brasileiro, chegou-se à conclusão da feitura do Tratado de Madrid entre Portugal e Espanha, em 1750, que teve como base o chamado uti possidetis, quer dizer, aquelas terras onde havia portugue- ses vivendo e morando passavam para Portugal, já as ter- ras onde havia espanhóis ficariam com a Espanha. Ocor- re que os portugueses tinham avançado praticamente por todo o território da América do Sul com o movimento das Bandeiras, e quase chegaram ao Pacífico. Com isso, o Tra- tado de Madrid permitiu que o Brasil tivesse, praticamente no seu todo, a configuração de hoje, graças, mais tarde, à sua consolidação com o trabalho do Barão do Rio Branco, ministro das Relações Exteriores dos primeiros governos republicanos. A EXPANSÃO DA RIQUEZA E A ESCRAVIDÃO Com a presença dos portugueses no Brasil, nas amplas terras do Tratado de Madrid já devidamente for- malizado, tiveram início as explorações mais regulari- zadas, como a ocorrida em Minas Gerais com a desco- berta do ouro e o surgimento, em toda essa região do país, de uma atividade aurífera que fora fundamental para nossa história e para a história de Portugal. História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada 13 A base da produção do ouro no Brasil teve como sede a cidade de Ouro Preto3 e seus arredores, expandindo-se também para outras cidades como São João Del-Rei e, sobretudo Diamantina, onde foram encontradas preciosas pedras que se tornaram de muito interesse para Portugal. Podemos dizer que essa fase é o Ciclo do Ouro e Diamantes no país, e que provocou uma situação com dois ângulos: primeiro, a criação do governo de Ouro Preto para defender a produção au- rífera de Portugal, porque todos aqueles que exploravam o ouro eram obrigados a pagar um imposto; e segundo, o surgimento de uma elite de homens mais cultos que se valeram de viagens a Portugal e retornaram ao Brasil neste período. Outro dado importante é que o Ciclo do Ouro fez com que a Administração Colonial saísse do Nordeste (Bahia) e se instalasse no Rio de Janeiro, no Sudeste brasileiro. Ao lado da expansão das riquezas foi estabelecida a escravidão de índios, nativos do próprio país, e negros, vindos da África. Os índios conseguiram superar a escravidão devido a sua cultura e seu temperamento, não se integrando de forma sistemática como os negros, pois estes, acostumados às práticas de escravidão na própria África, se submeteram ao sistema que perdurou por muitos anos no nosso país. A presença de escravos é uma página triste de nossa história, porém foi fundamental à formação da população brasileira com marcas altamente significativas. Os negros escravos tiveram posicionamentos de reação em busca de sua liberdade, o que faziam através de organizações pelo interior do país nos quilombos, onde se reuniam e se de- fendiam contra a perseguição que ocorria por parte dos governantes, sendo célebres o Quilom- bo dos Palmares e do Campo Grande, sobretudo aquele que deixou a lembrança de seu líder, Zumbi. 3 Em 1720, tornou-se a capital da Capitania de Minas Gerais desmembrada de São Paulo. Era chamada Vila Rica. O arraial de Nossa Senhora do Ribeirão do Carmo (hoje Mariana) foi fundado em 1696, sendo posteriormente a primeira vila da Capitania de Minas Gerais. Depois surgiram Sabará e Vila Rica, depois Ouro Preto. O nome atual é devido à presença do óxido de ferro no ouro. História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada 14 A INCONFIDÊNCIA MINEIRA E OUTROS CONFLITOS À medida em que aumentava a renda com a mi- neração aurífera e o desenvolvimento agrícola também cresciam as taxações fiscais e a antipatia para com o governo de Portugal. Tais fatos resultaram em atitudes de rebeldia e mesmo no movimento da Inconfidência Mineira que nada mais foi que uma tentativa de lide- ranças com ideias liberais, e também com interesse político, de transformar Minas Gerais num país inde- pendente de Portugal. Houve alguns exageros nas in- formações históricas a esse respeito. Embora focalizado nas figuras significativas dessa movimentação da região da mineração, as lideranças da Inconfidência em Ouro Preto eram em sua maioria de formação literária, não sendo muito ativas. Daí o destaque de Tiradentes4, alferes da polícia da época, que era indiscutivelmente uma personalidade atuante e destemida. A chamada Inconfidência Mineira foi organizada com base em reuniões secretas e, como se sabe, foi destroçada pelo Visconde de Barbacena5, o governante português da província. Com isso, todos os conhecidos literários de alto valor que participaram das conversações, des- tacando-se Cláudio Manuel da Costa, Tomás Gonzaga, os Resende Costa, pai e filho, Alvarenga Peixoto, Padre Rolim, e outros, passaram a ser objeto de duras perseguições. Cláudio Manuel da Costa, talvez a principal figura, foi assassinado em Ouro Preto e os demais foram presos e mandados para o Rio de Janeiro, exilados como sentença dos inquéritos que tiveram andamento em Ouro Preto, a respeito desse levante considerado revolucionário. Na história do Brasil, indiscutivelmente, a Inconfidência Mineira é um ponto significativo, pois teve repercussão no país e em Portugal. Como é de conhecimento, os inconfidentes sofre- 4 Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, (1746-1792). Nascido em Minas Gerais. Militar, comerciante, minerador, único condenado à morte na chamada Inconfidência Mineira. 5 Luís Antônio Furtado de Castro do Rio de Mendonça e Faro (1754-1830). Nascido em Portugal. Foi o 6º Visconde de Barbacena e governador da Capitania de Minas Gerais, entre 1788 e 1797. História Política do Brasil – Prof. BonifácioAndrada 15 ram consequências do governo português. Vários brasileiros foram mandados para o exterior, para a África, e lá sofreram as decisões jurídicas penais. Sobressaiu a figura de Tiradentes, que passou a ser o principal foco das preocupações da Corte Portuguesa, sendo o único a sofrer as principais consequências penais. Tiradentes foi enforcado, atitude que o transformou em mártir e em herói que lutava pela independência do Brasil. Além da Inconfidência Mineira, outros movimentos nativistas tiveram repercussão no país, como a Revolta de Beckman em 1684, no Maranhão; Os Mascates em Pernambuco, 1711; a Conjuração Fluminense em 1795, no Rio de Janeiro; a Conjuração Baiana, 1798; a Revolução Pernambucana em 1817, além daquelas de menor repercussão como a Revolta dos Alfaiates em 1798, na Bahia, e Filipe dos Santos em Minas Gerais, 1720, entre outras. UNIÃO DAS COROAS DE PORTUGAL E ESPANHA E A INVASÃO HOLANDESA Na vigência do Sistema Colonial várias crises ocor- reram, sendo um dos momentos graves a luta contra os holandeses, em Pernambuco, e mais tarde os problemas decorrentes da política portuguesa em relação ao Bra- sil. Mas, houve um instante em que Espanha e Portugal se transformaram em um país unificado, e o Brasil pas- sou a pertencer à Organização Ibérica. Quando a União das duas Coroas se estabeleceu, por volta de 1580, até aproximadamente 1640, houve repercussões na vida brasileira, e logo depois, alguns problemas inerentes à própria história de Portugal com reflexo no Brasil. Neste momento histórico, como já observado, os paulistas, empreendendo suas Bandeiras e desconside- rando a linha de Tordesilhas, ocuparam grandes territórios depois formalmente reconhecidos como do Brasil pelo Tratado de Madrid, já mencionado. História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada 16 As incursões das Bandeiras pelo país tiveram como seus principais desbravadores Barto- lomeu Bueno da Silva (conhecido como Anhanguera), Antônio Raposo Tavares e Fernão Dias Paes Leme, sendo este último dos mais destacados dos bandeirantes. Nessa mesma época aconteceu a invasão dos holandeses no Norte do país, quando con- seguiram criar quase um estado independente de Portugal, em cuja organização é preciso desta- car a figura do Conde Maurício de Nassau que, por volta de 1644, dominou o Nordeste brasileiro submetido, em parte, à presença holandesa. Graças às suas qualidades como administrador adquiriu apoio na região e promoveu várias obras de interesse para a população. Todavia, de- sentendimentos entre os holandeses e a célebre Companhia Neerlandesa das Índias Ocidentais fizeram com que Maurício de Nassau se afastasse e o estado holandês ali instalado fosse enfra- quecido. Na luta com os brasileiros, os holandeses foram derrotados, o que deu àquela região plena liberdade, destacando-se nos embates três figuras significativas, o senhor de engenho João Fer- nandes Vieira, o índio Felipe Camarão e o negro Henrique Dias, todos liderados pelo paraibano André Vidal de Negreiros. Cada um daqueles comandou indivíduos de sua própria raça. NAPOLEÃO E A VINDA DE D. JOÃO VI Superada a unificação das Coroas Ibéricas, com a re- ação dos portugueses, e assumindo o governo português D. João IV de Bragança, iniciou-se nova fase em Portugal até o reinado de Dona Maria, a rainha, que, ao ficar viúva, implan- tou um reinado absolutista e enérgico, sendo ela quem iniciou as decisões contra a Inconfidência Mineira. Com a morte de D. Maria, assumiu seu filho D. João VI, cujo reinado é de vital importância para os destinos do Brasil. Napoleão, dominando vários países nas áreas mais vitais da Europa, resolveu tomar a Espa- nha e, em seguida, invadir Portugal. D. João VI, tendo conhecimento dos ataques de Napoleão e sabedor de que ele, com grande poder militar, dominaria Portugal que, por sua vez, mantinha inten- História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada 17 sas relações com os ingleses – adversários da França – resolveu, então, defender-se de maneira inédita: deixou Portugal e se deslocou, com grande embarcação, para o Brasil, para o Rio de Janeiro, onde teria condições para continuar a conduzir o Império português. É célebre o episódio do des- locamento de Dom João Vl e sua Corte de Lisboa para Salvador e, em seguida, ao Rio de Janeiro. Pouco tempo depois, com Napoleão derrotado em Waterloo, os ingleses passaram a influir inten- samente na América Portuguesa. A partir de 1815, com sua Corte instalada na Colônia, D. João realizou feitos relevantes para o desenvolvimento brasileiro. Foi criada a escola militar, museus que influenciaram a vinda de cientistas da Europa para conhecer nosso país e, finalmente, a Biblioteca Nacional. No Rio de Janeiro se construiu importantes obras. Nesta época o Brasil foi elevado à categoria de Reino Unido à Portugal. Entre 1817 e 1818, embora com a presença de D. João VI no Brasil, houve uma atuação de forças revolucionárias contra Portugal, sendo articulada em Pernambuco, sob o comando de Domingos José Martins, comerciante de expressão da região, a República Pernambucana. Apesar de bem estruturada, tal experiência republicana foi derrotada pelas forças portuguesas e presos vários de seus líderes e figuras expressivas que participaram do movimento, entre elas, os religiosos Padre João Ribeiro e Padre Miguelinho, e Antônio Carlos de Andrada e Silva (irmão de José Bonifácio), entre outros. Com a queda de Napoleão na Europa, os países que estavam subordinados ao invasor francês passaram a ter liberdade, e Portugal, em 1820, iniciou movimentos em favor das ideias liberais. Neste mesmo momento, também começaram as articulações favoráveis ao retorno de Dom João Vl. Assim, o nobre português foi obrigado a se decidir entre o Rio de Janeiro e Lisboa. Se decidiu pela ida para Portugal, deixando no Brasil seu filho, Dom Pedro6, como príncipe re- gente, para dirigir todo o país, que seria mantido como Reino Unido. As forças políticas portuguesas eram descontentes com a criação do Reino do Brasil, na verdade, uma manobra dos ingleses para seus interesses internacionais. Assim, os portugueses discordavam da presença de Dom Pedro no país. D. João VI, no entanto, percebeu como seria 6 Pedro I do Brasil ou Pedro IV de Portugal (1798-1834). Nascido em Portugal. Foi o primeiro Imperador do Brasil. História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada 18 estratégico manter seu filho no comando do Brasil. Esta visão do monarca é prova de sua habi- lidade como governante. Dom Pedro permaneceu subordinado a Portugal, mas com poderes de Regente. D. PEDRO CONVIDA JOSÉ BONIFÁCIO Nesse período, os portugueses, residentes no Brasil, rodeavam Dom Pedro e não admitiam a independência, mas teve início um movimento, com apoio dos maçons, para que este se des- ligasse de Portugal. D. Pedro sentiu a necessidade de fortalecer mais sua presença no país e foi buscar em Santos, na província de São Paulo, uma peça fundamental para seus planos: um cientista de renome internacional, com vasta cultura e ampla visão administrativa. Este homem era José Bonifácio de Andrada e Silva7, que logo passou a atuar na direção do governo brasileiro. José Bonifácio se aliou à Imperatriz D. Leopoldina, filha de Francisco José, Imperador da Áustria, que era uma liderança dominante em todo o mundo ocidental. A esposa de Dom Pedro I, sendo mui- to favorável ao Brasil, facilitou a Independência que não era desejada por lideranças europeias. Apesar da posição de seu pai, D. Leopoldina deu apoio ao processo da independência e influiu para que D. Pedro também assumisse o compromisso de libertar o Brasil do jugo português. 7 José Bonifácio de Andrada e Silva (Santos, 1763 – 1838). Nascido em Santos. Naturalista, estadista e poeta luso-brasileiro, conhecido pelo epíteto de Patriarca da Independência por seu papel decisivo na Independência do Brasil. História Política do Brasil – Prof. BonifácioAndrada 19 As Cortes Portuguesas já haviam criado as juntas governativas em diversas partes do país, visando com isso enfraquecer o Regente, exigindo seu retorno a Portugal, o que provocou o pri- meiro movimento de apoio em favor do futuro Imperador no chamado “Dia do Fico”8, contra as forças militares portuguesas que estavam no Rio de Janeiro. Este episódio resultou da determi- nação expressa para que D. Pedro voltasse a Portugal. No entanto, cerca de 8 mil brasileiros, em um abaixo-assinado remetido ao Príncipe, o convenceram de que ele ficaria. Além disso, Pedro I consolidou a sua presença com nomes fortes na sua equipe, entre eles Gonçalves Ledo, líder maçon. Em 7 de setembro de 1822, em São Paulo, no local conhecido como Ipiranga, D. Pedro proclamou a Independência contra os portugueses, sob os dizeres “Independência ou Morte”, momento decisivo para o início do Brasil como Nação. É conhecido o episódio em que D. Pedro, próximo daquele riacho, recebeu cartas de José Bonifácio e de D. Leopoldina relatando que não havia mais como manter a submissão do Brasil a Portugal. 8 Dia 9 de janeiro de 1822. Quando D. Pedro disse a célebre frase: “Se é para o bem de todos e felicidade geral da Nação, estou pronto! Digam ao povo que fico”. História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada 20 Capítulo III – Brasil Império AS CORTES PORTUGUESAS CONTRA A INDEPENDÊNCIA As investidas dos portugueses contra a Independência do Brasil foram enfrentadas por José Bonifácio com habilidade: contratou dois militares estrangeiros, o almirante Cochrane, in- glês, experiente dirigente de navios de guerra com êxito marítimo em países sul-americanos; e o general Pedro Labatut, francês, ex-oficial de Napoleão que atuou na independência de al- guns países da América Latina. Ambos vieram para o Brasil, e na Bahia teve início a formação do Exército Brasileiro para enfrentar as forças portuguesas comandadas pelo general Madeira, militar de alta eficiência, que manteve por alguns anos a guerra contra os brasileiros na Bahia. Primeiro Reinado D. PEDRO COROADO IMPERADOR Com elaboradas solenidades no Rio de Janeiro, D. Pedro I foi aclamado Imperador9, e após sua coroação, momento fundamental para a vida brasileira, assumiu o governo, mas, logicamen- te, enfrentou resistências, sobretudo na Bahia, porque o projeto português para manter influência no país seria dividir o Brasil ao meio. O Norte ficaria com Portugal e o Sul, independente, com o Rio de Janeiro. A figura marcante nesta luta foi o português general Madeira, que comandou forças militares leais a Portugal, mas que foram derrotadas, pois a esta altura o Brasil já possuía as forças de defesa do novo Império, o Exército e Marinha brasileira criados sob a orientação de José Bonifácio. 9 No dia 12 de outubro de 1822, no Campo de Santana, região central da cidade do Rio de Janeiro. História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada 21 A PRIMEIRA ASSEMBLEIA NACIONAL CONSTITUINTE As ideias liberais cresceram e agitaram o Rio de Janeiro e o resto do país para que se con- vocasse uma Assembleia Nacional Constituinte capaz de votar uma Constituição para o país. José Bonifácio, a princípio, não era muito favorável, mas, posteriormente, concordou e, em 1823, foi instalada em nosso país a primeira Assembleia Nacional Constituinte. Esta teve representantes de todas as províncias do Brasil então existentes, sendo os seus deputados, aqueles que iriam elaborar a Constituição do país. A Assembleia Nacional fora liderada principalmente pela figura de Antônio Carlos Ribeiro de Andrada Machado e Silva, com apoio de seus irmãos José Bonifácio e Martim Francisco Ribeiro de Andrada, tendo aquele elaborado o projeto de Carta Magna que fortalecia os representantes do povo. A DISSOLUÇÃO DA ASSEMBLEIA NACIONAL CONSTITUINTE E O EXÍLIO DOS DEPUTADOS Surgiram debates dentro da Assembleia Constituinte, que mais tarde passaram a ser objeto de agitação popular, ao que Dom Pedro I entrou em conflito com José Bonifácio, os irmãos dele e com os deputados que lhe seguiam. O Imperador decidiu dissolver a Assembleia Nacional Constituinte e, ao mesmo tempo, prender a maioria dos deputados, promovendo a ida deles para exílio no exterior, entre eles, os irmãos Andradas. História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada 22 Dom Pedro I ficou com poderes absolutos, situação que não repercutiu bem no país. No Nor- deste houve duras reações muito ativas que sacudiram o país, como a chamada Confederação do Equador10 que visava a criação de uma República independente e refletiu em várias províncias nordestinas, além de outras partes da Nação onde também as reações contra a dissolução da As- sembleia foram sentidas. A GUERRA DA CISPLATINA Pertencia ao Brasil, a antiga Colônia de Sacramento, território da divisa com a Argentina, isto é, com o mundo espanhol, a qual se transformou na Província Cisplatina, graças à invasão luso-bra- sileira. Tal província tinha uma posição de destaque, com representantes inclusive na Assembleia Nacional Constituinte. Com a dissolução desta, as lideranças da Cisplatina consideraram que vários compromissos assumidos em favor de sua comunidade não seriam mais respeitados e, com apoio da Argentina, declararam guerra ao Imperador para alcançar a sua Independência por volta de 1825. Na Guerra da Cisplatina o Brasil foi derrotado por aqueles que defendiam a liberdade da pro- víncia para se tornar um novo país, hoje o Uruguai. Os cisplatinos tiveram o apoio dos ingleses, por seus interesses comerciais no mercado internacional. A OUTORGA DA CONSTITUIÇÃO DE 1824 Para fazer face às reações liberais, D. Pedro outorgou, em 1824, uma Constituição para o país com base no projeto de Antônio Carlos, e que havia sido discutido na Assembleia Constituinte, porém com alterações, atitude que deu início à fase constitucional que se estendeu até a Repúbli- ca. A principal figura deste trabalho foi Carneiro de Campos, o Marquês de Caravelas11, redator da Constituição de 1824. A estrutura do país continuava com suas respectivas câmaras municipais, criando, indiscuti- velmente, uma nova organização também de tendências liberais, com as províncias semiautôno- mas. Mas, D. Pedro se envolveu em fatos negativos, inclusive pessoais, até mesmo em relação à 10 Eclodiu no dia 2 de julho de 1824, em Pernambuco. Os principais líderes foram Manuel de Carvalho Pais de Andrade e Frei Caneca. 11 José Joaquim Carneiro de Campos, Marquês de Caravelas (1768-1836). Nascido na Bahia. Advogado, diplomata e professor. Sucedeu José Bonifácio de Andrada e Silva no ministério do Império e dos Negócios Estrangeiros, quando o ministério dos Andradas foi exonerado. História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada 23 D. Leopoldina12, nossa imperatriz de origem austríaca, que era muito querida dos brasileiros. Vale lembrar que ela muito contribuiu para a Independência. Tudo isso fez com que o Imperador se enfraquecesse dentro da vida brasileira, passando a dar apoio aos portugueses e nomeando um ministério impopular, a sua rejeição foi crescendo de tal forma que, em 1831, renunciou ao governo brasileiro e o entregou ao seu filho, que nessa época tinha seis anos, o qual mais tarde se tornaria o Imperador Dom Pedro II13. Período Regencial O INÍCIO DAS REGÊNCIAS E AS REAÇÕES POPULARES Embora afastado de seu antigo ministro, D. Pedro I nomeou José Bonifácio tutor do pequeno D. Pedro II, por considerá-lo o único brasileiro que poderia conduzir a educação de seu filho. Nesse momento se iniciou nova fase em nossa história, o período das Regências14, inicialmente, composto por três líderes políticos, general Lima e Silva, Joaquim Carneiro de Campos e Nicolau Campos Vergueiro. Em 1834, com o Ato Adicional, foi feita uma reforma da Constituição que permitiu que a Re- gência fosse exercida através de eleição geral, por um só membro, para a qual foi escolhido o Padre Feijó. Terminadoo mandato de Feijó, Araújo Lima, o Marquês de Olinda, assumiu como Regente único, quando dois grandes partidos disputavam o poder, o Partido Liberal e o Partido Conserva- dor. Foram estes dois grupos que alimentaram a vida pública do país até a República. Em 1840 foi votada a Lei de Interpretação do Ato Adicional de 1834 com alterações que atingiram a autonomia provincial. Neste período houve insurreições separatistas em algumas províncias. A Cabanagem, no Pará, que aconteceu de 1835 a 1840, foi uma revolta popular dos cabanos, índios e mestiços que moravam em cabanas às margens dos rios, mas que obtiveram apoio dos fazendeiros e comercian- tes que estavam insatisfeitos com o governo regencial, o qual os combateu ao final de cinco anos de lutas. 12 Caroline Josepha Leopoldine Franziska Ferdinanda, ou Leopoldina da Áustria (1797-1826). Nascida na Áustria. Foi arquiduquesa da Áustria, a primeira esposa de D. Pedro I e Imperatriz Consorte. Os rumorosos casos extraconjugais do Imperador, em especial com a Marquesa de Santos, são fatos que afetaram a relação do casal imperial. 13 Pedro de Alcântara João Carlos Leopoldo Salvador Bibiano Francisco Xavier de Paula Leocádio Miguel Gabriel Rafael Gonzaga, D. Pedro II (1825 -1891). Nascido no Rio de Janeiro. O segundo e último imperador do Império do Brasil durante 58 anos. 14 Duração: de 1831 a 1840. História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada 24 Também nesta fase se destacou a Sabinada, revolta ocorrida na Bahia entre 1837/1838, comandada pelo jornalista e médico Francisco Sabino Álvares da Rocha Vieira. Esta revolta tinha como objetivo tornar a Bahia um país independente até que D. Pedro II atingisse a maioridade. O movimento teve algum êxito e chegou a defender a criação da República Bahiense, até que o herdeiro do trono brasileiro chegasse à maioridade. O governo regencial combateu a insurreição um ano depois e seus líderes foram julgados e condenados. No Maranhão se destacou a Balaiada, entre 1838 e 1841, insurreição das camadas popula- res daquela província que estavam insatisfeitas com o governo regencial e que originou a disputa política entre “bem-te-vis” (liberais) e “cabanos” (conservadores), os quais se uniram contra os balaios. A revolta se expandiu até o Piauí, liderada por Raimundo Gomes e Manoel Francisco dos Anjos Ferreira, mas foi combatida por Luís Alves de Lima e Silva, futuro Duque de Caxias, que foi convidado pelo governo para pacificar aquela Província. Caxias conteve as revoltas sufocando as agitações e restabelecendo a ordem pública naquelas regiões. História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada 25 Segundo Reinado A MAIORIDADE DE D. PEDRO II E ALGUMAS REVOLTAS POLÍTICAS Em 1840, D. Pedro II, com 15 anos, assumiu a Coroa brasileira em decorrência de um golpe parla- mentar chefiado por Antônio Carlos e Martim Fran- cisco, irmãos de José Bonifácio, que conseguiram apoio do Senado, extiguindo as Regências. Era o início da segunda fase monárquica no Brasil. Inicialmente, Dom Pedro II organizou seu mi- nistério com os líderes liberais da Independência, os irmãos de José Bonifácio, Antônio Carlos15, Martim Francisco16 e os Holanda Cavalcanti. Mais tarde, hou- ve conflitos políticos que resultaram na entrega do governo aos Conservadores. Esta posição de Dom Pedro provocou a Revolução de 1842, pois anulara a eleição vencida pelos liberais, que teve base forte em Minas Gerais, sob a liderança de Teófilo Otoni, e também em São Paulo, sendo debelada, após algumas lutas, pela figura de Duque de Caxias, que ainda não tinha este título, mas que já era uma liderança dentro da vida militar brasileira. Antes da Revolução Liberal de 1842, houve a violenta Revolução dos Farrapos no Rio Grande do Sul, que teve início em 1835 e se estendeu até 1845. O objetivo era tornar aquela província uma República independente como foi a Cisplatina, posteriormente Uruguai. A Guerra dos Farrapos acumulou várias batalhas. Os revolucionários eram comandados por Bento Gonçalves e, após dez anos de luta contra os governantes do Império, os brasileiros, comandados por Duque de Caxias, conseguiram vencer os revoltosos republicanos. 15 Antônio Carlos Ribeiro de Andrada Machado e Silva (1773-1845). Nascido em Santos. Formado em Direito e Filosofia pela Universidade de Coimbra, Portugal. 16 Martim Francisco Ribeiro de Andrada (1775-1844). Nascido em Santos. Formado em Matemática e Filosofia pela Universidade de Coimbra, Portugal. História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada 26 Ao perceber o risco em que se encontrava o Império com tais conflitos, D. Pedro II implan- tou um tipo especial de parlamentarismo inspirado no modelo inglês. Por volta de 1845, nomeou Manuel Alves Branco com o título de presidente do Conselho de Ministros, semelhante a primei- ro-ministro. Este foi um novo período da vida brasileira que se desenvolveu praticamente com a disputa política entre o Partido Conservador e o Partido Liberal. Surgiram figuras ilustres, e as disputas partidárias dominaram o país. D. Pedro II ainda vivenciou em seu reinado a Revolução Praieira, em Pernambuco, entre 1848 e 1850, que se desenvolveu pela disputa política entre liberais, chamados de “Praieiros”, e conservadores, chamados “Guabirus” (ratos). A revolta comandada pelos Praieiros, sob a lide- rança de Pedro Ivo Veloso da Silveira, recebeu apoio da população e se espalhou pela província de Pernambuco. Seus confrontos se concentravam principalmente em Olinda e Recife e foi com- batida pelo capitão Antônio de Sampaio, enviado do governo imperial que derrotou os insurretos. Durante o governo de Pedro II também houve a célebre Questão Christie decorrente de conflitos de navios da Inglaterra com brasileiros, o que resultou numa longa crise diplomática ocorrida entre 1862 e 1865. Envolvia o comércio de escravos, o saque a um navio inglês naufra- gado na costa brasileira e a prisão de oficiais ingleses por desacato. O nome da crise se refere ao embaixador William Christie, inglês que protestou contra os fatos. GUERRA DO PARAGUAI E ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA A Monarquia brasileira, aliada à Argentina e Uruguai, formando a Tríplice Aliança, teve que enfrentar a guerra do Paraguai que atingiu todo o país, e em cujas batalhas se destacaram, entre outros, o general Osório, almirante Barroso e Duque de Caxias, que deram a vitória ao Brasil, além da figura de Bartolomeu Mitre, presidente da Argentina nesse período. Todavia, esta guerra atingiu o prestígio da Monarquia e o poder imperial, que já enfrentava vá- rias críticas de setores nacionais contrários à escravidão dos negros. Na realidade, a partir do início da colonização, os negros vieram da África para o nosso país e continuaram através do chamado tráfico negreiro, que os ingleses combatiam, o que o Brasil suspendeu em 1850. Tudo isso causou História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada 27 o enfraquecimento da Monarquia que foi agravado com as repercussões da Guerra do Paraguai, e também com a célebre Questão Religiosa17. Desta forma, alguns liberais mais avançados criaram em 1870 o Partido Republicano, tendo à frente a figura de Quintino Bocaiúva e outros líderes que defendiam novos rumos para o governo brasileiro. 17 Foi um conflito na década de 1870, entre a Igreja Católica e a Maçonaria, afetando a estabilidade da Monarquia brasileira. Os bispos, de grande expressão no país, assumiram posição contra a maçonaria que estava atingindo as atividades religiosas, contrariando determinadas decisões da Santa Sé, o que resultou na prisão de dois arcebispos, Dom Vital, de Olinda, e Dom Macedo Costa, do Pará. O fato causou grande repercussão e desgastes ao governo imperial. História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada 28 Capítulo IV – Brasil República O SURGIMENTO DO PARTIDO REPUBLICANO E A QUEDA DA MONARQUIA Por volta de 1870 foi lançado o Manifesto Repu- blicano que, na realidade,era formado por dissiden- tes do Partido Liberal e que muito influenciou a vida do país em crescente movimento, adquirindo simpa- tia à medida em que o governo imperial experimen- tava sucessivos desgastes. A Monarquia era forte, mas o Partido Repu- blicano começou a influir no país. A princesa Isa- bel18, no exercício do governo em substituição a Dom Pedro II, seu pai, promoveu a Abolição da Escravatura, em 1888, com a promulgação da Lei Áurea, a qual deu liberdade aos negros após mani- festações nacionais contrárias à escravidão, e que ocorriam desde a Independência do país. A Questão Religiosa, da Igreja contra a maçonaria, também influiu muito contra a Monarquia e, finalmente, o agravamento da própria dificuldade de ordem econômica e financeira que havia no país, com as guerras e rebeliões. Na realidade, a queda da Monarquia também se deveu aos grupos militares que vieram da Guerra do Paraguai, foram se organizando e, aos poucos, conquistaram grande prestígio na vida política brasileira. É interessante relembrar um episódio significativo desse momento histórico. Logo após a assinatura da Abolição da Escravatura, o Barão de Cotegipe aproximou-se da Princesa Isabel, que dirigia o país no lugar de seu pai, que estava em viagem, e lhe disse: – “Vossa Majestade redimiu uma raça, mas perdeu o trono”. 18 Isabel Cristina Leopoldina Augusta Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga de Bourbon-Duas Sicílias e Bragança, Princesa Isabel (1846 -1921). Nascida no Rio de Janeiro, foi a segunda filha de Pedro II e Teresa Cristina. História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada 29 Todos esses episódios fizeram com que o país se movimentasse no apoio aos republicanos que, apesar de politicamente fracos, foram liderados por militares de formação positivista como Benjamin Constant e o próprio Deodoro da Fonseca, além de lideranças civis, como Quintino Bocaiúva e Rui Barbosa. Estes líderes históricos foram se afastando das ideias monarquistas e aderiram aos princípios republicanos. Nesse movi- mento, conseguiram mudar o regime político brasilei- ro e substituí-lo, da Monarquia para a República, em 1889. O último presidente do Conselho de Ministros da Monarquia foi o Visconde de Ouro Preto, que tentou um programa avançado, porém sem êxito, declinado de seu posto às vésperas da República. Na realidade, a população aceitou a Proclamação da República, porém sem manifestações efusivas porque, de fato, não tinha muita eperança com aquele movimento. História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada 30 Primeira República OS GENERAIS DEODORO DA FONSECA E FLORIANO PEIXOTO Com o grito de “Viva a República” do general Deodoro teve início outra fase da história do Brasil, pois que, logo depois foi instalada uma Assembleia Constituinte para votar a Constituição Republicana de 1891. A Assembleia Nacional Constituinte convocada pelo governo republicano promoveu vários debates destacando-se entre eles a discussão entre os sistemas presidencialista e parlamen- tarista. Os parlamentaristas eram minoria, e os defensores do presidencialismo, inclusive Rui Barbosa e outros, foram vitoriosos, influenciados pelo sistema norte-americano. Os parlamentaristas defendiam o sistema francês que adotava a República após a guerra de 1870, mas adaptada ao regime parlamentarista. Na prática, a Constituinte adotou o texto do projeto apresentado pelo Executivo e aprovou o novo texto Constitucional, dentro de claras li- nhas presidencialistas. Essa fase republicana foi de transição e, por isso mesmo, provocou uma série de atri- tos que resultaram na atitude do general Deodoro da Fonseca19 que, na presidência do país, 19 Manuel Deodoro da Fonseca (1827-1892). Nascido em Alagoas. Militar e político, foi o primeiro presidente do Brasil. História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada 31 tentou, à moda do Império, dissolver o Congresso Nacional, obedecendo aos princípios parlamentaristas, que aliás não foram aceitos pelos republicanos de então. Foi uma crise muito séria que resultou no afastamento do general Deodoro que, doente, renunciou ao governo fede- ral. Floriano Peixoto, que era seu vice-presidente, assumiu o poder. Este marcou outra época na política brasileira com seu temperamento ditatorial havendo o risco de se iniciar um regime autocrático como nos outros países sul-americanos, literalmente dominados por ditadores. Ten- do o governo de Floriano Peixoto todas as características autoritárias, vários conflitos foram en- frentados, inclusive com o Poder Legislativo, mas sua presença era forte dentro da vida política brasileira, com muitos adeptos. Durante o seu governo houve a Revolta da Armada que foi comandada pelo almirante Custódio Ribeiro de Melo que, sem êxito, foi abatido pelos grupos militares que tiveram apoio do governo de São Paulo. Ainda, no governo de Floriano Peixoto, ocorreu a Revolução Federalista, no Rio Grande do Sul envolvendo dois grandes partidos: o Federalista, popularmente chamado de Maragatos, e os Republicanos, chamados Chimangos. Esta luta ocorreu de 1893 a 1895, com a participação de diversas figuras expressivas, tendo entre os federalistas, Silveira Martins, personalidade da mais alta expressão e valor no Império, contra Júlio de Castilhos, jovem liderança republicana que mais tarde iria ocupar o governo do Rio Grande do Sul. Esta Revolução foi de caráter local, mas teve também muita repercussão no governo federal, que precisou intervir para pacificar as lutas rio-grandenses. Floriano foi acometido por grave doença ao fim de seu governo, e novas eleições para a presidência da República foram convocadas de acordo com a Constituição. Foi eleito, então, o primeiro presidente civil do país na República, Prudente de Moraes20, paulista ilustre e de for- mação democrática. A sua história mostra o seu temperamento, inclusive quando ele deixou de agredir o assassino de seu pai, levando-o preso. 20 Prudente José de Moraes Barros (1841-1902). Nascido em São Paulo. Advogado e político, foi o terceiro presidente do Brasil. História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada 32 GOVERNOS DE PRUDENTE DE MORAES E CAMPOS SALES Prudente de Moraes seguiu para o Rio de Janeiro para tomar posse na qualidade de pre- sidente da República. Oficialmente, ninguém o aguardava, nenhuma personalidade governa- mental. Mesmo assim, assumiu o governo e o país inaugurou novo período administrativo, em ambiente de equilíbrio político. Nesta época, porém, enfrentou na Bahia a célebre Rebelião de Canudos, liderada pelo messiânico Antônio Conselheiro. A revolta popular baiana foi interpretada na época como uma reação monarquista, tendo sido derrotada por forças do Exército. Prudente de Moraes teve como sucessor Campos Sales, paulista, com temperamento to- talmente diferente daquele, e que passou a governar de maneira enérgica se aliando aos go- vernadores e criando uma política de aliança com os chefes dos diversos Estados. Assim, se estabeleceu no Brasil uma aliança das forças políticas locais e regionais de modo que, com essa situação, os Partidos Republicanos estaduais se uniram, o que resultou na criação de uma rede republicana nacional de pleno apoio ao presidente da República. Este sistema perdurou até a Revolução de 1930. História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada 33 GOVERNOS DE RODRIGUES ALVES E AFONSO PENA Depois de Campos Sales, assumiu Rodrigues Alves, outro paulista também de reconhecido valor que realizou obras notáveis para o país, sobretudo no Rio de Janeiro, combatendo a febre amarela e outras doenças então existentes. Patrocinou importantes construções, prestigiou a figura do médico sanitarista Oswaldo Cruz. Porém, a população, insatisfeita com a obrigação de se vacinar e sem o devido esclarecimento sobre a importância da vacina, reagiu contra os agen- tes de saúde e a polícia teve que agir. Esse movimento é conhecido como a Revoltada Vacina, que foi combatida e dominada pelo governo. Ainda neste governo, foi nomeado ministro das Relações Exteriores o Barão do Rio Bran- co21, que iniciou as negociações para a consolidação definitiva das atuais fronteiras do Brasil. Rodrigues Alves teve como seu sucessor o mineiro Afonso Pena, figura ilustre da vida bra- sileira que tinha participado do governo nos tempos da Monarquia, mas que pela sua importância e sua respeitabilidade fora bem aceito pelos republicanos, sendo eleito presidente da República. 21 José Maria da Silva Paranhos Júnior, Barão do Rio Branco (1845-1912). Nascido no Rio de Janeiro. Advogado, diplomata, geógrafo, professor, jornalista e historiador brasileiro. História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada 34 Afonso Pena tinha temperamento equilibrado, muito sensato, e tentou, aos poucos, influir para que seu sucessor fosse o ministro da Fazenda, David Campista, prestigioso financista, o qual não contava com o apoio das forças políticas do país então organizadas, que preferiram o ministro da Guerra, general Hermes da Fonseca, sobrinho de Deodoro da Fonseca. Minas Ge- rais e São Paulo se opuseram ao nome de David Campista, por ser estranho ao meio político. GOVERNOS DE NILO PEÇANHA E HERMES DA FONSECA Afonso Pena adoeceu, vindo a falecer, e quem assumiu o governo do país foi Nilo Peça- nha, que atuou de forma democrática e manteve os planos do governo anterior. O presidente em exercício fortaleceu o nome de Hermes da Fonseca que, eleito, assumiu o país, tendo como vice-presidente o mineiro Wenceslau Braz. Hermes da Fonseca venceu Rui Barbosa em uma campanha de alcance nacional. O governo Hermes da Fonseca prosseguiu apoiando as lideranças republicanas, mas não realizou grandes feitos. Enfrentou, porém, movimentos populares e a célebre Revolta da Chiba- História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada 35 ta, quando marinheiros se revoltaram contra as violências e castigos físicos dentro dos navios brasileiros. Neste período ainda houve a chamada Guerra do Contestado que, na realidade, era o conflito de vários fazendeiros poderosos do estado de Santa Catarina e do estado do Paraná que disputavam terras na divisa entre as duas unidades federadas. A disputa provocou uma cri- se que se transformou numa luta dentro dos dois estados, sendo necessária a intervenção do governo federal para, aos poucos, pacificar e resolver o conflito. O governo Hermes da Fonseca interferiu em vários estados e teve sérios problemas no Ceará contra a liderança do padre Cícero e do deputado Floro Bartolomeu devido a intervenção contra o presidente do estado, Antônio Pinto Nogueira Accioly, que voltou ao poder com a sus- pensão da intervenção. História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada 36 GOVERNOS WENCESLAU BRAZ E EPITÁCIO PESSOA Ao término do governo Hermes da Fonseca foi eleito Wenceslau Braz, anteriormente vice- -presidente, cujo mandato à época da Primeira Guerra Mundial viveu certa crise política porque predominava no Senado a figura de Pinheiro Machado, gaúcho de prestígio, que, no fundo, não tinha boa relação com o presidente. No episódio da eleição do presidente do estado do Rio de Janeiro houve sério conflito políti- co que resultou na posse de Nilo Peçanha como dirigente do Estado. Nesta fase foi assassinado o senador Pinheiro Machado, o que abalou o país porque era uma liderança poderosa, chefe do Partido Republicano Conservador e senador pelo Rio Grande do Sul. Findo o governo Wenceslau Braz, Rodrigues Alves deveria ser o seu sucessor, porém, impossibilitado por estar doente, quem lhe sucedeu foi o vice, Delfim Moreira, que ficou pouco tempo à frente do país, indicando, nas eleições, como seu sucessor Epitácio Pessoa que, embo- ra fora do país, num Congresso Internacional, pelo seu grande prestígio, mesmo no exterior, foi escolhido dirigente do governo brasileiro, nomeando um ministério só de civis, como Raul Soares e Pandiá Calógeras, na Marinha e na Guerra, entre outros titulares. História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada 37 GOVERNOS ARTHUR BERNARDES E WASHINGTON LUÍS Houve uma crise na sucessão de Epitácio Pessoa, quando Arthur Bernardes, candidato ofi- cial indicado pelos mineiros, entrou em conflito com seus adversários de outros estados, e uma série de intrigas os levou também a antipatia de setores do Exército. Seu adversário, candidato derrotado, foi Nilo Peçanha, ex-vice-presidente da República do governo Afonso Pena. Arthur Bernardes, eleito, assumiu a direção do país dentro de um ambiente de agitação e conflitos promovidos pela oposição. Incentivou maior aproximação com a Santa Sé, iniciou as bases do sistema previdenciário e fortaleceu o ensino criando a Universidade de Viçosa, em Minas Gerais, além de manter a ordem com certa energia. Neste período ocorreu em São Paulo, em 1922, a cé- lebre Semana de Arte Moderna, com efeitos diretos na vida intelectual e artística brasileira, que buscava identidade na- cional e repercutiu na cultura de todo o país. História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada 38 É de se registrar ainda a insurreição dos 14 tenentes no Forte de Copacabana, que foram derrotados violentamente estando entre eles o então tenente Eduardo Gomes, que foi ferido. Também no governo Bernardes houve grave desentendimento político no Rio Grande do Sul entre os adeptos de Borges de Medeiros e os de Assis Brasil, aquele sustentando sua quarta reeleição como presidente rio-grandense, o que foi contestado e provocou choques armados. Convém assinalar ainda a Revolução de 1924, em São Paulo, comandada pelo general Isidoro Dias Lopes que, derrotada, deixou consequências conhecidas, como a criação da Coluna Prestes22, chefiada por Luís Carlos Prestes, chefe comunista. Como seu sucessor, elegeu-se presidente da República o paulista Washington Luís, que era representativo das poderosas forças econômicas e políticas de São Paulo e trazia consigo forte apoio do Partido Republicano Paulista que dominava literalmente o Estado bandeirante com reflexos na política nacional. Em Minas Gerais, fora eleito presidente do Estado o líder do governo Arthur Bernardes na Câmara dos Deputados, a figura de Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, muito influente em Mi- nas, e que alcançou expressivo prestígio durante o seu mandato. É interessante mencionar nesta época a política internacional e seus reflexos no mundo todo. Após a Primeira Guerra Mundial, de 1914 a 1918, o Brasil se articulou com as lideranças inglesas e se ajustou a todos aqueles que foram os vitoriosos na Primeira Guerra, momento fun- damental para a história mundial, porém é de se registrar a crise na Alemanha e na Itália, quando surgiram as figuras de Hitler e Mussolini, com repercussão em alguns setores do país. O governo de Washington Luís enfrentou problemas socioeconômicos, mas defendeu o princípio de que governar era abrir estradas. No seu governo houve alguns problemas políticos no Rio Grande do Sul, os quais procurou superar. O ministério de Washington Luís tinha Getúlio Vargas como ministro da Fazenda, representando o Rio Grande do Sul. 22 A Coluna foi um movimento revoltoso organizado por tenentistas que percorreu 25 mil quilômetros no Brasil, entre 1925 e 1927, combatendo as tropas dos governos de Arthur Bernardes e Washington Luís. Tinha a inspiração revolucionária marxista de seu líder, Luiz Carlos Prestes (1898-1990). História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada 39 DESENTENDIMENTOS POLÍTICOS COM MINAS GERAIS Nesta fase de tendências ditatoriais, Antônio Car- los Ribeiro de Andrada23, eleito presidente de Minas Gerais e se revelando um democrata no governo do Estado e, numa ação governamental que até hoje é elogiada por todos os historiadores, se voltou para o progresso educacional, sendo dele a criação da Uni- versidade de Minas Gerais, indiscutivelmente a pri- meira do país. Também desenvolveuum programa de criação de escolas primárias no interior do Estado. Ainda elevou Minas Gerais a uma posição de muito prestígio nos meios liberais do Brasil, pelo respeito às liberdades públicas, pois tais ideias dominavam real- mente o seu pensamento, de sua equipe e do Partido Republicano Mineiro. O nome de Antônio Carlos passou a percorrer todos os estados do país como uma figura de alta visão para a vida republicana. Contrário à política de Minas, o presidente Washington Luís tentou algumas medidas que atingiam a autonomia mineira. Nessa fase também, em todo o país, tiveram início movimentos de reação liberal e democrática, contrários à estrutura republi- cana representada por Washington Luís, homem de comportamento um tanto violento e avesso à autonomia dos diversos Estados. Esta é uma fase de crises. Washington Luís lançou como seu candidato à presidência da República o paulista Júlio Prestes, fugindo à tradição política existente, pois deveria sucedê-lo um mineiro, quando todo o país esperava que fosse o nome de Antônio Carlos, dado o prestígio que ele adquiriu e as práti- cas governamentais de sua administração. 23 Antônio Carlos Ribeiro de Andrada (1870-1946). Nascido em Barbacena, Minas Gerais, foi um político brasileiro, prefeito de Belo Horizonte, presidente da Câmara dos Deputados do Brasil, senador da República, presidente da Assembleia Nacional Constituinte de 1932-1933, ministro e governador do estado de Minas Gerais. Na época o cargo era de presidente do estado, daí ser conhecido nacionalmente como Presidente Antônio Carlos. História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada 40 Em face desta atitude discriminatória com Minas, pressionado pelas lideranças de seu Es- tado, Antônio Carlos criou, com os líderes mineiros, gaúchos, paraibanos e de outros Estados, a Aliança Liberal, que lançou como candidato à presidência da República, Getúlio Vargas24, o presidente do Rio Grande do Sul, e João Pessoa, presidente da Paraíba, como vice. Antônio Carlos julgava que o nome do presidente gaúcho vinha constituir um candidato de oposição à Júlio Prestes, capaz de ter apoio de fortes grupos políticos em toda Nação. Essas eleições ocorreram num ambiente de muitos desentendimentos e muitas incompreen- sões, porém a campanha da Aliança Liberal em favor de Getúlio se desenvolveu forte em todo o Brasil. Grupos políticos se reuniam nas capitais com a presença de líderes de expressão nacional que se dispuseram a viajar por todo o interior brasileiro apoiando a Aliança Liberal. O país foi sacu- dido por uma disputa de enorme repercussão. Na Câmara dos Deputados, o deputado José Bonifá- cio, irmão do Presidente Antônio Carlos, líder da Aliança Liberal, enfrentou agressivos debates com o líder do governo, o deputado paulista Manuel Villaboim. Os candidatos da Aliança Liberal, principalmente em Minas Gerais, Rio Grande do Sul e o estado da Paraíba, alcançaram elevado prestígio nacional. Washington Luís, com atitudes antidemocráticas, 24 Getúlio Dornelles Vargas (1882-1954). Nascido no Rio Grande do Sul. Foi advogado, militar e político brasileiro, líder da Revolução de 1930, que pôs fim à República Velha. Foi presidente do Brasil em dois períodos. História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada 41 interveio, inclusive na Paraíba, dando força a grupos regionais para combater a governança naquele Estado. Em Minas criou a Concentração Conservadora, um partido de oposição ao presidente Antônio Carlos e de apoio a Júlio Prestes, candidato presidencial. Esta era a situação nacional quando os re- sultados das eleições, através de meios fraudulentos, logicamente esperados, deram a vitória a Júlio Prestes, no início de 1930. A REVOLUÇÃO DE 1930 E A JUNTA MILITAR O país entrou inteiramente em um ambiente de confusão política. As lideranças gaúchas e as lideranças mineiras, como também os paraibanos e líderes de diversas partes do Brasil, começaram a criticar o governo de Washington Luís e a vitória de Júlio Prestes. Este era o cenário quando em junho de 1931, João Pessoa foi assassinado em Recife ao visitar o estado de Pernambuco. Tal fato provocou no Brasil inteiro uma enorme exaltação e revolta. As forças políticas contrárias a Júlio Prestes e Washington Luís passaram a ter apoio popular com vocações revolucionárias. A escolha de Júlio Prestes era considerada uma eleição falsa, resul- tado da imposição do governo de Washington Luís. Dentro desse ambiente, o governo de Minas, do Rio Grande do Sul e as poucas forças políticas existentes na Paraíba se reuniram e provocaram a Revolução, o que resultou na queda do governo de Washington Luís que foi afastado por uma Junta Militar, composta pelos generais Menna Barreto e Tasso Fragoso e pelo almirante Isaías de Noronha, que assumiu a direção do país, mais tarde transferida a Getúlio Vargas, considerado o candidato aprovado pelo povo. A revolução teve repercussões militares, e Minas Gerais foi decisiva para a vitória com sua Força Pública e grupos atuantes em diversas cidades, como a célebre Cavalaria da Mantiqueira25 de Barbacena que colaborou para a vitória revolucionária em Juiz de Fora, sede da Região Militar, cujo comandante, general Azevedo Costa, se deslocou para o Rio de Janeiro. Este fato foi uma das razões do enfraquecimento de Washington Luís e seu afastamento do governo, com a criação da Junta Mi- litar, que, após consolidar o triunfo da Revolução, teve de se afastar da direção do país, passando o poder a Getúlio Vargas. 25 Organizada por José Bonifácio Lafayette de Andrada (1904-1986), conhecido como Zezinho Bonifácio. A Cavalaria da Mantiqueira teve atu- ação sob o comando do então Tenente Eduardo Gomes e foi base para a formação do Batalhão de Polícia de Barbacena, sendo formada por voluntários, e os cavalos tomados da tropa do Exército que se rendeu em Carandaí, durante a Revolução de 30. História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada 42 Segunda República GOVERNO VARGAS E A REVOLUÇÃO DE 1932 O governo de Getúlio Vargas se desdobrou em algu- mas fases. A primeira foi a provisória, como chefe da Re- volução, quando baixou decretos e fez nomeações contra os grupos políticos que não lhe deram apoio. Todavia, teve que enfrentar a Revolução de 1932 que, organizada por líderes paulistas, com valorosa estruturação, prestígio e apoio geral em São Paulo, provocou diversas lutas, mas foi derrotada. Com Vargas no poder começaram a surgir sé- rias divergências, a principal delas com Flores da Cunha, que era presidente do Rio Grande do Sul. Foi um período de conflitos, inclusive na escolha de interventores para assumirem o governo dos estados, porque todos os presidentes de Estado foram afastados. Também em Minas Gerais ocorreram sérios desentendimentos quando faleceu o presidente do Estado, Olegário Maciel, figura fundamental para a vitória da Revolução de 30. A sua sucessão temporária foi, na realidade, disputada por forças políticas de expressão. Para resolver a ques- tão, Vargas nomeou um contraparente como interventor, o deputado Benedito Valadares, o que trouxe sérios descontentamentos, mas assumiu o governo e se manteve até o fim do exercício de Getúlio. História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada 43 CRISE POLÍTICA E O GOLPE DE ESTADO DE 1937 A segunda fase de Getúlio Vargas se vincula à eleição para a Assembleia Constituinte e votação da Carta Cons- titucional de 1934, que foi o segundo documento político da República. Porém, logo depois da Assembleia Nacional Constituinte o país se preparou para a disputa para a su- cessão de Vargas, sendo os candidatos, Armando Sales, experiente governante paulista, pela União Democrática Brasileira – UDB, e José Américo, ministro de Vargas. Em 1935, houve a Intentona Comunista, liderada por Luís Carlos Prestes que, embora repercutindo no país, na prática, foi um movimento de fragilidade política. Também, com grande repercussãoem todo o país, se desenvolveu o Movimento Integralista, de tendên- cias fascistas que, liderado por Plínio Salgado, apesar de derrotados pelas forças militares, foi uma tentativa de afastar Vargas e implantar no país o governo dos adeptos daquela doutrina política. Getúlio Vargas, no poder, iniciou seu processo para o Golpe de Estado. Começou a se mo- vimentar objetivando afastar Antônio Carlos da presidência da Câmara para conseguir, o que não alcançou sem o seu apoio, a aprovação do “Estado de Guerra” para ascender a ditadura. Com dificuldade, o jovem deputado Pedro Aleixo venceu Antônio Carlos na disputa pela presidência da Câmara, por poucos votos, apoiado pelo presidente da República, no início de 1937. Vargas conseguiu, na Câmara, a aprovação do “Estado de Guerra”, apesar de forte oposi- ção. Como resultado alcançou o poder necessário para fazer com que o Exército depusesse o governador do Rio Grande do Sul, Flores da Cunha, aquele que era considerado o seu principal opositor, seu principal adversário, que poderia impedir o golpe de estado que pretendia. Com tais atitudes, o ambiente estava preparado para o golpe que implantou no Brasil o “Estado Novo”, o qual compreendeu o período de 10 de novembro de 1937 a 1945, trazendo um sistema ditatorial fascista para o país. As eleições presidenciais não ocorreram e a Câmara dos História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada 44 Deputados e o Senado foram fechados, e promulgada a Constituição em 1937, que nunca foi colocada em execução, pois o país ficou sob a plena ditadura de Vargas. O Estado Novo, aparentemente, era uma cópia das organizações políticas dominantes dos países fascistas da Europa. Durante o período de 1937 a 1945, Vargas governou, mas não obede- cia à Constituição que ele mesmo elaborou, pois agia ditatorialmente, se voltando sobretudo para o populismo, junto às classes trabalhadoras, inclusive criando o sindicalismo dominado pelo Estado. A QUEDA DE VARGAS E A NOVA ASSEMBLEIA NACIONALCONSTITUINTE Em 1945, os democratas venceram a Segunda Guerra Mundial na Europa e, assim, os aliados saíram vitoriosos, derrotando os governos ditatoriais. O mundo inteiro se entregou ao início de uma fase democrática, o que repercutiu no Brasil. Aqui, as lideranças militares, com apoio das agitações populares, afastaram Vargas do poder, entregando o governo provisoriamente ao mi- nistro José Linhares, presidente do Supremo Tribunal Federal, que assumiu a direção do país e convocou elei- ções presidenciais e uma Assembleia Nacional Consti- tuinte, visando uma reorganização política para a Nação. Os deputados da Assembleia Constituinte foram eleitos pelos partidos PSD – Partido Social Democrático, UDN – União Democrática Nacional, PTB – Partido Trabalhista Brasileiro, PCB – Partido Comunista do Brasil – e outros. Disputaram as eleições para a presidência da República, Eduardo Gomes, brigadeiro da Aeronáutica, apoiado pela UDN e outros grupos liberais, e o general Eurico Dutra, do Exército, apoiado pelas forças que tinham sido os restos políticos do governo Vargas nas in- terventorias estaduais. O Partido Comunista lançou Yedo Fiúza, o menos votado. História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada 45 Houve uma disputa acirrada no período eleitoral, porém, na última hora, Vargas decidiu apoiar Eurico Dutra que, com as forças organizadas do PTB, saiu vitorioso. Desta forma, iniciou- -se novo período na vida brasileira, com a eleição da Câmara e do Senado e novo presidente da República. O GOVERNO DE EURICO DUTRA E O RETORNO DE VARGAS Com o governo de Eurico Dutra26, depois do governo de José Linhares, o país passou a ter um ambiente político razoavelmente regular. As forças políticas que disputavam eram principalmente do PSD, UDN e PTB, partidos presen- tes no governo de Eurico Dutra. Seu ministério se alimentou do PSD, e foi esse partido que governou o país com a maio- ria na Câmara dos Deputados e com base em governado- res que elegeu, mas a figura de Vargas novamente cresceu dentro do país com adesões generalizadas e das classes trabalhistas. 26 Eurico Gaspar Dutra (1883-1974). Nascido em Mato Grosso. Militar, 16º Presidente do Brasil, entre 1946 e 1951. História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada 46 Com o fim do mandato de Eurico Dutra, Eduardo Gomes novamente foi candidato, mas Getúlio Vargas, disputando o pleito, ainda com Cristiano Machado, político mineiro, candidato do PSD, venceu as eleições, reassumindo a direção do país com participação de um grupo de tendências esquerdistas e populistas. Todavia, o novo governo de Vargas, voltado para deter- minadas iniciativas escusas, inclusive de seus familiares, criou um ambiente de muitas críticas, alargando as oposições contra ele27. Neste momento surgiu dentro da UDN a figura do jornalista Carlos Lacerda, uma liderança poderosa, que iniciou campanha muito forte contra Vargas, apoiado por toda a bancada da UDN na Câmara e no Senado. CARLOS LACERDA E O SUICÍDIO DE VARGAS Neste cenário de conflitos, a tentativa de as- sassinato de Carlos Lacerda28 provocou crise cres- cente, e os setores militares começaram a ter certa inquietação, além do episódio ocorrido contra o filho do presidente, que teria cometido desvios no campo financeiro. O Brasil vivia uma situação tal que Vargas não conseguiu superar. Nessas circunstâncias o país foi realmente surpreendido com a notícia de seu suicí- dio29, o que trouxe para a Nação um quadro de sérias dificuldades. O vice-presidente Café Filho30, assumiu o governo no lugar de Getúlio e o país sofreu mais um momento de séria turbulência política. 27 O segundo governo do ex-ditador foi marcado pelo desenvolvimentismo-nacionalista com a criação da Petrobras e BNDES, mas com alta inflação o que gerou greves e inquietação entre os trabalhadores. 28 Carlos Frederico Werneck de Lacerda (1914-1977). Nascido no estado do Rio de Janeiro. Jornalista e polemista. Fundador do jornal Tribuna da Imprensa e da editora Nova Fronteira. 29 Suicídio no Palácio do Catete, sede do governo federal, Rio de janeiro em 24 de agosto de 1954. 30 João Fernandes Campos Café Filho (1899-1970). Nascido no Rio Grande do Norte. Advogado, foi presidente por um ano e três meses. História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada 47 Novos problemas políticos ocorreram no país com a eleição para a sucessão de Café Filho, pois boatos circulavam de que haveria intervenção na posse de Juscelino Kubistchek, candidato do PSD, que disputava com Juarez Távora, pela UDN e fora vitorioso, preparando-se para assu- mir a Presidência. CAFÉ FILHO E O GOLPE DO GENERAL LOTT A crise política aumentou de tal maneira que cresceu a falsa notícia de que o presidente eleito não assumiria porque os setores militares e popu- lares iriam impedir sua posse. O país vivia esse ambiente e Café Filho foi internado por grave do- ença. O ministro da Guerra, Henrique Lott, enten- deu que havia a preparação de um golpe contra Kubistchek. O substituto de Café Filho, deputado Carlos Luz, presidente da Câmara, foi afastado por um golpe militar do general Lott, e a presi- dência foi entregue a Nereu Ramos, presidente do Senado. Lott tomou tal atitude golpista porque Carlos Luz, como substituto de Café Filho, tentou demiti-lo do governo. Também houve violenta atitude contra o presidente Café Filho que, impedido de retornar ao governo pelo General Lott, ficou praticamente preso em sua residência. História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada 48 A ELEIÇÃO DE KUBISTCHEK E SUA SUCESSÃO POR JÂNIO QUADROS Terminado o interstício de Nereu Ramos, o presi- dente eleito, Juscelino Kubistchek31, e seu vice, João Goulart, assumiram a direção do país em janeiro de 1956. A administração de Juscelino foi democrática e coube a ele transferir a capital do país do Rio de Janei- ro para Brasília. Desenvolveu a malha rodoviária brasi-
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