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Thais Alves Fagundes DISTÚRBIOS ÁCIDO-BÁSICOS EQUILÍBRIO ÁCIDO-BASICO pH normal: 7,35 a 7,45 (pCO2: 35 a 45; Base excess: -2 a +3; HCO3: 22 a 26; pO2: > 80%) Regulação do pH: pulmonar, renal e sistemas tampão. SISTEMA TAMPÃO Substância capaz de se ligar reversivelmente ao H+ Primeira linha de defesa contra o desequilíbrio acidobásico, impedindo alterações excessivas do pH Sistema tampão do compartimento extracelular: Sistema tampão bicarbonato: Equação: CO2 + H2O ↔ H2CO3 ↔ H+ + HCO3- Sistema tampão do compartimento intracelular e ósseo: Eficácia do tampão extracelular é limitada, após 2-3 horas, as células e ossos atuam no tamponamento. Captação ou liberação de íons H+ do meio extracelular (H+ é trocado por outros íons Na+ e K+). Intracelular: fosfato e proteínas (hemoglobina) Ossos: captação de H+ às custas de fosfato e cálcio. Acarretando desmineralização óssea. REGULAÇÃO PULMONAR Segunda linha de defesa Alteração no pH plasmático: • Captadas por quimiorreceptores no arco aórtico. • Quimiorreceptores enviam impulsos aferentes, pelo nervo vago, para o centro respiratório bulbar. pH diminuído (acidose metabólica): • Estimula o centro respiratório. • Centro respiratório responde com hiperventilação (respiração de Kussmaul). • Resulta na eliminação de CO2, reduzindo a pCO2. pH aumentado (alcalose metabólica): • Inibe o centro respiratório. • Havendo hipoventilação. • Resulta na retenção de CO2, aumentando a pCO2. o Mecanismo limitado, pois, concomitantemente, diminui da pO2. o Estímulo potente para aumento da ventilação. o PCO2 dificilmente se eleva o suficiente para compensar a alcalose. REGULAÇÃO RENAL Papel dos rins consiste em reabsorver todo o bicarbonato filtrado, impedindo que seja excretado e em eliminar H+, equivalente à quantidade produzida no metabolismo. Ácidos não voláteis: são produzidos diariamente, em maior parte produto do metabolismo de proteínas. Não podem ser eliminados pelos pulmões. Podem ser tamponados pelo tampão bicarbonato e pelos tampões intracelulares e ósseos, mas a excreção renal de H+ é necessária para não esgotar as reservas de tamponamento. pH aumentado (alcalose): • Não reabsorve todo o bicarbonato e secreta ativamente parte do bicarbonato. • Restringe a quantidade de H + excretado. pH diminuído (acidose): • Retenção renal de bicarbonato. • Excreção de maior quantidade de H+ Bases urinárias: Limite de acidez urinária (pH = 4,5): • Pequena parte do H + pode ser excretada sob a forma iônica. • Maior parte do H + precisa ser excretado ligado a bases urinárias o Amônia produzida no rim a partir do metabolismo da glutamina o Fosfato monoácido Thais Alves Fagundes DISTÚRBIOS DO EQUILÍBRIO ÁCIDO-BASICO ACIDOSES METABÓLICAS Definição: HCO3 < 22 e pH < 7,35 Compensação: hiperventilação e declínio da pCO2 Tratamento: corrigir doença de base; Diálise, se refratária ao tratamento; Bicarbonato, se hiperclorêmica ou se hipercalemia (retenção de K+ na acidose) ou se pH < 7,0 Acidoses com ânion gap aumentado: Ácido: desassocia em H+ e ânion (exemplo: ácido lático se dissocia em H + e lactato). • H+: consome o HCO3- do plasma, levando a acidose metabólica. • Ânion: acumula na circulação, caso os rins não consigam excretá-lo em tempo hábil. o Ânion retido aumenta o ânion gap. o Aumento do ânion gap mantém o equilíbrio eletroquímico do plasma e compensa a queda do HCO3. Ânion gap: para o equilíbrio eletroquímico do plasma, o total de cátions deve ser igual ao total de ânions. • Principal cátion → sódio. • Principais ânions → cloreto e bicarbonato. o Somatório de todos os ânions “não medidos” subtraído de todos os cátions não medidos. o Cálculo do ânion gap: Ânion gap = Na+ − (Cl− + HCO3−) → Valor de referência: 8 a 12 mEq L Causas de acidose com ânion gap aumentado: doenças com acúmulo de substâncias ácidas (H+ e ânions) Acidose lática: hipóxia e realização de metabolismo anaeróbico de carboidratos, gerando excesso de ácido lático e lactato, aumentando o ânion gap. Tratamento: corrigir doença de base que causou hipóxia. Reposição de NaHCO3 apenas em casos de acidose lática muito grave e refratária. Cetoacidose diabética: deficiência grave de insulina, com produção hepática de corpos cetônicos (ácido acetoacético e beta-hidroxibutírico). Tratamento: reposição de insulina. Cetoacidose alcoólica: alta ingestão alcoólica sem alimentação, com produção aumentada de corpos cetônicos. Tratamento: reposição de glicose. Insuficiência renal (estágio 5 – TFG < 20 ml/min): retenção de H+ e retenção de sulfato, derivado da dissociação do ácido sulfúrico, principal substância ácida derivada do metabolismo das proteínas. Tratamento: diálise, bicarbonato. Intoxicações: salicilato, metanol, etilenoglicol - altera metabolismo celular e aumenta produção de ácido lático e cetoácidos. Tratamento: repor NaHCO3 venoso (corrige acidose e facilita eliminação renal do agente intoxicante). Efeito Bohr e reposição de bicarbonato: • Acidose com ânion gap aumentado altera o efeito Bohr. • Diminuindo a afinidade entre a hemoglobina e o oxigênio, reduzindo a disponibilidade de O2 tecidual. • Aumenta o metabolismo anaeróbico, com produção de ácido láctico que agrava acidose o Reposição de bicarbonato pode alterar o efeito Bohr negativamente. o Aumenta excessivamente afinidade da hemoglobina e O2, que não libera oxigênio para células. o Aumenta o metabolismo anaeróbico, agrava acidose. Acidoses metabólicas hiperclorêmicas: Diminuição de bicarbonato (estimula reabsorção de cloreto) ou retenção de H+. Para manter o equilíbrio eletroquímico, é compensada pelo aumento do cloreto plasmático, visto que nenhum outro ânion foi retido. Causas de acidose metabólicas hiperclorêmicas: • Diarreia, fístulas biliares, entéricas ou pancreáticas: perda digestiva de bicarbonato. • Hipoaldosteronismo: deficiência de aldosterona diminui reabsorção de sódio e secreção de potássio e H+. • Diuréticos poupadores de potássio: aumenta secreção d sódio e a reabsorção de potássio e H+. • Insuficiência renal crônica (estágios iniciais). • Acidoses tubulares renais. Tratamento das acidoses hiperclorêmicas: reposição de bicarbonato. Exceção: acidoses por hipoaldosteronismo (corrigir a hipercalemia) e acidoses por diuréticos (suspensão do diurético). Thais Alves Fagundes ALCALOSE METABÓLICA Conceito: HCO3 > 26 e pH >7,45 Compensação: diminuição da ventilação alveolar e aumento da pCO2 Tratamento: • Alcaloses que cursam com depleção de volume e cloreto: manter estado euvolêmico e repor cloreto. • Hiperaldosteronismo: reposição de K+ e diuréticos poupadores de potássio. Causas de alcalose metabólica: Uso de diuréticos de alça e tiazídicos: perda de cloreto e aumento compensatório de HCO3. Vômitos de conteúdo gástrico: perda de H+, levando a um excesso de HCO3- Síndrome de Bartter/Síndrome de gitelman: perda urinária de cloreto e aumento compensatório de HCO3. Hiperaldosteronismo: secreção de potássio e H+ no túbulo coletor. Síndrome de Zollinger-Ellison: perda de cloreto nas fezes e aumento compensatório de HCO3. ACIDOSE RESPIRATÓRIA Causa: hipoventilação pulmonar, com elevação da pCO2 e redução do pH arterial. Causas agudas: Tratamento: reverter quadro com intubação traqueal e ventilação mecânica • Insuficiência respiratória do tipo hipoventilatória. • Pulmonares: edema agudo de pulmão, obstrução de vias aéreas superiores, pneumopatias graves. • Neurológicas: acidente vascular encefálico, tumores. Causas crônica: DPOC, cifoescoliose, pneumopatias crônicas, esclerose miotrófica lateral. Tratamento: apenas correção da doença de base, quando compensados. aPodem se tornar crônicos agudizados, na presença de outro fator reduzindo mais a função pulmonar (pneumonia). Quando descompensados, tratamento com ventilação mecânica. • Retenção crônica de CO2 lenta e progressiva. • Ocorreum reajuste do centro respiratório para manter uma PCO2 mais alta. • Retenção renal de HCO3 compensatória (alcalose metabólica compensatória e BE aumentado). ALCALOSE RESPIRATÓRIA Causa: hiperventilação pulmonar, com redução da PCO2 e aumento do pH arterial. Aguda: crise de ansiedade aguda (psicogênica), crise asmática (hiperventilação) → redução do CO2 Crônica: estimulo crônico e contínuo do centro respiratório (sepse, insuficiência hepática, doenças do SNC) • Aumento do pH: o Retenção renal de H+. o Maior excreção renal de bicarbonato (BE mais negativo). Tratamento: • Correção da doença de base. • Bolsas coletoras de ar (indivíduo exala o ar na bolsa e inspira fração do ar exalado, rico em CO2). MANEJO DOS DISTÚRBIOS ÁCIDO-BASICO Avaliação do pH: • pH < 7,40: acidose • pH > 7,40: alcalose Identificar se o distúrbio primário é metabólico ou respiratório: avaliar o pH e a PCO2 Identificar se há compensação do distúrbio primário ou algum distúrbio secundário associado: • Distúrbios primários metabólicos: o PCO2 do paciente em relação à PCO2 esperada (alcalose ou acidose). ▪ PCO2 do paciente = PCO2 esperada: distúrbio primário compensado ▪ PCO2 do paciente > PCO2 esperada: acidose respiratória associada ▪ PCO2 do paciente < PCO2 esperada: alcalose respiratória associada • Distúrbios primários respiratórios: o HCO3 do paciente em relação à HCO3 esperada (alcalose ou acidose; aguda ou crônica). ▪ HCO3 do paciente = HCO3 esperado: distúrbio primário compensado ▪ HCO3 do paciente > HCO3 esperado: alcalose metabólica associada ▪ HCO3 do paciente < HCO3 esperado: acidose metabólica associada Base excess (BE): • Parâmetro que permite diferenciar distúrbios respiratórios agudos de distúrbios respiratórios crônicos. • Distúrbios respiratórios agudos: BE pode estar dentro da faixa normal. • Distúrbios respiratórios crônicos: BE sempre alterado. Thais Alves Fagundes Acidose metabólica (↓HCO3-) PCO2 esperada = (1,5 x HCO3) + 8 (+-2) Alcalose metabólica (↑HCO3-) PCO2 esperada = (0,7 x HCO3) + 21 (+-2) Acidose respiratória aguda (↑pCO2) HCO3- esperado: 24 + [0,13 x (pCO2 medido – 40)] (+-2) Acidose respiratória crônica (↑pCO2) HCO3- esperado: 24 + [0,35 x (pCO2 medido – 40)] (+-2) Alcalose respiratória aguda (↓pCO2) HCO3- esperado: 24 – [0,2 x (40 – pCO2 medido)] (+-2) Alcalose respiratória crônica (↓pCO2) HCO3- esperado: 24 – [0,5 x (40 – pCO2 medido)] (+-2) CASOS CLÍNICOS CASO 1 Paciente de 30 anos, chega a emergência em estado de coma, apenas respondendo aos estímulos dolorosos. Sua respiração é superficial e com frequência normal. Familiares encontraram próximo a ele diversas caixas de tranquilizantes vazias. Gasometria: • pH 7,20 (diminuído) • pCO2 80mm Hg (aumentado) • HCO3 23 mM/L (normal) • BE -1,2 (normal) o Acidose: pH diminuído o Respiratória: pCO2 aumentado o Aguda: quadro clínico + BE normal • Acidose respiratória aguda (↑pCO2): o HCO3- esperado: 24 + [0,13 x (pCO2 medido – 40)] (+-2) o HCO3- esperado: 29,2 o HCO3- esperado: 27,2 a 31,2 o HCO3- paciente: 23 → acidose metabólica • Mista: acidose respiratória aguda + acidose metabólica CASO 2 Após 24 horas de tratamento no CTI, o paciente do caso 1 precisou ser submetido a ventilação artificial e nova coleta de exames para avaliação. • Gasometria: pH 7,52 (aumentado) • pCO2 26 mm Hg (diminuído) • HCO3 22 mM/L (normal) • BE +1,2 (normal) o Alcalose o Respiratória: pCO2 diminuído e HCO3 normal o Aguda: quadro clínica + BE normal • Alcalose respiratório aguda: o HCO3- esperado: 24 – [0,2 x (40 – pCO2 medido)] (+-2) o HCO3- esperado: 21,2 (+-2) o HCO3- esperado: 19,2 a 23,3 o HCO3- paciente: 22 → compensada • Alcalose respiratória aguda compensada CASO 3 Paciente de 50 anos chega ao setor de emergência desidratado, respiração profunda, pausa inspiratória e aumento da frequência respiratória. Ao exame clínico hálito cetônico. • Gasometria: pH 7,10 (diminuído) • pCO2 20 mmHg (diminuído) • HCO3 5 mM/L (diminuído) • BE -13 (diminuído) o Acidose o Metabólica: hálito cetônico + BE diminuído • Acidose metabólica: o PCO2 esperada = (1,5 x HCO3) + 8 (+-2) o PCO2 esperada = 15,5 (+-2) o PCO2 esperada = 13,5 a 17,5 o PCO2 paciente: 20 → acidose respiratória • Mista: acidose metabólica + acidose respiratória Thais Alves Fagundes CASO 4 Paciente jovem chega ao centro cirúrgico com história de traumatismo abdominal há duas horas. No local do acidente, encontrava- se lúcido, hipocorado 3+/4+ e com sinais de choque hipovolêmico. Foi infundido rapidamente com soro fisiológico e bicarbonato de sódio. Chegou à emergência com melhora dos níveis pressóricos o que permitiu avaliação e encaminhamento ao bloco cirúrgico. • Gasometria: pH 7,55 (aumentado) • pCO2 42 mm Hg (normal) • HCO3 32 mM/L (aumentado) • BE +5,8 (aumentado) o Alcalose o Metabólica: HCO3 aumentado + BE aumentado • Alcalose metabólica: o PCO2 esperada = (0,7 x HCO3) + 21 (+-2) o PCO2 esperada = 43,4 (+-2) o PCO2 esperada = 41,4 a 45,4 o PCO2 paciente = 42 → compensada • Alcalose metabólica compensada CASO 5 Paciente de 23 anos está no CTI com quadro de choque séptico consequente a peritonite (pós-operatório de apendicectomia). Evoluiu com insuficiência respiratória grave tipo síndrome de angústia respiratória aguda (SARA). Suporte circulatório com reposição volêmica e ventilação mecânica. • Gasometria: pH 7,21 (diminuído) • pCO2 54 mm Hg (aumentado) • HCO3 19 mM/L (diminuído) • BE -6,5 (diminuído) o Acidose o Metabólica: HCO3 diminuído + quadro clínico • Acidose metabólica: o PCO2 esperada = (1,5 x HCO3) + 8 (+-2) o PCO2 esperada = 36,5 (+-2) o PCO2 esperada = 34,5 a 38,5 o PCO2 paciente = 54 → acidose respiratória • Mista: acidose metabólica + acidose respiratória CASO 6 Paciente de 65 anos, fumante, procura ambulatório, queixando-se de dispneia, cansaço e tosse acompanhada por secreção clara. • Gasometria: pH 7,40 (normal) • pCO2 58 mm Hg (aumentado) • HCO3 32 mM/L- (aumentado) • BE +7,2 (aumentado) o Acidose: aumento de pCO2 o Respiratório: quadro clínico o Crônica: quadro clínico + BE aumentado • Acidose respiratória crônica: o HCO3- esperado: 24 + [0,35 x (pCO2 medido – 40)] (+-2) o HCO3- esperado: 30,3 (+-2) o HCO3- esperado: 28,3 a 32,3 o HCO3- paciente: 32 → compensada • Acidose respiratória crônica Thais Alves Fagundes CASO 7 Paciente de 17 anos chega à emergência sem falar, batimento palpebral e frequência respiratória de 50 irpm. • Gasometria: pH 7,63 (aumentado) • pCO2 18 mm Hg (diminuído) • HCO3 20 mM/L (diminuído) • BE -1 (normal) o Alcalose o Respiratória: pCO2 diminuído + quadro clínico o Agudo: quadro clínico + BE normal • Alcalose respiratória aguda: o HCO3- esperado: 24 – [0,2 x (40 – pCO2 medido)] (+-2) o HCO3- esperado: 19,6 (+-2) o HCO3- esperado: 17,6 a 21,6 o HCO3- paciente: 20 → compensada • Alcalose respiratória aguda CASO 8 Paciente de 57 anos, portador de neoplasia maligna de próstata, evoluiu com piúria, febre e queda dos níveis pressóricos sem resposta à infusão de volume, necessitando iniciar aminas vasoativas. Evoluiu com piora do choque sendo entubado e coletados exames. • Gasometria: pH 7,23 (diminuído) • pCO2 25 mm Hg (diminuído) • HCO3 10 mM/L (diminuído) • BE -7 (diminuído) o Acidose o Metabólica • Acidose metabólica: o PCO2 esperada = (1,5 x HCO3) + 8 (+-2) o PCO2 esperada = 23 (+-2) o PCO2 esperada = 21 a 25 o PCO2 paciente = 25 → compensada • Acidose metabólica compensada
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