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Caso 4| Módulo 5 - Parkinsonismos e outros distúrbios de movimento na geriatria| Hanna L. 8ºP - MED 16 Parkinsonismo DEFINIÇÃO Síndrome que se manifesta por bradicinesia acrescida de pelo menos mais um dos sinais a seguir: tremor, rigidez e instabilidade postural. CLASSIFICAÇÃO Classifica-se em 4 categorias: primário, secundário, síndromes Parkinson-plus e doenças heredodegenerativas. ➔ Parkinsonismo Primário: Doença de Parkinson (80% dos casos) ➔ Parkinsonismo Secundário: Indução por medicamentos, Vascular, Hidrocefalia de pressão normal, Hipóxia, Infecciosa Metabólica,Toxinas,Traumatismo,Tumores ➔ Síndromes Parkinson-plus: Paralisia supranuclear progressiva, Atrofia de múltiplos sistemas (síndrome de Shy-Drager, atrofia olivopontocerebelar, degeneração estriatonigral), Degeneração corticobasal, Demência por corpos de Lewy, Doença de Alzheimer, Demência vascular ➔ Heredodegenerativas: Doença de Huntington DOENÇA DE PARKINSON Transtorno neurológico complexo, progressivo que se caracteriza pela degeneração das células da camada ventral da parte compacta da substância nigra e do locus ceruleus. Identifica-se na patologia, corpos de Lewy, que são inclusões eosinofílicas intracitoplasmáticas constituídas por várias estruturas proteicas, em neurônios remanescentes, na parte compacta da substância nigra, o que ocasiona o início de manifestações clínicas motoras, correspondentes à perda de 60% dos neurônios dessas regiões e 80% da dopamina do núcleo estriado. EPIDEMIOLOGIA Preferencialmente, acomete pessoas com idade superior a 50 anos de ambos os sexos, diferentes raças e classes sociais. A incidência e a prevalência aumentam com o avançar da idade. ETIOPATOGENIA E FATORES DE RISCO Apesar do grande avanço de novos conhecimentos sobre a DP, sua causa permanece desconhecida. Estudos encontraram a presença das seguintes relações: ● Fatores genéticos: Cerca de 20 a 25% dos portadores de DP têm pelo menos um parente de primeiro grau com a doença; Presença do gene da alfassinucleína em famílias italianas e do gene Parkin em famílias japonesas. A hereditariedade pode contribuir para a degeneração celular por mecanismo de suscetibilidade geneticamente determinada a toxinas ambientais ou defeito genético capaz de gerar toxina endógena. ● Fatores ambientais: o agente químico MPTP(1-metil-4fenil-1,2,3,6-tetrahidropiridina), isolado a partir de heroína sintética, induz parkinsonismo em primatas. Exposição a toxinas agroindustriais e à ingestão de água de poço. Há algumas teorias atualmente propostas para explicar os mecanismos envolvidos na lesão neuronal, constituindo possíveis fatores etiopatogênicos da DP idiopática: ■Teoria do estresse oxidativo (acúmulo de radicais livres na substância nigra) ■Teoria da deficiência e anormalidades das mitocôndrias da substância nigra ■Teoria da excitotoxicidade (atividade aumentada dos neurotransmissores excitatórios) ■Presença de fatores gliais e inflamatórios ■Neurotoxinas ambientais (encontradas na água em zonas rurais, em algumas plantas, herbicidas ou pesticidas) ■Fatores genéticos. FISIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA Os gânglios da base são estruturas subcorticais derivadas do telencéfalo e diencéfalo que formam grupos nucleares anatomicamente independentes que consistem em estriado (núcleo caudado e putamen), globos pálidos, núcleo subtalâmico e substância nigra. Os movimentos iniciados em nível cortical são facilitados pelos gânglios da base e os movimentos contrários são inibidos. O núcleo estriado lança projeções diretas e indiretas aos principais núcleos de estimulação eferente dos gânglios da base, parte reticulada da substância nigra e do globo pálido interno. ● A via direta que parte do estriado e dirige-se à parte reticulada da substância nigra e do globo pálido é GABAérgica e inibitória. Essa via facilita as projeções talamocorticais, que reforçam os movimentos iniciados no córtex. ● A via indireta inibe as projeções talamocorticais para outras áreas do córtex motor. O desequilíbrio das atividades destes circuitos pode levar aos achados hipocinéticos e hipercinéticos observados nas doenças dos gânglios da base. Neurotransmissores envolvidos: a dopamina, o ácido gama-aminobutírico (GABA) e o glutamato Na doença de Parkinson, como há degeneração dos neurônios da parte compacta da substância negra, há diminuição dos neurotransmissores dopaminérgicos, que equilibram* as vias direta e indireta através dos receptores D1 e D2 localizados no núcleo estriado. *A estimulação do R D1 é excitatória da via direta, estimula o n. estriado a inibir o GPI; já a estimulação do R D2 é inibitória da via indireta. Logo, tanto D1 e D2 estimulam o movimento. Dessa forma, perde-se a inibição da via indireta e perde a estimulação da via direta. A perda da inibição da via indireta culmina na inibição do GPE, o que vai hiperestimular o núcleo subtalâmico e por conseguinte, estimula o GPI, que envia sinais inibitórios para o tálamo, dessa forma, não há o envio da informação do movimento ao córtex. APRESENTAÇÃO CLÍNICA TÍPICA Os sinais cardinais da doença de Parkinson são: bradicinesia, rigidez, tremor de repouso e instabilidade postural. → A bradicinesia é a característica mais comum dessa doença e traduz-se pelo alentecimento ou dificuldade de iniciar o movimento voluntário ou automático. → A rigidez muscular é plástica e representada por uma resistência à movimentação passiva dos membros, pescoço e tronco. Traduz-se pela fragmentação do movimento; este não ocorre de forma contínua e sim entrecortada, como uma roda dentada; os músculos do segmento são afetados como um todo. → O tremor de repouso é o primeiro sintoma reconhecido em indivíduos portadores de DP, geralmente, o tremor é assimétrico, acometendo um ou mais membros. A forma mais característica é a de movimentos rítmicos dos dedos das mãos, semelhante ao ato de contar dinheiro ou de rolar pílulas. Tende a piorar com o estresse e a desaparecer durante o sono. →A instabilidade postural é decorrente das alterações dos reflexos posturais, ocasionando maior número de quedas. Além dos sinais cardinais, podemos encontrar outras manifestações motoras características da DP: ■Postura parkinsoniana: a postura flexionada para frente na fase inicial pode não ser notada, porém, com a evolução, a cabeça e o tronco ficam fletidos ventralmente, os braços estão à frente do corpo; cotovelos e joelhos flexionados. ■Marcha parkinsoniana: a marcha caracteriza-se por um deslocamento em bloco, com passos curtos e arrastados, sem a participação dos movimentos dos braços. Pode ocorrer a festinação da marcha, que são passos curtos e rápidos quase sem deslocamento que vão aumentando progressivamente sua amplitude, até conseguir andar. ■Bloqueio motor: freezing que corresponde à impossibilidade extrema e súbita de iniciar ou continuar um movimento, mais evidente durante a marcha, ao passar por uma porta ou transpor uma linha ou obstáculo no solo. Além dos sinais motores, ocorrem alterações em outros sistemas: ● Fácies inexpressiva ou hipomimia, ● Fala hipofônica, ● Micrografia, ● Não balançar o membro superior ao caminhar, ● Acúmulo de saliva na cavidade bucal, ● Aumento do tempo para realizar as refeições e dificuldade de realizar as atividades de vida diária (AVD). ● Depressão e/ou Ansiedade ● Comprometimento cognitivo e demência (até 80% dos pacientes desenvolvem demência, em fases mais tardias e avançadas da doença) ● Cãibras ● Hipotensão ortostática DIAGNÓSTICO Não há marcador biológico para a DP. O diagnóstico da doença é clínico e em etapas, dependendo de adequadas anamnese, exame físico e identificação de parkinsonismo. Neuroimagem e exames laboratoriais são úteis apenas para afastar outras causas. Critério diagnósticos de DP NEUROIMAGEM A principal característica neuropatológica da DP é a degeneração da via dopaminérgica nigrostriatal, com perda de neurônios dopaminérgicos contendo neuromelanina (NML) e de nigrossomos (NG). Estes últimos são pequenos cluster de células dopaminérgicas na região ventro lateral da substâncianigra pars compacta (SNpc). Esta estrutura, tem seus neurônios precocemente afetados na DP, estando cerca de 60 a 80% já degenerados, muito antes do surgimento dos primeiros sintomas motores. A presença do NG na RM forma uma imagem que se assemelha à cauda de uma andorinha, sendo denominada de “sinal da cauda da andorinha”. Quando o sinal está presente na RM, interpreta-se que há uma preservação da via nigroestriatal. E sua ausência indica degeneração desta via (ausência do sinal da cauda da andorinha). DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Tremor essencial É o principal transtorno de movimento em idosos. Geralmente é postural ou cinético das mãos e antebraços, bilateral e com frequência de 4 a 6 Hz, podendo acometer a cabeça, sem evidência de distonia associada. É um tremor persistente, visível, e em cerca de metade dos casos há história familiar (autossômico dominante). Por vezes, necessita de tratamento com propranolol. Parkinsonismos ➔ Parkinsonismo medicamentoso: Forma reversível causada por drogas antidopaminérgicas, como antipsicóticos, antieméticos (metoclopramida), antagonistas dos canais de cálcio, antihipertensivos (metildopa, anlodipino), amiodarona, lítio, etc. O desaparecimento dos sintomas pode demorar: o diagnóstico definitivo pode exigir observação por até 1 ano após a suspensão. ➔ Parkinsonismo vascular: Mais comum em hipertensos, com história de AVE, ou com risco para DCV. Resulta da oclusão das artérias lenticuloestriadas, que irrigam os núcleos da base, ou de outras lesões no mesencéfalo. São comuns outras manifestações neurológicas motoras, além de alterações da marcha e demência: o tremor é raro e muitas vezes só os MMII têm parkinsonismo (pseudoparkinsonismo). Antiparkinsonianos não são muito efetivos ➔ Parkinsonismo tóxico: O contato com CO e Mn, por exemplo, pode ocasionar síndrome parkinsoniana, além do MPTP, metanol, organofosforados e herbicidas Síndrome Parkinson-plus São formas mais incapacitantes de parkinsonismo secundário, com sintomatologia atípica, nas quais a degeneração acomete outras regiões do SNC mais intensamente que na DP. São sinais de alerta para parkinsonismo atipico: ● Sinais parkinsonianos simétricos ● Acometimento precoce da fala e da deglutição ● Alterações precoces do equilíbrio e da marcha, ● Sinais piramidais (espasticidade e hiperreflexia) ● Sinais cerebelares (ataxia, dismetria) ● Mioclonias ● Disfunções autonômicas precoces e acentuadas ● Demência em fase inicial da doença ● Pouca ou nenhuma resposta à levodopa Paralisia supranuclear progressiva O início é mais tardio que na DP. Os primeiros sintomas da PSP são perda do equilíbrio e quedas na marcha. Outros sintomas são alterações da personalidade com perda de interesse em atividades, depressão, irritabilidade, esquecimento, dificuldade em alternar movimentos em sequência, etc. Com o tempo, pode haver visão embaçada e dificuldade para controlar movimentos oculares. A fala fica arrastada, pouco articulada, e há disfagia precoce. Demência com corpos de Lewy Sinais parkinsonianos geralmente são simétricos e há alterações do equilíbrio, podendo aparecer antes ou depois dos sintomas mentais, mas, na DP, sinais motores aparecem sempre antes da demência. Além disso, a evolução é mais rápida na DCL que na DP. Doença de Huntington É um distúrbio cerebral degenerativo, hereditário, autossômico dominante, progressivo, que surge habitualmente na idade adulta, entre a 30-40 anos, podendo também iniciar no idoso. Caracteriza-se por coreia, distúrbios da personalidade e declínio cognitivo.No começo, pode ser despercebido, tornando-se incapacitante. Há evolução para deficiência motora completa, incapacidade funcional e demência, geralmente com óbito após 15-20 anos. Coreias Caracteriza-se por um movimento irregular, espasmódico, rápido, dos segmentos distais dos membros, face e estruturas axiais. Tem pequena prevalência no idoso, com causa não estabelecida. Nos idosos, os sintomas não interferem nas AVD's. O diagnóstico diferencial principal é a doença de Huntington. TRATAMENTO 1) Farmacoterapia Precursor dopaminérgico A levodopa é padrão-ouro no controle dos sintomas da DP. É usada, preferencialmente, em associação a um inibidor da dopadescarboxilase periférica (benserazida ou carbidopa), que impede a transformação periférica em dopamina, diminuindo náuseas, vômitos, hipotensão ortostática e sonolência. Por apresentar meia-vida de 2h, deve ser administrada de 3 a 4 vezes/dia. Prescrever as tomadas para 1 hora antes ou 2 horas após as refeições. A resposta para bradicinesia e rigidez tende a ser imediata. Com a progressão, há percepção de momentos de desempenho funcional insatisfatório, sendo necessário aumentar a dose e/ou diminuir o intervalo entre as tomadas. Complicações motores: discinesias (mov.involuntarios) com uso prolongado, deterioração do final da dose, flutuação on-off Inibidores da catecol-O-metiltransferase A COMT metaboliza a levodopa em 3-O-metildopa, diminuindo a transformação em dopamina. A associação de um I-COMT é uma opção que possibilita uma redução do número de tomadas da levodopa sem aumentar as flutuações. Contudo, não têm ação antiparkinsoniana. O exemplo é a entacapona. Agonistas dopaminérgicos Estimulam diretamente os receptores dopaminérgicos. Entretanto, não são bem tolerados pelos idosos, com maior incidência de náuseas, vômitos, efeitos cardiovasculares e psiquiátricos. O pramipexol pode tanto ser utilizado como monoterapia nas fases iniciais, reduzindo o aparecimento de discinesias, como em associação com baixas doses de levodopa. Efeitos colaterais: náuseas, sonolência, hipotensão ortostática, alterações psiquiátricas (compulsão). Inibidores da MAO-B Ação: bloqueia o metabolismo da dopamina e aumenta a atividade dopaminérgica na substância negra. O NICE recomenda os inibidores da MAO-B como uma opção para tratar a doença em estágio inicial se os sintomas motores não afetarem a qualidade de vida. Podem ser menos eficazes para melhorar os sintomas motores e as atividades da vida diária e podem ter menor risco de complicações motoras, sonolência excessiva, alucinações e distúrbios do controle dos impulsos. Representantes: selegilina ou rasagilina Amantadina É uma alternativa para um inibidor da monoamina oxidase B como terapia antiparkinsoniana de baixa potência para pacientes com sintomas leves, principalmente quando o tremor é proeminente. Possui ação agonista dopaminérgica, tem propriedades antagonistas do receptor N-metil-D-aspartato (NMDA) que podem ser responsáveis por seu efeito terapêutico por interferir na neurotransmissão excessiva do glutamato nos gânglios da base. Ação:efeitos diretos e indiretos nos neurônios da dopamina, aumentando a liberação deste neurotransmissor, inibindo a recaptação de dopamina, estimulando seus receptores. Efeitos colaterais: ansiedade, insônia, delírios, alucinações, paranóia, hipotensão ortostática, pré-síncope, síncope, boca seca, constipação. Indicações terapêuticas A opção à levodopa na fase inicial são os agonistas dopaminérgicos quando a sintomatologia é mais significativa. Se os sintomas são leves e não incapacitantes, podemos optar por inibidores da monoaminoxidase tipo B (IMAO-B). Outras indicações de postergar a levodopa incluem sintomas leves, tremor como sintoma predominante e idade < 65 anos. As indicações para utilizar levodopa na fase inicial da DP são em idosos com mais de 70 anos ou com comprometimento cognitivo, ou aqueles com grave incapacitação e/ou com emprego ameaçado. 2) Tratamento não farmacológico Tratamentos paralelos A fisioterapia traz benefícios ao doente com DP. Há ganho na força muscular, flexibilidade, com melhora do equilíbrio, postura e redução da bradicinesia e rigidez. O trabalho fonoaudiológico é efetivo em melhorar a voz e a deglutição, devendo ser iniciado precocemente. Orientação nutricional permite diminuir o agravo das complicações frequentes no curso da doença. Tratamento cirúrgico 1. DBS ( Estimulação cerebral profunda) Método que consiste no posicionamento específico doeletrodo na área alvo (globus pallidus interno, ventralis intermedius, área subtalâmica posterior).Considerar se DP avançada com sintomas que não são adequadamente controlados pela melhor terapia médica. 2. Cirurgias Ablativas (muito pouco utilizadas) A cirurgia pode ser ablativa, com destruição de áreas cerebrais, sendo os alvos mais utilizados o tálamo, o globo pálido interno e o núcleo subtalâmico. A indicação requer avaliação criteriosa, envolvendo o tempo de doença, a resposta à levodopa, as flutuações, as discinesias e a presença de comorbidades. Complicações decorrentes do tratamento e outras comorbidades Em torno de 5 anos de tratamento com levodopa, ou levodopa em associação a outro agente, já não se observa o efeito significativo da melhora da sintomatologia e começam a surgir complicações motoras, autonômicas e psiquiátricas. Deterioração de fim de dose (fenômeno wearing-off): Caracteriza-se por um encurtamento do efeito do medicamento, sendo a flutuação mais frequente, normalmente a primeira a ser relatada pelo parkinsoniano e a que mais leva à automedicação. “Flutuações motoras” se referem a respostas motoras flutuantes à administração de levodopa, com encurtamento da duração de seu efeito (fenômeno do wearing off) e interrupção súbita de sua ação, levando a uma situação "resposta-falta" (fenômeno on-off) de resposta ao medicamento. A redução dos intervalos de tomadas, a associação de um agonista dopaminérgico ou inibidor da COMT, bem como a introdução de levodopa de liberação lenta são as medidas que devem ser tentadas. → Alternância de período de boa resposta à medicação e período insatisfatório (fenômeno on-off): Esta situação tende a ocorrer de forma abrupta, sem relação com a tomada do medicamento e com períodos maiores de imobilidade, períodos off. Como conduta, pode-se fracionar as doses e reduzir os intervalos, tentar associar um inibidor da COMT ou agonista dopaminérgico. Há evidências de que a associação de rasagilina na fase avançada da DP possa reduzir o período off. A concentração das proteínas da dieta em uma refeição pode também ser benéfica. Discinesias relacionadas ao uso de levodopa: As discinesias constituem outro grupo de complicações e se caracterizam por movimentos involuntários anormais como coreia, distonia dolorosa, atetose, mioclonia e tiques. Ajustes das doses da levodopa (redução da dose total) que tende a piorar os períodos off e inviabilizando por vezes essa medida, associação de agonista dopaminérgico, reduzir e se possível suspender os inibidores da COMT (entacapona no Brasil) e inibidores MAO-B. A amantadina tem ação antidiscinética, por um período, em média, de 6 meses quando perde o seu efeito; alguns pacientes poderão se beneficiar dos tratamentos cirúrgicos nesta fase da doença, especialmente a implantação de marca-passo central para a estimulação do núcleo subtalâmico, quando muito incapacitantes e não responsivas aos ajustes medicamentosos. Bloqueio motor – freezing (60% dos portadores de DP): Corresponde à impossibilidade súbita de iniciar ou continuar um movimento que tende a ocorrer ao cruzar um portal, entrar em um elevador. A fisioterapia com utilização de pistas externas é eficaz em reduzir o bloqueio motor durante a marcha. Depressão: Principal manifestação neuropsiquiátrica da DP. A depressão pode ter resposta satisfatória ao uso de antidepressivos tricíclicos (nortriptilina) com maior incidência de efeitos anticolinérgicos ou ISRS (paroxetina), e de inibidores de dupla receptação (venlafaxina). Não há evidências de superioridade entre as classes. Os estudos com pramipexol têm demonstrado potencial efeito antidepressivo nestes pacientes. Psicose, alucinações e confusão mental (50% dos pacientes). Os quadros de psicose podem ser decorrentes da medicação, que deve ser reajustada, e sendo necessário, devem ser suspensos nesta ordem: anticolinérgicos, amantadina, agonistas dopaminérgicos. No idoso, a utilização de antipsicóticos deve ser evitada, mas após serem descartadas condições de delirium, efeitos adversos dos medicamentos e tratadas as intercorrências clínicas, a clozapina em baixas doses é eficaz em controlar os sintomas psicóticos na DP, é importante monitorar a contagem de glóbulos brancos. A quetiapina também pode ser utilizada, porém não há evidências de que seja superior à clozapina. → Síndrome de desregulação dopaminérgica (SDD) e transtornos do controle de impulsos: A SDD é a compulsão para ingerir medicação dopaminérgica ocasionando comportamentos motores complexos chamados de punding e pode estar associada a transtornos do controle de impulsos como vícios em jogos, compulsão por compras, comidas e hipersexualidade. São abordados com a redução ou na maior parte das vezes com a necessidade de suspensão da medicação dopaminérgica, particularmente dos agonistas dopaminérgicos. Síndrome das pernas inquietas (SPI) e movimento periódico de extremidades (MPE): Cinco critérios clínicos são essenciais para o diagnóstico da SPI: (1) necessidade imperiosa de movimentar as pernas com sensações desconfortáveis; (2) sintomas pioram no repouso; (3) sintomas são aliviados pelo movimento; (4) piora no fim do dia ou à noite; (5) os sintomas não são explicados por outras condições clínicas. O tratamento recomendado para SPI e MPE na doença de Parkinson é a utilização de pramipexol e levodopa. A pregabalina na dose de 300 mg proporciona melhora substancial. Transtorno comportamental do sono REM (TCSREM): Caracteriza-se por atividade muscular durante o período do sono REM, com comportamentos complexos, agressividade, sonhos vívidos e podendo ocasionar lesões cutâneas, musculares, ortopédicas tanto no paciente como no companheiro de cama. Caso não haja risco, como a presença de apneia obstrutiva, o ansiolítico clonazepam é a indicação formal para TCSREM na doença de Parkinson.