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Gazzaniga Capítulo 4 - Atencao e consciencia

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Pergunte e responda
4.1 O que é 
consciência? 132
4.2 O que é o sono? 144
4.3 O que é consciência 
alterada? 155
4.4 Como as drogas afetam 
a consciência? 160
Consciência 4
IMAGINE ACORDAR NO HOSPITAL e a única coisa que você consegue mover 
são suas pálpebras. Você não consegue conversar nem indicar que está sentindo 
dor. Por fim, alguém percebe que você consegue piscar de maneira voluntária e, 
juntos, vocês trabalham em um sistema de comunicação. Em 2000, quando tinha 
16 anos, Erik Ramsey se viu nessa situação depois de ter o tronco encefálico 
lesado em um acidente de carro. Desde então, Ramsey sofre da síndrome do en-
carceramento. Nessa condição rara, todos ou quase todos os músculos voluntá-
rios do corpo da pessoa são paralisados. Mesmo quando Ramsey está acordado 
e alerta, não consegue se comunicar com aqueles que estão a sua volta, a não 
ser movendo os olhos para cima e para baixo (FIG. 4.1). 
Como estado psicológico, a síndrome do encarceramento tem sido compa-
rada a ser enterrado vivo. Imagine que você vê tudo que está no cenário ao seu 
redor e ouve cada barulho, mas não consegue responder fisicamente a essas 
imagens e sons. Imagine que você consegue sentir 
cada coceira, mas não pode se coçar nem se mover 
para aliviá-la. Por mais difícil que seja imaginar isso, 
Erik teve sorte em continuar sendo capaz de piscar. 
Outros pacientes que passaram por essa situação 
não têm movimento muscular voluntário. Muitas ve-
zes, durante anos, comete-se o engano de considerar 
que essas pessoas estão em coma, e elas não rece-
bem medicação para dor nem comunicação social-
mente apropriada. 
Os avanços científicos recentes levantaram 
a possibilidade de que Ramsey e outros pacientes 
como ele venham a ser capazes de se comunicar. 
Ou seja, poderíamos conseguir “ler” os pensamen-
tos deles por meio de imagens da atividade cerebral 
em tempo real. A comunicação desse tipo é a meta 
de pesquisadores que, em 2004, plantaram eletrodos 
na região da fala junto ao hemisfério esquerdo de 
FIGURA 4.1 Consciente, mas prisioneiro. Erik Ramsey 
(à direita, com o pai Eddie) sofre da síndrome do encar-
ceramento. Tem total consciência, mas sua condição o 
deixa quase completamente incapaz de se comunicar.
132 Ciência psicológica
Ramsey. Há mais ou menos uma 
década, Ramsey ouve gravações 
de sons de vogais e simula men-
talmente esses sons. Essa simu-
lação do som de cada vogal deve 
produzir seu próprio padrão distin-
to de atividade cerebral. Por fim, os 
pesquisadores esperam usar essa 
atividade cerebral para criar um 
sintetizador de voz que irá traduzir 
os padrões neurais de Ramsey em 
fala compreensível (Bartels et al., 
2008). Até agora, os cientistas que 
trabalham com Ramsey demons-
traram que ele consegue produzir 
numerosos sons vocálicos especí-
ficos (Guenther et al., 2009).
Outros pesquisadores ob-
tiveram resultados similarmente 
promissores. Uma mulher de 23 anos aparentemente em coma foi solicitada 
a imaginar-se jogando tênis ou caminhando pela casa (Owen et al., 2006). Seu 
padrão de atividade cerebral se tornou bastante semelhante aos padrões de con-
trole de indivíduos que também se imaginaram jogando tênis ou andando pela 
casa (FIG. 4.2). Ela era incapaz de enviar sinais externos de consciência, mas os 
pesquisadores acreditavam que conseguia entender a linguagem e responder às 
solicitações dos pesquisadores. 
As implicações desse achado são extraordinárias. O método dos pesqui-
sadores poderia ser usado para alcançar outras pessoas em estado de coma, 
conscientes de seu entorno, porém incapazes de se comunicar? De fato, essa 
equipe de pesquisa já avaliou 54 pacientes em coma e constatou que cinco deles 
conseguiam controlar deliberadamente a atividade cerebral para se comunicar 
(Monti et al., 2010). Um homem de 29 anos conseguiu responder corretamente 
cinco de seis perguntas sim/não pensando em um tipo de imagem para respon-
der “sim” e em outro para responder “não”. A capacidade de se comunicar a par-
tir de um estado de coma poderia permitir que alguns pacientes expressassem 
pensamentos e pedissem mais medicação, além de melhorar a qualidade de 
suas vidas (Fernández-Espejo & Owen, 2013). Esses avanços acrescentam um 
fato surpreendente: algumas pessoas em coma estão conscientes!
4.1 O que é consciência?
Este capítulo se volta para a consciência e suas variações. Os casos discutidos na 
abertura do capítulo destacam seus dois pontos principais. Primeiro, as pessoas po-
dem estar conscientes de seu entorno mesmo quando aparentam o contrário. Se-
gundo, as experiências conscientes estão associadas com a atividade cerebral. Para 
entender a relação existente entre cérebro e consciência, precisamos considerar de 
que modo as experiências conscientes diferem. Conforme explorado adiante neste 
Regiões similares do 
cérebro foram ativadas 
na paciente em coma...
...e nos voluntários 
sadios, quando todos se 
visualizaram nas mesmas 
atividades. 
Imagem de tênis
Paciente
Controles
Imagem de navegação espacial
FIGURA 4.2 Em coma, mas consciente. As imagens cerebrais do topo são 
de uma jovem paciente em coma que não apresentava sinais exteriores de 
consciência. As imagens de baixo formam uma composição obtida do grupo-
-controle, constituído por voluntários saudáveis. Foi solicitado a ambos, pa-
ciente e grupo-controle, que se visualizassem primeiramente jogando tênis e, 
depois, andando em volta de uma casa. Logo depois que as instruções foram 
dadas, a atividade neural do cérebro da paciente se mostrou similar à dos 
indivíduos do grupo-controle.
Objetivos de 
aprendizagem
 � Definir consciência.
 � Identificar vários estados de 
consciência. 
 � Discutir como os processos 
inconscientes influenciam 
o pensamento e o 
comportamento. 
 � Explicar como a atividade 
cerebral origina a 
consciência. 
Capítulo 4 Consciência 133
capítulo, a consciência apresenta variações naturais (p. ex., sono). Além disso, as 
pessoas manipulam a consciência por meio de métodos naturais (p. ex., meditação) 
e artificiais (p. ex., drogas). Adicionalmente, dada a natureza da consciência, as expe-
riências conscientes diferem de pessoa para pessoa. 
A consciência é uma experiência subjetiva
Consciência se refere a experiências subjetivas de momento a momento. Prestar aten-
ção ao seu entorno imediato é uma experiência desse tipo. Refletir sobre seus pen-
samentos atuais é outra. Você sabe que está consciente porque está vivenciando a 
experiência do mundo exterior, por meio dos seus sentidos, e por saber que está 
pensando. Mas o que origina a sua consciência? Você está consciente apenas porque 
muitos neurônios estão disparando em seu cérebro? Se for isso, como as ações des-
ses circuitos cerebrais se relacionam com suas experiências subjetivas de mundo? 
O seu corpo inclui muitos sistemas biológicos ativos, como seu sistema imune, que 
não produzem o tipo de consciência que você está vivenciando neste exato momento. 
A cada minuto, seu cérebro está regulando sua temperatura corporal, controlando a 
sua respiração, recordando as suas memórias conforme a necessidade, e assim por 
diante. Você não tem consciência das operações cerebrais que fazem essas coisas. Por 
que temos consciência apenas de certas experiências? 
Há muito tempo, os filósofos discutem questões sobre a natureza da consciên-
cia. Como discutido no Capítulo 1, o filósofo do século XVII, René Descartes, afirmou 
que a mente é fisicamente distinta do cérebro – uma perspectiva chamada dualismo. 
A maioria dos psicólogos rejeita o dualismo. Preferem acreditar que o cérebro 
e a mente são inseparáveis. De acordo com essa visão, a atividade dos neurô-
nios produz os conteúdos de consciência: a visão de um rosto, o perfume de 
uma rosa. Mais especificamente, para cada tipo de conteúdo – cada visão, cada 
cheiro – existe um padrão associado de atividade cerebral. A ativação desse 
grupo particular de neurônios, de algum modo, origina a experiência conscien-
te. Entretanto, como cada um de nós vivenciaa consciência de modo pessoal, 
ou seja, subjetivamente, não podemos saber se duas pessoas quaisquer viven-
ciam o mundo exatamente do mesmo modo. Como a cor vermelha lhe parece 
(FIG. 4.3)? Como é o gosto de uma maçã?
Conforme discutido no Capítulo 1, os pioneiros da psicologia tentaram 
entender a consciência por meio da introspecção. Os psicólogos abandona-
ram extensivamente esse método por causa de sua natureza subjetiva. As 
experiências conscientes existem, mas sua natureza subjetiva as torna difíceis 
de estudar de maneira empírica. Não há como saber se a experiência que cada 
pessoa faz de uma coisa (seu formato, tamanho, cor, etc.) é a mesma ou se 
cada indivíduo usa as mesmas palavras para descrever uma experiência dis-
tinta. Quando crianças brincam de “I spy with my little eye”, os participantes 
podem olhar para a mesma coisa – dizer “uma coisa vermelha” – e vivenciá-la 
de maneiras distintas. Os rótulos aplicados à experiência não necessariamente 
fazem jus à experiência. 
A consciência envolve atenção
A experiência consciente geralmente é unificada e coerente. Nessa visão, a 
mente é uma corrente contínua, na qual os pensamentos flutuam. Entretanto, 
há um limite para a quantidade de coisas de que a mente pode ter consciência 
ao mesmo tempo. 
Ao ler este capítulo, para onde você direciona a sua atenção, ou cons-
ciência? Você enfoca intencionalmente o material? A sua mente divaga oca-
sionalmente ou com frequência? Você não pode prestar atenção na leitura 
enquanto faz várias coisas, como assistir à TV ou escrever. Conforme presta 
atenção naquilo que está acontecendo na TV, poderá perceber que não faz ideia 
do que acabou de ler ou da resposta que seu amigo acabou de dar. Do mesmo 
modo, você pode pensar sobre o que fará amanhã, qual tipo de carro gostaria 
de comprar e onde passou as últimas férias – mas não pode pensar em tudo 
isso ao mesmo tempo. Ao dirigir para um destino familiar, você já se pegou 
pensando em outra coisa que não em estar dirigindo? Antes de se dar conta 
Consciência
Experiência subjetiva de mundo de 
uma pessoa, resultando em atividade 
cerebral.
“Vermelho”
ou
“Vermelho” “Vermelho”
FIGURA 4.3 Enxergando a cor 
vermelha. Uma difícil questão 
relacionada à consciência é se as 
experiências subjetivas do mundo 
são similares. Exemplificando, 
a cor vermelha é a mesma para 
todos que apresentam visão de 
cores normal?
134 Ciência psicológica
disto, você chegou. Mas como chegou lá? Você sabia que tinha dirigido, mas não 
podia se lembrar dos detalhes da ida, como se parou no semáforo ou ultrapas-
sou outros veículos. A atenção envolve ser capaz de focar seletivamente algumas 
coisas e evitar outras. Embora sejam diferentes, atenção e consciência muitas 
vezes andam de mãos dadas.
Em seu livro Rápido e devagar: duas formas de pensar (2011), o ganha-
dor do prêmio Nobel, Daniel Kahneman, diferencia entre os processos automá-
tico e controlado. Em geral, todos podemos executar tarefas rotineiras ou auto-
máticas (como dirigir, caminhar ou entender o significado das palavras escritas 
nesta página) que são tão bem aprendidas que nós as fazemos sem prestar muita 
atenção. De fato, prestar atenção demais pode interferir nesses comportamentos 
automáticos. Tente pensar em cada passo que você dá enquanto anda – isso tor-
na a caminhada muito mais estranha. Em contraste, as tarefas difíceis ou pouco 
familiares exigem que as pessoas prestem atenção. Esse processamento contro-
lado é mais lento do que o processamento automático, mas ajuda as pessoas 
no desempenho em situações complexas ou novas. Exemplificando, se surgir 
uma tempestade enquanto você estiver dirigindo, será necessário prestar mais 
atenção e estar bastante consciente acerca das condições da estrada (FIG. 4.4). 
Conforme observado no Capítulo 2, comportamentos como ler, comer, falar no 
celular ou escrever são perigosos quando se conduz um veículo, porque distraem 
a atenção do motorista. Os celulares hands-free não resolvem o problema da 
atenção. Como os condutores que usam esse tipo de celular ainda têm que divi-
dir a atenção entre múltiplas tarefas, usar tais dispositivos pode ser tão perigoso 
quanto falar segurando o aparelho (Ishigami & Klein, 2009). 
Ao pensar sobre o poder da distração, considere o fenômeno do coquetel. 
Em 1953, o psicólogo E. C. Cherry descreveu o processo desse modo. Você 
pode se concentrar em uma única conversa no meio de um coquetel caótico. 
Entretanto, um estímulo particularmente pertinente, como ouvir seu nome ser 
mencionado em outra conversa ou ouvir uma fofoca picante, pode capturar a 
sua atenção. Como a sua atenção agora está dividida, aquilo que você conse-
gue entender do novo estímulo é menos do que seria se você estivesse com sua 
atenção totalmente voltada a ele. Se você de fato quiser ouvir a outra conversa 
ou fofoca, precisará focar a sua atenção nela. Certamente, ao redirecionar a sua 
atenção dessa forma, é provável que não consiga acompanhar o que o convidado 
da festa que está mais próximo (e, portanto, que fala mais alto) está dizendo. 
Você perderá o fio da meada da sua conversa original. 
Cherry desenvolveu estudos de escuta seletiva para examinar o que a men-
te faz com a informação em que não se presta atenção quando se está atento a 
uma dada tarefa. Para tanto, Cherry usou uma técnica chamada sombreamento. 
Nesse procedimento, um participante usa fones de ouvido que transmitem uma 
mensagem em uma orelha e outra mensagem diferente na outra orelha. A pessoa 
então é solicitada a prestar atenção em uma dessas duas mensagens e a “som-
breá-la”, repetindo-a em voz alta. Como resultado, o indivíduo geralmente perce-
be o som no qual não estava prestando atenção (a mensagem transmitida a outra 
orelha), mas terá pouco conhecimento sobre o conteúdo desse som (FIG. 4.5).
Imagine-se participando de um experimento sobre o que acontece com as men-
sagens em que não se presta atenção. Você está repetindo tudo que é dito em uma 
orelha (sombreamento) e ignorando a mensagem falada na outra. O que aconteceria 
se o seu próprio nome fosse falado na orelha que está sendo ignorada? Você provavel-
mente ouviria seu próprio nome, todavia sem saber nada sobre o resto da mensagem. 
Alguma informação relevante passa pelo filtro da atenção. Essa informação tem que 
ser pessoalmente relevante, como o seu nome ou o nome de alguém que lhe é pró-
ximo, ou precisa ter volume suficientemente alto ou ser fisicamente diferente de um 
modo evidente. 
ATENÇÃO SELETIVA. Em 1958, o psicólogo Donald Broadbent desenvolveu a teoria 
do filtro para explicar a natureza seletiva da atenção. Ele assumiu que as pessoas têm 
capacidade limitada para informação sensorial. Elas fazem uma triagem da informa-
ção que chega, para permitir a entrada apenas do material mais importante. Nesse 
modelo, a atenção atua como um portão que abre para a informação importante e 
fecha para a informação irrelevante. Em contrapartida, nós de fato podemos fechar a 
porta para ignorar certas informações? Quando e como fechamos a porta?
(c)
(b)
(a)
FIGURA 4.4 Processamento au-
tomático versus processamento 
controlado. (a) Um motorista 
experiente pode contar com o 
processamento automático ao 
realizar essa tarefa. (b) Um mo-
torista inexperiente deve usar 
o processamento controlado. 
(c) Durante uma tempestade, 
um motorista experiente deve 
reverter para o processamento 
controlado.
Capítulo 4 Consciência 135
Alguns estímulos demandam foco e quase des-
ligam a capacidade de prestar atenção em qualquer 
outra coisa. Imagine que você esteja focando a aten-
ção na leitura deste livro e, de repente, desenvolve 
cãibra muscular. O que acontecerá com sua atenção? 
A dor aguda da cãibra demandará a sua atenção e 
qualquer coisa que você estiver lendo deixará a sua 
consciência enquanto prestar atenção no músculo. 
De modo similar, estímulos como aqueles que evo-
cam emoções podem capturar prontamente a aten-
ção por fornecerem informação importante sobre as 
potenciais ameaças emum ambiente (Phelps, Ling, & 
Carrasco, 2006). Um objeto produz uma resposta de 
atenção mais forte quando é visto como socialmen-
te relevante (p. ex., um olho) do que quando é visto 
como não social (p. ex., uma ponta de seta) (Tipper, 
Handy, Giesbrecht, & Kingstone, 2008).
As decisões sobre em que prestar atenção são 
tomadas no início do processo de percepção. Ao mes-
mo tempo, porém, a informação em que não se presta 
atenção é processada ao menos até certo ponto. Vá-
rios estudos de escuta seletiva constataram que, mes-
mo quando os participantes não conseguem repetir 
uma mensagem em que não prestaram atenção, eles processam seu conteúdo. Em um 
experimento, foi dito aos participantes para prestar atenção à mensagem recebida em 
uma orelha: “Eles atiraram pedras no banco, ontem.” Ao mesmo tempo, foi apresenta-
da à orelha desatenta uma entre duas palavras: “rio” ou “dinheiro”. Posteriormente, os 
participantes não conseguiram relatar as palavras que não ouviram com atenção. En-
tretanto, os participantes que receberam a palavra “rio” interpretaram a sentença como 
se dissesse que alguém tinha atirado pedras no leito do rio. Aqueles que receberam 
a palavra “dinheiro” interpretaram a sentença como se dissessem que alguém tinha 
lançado pedras em uma instituição financeira (MacKay, 1973). Assim, eles extraíram 
significado da palavra mesmo quando não a processaram de maneira consciente. 
CEGUEIRA À MUDANÇA. Para entender o quanto podemos ser desatentos, consi-
dere o fenômeno conhecido como cegueira à mudança. Como não podemos prestar 
atenção em toda a vasta gama de informação visual disponível, costumamos ser “ce-
gos” às mudanças amplas que ocorrem em nossos ambientes. Exemplificando, você 
perceberia se a pessoa com quem estivesse conversando de repente se transformasse 
em outra? Em dois estudos, os participantes ficaram em um campus universitário, e 
um estranho, então, se aproximava deles e lhes pedia orientação. Esse indivíduo, em 
seguida, era momentaneamente bloqueado por um objeto grande e, estando oculto, 
era substituído por outra pessoa do mesmo sexo e raça. Quinze por cento daqueles 
que estavam dando orientação jamais perceberam que passaram a conversar com 
uma pessoa diferente. Ao fornecermos orientação a um estranho, normalmente não 
prestamos atenção às características distintivas de sua face ou de sua roupa. Se não 
conseguimos lembrar essas características depois, não é porque as esquecemos. Mais 
provavelmente, isso ocorre porque jamais as processamos muito bem. Afinal de con-
tas, com qual frequência precisamos lembrar esse tipo de informação (Simons & Le-
vin, 1998)? (Veja “Pensamento científico: Estudos de cegueira à mudança conduzidos 
por Simons e Levin”, p. 136.) 
No primeiro estudo de Simons e Levin, indivíduos de idade mais avançada se 
mostraram especialmente propensos a não perceber uma mudança em uma pessoa 
que lhes pedia orientação. Os mais jovens se saíram muito bem em perceber a mu-
dança. As pessoas idosas são especialmente desatentas? Ou tendem a processar mais 
os destaques amplos de uma situação e não os detalhes? Talvez, os idosos tenham 
codificado o estranho simplesmente como “um estudante universitário” e não procu-
raram características mais individuais. Para testar essa ideia, Simons e Levin (1998) 
conduziram um estudo adicional. Dessa vez, o estranho era um tipo de pessoa facil-
mente reconhecível de um grupo social diferente. Ou seja, os mesmos pesquisadores 
se vestiram de trabalhadores da construção civil e pediram orientação a estudantes 
universitários. Com certeza, os universitários falharam em perceber a substituição de 
Estímulo ignorado:
o cavalo galopava 
pelo campo...
Estímulo atendido: 
o presidente Lincoln 
costumava ler com 
frequência sob a 
luz do fogo...
Resposta falada:
o presidente Lincoln 
costumava ler com 
frequência sob a 
luz do fogo...
FIGURA 4.5 Sombreamento. Nesse procedimento, o par-
ticipante recebe uma mensagem auditiva diferente em cada 
orelha. O participante é solicitado a repetir, ou “sombrear”, 
apenas uma mensagem.
Cegueira à mudança
Falha em perceber amplas alterações 
no ambiente.
136 Ciência psicológica
um trabalhador da construção civil por outro. Esse achado sustenta a ideia de que 
os estudantes codificaram os estranhos como pertencentes a uma categoria ampla de 
“trabalhadores da construção civil”, sem olhá-los mais de perto. Para eles, os traba-
lhadores da construção civil pareciam todos muito parecidos e intercambiáveis. Pes-
quisas subsequentes mostraram que as pessoas com maior habilidade de man-
ter a atenção em face de informações que distraem são as menos propensas a 
um tipo similar de cegueira da mudança (Seegmiller, Watson, & Strayer, 2011). 
Como ilustra a cegueira à mudança, podemos prestar atenção a uma quan-
tidade limitada de informação. Existem discrepâncias maiores entre aquilo que 
a maioria de nós acredita ver e aquilo que realmente vemos. Assim, as nossas 
percepções do mundo costumam ser imprecisas e temos pouca consciência das 
nossas falhas de percepção. Simplesmente não sabemos quanta informação 
perdemos no mundo que nos cerca. É por isso que falar ao celular enquanto 
dirigimos, ou até durante uma caminhada, pode ser perigoso. Falhamos em per-
ceber objetos importantes no ambiente que poderiam indicar ameaças a nossa 
segurança. Em um estudo (Hyman et al., 2010), estudantes que falavam ao ce-
lular enquanto andavam pelo campus falharam em perceber um palhaço usan-
do roupas coloridas chamativas que vinha de monociclo na direção deles pelo 
mesmo caminho. Os estudantes que estavam ouvindo música tenderam muito 
mais a perceber o palhaço.
LAPTOPS NA SALA DE AULA. Pode ser difícil prestar atenção totalmente du-
rante todo o período em sala de aula, até mesmo com as exposições mais envol-
ventes. Por esse motivo, muitas das orientações que você fornece tentam incluir 
a participação ativa durante a aula. O aparecimento dos computadores laptop e 
dos smartphones na sala de aula, que se deu ao longo da última década, tem au-
mentado a dificuldade dos professores para prender a atenção dos alunos (FIG. 
4.6). De modo ideal, essa tecnologia permite que os alunos façam anotações, 
acessem material suplementar ou participem de exercícios em sala de aula. Infe-
lizmente, eles também podem ignorar o que o professor fala para checar o Face-
book ou o e-mail, escrever mensagem de texto ou assistir a vídeos do YouTube. 
Pensamento científico
Estudos de cegueira à mudança conduzidos por Simons e Levin
HIPÓTESE: As pessoas podem ser “cegas” às mudanças que ocorrem ao seu redor.
MÉTODO DE PESQUISA:
21 Um participante é abordado por um
estranho que lhe pede informação
O estranho é momentaneamente
ocultado por um objeto amplo.
3 Durante o bloqueio, o estranho
original é substituído por outra pessoa.
RESULTADOS: Metade dos participantes que deram informação nunca perceberam que estavam conversando com uma pes-
soa diferente (desde que a substituição tenha sido por outro indivíduo da mesma raça e sexo que o estranho original). 
CONCLUSÃO: A cegueira à mudança resulta da desatenção a certas informações visuais. 
FONTE: Fotos de Simons, D. J., & Levin, D. T. (1998). Failure to detect changes to people during a real-world interaction. Psycho-
nomic Bulletin and Review, 5, 644–649. ©1998 Psychonomic Society, Inc. Cortesia de Daniel J. Simons.
FIGURA 4.6 Tecnologia em sala 
de aula. Os estudantes de hoje 
usam dispositivos eletrônicos em 
sala de aula de maneira produti-
va (p. ex., para fazer anotações) 
e improdutiva (p. ex., escrever 
mensagens de texto).
Capítulo 4 Consciência 137
Depois de ler as seções anteriores deste capítulo, você talvez 
não esteja surpreso com o fato de que prestar atenção ao seu com-
putador ou smartphone pode fazer-lhe perder detalhes importantes 
do que acontece ao seu redor, como as informações fundamentais 
da aula. Evidências notáveis mostram que estudantes que acessam 
o Facebook, escrevem mensagens de texto, navegam na internet eas-
sim por diante apresentam desempenho mais fraco nos cursos uni-
versitários (Gingerich & Lineweaver, 2014; Junco & Cotten, 2012). 
O desempenho ruim pode ocorrer mesmo quando os estudantes não 
fazem múltiplas tarefas ao mesmo tempo. De acordo com um estu-
do, fazer anotações em um laptop, em vez escrevê-las à mão, resulta 
em processamento mais superficial e desempenho pior nos testes de 
conhecimento teórico (Mueller & Oppenheimer, 2014). Até mesmo 
aqueles que apenas sentam perto de alguém que se distrai na internet 
alcançam notas mais baixas (Sana, Weston, & Cepeda, 2013). Se você 
usa seu laptop ou smartphone para ver material irrelevante, está pre-
judicando a si mesmo e aos outros. 
Os estudantes muitas vezes não têm a percepção de estar per-
dendo alguma coisa ao executar múltiplas tarefas. A ironia é que é 
preciso prestar atenção para saber o que você está perdendo. Se a sua 
atenção estiver em outro lugar e você perder alguma coisa essencial do 
que foi mencionado pelo professor, você não só perde o que ele disse 
como nem mesmo fica sabendo que perdeu alguma coisa. Os estudan-
tes têm a ilusão de estar prestando atenção porque não têm consciência dos eventos 
ocorridos quando a atenção deles estava ocupada de outro modo.
O processamento inconsciente influencia o comportamento
Conforme mencionado no Capítulo 1, Sir Francis Galton (1879) foi o primeiro a pro-
por a noção de que a atividade mental abaixo do nível de consciência pode influenciar 
o comportamento. A influência dos pensamentos inconscientes também foi o centro de 
muitas teorias de Freud sobre o comportamento humano. Exem-
plificando, o clássico erro chamado ato falho freudiano ocorre 
quando um pensamento inconsciente de repente é expresso em 
um momento ou contexto social inadequado. 
Muitas das formas propostas por Freud sobre como o in-
consciente funciona são difíceis de testar usando métodos científi-
cos, e alguns psicólogos hoje acreditam que sua interpretação do 
inconsciente está correta. Entretanto, os psicólogos concordam 
que os processos inconscientes influenciam os pensamentos e as 
ações das pessoas no decorrer de suas vidas cotidianas. Consi-
dere que os fumantes, ao assistir a um filme contendo imagens 
de tabagismo, mesmo sem notá-las, relatam maior fissura por 
fumar cigarro ao sair do cinema (Sargent, Morgenstern, Isensee, 
& Hanewinkel, 2009). Quando fumantes assistem a filmes mos-
trando cenas de tabagismo, há ativação de regiões cerebrais en-
volvidas na manipulação de cigarros, como se os telespectadores 
estivessem compartilhando cigarros com os personagens na tela 
(Wagner, Dal Cin, Sargent, Kelley, & Heatherton, 2011). Conside-
re agora uma influência inconsciente similar na vida de muitas 
pessoas: os cheiros sutis de comida no shopping. Esses cheiros 
estimulariam uma ida à praça de alimentação?
Ao longo das últimas décadas, muitos pesquisadores explo-
raram diferentes formas pelas quais os indícios inconscientes, ou 
percepção subliminar, podem influenciar a cognição. A percepção 
subliminar ocorre quando os estímulos são processados pelos 
sistemas sensoriais e, por causa da duração curta ou da forma 
sutil, não atingem a consciência. 
Há muito tempo, as propagandas são acusadas de usar in-
dícios subliminares para persuadir as pessoas a comprar produ-
tos (FIG. 4.7). Evidências sugerem que as mensagens sublimina-
res exercem efeitos mínimos sobre o comportamento de compra 
Percepção subliminar
Processamento da informação por 
sistemas sensoriais sem alerta 
consciente.
O MUNDO
DOS LAPSOS
FREUDIANOS
Obri
gado
por m
e for
çar
a vir
 aqui
. Eu não estou
nada feliz em
ver vocês dois.
Sim, cer
tamente
este é o 
melhor 
e mais
chato pr
ograma 
da TV.
FIGURA 4.7 Percepção subliminar. Você vê a 
mensagem subliminar contida neste anúncio? 
Os cubos de gelo formam a palavra inglesa 
S.E.X.
138 Ciência psicológica
(Greenwald, 1992). O material apresentado de modo subliminar pode influenciar 
o modo como as pessoas pensam, mas exerce pouco ou nenhum efeito sobre ações 
complexas. (Comprar alguma coisa que você não pretendia comprar contaria como 
uma ação complexa.) Ou seja, evidência considerável indica que as pessoas são afe-
tadas pelos eventos – estímulos – em relação aos quais não têm consciência. Em um 
estudo, os participantes realizaram maior esforço físico quando imagens amplas de 
dinheiro lhes foram mostradas em flashes, embora os flashes fossem tão breves 
a ponto de os participantes não relatarem terem visto dinheiro (Pessiglione et al., 
2007). Essas imagens subliminares também produziram atividade cerebral nas áreas 
do sistema límbico, que está envolvido na emoção e motivação. Os indícios subli-
minares podem ser mais poderosos quando atuam nos estados motivacionais das 
pessoas. Exemplificando, flashes da palavra sede podem se mostrar mais efetivos 
do que lampejos da diretriz explícita Compre Coca-Cola. De fato, os pesquisadores 
descobriram que a apresentação subliminar da palavra sede levou os participantes 
a beberem mais Kool-Aid, sobretudo quando realmente estavam com sede (Strahan, 
Spencer, & Zanna, 2002).
Para estudar o poder das influências do inconsciente, John Bargh e colabora-
dores (1996) forneceram diferentes grupos de palavras aos participantes. Alguns 
indivíduos receberam palavras associadas à velhice, como velho, Florida e rugas. 
Foi solicitado que os participantes criassem frases com as palavras recebidas. De-
pois que eles criaram algumas, foram informados que o experimento tinha termi-
nado. Entretanto, os pesquisadores continuaram observando os indivíduos. Eles 
queriam saber se a ativação inconsciente das crenças sobre os idosos influenciaria 
seus comportamentos. De fato, os participantes condicionados com estereótipos re-
ferentes a pessoas de idade avançada caminharam bem mais devagar do que aque-
les que receberam palavras não relacionadas com a velhice. Mais tarde, ao serem 
questionados, os participantes que caminharam devagar não tinham consciência de 
que o conceito de “velhice” tinha sido ativado nem de que isso tinha modificado seu 
comportamento. 
Outros pesquisadores encontraram achados semelhantes. Exemplificando, 
Ap Dijksterhuis e Ad van Knippenberg (1998) constataram que, na Nijmegen Uni-
versity, na Holanda, as pessoas se saíram melhor ao responderem perguntas de 
trivia após a apresentação sutil de informação sobre “professores”, do que após 
receberem sutilmente informação sobre os “hooligans do futebol”. Os participan-
tes não tinham consciência de que o comportamento deles era influenciado pela 
informação. Esses achados indicam que grande parte do comportamento humano 
ocorre na ausência de consciência ou de intenção (Bargh, 2014; Dijksterhuis & 
Aarts, 2010).
A atividade cerebral origina a consciência 
Observando a sua atividade cerebral, os cientistas (ainda) não conseguem 
ler seu pensamento, mas conseguem identificar os objetos que você vê 
(Kay, Naselaris, Prenger, & Gallant, 2008). Exemplificando, os pesqui-
sadores podem usar IRMf para determinar, com base em seu padrão de 
atividade cerebral naquele momento, se o quadro que você está olhando 
mostra uma casa, um sapato, uma garrafa ou uma face (O’Toole, Jiang, 
Abdi, & Haxby, 2005). Similarmente, as imagens cerebrais podem revelar 
se uma pessoa está olhando um padrão listrado que se move na horizon-
tal ou na vertical; se está olhando uma face ou corpo; em qual das três 
categorias uma pessoa está pensando durante uma tarefa de memória; e 
assim por diante (Norman, Polyn, Detre, & Haxby, 2006; O’Toole et al., 
2014). Algumas pessoas têm se referido a essas técnicas como “leitura do 
pensamento”, embora esse termo implique um nível de sofisticação que 
os pesquisadores ainda não alcançaram. 
A questão sobre o que significa estar consciente de algo existe há 
séculos. Atualmente, os psicólogos investigam, e até medem, a consciên-
cia e outros estados mentais que antigamente eram vistos como subjeti-
vos demais para serem estudados. Frank Tong e colaboradores(1998), 
por exemplo, estudaram a relação entre consciência e respostas neurais 
no cérebro. Aos participantes desse estudo, foram mostradas imagens 
O nascimento da autoconsciência
CARAMBA!
ESTOU EM
PÉ AQUI!
Capítulo 4 Consciência 139
em que casas estavam sobrepostas a faces. Quando os indivíduos relatavam ter visto 
uma face, a atividade neural aumentava nas regiões do lobo temporal associadas ao 
reconhecimento facial. Quando os participantes relatavam ver uma casa, a atividade 
neural aumentava junto às regiões do lobo temporal associadas ao reconhecimen-
to de objetos. Esse achado sugere que diferentes tipos de informação sensorial são 
processadas por diferentes áreas cerebrais: o tipo particular de atividade neural de-
termina o tipo particular de consciência (ver “Pensamento científico: A relação entre 
consciência e respostas neurais no cérebro”).
O MODELO DO ESPAÇO DE TRABALHO GLOBAL. Muitos modelos diferentes de 
consciência foram propostos. Um deles, o modelo do espaço de trabalho global, 
propõe que a consciência surge em função dos circuitos cerebrais que estão ativos 
(Baars, 1988; Dehaene, Changeux, Naccache, Sackur, & Sergent, 2006). Ou seja, você 
vivencia a resposta das suas regiões cerebrais como alerta consciente. 
Essa ideia é sustentada por estudos envolvendo pessoas com lesões cerebrais, 
que às vezes não têm consciência de seus déficits (ou seja, os problemas relaciona-
dos à consciência que surgem a partir de suas lesões). Uma pessoa com problema 
de visão decorrente de uma lesão ocular, por exemplo, saberá da existência desse 
problema porque as áreas cerebrais visuais detectarão a ausência de estímulos e a 
presença de algo errado. Entretanto, se essa mesma pessoa sofrer dano nas áreas 
corticais cerebrais visuais, então essas param de enviar resposta. Nesse caso, a pes-
soa pode não ter informação visual a considerar e, assim, não terá consciência dos 
problemas de visão. Certamente, um indivíduo que fica cego de repente saberá que 
não pode enxergar. Entretanto, alguém que perde parte do campo visual por causa 
de uma lesão cerebral tende a não perceber a lacuna na experiência visual. Essa 
tendência aparece com heminegligência, por exemplo (Fig. 3.28). Um paciente com 
essa condição não tem consciência da parte que falta do universo visual. Nas palavras 
de um heminegligente, “Eu sabia que a palavra ‘negligência’ era um tipo de termo 
Pensamento científico
A relação entre consciência e respostas neurais no cérebro
HIPÓTESE: Padrões específicos de atividade cerebral podem prever o que a pessoa está vendo. 
MÉTODO DE PESQUISA:
Imagens de casas sobrepostas a faces
foram mostradas aos participantes.
Foi solicitado que os indivíduos
relatassem se viram uma casa ou uma face.
Os pesquisadores usaram IRMf
para medir as respostas neurais
nos cérebros dos participantes.
1
2
3
RESULTADOS: A atividade aumentou na área facial fusiforme quando os participantes relatavam ter visto uma face, mas houve 
aumento da atividade nas regiões do córtex temporal associadas ao reconhecimento de objetos quando relatavam ter visto uma 
casa.
CONCLUSÃO: O tipo de consciência está relacionado com a região cerebral que processa a informação sensorial em particular. 
FONTE: Tong, F., Nakayama, K., Vaughan, J. T., & Kanwisher, N. (1998). Binocular rivalry and visual awareness in human extrastriate 
cortex. Neuron, 21, 753-759.
140 Ciência psicológica
médico para tudo que estivesse errado, mas 
ela me incomodou, porque você só negligencia 
uma coisa que na verdade já está lá, não é? 
Se não está, como é possível negligenciá-la?” 
(Halligan & Marshall, 1998, p. 360). A falta de 
consciência dos déficits visuais dos pacientes 
com heminegligência sustenta a ideia de que a 
consciência surge por meio de processos ce-
rebrais ativos em qualquer ponto do tempo. 
Mais importante, o modelo do espaço de 
trabalho global não apresenta nenhuma área 
cerebral como responsável pela “consciência” 
geral. Em vez disso, diferentes áreas cerebrais 
lidam com diferentes tipos de informação. 
Cada um desses sistemas, por sua vez, é res-
ponsável pelo alerta consciente de seu tipo de 
informação (FIG. 4.8). A partir dessa perspec-
tiva, a consciência é o mecanismo que torna as 
pessoas ativamente conscientes da informação 
e prioriza de qual informação elas necessitam 
ou desejam lidar em um dado momento. 
ALTERAÇÕES NA CONSCIÊNCIA APÓS LE-
SÃO CEREBRAL. Conforme observado 
pelo neurocientista cognitivo Steven Laureys 
(2007), os avanços médicos estão permitindo 
que um número maior de pessoas sobrevivam 
às lesões cerebrais traumáticas. Os médicos 
agora salvam as vidas de muitas pessoas que 
no passado teriam morrido em decorrência 
de lesões sofridas em acidentes de carro ou 
nos campos de batalha. Um bom exemplo é 
a notável sobrevida da congressista Gabrielle 
Giffords, que levou um tiro na cabeça dispa-
rado por um assaltante, em 2011.
Sobreviver é apenas a primeira etapa na direção da recuperação, e muitas pes-
soas que sustentam lesões cerebrais graves entram em coma ou, como Giffords, são 
induzidas ao coma como parte do tratamento médico. O coma proporciona repouso 
ao cérebro. Na maioria das pessoas que recuperam a consciência após esse tipo de le-
são, isso ocorre em poucos dias, mas algumas demoram semanas para fazê-lo. Nesse 
estado, elas passam por ciclos de sono/despertar – abrem os olhos e parecem estar 
acordadas, fecham os olhos e parecem estar dormindo – mas aparentemente não 
respondem ao ambiente circundante. Quando essa condição dura mais de um mês, é 
chamada estado vegetativo persistente. 
Evidências indicam que o cérebro às vezes processa informação durante o coma 
(Gawryluk, D’Arcy, Connolly, & Weaver, 2010). Lembre-se do caso discutido na aber-
tura deste capítulo, da mulher que se imaginava jogando tênis e perambulando em 
volta de uma casa. Entretanto, o estado vegetativo persistente não está associado à 
consciência. A atividade cerebral normal não ocorre quando uma pessoa está nesse 
estado, em parte porque grande parte de seu cérebro pode estar morta. Quanto maior 
for a duração do estado vegetativo persistente, menor é a probabilidade de que o indi-
víduo venha a recuperar a consciência ou apresentar atividade cerebral normal. Terri 
Schiavo, uma mulher que vivia na Flórida (EUA), passou mais de 15 anos em estado 
vegetativo persistente. Em determinado momento, seu marido quis cortar o suporte 
vital que a mantinha viva, mas os pais dela quiseram mantê-lo. Ambas as partes en-
traram em uma batalha legal. Uma Corte deliberou em favor do marido, e o suporte 
vital foi suspendido. Após a morte de Schiavo, uma necropsia revelou a presença de 
dano substancial e irreversível em todo o cérebro, e sobretudo nas regiões corticais 
comprovadamente importantes para a consciência (FIG. 4.9).
Entre o estado vegetativo e a consciência total, há o estado minimamente cons-
ciente. Nele, as pessoas com lesões cerebrais conseguem realizar alguns movimentos 
Córtex 
pré-frontal:
“Eu compreendo 
planos.”
Córtex frontal
motor: 
“Sou todo
movimento.” 
Lobo
parietal: 
“Tenho 
consciência 
do espaço.” 
Lobo temporal:
“Ouço coisas.”
Lobo occipital:
“Vejo coisas.”
FIGURA 4.8 Áreas de consciência. Um tema central emergindo da 
neurociência cognitiva é que a consciência de diferentes aspectos 
do mundo está associada ao funcionamento em distintas partes do 
cérebro. Este diagrama simplificado indica as principais áreas de 
consciência.
Capítulo 4 Consciência 141
de forma deliberada, como acompanhar um objeto com os olhos. Elas podem tentar 
se comunicar. O prognóstico para indivíduos em estado minimamente consciente é 
muito melhor do que para estado vegetativo persistente. Considere o caso de um 
ferroviário polonês, Jan Grzebski, que, em junho de 2007, aos 67 anos de idade, 
despertou de um coma de 19 anos. Ele viveu por mais 18 meses. Grzebski lembrava 
de eventos ocorridos ao seu redor durante o coma, incluindo os casamentos de seus 
filhos. Há alguma indicaçãode que, às vezes, ele tentara falar, todavia sem ser enten-
dido (Scislowska, 2007; FIG. 4.10). É difícil diferenciar os estados de consciência 
com base apenas no comportamento, mas as imagens cerebrais podem se mostrar 
úteis para identificar a extensão da lesão cerebral de um paciente e da probabilidade 
de recuperação.
A imagem da atividade cerebral também pode ser usada para dizer se uma pes-
soa teve morte cerebral. A morte cerebral é a perda irreversível da função cerebral. 
Terri Schiavo sofreu lesão cerebral grave, mas ainda havia atividade em seu tronco 
encefálico. Ela nunca fora declarada com morte cerebral. Quando há morte cere-
bral, nenhuma atividade é encontrada em todas as regiões do cérebro. Conforme 
discutido no Capítulo 3, o cérebro é essencial para integrar a atividade cerebral 
que mantém os órgãos corporais, como coração e pulmões, vivos. Quando o cére-
bro deixa de funcionar, o restante do corpo para rapidamente de funcionar. Sob 
circunstâncias apropriadas, aparelhos podem manter os órgãos funcionando e 
possibilitar a eventual doação de órgãos.
Infelizmente, os familiares e as pessoas próximas às vezes têm dificul-
dade para aceitar a morte cerebral e seguem em esperas extraordinariamen-
te longas para tentar manter “vivo” o corpo da pessoa. Foi esse o caso de 
uma menina de 13 anos, Jahi McMath, que sofreu morte cerebral após uma 
cirurgia de tonsila de rotina (FIG. 4.11). A família de McMath argumentou 
que ela ainda estava viva, porque seu coração continuava batendo. Eles a ha-
viam transferido do hospital para um estabelecimento particular que daria 
seguimento aos cuidados de Jahi. Entretanto, quando o cérebro está morto, 
a pessoa está morta. O coração pode bater somente quando estimulado ar-
tificialmente.
Cérebro saudável Cérebro de Terri
FIGURA 4.9 Estado vegetativo persis-
tente. Terri Schiavo passou mais de 15 
anos em estado vegetativo persistente 
antes de ter o equipamento de suporte 
vital desligado. Os pais dela e aqueles 
que os apoiavam acreditavam que ela 
mostrava certo grau de consciência. 
Conforme indicam as áreas escuras na 
imagem de varredura cerebral à esquer-
da, porém, não havia atividade no córtex 
de Schiavo, e a possibilidade de recu-
peração estava fora do alcance. Usando 
imagens para examinar o cérebro de uma 
pessoa em coma aparente, os médicos 
conseguem determinar se o paciente é 
bom candidato a tratamento.
FIGURA 4.10 Estado mini-
mamente consciente. Jan 
Grzebski permaneceu em 
estado minimamente cons-
ciente por 19 anos antes 
de acordar e relatou que de 
fato tinha estado conscien-
te dos eventos ocorridos ao 
seu redor.
FIGURA 4.11 Morte cerebral. 
Jahi McMath, que aparece nessa 
foto usando um colar, foi declara-
da com morte cerebral após com-
plicações cirúrgicas.
142 Ciência psicológica
Antes de continuar a leitura, pense no 
número do seu celular. Se você esti-
ver familiarizado o bastante com o nú-
mero, é provável que tenha lembrado 
rapidamente. Ainda assim, você não 
tem ideia de como o seu cérebro fez 
essa mágica acontecer. Ou seja, você 
não tem acesso direto aos processos 
neurais ou cognitivos que levam aos 
seus pensamentos e comportamento. 
Você pensou no número do seu celular 
e (se a mágica aconteceu) esse número 
“pipocou” na sua consciência.
Como você foi solicitado a lembrar 
do número do celular, sabe por que ele 
veio a sua cabeça. Em outras ocasiões, 
você pode não ter certeza sobre por que 
pensa certas coisas, sustenta certas 
crenças ou realiza certas ações. Confor-
me observado no Capítulo 1, ocorrem 
muitas tendenciosidades psicológicas 
porque as mentes das pessoas estão 
tentando dar sentido ao mundo que as 
cerca. Algumas vezes, os processos in-
conscientes levam as pessoas a fazer 
coisas que suas mentes conscientes se 
esforçam para explicar. 
Em um experimento clássico con-
duzido pelos psicólogos sociais Richard 
Nisbett e Timothy Wilson (1977), os par-
ticipantes da pesquisa foram orientados 
a examinar pares de palavras, como 
oceano/lua, que exibiam associações 
semânticas evidentes entre si. Em se-
guida, eles foram orientados a fazer as-
sociações livres com palavras isoladas, 
como detergente. Nisbett e Wilson qui-
seram definir com que grau (se houves-
se algum) os pares de palavras influen-
ciariam as associações livres. Se alguma 
influência ocorresse, os pacientes te-
riam consciência disso?
Ao receber a palavra detergente 
após o par oceano/lua, os participan-
tes em geral fizeram associação livre 
com a palavra maré. Quando lhes per-
guntaram por que tinham dito “maré”, 
explicaram os motivos citando a marca 
de um detergente comercializado nos 
Estados Unidos, como “A minha mãe 
usava Maré quando eu era criança”. 
Não tinham consciência de que o par 
de palavras havia influenciado o pensa-
mento deles. 
A capacidade de mascarar expli-
cações pós-fato parece ser produto do 
processamento do hemisfério esquer-
do. Lembre-se, do Capítulo 3, da condi-
ção de cérebro dividido, em que os dois 
hemisférios cirurgicamente desconec-
tados mostravam lateralização das fun-
ções cognitivas.
Às vezes, processos 
inconscientes levam as 
pessoas a fazer coisas que 
suas mentes conscientes se 
esforçam para explicar
Estudos sobre pacientes com cérebro 
dividido revelaram uma relação interes-
sante entre os hemisférios cerebrais, 
que trabalham juntos para construir ex-
periências conscientes coerentes. Essa 
colaboração pode ser demonstrada 
pedindo ao paciente com cérebro divi-
dido para usar seu hemisfério esquerdo 
desconectado para explicar o comporta-
mento produzido pelo hemisfério direi-
to. Lembre que o hemisfério esquerdo 
não sabe por que o comportamento foi 
produzido. 
Em um desses experimentos (Ga-
zzaniga & LeDoux, 1978), o paciente com 
cérebro dividido viu flashes de imagens 
diferentes exibidos simultaneamente 
nos lados esquerdo e direito de uma tela. 
Abaixo dessas imagens, havia uma lista 
de outras imagens. O paciente era so-
licitado a apontar com cada mão uma 
imagem debaixo que estivesse mais rela-
cionada com a imagem exibida em flash 
naquele lado e na parte de cima da tela. 
Em um estudo em particular, uma ima-
gem de garra de galinha foi exibida em 
flash ao hemisfério esquerdo. Uma cena 
com neve foi exibida em flash ao hemis-
fério direito. Na resposta, o hemisfério 
esquerdo apontou a mão direita em uma 
imagem de cabeça de galinha. O hemis-
fério direito apontou a mão esquerda em 
uma imagem de pá de neve. O hemis-
fério esquerdo (falante) não poderia ter 
ideia do que o hemisfério direito tinha 
visto nem por que a mão esquerda apon-
tava a pá de neve. Quando perguntaram 
ao participante por que ele apontou aque-
las imagens, ele (ou, em vez disso, seu 
hemisfério esquerdo) respondeu calma-
mente “Oh, é simples. A garra da galinha 
está junto da galinha, e você precisa de 
uma pá para limpar o galinheiro.” O he-
misfério esquerdo evidentemente tinha 
interpretado a resposta da mão esquer-
da de modo consistente com o conheci-
mento do cérebro esquerdo, que era o de 
uma garra de galinha (FIG. 4.12). 
A propensão do hemisfério es-
querdo a construir um mundo que faça 
sentido é chamada de intérprete. Esse 
termo significa que o hemisfério es-
querdo está interpretando aquilo que 
o hemisfério direito tem feito somente 
com a informação que lhe é disponibi-
lizada (Gazzaniga, 2000). Nesse último 
exemplo, o hemisfério esquerdo intér-
prete criou um modo pronto de expli-
car a ação da mão esquerda. Embora 
o hemisfério direito desconectado con-
trolasse a mão esquerda, a explicação 
do hemisfério esquerdo não estava 
relacionada ao real motivo pelo qual 
o hemisfério direito comandou essa 
ação. Mesmo assim, para o paciente, 
o movimento pareceu perfeitamente 
plausível, uma vez que a ação tinha 
sido interpretada. 
Citando outro exemplo: se o co-
mando ficar em pé é exibido em flash 
ao hemisfério direito de um paciente 
com cérebro dividido, esse paciente fi-
cará em pé. Entretanto, ao ser pergun-
tado por que se levantou, o pacientenão responderá “Você me disse para fa-
zer isso”, porque o comando está indis-
ponível ao hemisfério esquerdo (falan-
te). Em vez disso, sem ter consciência 
do comando, o paciente dirá alguma 
No que acreditar? Aplicando o raciocínio psicológico
Explicação ‘pós-fato’: como interpretamos o nosso comportamento?
Capítulo 4 Consciência 143
coisa como “Senti vontade de pegar um 
refrigerante”. O hemisfério esquerdo é 
compelido a inventar uma história que 
“faça sentido”, que explique (ou inter-
prete) a ação do paciente depois de 
ocorrida. 
Com certeza, somente um pequeno 
percentual de pessoas tem hemisférios 
desconectados. Mesmo assim, elas 
continuam tendo necessidade de expli-
car todo tipo de pensamentos e compor-
tamentos para os quais tenham informa-
ção limitada. A falta de acesso direto aos 
processos neurais ou cognitivos implica 
a necessidade frequente das pessoas de 
interpretar por que assumiram determi-
nado comportamento. Conforme você 
aprenderá adiante, neste livro, quando 
as pessoas agem de modo inconsisten-
te com suas crenças, costumam racio-
nalizar o próprio comportamento ou dar 
desculpas. Algumas dessas explicações 
são apenas tentativas pós-fato de atri-
buir sentido ao comportamento.
Um participante com 
cérebro dividido assiste 
à exibição simultânea 
de flashes de diferentes 
imagens à esquerda 
e à direita.
Abaixo da tela há uma 
fileira de outras imagens. 
O paciente é solicitado 
a apontar cada mão
para a imagem inferior
mais relacionada com
aquele lado da tela. 
O hemisfério direito aponta a
mão esquerda para a imagem
de uma pá de neve. 
O hemisfério esquerdo aponta a 
mão direita para a imagem de 
uma cabeça de frango.
Quando o participante com cérebro 
dividido é solicitado a explicar essas 
seleções, o hemisfério esquerdo 
verbal fornece as respostas. Para 
explicar a seleção da mão direita 
da cabeça de frango, o hemisfério 
esquerdo diz que a garra do frango 
acompanha a cabeça dele. Para 
explicar a seleção da mão esquerda 
da pá, o hemisfério esquerdo deve 
interpretar, porque não vê a cena 
da neve. Ele decide que a pá é
usada para limpar a sujeira dos
frangos. 
1
2
3
4a 4b
5
FIGURA 4.12 O hemisfério esquerdo interpreta os resultados. Com base em informações limitadas, o hemis-
fério esquerdo tenta explicar o comportamento produzido pelo hemisfério direito.
144 Ciência psicológica
4.2 O que é o sono?
A intervalos regulares, o cérebro faz uma coisa estranha: vai dormir. Um erro de in-
terpretação comum é o de que o cérebro se autodesliga durante o sono. Nada poderia 
estar mais longe da verdade. Muitas regiões cerebrais são mais ativas durante o sono 
do que quando a pessoa está acordada. É possível até mesmo que certos pensamen-
tos complexos, como trabalhar em problemas difíceis, ocorram no cérebro adormeci-
do (Walker & Stickgold, 2006). 
O sono faz parte do ritmo normal da vida. A atividade cerebral e outros pro-
cessos fisiológicos são regulados em padrões conhecidos como ritmos circadianos. 
(O significado de circadiano é “cerca de 24 horas”.) Exemplificando, a temperatura 
corporal, os níveis hormonais e os ciclos sono/vigília operam de acordo com os ritmos 
circadianos. Regulados por um relógio biológico, os ritmos circadianos são influen-
Resumindo
O que é a consciência?
 � A consciência é a experiência subjetiva de mundo de uma pessoa.
 � A relação entre o cérebro e a consciência é discutida há séculos. Hoje, a maioria dos psi-
cólogos acredita que a consciência resulta dos trabalhos realizados pelo cérebro.
 � Precisamos prestar atenção na informação para ter consciência dela. Entretanto, a infor-
mação pode ser processada de forma subliminar (sem alerta consciente). 
 � De acordo com o modelo do espaço de trabalho global, a consciência surge como resulta-
do dos circuitos cerebrais que estão ativos. 
 � A lesão cerebral grave pode resultar em um estado vegetativo persistente, um estado mi-
nimamente consciente ou até em morte cerebral. 
Avaliando 
 1. Quais das seguintes afirmativas estão corretas, de acordo com o nosso conhecimento 
sobre consciência? Marque todas as que se aplicam.
 a. Os estudantes que realizam múltiplas tarefas durante a aula teriam consciência de es-
tar perdendo informação importante.
 b. A pesquisa sobre o cérebro mostra que algumas pessoas em coma apresentam níveis 
maiores de atividade cerebral do que outras. 
 c. Os conteúdos da consciência não podem ser rotulados. 
 d. Qualquer processo biológico pode ser tornado consciente via processamento esforçado.
 e. Os nossos comportamentos e pensamentos são afetados por alguns eventos sobre os 
quais não temos conhecimento consciente. 
 f. A consciência é subjetiva.
 g. Na ausência de atividade cerebral, não há consciência. 
 h. Pessoas em coma podem diferir quanto à extensão da consciência. 
 i. As pessoas são conscientes ou inconscientes; não há meio termo. 
 2. Se uma pessoa em coma mostra evidência de estar consciente de seu entorno, a con-
dição é conhecida como:
 a. morte cerebral.
 b. estado minimamente consciente. 
 c. estado vegetativo permanente.
 d. consciência.
RESPOSTAS: (1) b, e, f, g e h.
(2) b. estado minimamente consciente. 
Objetivos de 
aprendizagem
 � Descrever os estágios do 
sono.
 � Identificar os transtornos do 
sono comuns.
 � Discutir as funções do sono e 
do sonho.
Ritmos circadianos
Padrões biológicos que ocorrem a 
intervalos regulares, em função do 
tempo, ao longo do dia.
Capítulo 4 Consciência 145
ciados pelos ciclos de luz e escuridão. Seres humanos e ani-
mais não humanos continuam mostrando esses ritmos, to-
davia, mesmo ao serem afastados desses indícios luminosos. 
Múltiplas regiões cerebrais estão envolvidas na produ-
ção e manutenção dos ritmos circadianos e do sono. Exem-
plificando, a informação sobre luz detectada pelos olhos é 
enviada a uma pequena região do hipotálamo chamada nú-
cleo supraquiasmático. Essa região, então, envia sinais a 
uma estrutura minúscula chamada glândula pineal (FIG. 
4.13). A glândula pineal secreta melatonina, um hormônio 
que viaja pela corrente sanguínea e afeta vários receptores 
existentes no corpo, incluindo o cérebro. A luz brilhante 
suprime a produção de melatonina, enquanto a escuridão 
deflagra sua liberação. Pesquisadores observaram que to-
mar melatonina pode ajudar as pessoas a superar o jet lag 
(dissincronose) e os turnos de trabalho que interferem nos 
ritmos circadianos (Petrie, Dawson, Thompson, & Brook, 
1993). Tomar melatonina também parece ajudar as pessoas 
a adormecer (Ferracioli-Oda, Qawasmi, & Bloch, 2013), em-
bora não esteja claro por que isso ocorre. 
As pessoas em geral dormem cerca de oito horas por 
noite, mas os indivíduos diferem muito quanto a esse nú-
mero de horas. Bebês dormem durante grande parte do dia. 
As pessoas tendem a dormir menos conforme envelhecem. 
Alguns adultos relatam precisar dormir 9 a 10 horas por 
noite para se sentirem descansados, enquanto outros relatam necessitar de apenas 1 
a 2 horas por noite. Talvez seus genes influenciem a quantidade de sono que você pre-
cisa, uma vez que pesquisadores identificaram um gene que influencia o sono (Koh et 
al., 2008). Chamado SLEEPLESS, esse gene regula uma proteína que, como muitos 
anestésicos, diminui os potenciais de ação no cérebro. A perda dessa proteína leva a 
uma redução do sono de 80%. 
Os hábitos de sono das pessoas podem ser bastante extremos. Quando uma en-
fermeira aposentada de 70 anos, a srta. M., relatou dormir apenas 1 hora por noite, 
os pesquisadores se mostraram céticos. Nas duas primeiras noites que passou no la-
boratório, a srta. M. não conseguiu dormir, aparentemente por causa da excitação. Na 
terceira noite, porém, ela dormiu durante apenas 99 minutos e, em seguida, acordou 
refeita, animada e cheia de energia (Meddis, 1977). Você talvez goste da ideia de dor-
mir tão pouco e ter todas aquelas horas a mais de tempo livre, porém a maioria de nós 
não funciona bem com a falta de sono. Além disso, conforme discutido nos últimoscapítulos, dormir o suficiente é importante para a memória e para a boa saúde; ade-
mais, o sono muitas vezes é afetado por transtornos psicológicos, como a depressão. 
O sono é um estado de consciência alterado 
A diferença entre estar acordado e adormecido tem tanto a ver com a experiên-
cia consciente como com os processos biológicos. Quando você dorme, a sua ex-
periência consciente do mundo exterior é amplamente desligada. Até certo ponto, 
entretanto, você continua consciente do seu entorno, e o seu cérebro continua proces-
sando informação. A sua mente está analisando potenciais perigos, controlando os 
movimentos corporais e deslocando partes do corpo para maximizar o conforto. Por 
esse motivo, as pessoas que dormem perto de crianças ou de animais de estimação 
tendem a não rolar sobre eles. Do mesmo modo, a maioria das pessoas tende a não 
cair da cama enquanto dorme – nesse caso, o cérebro tem consciência pelo menos 
das beiradas do leito. (Como a habilidade de não cair da cama durante o sono é 
aprendida ou, talvez, se desenvolva com a idade, os berços dos bebês têm grades la-
terais, e as crianças pequenas podem precisar de grades na cama ao fazer a transição 
do berço para a cama.) 
Antes do desenvolvimento de métodos objetivos para avaliar a atividade ce-
rebral, a maioria das pessoas acreditava que o cérebro adormecia com o restante 
do corpo. Na década de 1920, pesquisadores inventaram a eletrencefalografia, ou 
EEG. Como discutido no Capítulo 2, esse aparelho mede a atividade elétrica cerebral. 
Glândula pinealHipotálamo
Núcleo
supraquiasmático 
FIGURA 4.13 A glândula pineal e o ciclo de sono/
vigília. Alterações no registro da luz ocorridas no nú-
cleo supraquiasmático do hipotálamo. Em resposta, 
essa região sinaliza para a glândula pineal o momento 
em que chega a hora de dormir ou de acordar.
Capítulo 4 Consciência 147
No decorrer do curso de uma noite de sono típica, o ciclo se repete cerca de cinco 
vezes. O indivíduo que dorme vai do sono de ondas lentas para o sono REM e, então, 
volta para o sono de ondas lentas e daí novamente para o sono REM (FIG. 4.15). À me-
dida que a manhã se aproxima, o ciclo do sono vai encurtando, e o indivíduo passa um 
tempo relativamente maior no sono REM. As pessoas acordam brevemente várias vezes 
durante a noite, mas não lembram disso de manhã. Conforme envelhecem, as pessoas 
às vezes passam a ter mais dificuldade para voltar a dormir após ter acordado. 
TRANSTORNOS DO SONO. Os problemas do sono são relativamente comuns no de-
correr da vida. Quase todo mundo, às vezes, tem problemas para adormecer, mas 
para algumas pessoas a incapacidade de dormir causa problemas significativos em 
suas vidas cotidianas. A insônia é um transtorno do sono em que a saúde mental e a 
capacidade funcional do indivíduo são comprometidas pela sua incapacidade de ador-
mecer. De fato, a insônia está associada à diminuição do bem-estar psicológico, inclu-
sive com sentimentos depressivos (Bootzin & Epstein, 2011; Hamilton et al., 2007).
Estima-se que 12 a 20% dos adultos tenham insônia, que é mais comum em mu-
lheres do que em homens e em adultos de idade avançada do que em adultos jovens (Es-
pie, 2002; Ram, Seirawan, Kumar, & Clark, 2010). Um fator que complica a estimativa 
do número de pessoas que sofrem de insônia é o fato de muitas pessoas que acreditam 
apenas dormir mal superestimarem o tempo que demoram para adormecer e, com fre-
quência, subestimarem o quanto dormem em uma noite típica. Exemplificando, algumas 
pessoas vivenciam a pseudoinsônia, em que sonham estar acordadas. O EEG desses 
indivíduos indica sono, mas, se você as acordar, elas alegarão que já estavam acordadas. 
Em uma espiral estranha, uma das principais causas de insônia é a preocu-
pação com o sono. Quando as pessoas vivenciam esse tipo de insônia, podem estar 
cansadas o bastante para dormir. Ao tentar adormecer, porém, ficam preocupadas se 
conseguirão dormir e podem até entrar em pânico com relação ao modo como a falta 
de sono as afetará. Essa ansiedade resulta em aumento da vigília, e isso interfere nos 
padrões de sono normais. Para superar esses efeitos, muitas pessoas tomam pílulas 
para dormir, o que pode funcionar a curto prazo, mas pode causar problemas signi-
ficativos no futuro. Elas podem se tornar dependentes dessas pílulas para ajudá-las 
a dormir. Então, se tentarem parar de tomá-las, poderão ficar deitadas e acordadas 
imaginando se conseguirão dormir por conta própria.
De acordo com as pesquisas, o tratamento mais bem-sucedido para insônia 
combina farmacoterapia com terapia cognitivo-comportamental (TCC, discutida no 
Cap. 15, “Tratamento dos transtornos psicológicos”). A TCC ajuda as pessoas a supe-
rar suas preocupações com o sono e alivia a necessidade de fármacos, que devem ser 
descontinuados antes do final da terapia (Morin et al., 2009). Entre os outros fatores 
que contribuem para a insônia estão os maus hábitos de sono. As formas de melho-
rar os hábitos de sono são descritas na parte “Usando a psicologia em sua vida: Como 
posso ter uma boa noite de sono?” (p. 150). 
Conscientemente
desperto 
Estágio 1
Estágio 2
Sono
de ondas
lentas
REM
Horas de sono
876543210
FIGURA 4.15 Estágios do sono. Este gráfico ilustra os estágios normais do sono ao longo 
do curso da noite.
Insônia
Transtorno caracterizado por 
incapacidade de dormir. 
148 Ciência psicológica
Outro problema de sono bastante comum é a apneia obstrutiva do sono. 
Enquanto dorme, uma pessoa com esse distúrbio para de respirar por bre-
ves períodos. Basicamente, a garganta desse indivíduo se fecha durante esses 
períodos. Ao lutar para respirar, a pessoa acorda brevemente e arqueja para 
conseguir ar. A apneia obstrutiva do sono é mais comum entre homens de meia-
-idade e, com frequência, está associada à obesidade, embora não esteja claro 
se a obesidade é causa ou consequência da patologia (Pack & Pien, 2011; Spurr, 
Graven, & Gilbert, 2008). Pessoas com apneia muitas vezes não têm consciência 
de sua condição, porque o principal sintoma é um ronco estrondoso, e elas 
podem não lembrar que acordaram brevemente várias vezes ao longo da noi-
te. Mesmo assim, a apneia crônica leva a sono precário, que está associado 
com fadiga diurna e até com problemas como incapacidade de concentração 
ao conduzir um veículo. Além disso, a apneia está associada com problemas 
cardiovasculares e acidente vascular cerebral. Para os casos graves, os médicos 
costumam prescrever um aparelho de pressão positiva contínua de vias aéreas 
(PPCVA). Durante o sono, esse aparelho sopra ar para o nariz ou para o nariz e 
a boca do invidíduo (FIG. 4.16). 
Um estudante que adormece durante a aula provavelmente está privado 
de sono, mas um professor que adormece durante a exposição provavelmen-
te passa por um episódio de narcolepsia. Nesse transtorno raro, a sonolência 
excessiva ocorre durante as horas de vigília normais. Durante um episódio de 
narcolepsia, a pessoa pode sofrer uma paralisia muscular que acompanha o 
sono REM, talvez fazendo-a cambalear e cair. Evidentemente, indivíduos com 
narcolepsia precisam ser bastante cuidadosos com as atividades em que se en-
volvem ao longo do dia, porque adormecer inesperadamente pode ser perigoso 
ou fatal, dependendo da situação. Evidências sugerem que a narcolepsia é uma 
condição genética afetando a neurotransmissão de um neurotransmissor espe-
cífico no hipotálamo (Chabas, Taheri, Renier, & Mignot, 2003; Nishino, 2007). 
Os tratamentos mais usados para essa condição são as drogas que atuam como 
estimulantes. Alguns pesquisadores encontraram evidências, porém, de que a narco-
lepsia pode ser um distúrbio autoimune, e tratá-la como tal (usando proteína imuno-
globulina) produz resultados excelentes (Cvetkovic-Lopes et al., 2010; Mahlios, De la 
Herrán-Arita, & Mignot, 2013).
O transtorno do comportamento REM é, grosso modo, o oposto da narcolep-
sia. Nessa condição, a paralisia normal que acompanha o sono REM é desativada. 
Aqueles que sofremdessa condição encenam seus sonhos enquanto estão dormindo, 
muitas vezes golpeando as pessoas com quem dormem. Não há tratamento para esse 
raro transtorno do sono. A condição é causada por um déficit neurológico e é vista 
com mais frequência em homens idosos. 
Em contraste, andar dormindo é mais frequente entre crianças pequenas. Tec-
nicamente chamado sonambulismo, esse comportamento relativamente comum 
ocorre durante o sono de ondas lentas, em geral nas primeiras 1 a 2 horas depois 
que a pessoa adormece. Durante um episódio, a pessoa exibe olhos vidrados e pa-
rece estar desconectada das outras e/ou do seu entorno. Não há nenhum problema 
se o sonâmbulo acordar em meio a um episódio. Ser cuidadosamente reconduzido à 
cama é mais seguro para o sonâmbulo do que deixá-lo perambular e, potencialmente, 
machucar-se. 
Sono é um comportamento adaptativo 
Em termos de adaptatividade, o sono poderia parecer ilógico. Desligar o mundo ex-
terno durante o sono pode ser perigoso e, assim, ameaçador à sobrevivência. Além 
disso, os seres humanos poderiam ter autoevoluído de incontáveis maneiras se ti-
vessem usado todo o tempo disponível de forma produtiva, em vez de desperdiçá-lo 
dormindo. Entretanto, não podemos sobrepujar indefinidamente o desejo de dormir. 
No fim, nossos corpos desligam, e nós dormimos queiramos ou não.
Por que dormimos? Certos animais, como alguns sapos, nunca exibem um esta-
do que possa ser considerado de sono (Siegel, 2008). A maioria dos animais dorme, 
todavia, mesmo tendo estilos peculiares de sono (p. ex., algumas espécies de golfinhos 
FIGURA 4.16 Apneia obstrutiva 
do sono. Este homem sofre de 
apneia obstrutiva do sono. Ao 
longo da noite, um aparelho de 
pressão positiva contínua de vias 
aéreas (PPCVA) sopra ar para seu 
nariz ou sua boca, a fim de man-
ter a garganta aberta.
Apneia obstrutiva do sono 
Transtorno em que uma pessoa, 
enquanto adormecida, para de 
respirar em função do fechamento 
da garganta; a condição faz o 
indivíduo acordar com frequência ao 
longo da noite.
Narcolepsia
Transtorno do sono em que as 
pessoas vivenciam sonolência 
excessiva durante as horas de vigília 
normais, por vezes perdendo as 
forças e caindo. 
Capítulo 4 Consciência 149
têm o sono uni-hemisférico, em que os hemisférios cerebrais se alternam no sono). 
O sono deve ter um propósito biológico importante. Pesquisas sugerem que o sono é 
adaptativo para três funções: restauração, seguimento dos ritmos circadianos e facili-
tação da aprendizagem. 
RESTAURAÇÃO E PRIVAÇÃO DE SONO. De acordo com a teoria da restauração, 
o sono permite que o corpo, incluindo o cérebro, repouse e se autorrepare. Vários 
tipos de evidência sustentam essa teoria: depois que as pessoas se envolvem na prá-
tica de atividade física vigorosa, como correr uma maratona, geralmente dormem por 
mais tempo do que o habitual. O hormônio do crescimento, liberado primariamente 
durante o sono profundo, facilita o reparo dos tecidos danificados. O sono aparente-
mente permite que o cérebro reponha as reservas de energia e também fortalece o sis-
tema imune (Hobson, 1999). Mais recentemente, pesquisadores demonstraram que 
o sono pode ajudar o cérebro a limpar subprodutos metabólicos da atividade neural, 
assim como um zelador põe o lixo para fora (Xie et al., 2013). A atividade neural cria 
subprodutos que podem ser tóxicos ao se acumularem. Esses subprodutos são re-
movidos no espaço intersticial – um pequeno espaço cheio de líquido localizado entre 
as células cerebrais. Durante o sono, esse espaço é ampliado em 60%, permitindo a 
remoção eficiente dos debris acumulados na vigília.
Numerosos estudos laboratoriais investigaram os efeitos da privação de sono 
sobre o desempenho físico e cognitivo. Notavelmente, a maioria dos estudos cons-
tatou que 2 ou 3 dias de privação exercem pouco efeito sobre a força, a habilidade 
atlética ou o desempenho em tarefas complexas. Porém, ao serem privadas de sono, 
as pessoas têm dificuldade para executar tarefas calmas, como ler, considerando pra-
ticamente impossível realizar tarefas monótonas ou corriqueiras.
Um longo período de privação de sono causa problemas de humor e diminui o 
desempenho cognitivo. As pessoas que sofrem de privação de sono crônica podem 
apresentar lapsos de memória e diminuição da memória a curto prazo, talvez de-
vido em parte ao acúmulo de subprodutos metabólicos de atividade neural (Kuchi-
bhotla et al., 2008). Estudos usando ratos demonstraram que a privação de sono 
prolongada compromete o sistema imune e leva à morte. Ela também é perigosa e 
potencialmente desastrosa, por tornar as pessoas propensas a microssonos, em 
que adormecem ao longo do dia, por períodos que variam de alguns segundos a 1 
minuto (Coren, 1996). 
A privação de sono pode servir a um propósito muito útil: quando as pessoas 
sofrem de depressão, privá-las do sono às vezes alivia a condição. Esse efeito pa-
rece ser devido ao aumento da ativação dos receptores de serotonina causado pela 
privação de sono, do mesmo modo como atuam os fármacos usados no tratamen-
to da depressão (Benedetti et al., 1999; o tratamento da depressão é discutido no 
Cap. 15, “Tratamento dos transtornos psicológicos”). Para as pessoas que não sofrem 
de depressão, todavia, a privação de sono tende mais a produzir resultados negativos 
do que positivos sobre o humor. 
RITMOS CIRCADIANOS. A teoria dos ritmos circadianos pro-
põe que o sono evoluiu para manter os animais calmos e inativos 
durante os momentos de maior perigo ao longo do dia, em geral 
quando está escuro. De acordo com essa teoria, os animais neces-
sitam apenas de uma quantidade limitada de tempo por dia para 
suprir seus requerimentos de sobrevida, sendo para eles adaptativa 
a permanência na inatividade no restante do tempo, de preferência 
escondidos. Portanto, a quantidade de sono típica de um animal 
depende de quanto tempo ele necessita para obter comida, da fa-
cilidade para se esconder e da vulnerabilidade a ataques. Animais 
pequenos tendem a dormir muito. Animais grandes e vulneráveis a 
ataques, como vacas e veados, dormem pouco. Grandes predadores 
que não são vulneráveis dormem muito (FIG. 4.17). Nós, humanos, 
dependemos muito da visão para a sobrevivência. Somos adapta-
dos ao sono noturno, porque nossos antigos ancestrais ficavam 
mais expostos ao risco no escuro. 
FIGURA 4.17 Predador dormindo. Após 
uma caçada recente, o leão dorme por 
dias.

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