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1 Júlia Morbeck – @med.morbeck Objetivos 1- Debater sobre a epidemiologia, etiologia, fatores de risco, fisiopatologia, classificação, manifestações clínicas, complicações e tratamento das úlceras por pressão. Úlceras por pressão ↠ São lesões isquêmicas da pele e estruturas subjacentes causadas pela pressão não aliviada que prejudica o fluxo de sangue e linfa. Muitas vezes, são chamadas de úlceras de decúbito (PORTH, 10ª ed.). ↠ Ocorre redução do fluxo sanguíneo, que ocasiona isquemia tecidual local associada à perda de nutrientes e, por conseguinte, hipóxia dérmica, necrose, ruptura da epiderme e, eventualmente, contaminação bacteriana (MELLO et. al., 2017). ↠ A LPP é um evento adverso que se configura como uma das diversas complicações às quais pacientes hospitalizados estão suscetíveis, podendo levar à destruição parcial ou total dos tecidos (MOURA et. al., 2020). ↠ Têm maior propensão a se desenvolverem sobre uma proeminência óssea, mas podem ocorrer em qualquer parte do corpo sujeita a pressão externa, atrito ou forças de cisalhamento (PORTH, 10ª ed.). OBS.: As proeminências ósseas mais comumente envolvidas são o sacro, as tuberosidades isquiáticas, os trocânteres maiores, os calcanhares e os maléolos laterais (BOLOGNIA). OBS.: Em 2016, foi modificada a terminologia de Úlcera por Pressão para Lesão por Pressão, por essas lesões apresentarem-se em pele íntegra ou como úlcera, alterando ainda os parâmetros para sua classificação (MOURA et. al., 2020). EPIDEMIOLOGIA ↠ A UP surge decorrente de uma pressão contínua exercida sobre a pele e nos tecidos subjacentes, geralmente, em localidades com proeminências ósseas, como: sacrococcígea, com prevalência de 49%, trocantérica 33,5% calcânea 9% e isquiática 5,5%, occipital 3% (MELLO et. al., 2017). ↠ No Brasil, embora não existam trabalhos sobre a incidência e prevalência de LPP, em âmbito nacional, a prevalência varia entre 5,3% e 26,0% (MOURA et. al., 2020). ↠ Apesar dos avanços nos cuidados em saúde nos últimos anos, as úlceras por pressão continuam sendo uma importante causa de morbidade e mortalidade, constituindo grande impacto na qualidade de vida do paciente e de seus familiares, gerando um problema social, econômico e de saúde pública (ASCARI et. al., 2014). ↠ A úlcera por pressão é uma ferida crônica por ser de longa duração e com reincidência frequente, de cicatrização difícil, uma vez que ocorre considerável desconforto e dor, influenciando no aumento de dias de permanência no hospital, dificultando o retorno ao convívio familiar (ASCARI et. al., 2014). ETIOLOGIA E FATORES DE RISCO ↠ Vários fatores contribuem para o desenvolvimento das úlceras de pressão, incluindo outras comorbidades, como o diabetes tipo 2, a pressão do posicionamento e do peso corporal, a transpiração e/ou incontinência, citando apenas alguns (PORTH, 10ª ed.). ↠ Os fatores de risco que predispõem ao desenvolvimento das úlceras de pressão incluem imobilidade prolongada, déficit sensorial, distúrbio circulatório e má nutrição (BOLOGNIA, 2015). FATORES EXTRÍNSECOS (OLIVEIRA ET.AL., 2017). PRESSÃO CONTÍNUA Quando em área de lesão ou proeminência óssea ocorre pressão excessiva ou contínua, a irrigação sanguínea torna-se prejudicada, dificultando a irrigação no local da lesão. CISALHAMENTO Ocorre quando o paciente desliza na cama; o esqueleto e os tecidos mais próximos se movimentam, mas a pele das nádegas permanece imóvel. Um dos piores hábitos é o de apoiar as costas na cabeceira APG 28 2 Júlia Morbeck – @med.morbeck da cama, pois favorece o deslizamento, causando dobras na pele. FRICÇÃO Ocorre quando duas superfícies são esfregadas uma contra a outra. A causa mais comum é “arrastar” o paciente em vez invés de levantá-lo. A umidade piora os efeitos da fricção. UMIDADE É importante diminuir a exposição da pele à umidade excessiva, para que não haja rompimento da epiderme. FATORES INTRÍNSECOS IDADE AVANÇADA O idoso é mais suscetível às lesões e ao retardo das fases de cicatrização devido à deficiência nutricional, ao comprometimento imunológico, circulatório e respiratório, ao ressecamento da pele e à fragilidade capilar. Outras características da idade que aumentam à suscetibilidade às lesões são a produção de vitamina D, a resposta inflamatória, a síntese de colágeno, a angiogênese, a dificuldade de cicatrização e a diminuição da espessura da derme. DOENÇAS CONCOMITANTES Hipertensão Arterial Severa (HAS), Diabetes Mellitus (DM), hepatopatias, nefropatias, problemas vasculares e neoplasias. Essas doenças retardam ou impedem a evolução do processo de cicatrização. CONDIÇÕES NUTRICIONAIS São os nutrientes que fornecem o substrato necessário para o organismo realizar o processo reconstrutivo e para fazer frente às infecções. A deficiência de alguns nutrientes compromete diretamente o processo cicatricial. O paciente deve ser acompanhado com exames laboratoriais e dados antropométricos. DROGAS SISTÊMICAS Corticoides, agentes citotóxicos (quimioterápicos), penicilina, anti-inflamatórios entre outras inibem o processo de cicatrização. Medicamentos psicoativos causam sonolência podendo aumentar a imobilidade do paciente. MOBILIDADE REDUZIDA OU AUSENTE Pacientes com diminuição da capacidade de mudar de posição de forma independente devem ter a pressão local aliviada pela mudança de decúbito. FISIOPATOLOGIA ↠ Quatro fatores etiológicos principais foram identificados como tendo um papel importante no desenvolvimento das úlceras de pressão: pressão externa, forças de cisalhamento, fricção e umidade (BOLOGNIA, 2015). Importante: As pressões externas que excedem a pressão capilar interrompem o fluxo sanguíneo nos capilares. Quando a pressão entre uma proeminência óssea e uma superfície de suporte excede a pressão normal de enchimento capilar, o fluxo capilar, fundamentalmente, é obstruído. Se essa pressão é aplicada constantemente durante 2 h, a privação de oxigênio, somada a um acúmulo de produtos metabólicos finais, leva a danos irreversíveis. As pessoas com circulação deficiente precisarão de uma pressão menor para interromper a circulação, de modo que correm risco ainda maior de desenvolver uma úlcera de pressão. A mesma quantidade de pressão causa um dano maior quando distribuída sobre uma área menor do que sobre uma área maior (PORTH, 10ª ed.). ↠ As pressões intersticiais >32 mmHg (variação de pressão capilar normal = 12-32 mmHg) normalmente comprometem a oxigenação e a microcirculação. Há uma curva inversa de tempo/pressão, com a formação mais lenta da úlcera em pressões mais baixas e uma formação mais rápida em pressões maiores (≥70mmHg). O tempo de exposição contínua da pele à pressão também é de crucial importância, explicando assim por que o alívio intermitente da pressão pode prevenir a formação de úlcera. Como os tecidos subcutâneos são mais suscetíveis a efeitos danosos da exposição prolongada à pressão, o trauma do tecido profundo pode ocorrer com dano superficial relativamente pequeno (BOLOGNIA, 2015). 3 Júlia Morbeck – @med.morbeck ↠ As forças de cisalhamento resultam do deslizamento e deslocamento relativo de duas superfícies justapostas. Embora a pressão externa seja mais eficaz que as forças de cisalhamento na redução do fluxo sanguíneo arteriolar, esses dois fatores combinados aumentam a oclusão vascular. Quando a cabeça de um paciente em decúbito é elevada acima de 30°, as forças de cisalhamento se concentram nas áreas sacrais e coccígeas. O deslizamento do tronco transmite a pressão ao sacro e à fáscia profunda, enquanto a pele sacral externa é fixada devido ao atrito com o leito. Os vasos da porção mais profunda da fáscia superficial se angulam e trombosam, manifestando-se clinicamente como úlcerasubminada (BOLOGNIA, 2015). ↠ O atrito está normalmente associado ao cisalhamento e reflete o grau de resistência gerado quando duas superfícies que estão em contato se movem em sentidos opostos. Quando um paciente acamado é arrastado sobre os lençóis, produz atrito. O dano ao estrato córneo, que tem função de proteção, compromete a barreira cutânea, predispondo à formação das úlceras (BOLOGNIA, 2015). ↠ Estudos demonstraram que o ambiente úmido, causado pela transpiração relacionada à febre, pela urina e pelas fezes, pode aumentar em cinco vezes o risco de formação de úlcera de pressão (BOLOGNIA, 2015). CLASSIFICAÇÃO e MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS ↠ Existem vários sistemas de classificação das lesões por pressão. Elas são categorizadas para indicar a extensão do dano tissular. O sistema mais utilizado é o National Pressure Ulcer Advisory Panel (NPUAP) e inclui as definições: (LOBATO et. al., 2017). • Lesão por Pressão Estágio 1: Pele íntegra com eritema que não embranquecida. A pele encontra-se intacta e ruborizada; ao toque, não branqueia. A área pode encontrar-se dolorosa, firme, suave, mais quente ou mais fria comparativamente com o tecido adjacente. Essa categoria pode ser difícil de detectar em indivíduos que apresentem tons de pele mais escuros (SOUSA et. al., 2019). • Lesão por Pressão Estágio 2: Perda da pele em sua espessura parcial com exposição da derme. Nesse estágio, há perda da espessura parcial da pele com exposição da derme. O leito da ferida 4 Júlia Morbeck – @med.morbeck pode ter coloração rosa ou vermelha, ser úmido e também pode se apresentar como uma bolha intacta (preenchida com exsudato seroso) ou rompida (FRANÇA, 2018). • Lesão por Pressão Estágio 3: Perda da pele em sua espessura total. É entendida como perda da espessura total da pele, com exposição de tecido adiposo, frequentemente, há presença de tecido de granulação e epíbole (lesão com bordas enroladas), assim como pode haver esfacelo e /ou escara. É possível ocorrer descolamento e tunelização. A profundidade do dano tissular varia de acordo com a localização anatômica, sendo que as áreas com quantidade expressiva de tecido adiposo podem desenvolver lesões mais profundas (FRANÇA, 2018). • Lesão por pressão Estágio 4: Perda da pele em sua espessura total e perda tissular. Consiste na perda total da espessura da pele e perda tissular com exposição ou palpação direta da fáscia, músculo, tendão, ligamento, cartilagem ou osso. É possível visualizar esfacelo e /ou escara, bem como epíbole, descolamento e/ou tunelização. A profundidade do dano tissular também está condicionada a localização anatômica (FRANÇA, 2018). • Lesão por Pressão Não Classificável: Perda da pele em sua espessura total e perda tissular não visível. É caracterizada pela perda total da espessura da pele e perda tissular, não sendo possível precisar a extensão do dano devido estar encoberta pelo esfacelo ou escara. Após a remoção destes, Lesão por Pressão em Estágio 3 ou Estágio 4 ficará evidente. • Lesão por Pressão Tissular Profunda: descoloração vermelho escuro, marrom ou púrpura, persistente e que não embranquece. Definida como pele intacta ou não, com área localizada e persistente de descoloração vermelha escura, marrom ou púrpura que não embranquece ou separação epidérmica que mostra lesão com leito escurecido ou bolha com exsudato sanguinolento (FRANÇA, 2018). ↠ Em abril de 2016, por ocasião do último encontro do NPUAP, foram discutidas e adicionadas duas novas definições de lesões por pressão: Lesão por Pressão Relacionada a Dispositivo Médico e Lesão por Pressão em Membranas Mucosas (FRANÇA, 2018). 5 Júlia Morbeck – @med.morbeck CARACTERÍSTICAS DOS TECIDOS E FLUIDOS ENCONTRADOS NO LEITO DA FERIDA ↠ Os tecidos encontrados no leito da ferida são classificados em viáveis e inviáveis. Os tecidos viáveis são a granulação e epitelização. Quanto aos tecidos inviáveis, estes envolvem a necrose de coagulação e de liquefação (FRANÇA, 2018). TECIDO DE GRANULAÇÃO ↠ Aspecto vermelho vivo, brilhante, úmido e ricamente vascularizado. Em casos de pacientes com anemia essa tonalidade de vermelho pode evidenciar palidez (FRANÇA, 2018). TECIDO DE EPITELIZAÇÃO ↠ Revestimento novo, rosado e frágil. NECROSE DE COAGULAÇÃO ↠ Caracterizada pela presença de crosta e/ou bem escura. NECROSE DE LIQUEFAÇÃO ↠ Caracterizada pelo tecido amarelo/esverdeado, amolecido. REVISÃO 6 Júlia Morbeck – @med.morbeck ↠ Quanto aos fluidos que podem ser observados no leito da ferida, destacam-se o transudato e o exsudato (FRANÇA, 2018). ↠ O transudato é uma substância fluida que passa através dos vasos, possui baixo conteúdo de proteínas, células e derivados celulares. Já o exsudato é um líquido fluido, constituído de células que escapam de um vaso sanguíneo e se depositam nos tecidos, geralmente em decorrência de um processo inflamatório. Ressalta-se que a natureza do exsudato é ditada pela gravidade da reação e sua causa específica, enquanto que sua coloração pode ser característica do pigmento específico de algumas bactérias, sendo que as principais colorações são amareladas, esbranquiçadas, avermelhadas, esverdeadas e achocolatadas (FRANÇA, 2018). COMPLICAÇÕES ↠ As principais complicações que um paciente com úlcera de pressão está exposto são as infecções (SANAR). ↠ Os fatores locais que contribuem para a infecção das úlceras por pressão incluem quebras na integridade da barreira cutânea, alterações induzidas pela pressão e contaminação de áreas sujas contíguas, como a incontinência fecal (SANAR). IMPORTANTE: Todas as feridas são colonizadas por microrganismos. No entanto, nem todas as feridas estão infectadas (FRANÇA, 2018). ↠ A infecção pode se apresentar de maneira variável, geralmente com sinais locais de comprometimento dos tecidos moles, como calor, eritema, edema, secreção purulenta e presença de odor fétido (LOBATO et. al., 2017). ↠ As seguintes características aumentam a suspeição clínica de infecção secundária associada à lesão de pressão: (LOBATO et. al., 2017). • tecido de granulação friável; • mau odor; • aumento da dor na úlcera; • aumento de drenagem da ferida e mudanças de suas características (reaparecimento de sangue na drenagem, característica purulenta); • maior quantidade de tecido necrótico no leito da ferida; • aparecimento de bolsas ou necroses no leito da ferida; • ausência de sinais de cicatrização após 2 semanas de tratamento apropriado. ↠ A gravidade da infecção pode ser avaliada conforme os seguintes critérios: (FRANÇA, 2018). • infecção leve: presença de duas ou mais manifestações de infecção, porém a área de celulite/eritema ao redor da úlcera é menor ou igual a 2 cm e a infecção é limitada à pele ou ao tecido subcutâneo. Não existem outras manifestações de complicação local ou sintomas sistêmicos; • infecção moderada: infecção que apresenta ao menos uma das seguintes características: celulite/eritema maior do que 2 cm, presença de linfangite, acometimento de fáscia superficial, abcesso em tecido profundo, envolvimento de tendão e musculatura; • infecção grave: paciente com sintomas de toxidade sistêmica ou instabilidade metabólica (como febre, calafrio, taquicardia, hipotensão, confusão, vômitos, leucocitose, acidose, hiperglicemia grave). OBS.: Na suspeita de infecção, idealmente deve-se realizar biópsia de tecido para orientar o tratamento conforme resultado da cultura. Na indisponibilidade dessa avaliação, o tratamento empírico pode ser realizado baseado na gravidade da infecção e perfil de resistência. OSTEOMIELITE ↠ Osteomielite é uma complicação frequente em LP infectada, devendo ser considera principalmenteem pacientes com falha de cicatrização em lesões por pressão adequadamente tratadas, especialmente quando há exposição óssea ou articular (LOBATO et. al., 2017). ↠ O diagnóstico é estabelecido por cultura a partir de biópsia do tecido ósseo. Nesses casos, a cultura de material de biópsia orientará a antibioticoterapia adequada, além disso é recomendado desbridamento cirúrgico do tecido necrótico. Dessa forma está recomendado encaminhamento para diagnóstico emergencial (na 7 Júlia Morbeck – @med.morbeck osteomielite aguda) ou ambulatorial com serviço de ortopedia (osteomielite crônica) (LOBATO et. al., 2017). DIAGNÓSTICO • Avaliação clínica e nutricional. ↠ O diagnóstico é predominantemente clínico, deve-se avaliar as características da lesão. MEDIDA DA LESÃO ↠ Para medir a lesão deve-se utilizar régua limpa e descartável, medindo o maior comprimento cefalocaudal e a maior largura perpendicular (90°) ao comprimento (LOBATO et. al., 2017). ↠ Medir a profundidade com instrumento estéril de ponta romba. O registro fotográfico da lesão é útil para avaliar a evolução do processo de cicatrização da ferida (LOBATO et. al., 2017). TRATAMENTO • Redução da pressão; • Tratamento direto de lesões; • Tratamento da dor; • Controle da infecção; • Avaliação das necessidades nutricionais; • Terapia concomitante ou cirurgia. ↠ Depois da ruptura da pele, são necessárias medidas de tratamento especiais para evitar danos isquêmicos adicionais, reduzir a contaminação e infecção bacteriana e promover a cura (PORTH, 10ª ed.). ↠ As úlceras de estágio I geralmente são tratadas com mudanças de decúbito e medidas para eliminar a pressão frequente (PORTH, 10ª ed.). ↠ As úlceras de estágio II ou III com pouco exsudato são tratadas com curativos oclusivos ou semipermeáveis. O curativo oclusivo pode ajudar na migração celular epitelial ao manter o líquido da ferida. Acredita-se que o líquido da ferida contenha uma variedade de fatores de crescimento que melhoram a cicatrização de feridas. Os curativos oclusivos também podem aliviar a dor da ferida e evitar a contaminação bacteriana. Existem vários tipos de curativos oclusivos disponíveis, incluindo películas poliméricas, hidrogéis, hidrocoloides, biomembranas e grânulos absorventes. Os produtos disponíveis se diferenciam quanto à sua permeabilidade ao vapor de água e à proteção de feridas, cada um dos quais com suas vantagens e desvantagens (PORTH, 10ª ed.). ↠ Os detritos necróticos aumentam a possibilidade de infecção bacteriana e retardam a cicatrização de feridas. As úlceras de estágio III com exsudato e detritos necróticos e as de estágio IV geralmente exigem desbridamento (remoção de tecidos necróticos e escara). Isso pode ser feito cirurgicamente, com curativos úmido- secos, ou por meio da utilização de enzimas proteolíticas (PORTH, 10ª ed.). ↠ As feridas de estágio IV muitas vezes exigem o fechamento para obliterar o espaço morto e são cobertas com curativos não aderentes. As úlceras de estágio IV podem exigir intervenções cirúrgicas, como enxertos de pele ou retalhos miocutâneos. (PORTH, 10ª ed.). Desbridamento ↠ É um componente padrão do tratamento da ferida quando há tecido desvitalizado. Deve ser descontinuado uma vez que o tecido necrótico tenha sido removido e o tecido de granulação esteja presente. Pode ser mecânico, autolítico, enzimático ou instrumental (LOBATO et. al., 2017). 8 Júlia Morbeck – @med.morbeck • Desbridamento mecânico: consiste na aplicação de força mecânica sobre o tecido desvitalizado a fim de facilitar a remoção, promovendo um meio ideal para a ação de coberturas primárias. A irrigação com soro através de jato é o desbridamento mecânico mais indicado para LP. • Desbridamento autolítico: autólise é a degradação natural do tecido desvitalizado. A utilização de coberturas primárias (que entram em contato direto com a ferida) que mantém úmido o leito da ferida e permitem ação de enzimas proteolíticas, agindo sobre o tecido desvitalizado. Pode ser associada com outras técnicas de desbridamento. • Desbridamento enzimático: consiste na aplicação tópica de enzimas desbridantes diretamente no tecido desvitalizado. Bons resultados associados à técnica de Square. • Desbridamento instrumental: utilização de material cortante (pinça, bisturi ou tesoura). Pode ser conservador, realizado por médico e enfermeiro em ambiente ambulatorial ou domiciliar; ou cirúrgico, executado por médico cirurgião. AVALIAÇÃO NUTRICIONAL ↠ A nutrição é essencial para a manutenção da integridade celular e para o processo de cicatrização. O paciente com lesão por pressão demanda uma maior quantidade de nutrientes, em virtude da necessidade do corpo de matéria-prima para a formação tecidual. Logo, o aporte de nutrientes é fundamental no processo de recuperação tecidual, sendo importante tanto na prevenção quanto no tratamento das lesões C ↠ A desnutrição proteico-calórica e a deficiência de micronutrientes como vitamina C, ferro, magnésio e zinco são fatores que prolongam a resposta inflamatória, reduzindo a proliferação de fibroblastos, prejudicando a angiogênese e a síntese de colágeno (FRANÇA, 2018). ↠ A albumina é uma proteína presente em grande quantidade no plasma humano e seus níveis séricos diminuídos contribuem para o retardamento do processo de cicatrização, pois prejudicam a angiogênese; reduzem a proliferação de fibroblastos e consequentemente a síntese e formação do colágeno (FRANÇA, 2018). ↠ Em vista disso, é imprescindível que pacientes com alteração do estado nutricional sejam identificados desde a admissão e sejam submetidos à intervenção de um nutricionista, cuja avaliação deve ser repetida semanalmente (FRANÇA, 2018). PREVENÇÃO ↠ As principais medidas preventivas envolvidas são os mecanismos de distribuição da pressão, mudança periódica de posição, controle da incontinência, cuidados com a pele e nutrição (ASCARI et. al., 2014). ↠ A prevenção de úlcera por pressão em pacientes hospitalizados tem sido apresentado como um dos indicadores de qualidade da assistência prestada pela equipe como um todo (ASCARI et. al., 2014). ↠ Para a avaliação do potencial de risco do paciente, tem-se usado a escala de Braden, um dos protocolos mais conhecidos e eficientes, que foi desenvolvida com base na fisiopatologia das úlceras de pressão onde se utiliza determinantes de suma importância: a intensidade, duração da pressão e tolerância tecidual (ASCARI et. al., 2014). ↠ Esta escala possui seis parâmetros numéricos, ou subescalas que identificam a percepção sensorial, atividade motora, umidade do local, mobilidade e condições nutricionais do paciente e intensidade da 9 Júlia Morbeck – @med.morbeck fricção e cisalhamento. No entanto é válido lembrar a importância da individualização do atendimento, pois cada ser humano é único (ASCARI et. al., 2014). REDISTRIBUIÇÃO DA PRESSÃO ↠ O alívio da pressão é a principal estratégia para prevenção da LP, utilizando superfícies estáticas (de baixa tecnologia) ou dinâmicas (de alta tecnologia) (FRANÇA, 2018). Reposicionamento do paciente ↠ O reposicionamento não reduz a intensidade da pressão, mas reduz a duração desta em determinada área. A frequência deve ser reajustada conforme as características da superfície de apoio e complicações clínicas do paciente (FRANÇA, 2018). ↠ Não existe evidencia sobre o tempo de reposicionamento adequado, portanto sugerimos que o reposicionamento seja realizado a cada 2 horas para pacientes com capacidade circulatória normal (FRANÇA, 2018). Referências NORRIS, Tommie L. Porth - Fisiopatologia. Grupo GEN, 2021. BOLOGNIA, Jean. Dermatologia. Grupo GEN, 2015. ASCARI et. al. Úlcera por pressão:um desafio para a enfermagem. Brazilian Journal of Sugery and Clinical Research, v. 6, n. 1, 2014. SOUSA et. al. II Avaliação e gestão do risco em organizações de saúde. 12. Gestão do risco de quedas, úlceras por pressão e de incidentes relacionados com transfusão de sangue e hemoderivados. Editora FIOCRUZ, 2019. FRANÇA, A. P. F. M. Protocolo de tratamento de lesões por pressão. Pós-Graduação em Gestão e Saúde na Amazônia, 2018. LOBATO et. al. Telecondutas – Lesão por pressão. Versão digital, 2017. MELLO et. al. Estratificação de risco para desenvolvimento de úlceras de pressão e sua associação com a independência funcional de pacientes hospitalizados. ASSOBRAFIR, 2017. MOURA et. al. Prevalência de lesão por pressão em um hospital geral. Revista Eletrônica Acervo Saúde, 2020. OLIVEIRA et. al. Lesão por pressão. Cartilha de orientações sobre prevenção e tratamento de lesão por pressão, 2017.
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