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DIREITO DAS SUCESSÕES INTRODUÇÃO: A utilidade do testamento é para quando se quer dar uma destinação aos bens diferente do que a lei prevê. Se o testamento for feito abrangendo a totalidade dos bens, mas há herdeiros necessários, esse testamento não será desconsiderado, porém será reduzido para abranger apenas metade do patrimônio deixado. A meação do cônjuge sobrevivente não é herança. Sendo assim, se casados pela comunhão de bens, os bens adquiridos pertencem 50% para cada cônjuge. Se apenas um falecer, o cônjuge sobrevivente tem direito a 50% correspondente à sua meação e os herdeiros terão direito a 50% (25% sucessão legítima e 25% sucessão testamentária). VOCAÇÃO HEREDITÁRIA É o chamamento/convocação de uma pessoa viva para ocupar o lugar de sucessor de alguém que faleceu. Esse chamamento pode ser dar de duas formas: pela lei (legítima) ou por testamento. O que legitima o herdeiro a vocacionar é o parentesco ou a sociedade conjugal. A ORDEM DA VOCAÇÃO HEREDITÁRIA É: • Descendentes (+ cônjuge dependendo do regime de bens) • Ascendentes (+ cônjuge) • Cônjuge ou companheiro • Colaterais (até 4º grau) Antes do Código Civil de 2002 o cônjuge permanecia na terceira posição da ordem sucessória. Com a mudança, houve uma supervaloração do cônjuge (e posteriormente do companheiro) que, dependendo do regime de bens, concorre com os descendentes quanto aos bens particulares. O cônjuge sempre concorre com os ascendentes. Quando o de cujus falece “ab intestato” ocorre apenas a sucessão legítima. Quando o de cujus tiver deixado testamento, normalmente a sucessão testamentária se dará concomitantemente com a sucessão legítima, pois o testamento fica restrito à metade do patrimônio deixado pelo de cujus. Para que haja sucessão exclusivamente testamentária são necessários dois requisitos: a) que o de cujus tenha deixado testamento e b) que não haja herdeiros necessários. TERMOS ESSENCIAIS: a) Sucessão a Título Universal: É sucessor universal aquele que recebe o todo ou quota parte (uma fração) do patrimônio do de cujus. A sucessão universal pode se de forma: • Legítima (a sucessão legítima é sempre universal) • Testamentária b) Sucessão a Título Singular: Sempre se dá por testamento, onde o de cujus deixa um bem específico para o sucessor específico. Exemplo: deixo casa X para cicrano. A sucessão singular se dará de forma: • Testamentária (sucessor é o legatário) c) Herdeiro Legítimo: Aquele que recebe por lei todo ou quota parte do patrimônio do falecido. A vocação está na lei. Exemplo: Filhos A, B e C recebem 1/3 cada do patrimônio do de cujus. d) Herdeiro Testamentário: Aquele que recebe, por testamento, todo ou quota parte do patrimônio do de cujus. Exemplo: Testamento (50% bens) e herdeiros A, B e C recebem 1/3 do 50% dos bens cada. e) Legatário: Aquele que recebe, por testamento, bem específico (legado) do falecido. Exemplo: Testamento (50%) dos bens e deixo casa X ao legatário A. OBS: Se não houver herdeiros necessários do de cujus (ascendentes, descendentes ou cônjuge - companheiro), poderá ser objeto do testamento 100% dos bens, e não apenas 50%. Abertura da Sucessão: A abertura da sucessão se dá no exato momento da morte (“droit de saisine”). Não há relação jurídica sem sujeitos, por isso, quando alguém morre, imediatamente os sucessores passam a ocupar a relação jurídica, mesmo que ainda não se saiba quem são os sucessores. Com isso, surgem duas questões: a comoriência e o nascituro. • Comoriência (art. 8º CC): Ocorre quando, em um espaço de tempo muito próximo, morrem duas ou mais pessoas sucessíveis entre si e não se consegue identificar quem faleceu primeiro. Exemplo: pai e filho falecem em um acidente de trânsito. A solução encontrada foi fazer as sucessões como se o outro já houvesse falecido. No exemplo, abrir-se- ia a sucessão do pai como se o filho fosse pré- morto e a sucessão do filho como se o pai fosse pré-morto. • Nascituro: A lei preserva os direitos sucessórios do nascituro, caso algum dos genitores faleça ante que irão se confirmar se ele nascer com vida. Ainda que o bebê tenha morrido logo após de nascer, ele herdou dos genitores pelo princípio da saisine. Se não nascer com vida não herda. A destinação do patrimônio do genitor será diferente entre esses dois casos. O nascimento com vida, para o direito brasileiro, segundo Carvalho Santos, ocorre com a separação do feto do corpo da mãe (com ou sem corte do cordão umbilical) + respiração. Para que alguém seja chamado a suceder, em regra, deve ser uma pessoa que esteja em vida, ou ao menos em concepção (caso do nascituro). Art. 1.784. Aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aos herdeiros legítimos e testamentários. Dispõe sobre o princípio da saisine. Observa-se nesse artigo, que a lei não abrange os legatários (não transmite os bens de imediato). Art. 1.785. A sucessão abre-se no lugar do último domicílio do falecido. É a regra adotada pelo direito brasileiro: abre-se a sucessão no lugar do último domicílio do de cujus. Se o de cujus tiver mais de um domicílio, abre-se em qualquer um deles. Art. 1.786. A sucessão dá-se por lei ou por disposição de última vontade. Art. 1.787. Regula a sucessão e a legitimação para suceder a lei vigente ao tempo da abertura daquela. A sucessão será regulada pela lei que estava em vigor quando do falecimento. Art. 1.788. Morrendo a pessoa sem testamento, transmite a herança aos herdeiros legítimos; o mesmo ocorrerá quanto aos bens que não forem compreendidos no testamento; e subsiste a sucessão legítima se o testamento caducar, ou for julgado nulo. O testamento é um ato formal, devendo ser escrito e assinado por duas testemunhas. Se for feito por vídeo, por exemplo, é inexistente. Se for assinado por apenas uma testemunha é apenas nulo. Quando alguém morre e deixa testamento, o advogado deve levá-lo ao Poder Judiciário, através de um processo de jurisdição voluntária, para registrar o testamento. O testamento pode ser público, feito no cartório de registro civil, ou cerrado, que será sigiloso e as testemunhas serão apenas para confirmar que o testamento foi feito. Nesse último caso, o testamento será lacrado (antigamente era costurado) e somente o juiz poderá romper o lacre. Ambos deverão ser levados ao judiciário para análise. Art. 1.789. Havendo herdeiros necessários, o testador só poderá dispor da metade da herança. Art. 1.790. Foi considerado inconstitucional pelo STF em março de 2017 e, desde então, houve a igualação total do convivente ao cônjuge. VOCAÇÃO HEREDITÁRIA SUCESSÃO LEGÍTIMA Art. 1.798. Legitimam-se a suceder as pessoas nascidas ou já concebidas no momento da abertura da sucessão. Trata da sucessão legítima, determinando que, pelo princípio da saisine, o sucessor deve estar vivo ou ao menos concebido à época do falecimento. OBS: Enunciado 267 – No caso dos embriões congelados, tais ocupam o mesmo lugar dos nascituros. Assim, se o inventário já tiver sido aberto sem sua presença, os futuros herdeiros oriundos desses embriões deverão chamar os demais herdeiros e realizarem nova partilha. O mesmo ocorre com o filho desconhecido, que aparecer depois de já aberto ou já terminado o inventário. SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA Art. 1.799. Na sucessão testamentária podem ainda ser chamados a suceder: I - os filhos, ainda não concebidos, de pessoas indicadas pelo testador, desde que vivas estas ao abrir-se a sucessão; Art. 1.800. No caso do inciso I do artigo antecedente, os bens da herança serão confiados, após a liquidação ou partilha, a curador nomeado pelo juiz. § 1o Salvo disposição testamentária em contrário, a curatela caberá à pessoa cujo filho o testador esperava ter por herdeiro, e, sucessivamente, às pessoas indicadasno art. 1.775. § 2o Os poderes, deveres e responsabilidades do curador, assim nomeado, regem-se pelas disposições concernentes à curatela dos incapazes, no que couber. § 3o Nascendo com vida o herdeiro esperado, ser- lhe-á deferida a sucessão, com os frutos e rendimentos relativos à deixa, a partir da morte do testador. § 4o Se, decorridos dois anos após a abertura da sucessão, não for concebido o herdeiro esperado, os bens reservados, salvo disposição em contrário do testador, caberão aos herdeiros legítimos. Quem não possui legitimidade testamentária (nem herdeiros nem legatários): Art. 1.801. Não podem ser nomeados herdeiros nem legatários: I - a pessoa que, a rogo, escreveu o testamento, nem o seu cônjuge, ou os seus ascendentes e irmãos; II - as testemunhas do testamento; III - o concubino do testador casado, salvo se este, sem culpa sua, estiver separado de fato do cônjuge há mais de cinco anos; IV - o tabelião, civil ou militar, ou o comandante ou escrivão, perante quem se fizer, assim como o que fizer ou aprovar o testamento. Art. 1.802. São nulas as disposições testamentárias em favor de pessoas não legitimadas a suceder, ainda quando simuladas sob a forma de contrato oneroso, ou feitas mediante interposta pessoa. Parágrafo único. Presumem-se pessoas interpostas os ascendentes, os descendentes, os irmãos e o cônjuge ou companheiro do não legitimado a suceder. ACEITAÇÃO E RENÚNCIA DA HERANÇA INTRODUÇÃO A aceitação é ato jurídico em sentido estrito, porque não se define seus efeitos. É um ato jurídico unilateral e necessário pelo qual o herdeiro confirma sua intenção de receber o acervo que lhe é transmitido. A aceitação, a partir do código de 2002, passa a ser irrevogável. A aceitação e a renúncia da herança são atos puros e simples, ou o herdeiro aceita todo o quinhão que lhe cabe ou renúncia todo o quinhão que lhe cabe. Quando se abre o inventário, a primeira obrigação do inventariante é realizar a liquidação das dívidas deixadas pelo de cujus. Art. 1.793. O direito à sucessão aberta, bem como o quinhão de que disponha o co-herdeiro, pode ser objeto de cessão por escritura pública. Para que eu possa vender ou doar meu direito à sucessão aberta, essa cessão deve ser feita por instrumento público e, se for casada ou estiver em união estável, deve ter a anuência do cônjuge ou companheiro. Direito de Acrescer: Se um dos herdeiros renuncia à herança, sua parte é acrescida à dos outros. Os filhos do que renunciou não têm direito de representação. Renunciar “em favor de” não é renuncia, é cessão. Porque quando se renuncia não se pode escolher para quem vai sua parte. Art. 1.794. O co-herdeiro não poderá ceder a sua quota hereditária a pessoa estranha à sucessão, se outro co-herdeiro a quiser, tanto por tanto. Direito de preferência do co-herdeiro à quota parte que outro herdeiro queira ceder, enquanto a herança é indivisível. ESPÉCIES DE ACEITAÇÃO • Expressa: A aceitação da herança será expressa quando feita por declaração escrita, termo nos autos, ou escritura pública ou particular (não é admitida aceitação oral). • Tácita: Quando o herdeiro, embora não se manifeste expressamente, pratica atos próprios da qualidade de herdeiro. Ou seja, pratica atos incompatíveis com a postura de quem pretende renunciar a herança. • Presumida: Caso algum interessado não tiver certeza se o herdeiro irá aceitar ou não a herança, poderá requerer a intimação do silente, postulando a sua manifestação em até 30 dias. Não se manifestando no prazo concedido, ter-se-á por aceita a qualidade de De cujus Renunciou Não pode representar Não pode representar Recebe 100% De cujus Renunciou Herda por direito próprio (1/2) Herda por direito próprio (1/2) sucessor, uma vez que a aceitação será presumida. CARACTERÍSTICAS DA ACEITAÇÃO • Personalíssima: Salvo as exceções de aceitação indireta (sucessão do herdeiro aceita, por exemplo), a aceitação é ato exclusivo do herdeiro. • Unilateral: A aceitação não precisa se comunicar a outra pessoa para que produza efeitos. • Indivisível: Não é admitida no direito brasileiro a aceitação parcial da herança (art. 1.808 CC). Contudo, quando o sucessor ocupar a posição de herdeiro e legatário, poderá aceitar um e renunciar outro, visto que são duas situações jurídicas distintas. Se o herdeiro for legítimo e testamentário, também poderá aceitar uma herança e renunciar a outra. • Incondicional: A aceitação não admite ficar submetida à condição ou termo (art. 1.808 CC). • Irretratável: Uma vez aceita (por qualquer de suas modalidades), não mais se admite a reconsideração pelo herdeiro. RENÚNCIA DA HERANÇA INTRODUÇÃO A renúncia é o ato pelo qual o sucessor manifesta a sua recusa ao direito hereditário. ESPÉCIES DE RENÚNCIA A renúncia é um ato jurídico unilateral e formal, pois exige o expresso e explícito pronunciamento do sucessor acerca da não aceitação da herança que lhe cabe. Tal manifestação pode ser dar de duas formas: • Escrita, através de instrumento público ou termo judicial lançado nos autos do inventário. • Pronunciamento perante solene do titular da herança perante o juiz de direito. Por força do artigo 80 do CC, a sucessão aberta é considerada como bem imóvel, pois ao renunciar a herança o herdeiro poderá estar renunciando um bem imóvel, portanto, se o sucessor for casado (exceto no regime da separação total de bens), deverá acostar a anuência do cônjuge para com a renúncia. Sanção: Se não houver a anuência do cônjuge, a pena será de anulabilidade do ato (renúncia). Se não houver a anuência do cônjuge em um primeiro momento, a renúncia poderá ser ratificada posteriormente e se convalidará o ato. CARACTERÍSTICAS DA RENÚNCIA • Unilateral: A renúncia também não precisa se comunicar a outra pessoa para que produza efeitos. Contudo, neste caso, é necessária a outorga uxória (do cônjuge não sucessor). • Indivisível: Assim como não é possível aceitar apenas uma parte, não é possível renunciar apenas parte da herança. Ela é indivisível. • Formal e expresso: Se dá através de instrumento público, termo judicial ou pronunciamento perante juiz de direito. A renúncia nunca será presumida, deverá ser expressamente manifestada. • Incondicional: Não se submete à condição ou termo. A renúncia não gera direito de representação. Se o pai renunciar, os netos não poderão representá-lo pela quota renunciada. EXCEÇÃO: Se o renunciante for o único herdeiro legítimo, seus filhos poderão herdar por direito próprio. De cujus Renunciou Herda por direito próprio (1/3) Herda por direito próprio (1/3) Renunciou Herda por direito próprio (1/3) Se houver dívida e os herdeiros renunciarem, os credores poderão assumir o lugar transitoriamente do herdeiro, adquirindo parte da herança até o montante da dívida. O valor restante não será dado ao herdeiro que renunciou – prevalece a renúncia. EFEITOS DA RENÚNCIA • O quinhão hereditário do renunciante passa a compor o acervo comum, como se não existisse o herdeiro renunciante. • Na sucessão legítima, havendo colaterais da mesma classe, a estes será acrescida a parte do renunciante. Sendo ele o único herdeiro da classe, ou se todos também renunciarem, serão chamados os sucessores da classe seguinte, os quais receberão por direito próprio por cabeça. • Não haverá direito de representação do herdeiro renunciante. • Na sucessão testamentária, o testador pode indicar um substituto ao herdeiro renunciante ou o quinhão pode ser acrescido aos demais herdeiros testamentários. Fora essas hipóteses, a herança voltará ao monte mor seguindo para os herdeiros legítimos, ou, caso não existam, ao Poder Público. EXCLUSÃO POR INDIGNIDADE NOÇÕES GERAIS A exclusão por indignidade se dará por meiode uma ação declaratória, a qual afirmará a indignidade do herdeiro ou legatário, retirando o direito à herança de quem é sucessor capaz, em virtude de atos de ingratidão. A exclusão só pode se dar por ação própria. Há também a deserdação, que é uma forma de exclusão, nos casos em que o de cujus, através do testamento, retira os direitos sucessórios de um herdeiro necessário. Para que haja a exclusão ou a deserdação, a pessoa deve ter cometido algum dos atos dispostos previstos taxativamente no artigo 1.814 do Código Civil. Art. 1.814. São excluídos da sucessão os herdeiros ou legatários: I - que houverem sido autores, co-autores ou partícipes de homicídio doloso, ou tentativa deste, contra a pessoa de cuja sucessão se tratar, seu cônjuge, companheiro, ascendente ou descendente; Se houver sentença condenatória transitada em julgado no criminal, esta faz coisa julgada no cível, uma vez que não há como absolver o autor na ação declaratória de indignidade. Se a sentença for absolutória (por falta de provas, por exemplo), ainda assim o herdeiro poderá ser condenado na ação de indignidade. II - que houverem acusado caluniosamente em juízo o autor da herança ou incorrerem em crime contra a sua honra, ou de seu cônjuge ou companheiro; III - que, por violência ou meios fraudulentos, inibirem ou obstarem o autor da herança de dispor livremente de seus bens por ato de última vontade. Art. 1.815. A exclusão do herdeiro ou legatário, em qualquer desses casos de indignidade, será declarada por sentença. LEGITIMIDADE PARA PROPOR A AÇÃO DECLARATÓRIA DE INDIGNIDADE Art. 1.815 §1º O direito de demandar a exclusão do herdeiro ou legatário extingue-se em quatro anos, contados da abertura da sucessão. Possui legitimidade para propor a ação declaratória de indignidade qualquer pessoa que tenha interesse econômico (vantagem patrimonial) com o afastamento do herdeiro. O prazo estipulado é decadencial – 04 anos para demandar a exclusão do herdeiro, contados da abertura da sucessão (= data da morte). §2º Na hipótese do inciso I do art. 1.814, o Ministério Público tem legitimidade para demandar a exclusão do herdeiro ou legatário. Art. 1.816. São pessoais os efeitos da exclusão; os descendentes do herdeiro excluído sucedem, como se ele morto fosse antes da abertura da sucessão. Parágrafo único. O excluído da sucessão não terá direito ao usufruto ou à administração dos bens que a seus sucessores couberem na herança, nem à sucessão eventual desses bens. Art. 1.817. São válidas as alienações onerosas de bens hereditários a terceiros de boa-fé, e os atos de administração legalmente praticados pelo herdeiro, antes da sentença de exclusão; mas aos herdeiros subsiste, quando prejudicados, o direito de demandar-lhe perdas e danos. Enquanto não transitar em julgado a sentença declaratória de indignidade o herdeiro é herdeiro e poderá dispor dos bens e estes atos de disposição serão válidos. Se prejudicar os demais herdeiros, os mesmos poderão ingressar com perdas e danos. Parágrafo único. O excluído da sucessão é obrigado a restituir os frutos e rendimentos que dos bens da herança houver percebido, mas tem direito a ser indenizado das despesas com a conservação deles. (Equiparado ao possuidor de má-fé). Art. 1.818. Aquele que incorreu em atos que determinem a exclusão da herança será admitido a suceder, se o ofendido o tiver expressamente reabilitado em testamento, ou em outro ato autêntico. Reabilitação do Indigno: A causa da exclusão por indignidade pode se dar uma por um ato anterior ou posterior à morte. Se aquele que foi ofendido, ainda em vida, por ato autêntico (no testamento, mediante escritura pública ou através de declaração perante tabelião ou juiz (fé pública)), perdoar o ato praticado, o herdeiro poderá ser reabilitado. Parágrafo único. Não havendo reabilitação expressa, o indigno, contemplado em testamento do ofendido, quando o testador, ao testar, já conhecia a causa da indignidade, pode suceder no limite da disposição testamentária. Quando o de cujus ofendido, após ter conhecimento da ofensa que gerou a indignidade, testar quinhão ao indigno, receberá esta deixa testamentária, mas tal ação não gera a presunção de reabilitação (reabilitação tácita não existe). HERANÇA JACENTE E HERENÇA VACANTE HERANÇA JACENTE (ART. 783 DO CPC) A herança será jacente a partir da abertura da sucessão, enquanto os herdeiros forem desconhecidos, ou, sendo conhecidos, todos renunciarem à herança. Portanto, a herança será jacente até que apareça um herdeiro que se habilite. Declarada a jacência, o juiz determinará a arrecadação dos bens e nomeará curador da herança. Art. 741. Ultimada a arrecadação, o juiz mandará expedir edital, que será publicado na rede mundial de computadores, no sítio do tribunal a que estiver vinculado o juízo e na plataforma de editais do Conselho Nacional de Justiça, onde permanecerá por 3 (três) meses, ou, não havendo sítio, no órgão oficial e na imprensa da comarca, por 3 (três) vezes com intervalos de 1 (um) mês, para que os sucessores do falecido venham a habilitar-se no prazo de 6 (seis) meses contado da primeira publicação. HERANÇA VACANTE Passado 01 ano da declaração de jacência, a herança passa a ser vacante e patrimônio é transferido ao município através da declaração de vacância. Essa propriedade do município será considerada resolúvel, até completar 05 anos da abertura da sucessão (data da morte). A declaração de vacância afasta os clateria s da herença (não poderão mais se habilitar). Na hipótese de todos os sucessores conhecidos renunciarem à herança, ela será, desde logo, declarda vacante. Não haverá o período de jacência. Art. 1.823. Quando todos os chamados a suceder renunciarem à herança, será esta desde logo declarada vacante. De cujus Indigno Representa (1/4) Representa (1/4) Recebe 1/2 Falecido De cujus 1/3 1/3 Pré- morto Metade de 1/3 Metade de 1/3 De cujus Pré-morto 1/4 Indigno 1/4 Deserdado 1/4 1/4 DIREITO DE REPRESENTAÇÃO Dois podem ser os modos de suceder: • Por direito próprio por cabeça • Por representação por estirpe No direito de representação, há alguém que receberia por direito próprio, mas que por alguma causa deixa de receber. Causas que geram a representação: • Pré-morte (herdeiro anterior faleceu antes do de cujus) • Indignidade (sentença que declarou o herdeiro indigno) • Deserdação (exclusão testamentária do herdeiro) Em regra, o direito de representação somente se dá na classe dos descendentes. Contudo, há uma exceção (art. 1.853 CC): Na classe dos colaterais, quando houver o afastamento de um irmão, os filhos do irmão podem representá-lo. Somente os filhos de irmão, concorrendo com os tios, podem representar. Importante: O direito de representação, na colateral, limita-se aos filhos do irmão, não estendendo-se aos netos. Nesse caso, todos do mesmo grau estavam impedidos de alguma forma. Sendo assim, cada neto recebe ¼ da herança por direito próprio por cabeça. Nesse caso, o herdeiro de 1º grau vivo receberá o equivalente ao seu quinhão, ao passo que os netos dos irmãos receberão sua quota do quinhão de seu genitor. RENÚNCIA E O DIREITO DE REPRESENTAÇÃO A renúncia, em regra, não gera direito de representação. Exceção: se todos do mesmo grau estiverem impedidos também. Nesse caso, todos do mesmo grau estão impedidos de alguma forma de receber a herança. Assim, cada neto receberá sua quota por cabeça (direito próprio). Aqui, o herdeiro vivo recebe seu quinhão por direito próprio ½ da herança, como se o irmão renunciante não existisse. Os filhos do herdeiro pré-morto recebem sua quota parte do quinhão de seu genitor (½ : ½ = ¼), por representação. Se o único herdeiro renunciar (todo1º grau), seus filhos receberão a herança por direito próprio por cabeça. Não se trata de representação. De cujus 1/3 direito próprio Indigno 1/3 Deserdado 1/6 1/6 De cujus Pré-morto 1/4 Indigno 1/4 Renunciou 1/4 1/4 De cujus Renunciou Não pode representar 1/2 Pré-morto 1/4 1/4 De cujus Renunciou 1/3 1/3 1/3 De cujus 1/3 Pré-morto Renunciou 1/6 1/6 1/3 OBS: Se o de cujus for casado com comunhão de bens, o patrimônio será dividido pela metade, pois a outra meação será do cônjuge supérstite. Nesse caso, os herdeiros de 1º grau recebem por direito próprio por cabeça, ao passo que os bisnetos dividem o quinhão de seu avô por representação, vez que a renúncia de seu genitor não foi em relação ao de cujus. ORDEM DA SUCESSÃO LEGÍTIMA Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte: I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se casado este com o falecido no regime da comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens (art. 1.640, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado bens particulares; II - aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge; III - ao cônjuge sobrevivente; IV - aos colaterais. O cônjuge não concorrerá com os descendentes se for casado com o regime de separação obrigatória de bens e comunhão universal, ou se, no regime da comunhão parcial, não tiver deixado bens particulares. A lógica é que: se os cônjuges tiverem patrimônio comum, o cônjuge supérstite não herdará, visto que já tem a meação. Nas hipóteses do regime de comunhão parcial, separação total convencional e separação final dos aquestos, o cônjuge concorre com os herdeiros SOMENTE em relação aos bens particulares (no caso de separação total não haverá bens comuns, somente particulares). DIFERENÇA ENTRE CASAMENTO E UNIÃO ESTÁVEL NO DIREITO SUCESSÓRIO O Código Civil aos tratar da sucessão do companheiro, desigualava o cônjuge do companheiro. O STF, em março de 2017, igualou-os totalmente para efeitos sucessórios, tornando-se inaplicável o art. 1.790 do CC. No que diz ao direito sucessório, a diferente é que na união estável há como vantagem a dispensa das formalidades legais exigidas no casamento, porém, como desvantagem, há a possibilidade de contestação da alegada união estável, visto que o casamento proporciona maior segurança jurídica. SUCESSÃO DO DESCENDENTE A sucessão sempre se dá por classes e de maneira excludente, visto que o grau mais próximo exclui o mais remoto. A sucessão legítima ocorre quando alguém morre “ab intestato” ou quando, havendo testamento, este não abrange a totalidade dos bens. No direito das sucessões a afetividade entre os parentes é presumida, portanto sempre herdará o parente de grau mais próximo. CÔNJUGE E O DIREITO REAL DE HABITAÇÃO (ART. 1.831 CC) Se no acervo hereditário houver apenas um bem imóvel deixado, o cônjuge sobrevivente adquire o direito de usufruto vitalício, pois o imóvel será de propriedade dos descendentes. É um instituto assistencial, portanto independe do regime de bens do casamento. Se o de cujus tiver mais de um imóvel, o cônjuge sobrevivente não adquire o direito real de habitação. Art. 1.832. Em concorrência com os descendentes (art. 1.829, inciso I) caberá ao cônjuge quinhão igual ao dos que sucederem por cabeça, não podendo a sua quota ser inferior à quarta parte da herança, se for ascendente dos herdeiros com que concorrer. O cônjuge sobrevivente receberá (concorrerá) como mais uma cabeça em relação aos bens particulares. De cujus 1/3 filho 1/3 filho 1/3 cônjuge De cujus Filho Filho Filho Filho 1/4 cônjuge De cujus Direito próprio 1/2 Renunciou Não representa Não representa Pré-morto Representa 1/2 Se o cônjuge supérstite for pai ou mãe de todos os filhos herdeiros, fica reservado a ele no mínimo ¼ da herança. Art. 1.833. Entre os descendentes, os em grau mais próximo excluem os mais remotos, salvo o direito de representação. Art. 1.834. Os descendentes da mesma classe têm os mesmos direitos à sucessão de seus ascendentes. Art. 1.835. Na linha descendente, os filhos sucedem por cabeça, e os outros descendentes, por cabeça ou por estirpe, conforme se achem ou não no mesmo grau. A renúncia, em regra, não gera direito de representação e o quinhão do herdeiro renunciante será acrescido ao dos demais herdeiros. De cujus Direito próprio 1/3 Indigno Representa 1/6 Representa 1/6 Pré-morto Representa 1/3 Resolução de questões de prova: 1) Existe diferença entre as expressões herdeiro testamentário e sucessor testamentário? 2) Leticia, viúva, deixou ao falecer três filhos: Samuel, que tem dois filhos, Lucas que tem um filho, e Maria que tem dois filhos. Lucas, que matou cruelmente a mãe, foi considerado indigno por sentença proferida em ação ordinária. Sabendo-se que Samuel renunciou à herança, pergunta-se quem sucederá a falecida? E em que modo? Como será feita a partilha de bens, explique. 3) O que é comoriência? Quais as consequências de determinar-se que, em determinado caso houve comoriência? 4) Maria Antônia e Alessandra vivem em união estável há seis anos. Durante a união, adquiriram um bem imóvel e um automóvel (mas residem no apartamento que Maria Antônia adquirira antes da união), além de móveis e utensílios domésticos. Adotaram, também um menino de 5 anos, Manoel. Alessandra quer pôr fim à união, mas Maria Antônia se nega a tratar do assunto. Alessandra te procura como advogado e pergunta: qual o procedimento para encaminhar o fim da união? Que direitos tenho em relação aos bens e à guarda de Manoel? 5) Eleonora faleceu deixando como herança apenas uma coleção de jóias. Eduardo, seu único filho deseja abrir mão da herança a fim de beneficiar sua avó, mãe de Eleonora que é viúva. Qual o procedimento adequado e menos custoso ao fim pretendido por Eduardo? 1. Belisario faleceu sem deixar descendentes nem ascendentes vivos. Viveu e morreu solteiro. Tem dois irmão, Dilma, solteira e sem filhos, e Felício, que tem dois filhos. Deixou também um tio, miro, irmão do seu pai. Sabendo-se que Dilma foi declarada indigna e que Felício renunciou a herança, responda: quem receberá a herança, de que modo e em que fração? 2. Há diferença entre os conceitos herdeiro testamentário e legatário? Caso positiva a resposta, quais? Se negativa, por que? 3. Marcos, casado com Joana, pai de Cleber e avô de Cintia (filha de Cleber), em seu testamento, deserdou Cleber, e deixou a totalidade de seus bens à sua amante Maria Luísa. Cintia, após a morte de seu avô, disputa a herança com Joana e Maria Luisa. Quem receberá a herança e de que modo? 4. Osíris deseja deixar à sua mulher Ambrosina todos os seus bens disponíveis. Para isto, faz um testamento publico em que de fato deixa tudo para sua mulher. Após realizado o testamento, Ambrosina descobre que Osíris era um notívago compulsivo, que a traia com diversas mulheres. Ambrosina, então, com uma pá, agrediu fisicamente Osíris. Agora, depois de ter sofrido diversas ofensas físicas, não mais quer contemplar sua esposa em seu testamento e te procura como advogado para saber quais as opções. Como orientarias teu cliente? Justifique. 5. Admite-se para, efeitos sucessórios, a concomitância da sucessão legitima com a testamentária. Certo ou errado? Justifique. Respostas das primeiras 5 questões: 1) Existe sim diferença entre herdeiro testamentário e sucessor testamentário. Sucessor é gênero do qual herdeiro é uma espécie, portanto o sucessor testamentário, pode ser tanto um herdeiro como um legatário, sendo este aquele sucessor a quem o de cujus deixou um bem em específico. Ao passo que, o herdeiro é aquele que a lei define, conforme a ordem de sucessão do art. 1.821 do CC. E, apesar de a lei já o definircomo sucessor, esse herdeiro será testamentário quando o de cujus deixar testamento que o abrange. 2) A renúncia não gera direito de representação, portanto nem Samuel nem seus filhos receberão qualquer parte da herança (Art. 1.811 CC). Já quanto a indignidade, haverá direito de representação para os descendentes do indigno sucedendo-o como se morto fosse antes da abertura da sucessão. Dessa forma, como na classe dos descendentes do de cujus ainda há Maria, ela sucederá por direito próprio, recebendo 50% dos bens, já que houve a renúncia de Samuel. E os outros 50% ficarão para o filho de Lucas, por direito de representação a seu por que foi declarado indigno. 3) A comoriência ocorre quando duas (ou mais) pessoas que são sucessores recíprocos morrem praticamente juntas e não se consegue precisar na perícia quem morreu primeiro, assim, se considera que morreram juntos. Com essa consideração (comoriência) surge consequência ao direito sucessório de forma que deverá fazer a sucessão de cada pessoa como se a outra tivesse morrido primeiro. 4) O fim da união poderá ser reduzido mediante acordo entre as companheiras, o qual deverá ser levado a homologação judicial, tendo em vista os interesses do filho menor. Contudo, se Maria continuar a se negar em tratar do assunto, caberá ação de dissolução de união estável, na qual ela será citada e, caso não responder será julgado à sua revelia. Quanto aos bens, em primeiro lugar é necessário verificar se houve estipulação diversa do regime de bens entre as companheiras. Caso não haja, o regime legal é o de comunhão parcial, portanto o apartamento onde residem pertence a Maria, já que adquiriu antes da união e o automóvel e demais bens adquiridos após a união deverão ser divididos entre as companheiras. Já quanto a guarda de Manoel, as companheiras poderão acordar a este respeito, optando pela guarda compartilhada ou unilateral, ou caso não haja acordo, o juiz é que decidirá como beneficiar o menor. 5) Em primeiro lugar é necessário dizer que a renúncia translativa não é admitida, sendo esta, a renúncia pelo qual o renunciante determina para quem ele quer que vá o seu quinhão; Isso na verdade é uma aceitação seguida de cessão. Mas no caso apresentado Eleonora não possui cônjuge ou companheiro e Eduardo é filho único. Diante disso, dispõe o artigo 1.810 do CC, que a parte do herdeiro renunciante acresce à dos outros da mesma classe, mas sendo ele o único da classe, devolve-se aos da subsequente. Portanto, sabendo que o ascendente é o próximo depois dos descendentes na ordem da sucessão, basta que Eduardo renuncie a herança expressamente por instrumento público, que é o procedimento menos custoso e a herança passará integralmente à sua avó já que é viúva. Sucessor Testamentário: quem recebe a vocação hereditária por força da disposição de última vontade do de cujus (testamento chama à herança) pode ser herdeiro ou legatário. Herdeiro Testamentário: recebe uma universalidade de bens por testamento, todo o patrimônio do de cujus ou quota parte deste. Herdeiro Legítimo: é chamado à suceder pela lei, a vocação hereditária vem de determinação legal. Sucessor à título singular: também chamado de legatário, sucede o de cujus por força de disposição de última vontade (testamento) em determinado bem ou relação jurídica destacada do espólio, individualmente determinada.