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Função Hepática Profa Eloisa Elena Testes da Função Hepática • Triagem de anormalidades na função hepática • Documentar uma anormalidade • Identificar o tipo e o local da lesão • Prognosticar e acompanhar os pacientes com doença hepática • Baseiam-se em medidas de substâncias liberadas do dano tissular, como as enzimas endógenas ou análise de substâncias metabolizadas ou produzidas pelo fígado (bilirrubina, albumina e fatores da coagulação) • Informam sobre a presença e gravidade da lesão hepatobiliar ou diminuição da função hepática Teste de avaliação da Função Hepática A/G ratio = Razão Albumina/Gamaglobulina Enzimas liberadas na lesão hepatocelular e na lesão do epitélio biliar • Níveis séricos de enzimas citosólicas, mitocondriais e associadas à membrana se mostram aumentados • Grau de elevação depende da doença • Avaliação da doença hepática está associada à determinação dos níveis séricos das enzimas: • Lesão hepatocelular: • Alanina amino transferase (ALT) • Aspartato aminotransferase (AST) • Lesão de epitélio biliar: • Fosfatase alcalina (FAL) • Gama-glutamiltransferase (GGT) Alanina amino transferase (ALT/TGP) • A alanina aminotransferase (ALT) ou transaminase glutâmico-pirúvica (GPT/TGP) é uma enzima encontrada predominantemente no fígado, em concentração moderada nos rins e em menores quantidades no coração e nos músculos esqueléticos. • Na célula hepática, a ALT localiza-se no citoplasma (90%) e na mitocôndria (10%). Qualquer lesão (injúria) tissular ou doença afetando o parênquima hepático liberará uma maior quantidade da enzima para a corrente sanguínea, elevando os níveis séricos da ALT. • Em geral, as causas mais comuns de elevação dos valores de ALT no sangue ocorrem por disfunção hepática. Desta maneira, a ALT além de ser sensível é também bastante específica para o diagnóstico de doença hepatocelular. • Como marcador hepatocelular, apresenta valores alterados em patologias que cursam com necrose do hepatócito, como hepatites virais, mononucleose, citomegalovirose e hepatites medicamentosas. Entretanto, é um marcador menos sensível que a AST para hepatopatias alcoólicas, cirrose ativa, obstruções extra-hepáticas e lesões metastáticas no fígado. Aspartato aminotransferase (AST/TGO) • Aspartato aminotransferase (AST) ou transaminase glutâmico-oxalacética (GOT/TGO) é uma enzima encontrada em concentração muito alta no músculo cardíaco, no fígado, músculos esqueléticos e em menor concentração nos rins e pâncreas. • Nas células hepáticas, a AST localiza-se no citoplasma (40%) e na mitocôndria (60%). Qualquer lesão tissular ou doença afetando o parênquima hepático liberará uma maior quantidade da enzima para a corrente sanguínea, elevando os níveis séricos da AST. • Na hepatite viral aguda, os níveis de AST encontram-se quase sempre elevados em mais de 10 vezes o limite superior da faixa de referência e em alguns casos ultrapassam a 20 vezes esse limite superior de normalidade. Entretanto, dentro de uma a duas semanas, os valores de AST diminuem bastante podendo cair para a faixa normal ou apresentar ligeiro aumento. • Na hepatite alcoólica, AST sobe 2 vezes mais que ALT, 8 e 4 vezes acima do valor de referência, respectivamente. É a única condição em que AST se eleva mais que ALT. O que é importante quando consideramos as aminotransferases AST e ALT? • São enzimas localizadas no citoplasma e nas mitocôndrias dos hepatócitos. • Os níveis séricos das aminotransferases se elevam em doenças que cursam com lesão de hepatócitos. • AST/ALT sobe quando temos lesão de hepatócitos. E, em geral, quanto mais agudo e mais agressivo é o acometimento hepático maior será essa elevação. • Na hepatite viral aguda, na qual ocorre lesão massiva de hepatócitos, os níveis de AST/ALT ultrapassam 25 vezes o valor de referência, atingindo mais de 1000U/L. • Na insuficiência hepática aguda por intoxicação medicamentosa temos níveis igualmente elevados. • Esteatohepatite não-alcoólica, que é uma condição de lesão hepatocelular causada pela infiltração gordurosa do fígado, AST e ALT sobem por volta de 4 vezes acima do valor de referência, em torno de 160 a 200 U/L. • Hepatite crônica ou mesmo cirrose hepática, a elevação das aminotransferases é discreta. • Na doença crônica a lesão hepatocelular é insidiosa e gradual, diferentemente dos quadros agudos, nos quais a lesão é intensa Figura 1 – Diagnóstico versus magnitude da elevação das transaminases. https://aphysiocursos.maestrus.com/ver/artigo/exames-hepaticos/ Quanto mais aguda e mais agressiva é a lesão hepática maior será a elevação das aminotransferases. Fosfatase alcalina (ALP) • Enzima canalicular, encontrada em vários tecidos, com maiores concentrações no fígado, no epitélio do trato biliar e no osso. • A fosfatase alcalina apresenta várias isoenzimas. • A determinação laboratorial da fosfatase alcalina (ALP) se aplica muito bem para o diagnóstico de doenças do fígado (ALP1) e dos ossos (ALP2). • No fígado, a ALP é secretada pelos hepatócitos (células de Kupffer) e pelas células da mucosa do trato biliar. Geralmente, qualquer hepatopatia ativa pode aumentar os valores da ALP, mas as maiores elevações nos níveis da enzima ocorrem nos casos de obstrução do trato biliar. • A fosfatase alcalina estará muito aumentada nas obstruções biliares intra ou extra- hepáticas e também na cirrose. • Nos casos de tumores hepáticos, hepatites e drogas hepatotóxicas as elevações da enzima são menores. Figura 2. Elevação da fosfatase alcalina. https://aphysiocursos.maestrus.com/ver/artigo/exames-hepaticos/ Gama-glutamiltransferase (GGT) • A GGT é uma enzima localizada predominantemente nos hepatócitos, em menor concentração nos rins e, em concentração bem menor no epitélio do trato biliar, no intestino, coração, pâncreas, baço e cérebro. • As doenças hepáticas ativas compreendem as causas mais comuns de elevação da GGT. • A determinação da GGT é empregada no diagnóstico das doenças hepáticas e é muito específica para indicar uma colestase. Nesses quadros clínicos, os níveis de GGT acompanham os da fosfatase alcalina (ALP) • GGT não se eleva nas doenças ósseas como a fosfatase alcalina. O papel principal da GGT é complementar a interpretação da Fosfatase Alcalina (ALP) • Um paciente apresentando GGT normal com ALP alta indica uma doença óssea, enquanto uma GGT alta com ALP alto indica uma doença hepática. • Indicador de dano hepatobiliar • Níveis elevados = todas as formas de doença hepática •Mais elevada = obstrução biliar intra e extra-hepática Colinesterase (CHE) • A Colinesterase é a enzima responsável pela hidrólise da acetilcolina. • A colinesterase pode sofrer alterações com diminuição da sua concentração basal em pessoas que são expostas constantemente a inseticidas organofosforados (inibidores da enzima). • OBS: A CHE sérica diminui inicialmente após a exposição e aumenta logo após cessada a exposição. Colinesterase • Valores diminuídos de CHE são encontrados nas doenças hepáticas crônicas, devido à diminuição da síntese enzimática do fígado. • Na hepatite aguda e na hepatite crônica de longa duração há uma diminuição de 30 a 40% da atividade enzimática. • Na cirrose avançada e no carcinoma hepático, a diminuição da síntese enzimática atinge valores de 50 a 70%. • Por essa razão, a CHE é considerada uma enzima indicadora de síntese hepática. Marcadores laboratoriais de Icterícia Bilirrubina e frações • A bilirrubina é uma molécula tetrapirrólica linear • Insolúvel em água e solúvel em solventes polares • Metabólitos no soro – 4 frações: • Bilirrubina não-conjugada (alfa) • Bilirrubina monoconjugada (beta) • Bilirrubina diconjugada (gama) • Bilirrubina ligada à proteína (delta) • Bilirrubina direta = bilirrubina conjugada = formas mono e diconjugada (formas beta, gama e delta) • Bilirrubina indireta = bilirrubina não-conjugada (bilirrubina alfa) Bioquímica das bilirrubinas • Produzida docatabolismo do heme (85%) • Pigmento amarelo-alaranjado produzido a partir da protoporfirina IX • Produção diária = 250 -300 mg • Transportada para o fígado ligada à albumina – captada pelos hepatócitos (transporte ativo) – conjugada com ácido glicurônico – bilirrubina monoglicuronídeo e diglicuronídeo – excreção na bile – intestino delgado proximal – hidrólise dos glicuronídeos – produção do pigmento não-conjugado – ação da flora bacteriana – estercobilinogênio e urobilinogênio (incolores) - reabsorção intestinal • Maior parte do urobilinogênio reabsorvido é captado pelo fígado e reexcretado na bile, 2 a 5% é excretado na urina • Intestino distal – oxidação do urobilinogênio = pigmentos biliares estercobilina, mesobilina e urobilina (castanhos alaranjados = principais pigmentos das fezes) Hiperbilirrubinemia não-conjugada • O aumento da bilirrubina indireta acontece por aumento da produção (hemólise), comprometimento do transporte plasmático até o fígado por deficiência de albumina, comprometimento na captação pela membrana do hepatócito ou incapacidade de conjugação. Hiperbilirrubinemia não-conjugada A) Por superprodução de bilirrubina Ocorre na destruição excessiva de hemácias (hemólise). A quantidade de bilirrubina não-conjugada excede a capacidade do fígado de removê-la. Hiperbilirrubinemia não-conjugada B) Por decréscimo da conjugação. 1) Icterícia fisiológica do recém-nascido: •O motivo é que a glicuronil-transferase (a enzima de conjugação) está ainda “imatura”. • A icterícia fisiológica não está presente ao nascimento porque a placenta retira a bilirrubina fetal e a transfere ao sangue materno. Hiperbilirrubinemia não-conjugada 2) Processo hemolítico associado, p. ex. Eritroblastose Fetal (DHRN): • Nível de bilirribina não-conjugada pode atingir 20 mg/dL ou mais. • Como a barreira hemoencefálica no RN a termo e no prematuro, é ainda imatura, a bilirrubina pode atravessá-la e passar ao tecido nervoso, onde é tóxica, causando morte de neurônios. O tecido fica impregnado de bilirrubina, tomando cor amarela. • A doença recebe o nome de kernicterus (kern em alemão significa núcleo) e causa crises convulsivas, sendo fatal ou deixando graves seqüelas. Hiperbilirrubinemia conjugada •Quando a hiperbilirrubinemia ocorre às custas de bilirrubina direta, o problema está na excreção da bile. • Algo está obstruindo essa passagem. •Pode ser que seja uma obstrução intra-hepática, por conta de hepatite ou cirrose, por exemplo, ou extra-hepática como uma coledocolitíase, neoplasia de vias biliares Hiperbilirrubinemia conjugada • A) Icterícia hepática (hepatite e cirrose) • Em uma hepatite por virus há lesão dos hepatócitos, envolvendo as três fases do metabolismo da bilirrubina. • Em conseqüência, grande quantidade de bilirrubina conjugada entra no sangue. • A bilirrubina não-conjugada também aumenta devido à redução da captação e da conjugação. • Nas cirroses há desorganização da arquitetura do lóbulo hepático, com dificuldade na excreção de bile e compressão de ductos biliares intra- hepáticos. Hiperbilirrubinemia conjugada •B) Icterícia pós-hepática (Síndromes colestáticas). •As principais causas são cálculos biliares a nível do canal colédoco e tumores que comprimem as vias biliares extrahepáticas, como o carcinoma da cabeça do pâncreas. Provocam hiperbilirrubinemia predominantemente conjugada, bilirrubinúria e fezes descoradas (acólicas). Figura 3. Padrões de alteração dos exames hepáticos https://aphysiocursos.maestrus.com/ver/artigo/exames-hepaticos/ Urobilinogênio • Produto de redução formado pela ação de bactérias sobre a bilirrubina conjugada no trato gastrintestinal. • Maior parte do urobilinogênio é excretada nas fezes. Pequena parte é reabsorvida através da via êntero- hepática e reexcretrada na bile e na urina. • O aumento do urobilinogênio na urina indica a presença de processos hemolíticos, disfunção hepática ou porfirinúria Distúrbios do metabolismo do urobilinogênio •Excreção biliar de bilirrubina diminuída = redução na formação de urobilinogênio •Obstrução biliar completa: • Excreção de urobilinogênio na urina e nas fezes diminui = fezes esbranquiçadas ou em “massa de vidraceiro” Papel do fígado na síntese de proteínas • Fígado = principal sede de síntese de proteínas plasmáticas (albumina, antitripsina, fibrinogênio, ceruloplasmina, haptoglobina, transferrina, colinesterase e proteínas da coagulação) • Inflamação ou lesão = aumento na síntese de proteínas de fase aguda (haptoglobina, C3, proteína C reativa, ceruloplasmina, antitripsina) • Padrão das alterações depende: • Tipo • Gravidade • Duração da lesão ou doença hepática • Os exames mais solicitados quando estamos investigando a função hepática são a albumina sérica e o tempo de protrombina (TP). Albumina •A albumina é a proteína plasmática mais abundante de nosso plasma e sua síntese é exclusivamente hepática. •Hipoalbuminemia •Consequência da síntese hepática diminuída Outras proteínas plasmáticas • Proteínas da coagulação • Síntese de proteínas fibrinolíticas (plasminogênio e alfa 2 antiplasmina) e anticoagulantes (antitrombina III) • Doença hepática parenquimatosa (redução da síntese proteíca) ou doença obstrutiva (redução da absorção intestinal de vit K) = distúrbios no mecanismo da coagulação – sangramento • Tempo de protrombina (PT): • avalia os fatores VII, X, V, II (que é também chamado de protrombina) e fibrinogênio. Esses fatores compõem a via extrínseca da coagulação e são sintetizados pelo fígado – anormal nas doenças hepáticas. Figura 3. Possíveis causas de TP alterado com função hepática normal. https://aphysiocursos.maestrus.com/ver/artigo/exames-hepaticos/ Caso clínico • Homem, 72 anos com antecedentes de doença hemorroidária. Queixas de astenia, anorexia, perda ponderal de 6kg (76-70kg) e desconforto abdominal com 4 meses de evolução. Icterícia há cerca de um mês com “urina escura” (sic). Exame objetivo: emagrecido, escleróticas ictéricas e coloração amarelada da face e metade superior do tórax. Avaliação laboratorial: AST:30 U/L (VR 13-35); ALT:37 U/L (VR 12-78); gama-GT:450 U/L (VR 5-27); FA:376 U/L (VR 13-43); bilirrubina total: 6,6 mg/dL (VR até 1,0), bilirrubina direta: 5,4 mg/dL (VR até 0,4). a) Analisando os resultados dos marcadores bioquímicos da função hepática, o que se pode afirmar a respeito da condição clínica do paciente? b) Considerando os resultados laboratoriais, qual a provável causa da “urina escura”? Caso clínico Estudante de 20 anos de idade apresenta-se no pronto-atendimento com sintomas de gripe, com perda de apetite, náusea e dor no hipocôndrio direito. No exame, o fígado estava apenas palpável e macio. Dois dias mais tarde, o estudante desenvolveu icterícia, sua urina tornou-se escura e as fezes ficaram pálidas. Os resultados dos exames laboratoriais foram: Soro: Bilirrubina total 2,2 mg/dL (0,2-1,2 mg/dL), Albumina 4,0 mg/dL (3,5-5,0 mg/dL), AST 750 U/L (< 40 U/L), ALT 1100 U/L (< 56 U/L), Fosfatase alcalina 140 U/L (30-150 U/L), γ-GT 60 U/L (< 50 U/L) Urina: Bilirrubina Positivo (Negativo), Urobilinogênio Negativo (Positivo) A patologia compatível com os resultados é: a) colestase. b) hepatite crônica. c) hepatite aguda. d) doença hemolítica. e) síndrome de Gilbert. Caso clínico Paciente do sexo feminino com 70 anos de idade, com história de carcinoma de mama tratado com mastectomia, químio e radioterapia três anos antes, reclama de mal-estar geral e dores no corpo. Os resultados bioquímicos mostram eletrólitos, proteínas totais, albumina e cálcio normais. O hepatograma revelou bilirrubina direta=0,3mg/dL (VR até 0,4), bilirrubina indireta =0,5mg/dL (VR até 0,8) e bilirrubina total = 0,8mg/dL (VR 1,2), AST= 12UI/L (11 - 39 U/L), ALT= 10UI/L (11 - 39 U/L), fosfatase alcalina= 120UI/L (27-100 U/L) e gamaGT= 18UI (5-36 UI). Com base nos dados encontrados, pode-se afirmar que: a) Os níveis debilirrubina estão anormais e indicam que há lesão hepatocelular. b) O nível de gamaGT encontra-se elevado, o que sugere colestase hepática. c) Sugere-se metástase óssea pois essa é uma fonte alta de atividade da fosfatase alcalina. d) Todos os parâmetros estão normais e não há possibilidades de metástases em fígado ou ossos. e) Em transtornos ósseos a fosfatase alcalina pode estar elevada, sendo esse aumento acompanhado pela elevação da gamaGT. No caso de lesão hepatocelular, apenas a fosfatase alcalina se apresenta elevada. Referências Bibliográficas Biblioteca Digital Minha Biblioteca • BISHOP, M. L. Química clínica. 5. ed. Barueri: Manole, 2010. • PINTO, W. J. Bioquímica clínica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. Vídeos: • https://www.youtube.com/watch?v=cdVh8l2U6gY • https://www.youtube.com/watch?v=6FXXIYKg1ac • https://www.youtube.com/watch?v=GxxIq2Ogmvg&t=1932s
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