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Febre, Inflamação e Infecção | P5 Mt3 Pr2 | @study.sarahs | MEDICINA – FITS 1 Flávio é agente comunitário de saúde e foi procurado por uma moradora da comunidade informando que várias pessoas da sua família estavam doentes, inclusive sua filha que está grávida. Ela estava muito preocupada e precisava que algum médico fosse à sua residência para atendê-los. Ao chegar ao posto de saúde, Flávio foi conversar com a médica (Dra. Ana) que prontamente foi até a residência. Ao chegarem ao domicílio, foram recebidos por Dona Carminha, que disse: Dra o negócio aqui em casa está sério, todos estão doentes. Eu fui atendida pela senhora na semana passada e fui diagnosticada com Dengue e graças a Deus já estou bem melhor. Minha filha, Roberta, está grávida de 4 meses, ela ficou “esquentadinha”, com dor de cabeça, manchas na pele com muita coceira. Esses sintomas todos começaram há 4 dias, a febre graças a Deus já foi embora. Ao exame físico a gestante (Roberta) apresentava: Bom estado geral, afebril (temperatura 36 graus), corada, hidratada, anictérica, eupnéica, conjuntivas hiperemiadas. Pele: presença de exantema maculopapular em tronco e membros superiores. PA: 100/80 mmHg. FC: 88 bpm. AR e ACV sem alterações. Abd: gravídico, com útero palpável, altura uterina 16 cm, batimentos cardiofetais: 144 bpm. Prova do laço negativa. Roberta preocupada pergunta: Dra. meu bebê pode nascer com algum problema na cabeça? Pode ser aquela doença que o bebê nasce com a cabeça pequena? Dra. Ana informa que será necessário realizar exames específicos para confirmar o caso. Enquanto aguarda os resultados, a paciente deverá permanecer de repouso (relativo), com boa hidratação oral, usando sintomáticos (que foram prescritos pela médica) e uso de repelente. A médica pergunta quem mais na casa está doente e Dona Carminha diz que sua mãe (Zefinha, 72 anos) está há 3 dias com febre (sem ser aferida), dor no corpo e nas juntas, dor de cabeça e com manchas no corpo. As dores e inchaço das juntas são o que mais incomoda, ela mal consegue segurar um copo e tem formigamento nos pés. Dona Zefinha acha que deve ser dengue, já que a filha estava com essa doença há poucos dias, mas tem dúvidas, pois já teve dengue e dessa vez os sintomas estão um pouco diferentes. Pergunta então à Dra. Ana: Posso estar com Dengue de novo? Já tive Dengue no ano passado. Dra. Ana explica que já se conhecem pelo menos quatro sorotipos da Dengue, mas o seu caso não parece estar associado a esse tipo de arbovirose e pergunta: Em uma escala de zero a dez, como está sua dor?''. Dona Zefinha informa que daria oito a sua dor nas juntas. A médica explica a Carminha que sua mãe encontra-se na fase aguda da doença; deverá permanecer monitorada diariamente, pois faz parte do grupo de risco. A médica orientou que em caso de persistência da febre por mais de cinco dias, aparecimento de sinais de gravidade ou persistência dos sintomas articulares, a família deverá informar imediatamente a unidade básica de saúde. Suspendeu o uso de AAS que a paciente tomava para “afinar o sangue” e foram solicitados os exames da fase aguda da doença. Dra. Ana prescreveu analgésico compatível com a dor da paciente, hidratação oral e repouso. Quando já estava indo embora viu seu Luiz, marido de Carminha, deitado no sofá, prostrado e pergunta: O que houve com ele? Também está doente? Carminha responde: Ele começou com os mesmos sintomas que eu tive, febre alta, dor de cabeça e no corpo, mas depois do terceiro dia, queixou-se de muita dor na barriga, teve vômitos e quase não está urinando. Repare, Dra Ana, ele nem consegue ficar em pé, passa o dia todo deitado no sofá. Hoje quando foi escovar os dentes, disse que sangrou a gengiva e eu fiquei apavorada. A médica examina seu Luiz e verifica: EGR, prostrado, desidratado 2+/4+, anictérico, acianótico, taquipnéia leve, temperatura axilar: 37,8oC, extremidades frias e pulso rápido e fraco. AR: MV diminuído à ausculta, frêmito tóraco-vocal diminuído e submacicez à percussão em base direita, FR: 22 ipm Sat O2 93%; ACV: RCR em 2T, PA: 80x40 mmHg, FC:110 bpm; ABD: plano, simétrico, doloroso à palpação profunda difusamente, mas sem sinal de irritação peritoneal, hepatomegalia dolorosa (Fígado palpável 4 cm abaixo do RCD); Prova do laço: positiva; Pele: petéquias e sufusões hemorrágicas difusas em tronco e MMII. Dra. Ana informa que o seu Luiz precisará ser encaminhado imediatamente para o hospital. Precisará fazer vários exames e ficará internado, já que apresenta sintomas e alterações no exame físico que sugerem gravidade da doença. Chama então o SAMU. Enquanto aguarda a transferência do paciente, a médica diz á Flávio: Precisaremos mobilizar a comunidade, através de palestras na sala de espera da unidade e outros espaços, sobre medidas de combate ao mosquito transmissor das arboviroses, além de evitar água parada em qualquer local em que ela possa se acumular, em qualquer época do ano. Finaliza dizendo que será necessário informar ao Serviço de Vigilância Epidemiológica, todos os casos atendidos hoje. Objetivos: 1. Conhecer a dinâmica endêmica das arboviroses (zika, dengue e chikungunya): a. Epidemiologia e Vigilância Epidemiológica; b. Vetores; c. Transmissão; d. Reservatórios Naturais; e. Medidas de prevenção e controle. 2. Entender Dengue: a. Fisiopatologia; b. Quadro Clínico (dengue não hemorrágica e dengue hemorrágica); c. Sinais e Sintomas d. Diagnóstico; e. Tratamento 3. Entender Zika: a. Fisiopatologia; b. Quadro Clínico; c. Diagnóstico; d. Tratamento 4. Entender Chikungunya; a. Fisiopatologia; b. Quadro Clínico; c. Diagnóstico; d. Tratamento Febre, Inflamação e Infecção | P5 Mt3 Pr2 | @study.sarahs | MEDICINA – FITS 2 1. Conhecer a dinâmica endêmica das arboviroses (zika, dengue e chikungunya): Estima-se que haja mais de 545 espécies de arbovírus, dentre as quais, mais de 150 relacionadas com doenças em seres humanos, sendo a maioria zoonótica. São mantidos em ciclo de transmissão entre artrópodes (vetores) e reservatórios vertebrados como principais hospedeiros amplificadores. Epidemiologia e Vigilância Epidemiológica: DENGUE: O vírus é endêmico em mais de 110 países, estima-se em 100 milhões de casos da dengue clássica e meio milhão de casos de doença hemorrágica, resultando em 25 mil mortes anualmente. ZIKA: No pico do surto de 2016 foram notificados mais de 200,000 casos no Brasil - o foco do surto - e mais de 8000 bebês nasceram com malformações relacionadas à infecção pelo vírus da Zika. O pico ocorreu em 2016, caiu consideravelmente desde então e agora considera-se que o surto acabou. Dados das semanas epidemiológicas 1 a 35 (2/1/2022 a 5/9/2022) ↓ DENGUE: 1.337.413 casos prováveis de dengue no Brasil; Foram confirmados 1.304 casos de dengue grave (DG) e 16.114 casos de dengue com sinais de alarme (DSA). 854 óbitos por dengue, sendo 737 por critério laboratorial e 11 por critério clínico epidemiológico. No Brasil, concomitante ao aumento do número de casos, tem-se observado o aumento das formas graves da doença, principalmente em crianças, durante o período de 2007 e 2009. Além disso, manifestações não usuais da dengue (p. ex., complicações cardíacas, neurológicas, hepáticas e pulmonares) são cada vez mais diagnosticadas. Os números crescentes desses casos, assim como da FHD, culminaram em aumento no número de óbitos nos últimos 5 anos. CHIKUNGUNYA: 162.407 casos prováveis de Chikungunya no Brasil. Para o ano de 2022, a Região Nordeste apresentou a maior incidência (243,7 casos/100 mil hab.). Até o momento foram confirmados 64 óbitos para chikungunya no Brasil, sendo que o Ceará concentra 46% (30) dos óbitos. ZIKA: 9.916 casos prováveis. Ressalta-se que não foram notificados óbitos por zika noPaís até a respectiva semana do ano de 2022. Detecção do sorotipo de DENV: 19.148 (87,4%) DENV1; 2.765 (12,6%) DENV2. Até a SE 26/2022 foi identificado apenas um DENV3, no estado do Rio Grande do Norte e nenhuma identificação do DENV4 no Brasil. A notificação de casos suspeitos é obrigatória para todos os profissionais de saúde do sistema público ou privado, que prestam assistência ao paciente, conforme Portaria nº 1.061 de 17 de fevereiro de 2020. As arboviroses são doenças de notificação compulsória, conforme estabelecido na Portaria nº 1.061 de 18 de maio de 2020. Imprescindível notificação oportuna e qualificada dos casos suspeitos, pois a notificação incompleta prejudica a investigação. É essencial que a notificação esteja preenchida corretamente com todos os dados do caso suspeito, Febre, Inflamação e Infecção | P5 Mt3 Pr2 | @study.sarahs | MEDICINA – FITS 3 isso permite que as ações ambientais possam ser desencadeadas oportunamente. Febre Amarela, óbitos por Dengue, Chikungunya e Zika Vírus devem ter notificadas imediatas (em 24 horas) ao Serviço de Vigilância Epidemiológica Municipal, à Regional de Saúde e ao Setor de Antropozoonoses/Centro Estadual de Vigilância em Saúde (CEVS). Vetores / Transmissão / Reservatórios naturais: DENGUE: Atualmente, o principal ciclo de transmissão do DENV envolve somente os seres humanos e mosquitos nos grandes centros urbanos tropicais. O principal vetor é o A. aegypti, mas A. albopictus e A. polynesiensis são incluídos como vetores secundários. A dengue atinge, predominantemente, regiões tropicais da Ásia, Oceania, Austrália, África e as Américas. Áreas subtropicais e temperadas são suscetíveis à introdução e propagação do vírus na época do verão. Os DENV pertencem à família Flaviviridae e ao gênero Flavivirus, e a maioria deles é transmitida por mosquitos e carrapatos, embora não se saiba o mecanismo de transmissão de alguns deles. Assim, a maioria dos membros desse gênero são arbovírus (arthropod-borne virus), vírus que necessitam de artrópodes hematófagos para completar o seu ciclo biológico de transmissão. O vírus da dengue é um arbovírus do gênero Flavivírus, pertencente à família Flaviviridae. São conhecidos quatro sorotipos: 1, 2, 3 e 4. Vetores Hospedeiros: Os vetores são mosquitos do gênero Aedes. Nas Américas, a espécie Aedes aegypti é a responsável pela transmissão da dengue. Outra espécie, Aedes albopictus, embora presente no Brasil, ainda não tem comprovada sua participação na transmissão, embora na Ásia seja um importante vetor. Modo de Transmissão: A transmissão se faz pela picada do Aedes aegypti, no ciclo homem - Aedes aegypti - homem. Após um repasto de sangue infectado, o mosquito fica apto a transmitir o vírus, depois de 8 a 12 dias de incubação. A transmissão mecânica também é possível, quando o repasto é interrompido e o mosquito, imediatamente, se alimenta num hospedeiro suscetível próximo. Não há transmissão por contato direto de um doente ou de suas secreções com uma pessoa sadia, nem de fontes de água ou alimento. Período de Incubação: Varia de 3 a 15 dias, sendo, em média, de 5 a 6 dias. Período de Transmissibilidade: A transmissão ocorre enquanto houver presença de vírus no sangue do homem (período de viremia). Este período começa um dia antes do aparecimento da febre e vai até o 6º dia da doença. ZIKA: O Zika é uma arbovirose causada por um vírus do gênero Flavivirus, família Flaviviridae, transmitido principalmente, por fêmeas dos mosquitos do gênero Aedes, (A albopictus, que vive em regiões de clima temperado). No Brasil, o vetor comprovado até o momento é o mosquito Aedes aegypti (regiões tropicais). Até o momento, são conhecidas e descritas duas linhagens do ZIKV: uma africana e outra asiática (relatada nas américas). As formas de transmissão do vírus documentadas, além da vetorial, são elas: sexual, pós-transfusional e vertical (transplacentária). Primatas humanos e não humanos provavelmente são os principais reservatórios de vírus, e a transmissão antroponótica (humano/vetor/humano) ocorre durante os surtos. O período de incubação intrínseco, que ocorre no vetor, é de 2 a 7 dias, em média. O período de viremia estimado no homem é de até o 5º dia do início dos sintomas. Outras fontes mostram um período de incubação de 3 a 14 dias. CHIKUNGUNYA: O vírus chikungunya é transmitido por artrópodes (arbovírus) e pertence à família Togaviridae e ao gênero Alphavirus. O vírus está relacionado ao complexo antigênico Semliki Forest, um grupo de vírus que podem estar associados a sintomas articulares nos seres humanos. Várias espécies de mosquitos Aedes podem transmitir o vírus; no entanto, os vetores mais comuns são o Aedes aegypti e o Aedes albopictus. O vírus é mantido na natureza por 2 ciclos: silvático e urbano. No ciclo silvático, os mosquitos Aedes transmitem a doença para primatas, roedores e pássaros. Os humanos são infectados ao viajarem por áreas com florestas. No ciclo urbano, os mosquitos transmitem a doença entre os humanos. O vírus da chikungunya é um vírus de ácido ribonucleico (RNA) que inclui 3 linhas filogeneticamente separadas. O A aegypti, o mosquito responsável pela transmissão da febre amarela e da dengue, era o vetor principal do vírus antes de 2005. Desde então, o A albopictus (também conhecido como mosquito tigre asiático) passou a ser o vetor Febre, Inflamação e Infecção | P5 Mt3 Pr2 | @study.sarahs | MEDICINA – FITS 4 mais comum. Tanto o A aegypti quanto o A albopictus picam agressivamente, atacando durante o dia, com um pico ao entardecer. A forma mais comum de transmissão do vírus da chikungunya é por picadas de mosquito; menos comum, por transferência materno-fetal, e apenas teoricamente via transfusão sanguínea. É possível a coinfecção com os vírus da dengue e da Zika. Medidas de prevenção e controle: → Realizar ações de promoção, educação em saúde e comunicação social; → Realizar ações de monitoramento e controle vetorial; → Analisar as notificações dos casos de arboviroses, identificando os bairros de maior índice de casos confirmados e/ou autóctones; → Mobilização, fiscalização, combate e controle do Aedes; → Integração entre assistência em saúde, vigilância ambiental e vigilância epidemiológica; → Todas as unidades devem prestar primeiro atendimento aos casos suspeitos e realizar notificação; → Informar sobre sinais e sintomas das doenças, como identificar criadouros, medidas de prevenção e fluxos de atendimento; → Estimular a população a realizar a autoinspeção em seu imóvel, eliminando os possíveis criadouros de mosquitos; → Higiene das mãos, uso de equipamento de proteção individual, higiene respiratória e etiqueta da tosse, práticas de injeção seguras, manuseio seguro de equipamentos ou superfícies potencialmente contaminados. 2. Entender Dengue: O vírus Dengue (DENV) é representado por quatro sorotipos, a saber, DENV-1 a DENV-4 e sua transmissão é feita pelo mosquito Aedes aegypti. Fisiopatologia: As primeiras células infectadas após a inoculação viral pela picada do mosquito são, provavelmente, as células dendríticas da pele. Após a replicação inicial e migração para os linfonodos, os vírus aparecem na corrente sanguínea (viremia) durante a fase febril aguda, geralmente por três a cinco dias. A gênese dos sintomas da dengue ainda não é bem esclarecida, porém considera-se que a liberação de citocinas, como resultado da infecção das células dendríticas, macrófagos e a ativação de linfócitos TCD4+ e TCD8+, desempenha um papel importante. Além disso, a liberação de interferon pelos linfócitos T pode estar intimamente relacionada à queda na contagem de plaquetas, pela supressão da atividade da medula óssea, o que gera sintomas comoas petéquias espalhadas pelo corpo. Da corrente sanguínea, os vírus são disseminados a órgãos como fígado, baço, nódulos linfáticos, medula óssea, podendo atingir o pulmão, coração e trato gastrointestinal. A patogenia dos casos mais graves de dengue (dengue hemorrágica e síndrome do choque da dengue) ainda não é bem conhecida. Existem algumas hipóteses, tais como: reinfecção por um sorotipo diferente; aumento da permeabilidade vascular com extravasamento de plasma e coagulação intravascular, resultante da liberação de mediadores químicos pelos macrófagos/monócitos destruídos pela infecção; surgimentos de cepas mais virulentas após sucessivas passagens em mosquitos e seres humanos. Na reinfecção por um segundo sorotipo, a presença de vírus opsonizados pelos anticorpos pré-formados, porém não neutralizados, formam imunocomplexos que ativam o sistema complemento, levando a liberação dos mediadores químicos. A lesão hepática provocada pela replicação viral nos hepatócitos leva a um comprometimento dos fatores de coagulação, que associado à diminuição de plaquetas, pode ocasionar um quadro hemorrágico grave. O DENV-2 é o sorotipo mais relevante no mundo, seguido pelo DENV-3, DENV-1 e DENV-4. ______________ ↓ _______________ Diversas hipóteses já foram propostas para explicar a patogênese da infecção por dengue, mas até hoje nenhuma é capaz de, isoladamente, esclarecer todos os mecanismos envolvidos. → Teoria da facilitação dependente de anticorpos Define que a imunidade preexistente ao DENV é fator de risco para febre hemorrágica da dengue. Bebes que tinham adquirido anticorpos das mães apresentam infecção mais grave de dengue por volta dos 6 meses de idade. Formação de complexos vírus- anticorpo que ao serem reconhecidos e internalizados por fagócitos mononucleares, através dos receptores dirigidos à porção Fc das imunoglobulinas – resulta numa maior carga viral e maior intensidade da Febre, Inflamação e Infecção | P5 Mt3 Pr2 | @study.sarahs | MEDICINA – FITS 5 resposta imune (maior liberação de citocinas e mediadores inflamatórios) → Teoria da virulência viral Parece existir uma relação complexa entre as variantes genéticas do DENV e a resposta imune do hospedeiro, que determinaria o destino das infecções primárias e secundárias. → Resposta imune e “tempestade de citocinas” Existem evidências de que há profundo desarranjo na homeostase das citocinas que governam a resposta imune induzida pela infecção pelos vírus dengue. Alguns estudos mostram que nas formas brandas da doença há resposta predominantemente do tipo Th1, e nos casos graves do padrão Th2, com níveis aumentados de interleucina (IL)-4, IL-6 e IL-10, e níveis reduzidos de IFN-γ e IL-12 nos pacientes graves. EXTRAVASAMENTO DE LÍQUIDO PARA O INTERSTÍCIO Quadro Clínico (dengue não hemorrágica e dengue hemorrágica): Os sinais e sintomas incluem febre, dor retro-orbital, dor de cabeça intensa, mialgia, artralgia e manifestações hemorrágicas menores, como petéquias, epistaxe e sangramento gengival. • Período de incubação variável de 4 a 8 dias; • Parcela considerável de infecções assintomáticas; • Quadros complicados são menos frequentes e mais associados a mortalidade; • Fase mais grave da doença acontece no 4 dia, quando o aumento na permeabilidade capilar, mensurada pelo aumento do hematócrito, pode resultar em choque hipovolêmico e consequentemente falência de múltiplos órgãos, acidose metabólica, coagulação intravascular disseminada e hemorragias de grande porte. https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/dengue_ aspecto_epidemiologicos_diagnostico_tratamento.pd f ABRIR FLUXOGRAMAS NA PAGINA 14 Sinais e Sintomas: Dengue clássica: Tem início abrupto, apresentando temperaturas de 39 a 40°C, cefaleia intensa, dor retro-ocular, mialgias, artralgias e manifestações gastrintestinais, como vômito e anorexia. Pode surgir exantema intenso no terceiro ou quarto dia de doença, no qual se salientam pequenas áreas de pele sã (para alguns autores, “ilhas brancas em um mar vermelho”). O aparecimento do exantema é geralmente acompanhado de prurido, muitas vezes de difícil controle, e alguns casos podem apresentar fenômenos hemorrágicos discretos (epistaxe, petéquias, gengivorragias), que não caracterizam caso de dengue hemorrágico. A febre costuma ceder em até 6 dias, iniciando-se a convalescença, que pode durar semanas, com astenia e depressão. Quanto ao exame hematológico, observa-se leucopenia com neutropenia após o segundo dia de doença. O número de plaquetas é normal ou, em alguns casos, diminuído. Há elevação discreta nos teores séricos de aminotransferases, geralmente em torno de duas a cinco vezes o limite superior da normalidade. Nas crianças, a dengue pode ser assintomática ou se manifestar como febre indiferenciada, comumente acompanhada de exantema maculopapular. Os sinais de alerta/alarme mais frequentemente observados na dengue são: dor abdominal, vômitos persistentes, evidência clínica de acúmulo de fluidos (p. ex., derrame pleural), letargia/irritabilidade, sangramento de mucosas, hepatomegalia maior do que 2 cm e aumento do hematócrito associado a trombocitopenia. Dengue hemorrágica: O quadro costuma iniciar-se abruptamente, similar à forma clássica da dengue, com febre alta, náuseas e vômitos, mialgias e artralgias. Fenômenos hemorrágicos surgem próximo ao período de defervescência da doença, por volta do quarto ou quinto dia, com petéquias na face, véu palatino, axilas e extremidades. Se inadequadamente tratado, o quadro pode evoluir para o aparecimento de púrpuras e grandes equimoses na pele, epistaxes, gengivorragias, metrorragias e hemorragias digestivas moderadas. Ao exame físico, observa-se fígado palpável e doloroso, 2 a 4 cm abaixo do rebordo costal, e, em alguns casos, esplenomegalia. Hepatomegalia, hematêmese e dor abdominal indicam mau prognóstico, com provável evolução para choque. https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/dengue_aspecto_epidemiologicos_diagnostico_tratamento.pdf https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/dengue_aspecto_epidemiologicos_diagnostico_tratamento.pdf https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/dengue_aspecto_epidemiologicos_diagnostico_tratamento.pdf Febre, Inflamação e Infecção | P5 Mt3 Pr2 | @study.sarahs | MEDICINA – FITS 6 Exame máculo-papular em todo o corpo. Diagnóstico: Exames Específicos: A comprovação laboratorial das infecções pelo vírus da dengue faz-se pelo isolamento do agente ou pelo emprego de métodos sorológicos - demonstração da presença de anticorpos da classe IgM em única amostra de soro ou aumento do título de anticorpos IgG em amostras pareadas (conversão sorológica). Isolamento: é o método mais específico para determinação do sorotipo responsável pela infecção. A coleta de sangue deverá ser feita em condições de assepsia, de preferência no terceiro ou quarto dia do ínicio dos sintomas. Após o término dos sintomas não se deve coletar sangue para isolamento viral. Sorologia: os testes sorológicos complementam o isolamento do vírus e a coleta de amostra de sangue deverá ser feita após o sexto dia do início da doença. Obs.: não congelar o sangue total, nem encostar o frasco diretamente no gelo para evitar hemólise. Os tubos ou frascos encaminhados ao laboratório deverão ter rótulo com nome completo do paciente e data da coleta da amostra, preenchido a lápis para evitar que se torne ilegível ao contato com a água. Dengue clássica: Hemograma: a leucopenia é achado usual, embora possa ocorrer leucocitose. Pode estar presente linfocitose com atipia linfocitária. A trombocitopenia é observada ocasionalmente Febre Hemorrágica da Dengue - FHD: Hemograma: a contagem de leucócitos é variável, podendo ocorrer desde leucopenia até leucocitose leve.A linfocitose com atipia linfocitária é um achado comum. Destacam-se a concentração de hematócrito e a trombocitopenia (contagem de plaquetas abaixo de 100.000/mm3). Hemoconcentração: aumento de hematócrito em 20% do valor basal (valor do hematócrito anterior à doença) ou valores superiores a 38% em crianças, a 40% em mulheres e a 45% em homens). Trombocitopenia: contagem de plaquetas abaixo de 100.000/mm3. Coagulograma: aumento nos tempos de protrombina, tromboplastina parcial e trombina. Diminuição de fibrinogênio, protrombina, fator VIII, fator XII, antitrombina e α antiplasmina. Bioquímica: diminuição da albumina no sangue, albuminúria e discreto aumento dos testes de função hepática: aminotransferase aspartato sérica (conhecida anteriormente por transaminase glutâmico-oxalacética - TGO) e aminotransferase alanina sérica (conhecida anteriormente por transaminase glutâmico pirúvica - TGP). Tratamento: O tratamento da dengue consiste na hidratação precoce, da maneira mais agressiva possível, sempre levando em consideração a existência de cardiopatias e da capacidade dos pacientes de suportar a administração de grandes volumes de líquido. Como o aumento da permeabilidade capilar, com consequente extravasamento de plasma para o interstício e as cavidades, é o principal evento Febre, Inflamação e Infecção | P5 Mt3 Pr2 | @study.sarahs | MEDICINA – FITS 7 fisiopatológico da dengue, a hidratação é o único tratamento disponível, pois até o momento não há fármacos antivirais que tenham ação específica e efetiva contra os vírus dengue. Nos casos benignos de febre indiferenciada e da DC, além da hidratação, o tratamento sintomático de febre, cefaleia, mialgias e artralgias é suficiente. Entretanto, o uso de salicilatos deve ser evitado, pois esses fármacos podem causar hemorragias digestivas altas e acidose, além de atuarem sobre a agregação plaquetária, podendo agravar ainda mais os quadros graves da dengue. Prefere-se utilizar o paracetamol ou a dipirona, tomando-se o cuidado com doses elevadas de paracetamol (acima de 4 g/dia, no adulto), já que é hepatotóxico. A OMS também recomenda evitar o uso dos anti-inflamatórios não hormonais (AINH), especialmente o ibuprofeno (WHO, 2009). O tratamento das formas graves da dengue deve seguir as condutas usadas em pacientes que precisam de cuidados intensivos, muitas vezes sendo necessário recorrer a aminas vasoativas e medidas avançadas de suporte à vida. A existência de comorbidades deve ser sempre investigada e considerada de extrema importância no tratamento das formas graves da dengue. A administração de líquidos deve ser considerada caso a caso. O uso de corticosteroides não está indicado, visto que não há evidências de que eles tenham qualquer efeito benéfico no tratamento da dengue. A reposição de sangue e concentrado de plaquetas não é preconizada, exceto em casos de hemorragias de grandes proporções. O tratamento deverá ser suspenso ao se iniciar a reabsorção do plasma extravasado, sendo necessário cuidado com o possível estado hipervolêmico do paciente. A partir desse momento, as condições hemodinâmicas se normalizam, retorna o apetite do paciente e o hematócrito cai a níveis abaixo de 40%. É importante avaliar cuidadosamente pacientes em alguns grupos de risco para doença grave (p. ex., gestantes, idosos e crianças), já que é nessa fase de defervescência que ocorrem as complicações, em particular o choque hipovolêmico. Sabendo que as hemorragias acompanham o aparecimento do choque, evitar o choque circulatório muito provavelmente evitará o aparecimento do quadro hemorrágico. Estadiamento clínico da dengue: O atendimento inicial ao paciente com suspeita de dengue deve ser baseado na anamnese e história clínica. Deve-se classificar o paciente em 3 grupos para manejo adequado: • Grupo A: paciente com suspeita de dengue, sem sinais de alarme ou condições especiais; • Grupo B: paciente com suspeita de dengue, sem sinais de alarme mas com condições especiais; • Grupo C: paciente com diagnóstico de dengue e com sinais de alarme; • Grupo D: paciente com diagnóstico de dengue grave, apresentando choque, hemorragia ou disfunção orgânica. Entender Zika: Fisiopatologia: Acredita-se que os flavivírus em geral se repliquem inicialmente nas células dendríticas próximas ao local de inoculação, disseminando-se para o sangue e para os linfonodos. A viremia geralmente dura até uma semana em pacientes com afecção clínica. O vírus da Zika é um vírus neurotrópico que demonstra ter como alvo células neurais progenitoras, bem como células neuronais em diferentes estados de maturidade, mas em menor grau. IN VITRO: A infecção pelo vírus da Zika aumentou a morte celular e desregulou a progressão do ciclo celular, resultando em crescimento celular atenuado. Outro estudo revelou que o vírus infecta células corticais progenitoras humanas causando a morte da célula por apoptose e autofagia. Apesar dos sintomas clínicos leves, a infecção pelo vírus da Zika durante a gestação está associada a morte fetal, insuficiência placentária, restrição do crescimento fetal e lesões no sistema nervoso central (SNC). Maior risco de microcefalia está associado à infecção pelo vírus Zika durante o primeiro trimestre e no início do segundo trimestre da gravidez. Anomalias foram reportadas até 39 semanas. Estudos em camundongos fornecem evidências para uma ligação causal direta entre a infecção pelo vírus da Zika e a microcefalia causando parada no ciclo celular, apoptose e inibição das células precursoras neurais. Sugere-se que o vírus desencadeia comportamentos celulares que alteram a proliferação normal das células e a sobrevivência de células progenitoras neurais durante períodos críticos de desenvolvimento Febre, Inflamação e Infecção | P5 Mt3 Pr2 | @study.sarahs | MEDICINA – FITS 8 do cérebro. O papel da placenta na microcefalia fetal não está claro, mas existe a hipótese de que a placenta pode facilitar a transmissão viral ao feto ou contribuir de outra forma para uma resposta imune prejudicial. Uma hipótese é a de que o vírus obtém acesso ao compartimento fetal infectando diretamente as células placentárias, rompendo, assim, a barreira placentária. Um relato de caso de síndrome de Guillain-Barre, que se desenvolveu quando o vírus Zika ainda estava presente no soro, sugere que o vírus pode exercer os seus efeitos neurotrópicos quer por lesão neural direta, quer através de uma rápida resposta ao vírus mediada por células que resulta em reatividade cruzada contra os nervos periféricos. Estudos em modelos animais indicam que a presença de anticorpos contra outros flavivírus pode intensificar a infecção por Zika, resultando em uma infecção mais grave. Quadro Clínico: Na maioria das vezes (80%) a doença é assintomática, sintomáticos no geral a doença é leve e autolimitada, durando aproximadamente de 2 a 7 dias, podendo estar acompanhada das seguintes manifestações mais comuns: exantema maculopapular (em alguns casos morbiliforme), febre que costuma ser baixa (<38,5 °C), artralgia, conjuntivite não purulenta, cefaleia, mialgia e prurido. Sintomas menos comuns incluem vômitos/diarreia, dor abdominal, anorexia, edema nos membros inferiores e dor retro-orbital. Há relatos de casos de sepse e progressão rápida da doença em pacientes com comorbidades. Não foram descritas diferenças no quadro clínico entre pacientes gestantes e não gestantes ou entre adultos e crianças. Os sintomas geralmente se desenvolvem em até 1 semana após a infecção em 50% dos pacientes e em até 2 semanas após a infecção em 99% dos pacientes. Doença grave que necessita de hospitalização é incomum e foi estimada em 11%, e a letalidade é baixa (mediana de 0.02%). Exantema maculopapularcaracterístico em gestante com infecção pelo vírus da Zika A síndrome congênita de Zika é um padrão reconhecido de anomalias congênitas em crianças (isto é, microcefalias, calcificações intracranianas ou outras anomalias cerebrais, ou anormalidades oculares, entre outras) associado à infecção pelo vírus Zika durante a gravidez. Os principais fatores diagnósticos para a síndrome de Guillain-Barré incluem parestesias (geralmente das mãos e dos pés), fraqueza muscular, dor (geralmente começa nas costas e nas pernas) e paralisia. Pode ocorrer também fraqueza orofaríngea, facial e extraocular. A OMS recomenda a utilização dos critérios de Brighton para a definição de casos de SGB. Os critérios de Brighton levam em consideração quantas articulações hipermóveis você tem, se você sente dor nessas articulações e também outros sintomas. Se você tiver 4 ou mais articulações com hipermobilidade e tiver tido dor por 3 meses ou mais, é provável que você tenha síndrome da hipermobilidade articular. A síndrome de Zika congênita é um padrão reconhecido de anomalias congênitas (ou seja, microcefalia, calcificações intracranianas ou outras anomalias cerebrais, ou anomalias oculares, entre outras) em lactentes associadas à infecção do vírus da Zika durante a gestação. Os bebês podem apresentar microcefalia ou outras manifestações, incluindo espasticidade, hipertonia, persistência anormal de reflexos primitivos, desenvolvimento cognitivo comprometido, desenvolvimento neuropsicomotor tardio, convulsões, desproporção craniofacial, retrognatia, disfunção do tronco encefálico, Febre, Inflamação e Infecção | P5 Mt3 Pr2 | @study.sarahs | MEDICINA – FITS 9 anormalidades oculares, perda auditiva, distúrbios da fala, desenvolvimento comprometido da linguagem, alteração do frênulo da língua, ausência de reflexos estapedianos, achados de neuroimagem (por exemplo, distúrbios corticais, calcificações, ventriculomegalia), artrogripose (por exemplo, contraturas articulares congênitas), baixo peso ao nascer para a idade gestacional, irritabilidade, disfagia e dificuldades de alimentação. Diagnóstico: O diagnóstico da infecção pelo vírus da Zika é baseado na suspeita clínica juntamente com testes moleculares e, em algumas circunstâncias, testes sorológicos. Suspeitar fortemente de pacientes que apresentem febre, exantema maculopapular (em alguns casos morbiliforme), artralgia/mialgia e conjuntivite no contexto epidemiológico correto (ou seja, residência em/retorno de uma área onde haja surto ou possibilidade de transmissão). A abordagem diagnóstica é diferente em mulheres gestantes e não gestantes. O diagnóstico pode ser confirmado com testes moleculares, que incluem reação em cadeia da polimerase via transcriptase reversa (RT-PCR) para RNA viral. Testes sorológicos, que incluem ensaio de imunoadsorção enzimática (ELISA) para imunoglobulina M (IgM) associado a teste de neutralização por redução de placa (PRNT) para anticorpos contra o vírus da Zika, podem ser recomendados em algumas circunstâncias. As amostras adequadas incluem soro, plasma, sangue total e urina. Exame Resultado RT-PCR Positivo para o acido ribonucleico (RNA) do vírus da Zika Sorologia Positiva para anticorpos contra o vírus da Zika; PRNT ≥10 Ultrassonografia pré- natal Pode mostrar microcefalia, calcificações intracranianas ou anormalidades no cérebro/olho Amniocentese Positivo para o RNA do vírus da Zika Testes para a síndrome de Guillain-Barré Lentificação das velocidades de condução nervosa; proteína do líquido cefalorraquidiano (LCR) elevada A ultrassonografia pré-natal e a amniocentese podem ser recomendadas em algumas gestantes. Medição do perímetro cefálico, tomografia computadorizada/ressonância nuclear magnética de crânio, ultrassonografia craniana, teste de audição, rastreamento oftalmológico e exame neurológico podem ser recomendados em lactentes com suspeita de síndrome congênita do vírus da Zika. Estudos de condução nervosa/eletromiografia e exames do líquido cefalorraquidiano (LCR) devem ser realizados nos pacientes com suspeita de síndrome de Guillain-Barré (SGB), se disponíveis. Fatores de riscos, fortes são: residência/retorno de viagem a área endêmica, picadas de mosquito em área endêmica, contato sexual desprotegido com um individuo infectado. OMS: Caso suspeito: Uma pessoa se apresenta com erupção cutânea e/ou febre e pelo menos um dos sinais ou sintomas a seguir: • Artralgia • Artrite • Conjuntivite (não purulenta/hiperêmica). Caso provável: Um caso suspeito com a presença de anticorpos IgM contra o vírus da Zika e sem evidência de infecção por outros flavivírus, associado a um vínculo epidemiológico (ou seja, contato com um caso confirmado ou história de residência/retorno de viagem a uma área com transmissão local do vírus da Zika nas 2 semanas anteriores ao início dos sintomas). Caso confirmado: Uma pessoa com confirmação laboratorial de infecção recente pelo vírus da Zika: • Presença do ácido ribonucleico (RNA) do vírus da Zika ou do antígeno no soro ou em outras amostras (como saliva, tecidos, urina, sangue total) • A pesquisa de anticorpos IgM contra o vírus da Zika é positiva e o teste de neutralização por redução de placas (PRNT) para vírus da Zika tem título ≥20 e razão de título de PRNT do vírus da Zika ≥4 em comparação com outros flavivírus. Tratamento: O tratamento da infecção sintomática geralmente é de suporte, pois não está disponível nenhum tratamento antiviral específico. Por conta da distribuição geográfica e dos sintomas semelhantes, pacientes com suspeita de infecção pelo Febre, Inflamação e Infecção | P5 Mt3 Pr2 | @study.sarahs | MEDICINA – FITS 10 vírus da Zika também devem ser avaliados e tratados quanto a uma possível infecção pelo vírus da dengue ou da chikungunya. Também é importante descartar outras infeções sérias, mas potencialmente tratáveis (por exemplo, malária, leptospirose, febre amarela, vírus do Nilo Ocidental). Terapias de suporte: Incluem repouso, reposição hídrica e uso de analgésicos e/ou antipiréticos (por exemplo, paracetamol). Aspirina e outros anti- inflamatórios não esteroidais (AINEs) devem ser evitados até que a infecção pelo vírus da dengue seja descartada, a fim de reduzir o risco de hemorragia. Pode-se usar loção de calamina topicamente para tratar o prurido associado à erupção cutânea. Síndrome congênita do vírus Zika: Não há tratamento específico e o manejo depende do indivíduo e da presença de sintomas específicos e problemas do neurodesenvolvimento (como convulsões, deficiência intelectual, paralisia cerebral, problemas de audição/visão). Deve-se iniciar terapias de suporte. A criança deve iniciar a reabilitação o quanto antes. Esse processo de reabilitação deve incluir suporte multidisciplinar com fisioterapeuta, fonoaudiólogo e terapeuta ocupacional. Recomenda-se uma abordagem coordenada, com apoio psicossocial contínuo para famílias e cuidadores. A amamentação, de acordo com as diretrizes normais de alimentação infantil, ainda é recomendada em mulheres com infecção suspeita, provável ou confirmada, ou aquelas que residem ou viajaram para áreas de transmissão contínua. A transmissão através do leite materno é apenas uma preocupação teórica neste momento e os benefícios da amamentação superam o risco de transmissão. Síndrome de Guillain-Barré: Existem poucos dados relacionados ao tratamento da síndrome de Guillain- Barré (SGB) no contexto de infecção pelo vírus da Zika. Todos os pacientes devem ser hospitalizados e monitorados rigorosamente durante pelo menos 5 dias ou até estarem clinicamente estáveis. Entender Chikungunya; Fisiopatologia: Após um período de incubação de cerca de 2 a 4 dias (intervalo totalde 1-12 dias), os sintomas da fase aguda se seguem. As manifestações clínicas estão correlacionadas a uma alta carga viral que pode chegar a 10⁸ partículas virais/ mL de sangue e a uma alta concentração de interferonas do tipo I e outras citocinas e quimiocinas pró-inflamatórias. O vírus infecta fibroblastos e outras células via endocitose. O ácido ribonucleico (RNA) de fita simples é liberado no citoplasma das células infectadas e transformado em RNA de fita dupla (dsRNA) usando uma replicase e uma RNA polimerase viral. Esse dsRNA tem a capacidade de interagir com vários receptores do tipo Toll (3, 7 e 8) moléculas de superfície, presentes nas células de defesa do hospedeiro, responsáveis pelo reconhecimento de estruturas microbianas e na geração de sinais que levam à produção de citocinas proinflamatórias essenciais para a ativação das respostas imunes Febre, Inflamação e Infecção | P5 Mt3 Pr2 | @study.sarahs | MEDICINA – FITS 11 inatas, estão presentes em células endoteliais, macrófagos, neutrófilos, linfócitos B, além de outros grupos celulares e o receptor do tipo gene I induzível por ácido retinóico (RIG-I). O inflamassoma resultante causa a liberação de interferonas do tipo I. A resposta inflamatória inata inicial é seguida, 1 semana mais tarde, por imunidade adaptativa com respostas mediadas por anticorpos e células T. Essa resposta coincide com a infiltração de células imunes nas articulações infectadas e nos tecidos adjacentes. A maioria dos casos remite após a fase inicial; no entanto, um subgrupo de pacientes pode desenvolver doença crônica com artrite e artralgias. Especula-se que seja consequência de infecção inicial maciça de monócitos/macrófagos que acabam migrando para os tecidos sinoviais e causam infecção viral crônica e desencadeamento contínuo da resposta inflamatória. Quadro Clínico: O período de incubação varia entre 1 e 12 dias, mas a maioria dos casos se apresenta 2 a 4 dias após a picada do mosquito. A apresentação geralmente é abrupta, com febre alta e calafrios. Às vezes, os pacientes não apresentam febre. Nesses casos, em geral relata-se artralgia proeminente. Junto com a febre alta (>38.5 °C), a poliartrite é a manifestação mais comum da infecção. Qualquer articulação pode ser afetada, mas as articulações periféricas distais são mais comumente afetadas que o esqueleto axial. As articulações distais são mais comumente afetadas: tornozelos, punhos, pés e mãos. O envolvimento em geral é simétrico e pode ser debilitante e impedir a deambulação. As articulações afetadas podem estar doloridas ou ter sinais proeminentes de inflamação, incluindo edema, calor e rubor. A dor pode estar associada a rigidez matinal e melhorar com atividades modestas, mas piorar com movimentos agressivos. Dorsalgia e cefaleia podem afetar até dois terços dos pacientes. Alguns pacientes podem apresentar dor neuropática. A maioria dos pacientes se recupera sem sequelas; no entanto, um subgrupo de pacientes desenvolve artrite ou artralgias recorrentes ou persistentes, muitas vezes associadas a rigidez matinal. Essas manifestações podem durar de meses a anos. Às vezes os pacientes atendem aos critérios do American College of Rheumatology para artrite reumatoide. Incluindo a presença de alterações erosivas nas articulações e fator reumatoide positivo. Poliartrite aguda com aspecto de dedos em salsicha durante a fase aguda, e após a resolução A erupção cutânea é maculopapular, não pruriginosa e de distribuição global, mas afeta com mais frequência os membros, e só ocasionalmente é pruriginosa. Descreve-se também eritodermia difusa. Outras apresentações, como lesões vesiculares e purpúreas, também são descritas, mas com menor frequência. Hiperpigmentação centro facial e úlceras nas dobras cutâneas também podem estar presentes. É comum haver prurido. Edema facial e dos membros também foram descritos. Lesões intertriginosas, perigenitais e perianais bem demarcadas, descamação cutânea, especialmente das palmas das mãos e solas dos pés, e úlceras aftosas orais também são frequentes. Erupção cutânea morbiliforme difusa durante a fase aguda da doença Hiperemia ou eritrodermia difusa durante a fase aguda da doença Diagnóstico: A suspeita clínica em um paciente com sintomas sugestivos e possível exposição a picadas do mosquito Febre, Inflamação e Infecção | P5 Mt3 Pr2 | @study.sarahs | MEDICINA – FITS 12 é essencial para o diagnóstico. A confirmação geralmente se baseia em testes sorológicos para detecção de anticorpos. É importante diferenciar da infecção pelos vírus da dengue e da Zika, pois a apresentação é semelhante, embora a coinfecção seja possível. Exames laboratoriais de rotina: Os pacientes podem desenvolver linfopenia, trombocitopenia, transaminite e hipocalcemia. Os exames iniciais podem incluir hemograma completo com diferencial, testes da função hepática, perfil metabólico básico, velocidade de hemossedimentação e proteína C- reativa. No entanto, os resultados dos testes iniciais são inespecíficos e não ajudam a estreitar o diagnóstico diferencial. O diagnóstico laboratorial geralmente ocorre por detecção de anticorpos séricos; no entanto, detecção de ácido nucleico viral ou culturas também podem ser usadas. Nos EUA e na Europa, o método mais comum de diagnóstico confirmatório é por detecção de imunoglobulina M (IgM) por ensaio de imunoadsorção enzimática (ELISA) ou ensaios de imunofluorescência. Os anticorpos IgM são detectáveis após o quarto dia de infecção e desaparecem depois de cerca de 3 meses. A reação em cadeia da polimerase via transcriptase reversa (RT-PCR) em tempo real pode detectar o vírus com mais rapidez que as amostras sorológicas (a viremia é muito proeminente quando aparecem os sintomas). O teste é confiável, totalmente automatizado e pode quantificar a carga viral; no entanto, é mais caro e menos comumente disponível. Exames Resultados Hemograma leucopenia, linfopenia, trombocitopenia Velocidade de hemossedimentação Elevado Proteína C-reativa Elevado Perfil metabólico básico - Avalia o volume e o estado eletrolítico Eletrólitos e/ou creatinina podem refletir a depleção de volume teste molecular detecção de material genético do vírus da Chikungunya Criterios para definição de caso: • Critérios clínicos: início agudo de febre >38.5 °C e artralgia/artrite graves não explicadas por outras doenças. • Critérios epidemiológicos: residir ou visitar áreas epidêmicas, relatar transmissão nos 15 dias anteriores ao início dos sintomas. • Critérios laboratoriais: pelo menos um dos testes a seguir na fase aguda: o Isolamento viral o Presença de ácido ribonucleico (RNA) viral por reação em cadeia da polimerase via transcriptase reversa (RT-PCR) o Presença de anticorpos IgM (imunoglobulina M) específicos contra o vírus em uma amostra única de soro coletada no estágio agudo ou convalescente • Aumento de quatro vezes nos valores de IgG em amostras coletadas com pelo menos 3 semanas de intervalo. Possível caso: paciente que preenche os critérios clínicos. Caso provável: paciente que preenche os critérios clínicos e epidemiológicos. Caso confirmado: paciente que preenche os critérios laboratoriais, independentemente do quadro clínico. Tratamento: Não há tratamento antiviral específico. O manejo é basicamente de apoio. A maioria das pessoas pode ser tratada ambulatorialmente. Tratamento não farmacológico durante a fase aguda: Os pacientes terão demandas metabólicas mais elevadas durante a doença. É necessário garantir hidratação e nutrição adequadas. Os pacientes podem precisar afastar-se por um tempo do trabalho ou restringir-se a atividades menos vigorosas, dependendo das condições clínicas. Deve-se evitar movimentaçãoexcessiva das articulações agudamente inflamadas; no entanto, não se indica imobilização rigorosa. O repouso relativo com mobilização passiva das articulações e o incentivo de contrações musculares isométricas podem ser úteis. Fisioterapia e terapia ocupacional podem ser indicadas durante a fase de recuperação. A aplicação de compressas mornas ou frias e banhos com água morna ou fria podem proporcionar alívio dos sintomas articulares. Terapia farmacológica na fase aguda: Paracetamol é o tratamento de primeira escolha para manejo de febre Febre, Inflamação e Infecção | P5 Mt3 Pr2 | @study.sarahs | MEDICINA – FITS 13 e dor na fase aguda. Deve-se ter cuidado com pacientes com doença hepática (inclusive usuários de álcool). Aspirina e anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs) devem ser usados com cuidado nas semanas iniciais da doença, e somente após outras infecções terem sido descartadas. Esses medicamentos podem agravar manifestações hemorrágicas (incomuns em pacientes com infecção pelo vírus da chikungunya, mas preocupantes em pacientes que podem ter coinfecção com dengue). Nenhum AINE é especificamente recomendado. Sempre que um AINE for escolhido, sua eficácia deverá ser reavaliada em 7 a 10 dias e outro agente deverá ser tentado na ausência de resposta à escolha inicial. O tratamento não deve exceder 3 a 4 semanas. AINEs e aspirina não devem ser administrados a gestantes. Tramadol e analgésicos opioides (por exemplo, hidrocodona, oxicodona, morfina) podem ser considerados em determinados casos, quando a dor não responder aos AINEs. A morfina deve ser reservada para pacientes com dor muito intensa. Os opioides devem ser usados pelo menor período possível, reduzindo-se rapidamente, e substituídos por um AINE ou pelo paracetamol. Um componente neuropático, indica-se amitriptilina ou gabapentina. A única indicação de uso agudo de corticosteroides no início da evolução da infecção é comprometimento neurológico progressivo (por exemplo, encefalopatia, uveíte, neurite óptica encefalomielite desmielinizante aguda ou neuropatia). O uso de corticosteroides para o controle da artrite ou de outros sintomas reumatológicos no início da doença pode estar associado à recorrência dos sintomas. Em pacientes com manifestações poliarticulares que persistem por mais de 3 a 4 semanas e não reagem a AINEs, é razoável realizar uma tentativa com corticosteroides. Terapia farmacológica na fase crônica: Em pacientes que desenvolvem sintomas que lembram artrite reumatoide pelo menos 12 semanas após o início da doença, são indicados medicamentos antirreumáticos modificadores de doença (MARMDs), particularmente em pacientes com anticorpos antipeptídeos citrulinados cíclicos (anti-CCP) positivos são proteínas produzidas pelo sistema imune em resposta a uma ameaça percebida a partir da citrulina. O MARMD de escolha é a hidroxicloroquina. O metotrexato é uma opção de segunda linha. Opções alternativas incluem monoterapia com leflunomida e sulfassalazina. Pacientes com sintomas que lembram espondiloartropatia 12 ou mais semanas após o início da doença devem ser tratados preferencialmente com AINEs. Para pacientes com poliartrite indiferenciada (inflamação de múltiplas articulações que não se assemelha a artrite reumatoide nem espondiloartropatia) 12 ou mais semanas após o início da doença, AINEs também são a primeira opção de terapia, seguidos por corticosteroides. PROVA DE LAÇO: Exame rápido que auxilia a triagem de pacientes em casos de suspeita de arbovírus, como os da dengue, Zika Virus, chikungunya, a Prova do Laço é um dos métodos utilizados não apenas para se ter um indicativo (diagnóstico) dessas doenças, mas também para se avaliar as condições de saúde dos pacientes, orientando o melhor tipo de tratamento a ser realizado. O procedimento deve ser aplicado em pessoas com suspeita clínica das doenças e que apresentem sinais de fragilidade muscular. Também conhecido como Prova do Torniquete ou Teste de Fragilidade Capilar, a prova faz parte das recomendações da Organização Mundial da Saúde para o diagnóstico. De natureza simples, o exame consiste em se fazer a medição da pressão arterial insuflando o manguito do aferidor de pressão até ao valor médio entre a pressão máxima e a mínima. Em seguida, desenha-se um quadrado no antebraço da pessoa. O resultado do teste é considerado positivo se houver 20 ou mais petéquias (os pontinhos vermelhos) em adultos e 10 ou mais em crianças, considerando assim suspeita de dengue. Febre, Inflamação e Infecção | P5 Mt3 Pr2 | @study.sarahs | MEDICINA – FITS 14 Referências: Infectologia – Bases clínicas e tratamento. Reinaldo Salomão Dengue: Aspectos Epidemiológicos, Diagnóstico e Tratamento - Ministério da Saúde. 2002 BMJ Best Practice – Infecção pelo vírus da Zika https://www.ufrgs.br/telessauders/perguntas/prova- do-laco-dengue/ https://ojs.iec.gov.br/index.php/rpas/article/view/59 0/417#toc https://www.gov.br/saude/pt-br/centrais-de- conteudo/publicacoes/boletins/epidemiologicos/edic oes/2022/boletim-epidemiologico-vol-53- no34#:~:text=(Figura%204).- ,Quando%20comparado%20com%20o%20ano%20de %202021%2C%20ocorreu%20um%20aumento,casos% 2F100%20mil%20hab.) https://www.medicinanet.com.br/conteudos/revisoes /1615/dengue.htm https://www.ufrgs.br/telessauders/perguntas/prova-do-laco-dengue/ https://www.ufrgs.br/telessauders/perguntas/prova-do-laco-dengue/ https://ojs.iec.gov.br/index.php/rpas/article/view/590/417#toc https://ojs.iec.gov.br/index.php/rpas/article/view/590/417#toc https://www.gov.br/saude/pt-br/centrais-de-conteudo/publicacoes/boletins/epidemiologicos/edicoes/2022/boletim-epidemiologico-vol-53-no34#:~:text=(Figura%204).-,Quando%20comparado%20com%20o%20ano%20de%202021%2C%20ocorreu%20um%20aumento,casos%2F100%20mil%20hab https://www.gov.br/saude/pt-br/centrais-de-conteudo/publicacoes/boletins/epidemiologicos/edicoes/2022/boletim-epidemiologico-vol-53-no34#:~:text=(Figura%204).-,Quando%20comparado%20com%20o%20ano%20de%202021%2C%20ocorreu%20um%20aumento,casos%2F100%20mil%20hab https://www.gov.br/saude/pt-br/centrais-de-conteudo/publicacoes/boletins/epidemiologicos/edicoes/2022/boletim-epidemiologico-vol-53-no34#:~:text=(Figura%204).-,Quando%20comparado%20com%20o%20ano%20de%202021%2C%20ocorreu%20um%20aumento,casos%2F100%20mil%20hab https://www.gov.br/saude/pt-br/centrais-de-conteudo/publicacoes/boletins/epidemiologicos/edicoes/2022/boletim-epidemiologico-vol-53-no34#:~:text=(Figura%204).-,Quando%20comparado%20com%20o%20ano%20de%202021%2C%20ocorreu%20um%20aumento,casos%2F100%20mil%20hab https://www.gov.br/saude/pt-br/centrais-de-conteudo/publicacoes/boletins/epidemiologicos/edicoes/2022/boletim-epidemiologico-vol-53-no34#:~:text=(Figura%204).-,Quando%20comparado%20com%20o%20ano%20de%202021%2C%20ocorreu%20um%20aumento,casos%2F100%20mil%20hab https://www.gov.br/saude/pt-br/centrais-de-conteudo/publicacoes/boletins/epidemiologicos/edicoes/2022/boletim-epidemiologico-vol-53-no34#:~:text=(Figura%204).-,Quando%20comparado%20com%20o%20ano%20de%202021%2C%20ocorreu%20um%20aumento,casos%2F100%20mil%20hab https://www.gov.br/saude/pt-br/centrais-de-conteudo/publicacoes/boletins/epidemiologicos/edicoes/2022/boletim-epidemiologico-vol-53-no34#:~:text=(Figura%204).-,Quando%20comparado%20com%20o%20ano%20de%202021%2C%20ocorreu%20um%20aumento,casos%2F100%20mil%20hab https://www.medicinanet.com.br/conteudos/revisoes/1615/dengue.htm https://www.medicinanet.com.br/conteudos/revisoes/1615/dengue.htm Febre, Inflamação e Infecção | P5 Mt3 Pr2 | @study.sarahs | MEDICINA – FITS 15Febre, Inflamação e Infecção | P5 Mt3 Pr2 | @study.sarahs | MEDICINA – FITS 16
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