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SERVIÇO DE ENSINO PROFISSIONALIZANTE DE TÉCNICO EM ENFERMAGEM – FEPE ATUANDO NA ATENÇÃO SAÚDE DA CRIANÇA, ADOLESCENTE, MULHER E CLIENTE PSIQUIÁTRICO. AÇÕES DE ENFERMAGEM EM SAÚDE COLETIVA Curso: Técnico em Enfermagem Docente: Kívia Thayanne de Brito Reis – PEDAGOGA PLANO DE CURSO ENFERMAGEM EM SAÚDE COLETIVA EMENTA: Conceitos de saúde coletiva. Identificação dos problemas de saúde coletiva. Sistema de Saúde no Brasil. Perspectivas de saúde coletiva no Brasil. Planejamento em saúde coletiva. Níveis de prevenção. Equipe de saúde coletiva e atribuições da enfermagem na equipe. Fundamentos teóricos- metodológicos para a prática educativa em saúde. OBJETIVO ▪ Conhecer os principais aspectos constitutivos do processo educativo, e da educação em saúde na prática da enfermagem em saúde coletiva. ▪ Desenvolver ações de prevenção, promoção e educação em saúde relacionadas aos problemas e as necessidades em saúde. ▪ Elaborar projetos de intervenção em saúde coletiva num determinado território, tendo como base os princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS), utilizando conhecimentos e práticas da educação e promoção da saúde. CONTEÚDO PROGRAMÁTICO • SAÚDE COLETIVA ➢ Conceito, objetivo, como surgiu ➢ Articulação e proposta de saúde coletiva • SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS) ➢ O direito a saúde na constituição federal ➢ Princípios e diretrizes ➢ Financiamento • ORGANIZAÇÃO DOS SERVIÇOS DE SAÚDE ➢ Níveis de atenção da saúde ➢ Promoção a saúde (Saúde-Doença-Cuidado) ➢ Planejamento e avaliação na saúde REFERENCIAS BACKES, Dirce Stein; BACKES, Marli Stein; ERDMANN, AlacoqueLorenzini; BÜSCHER, Andreas. O papel profissional do enfermeiro no Sistema Único de Saúde: da saúde comunitária à estratégia de saúde da família. Centro Universitário Franciscano. Rio Grande do Sul, 2012. BARBOSA, Maria Alves; MEDEIROS, Marcelo; PRADO, Marinésia Aparecida; BACHION, Maria Márcia; BRASIL, Virginia Visconde. Reflexões sobre o trabalho do enfermeiro em saúde coletiva. RevistaEletrônica de Enfermagem, v. 06, n. 01, p.09-15, 2004. Disponível em www.fen.ufg.br PINTO, José Marcelino de Rezende. A teoria da ação comunicativa de Jürgen Habermas: conceitos básicos e possibilidades de aplicação à administração escolar. Rio Preto, 1995. ROCHA, S.M.M.; ALMEIDA, M.C.P.de. O processo de trabalho da enfermagem em saúde coletiva e a interdisciplinaridade. Rev.latino-am.enfermagem, Ribeirão Preto, v. 8, n. 6, p. 96-101, dezembro 2000. VALENTIM, Igor Vinicius Lima; KRUEL, Alexandra Jochims. A importância da confiança interpessoal para a consolidação do Programa de Saúde da Família. Escola de Administração da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre RS, 2007. http://www.fen.ufg.br/ INTRODUÇÃO As transformações que vêm ocorrendo na sociedade ocorrem também, de maneira significativa, no campo da saúde, tanto no seu objeto — o processo saúde-doença-cuidado — como no instrumental teórico-prático em que se apoiam as práticas e na organização da produção em saúde. O setor saúde tem que responder a uma pluralidade de necessidades, ou seja, às demandas por intervenções tecnológicas de alta complexidade e especialidade que se dão nos hospitais de atendimento terciário e também tem que atuar nos espaços aonde as pessoas vivem o seu cotidiano, de modo a proporcionar uma vida saudável. Só a intervenção e recuperação do corpo biológico não tem respondido de forma plena às necessidades de saúde, pois estas vão além e demandam por uma atenção que leve em conta a integralidade do ser humano, a qualidade de vida e a promoção da saúde. Assim, um novo modelo assistencial vem se delineando tendo por foco de atenção a família, considerando o meio ambiente, o estilo de vida e a promoção da saúde como seus fundamentos básicos. Resgata a posição da família como importante unidade de cuidado de seus membros, entendendo que esta é o resultado de três tipos de vínculos: os de descendência, os de consanguinidade e os de afinidade. A família pode permanentemente modificar suas relações internas de acordo com as necessidades históricas, mas sempre respondendo à necessidade humana básica de comunicação, rompendo o confinamento dos laços estritos de “sangue”. Em decorrência disso e das questões relativas ao custo, à eficácia, à eficiência e à cobertura dos diversos segmentos coletivos, surge a necessidade de mudanças na capacitação e formação de recursos humanos em saúde. Estas transformações colocam novos desafios aos pesquisadores da saúde e, no caso, da enfermagem que procuram uma articulação entre o progresso técnico e as organizações sociais que sustentam a vida cotidiana. Os impasses epistemológicos e metodológicos das ciências da saúde, diante de um objeto tão complexo — o processo saúde-doença-cuidado — ou de vários objetos que se interligam nesta complexidade, têm suscitado debates sobre novos paradigmas e novos conhecimentos em busca de sistematização. Neste texto são utilizados autores que já se posicionaram sobre o assunto, no âmbito da saúde coletiva (ALMEIDA FILHO, 1997; ALVARENGA, 1994; AYRES, 1997b; MINAYO, 1994). Assim, este texto e as aulas que nele se baseiam são um ensaio que tem como objetivo fazer uma discussão e suscitar reflexões sobre a necessidade de um diálogo interdisciplinar quando se tem como objeto de trabalho o processo saúde-doença-cuidado. A enfermagem, como parte do trabalho em saúde e como uma das profissões cuidadoras vem reconstruindo seu conhecimento buscando fundamentos na filosofia e em autores que epistemologicamente privilegiam a relação sujeito-sujeito. DEFININDO ENFERMAGEM A Enfermagem é uma das profissões da área da saúde cuja essência e especificidade é o cuidado ao ser humano, individualmente, na família ou na comunidade, desenvolvendo atividades de promoção, prevenção de doenças, recuperação e reabilitação da saúde, atuando em equipes. A enfermagem se responsabiliza, através do cuidado, pelo conforto, acolhimento e bem-estar dos pacientes, seja prestando o cuidado, seja coordenando outros setores para a prestação da assistência e promovendo a autonomia dos pacientes através da educação em saúde. Há cinquenta anos aproximadamente a enfermagem vem revisando seu conhecimento e prática, reconstruindo muitas teorias e modelos de intervenção. Em que pesem as diferenças decorrentes do contexto e clientelas para os quais foram propostas, todas as modalidades de assistência referem-se ao ambiente e seu impacto no ser humano, ao receptor do cuidado, isto é, o indivíduo, os grupos, a família e à definição de saúde em que se pauta. A enfermagem é descrita como um processo que pode integrar a relação entre estes componentes. Alguns autores reconhecem que muito do conhecimento requerido pela enfermagem é adquirido na realidade empírica, assim, um caminho para construir uma teoria seria observar o que os profissionais em enfermagem fazem, convidando-os a refletir sobre sua prática e então definir a natureza da enfermagem, partindo da base empírica de informações (WHO,1997). Um documento da Organização Mundial de Saúde que trabalhou com as descrições da enfermagem em todo o mundo, demonstra que a qualificação do pessoal de enfermagem e suas atividades (sua prática) diferem profundamente de um local para outro. Concluem que, em todo o mundo, a natureza e a prática da enfermagem são influenciadas pela realidade que compreende a política, a economia e a cultura e essa realidade difere de país para país, de região para região. Em todo o mundo, entretanto, a enfermagem constitui o maior contingente da força de trabalho em cuidados à saúde. É o grupo profissional mais amplamente distribuído e que tem os mais diversos papéis, funções e responsabilidades. Estes profissionais provêm cuidados aos indivíduos, as famíliase as comunidades que incluem promoção à saúde, prevenção de doenças, tratamentos a pacientes crônicos, agudos, reabilitação e acompanhamento de doentes terminais. É uma profissão constituída, predominantemente, por mulheres e estas são encontradas em maior número trabalhando em hospitais, frequentemente em unidades de emergência e de terapia intensiva, em áreas de grandes concentrações urbanas. Nas décadas, de 80 e 90, observa-se uma mobilização da enfermagem na reorganização do setor saúde em várias regiões do mundo, dando suporte à área de atenção primária. Os enfermeiros estão também na zona rural de países pouco desenvolvidos, muitas vezes, sendo os únicos trabalhadores em saúde disponíveis, coordenando vários programas de controle de malária, tuberculose, hanseníase, diarreia, entre outros. Em muitos países encontram-se, ainda, como uma forte tradição, obstetrizes/enfermeiras obstetras trabalhando na assistência ao parto, nos cuidados preventivos e na educação em saúde. Nas últimas décadas têm ocorrido profundas mudanças no perfil epidemiológico do processo saúde-doença, como a transição demográfica e epidemiológica com o aumento de doenças crônico- degenerativas, o reaparecimento de endemias já extintas, o envelhecimento da população, a mortalidade alta em faixas etárias jovens, devido à violência, homicídios, acidentes de trânsito e surgimento de doenças sexualmente transmissíveis como a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida. A reestruturação do setor saúde em todo o mundo, o decréscimo relativo de leitos hospitalares, a ênfase em atenção primária e a desospitalização, bem como, a preocupação com o barateamento dos custos da atenção à saúde vêm promovendo mudanças e estão trazendo os enfermeiros para o cuidado domiciliar, ambulatorial e novos espaços na comunidade, mas também sua presença se faz nos hospitais altamente especializados. O BANCO MUNDIAL (1993) preconiza soluções ágeis, modernas e flexíveis para o setor saúde dentro de indicadores de eficácia/eficiência e custo/benefício, bem como a importância da família como unidade de atenção das políticas sociais. Nas escolas, as enfermeiras estão atuando não somente na atenção primária, mas também intervindo em problemas como gravidez na adolescência, doenças sexualmente transmissíveis e AIDS, nutrição, higiene, trabalho e violência infantil, drogas, alcoolismo e suicídio. Na assistência domiciliar, seu trabalho direciona-se para a atenção materno-infantil, gravidez de risco, prematuridade, doenças crônicas e pacientes terminais. Em alguns países, a enfermeira atua nas indústrias, empresas e na prevenção de acidentes de forma muito significativa. Trabalha também em equipes de planejamento e administração e na gestão de políticas de saúde. Desta forma, constatamos que as definições e modelos de enfermagem conformados não são capazes de apreender toda a complexidade do cuidado. Cuidar significa assistir o ser humano em suas necessidades básicas e este é o caráter universal do cuidado. Entretanto, na prática, o cuidado se apresenta de forma histórica e contextual, portanto, é variável e depende de relações que se estabelecem no processo de assistência, tornando-se uma atividade bastante complexa. O TRABALHO DA ENFERMAGEM A introdução do pensamento “social” na saúde ocorreu no século XIX em alguns países europeus como França, Alemanha e Inglaterra, o que se denominou de Medicina Social. O segundo momento ocorreu após o término da 2ª Guerra Mundial, nos Estados Unidos e vinte anos depois este movimento atinge a América Latina (NUNES, 1996). No Brasil, na década de 70, cunha-se a termo Saúde Coletiva e profundas questões teórico metodológicas e epistemológicas são trazidas para se redefinir este campo de saberes e práticas. A compreensão do social no campo da saúde provocou uma ruptura com os modelos cartesianos de investigação que reduziam as relações de causa e efeito ao plano biológico e remetiam a sua resolução ao modelo clínico de diagnóstico e terapêutica. Autores como DONNANGELO (1975); DONNANGELO & PEREIRA (1979) e, posteriormente, MENDES GONÇALVES (1979; 1994), entre outros, introduziram a categoria trabalho para entender o processo saúde-doença e as práticas de saúde em nossa sociedade. Definiu-se, então, como objeto da prática médica não mais os corpos biológicos, mas os corpos sociais e passou-se a analisar o processo saúde-doença em suas relações com a estrutura econômica, política e ideológica da sociedade. Desta forma, foi também possível apreender as formas como a medicina e as demais práticas em saúde, institucionalizadas, reproduzem as relações sociais mais amplas determinando patologias, tecnologias e formas diferenciadas de atendimento. Partindo da apreensão dos momentos do processo de trabalho, a atividade orientada para uma finalidade, seu objeto e seus instrumentos, MENDES GONÇALVES (1994) desenvolveu um profundo raciocínio lógico e dialético para compreender as práticas em saúde, discutindo e redefinindo tecnologia. O conceito de organização tecnológica do trabalho em saúde construído por MENDES GONÇALVES (1994) refere-se aos nexos estabelecidos no interior do processo de trabalho entre a atividade operante, realizada através de instrumentos, considerados em sentido amplo, sendo o conhecimento o principal deles porque orienta todo o processo, os objetos de trabalho e a finalidade. Portanto, tecnologia não tem o significado corriqueiro de conjunto de instrumentos materiais, muitas vezes associado à maior eficácia e produtividade por avanços em suas concepções operacionais. Portanto, o conhecimento capaz de fundamentar o cuidado de enfermagem deve ser construído na intersecção entre a Filosofia, que responde à grande questão existencial do homem, a Ciência e Tecnologia, tendo a lógica formal como responsável pela correção normativa, e a Ética, isto é, numa abordagem epistemológica efetivamente comprometida com a emancipação humana. SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE DEFINIÇÃO O Sistema Único de Saúde - SUS- foi criado pela Lei Orgânica da Saúde n.º 8.080/90 com o objetivo de alterar a circunstância de disparidade na assistência à Saúde da população, tornando obrigatório a assistência de saúde, sem ônus a qualquer cidadão, não sendo permitido qualquer cobrança de dinheiro sob qualquer pretexto. Assim, o SUS não é um serviço ou uma instituição, mas um Sistema que significa um conjunto de unidades, de serviços e ações que interagem para um fim comum. Esses elementos integrantes do sistema referem-se ao mesmo tempo, às atividades de promoção, proteção e recuperação da saúde. COMPONENTES DO SUS Do Sistema Único de Saúde fazem parte os centros e postos de saúde, hospitais - incluindo os universitários, laboratórios, hemocentros (bancos de sangue), além de fundações e institutos de pesquisa, como a FIOCRUZ - Fundação Oswaldo Cruz e o Instituto Vital Brazil. BENEFÍCIOS PARA O CIDADÃO Por meio do Sistema Único de Saúde, todos os cidadãos têm direito a consultas, exames, internações e tratamentos nas Unidades de Saúde vinculadas ao SUS, sejam públicas (da esfera municipal, estadual e federal) ou privadas, contratadas pelo gestor público de saúde. FINANCIAMENTO DO SUS O SUS é destinado a todos os cidadãos e é financiado com recursos arrecadados através de impostos e contribuições sociais pagos pela população em geral e compõem os recursos do governo federal, estadual e municipal. DOUTRINAS DO SUS Baseado nos preceitos constitucionais a construção do SUS se norteia pelos seguintes princípios doutrinários: 1.UNIVERSALIDADE – É a garantia de atenção à saúde por parte do sistema, a todo e qualquer cidadão. Com a universalidade, o indivíduo passa a ter direito de acesso a todos os serviços públicos de saúde, assim como àqueles contratados pelo poder público. Saúde é direito de cidadania e dever do Governo: municipal, estadual e federal.2.EQÜIDADE – É assegurar ações e serviços de todos os níveis de acordo com a complexidade que cada caso requeira, more o cidadão onde morar, sem privilégios e sem barreiras. Todo cidadão é igual perante o SUS e será atendido conforme suas necessidades até o limite do que o sistema puder oferecer para todos. 3.INTEGRALIDADE - É o reconhecimento na prática dos serviços de que: cada pessoa é um todo indivisível e integrante de uma comunidade; as ações de promoção, proteção e recuperação da saúde formam também um todo indivisível e prestar assistência integral. PRINCÍPIOS QUE REGEM A ORGANIZAÇÃO DO SUS 1.REGIONALIZAÇÃO e HIERARQUIZAÇÃO - Os serviços devem ser organizados em níveis de complexidade tecnológica crescente, dispostos numa área geográfica delimitada e com a definição da população a ser atendida. Isto implica na capacidade dos serviços em oferecer a uma determinada população todas as modalidades de assistência, bem como o acesso a todo tipo de tecnologia disponível, possibilitando um ótimo grau de resolubilidade (solução de seus problemas). O acesso da população à rede deve se dar através dos serviços de nível primário de atenção que devem estar qualificados para atender e resolver os principais problemas que demandam os serviços de saúde. Os demais, deverão ser referenciados para os serviços de maior complexidade tecnológica. A rede de serviços, organizada de forma hierarquizada e regionalizada, permite um conhecimento maior dos problemas de saúde da população da área delimitada, favorecendo ações de vigilância epidemiológica, sanitária, controle de vetores, educação em saúde, além das ações de atenção ambulatorial e hospitalar em todos os níveis de complexidade. 2.RESOLUBILIDADE - É a exigência de que, quando um indivíduo busca o atendimento ou quando surge um problema de impacto coletivo sobre a saúde, o serviço correspondente esteja capacitado para enfrentá-lo e resolvê-lo até o nível da sua competência. 3.DESCENTRALIZAÇÃO - É entendida como uma redistribuição das responsabilidades quanto às ações e serviços de saúde entre os vários níveis de governo, a partir da ideia de que quanto mais perto do fato a decisão for tomada, mais chance haverá de acerto. Assim, o que é abrangência de um município deve ser de responsabilidade do governo municipal; o que abrange um estado ou uma região estadual deve estar sob responsabilidade do governo estadual, e, o que for de abrangência nacional será de responsabilidade federal. 4.PARTICIPAÇÃO DOS CIDADÃOS - É a garantia constitucional de que a população, através de suas entidades representativas, participará do processo de formulação das políticas de saúde e do controle da sua execução, em todos os níveis, desde o federal até o local. A participação deve se dar nos Conselhos de Saúde, com representação paritária de usuários, governo, profissionais de saúde e prestadores de serviço. 5.COMPLEMENTARIEDADE DO SETOR PRIVADO – A Constituição definiu que, quando por insuficiência do setor público, for necessário a contratação de serviços privados, isso deve se dar sob três condições: • 1ª - a celebração de contrato, conforme as normas de direito público, ou seja, interesse público prevalecendo sobre o particular. • 2ª - a instituição privada deverá estar de acordo com os princípios básicos e normas técnicas do SUS. Prevalecem, assim, os princípios da universalidade, equidade, etc., como se o serviço privado fosse público, uma vez que, quando contratado, atua em nome deste. • 3ª - a integração dos serviços privados deverá se dar na mesma lógica organizativa do SUS, em termos de posição definida na rede regionalizada e hierarquizada dos serviços. Dessa forma, em cada região, deverá estar claramente estabelecido, considerando-se os serviços públicos e privados contratados, quem vai fazer o que, em que nível e em que lugar. O PAPEL PROFISSIONAL DO ENFERMEIRO NO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE: DA SAÚDE COMUNITÁRIA À ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA INTRODUÇÃO A enfermagem vem ampliando, a cada dia, o seu espaço na área da saúde, tanto no contexto nacional quanto no cenário internacional. O enfermeiro assume um papel cada vez mais decisivo e proativo no que se refere à identificação das necessidades de cuidado da população, bem como na promoção e proteção da saúde dos indivíduos em suas diferentes dimensões. O cuidado de enfermagem é, portanto, um componente fundamental no sistema de saúde local, que apresenta os seus reflexos a nível regional e nacional e, por isso, também motivo de crescentes debates e novas significações. Mesmo que interligada e complementada por outros saberes profissionais, a enfermagem pode ser amplamente definida como a ciência do cuidado integral e integrador em saúde, tanto no sentido de assistir e coordenar as práticas de cuidado, quanto no sentido de promover e proteger a saúde dos indivíduos, famílias e comunidades. Nessa direção, o cuidado de enfermagem configura-se como prática social empreendedora, pela inserção ativa e proativa nos diferentes espaços de atuação profissional e, principalmente, pelas possibilidades interativas e associativas com os diferentes setores e contextos sociais. Evidências internacionais acenam para a importância do papel profissional do enfermeiro na saúde coletiva, tanto no espaço domiciliar quanto no espaço comunitário ou nos centros de saúde comunitários. A enfermagem tem a possibilidade de operar, de forma criativa e autônoma, nos diferentes níveis de atenção à saúde, seja através da educação em saúde, seja na promoção ou na reabilitação da saúde dos indivíduos. Esse processo se dá, particularmente, no esforço pelo levantamento de situações críticas e a intervenção sistematizada de um plano de cuidados, capaz de superar as fragmentações e assegurar a continuidade e a resolutividade do cuidado em saúde. Nesse campo de discussões, o papel profissional do enfermeiro é ampliado pela estratégia da Organização Mundial da Saúde “Saúde 21”, saúde para todos no século 21 e prioridade número um para a região europeia, a qual se concentra em alcançar níveis cada vez mais amplos de saúde e, desse modo, favorecer ao ser humano uma vida social e economicamente produtiva e com mais qualidade. No Brasil, vários estudiosos se empenham em dar visibilidade ao papel profissional do enfermeiro, seja como prática social comunitária, autônoma, ou como prática assistencial institucionalizada. É preciso levar em conta, no entanto, que a enfermagem como prática comunitária se cunhou de novos significados conceituais, possibilitados pela concepção de saúde coletiva, campo ainda em constituição e que, crescentemente, vem assumindo diversas formas e abordagens. O termo saúde coletiva surgiu, mais especificamente, no fim da década de 70, em um momento de reordenamento de um conjunto de práticas assistenciais, diante da necessidade de ampliar a compreensão do processo saúde-doença dos indivíduos e comunidades, pela inserção e valorização dos diferentes saberes profissionais e a integração com os diferentes setores sociais. A compreensão do coletivo significa, a partir de então, a apreensão do individual em seu contexto estruturado de práticas sociais. Significa reconhecer o indivíduo – ser individual - como um ser social, em constante interação com os outros indivíduos e com o seu entorno, ou seja, o indivíduo se transforma e é transformado continuamente, por meio das relações e interações, tornando- se protagonista e autor do processo saúde- doença em seu contexto real e concreto. A mudança conceitual do termo - saúde pública para saúde coletiva - é reflexo de um intenso engajamento dos movimentos sociais na luta pela democratização do país, além da centralidade assumida pela Assembleia Nacional Constituinte, em 1977. Emergida como parte dessa luta pela democracia, a Reforma Sanitária, no Brasil, alcançou a garantia constitucional do direito universalà saúde e a construção institucional do Sistema Único de Saúde (SUS), aprovado na Constituição Federal de 1988. O Sistema Único de Saúde – possibilidades profissionais. O SUS foi criado, nessa perspectiva, a partir das manifestações de um conjunto de necessidades sociais de saúde, as quais imprimem um caráter ético-moral que a defende como direito de todo cidadão. Enquanto conquista das lutas participativas e democráticas, o SUS se desenvolve com base nos princípios de acesso, universalidade, equidade e integralidade, e com base nas diretrizes organizativas de descentralização, regionalização, hierarquização e participação da comunidade. Como estratégia de reformulação do modelo brasileiro de atenção à saúde e o fortalecimento dos princípios e diretrizes do SUS, o Ministério da Saúde criou, em 1994, a Estratégia Saúde da Família (ESF), inicialmente denominada Programa de Saúde da Família. A estratégia nasceu na tentativa de repensar os padrões de pensamento e comportamento dos profissionais e cidadãos brasileiros, até então vigentes. Sistematizada e orientada por equipes de saúde da família que envolve médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, odontólogos e Agentes Comunitário de Saúde (ACS), a ESF busca discutir e ampliar o tradicional modelo sanitário médico curativa, para a compreensão de uma abordagem coletiva, Multi e Inter profissional, centrada na família e na comunidade, inserida em seu contexto real e concreto. Sendo a ESF uma estratégia de fomento à participação da população, esta deve, crescentemente, promover uma nova relação entre os sujeitos, onde tanto o profissional quanto o usuário podem/devem ser produtores e construtores de um viver mais saudável. Este envolvimento, no entanto, só é possível mediante um processo dialógico entre os diferentes saberes, no qual cada um contribui com o seu conhecimento peculiar e juntos possibilitam uma interação efetiva pela valorização das diferentes experiências e expectativas de vida. É neste contexto de discussões, conquistas e desafios que o enfermeiro precisa delinear cada vez mais e melhor o seu campo de atuação profissional e desenvolver o seu projeto político-legal, coerente com os princípios e diretrizes do SUS, bem como com as diretivas da ESF. Um projeto profissional, portanto, que necessita considerar o ser humano – ser individual e coletivo – como sujeito e ator social. Nessa direção, questiona-se: Qual o significado do papel profissional do enfermeiro no Sistema Único de Saúde brasileiro e qual o significado de sua prática social neste campo de discussões e significações teórico-práticas? Pretende-se, a partir do exposto, situar a enfermagem frente às práticas em saúde coletiva, mais especificamente no SUS, para compreender como esta vem se constituindo enquanto uma das disciplinas que contribui de forma decisiva para a consolidação dos princípios e diretrizes do SUS. Objetiva-se, assim, possibilitar um olhar retrospectivo sobre o papel profissional do enfermeiro no Sistema Único de Saúde brasileiro, bem como compreender o significado de sua prática social neste campo de discussões e significações teórico-práticas. CONSIDERAÇÕES FINAIS Um olhar retrospectivo sobre o papel do profissional enfermeiro no Sistema Único de Saúde brasileiro – 29 anos de SUS, permite argumentar que este e, de modo especial, a ESF, podem ser considerados estratégias facilitadoras e estimuladoras do processo de mobilização social, da ampliação da intervenção comunitário-coletiva, de um novo modo de pensar e agir, bem como pelas novas possibilidades interativas e associativas, à medida que sinalizam para uma nova abordagem de intervenção social, não mais focada nos reducionismos do saber médico curativista, mas centrada na educação, promoção e proteção da saúde. Em outras palavras, à medida que, para superar o enfoque reducionista, os enfermeiros buscam adotar perspectivas integradoras de variáveis múltiplas, para captar amplamente a complexidade do processo saúde-doença. Sendo uma profissão fundamental no sistema de saúde, a enfermagem se destaca e diferencia pelo desenvolvimento de práticas interativas e integradoras de cuidado, às quais vêm adquirindo uma repercussão cada vez maior, tanto na educação e promoção da saúde, quanto no fomento de políticas voltadas para o bem-estar social das famílias e comunidades. Nessa direção, a enfermagem se configura, crescentemente, como a profissão do futuro, pela possibilidade de compreender o indivíduo não como um ser doente, mas como um ser singular e complexo, capaz de continuamente auto organizar-se e projetar-se como autor do processo saúde-doença. Basta, no entanto, que a enfermagem invista em atitudes proativas, capazes de promover e emancipar o indivíduo e a família como protagonistas da sua própria história. Tendo o cuidado ao ser humano, em todas as suas dimensões, como essência e especificidade da profissão, a enfermagem tem a possibilidade de transitar pelos diferentes campos de conhecimento, bem como pelas diferentes realidades sociais. Tendo como foco a pessoa humana, a família e a comunidade, a enfermagem apresenta grande possibilidade de contribuir para a construção de um saber interdisciplinar, além de estabelecer canais efetivos de comunicação com os diversos setores sociais e, dessa forma, possibilitar estratégias mais eficazes e resolutivas de cuidado em saúde. O papel do enfermeiro é reconhecido, em suma, pela capacidade e habilidade de compreender o ser humano como um todo, pela integralidade da assistência à saúde, pela capacidade de acolher e identificar-se com as necessidades e expectativas dos indivíduos e famílias, pela capacidade de acolher e compreender as diferenças sociais, bem como, pela capacidade de promover a interação e a associação entre os usuários, a equipe de saúde da família e a comunidade. A enfermagem se aproxima, se identifica e procura criar uma relação efetiva com o usuário, independentemente das suas condições econômicas, culturais ou sociais, ou seja, busca otimizar as intervenções de cuidado em saúde de modo que integre e contemple tanto os saberes profissionais quanto os saberes dos usuários e da comunidade.
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