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AMANDA RODRIGUES DPC - DOR PÉLVICA CRÔNICA Caracteriza-se a DPC como dor em andar inferior do abdome, acíclica, com duração ≥ 6 meses, não causada pela gravidez e sem associação exclusiva com o coito. A dor é localizada entre a pelve, a parede anterior do abdome e a coluna lombossacra ou nádegas, na altura ou abaixo da cicatriz umbilical, e é suficientemente intensa a ponto de impossibilitar atividades diárias e/ou de necessitar de tratamento médico. A inclusão nessa definição de quadros de dor cíclica e dor desencadeada pelo coito é controversa, porém defendida por alguns autores. Isso acrescentaria a essa afecção os quadros de dismenorreia e dispareunia. Assim, podem-se considerar três principais formas de apresentação dessa síndrome: dismenorreia, dispareunia ou dor acíclica; a última não guarda relação com o fluxo menstrual, tampouco com o coito. EPIDEMIOLOGIA A DPC é afecção de alta prevalência em todo o mundo, variando de 4% a 25% das mulheres em idade reprodutiva, e sua taxa de recorrência ao longo da vida pode chegar a 33%. No entanto, apenas um terço das portadoras de DPC procura atendimento médico. Em um estudo de Zondervan et al. (2001), 41% das portadoras de DPC nunca buscaram ajuda para seus sintomas. Ainda assim, a queixa de DPC responde por 10% a 20% das consultas ginecológicas, sendo indicação frequente de procedimentos diagnósticos e cirúrgicos. Estima-se que aprox. 20% das histerectomias e 40% das laparoscopias ginecológicas sejam realizadas para tratamento de dor pélvica. ETIOLOGIA Deve-se considerar sempre a natureza multifatorial desse quadro. Em muitos casos, os sintomas podem ser decorrentes do acometimento de um único órgão, no entanto a complexa inervação da pelve pode resultar em um quadro álgico que acomete toda a pelve, com sintomatologia referida em diversos órgãos. No entanto, mais de um órgão pode estar envolvido com a gênese dessa síndrome álgica e, não obstante, é frequente a associação com outros quadros como ansiedade e depressão. No que se refere às etiologias primárias, didaticamente, são divididas em causas ginecológicas e não ginecológicas. Dentre as causas ginecológicas, destacam-se a endometriose, as varizes pélvicas, as aderências e os miomas uterinos. Já entre as causas não ginecológicas, cumpre citar as intestinais como a síndrome do intestino irritável (SII) e a constipação crônica, as urológicas, destacando-se a cistite intersticial crônica, e as causas osteomusculares. PROTOCOLO DE ATENDIMENTO AVALIAÇÃO INICIAL História e exame físico detalhados concentrando nos antecedentes clínicos, cirúrgicos, de abusos sexuais atuais ou na infância. Fatores de melhora, piora, relação com ciclos menstruais, hábito intestinal ou com atividades rotineiras da paciente. Avaliação do sistema musculoesquelético se faz necessária para diagnósticos diferenciais. Exames de laboratório e de imagem devem ser solicitados a partir da avaliação clínica inicial, de acordo com a hipótese mais provável. EXAME FÍSICO Para a Sociedade Internacional de Dor Pélvica, o exame físico deve se constituir em, no mínimo, quatro etapas, são elas: exame na posição ortostática, sentada, supina, e posição de litotomia. O exame deve incluir completa avaliação dos sistemas músculo-esquelético, gastrointestinal, urinário e psiconeurológico. POSIÇÃO ORTOSTÁTICA AMANDA RODRIGUES Começa com a observação da marcha da paciente, o conforto com assento, facilidade de levantar, de sentar e de deitar. Procurar alterações posturais como lordoses, escolioses e hérnias inguinais, femorais, de Spiegel com ajuda da manobra de Valsalva. POSIÇÃO SENTADA Deve-se avaliar a postura da paciente quando sentada. A síndrome da dor miofascial envolvendo a musculatura do soalho pélvico costuma fazer com que as pacientes desloquem o peso para uma das nádegas ou sentem-se na beirada da cadeira. Palpar o dorso da paciente a procura de pontos dolorosos a fim de descartar fibromialgia, síndrome miofascial e outros problemas posturais. Procurar “pontos de gatilho” da dor. POSIÇÃO SUPINA A inspeção do abdome deve se concentrar na detecção de cicatrizes cirúrgicas, que aumentam a possibilidade de obstrução intestinal provocada por aderências ou hérnia incisional. Além disso, é possível observar distensão abdominal nos casos com obstrução intestinal ou ascite; na ausculta do abdome pode-se identificar sons intestinais hiperativos ou muito altos característicos de obstrução intestinal. Os testes de mobilidade podem agregar informações. teste de elevação com a perna esticada (hérnia de disco lombar, doença da articulação do quadril ou síndrome miofascial), teste do obturador, teste iliopsoas, teste de Carnett (caso a dor aumente com esta manobra, considera-se origem miofascial, se diminuir, origem intra-abdominal). Por fim, o exame habitual do abdome, com palpação superficial e profunda, descompressão e percussão; verificar a presença de massas, aumento do tamanho de vísceras e distensão de alças intestinais. POSIÇÃO DE LITOTOMIA Inspeção: Iniciamos pela inspeção da genitália externa a procura de hiperêmia, leucorréia, abscessos, nodulações, fístulas, entre outros; Palpação: procede-se à palpação sistemática com pressão pontual da vulva com um cotonete para mapear as áreas dolorosas. Um teste sensorial básico deve ser feito para avaliar os reflexos bulbocavernoso e anal. Palpa-se o vestíbulo vaginal suavemente, para descartar vestibulite. Palpa- se o arco púbico, monte de Vênus e região inguinal a procura de nodulações. Toque vaginal deve, primeiramente, ser unidigital que deve ser gradualmente inserido 3 a 4 cm. A pressão sistemática de varredura aplicada sobre a musculatura do soalho pélvico, ao longo do seu comprimento, talvez possa identificar nós isolados de músculos tensionados nas pacientes com síndrome da dor miofascial do soalho pélvico. Normalmente, os músculos pubococcígeo, iliococcígeo e obturador interno podem ser alcançados. Mais adiante, partimos para a palpação da vagina anterior, uretra e área do trígono vesical. TRATAMENTO Em geral dor pélvica crônica associada a dispareunia requerem a combinação de tratamento miofascial, psicoterápico ou ambos. Terapia miofascial pélvica: fisioterapia pélvica envolvendo biofeedback, estímulos elétricos, treinamento perineal e de musculatura pélvica, entre outros. Terapia comportamental: estimular a paciente a procurar apoio psiquiátrico muitas vezes auxilia a procura do bem estar e muda seu olhar para seu quadro álgico. Terapia sexual: como adjuvante ao tratamento medicamentoso, fisioterápico e psiquiátrico pode melhorar atividade sexual do casal. Medicina da dor: especialistas em dor podem fazer parte da equipe multidisciplinar que acompanha a paciente. Medicamentos Antidepressivos tricíclicos: amitriptilina, nortriptilina e duloxetina têm sido utilizados com sucesso nos quadros de dor neuropática. Gabapentina e pregabalina são recomendadas para dores pélvicas crônicas refratárias. Revisão Cochrane sugeriu melhores resultados com uso de gabapentina. Opioides devem ser evitados. AMANDA RODRIGUES Anestésicos, opioides, esteroides, isolados ou em combinação podem ser usados em injeções nos pontos de gatilho. Toxina Botulínica: em casos refratários pode ser usada. Outros procedimentos: As evidências ainda são limitadas para indicações de ablação nervos uterossacros e neurectomia pré sacral para tratamento de dor pélvica crônica. Acupuntura e yoga podem ser considerados para manejo das dores pélvicas de etiologia músculo esquelética. ENDOMETRIOSE É uma doença ginecológica crônica, benigna, estrogênio-dependente e de natureza multifatorial que acomete principalmente mulheres em idade reprodutiva.Pode ser definida pela presença de tecido que se assemelha à glândula e/ou ao estroma endometrial fora do útero, com predomínio, mas não exclusivo, na pelve feminina. É dividida em três doenças distintas: peritoneal, ovariana e endometriose profunda. A peritoneal caracteriza-se pela presença de implantes superficiais no peritônio; a ovariana, por implantes superficiais no ovário ou cistos (endometriomas); e endometriose profunda, que é definida como uma lesão que penetra no espaço retroperitoneal ou na parede dos órgãos pélvicos, com uma profundidade de 5 mm ou mais. A confirmação requer diagnóstico visual. Em alguns casos, pode haver regressão espontânea. EPIDEMIOLOGIA Acredita-se que ocorra em cerca de 10% da população feminina em geral, 15 a 20% das mulheres inférteis e >30% das mulheres com DPC. A endometriose é o diagnóstico mais comum firmado durante as laparoscopias realizadas em mulheres portadoras de DPC. Relata-se que um terço das mulheres submetidas à laparoscopia por DPC tenham endometriose; e em centros especializados no acompanhamento de mulheres com endometriose essa frequência pode chegar a 70%. Mulheres com endometriose frequentemente se queixam de DPC que apresenta expressiva piora no período menstrual (dismenorreia), associada a dispareunia profunda. Existe grande associação entre endometriose e a infertilidade, sendo que alguns estudos mostram que entre 25 a 50% das mulheres inférteis são portadoras de endometriose; e que 30 a 50% das mulheres com endometriose apresentam infertilidade. FISIOPATOLOGIA Teoria de Sampson / menstruação retrógrada / implantação / transplante / refluxo menstrual Foi observado que 90% das mulheres apresentam líquido livre na pelve em época menstrual, sugerindo, assim, que certo grau de refluxo tubário ocorra. Esse refluxo durante a menstruação pode gerar disseminação de células endometriais viáveis que implantar-se-iam no peritônio e nos demais órgãos pélvicos, dessa forma, iniciando a doença. Como somente 10% das mulheres apresentam endometriose, os implantes ocorreriam pela influência de um ambiente hormonal favorável e de fatores imunológicos que não eliminariam essas células desse local impróprio (teoria imunológica). Teoria não explica endometriose extrapélvica (1-2% dos casos). Teoria da metaplasia celômica Tecidos normais sofrem um processo de diferenciação metaplásica originando lesões de endometriose. Transformação das células celômicas totipotenciais em endométrio. AMANDA RODRIGUES Teoria não foi por dados experimentais ou clínicos, mas explica a presença raríssima de endometriose em mulheres que nunca menstruaram, em meninas pré- púberes ou mesmo em homens que ingeriram altas doses de estrogênio (tratamento de câncer de próstata). Teoria genética Predisposição genética ou alterações epigenéticas associadas a modificações no ambiente peritoneal (fatores inflamatórios, imunológicos, hormonais, estresse oxidativo) poderiam iniciar a doença nas suas diversas formas. Disseminação linfática / hematogênica Disseminação de células endometriais por meio de linfáticos >> explica a rara presença de endometriose em lugares distantes da pelve. Teoria explica a presença de endometriose umbilical em pacientes sem laparotomia (cesariana) prévia. Comprovada em estudos de laboratório com coelhos. Descritos casos de endometriose na retina, cicatriz umbilical, linfonodos, nervos e cérebro. SINTOMATOLOGIA Infelizmente, ainda hoje, a média estimada do tempo entre o início dos sintomas referidos pelas pacientes até o diagnóstico definitivo é de aproximadamente 7 anos. Os principais sintomas associados são: Dismenorreia Dor pélvica crônica ou dor acíclica Dispareunia de profundidade Alterações intestinais cíclicas distensão abdominal sangramento nas fezes constipação disquezia dor anal no período menstrual Alterações urinárias cíclicas disúria hematúria polaciúria urgência miccional no período menstrual Infertilidade A dor pode ser aguda ou compressiva, localizada na linha média ou abranger a parte inferior do abdome, o dorso e o reto. Os exames bimanual e retovaginal podem mostrar nodularidade nos ligamentos uterossacros e volume compatível com endometrioma ovariano, e as pacientes podem sentir dor localizada à palpação do ligamento uterossacro ou do ligamento largo. A fibrose resultante da endometriose pode causar retroversão fixa do útero ou desvio lateral do colo uterino ou do útero. DIAGNÓSTICO O ultrassom pélvico e transvaginal com preparo intestinal e a ressonância magnética com protocolos especializados são os principais métodos por imagem para detecção e estadiamento da endometriose e deverão ser realizados por profissionais com experiência nesse diagnóstico. O diagnóstico definitivo é feito sob visão direta das lesões por laparoscopia ou laparotomia. Porém, atualmente, com o avanço dos métodos por imagem, a videolaparoscopia é indicada, para o diagnóstico, apenas em pacientes que apresentam exames normais e falha no tratamento clínico. Pontos avermelhados ou vesículas ativas, vermelhas ou incolores, geralmente indicam doença inicial, enquanto lesões fibróticas, pontos escuros semelhantes a tiro de pólvora, sugerem lesões mais antigas. Os achados suspeitos devem ser biopsiados para confirmação. Lesões infiltrativas profundas e janelas peritoneais são mais frequentes no fundo de saco posterior, sobretudo nos ligamentos uterossacros, e podem causar dor por invasão de muitas terminações nervosas nessa área. TRATAMENTO TRATAMENTO CLÍNICO É uma doença crônica e merece acompanhamento durante a vida reprodutiva da mulher, momento no qual a doença manifesta seus principais sintomas. O tratamento clínico é eficaz no controle da dor pélvica e deve ser o tratamento de escolha na ausência de indicações absolutas para cirurgia, não se esperando diminuição das lesões ou cura da doença, mas sim o controle do quadro clínico. AMANDA RODRIGUES O uso dos progestagênios de forma contínua resulta em bloqueio ovulatório e tem efetividade no tratamento da dor pélvica decorrente da endometriose. Medicações orais que podem ser utilizadas de forma contínua são: acetato de norentindrona, desogestrel e dienogeste. Outras formas de apresentação são o acetato de medroxiprogesterona de depósito que deve ser aplicado na dose de 150 mg IM a cada 3 meses e anticoncepcionais de longa duração como DIU liberador de levonorgestrel e implante de etonogestrel. Os efeitos colaterais dos progestagênios são ganho de peso, alteração de humor, perda de massa óssea, associado esse último, principalmente, ao acetato de medroxiprogesterona de depósito. Assim como os progestagênios isolados, o uso de pílulas combinadas de estrogênios e progestagênios é indicado como tratamento. O mecanismo de ação é similar ao dos progestagênios. Danazol, os agonistas do GnRH e os inibidores da aromatase: medicações adjuvantes para controle da dor >> efeitos colaterais. Anti-inflamatórios não hormonais: utilizados na dismenorreia primária >> apenas alívio temporário da dor nas pacientes com endometriose. Terapias complementares podem ser indicadas no seguimento das pacientes com endometriose sintomática, como a acupuntura, fisioterapia do assoalho pélvico, psicoterapia e uso de analgésicos como gabapentina e amitriptilina, entre outros ou seguimento, em conjunto com especialista no manejo da dor, para otimizar a analgesia. TRATAMENTO CIRURGIA O tratamento cirúrgico deve ser oferecido às pacientes em que o tratamento clínico for ineficaz ou contraindicado por alguma razão, assim como em situações específicas. O objetivo da cirurgia é a remoção completa de todos os focos de endometriose, restaurandoa anatomia e preservando a função reprodutiva, preferencialmente, deve ser realizada por videolaparoscopia. Epidemiologia Etiologia PROTOCOLO DE ATENDIMENTO Avaliação inicial Exame físico Posição ortostática Posição sentada Posição supina Posição de litotomia tratamento epidemiologia Fisiopatologia Sintomatologia Diagnóstico Tratamento Tratamento clínico Tratamento cirurgia
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