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AO JUÍZO DO TRABALHO DA 1ª VARA DO TRABALHO DE PRESIDENTE PRUDENTE/SP Processo n° 0002235.00.2022.5.05.0072 LANCHONETE LOUCOS POR LANCHE LTDA, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ nº __, sediada na Rua __, nº __, Bairro ___, CEP: ___, Álvares Machado/SP, com endereço eletrônico ________, por seu representante legal __, brasileiro, solteiro, empresário, portador da cédula de identidade de RG nº __ e inscrito no CPF sob nº __, nos autos da demanda em epígrafe proposta por CARLOS DANIEL SILVA, já qualificado nos autos, por seus advogados, que esta subscreve, com escritório profissional na Rua ___________, bairro _________, cidade ________ , onde recebe intimações e notificações de praxe, vem à presença de Vossa Excelência, com base no artigo 847, da CLT e 335 do NCPC, apresentar CONTESTAÇÃO, pelos fatos e fundamentos que passa a expor: 1. DA SÍNTESE FÁTICA Carlos Daniel Silva foi admitido a prestar serviços de entrega para a parte requerida em 15/10/2015, no que concerne à entrega de lanches e outros tipos de aperitivos a domicílio aos clientes da empresa, a qual se encontra localizada no município de Álvares Machado/SP. Alega a parte requerente que nunca foi devidamente registrada, ou seja, sua carteira de trabalho nunca foi assinada. Tal fato, porém, em nada afeta a relação de trabalho entre Autor e Requerida, vez que não se trata de relação de emprego, mas sim de contrato de prestação de serviços entre as partes. Não obstante, a parte autora defende que trabalhava das 18 horas até as 3 horas e 40 minutos. Não mencionou, todavia, que 40 minutos desse tempo era reservado para refeições, e além disso, o período de tempo ao qual o Autor se disporia a prestar serviços para a Requerida foi fixado pelas partes, bem como sua retribuição, conforme as regras do art. 596, do CC. O Autor fazia em média 10 entregas em seu turno de trabalho, e normalmente recebia R$ 1,00 de bonificação espontânea de cada cliente, gerando uma média de R$ 200,00 (duzentos reais) mensais. Carlos Daniel exercia suas funções durante seis dias na semana e, como aceitou prestar serviços tendo folga às 2ª feiras, logicamente não possuía folga aos domingos. A parte requerente também deixou de mencionar que a remuneração do Autor era paga por item entregue (conforme dito no parágrafo anterior), no valor de R$ 4,50 no ano em que começou a prestar serviços à parte requerida, e no valor de R$ 6,50 após o ano de 2021. Não obstante, em razão da atividade que desempenhava, o Autor podia escolher diariamente um item do cardápio do estabelecimento da requerida para lá se alimentar, sem precisar pagar pelo produto. Diz o Requerente, segundo o disposto em sua petição inicial, na parte referente aos fatos, que em setembro de 2021 realizou uma suposta entrega de um lanche na casa de um cliente. Informa, ainda, que o cliente em questão era alérgico a molho de pimenta. Ocorre que, segundo o Autor, o cozinheiro teria se confundido no preparo e colocado molho de pimenta no lanche (informação esta cuja procedência pode ser questionada, vez que provém, por hora, única e exclusivamente da parte autora). Ainda, alega o Autor que, na entrega, o cliente teria sentido o cheiro do suposto molho de pimenta e, vendo ele que o pedido estava, em tese, errado, teria desferido xingamentos e ameaças contra o Requerido, o qual supostamente teria tentado se defender, dizendo ser apenas o entregador. Entretanto, o cliente, em teoria, teria soltado seus cães (quatro Rottweilers) no intuito de ferir a parte requerente (isto é, segundo ela mesma). Disso, argue o Autor ter sido gravemente ferido e lesado com “forte” cicatriz. Disso, há de se arguir alguns questionamentos. Ainda que o cozinheiro seja funcionário da empresa e que esta pudesse ser responsabilizada pelo suposto lanche errado, o que tem a ver um lanche errado com um sujeito que soltou cães em outra pessoa? Um mero lanche errado não é, normalmente, motivo para esse tipo de atitude. Este lanche, segundo o que se pode deduzir dos fatos da própria parte autora, nem mesmo foi ingerido pelo consumidor, que só se limitou a sentir o cheiro da pimenta, ou seja, pode ser que o lanche errado sequer tenha causado ao agressor efeito alérgico, vez que também não disseram nada sobre isso nos fatos. Não é culpa da empresa, pois além do que já disse neste parágrafo, não tinha como ela saber que um sujeito violento seria o cliente. Também, considerando que toda essa situação não tenha sido forjada, não haveria culpa do entregador, pois, AINDA que ele tivesse se machucado enquanto estava em serviço, não é empregado, pois não passa de mero prestador de serviço; ele não se machucou exercendo uma função perigosa dentro da empresa e nem se machucou devido a mal funcionamento de algum equipamento fornecido pela empresa. Ah, e sem falar que todas essas informações quanto ao suposto acontecimento vêm somente da parte autora, e isto, na visão da parte requerida, torna possível o chamamento de testemunha, tal qual o próprio cozinheiro, para que este dê o seu parecer. Em razão disso, argumenta o Autor que ficou afastado de suas atividades por 30 dias, sem ter recebido nenhum valor à luz dos dias trabalhados. Também alega que teve de arcar com o custo de pomadas e vacinas necessárias para sua recuperação (situação esta em que, pela lógica, caberia à parte autora requerer indenização em face do dono dos cães, mas não em face da empresa requerida). Por fim, após o tempo afastada, a parte requerente retornou às atividades e, em 20 de janeiro de 2021, defende que, sem evidências ou indícios, foi comunicada de forma repentina acerca de sua demissão da empresa, não tendo recebido nenhuma verba. Eis a síntese do necessário. 2. DA TEMPESTIVIDADE DA CONTESTAÇÃO A reclamada se encontra dentro do prazo legal para apresentar a contestação. A decisão de fls. XX-XX estabelece o prazo de 15 dias úteis para apresentar defesa, a partir da data da publicação da decisão. Sendo assim, considera-se a data da publicação no dia 05 de setembro de 2022, de modo que o prazo fatal para apresentar a presente peça se dará no dia 26 de setembro de 2022. Portanto, estando demonstrada a tempestividade da contestação, passo para a análise do mérito. 3. PRELIMINARMENTE 3.1 PRELIMINAR DE ILEGITIMIDADE DE PARTE Em que pese o narrado pelo autor, a ré é totalmente ilegítima para figurar no polo passivo da presente demanda, uma vez que não é, de qualquer maneira, responsável pelos acontecimentos em questão, tampouco por qualquer espécie de dano que a parte autora afirma. Nesta senda, carece este litigante de legitimidade passiva no que toca exclusivamente aos danos supostamente sofridos. Com efeito, é importante consignar que a legitimidade figura como uma das condições da ação no Direito Processual Civil brasileiro, ou seja, para que o mérito seja passível de análise, faz-se mister que os sujeitos processuais sejam titulares da relação jurídica da qual provém a demanda. É o que disciplina o art. 17, caput, do Código de Processo Civil. Malgrado tem-se admitido em larga escala na doutrina e jurisprudência a teoria in status assertionis da verificação das condições da ação, é patente o reconhecimento da ilegitimidade passiva da reclamada pelos danos supostamente sofridos já neste momento processual. Assim o é tendo em vista a flagrante e absoluta ausência de nexo entre a alegação de dano causado e qualquer conduta da reclamada. Ressalte-se que não se exige a análise probatória de tal fato ou do mérito de tais pedidos, bastando a nítida percepção de falta de nexo lógico a partir da leitura da exordial. Desta feita, impende consignar que salta aos olhos a impropriedade de se admitir esta reclamada como legitimada para figurar no polo passivo desta demanda, exclusivamente quanto aos danos supostamentesofridos. Ademais, mesmo numa longínqua hipótese de se discutir eventual vínculo empregatício, tais fatos não podem ser considerados como acidentes de trabalho, na medida em que foge da alçada da reclamada a responsabilidade por comportamentos deste tipo. De outra banda, não houve um acidente automobilístico por ocasião da entrega de lanches desta reclamada a seus clientes, mas sim um ato ilícito perpetrado exclusivamente pelo dono dos cães, devendo este ser demandado no juízo cível. O nexo causal da responsabilidade civil encontra limitação na Teoria dos Danos Diretos e Imediatos (art. 403, caput, do Código Civil) e não se pode admitir sua extensão deliberada para todo e qualquer evento que o antecedeu. Em resumo, a mera prestação de serviço para esta reclamada não fundamenta a pretensão por reparação por danos patrimoniais e extrapatrimoniais oriundos dos fatos narrados por esta empresa. Logo, o que se requer é a EXTINÇÃO PARCIAL DO PROCESSO SEM JULGAMENTO DE MÉRITO pela falta de uma das condições da ação, qual seja, a de ilegitimidade passiva. 3.2 PREJUDICIAL DE MÉRITO - PARCIAL OCORRÊNCIA DE PRESCRIÇÃO Sem delongas, faz-se mister consignar que a pretensão veiculada não é atingida pela prescrição bienal/total que consta no art. 7º, XXIX da Constituição Federal e art. 11 da Consolidação das Leis do Trabalho. Em contrapartida, é possível vislumbrar a ocorrência da prescrição quinquenal/parcial no tocante às prestações periódicas dos direitos trabalhistas aos quais a reclamante SUPOSTAMENTE faz jus. Nesta toada, a equiparação salarial (Súmula 6/TST), o adicional de horas extras, o adicional noturno, as férias não gozadas em dobro, o FGTS (Súmula 362/TST) e demais verbas e multas postuladas, devem respeitar o prazo prescricional de cinco anos a partir da data do ajuizamento desta reclamação, e consequentemente, não podem ser postuladas aquelas alcançadas pela prescrição, às vistas de que o vínculo empregatício, em tese, iniciou-se em 15/10/2015, como alinhavado na exordial. 4. DO MÉRITO 4.1. DA INEXISTÊNCIA DE VÍNCULO EMPREGATÍCIO É preciso que sejam cumpridos seis requisitos para que se configure uma relação de emprego proveniente de uma relação de trabalho. Exorta Ricardo Resende: Relação de emprego é a relação de trabalho subordinado. Utilizando o conceito de relação de trabalho mencionado acima, pode-se dizer que a relação de emprego é o vínculo de trabalho humano sob subordinação. Entretanto, a subordinação não é o único requisito para a caracterização da relação de emprego. Também o são a prestação de trabalho por pessoa física, a pessoalidade, a onerosidade e a não eventualidade. Isto posto, só será empregado o trabalhador que reunir todos esses requisitos na relação que mantém com o tomador de seus serviços. (g.n.). (>RESENDE, Ricardo. Direito do Trabalho. São Paulo: Grupo GEN, 2020. E-book. ISBN 9788530989552. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/97885309 89552/. Acesso em: 10 set. 2022.<) Para fins de esclarecimento quanto ao sexto requisito, diz ainda Ricardo Resende: A alteridade é fundamental na caracterização da relação de emprego. Se não houver alteridade, haverá autonomia, e, logo, mera relação de trabalho. Não obstante este fato, também é comum na doutrina que não seja mencionado tal requisito, principalmente pelo fato de que o mesmo se encontra implícito no art. 2º da CLT, que compõe o conceito de empregador, e não no art. 3º, o qual conceitua empregado. (g.n.). (>RESENDE, Ricardo. Direito do Trabalho. São Paulo: Grupo GEN, 2020. E-book. ISBN 9788530989552. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/97885309 89552/. Acesso em: 10 set. 2022.<) Do caso em questão, apesar de a relação de trabalho entre as partes aparentar cumprir todos os requisitos que poderiam enquadrá-la em uma relação de emprego, observa-se que não é o caso, porquanto não cumpre o preceito da pessoalidade. Basicamente, defende a parte requerida que, por vezes, eram terceiros que realizavam algumas das entregas que a parte autora se sujeitava a realizar (independente de quais motivos a requerente tinha para fazer isso). Vale dizer, claro, que pela relação de trabalho entre partes não se tratar de relação de emprego, tais entregas feitas por terceiros era algo que a empresa requerida permitia o Autor a fazer. Importante dizer que a defesa da falta de pessoalidade da parte autora pela parte requerida não é sem fundamento, vez que há várias testemunhas que, caso precisem ser arroladas no caso de possível audiência, podem dar testificar acercas das situações onde viram a parte autora deixar determinadas entregas que eram de sua responsabilidade a cargo de terceiros, inclusive várias mediante permissão da parte requerida (dentre as testemunhas, não apenas empregados do local, como também clientes que estavam presentes). 4.2. DA OBRIGAÇÃO DE FAZER E CARTEIRA ASSINADA Dispõe o art. 13 da CLT: Art. 13 - A Carteira de Trabalho e Previdência Social é obrigatória para o exercício de qualquer emprego, inclusive de natureza rural, ainda que em caráter temporário, e para o exercício por conta própria de atividade profissional remunerada. (g.n.). Em suma, o artigo acima evidencia que a CTPS é obrigatória para o exercício de qualquer emprego, ou seja, qualquer relação de trabalho que também configure uma relação de emprego. Entretanto, defende a empresa requerida, no tópico anterior, a não existência de vínculo empregatício entre ela e a parte autora, pela falta de pessoalidade e pela relação de trabalho entre as partes ser decorrente de prestação de serviços. Logo, seguindo a lógica, se não é necessária a CTPS para o exercício de um trabalho que não possua natureza de emprego, tampouco serão as anotações que não foram feitas na CTPS. 4.3 DO SALÁRIO Conforme mencionado anteriormente, o autor da presente ação nada mais é que um mero prestador de serviços da empresa, uma vez que não preenche os requisitos para formalizar o vínculo empregatício. Assim, aponta o autor ter direito a salário fixo, bem como vale alimentação com caráter salarial. Contudo, as alegações do autor não merecem prosperar, uma vez que seu salário era de maneira variável e sua alimentação era apenas um lanche por dia, tendo em vista o contrato verbal celebrado entre as partes que garantia ao prestador de serviço o direito de uma refeição por dia. Vale destacar que o requerente prestava serviços para terceiros, o que o impedia de chegar à empresa, não realizando as refeições que eram de seu direito, ou por vezes até comparecia, mas realizava suas refeições em outro lugar. Posto isto, o caráter da remuneração do autor é variável, pois é um tipo de remuneração que adota um método de reconhecimento por recompensa pelo alto desempenho do colaborador, se enquadrando perfeitamente no caso concreto e não sendo uma espécie de salário in natura. Frisa-se que os pagamentos feitos ao requerente não eram mensais, mas sim diários. Assim, caso a parte reclamante comparecesse para prestar seus serviços, recebia pela contraprestação, caso não comparecesse, nada recebia. Cumpre ressaltar que a remuneração não consiste tecnicamente em salário, mas sim uma contraprestação pelos serviços eventualmente desenvolvidos pelo reclamante. Ademais, caso o reclamante não comparecesse na sede da reclamada, apenas deixaria de receber sua diária e obviamente as taxas de entrega, havendo outro motoboy para substituí-lo. Destarte, a presente reclamatória não merece melhor sorte, devendo ser julgados improcedentes todos os pedidos referentes aos valores apontados pelo reclamante. 4.4. DO ADICIONAL DE PERICULOSIDADE O reclamante busca o pagamento do adicional de periculosidade, pois entende que na condição de motociclista faria jus ao pagamento desse adicional. Noentanto, Carlos não possui vínculo empregatício com a empresa, o que torna esta parcela indevida, uma vez que o §1º do art. 193 da CLT dispõe que o adicional de periculosidade é assegurado ao empregado, in verbis: Art. 193, § 1º, CLT. O trabalho em condições de Periculosidade assegura ao empregado um Adicional de 30% (trinta por cento) sobre o salário sem os acréscimos resultantes de gratificações, prêmios ou participações nos lucros da empresa. Ainda, há entendimentos que analisam exceções da exigência de adicional de periculosidade do art. 194, §4º, pedido pelo reclamante na inicial, sendo um deles o da não obrigatoriedade do empregador de que o empregado utilize este meio de transporte (motocicleta) para desempenhar a atividade. A utilização de motocicleta não era fator imprescindível ao desempenho das atividades do empregado. A reclamada nunca exigiu que o reclamante fizesse as entregas da lanchonete exclusivamente com sua motocicleta, pelo contrário, há outros entregadores que realizam prestação de serviços para ela utilizando outros meios, conforme o transporte que cada um possui. Sendo assim, comprovado a não necessidade da utilização de motocicleta ao desempenho das suas atividades, não deve ser aplicado o adicional de periculosidade para o reclamado. Assim, postula-se pelo indeferimento do pedido. 4.5. DO ADICIONAL NOTURNO Alega o reclamante nunca ter recebido adicional noturno durante toda a contratualidade. Impugna-se a jornada declinada na petição inicial, uma vez que, não corresponde à realidade. Toda a jornada de trabalho do ex-funcionário é registrada nas planilhas de horas, que foram acrescentadas neste momento. Vale lembrar também que a cidade em que o mesmo trabalhava é pequena, normalmente não tem um número muito grande de pedidos durante a semana, diferente dos finais de semana, nos quais há uma incidência maior, porém o reclamante recebia por isso, bem como as gorjetas. Vale destacar que, o reclamante jamais laborou nos horários compreendidos para a configuração do adicional noturno, que são entre as 22:00 horas e às 05:00 horas da manhã do dia seguinte, sendo mais um motivo para a não indenização por adicional noturno. Desta forma, o acréscimo pretendido é controverso, pois a afirmação não tem base legal ou tradicional, pois o instrumento normativo que o acompanha não se aplica a esse caso. 4.6. DAS HORAS EXTRAS Expõe o reclamante que sua jornada de trabalho excede o previsto em lei, 8 horas diárias. Tal alegação é errônea, visto que, é quase impossível ter uma jornada de 9 horas trabalhadas, pois o estabelecimento não tem uma quantidade fixa de pedidos por dia, ou seja, haverá dias com um maior fluxo, onde se exige uma carga horária a mais do reclamante e dias com um menor fluxo, o que faz com que o mesmo trabalhe menos. Por isso entende-se que o reclamante durante seu período do contrato de trabalho, sempre laborou em jornada de trabalho variada, uma vez que não tinha vínculo empregatício. Destaca-se que todas as horas extras laboradas pelo reclamante foram pagas ou compensadas durante todo o período trabalhado, levando-se em consideração o percentual e quantidade correta, não havendo o que se discutir. Por todos os motivos expostos, não procede o pedido de pagamento de trabalho suplementar. 4.7. DO INTERVALO PARA ALIMENTAÇÃO Com base no princípio da eventualidade, tendo em vista que falta ao caso sub judice os requisitos necessários à caracterização do vínculo empregatício que a CLT alude, este tópico se faz necessário ao esclarecimento do pleito do reclamante. Com efeito, o reclamante capciosamente altera a verdade dos fatos, tendo em vista que é pouco crível que uma minúscula e familiar empresa de lanche tenha tamanha escala de trabalho numa cidade tão pequena quanto Álvares Machado/SP. Consigne-se que a inverdade da inicial é tão grande que se torna incrédula a versão dos fatos narrados. Nem mesmo aos finais de semana, que há maior volume de pedidos, tem-se uma jornada de trabalho tão grande como alinhavada na peça inicial: nem mesmo a maior lanchonete da cidade inicia o horário de funcionamento às 18h e encerra às 03:40h, horário este que foge da normalidade, na em que poucas pessoas fazem uma refeição neste horário da noite. Assim, não há que se falar em aplicação do art. 71 da CLT, à vista de que o reclamante não cumpria a carga horária de seis horas que o dispositivo faz menção. Como já explanado na presente, o horário de prestação de serviços era variável e dependia única e exclusivamente do volume de pedidos de lanche. Ressalte-se que houveram dias que o reclamante sequer entregou algum lanche, porque não houve pedido. Não prospera a alegação de sua carga horária e, muito menos, a condenação do período suprimido acrescido de 50%, pelo que se requer, desde já, sua improcedência. 4.8. DA ESTABILIDADE PROVISÓRIA A respeito do suposto acidente envolvendo o reclamante e os cachorros do cliente da empresa reclamada, o autor afirma que o episódio guarda nexo de causalidade com as atividades laborativas exercidas por ele, sendo de obrigação da empresa reclamada garantir estabilidade provisória por consequência de um suposto acidente de trabalho. Primeiramente, é importante ressaltar que a atitude do cliente, em tese, resulta de uma mera irregularidade na entrega do alimento, contrariando o gosto do freguês. Tal tipo de irregularidade é extremamente comum quando se trata de empresas alimentícias, sendo elas facilmente resolvidas (a empresa estava mais do que disposta a refazer o pedido e beneficiar o cliente com brindes). O erro na entrega do lanche não justifica, sob nenhuma hipótese, instigar os cachorros a atacar o entregador. Não há de se discutir os danos que o reclamante sofreu, no entanto, não há que se falar em responsabilidade civil da empresa, visto que o nexo de causalidade foi rompido por culpa exclusiva de terceiro. Constatado o rompimento do nexo de causalidade envolvendo a empresa, resta claro que o acidente em questão é de responsabilidade civil do dono dos animais (BITTAR, 1994, p. 561): “O lesionamento a elementos integrantes da esfera jurídica alheia acarreta ao agente a necessidade de reparação dos danos provocados. É a responsabilidade civil, ou obrigação de indenizar, que compele o causador a arcar com as consequências advindas da ação violadora, ressarcindo os prejuízos de ordem moral ou patrimonial, decorrente de fato ilícito próprio, ou de outrem a ele relacionado”. No caso em tela, o acidente envolvendo o reclamante trata-se de responsabilidade objetiva do dono do animal (GONÇALVES, Carlos Roberto, 2022, p. 134): “A responsabilidade do dono do animal é, portanto, objetiva. Basta que a vítima prove o dano e a relação de causalidade entre o dano por ela sofrido e o ato do animal. Trata-se de presunção vencível, suscetível de prova em contrário”. Observa-se o artigo 936 do Código Civil: “O dono, ou detentor, do animal ressarcirá o dano por este causado, se não provar culpa da vítima ou força maior”. Desse modo, todos os prejuízos causados pelo acidente envolvendo o entregador, não são de responsabilidade da empresa, mas sim do cliente dono dos cachorros, afastando qualquer obrigação da reclamada no que diz respeito à estabilidade provisória. 4.9. DAS VERBAS TRABALHISTAS 4.9.1. FÉRIAS O reclamante alega nunca ter gozado das férias que supostamente teria direito, e afirma ser de obrigação do empregador o pagamento referente a seis férias remuneradas, que deveriam ser pagas em dobro. Ressalta-se a falta de pessoalidade nos serviços prestados pelo reclamante, visto que, no caso em tela, a pessoa física responsável pelas entregas é absolutamente insignificante, já que em situações onde o reclamante não pudesse comparecer para efetuar as entregas, o mesmo poderiaser facilmente substituído, de modo que outro entregador exercesse sua função, sem que isso resultasse em qualquer tipo de penalidade que pudesse recair sob o reclamante, desse modo, observa-se (Comentários à CLT, Sérgio Pinto Martins, 15ª edição, Editora Atlas, pág. 17.): “A prestação de serviços deve ser feita com pessoalidade. O contrato de trabalho é feito com certa pessoa, daí se dizer que é intuitu personae. O empregador conta com certa pessoa específica para lhe prestar serviços. Se o empregado faz-se substituir constantemente por outra pessoa, como por um parente, inexiste o elemento pessoalidade na referida relação”. Dito isso, resta claro que não se trata de uma relação de emprego, excluindo o dano por parte da empresa quanto ao não pagamento das verbas rescisórias previstas no artigo 137 da CLT: “Sempre que as férias forem concedidas após o prazo de que trata o art. 134, o empregador pagará em dobro a respectiva remuneração” O objetivo do reclamante é criar uma falsa realidade, onde confunde-se mera prestação de serviços com relação de emprego, com intuito de submeter a empresa a arcar com deveres de um vínculo empregatício inexistente. 4.9.2. AVISO PRÉVIO Reconhecendo-se a inexistência do vínculo empregatício, e a não obrigação da empresa reclamada em arcar com a estabilidade provisória, os fundamentos do reclamante com relação ao aviso prévio não devem prosperar, tampouco o fundamento amparado na CLT: Art. 487, CLT § 1º - “A falta do aviso prévio por parte do empregador dá ao empregado o direito aos salários correspondentes ao prazo do aviso, garantida sempre a integração desse período no seu tempo de serviço”. Tomando como base os fundamentos já ressaltados anteriormente, uma vez não constatada a relação de emprego, não se pode obrigar a reclamante a arcar com as verbas rescisórias estabelecidas pela CLT. 4.9.3. GRATIFICAÇÃO SALARIAL Alegou o reclamante, em sua petição inicial, o direito ao recebimento de gratificações natalinas (13º salário), associando a sua condição com a garantida no art. 1º da Lei 4090/62. Inverídica é essa argumentação, uma vez que, como já esclarecido neste documento, o reclamante não possuía vínculo empregatício, e é sabido que é devido o pagamento do 13º salário para aqueles que estão sob o regime da CLT (Lei 5.425/1943). O reclamante não era empregado da empresa e não precisava cumprir jornada de trabalho, outrossim, exercia sua função de entregador apenas quando era de seu interesse. Por vezes, inclusive, se ausentava quando a empresa o questionava se ele poderia fazer as entregas – o que não era um problema, dado que a empresa tem vínculo com outros prestadores de serviço que fazem suas entregas. Dado que o cálculo do 13º salário se dá pela divisão da remuneração integral por 12 e a multiplicação do resultado pelo número de meses trabalhados, seria inexequível sua operação. O reclamante não tinha um salário fixo quando prestava serviços para a empresa e sua remuneração variava conforme a quantidade de entrega feita no dia. Art. 11. A pretensão quanto a créditos resultantes das relações de trabalho prescreve em cinco anos para os trabalhadores urbanos e rurais, até o limite de dois anos após a extinção do contrato de trabalho. (Redação dada pela Lei nº 13.467, de 2017) (Vigência). Em atenção ao princípio da eventualidade, caso entenda-se ser direito do reclamante a gratificação natalina, cabe mencionar que o valor pretendido dos anos 2015 e 2016 não é devido, conforme o artigo 11 da CLT. Assim, postula-se pelo indeferimento do pedido. 4.9.4. FOLGA SEMANAL Considerando o pedido de pagamento dos valores das folgas semanais remuneradas, ressalvo que o reclamante não possuía vínculo empregatício, e, por esse motivo, não tem esse direito assegurado pela lei, conforme determina o art. 67 CLT. Art. 67. Será assegurado a todo empregado um descanso semanal de 24 (vinte e quatro) horas consecutivas, o qual, salvo motivo de conveniência pública ou necessidade imperiosa do serviço, deverá coincidir com o domingo, no todo ou em parte. A lei determina que os colaboradores registrados em regime CLT tenham direito a um dia de folga na semana, o que não configura a situação do reclamante, uma vez que este não era empregado. Caso entenda-se ser direito do reclamante o recebimento dos valores das folgas semanais no caso em questão, cabe mencionar que a reclamada LANCHONETE LOUCOS POR LANCHE LTDA. fica localizada no Município de Álvares Machado/SP, uma cidade satélite de poucos habitantes. Nesse sentido, deve-se ter em consideração que, devido ao número baixo de habitantes na cidade onde se encontra o estabelecimento, e o costume dos brasileiros de fazer pedidos de comida apenas aos finais de semana, não é possível acolher a ideia de que o requerente tinha jornadas de trabalho superiores a 4 horas, no máximo. Ainda, não é razoável o entendimento de que o público de uma cidade satélite, isto é, com moradores que acordam cedo para viajar para o centro urbano (de Presidente Prudente), consuma lanche e outras comidas ricas em gordura na lanchonete em questão após às 2h30 (duas e meia da manhã). A jornada de trabalho apresentada pelo requerente, portanto, está equivocada. As entregas não começam tão cedo e nem terminam tão tarde como foi alegado na petição inicial e, reiterando o que foi discutido no tópico anterior, Carlos exercia sua função de entregador apenas quando era de seu interesse. Assim, postula-se pelo indeferimento do pedido. 4.10. DOS DANOS 4.10.1 DO DANO MORAL Com base no princípio da eventualidade, ad argumentandum tantum, na remota hipótese de se entender pela responsabilidade desta reclamada, verifica-se que a reparação do dano moral não subsiste. No dizer de Pontes de Miranda, o que se há de exigir como pressuposto comum da reparabilidade do dano não patrimonial, incluído, pois, o moral, é a gravidade, além da ilicitude. Se não tiver gravidade o dano, não se há pensar em indenização. Deminimis non curat praetor” (Tratado de Direito Privado, tomo 26, § 3.108, n.2). Para a configuração de dano moral, há necessidade de prova de uma lesão ou "(...)agressão que exacerba a naturalidade dos fatos da vida, causando fundadas aflições ou angústias no espírito de quem ela se dirige'' (REsp. n° 215.66 - RJ, 4a Turma do Superior Tribunal de Justiça, v. un., Rei. Min. César Asfor Rocha, em 21/6/01, DJ de 29/10/01, pág. 208). Simples dissabores não são indenizáveis. Nessa linha, recomenda Sérgio Cavalieri, com razão, que só se deve reputar como dano moral: "a dor, vexame, sofrimento ou humilhação que, fugindo à normalidade, interfira intensamente no comportamento psicológico do indivíduo, causando-lhe aflições, angústia e desequilíbrio em seu bem-estar. Mero dissabor, aborrecimento, mágoa, irritação ou sensibilidade exacerbada estão fora da órbita do dano moral, porquanto, além de fazerem parte da normalidade do nosso dia-a-dia, no trabalho, no trânsito, entre os amigos e até no ambiente familiar, tais situações não são intensas e duradouras, a ponto de romper o equilíbrio psicológico do indivíduo." (Programa de Responsabilidade Civil. 2a edição. Malheiros Editores. São Paulo. 2000. Pág. 78). Grifamos. Em caso de eventual condenação no presente pleito, no ato de quantificar o montante do valor a ser indenizado pela reclamada, fundamentais critérios já sedimentados pela jurisprudência devem ser levados em consideração pelo nobre julgador. Verdade insofismável é que o valor buscado na inicial se mostra excessivo, desproporcional e exprime verdadeira pretensão de enriquecimento, não condizente com a realidade e parâmetros sociais brasileiro. Não se quer dizer com isso que está sendo subestimada eventual dor, a angústia e a tristeza da parte. Porém, em se entendendo pela condenação, cabe ao julgadorapreciar a matéria com cuidado, impossibilitando que tal procedimento se torne regra a incentivar a indústria de indenizações, como se mostra o presente caso. 4.10.2 DO DANO ESTÉTICO Ao analisar os documentos anexados aos autos, verifica-se que é caso de uma cicatriz temporária, não podendo configurar dano estético. Veja, o dano estético configura-se por lesão à saúde ou integridade física de alguém, que resulte em constrangimento. São lesões que deixam marcas permanentes no corpo ou que diminuem as suas funcionalidades. Como podemos analisar, a cicatriz evidenciada do reclamante é apenas uma cicatriz temporária, que com o tempo será apagada e não deixará marcas em seu corpo. Posto isto, a eventual cicatriz não diminui a funcionalidade do reclamante e não interfere em suas atividades habituais e laborais, não sendo caso de dano estético, uma vez que para caracterizar o dano estético deve haver lesões pertinentes e irreversíveis, o que não configura no caso em tela. O reclamante aponta que a cicatriz causa sentimento vexatório, ficando o mesmo, com vergonha de sair em público devido a cicatriz. Contudo, o autor tenta se vitimizar, tendo em vista que sua cicatriz ocorreu na perna, local este que não é visível e não traz sentimento vexatório, não ficando exposta e não sendo um lugar de fácil visibilidade. Portanto, requer que seja julgado totalmente improcedente o pedido de indenização por dano estético. 4.10.3 DO DANO MATERIAL O reclamante menciona ser responsabilidade da reclamada arcar com todos os custos em decorrência do acidente, na compra de vacinas e pomada para cicatrização. Contudo, é de suma importância destacar que a reclamada se torna ilegítima neste caso, uma vez que não foi ela que deu causa aos acontecimentos sofridos pelo autor. Conforme disposto em lei, aquele que causar dano a outrem, é obrigado a repará-lo, o que não ocorreu no presente caso, tendo em vista que o causador do dano em si, foi o dono do animal, possuindo total responsabilidade pelos danos suportados pelo autor. O artigo 936 do Código Civil nos traz o entendimento da responsabilidade do detentor do animal, sendo ele perigoso ou não, nos casos de ataque. “Art. 936. O dono, ou detentor, do animal ressarcirá o dano por este causado, se não provar culpa da vítima ou força maior.” Assim, é clarividente o afastamento da responsabilidade da reclamada, uma vez que não era detentora do animal, não podendo o reclamante recair e transferir a responsabilidade pelo ressarcimento das despesas suportadas por ele para a reclamada. Posto isto, requer que seja julgado totalmente improcedente o pedido de dano material, tendo em vista a ilegitimidade da reclamada no presente tópico. 5. DOS PEDIDOS Ante todo exposto, requer-se: a) Julgar parcialmente extinto o processo sem julgamento do mérito em razão da ilegitimidade de parte quanto aos danos patrimoniais e extrapatrimoniais; b) Revogar o benefício da justiça gratuita já concedido a Requerente; c) Julgar totalmente improcedente o pedido da Requerente no que tange ao pedido de indenização por danos morais, visto que não há qualquer fato ou justificativa para tal pedido; e subsidiariamente, caso tenha entendimento diverso, que seja aplicado os princípios da razoabilidade e proporcionalidade na fixação do valor do dano moral; d) Requer a condenação da Requerida ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios sucumbenciais sobre o valor da causa; e) Protesta provar o alegado por todos os meios de provas lícitas admitidas em direito, inclusive prova documental e testemunhal; f) Julgue improcedente o pedido de reconhecimento de vínculo empregatício, bem como de necessidade de anotação na carteira do trabalho e previdência social; g) Julgue improcedente o pedido de estabilidade provisória, visto que, conforme já explicado acima, tal questão seria e é de responsabilidade do cliente. h) Julgue improcedente o pedido de verbas trabalhistas amparado na defesa do não reconhecimento do vínculo empregatício. i) Protesta provar o alegado por todos os meios de prova admitidos em direito, especialmente pelos documentos que acompanham a presente, documentos novos, depoimento pessoal do réu, oitiva de testemunhas a ser oportunamente arroladas, perícias, e demais meios que se fizerem necessários ao longo da demanda. Por fim, requer-se que todas as intimações sejam realizadas em nome do advogado XXXXXXX, sob pena de nulidade do ato. Termos em que, Pede deferimento. Presidente Prudente, 10 de setembro de 2022. ADVOGADO OAB/SP nº
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