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Intervenção Psicopedagógica na Aprendizagem da Leitura e da Escrita Professora Sâmia Letícia Cardoso dos Santos Diretor Geral Gilmar de Oliveira Diretor de Ensino e Pós-graduação Daniel de Lima Diretor Administrativo Eduardo Santini Coordenador NEAD - Núcleo de Educação a Distância Jorge Van Dal Coordenador do Núcleo de Pesquisa Victor Biazon Secretário Acadêmico Tiago Pereira da Silva Projeto Gráfico e Editoração André Dudatt Revisão Textual Kauê Berto Web Designer Thiago Azenha UNIFATECIE Unidade 1 Rua Getúlio Vargas, 333, Centro, Paranavaí-PR (44) 3045 9898 UNIFATECIE Unidade 2 Rua Candido Berthier Fortes, 2177, Centro Paranavaí-PR (44) 3045 9898 UNIFATECIE Unidade 3 Rua Pernambuco, 1.169, Centro, Paranavaí-PR (44) 3045 9898 UNIFATECIE Unidade 4 BR-376 , km 102, Saída para Nova Londrina Paranavaí-PR (44) 3045 9898 www.fatecie.edu.br As imagens utilizadas neste livro foram obtidas a partir do site ShutterStock FICHA CATALOGRÁFICA FACULDADE DE TECNOLOGIA E CIÊNCIAS DO NORTE DO PARANÁ. Núcleo de Educação a Distância; SANTOS, S. L. C. Intervenção Psicopedagógica na Aprendizagem da Leitura e da Escrita. Sâmia Letícia Cardoso dos Santos. Paranavaí - PR.: Fatecie, 2020. 90 p. Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Zineide Pereira dos Santos. AUTOR Professora Mestre Sâmia Leticia Cardoso dos Santos ● Mestre em Estudos Linguístico pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). ● Especialista em Neuropedagogia pelo Instituto Faculdade de Tecnologia do Vale do Ivaí. ● Graduada em Letras Português-Inglês pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). ● Professora do Ensino Básico. ● Tutora Educacional no Centro Universitário Cidade Verde (UniFCV). Currículo lattes: http://lattes.cnpq.br/3482945991061023 Possui ampla experiência na área educacional, desde o Ensino Fundamental até o Superior. Atualmente, é professora da rede pública e privada de ensino. APRESENTAÇÃO DO MATERIAL Seja bem-vindo(a), caro(a) estudante, à apostila intitulada INTERVENÇÃO PSICO- PEDAGÓGICA NA APRENDIZAGEM DE LEITURA E ESCRITA. Na Unidade I você irá compreender as principais Teorias Psicopedagógicas que, ao longo dos anos, investigaram o desenvolvimento humano e aprendizagem. Essas teorias são fundamentais para a Psicopedagogia, uma vez que auxiliam a compreensão dos processos de aprendizagem nos diversos âmbitos, ou seja, prevenção, diagnóstico e tratamentos das dificuldades de aprendizagem, tema este que será abordado na Unidade II. As dificuldades de Aprendizagem (doravante DAs) de Leitura e Escrita serão dis- cutidas por meio de diversos autores que se dedicam a investigar essa área. Inicialmente, apresenta-se o conceito e a caracterização de DA, em seguida, explana-se a respeito das Dificuldades de Aprendizagem e suas variáveis, isto é, os Transtornos/Distúrbios de Apren- dizagem, bem como o fracasso escolar. Após compreender, de forma geral, o conceito de Transtornos de Aprendizagem, na Unidade III você irá estudar os transtornos relacionados à leitura e à escrita, mais especifi- camente, Dislalia, Disgrafia, Disortografia e Dislexia, suas definições, sinais e sintomas, do mesmo modo suas possíveis causas. Para concluir a apostila, a Unidade IV aborda a importância das intervenções no processo de leitura e escrita. Para tanto, apresenta-se o que seriam essas intervenções, descrevendo como os jogos e as tecnologias podem contribuir significativamente na inter- venção no que diz respeito aos Transtornos Específicos de Linguagem. Caro(a) estudante, antes de iniciar os estudos, lembre-se que a apostila não irá abordar minuciosamente toda a temática. Por essa razão, nas leituras complementares, você encontrará interessantes estudos e abordagens. Aproveite! Muito obrigada! Bons estudos! SUMÁRIO UNIDADE I ...................................................................................................... 6 Teorias Psicopedagógicas UNIDADE II ................................................................................................... 29 Dificuldades de Aprendizagem da Leitura e da Escrita UNIDADE III .................................................................................................. 45 Dislalia, Disgrafia, Disortografia e Dislexia UNIDADE IV .................................................................................................. 61 Intervenções Psicopedagógicas 6 Plano de Estudo: ● Piaget e Freud: teoria interacionista. ● Vigotski: teoria sociointeracionista. ● Skinner: teoria ambientalista. Objetivos da Aprendizagem: ● Conceituar e contextualizar as diferentes Teorias Psicopedagógicas. ● Compreender a abordagem das teorias interacionista, sociointeracionista e ambientalista. ● Conhecer os estudiosos que criaram essas teorias. ● Estabelecer a importância das Teorias Psicopedagógicas para o desenvolvimento da aprendizagem na/para a escola. UNIDADE I Teorias Psicopedagógicas Professora Mestre Sâmia Letícia Cardoso dos Santos 7UNIDADE I Teorias Psicopedagógicas INTRODUÇÃO Prezado(a) estudante, Seja bem-vindo(a) à Unidade I da apostila de Intervenção Psicopedagógica na Aprendizagem da Leitura e Escrita. Nesta unidade, você irá compreender as principais teorias psicopedagógicas e seus teóricos. Primeiramente, aborda-se a Teoria Interacionista de Jean Piaget, cujo objetivo é descrever suas principais concepções referentes ao desenvolvimento humano e à apren- dizagem. Em seguida, explana-se a Teoria Sociointeracionista – perspectiva de Vygostky – a respeito do desenvolvimento humano e da aprendizagem, evidenciando conceitos relacio- nados à linguagem e à importância da mediação social. Por fim, descreve-se a Teoria Ambientalista, concepção de Skinner, abordando o desenvolvimento humano e a aprendizagem. Nesta unidade, convido você a adentrar nas Teorias Psicopedagógicas. Mas, antes disso, você deve refletir sobre alguns aspectos: no decorrer de nossas vidas, ou seja, da fase infantil até à velhice, muitas transformações ocorrem, certo? Como será que acontecem essas transformações (esse desenvolvimento)? Como aprendemos? Todos nós aprendemos da mesma forma? Os fatores externos (cultural, social e histórico) influenciam o desenvolvimento? Esses questionamentos serão abordados nas três teorias que você irá aprender. Vamos lá? 8UNIDADE I Teorias Psicopedagógicas 1. PIAGET E FREUD: TEORIA INTERACIONISTA Ao longo da história, muitos pesquisadores desenvolveram estudos para com- preender como ocorria o processo de aprendizagem dos indivíduos. Um desses estudiosos foi Jean William Fritz Piaget, considerado um dos maiores pesquisadores no campo da educação na metade do século XX. Nasceu na pequena cidade Neuchâte, localizada na parte ocidental da Suíça, em 9 de agosto de 1896. Filho de um estudioso e professor de História e uma devota religiosa. No início de sua vida, aos 11 anos, publicou seu primeiro artigo sobre um pardal albino. Sua vida acadêmica iniciou-se com os estudos em biologia, cursou a graduação, o mestrado e, mais tarde, concluiu o doutorado na mesma área, na Universidade de Neuchâtel. Posteriormente, investiu seus estudos na área de Psicologia, Epistemologia e Educação (PALANGANA, 2015, p. 14). De acordo com Davis e Oliveira (1994, p. 37), a princípio, Piaget trabalhou com os psicólogos franceses Binet e Simon, os quais tinham como objetivo elaborar um instru- mento para mensurar a inteligência das crianças que estudavam nas escolas francesas. Posteriormente, Piaget dedicou-se às pesquisas psicológicas, as quais tinham como intuito conhecer a criança e como acontecia o seu desenvolvimento, buscando compreender o ser humano a fim de aprimorar métodos pedagógicos. A partir dessa constatação, Piaget aderiu ao método clínico, inspirado em Sigmund Freud, em que o inconsciente apresentava um papel fundamental para compreender o desenvolvimento e o funcionamento da perso-9UNIDADE I Teorias Psicopedagógicas nalidade humana. À vista disso, faz-se necessário compreender a concepção psicanalítica apresentada por Freud, uma vez que influenciou diretamente a Teoria Interacionista. Sigmund Freud, considerado o pai da Psicanálise, nasceu Freilberg, na antiga Tchecoslováquia (atual Pribor, que pertence à República Tcheca), filho de judeus. Ainda com três anos de idade, mudou-se com sua família para Viena (capital da Áustria), onde vi- veu grande parte de sua vida. Em 1938, em razão de sua etnia judaica, Freud foi obrigado a retirar-se de sua cidade e refugiar-se na Inglaterra, porque os nazistas ocuparam Viena. Um ano depois, em 1939, aos 83 anos de idade, o câncer o levou à morte. Com relação à vida profissional, inicialmente, Freud dedicou-se aos estudos das doenças mentais, utilizando técnicas e métodos de Jean-Martin Charcot e Joseph Breuer. Com o passar do tempo, criou sua própria teoria com base nos fenômenos psíquicos. A concepção psicanalítica de Freud tornou-se um método de investigação para Piaget, posto que investiga e interpreta aquilo que está oculto, isto é, o inconsciente do sujeito (NOGUEIRA; LEAL, 2018). Com base na concepção psicanalítica de Freud, durante sua pesquisa, Piaget aplicou teste em grande número de crianças, os resultados foram surpreendentes, porque as respostas incorretas eram mais interessantes que as corretas, além disso as crianças da mesma faixa etária cometiam erros semelhantes. “Daí a ideia central da teoria: a lógica de funcionamento mental da criança é qualitativamente diferente da lógica adulta” (PALAN- GANA, 2015, p. 14). Isto fez com que Piaget repensasse seu método de análise, ou seja, investigar as soluções apresentadas pelas crianças, desviando a atenção na quantidade de respostas corretas. Portanto, era necessário investigar por meio de quais processos ou mecanismos acontecem essa transformação. Assim, ancorado na concepção freudiana, Piaget criou o seu próprio método para investigar o desenvolvimento infantil. Suas pesquisas deram início a sua grande obra, conhecida como Epistemologia Genética, cujos objetos de estudos são o conhecimento científico (epistemologia) e a gênese (genética), isto é, a origem desse conhecimento. Desse modo, sua teoria tem como base o sujeito em seu processo de construção do conhecimento (NOGUEIRA; LEAL, 2018). Piaget constatou que o conhecimento é resultado da interação entre o sujeito e os meios físico e social, surgindo, assim, a Teoria da Interação. Para Piaget (1978, p. 6), “o conhecimento resultaria de interações que se produzem a meio caminho entre os dois, dependendo, portanto, dos dois ao mesmo tempo, mas em decorrência de uma indiferen- ciação completa e não de intercâmbio entre formas distintas”. Além da meio físico e social, para compreender o desenvolvimento natural da criança apresentado por Piaget, é im- 10UNIDADE I Teorias Psicopedagógicas prescindível considerar influência da maturação neurofisiológica, do crescimento orgânico do corpo e da carga genética hereditária. Diante disso, conforme a Figura 1, o sujeito (a criança) e o social (objeto) não podem ser dissociados, uma vez que um influencia e estimula o outro. A criança, em um determinado ambiente, modifica o meio social, assim como é modificada por ele, especial- mente na interação com outros indivíduos. Sendo assim, “o desenvolvimento se constrói na e pela interação da criança com outras pessoas de seu ambiente, particularmente com aquelas mais envolvidas afetiva e efetivamente em seu cuidado” (OLIVEIRA et al., 1999, p. 30). FIGURA 1 - A INTERAÇÃO DE PIAGET Fonte: a autora. Como dito anteriormente, Piaget começou a se interessar pelas respostas incorre- tas, uma vez que elas eram consideradas erradas a partir do ponto de vista dos adultos, mas apresentavam uma lógica infantil, concluindo, assim, que a criança possui uma lógica de funcionamento mental que difere qualitativamen- te da lógica do funcionamento mental do adulto. Propõe-se consequentemente a investigar como, através de quais mecanismos, a lógica infantil se transforma em lógica adulta (DAVIS; OLIVEIRA, 1994, p. 37, grifos dos autores). Isto posto, Piaget desenvolveu um estudo dos diferentes níveis de desenvolvimento tanto intelectual quanto afetivo vivenciado pelo ser humano. Considerando que a evolução do conhecimento é um processo contínuo, a qual se constrói através da interação entre o sujeito e o meio (físico e social). Assim, devido às ações das crianças e das oportunidades que o ambiente possibilita à ela, motivado pela sua formação biológica, o desenvolvimento se constrói, passando por estágios sucessivos de organização do campo cognitivo e afetivo. Logo, as crianças passam por um processo de equilibração, ou seja, transitam de um nível de conhecimento simples a outro mais complexo (NOGUEIRA; LEAL, 2018). 11UNIDADE I Teorias Psicopedagógicas Para definir como ocorre essa transformação do conhecimento infantil, Piaget adotou o termo equilibração majorante que, como o próprio nome o define, é o momento de equilíbrio durante a interação entre o sujeito e o meio físico e sociocultural, porém esse equilíbrio é sempre instável, já que constantemente surgem obstáculos. A partir de qualquer obstáculo, não há mais equilíbrio na interação e, consequentemente, o sujeito entra em uma situação de desequilíbrio. Assim, através desse desequilíbrio, o sujeito será desafiado, obrigando-o a encontrar novas adaptações para que novos conhecimentos sejam construí- dos. (NOGUEIRA; LEAL, 2018). Nesse caso, para restabelecer o equilíbrio perdido, o indivíduo precisa mobilizar os mecanismos de inteligência: a assimilação e a acomodação. Para a teoria piagetiana, a assimilação é “ação do sujeito sobre o objeto do conhecimento, podendo incorporar esse objeto a esquemas mentais já existentes no sujeito” (NUNES; SILVEIRA, 2009, p. 87), assim, o processo em que a criança adquire uma nova informação e incorpora-a nas ideias já adquiridas em seu psiquismo. Esse processo de assimilação é subjetivo, uma vez que cada sujeito incorpora essa nova informação de uma maneira singular e individual, concordando com as crenças já presentes em cada indivíduo. Já a acomodação é compreendida como o processo de combinação ou modifica- ção de esquemas para solucionar problemas a partir das novas experiências dentro do am- biente, isto é, “um aspecto da atividade cognitiva que envolve a modificação das estruturas mentais ou dos esquemas sensório-motores para corresponder aos objetos da realidade” (NOGUEIRA; LEAL, 2018, p. 127). Desse modo, a partir da acomodação, o sujeito (crian- ça) é capaz de resolver o problema, restabelecendo o equilíbrio perdido (a equilibração majorante). Isto posto, o indivíduo desenvolve-se e adquire novos conhecimentos. A seguir será detalhado como ocorre esse desenvolvimento. 1.1 Os Estágios do Desenvolvimento Cognitivo: da Infância à Vida Adulta Segundo Piaget, o desenvolvimento cognitivo é estruturado por estágios (ou perío- dos, ou etapas). Esses estágios dividem-se em quatro momentos de “desenvolvimento ao longo do qual a criança constrói certas estruturas cognitivas” (DAVIS; OLIVEIRA, 1994, p. 39). Além disso, faz-se importante salientar que Piaget apresentou em seus estudos idades mais ou menos aproximadas. Ademais, dentro de cada estágio, os sujeitos apresentam ritmos de desenvolvimentos diferentes. Porém, todas as crianças passaram por esses estágios, mais cedo ou mais tarde, dependendo tanto do seu desenvolvimento biológico quanto do desenvolvimento no meio físico e social (sociocultural) e familiar em que vivem. 12UNIDADE I Teorias Psicopedagógicas Sendo assim, as relações estabelecidas com a família, os professores, os colegas e a manipulação de objetos, tais como brinquedos, blocos, jogos, são alicerces fundamentais para os diversos desenvolvimentos – linguístico, intelectual,afetivo, moral. Portanto, só há evolução mental da criança, se houver interação. (NOGUEIRA; LEAL, 2018). No quadro a seguir, ancorado em Nogueira e Leal (2018), há uma descrição de cada período definido por Piaget. QUADRO 1 - OS QUATRO ESTÁGIOS DE DESENVOLVIMENTO COGNITIVO Estágios de Desenvolvi- mento Cognitivo Faixa etária Características Sensório-motor Dos 0 – 2 anos (aproximadamente) Os bebês se desenvolvem por meio do desenvolvimen- to sensorial e motor, assim eles aprendem através do desenvolvimento de seus sentidos (sensório) e da atividade motora (motor). Neste estágio, o desenvol- vimento físico dá suporte para o surgimento de novas habilidades: andar, sentar, agarrar chutar e etc. Pré-operatório Dos 2 – 7 anos (aproximadamente) A principal conquista, neste estágio, é a linguagem (a fala), reconstruindo o pas- sado e antecipando o futuro pela representação verbal. Há mudanças de conduta e afetiva, pois a linguagem oportuniza as trocas entre a criança e o meio socio- cultural. Além disso, o ser humano é o centro de tudo (egocentrismo), por isso é a estágio dos “porquês”. 13UNIDADE I Teorias Psicopedagógicas Estágios de Desenvolvi- mento Cognitivo Faixa etária Características Operacional Concreto Dos 7 - 11 anos (aproximadamente) Surgem novas construções, por isso é estágio das ope- rações concretas, desen- volvendo um pensamento lógico a respeito das coisas concretas. A realidade não é mais vista pela percepção, mas, sim pela razão. Já possui um raciocínio lógico mais aguçado, sendo capaz de relacionar, comparar coisas segundo parâmetros lógicos e consegue realizar as primeiras operações arit- méticas e geométricas Operacional Formal 12 anos em diante Surge a capacidade de pensamento abstrato, ou seja, pensar por hipótese. O adolescente passa a pensar sobre o real e o possível, portanto “as operações lógicas começam a ser transportadas do plano da manipulação concreta para o das ideias” (PIAGET, 2004, p. 59 apud NOGUEIRA; LEAL, 2018). Fonte: adaptado de Nogueira e Leal (2018). Diante dos estágios (fases, etapas ou períodos) de desenvolvimento cognitivo, compreende-se que esses processos ocorrem de modo lento e gradual, permitindo uma quantidade considerável de mudanças evolutivas, já que a evolução do pensamento cog- nitivo ocorre do nascimento até a morte, porque o indivíduo apresenta uma capacidade infinita de aprender e adquirir novos conhecimentos. 14UNIDADE I Teorias Psicopedagógicas 1.2 O Processo de Ensino-Aprendizagem a partir da Teoria Interacionista O interacionismo piagetiano ganhou força no Brasil a partir da década de 1980. No início de suas pesquisas, Piaget não imaginava que seus estudos auxiliariam muitos professores a compreender o processo de aprendizagem de seus alunos. De acordo com Maia (2017, p. 54), o objetivo da educação para a premissa piagetiana é “potencializar”, isto é, possibilitar “a construção das estruturas cognitivas”, bem como colaborar com o “desenvolvimento dos estágios propostos”. Para isso, É preciso associar os conteúdos escolares à competência cognitiva dos su- jeitos e relacionar as questões curriculares às noções universais, de modo que a metodologia de ensino explicite que o conhecimento é resultado de um processo de construção, ou seja, da apropriação progressiva de um objeto (suas características) pelo sujeito (MAIA, 2017, p. 54). Assim, diferentemente da concepção tradicional de ensino na qual o professor é transmissor do conhecimento, as ideias de Piaget demonstram que o aluno constrói o conhecimento, cabendo aos professores e aos familiares propiciar ao aluno/filho experiên- cias, para que ele consiga agir e construir conceitos (MAIA, 2017, p. 54). Por esse motivo, os professores começaram a planejar suas aulas e suas ativida- des com base nos estágios em que os alunos se encontram, propiciando vivenciar o equi- líbrio, passando pelo desequilíbrio e, retornando ao equilíbrio, a fim de produzir progressos cognitivos a partir dos desafios e das situações-problema. “Essas situações modificam a estrutura do pensamento de cada aluno,”, além disso, proporcionam um crescimento mental cada vez mais elevado e sadio” (NOGUEIRA; LEAL, 2018, p. 138). Atualmente, embora tenham surgido novas teorias de aprendizagem, muitos pro- fessores do Brasil e do mundo ainda utilizam essa base teórica como forma de alcançar os resultados positivos em sala de aula. 15UNIDADE I Teorias Psicopedagógicas 2. VIGOTSKI: TEORIA SOCIOINTERACIONISTA A teoria de Vigotski, intitulada Sociointeracionista, adotou um novo nível de desenvolvimento, unificando a gênese e a natureza social das funções psicológicas. Ou seja, essa teoria explica a origem e evolução do psiquismo humano, bem como as relações entre indivíduos e sociedade, destacando a importância de que a cognição deve ser investigada em um contexto sócio-histórico e cultural. Antes de compreender a teoria, é importante conhecer brevemente a biografia de Lev Semyonovich Vygotsky. Ele nasceu no dia 17 de novembro de 1896, em Orsha, cidade próxima a Minsk, capital da Bielo-Rússia (a partir do fim da União Soviética, passou a se chamar Belarus). Filho de uma culta e rica família judia. Desde a infância, sempre teve incentivo para se dedicar aos estudos, pois teve um tutor que o auxiliava na realização de todas as atividades. Aos 17 anos, concluiu o curso secundário (NOGUEIRA; LEAL, 2018). Um ano depois, com 18 anos, Vygotsky iniciou o curso de Medicina, porém não o concluiu, optando pelo curso de Direito da Universidade de Moscou. Além disso, também estudou Literatura e História da Arte. Em 1917, graduou-se em Direito e apresentou um trabalho cujo título era “Psicologia da Arte”, que só foi publicado na Rússia em 1965. Mais tarde, retornou para Gomel, onde dedicou-se à Literatura e à Psicologia, realizando pales- tras em várias escolas (NOGUEIRA; LEAL, 2018). Segundo Nogueira e Leal (2018), Vygotsky fundou uma editora, uma revista literária e um laboratório de psicologia no Instituto de Treinamento de Professores, onde ministrava 16UNIDADE I Teorias Psicopedagógicas cursos de Psicologia. Para colaborar com desenvolvimento dessas crianças, dedicou-se exclusivamente aos estudos dos processos mentais humanos. Em 1924, recebeu o convite para a trabalhar no Instituto de Psicologia de Moscou. Os estudos de Vygotsky compreendiam uma psicologia fundamentada nos prin- cípios do materialismo histórico e dialético, já que tinha uma concepção de que o homem não é produto do meio, mas, sim historicamente constituído e constituinte nas relações com a sociedade. À vista disso, “por meio da construção de uma nova psicologia pautada na historicidade do homem e em sua totalidade, possibilitou a compreensão da constituição do sujeito e de sua subjetividade através de um processo capaz de ir em direção a um sujeito social” (NOGUEIRA; LEAL, 2018, p. 153). Desse modo, o homem é indivíduo que transforma e é transformado pelas interações. Por isso, é necessário que se entenda que o desenvolvimento da criança está relacionado às condições da organização social, consequentemente, ao estudar o desen- volvimento infantil, deve-se considerar “o vínculo entre criança e sociedade ou o lugar que a criança ocupa no sistema das relações sociais em um determinado momento histórico” (PASQUALINI, 2011, p. 166). Isto posto, diferentemente da teoria piagetiana já abordada, para Vygotsky, os aspectos biológicos não são suficientes para o desenvolvimento da aprendizagem, uma vez que a criança precisa estar inserida em ambientes e práticas espe- cíficas que possibilitem seu desenvolvimento, porque a criança não se desenvolve sozinha. Para compreender a teoria de Vygotsky, é necessário entender o conceito das funções psíquicas superiores, as quais referem-se tanto aos “processos de domínio dos meiosexternos de desenvolvimento cultural e do pensamento: a linguagem, a escrita, o cálculo, o desenho” quanto aos “processos de desenvolvimento das funções psíquicas superiores especiais, não limitadas nem determinadas com exatidão, que na psicologia tradicional se denominavam atenção voluntária, memória lógica, formação de conceitos, etc.” (VYGOTSKY, 1995, p. 29 apud MESQUITA, 2010, p. 70). Portanto, as funções psí- quicas superiores são mecanismos mais sofisticados, os quais dizem respeito ao controle consciente do comportamento, à atenção e lembrança voluntária, à memorização ativa, ao pensamento abstrato, ao raciocínio dedutivo, e à capacidade de planejamento. Todas essas habilidades são exclusivas da espécie humana. Diante disso, o desenvolvimento é compreendido, pela teoria vigotskiana, como um processo evolutivo, no qual essas funções psicológicas superiores surgem nas relações entre indivíduos e se desenvolvem nas internalizações. A partir desse conceito, o estudioso Vygotsky compreende o “processo de mediação, através de instrumentos e signos, é funda- 17UNIDADE I Teorias Psicopedagógicas mental para o desenvolvimento das funções psicológicas superiores, distinguindo o homem dos outros animais”. Ademais, “é um processo essencial para tornar possível as atividades psicológicas voluntárias, intencionais, controladas pelo próprio indivíduo” (OLIVEIRA, 2002, p. 26). Segundo Oliveira (2002, p. 26), a “mediação em termos genéricos é o processo de intervenção de um elemento intermediário numa relação; a relação deixa, então, de ser direta e passa a ser mediada por esse elemento”. No esquema a seguir (Figura 2), nota-se a relação estabelecida entre a mediação e os signos e instrumentos. FIGURA 2 - O PROCESSO DE MEDIAÇÃO Fonte: a autora. À vista disso, a relação do indivíduo (criança) com o mundo não ocorre de manei- ra direta, ou seja, depende do elo estabelecido pelos instrumentos e signos. Diante dos signos, a linguagem escrita é fundamental na mediação das funções mentais superiores, uma vez que o conhecimento é adquirido nas relações entre os indivíduos, por meio da linguagem e da interação social. Além do mais, o signo pode ser compreendido como os objetos ausentes, por exemplo, alguém diz eu comprei um cadeira de praia, embora quem ouça não esteja próximo a uma cadeira desse tipo, consegue visualizá-la em pensamento. Logo, os signos representam coisas no mundo. Já os instrumentos podem ser definidos como os objetos utilizados por esse indiví- duo para realizar uma determinada função. Por um exemplo, o indivíduo pode cortar algo 18UNIDADE I Teorias Psicopedagógicas com a mão, mas com um machado consegue cortá-lo de modo mais eficiente. Assim, o homem faz/utiliza esses objetos para fins específicos Dessa maneira, surge a concepção de Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP), definida por Vygotsky (2007, p. 97) como a distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimen- to potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes. Conforme nota-se na imagem a seguir: FIGURA 3 - CONCEITO DA ZONA DE DESENVOLVIMENTO PROXIMAL Fonte: a autora. De acordo com a Figura 3, é possível compreender um dos conceitos centrais da Psicologia Sociocultural. O Nível de Desenvolvimento Real é determinado pela capa- cidade de realizar/resolver tarefas ou problemas de forma independente. Já o Nível de Desenvolvimento Potencial é determinado pelos desempenhos possíveis com auxílio de adultos, familiares ou colegas mais desenvolvidos. Toda criança é capaz de desenvolver esse conhecimento, mas, inicialmente, precisa da ajuda de quem já possui esse conheci- mento para poder solucionar, pois os processos mentais ainda não amadureceram ou estão em construção. Logo, a Zona de Desenvolvimento Proximal refere-se à mediação, isto é, a colaboração do professor, a ajuda do país, o auxílio dos colegas, os quais vão proporcionar o desenvolvimento da aprendizagem. Então, a criança sairá do Nível de Desenvolvimento Potencial e alcançará o Nível de Desenvolvimento Real. Outros dois conceitos desenvolvidos pela teoria vygotskiana são o pensamento e a linguagem, os quais são o primeiro plano na relação das diversas funções psicológicas. Mas, antes de compreender a teoria do pensamento e da linguagem, é necessário entender a categoria atividade abordada pelo psicólogo, pois é “por meio da atividade que o homem constitui as relações humanas e transforma o mundo. Ao se apropriar da realidade externa, 19UNIDADE I Teorias Psicopedagógicas ocorre uma atividade interna de apropriação e de articulação do novo”. Desse modo, “é na atividade que o ser humano desenvolve sua capacidade cerebral” (NOGUEIRA; LEAL, 2018, p. 153). Ribeiro, Silva e Carneiro (2017, p. 396) colaboram com essa afirmação ao dizer que: a aprendizagem conduz o desenvolvimento e é responsável pela determina- ção do comportamento humano de superação, transformação e suscitação constante – principalmente, por meio da linguagem. Nesse sentido, a lingua- gem é o instrumento de mediação entre o eu e o outro, é a base da constitui- ção e da formação da subjetividade humana. Para essa teoria, a linguagem tem uma função comunicativa. Através das palavras se estabelece comunicação com outro, assim, o sujeito dialoga, argumenta, informa, en- sina, aprende entre outras capacidades desenvolvidas exclusivamente pelo ser humano racional. À vista disso, é mediante a linguagem que se expressa o pensamento humano, proporcionando as interações humanas, na qual o falante constitui-se em sujeito, uma vez que na ausência da linguagem não existe sujeito, nem interação. Como dito anteriormente, o que distingue o ser humano dos outros animais é a capacidade de verbalizar os pensamentos por meio da linguagem, por esse motivo Vy- gotsky (2007) dedicou-se a estudar o processo de aquisição da linguagem. De acordo com o psicólogo, esse processo ocorre de forma isolada no desenvolvimento infantil e sua aquisição influencia e transforma o comportamento da criança, além disso, a linguagem materializa o aparecimento de condutas, ou seja, a maneira de compreender o mundo. Na aquisição da linguagem, o caráter social está muito presente, dado que é nítida a necessidade da interação entre a criança e o adulto no progresso da linguagem, porque essa mediação faz com a criança se introduza no mundo social. Portanto, o desenvolvimen- to da linguagem não está ligado apenas aos fatores maturativos, exige interação afetiva e apropriada com ambiente em que está inserida (VYGOTSKY, 2007). Para a Teoria Sociointeracionista, segundo Miranda e Senra (2012), a aquisição da linguagem provoca o desenvolvimento do pensamento, visto que através das palavras o pensamento ganha existência. A linguagem representa uma ponte que liga o mundo socio- cultural e os processos mentais. Vygotsky descreve a linguagem como a pedra angular do desenvolvimento cognitivo do ser humano. 2.1 A Teoria de Sociointeracionista: um Novo Olhar para o Contexto Escolar Considerando que o conhecimento só ocorre por meio das interações coletivas, das relações com o outro, cabe à escola, ao ensino-aprendizagem, aos professores propiciarem o desenvolvimento cognitivo, cada qual de acordo com a sua respectiva função. A escola precisa oferecer conteúdos e desenvolver modalidades de pensamentos particulares, bem 20UNIDADE I Teorias Psicopedagógicas como tem responsabilidade sobre a apropriação pelo sujeito da experiência culturalmente vivenciada, mediante as atividades sistemáticas as quais têm a função de tornar acessível o conhecimento formalmente organizado, O ensino-aprendizagem precisa considerar os conhecimentos prévios dos alunos e, com base nesses conhecimentos, elaborar estratégias para desenvolvero cognitivo dos alunos. Nas aulas, deve haver discussões e interações em grupo, bem como há a neces- sidade de proporcionar um clima amigável, para que se estabeleça harmonia diante das diferentes opiniões de cada aluno. Já o professor precisa atuar na “Zona de Desenvolvimento Proximal” como me- diador, cujo objetivo é construir a aprendizagem e o desenvolvimento através da interação. Ademais, proporciona momentos de experiências, diálogos, palestras, discussões em grupo, sem dar respostas prontas, afinal o intuito é que o aluno construa seu próprio conhecimento E, por fim, a peça principal, o aluno, precisa interagir com os colegas, com os professores e com o meio social, buscando através dessas relações, construir seu próprio conhecimento. 2.2 Teoria Interacionista vs Teoria Socioconstrutivista Após o percurso de compreensão de ambas teorias, quais são as diferenças entre a Teoria Interacionista e a Teoria Sociointeracionista? Embora as duas teorias defendam que o aprendizado ocorre de maneira ativa num contexto em que o conhecimento é desen- volvido (construído) pelo indivíduo (criança). Para o interacionismo, o movimento acontece internamente e parte da ação do indivíduo. Em contrapartida, na teoria vigotskiana, os processos de aprendizagem só existem se estimulados por fatores externos, e o sujeito faz internalização dos conteúdos que foram aprendidos. Ademais, no quadro a seguir obser- vam-se algumas diferenças entre essas teorias no tocante à prática. QUADRO 2 - COMPARAÇÕES CONCEITUAIS ENTRE O INTERACIONISMO E O SOCIOINTERACIONISMO Interacionismo Sociointeracionismo Papel do aprendente Ativo Ativo Foco do aprendizado Desenvolver habilidades cognitivas e conhecimento. Desenvolver habilidades cognitivas e conhecimento. 21UNIDADE I Teorias Psicopedagógicas Interacionismo Sociointeracionismo Principal local de aprendizagem Na mente do indivíduo (embora o contexto social também tenha importância). Nas práticas sociais (a res- ponsabilidade individual é importante também). Como o aprendizado é iniciado Trabalhando em atividades que tenham foco na resolu- ção de problemas. Ensino prévio para então oferecer apoio aos apren- dentes através de ferramen- tas mentais na ZDP. Papel da atividades Conduzir o aprendizado. Aumentar a competência no uso das ferramentas men- tais. Unidade básica Individual Individual em interação social. Ferramentas Cognitivas: expressar pensamentos ou diminuir a carga cognitiva. Psicológicas: mediar o aprendizado e modificar e formar os processos de pen- samento. Ambiente autêntico Problemas encontrados na vida real. Local onde a comunidade utiliza o conhecimento apli- cado a um problema Professor Garantir a eficiência do aprendizado e oferecer outro ponto de vista. Mediar o aprendizado atra- vés de relações e analisar a ferramentas para identificar a ZPD. Fonte: Hall (2007, p. 98). Portanto, a Teoria Interacionista privilegia a maturação biológica; compreende que o desenvolvimento humano segue uma sequência universal de estágios; entende que a construção do conhecimento ocorre naturalmente; e o pensamento acontece antes da lin- guagem, porque ela ocorre depois do desenvolvimento de alguns níveis mentais. No entanto, a Teoria Sociointeracionista privilegia o ambiente social, bem como não se restringe apenas a uma visão única de desenvolvimento humano, já a construção do conhecimento parte do social para o individual e, por fim, o aspecto central para o desenvolvimento cognitivo é a linguagem, esta e o pensamento são compreendidos como processos interdependentes. 22UNIDADE I Teorias Psicopedagógicas 3. SKINNER: TEORIA AMBIENTALISTA A Teoria Ambientalista (também conhecida como Behaviorista) destaca que o ser humano é produto do meio em que vive (do ambiente), pois é moldado pelos estímulos ambientais. Antes de compreender todos os aspectos dessa teoria, é interessante conhe- cer quem a desenvolveu. Burrhus Frederic Skinner, conhecido como B. F. Skinner, nasceu em Susquehanna, Pensilvânia, Estados Unidos, no dia 20 de março de 1904. Filho de um advogado e de uma dona de casa. Estudou no Hamilton College em Nova Iorque; nessa época, almejava ser escritor, dedicando-se a isso durante dois anos, mas depois admitiu que lhe faltava competência literária. Em 1926, concluiu o bacharelado em Literatura Ingle- sa e Línguas Românicas (MAIA, 2017). Dois anos depois, em 1928, Skinner matriculou-se no curso de pós-graduação em Psicologia pela Universidade de Harvard. Nessa universidade, concluiu o mestrado em 1930 e o doutorado em 1931, além disso desenvolveu pesquisas até 1936. Posteriormente, lecionou na Universidade de Minnesota. Anos mais tarde, entre 1945 e 1947, lecionou na Universidade de Indiana, tornando-se presidente do Departamento de Psicologia. Depois de 8 anos, retornou a Harvard como professor titular. Durante sua trajetória como pesquisador, desenvolveu diversos estudos e escreveu inúmeros artigos como O Comportamento dos Organismos, Auto-Administração Intelectual na Velhice entre outros. Em 1980, foi derrotado pela leucemia (MAIA, 2017). 23UNIDADE I Teorias Psicopedagógicas A Teoria Ambientalista propõe que todo ser humano nasce como uma tábula rasa, uma folha em branco e, ao longo do tempo, é preenchido por informações vindas do meio, ou seja, é estimulado, moldado e corrigido pelo ambiente. Sendo assim, a aprendizagem ocorre “por meio das influências dos estímulos do meio. Todo comportamento do homem seria condicionado ou classificado como respondente ou operante” (MAIA, 2017, p. 28). Faz-se necessário salientar que o comportamento humano é determinado pela relação do indivíduo com o meio. O comportamento respondente é influenciado pelos estímulos involuntários e está relacionado às interações estímulo-resposta. Por exemplo, quando alguém descasca uma cebola e chora, as lágrimas são respostas dos gases da cebola. Já no comporta- mento operante é estimulado pelas suas consequências. Como por exemplo o conhecido experimento de Skinner no qual foi utilizado um rato que ficava preso em uma caixa sem comida ou água. Na caixa, havia uma barra flexível que, no momento em que era pressio- nada, liberava água e comida, assim o rato, após realizar alguns movimentos aleatórios, percebeu que se tocasse na barra caia uma quantidade de comida. Portanto, toda vez que rato repetia um comportamento esperado, isto é, tocasse na barra, era premiado. Em outros termos, o rato foi moldado a ter essa atitude. Isto posto, “quando um dado comportamento é seguido por uma dada consequên- cia, apresenta uma maior probabilidade de repetir-se. Denomina-se reforço à consequência que produz tal efeito” (SKINNER, 1971 apud FADIMAN; JAMES,1986, p. 195, grifos dos autores). Assim, Skinner também aborda o conceito de reforço, ou seja, qualquer estímulo que promova o aumento da possibilidade de determinada resposta, sendo positivo ou ne- gativo. O reforço positivo refere-se a um estímulo que promove a recompensa. Por outro lado, o reforço negativo trata-se de reduzir ou eliminar uma determinada resposta. 3.1 Os Reforços e as Respostas: Estratégias de Aprendizagem Utilizadas em Sala de Aula De acordo com Maia (2017), algumas escolas tradicionais tinham/têm o hábito de recompensar os alunos por bons comportamentos e por excelentes notas, atribuindo elo- gios nos cadernos como “parabéns, “continue assim”, “muito bom” entre outros, bem como presenteavam/presenteiam com balas, doces ou figurinhas. Esses exemplos são casos de reforços positivos. Mas, os reforços negativos também estavam/estão em sala de aula. Por exemplos, as correções das atividades por meio das seguintes frases: “pode melhor”, “capriche mais”, entre outras. Além disso, os tapetinhos e cantinho do pensamento eram/ 24UNIDADE I Teorias Psicopedagógicas são utilizados como forma de advertência. Esses reforçosnegativos fazem com que os alunos não repitam tais ações, modelando-os para novos comportamentos. Em síntese, tanto os reforços positivos quanto os reforços negativos modelam o comportamento dos alunos em sala de aula; então, a aprendizagem dedica-se na aquisição de novos comportamentos por meio dos reforços cujo o papel do professor é formar e modificar comportamentos, moldando os alunos conforme seus objetivos, visto que eles recebem passivamente o conhecimento. SAIBA MAIS Vygotsky e o conceito de aprendizagem mediada Para Vygotsky, o professor é figura essencial do saber por representar um elo interme- diário entre o aluno e o conhecimento disponível no ambiente POR: Camila Monroe 07 de Março | 2018 No início da infância, explorar o ambiente é uma das maneiras mais poderosas que a criança tem (ou deveria ter) à disposição para aprender. Ela se diverte ao ouvir os sons das teclas de um piano, pressiona interruptores e observa o efeito, aperta e morde para examinar a textura de um ursinho de pelúcia e assim por diante. Essa lista de atividades, entretanto, pode dar a impressão de que, para adquirir saberes, basta o contato direto com o objeto de conhecimento. Na realidade, boa parte das relações entre o indivíduo e seu entorno não ocorre diretamente. Para levar a água à boca, por exemplo, a criança utiliza um copo. Para alcançar um brinquedo em cima da mesa, apoia-se num banqui- nho. Ao ameaçar colocar o dedo na tomada, muda de ideia com o alerta da mãe - ou pela lembrança de um choque. Em todos esses casos, um elo intermediário se interpõe entre o ser humano e o mundo. Em sua obra, o bielorrusso Lev Vygotsky (1896-1934) dedicou espaço a estudar esses filtros entre o organismo e o meio. Com a noção de mediação, ou aprendizagem media- da (leia um resumo do conceito na última página), o pesquisador mostrou a importância deles para o desenvolvimento dos chamados processos mentais superiores - planejar ações, conceber consequências para uma decisão, imaginar objetos etc. Tais mecanismos psicológicos distinguem o homem dos outros animais e são essenciais 25UNIDADE I Teorias Psicopedagógicas na aquisição de conhecimentos. Vygotsky demonstrou essa característica referindo-se a diversos experimentos realizados com animais. Num deles, um macaco conseguia pegar uma banana no alto de uma jaula se visse um caixote no mesmo ambiente. No en- tanto, se não houvesse o caixote, o símio nem sequer cogitaria buscar outro objeto que o aproximasse de seu objetivo. O ser humano, por outro lado, agiria de forma diferente. “Enquanto o macaco precisa ver o instrumento, o ser humano consegue imaginá-lo ou conceber outro com a mesma função”, afirma Marta Kohl de Oliveira, professora da Uni- versidade de São Paulo (USP). Fonte: Monroe (2018). REFLITA “O professor não ensina, mas arranja modos de a própria criança descobrir. Cria situa- ções-problemas” (Jean Piaget). “O saber que não vem da experiência não é realmente saber” (Lev Vygostky). “O auto-conhecimento tem um valor especial para o próprio indivíduo. Uma pessoa que se ‘tornou consciente de si mesma’, por meio de perguntas que lhe foram feitas, está em melhor posição de prever e controlar seu próprio comportamento” (B. F. Skinner). 26UNIDADE I Teorias Psicopedagógicas CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesta unidade foram abordadas três teorias psicopedagógicas. A primeira teoria, denominada Interacionista, apresenta estudos de Piaget os quais enfatizaram e sistemati- zaram o desenvolvimento cognitivo, desde a nascimento até a vida adulta, empenhando a estudar cuidadosamente a maneira como as crianças constroem o conhecimento lógico e, consequentemente, compreender a gênese e a evolução do conhecimento humano. A segunda teoria estudada, a Sociointeracionista desenvolvida por Vygostky, de- fende a influência do contexto sociocultural e histórico no desenvolvimento dos indivíduos. Além disso, salienta que o ser humano tem um papel ativo na construção do seu próprio conhecimento e, por meio das interações estabelecidas com o meio físico e social, conhece, aprende e se desenvolve. Por fim, a Teoria Ambientalista de Skinner, diferentemente das outras duas teorias, acredita que o indivíduo é resultado de influências do meio, ou seja, ele não é responsável pela (re)construção de suas estruturas cognitivas, do conhecimento, uma vez que seu comportamento é moldado pelo reforço positivo e negativo. 27UNIDADE I Teorias Psicopedagógicas LEITURA COMPLEMENTAR ESTUDO DAS TEORIAS DE PIAGET E VYGOTSKY NA IMPLEMENTAÇÃO DE TECNOLOGIAS EDUCACIONAIS RESUMO – Em face do grande desenvolvimento tecnológico e seu potencial de au- xílio para diversas atividades e processos, verifica-se grande potencial de implementações de tecnologias de modo a prover melhorias no processo de ensino-aprendizagem. Para isso, torna-se imprescindível o diálogo entre estudos do campo educacional e estudos que, de forma geral, busquem compreender as especificidades humanas com os estudos da área de tecnologia. A partir dessa necessidade, o presente estudo busca analisar a teoria Cognitivista de Piaget e a Sociointeracionista de Lev Vygotsky de modo a destacar seus princípios norteadores para utilização dessas na proposição de tecnologias de auxílio ao processo de ensino-aprendizagem e ao docente. Palavras-Chave – Tecnologias, Teorias de aprendizagem, Sociointeracionismo de Vygotsky, Cognitivismo de Piaget. Acesse: COSTA, D. de. J; LIMA, J. L. O. Estudo das teorias de Piaget e Vygotsky na implementação de Tecnologias Educacionais. In: II Simpósio Unificado dos cursos de Sistema da Informação da EEG, 2018, Goiás. Anais Eletrônico... - Goiás, 2018. Disponível em: https://www.anais.ueg.br/index.php/siuniueg/article/view/11481. Acesso em: 23 ago. 2020. 28UNIDADE I Teorias Psicopedagógicas MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO Título: Desenvolvimento e aprendizagem em Piaget e Vigotski: A relevância do social Autora: Isilda Campaner Palangana Editora: Summus Editorial Sinopse: Esta obra clássica, à luz das teorias de Jean Piaget e Lev Semenovich Vigotski, descreve os processos de aprendizagem e desenvolvimento humano. A autora investiga os fundamentos metodológicos e as raízes epistemológicas dos postulados desses dois estudiosos. LIVRO 2 Título: Teorias da Aprendizagem. Um Encontro Entre os Pensa- mentos Filosófico, Pedagógico e Psicológico. Autoras: Makeliny Oliveira Gomes Nogueira e Daniela Leal Sinopse: Este livro propõe a respeito de como ocorre o desen- volvimento humano. Essas discussões teóricas tratam de concep- ções que fornecem as bases para que o leitor possa entender os mecanismos de aprendizagem. O enfoque da concepção adotada na obra está nas relações que podem ser estabelecidas entre triple filosofia, educação e psicologia. FILME/VÍDEO Título: FREUD: além da alma. Ano: 1962 Direção: John Huston. EUA: Universal Pictures, 140 min. Sinopse: O Filme articula as descobertas revolucionária de Freud com os acontecimentos pessoais, mostrando os conflitos vivencia- dos por ele no início de sua carreira. https://archive.org/details/Pfilosofia-freud383-4 29 Plano de Estudo: ● Dificuldade de aprendizagem e suas concepções. ● Variáveis quanto à dificuldade de aprendizagem. Objetivos da Aprendizagem: ● Conceituar e contextualizar o termo Dificuldade de Aprendizagem. ● Compreender os conceitos de Dificuldade de Aprendizagem, Distúrbios/Transtornos de Aprendizagem e Fracasso Escolar. ● Estabelecer a importância da distinção de cada conceito. UNIDADE II Dificuldades de Aprendizagem da Leitura e da Escrita Professora Mestre Sâmia Leticia Cardoso dos Santos 30UNIDADE II Dificuldades de Aprendizagem da Leitura e Escrita INTRODUÇÃO Prezado(a) estudante, seja bem-vindo(a) à Unidade II da apostila de Intervenção Psicopedagógica na Aprendizagem da Leitura e Escrita. Nesta unidade, você irá compreen- der as Dificuldades de Aprendizagem da Leitura e daEscrita. Primeiramente, serão apresentados os diversos conceitos, definições e concep- ções a respeito das dificuldades de aprendizagem, a partir de diversos autores que se debruçaram sobre o tema. Posteriormente, serão explanadas as variáveis, a dificuldades de aprendizagem, isto é, os transtornos/distúrbios de aprendizagem e o fracasso escolar, explorando arcabou- ço teórico de diversos autores. Nesta Unidade, você irá entender os conceitos de Dificuldades de Aprendizagem por meio de diversas concepções, bem como compreender as diferentes nomenclaturas relacionadas ao não aprender. Isso é interessante, não é? Quantas vezes você já ouviu/viu algo a respeito de alguma criança que não conseguia aprender? Essa dificuldade perma- neceu por muito tempo? Se sim, muito provavelmente não foi diagnosticada corretamente. Convido você a embarcar nessa leitura e, ao final, compreenderá os questionamen- tos e conseguirá respondê-los. Bons Estudos! 31UNIDADE II Dificuldades de Aprendizagem da Leitura e Escrita 1. DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM E SUAS CONCEPÇÕES É sabido que todo ser humano tem uma capacidade inata para aprender, um pro- cesso natural, porém exige uma complexa atividade mental que envolve diversos aspectos: emoções, percepção, memória, mediação, conhecimentos prévios, entre outros (BOSSA, 2000). Logo, muitos fatores precisam trabalhar de maneira favorável e concomitantemente, para que o processo ensino-aprendizagem aconteça de modo satisfatório. Contudo, quan- do isso não ocorre, as consequências geram dificuldade de aprendizagem (doravante DA). Em 1800, surgiram os primeiros estudos para entender as razões da incidências da DA, os pesquisadores que realizaram esses estudos eram da área médicas, em particular os neurologistas, cujos objetivos eram constatar lesões em vítimas de acidentes, pois apre- sentavam limitações de habilidades da fala, correlacionando os problemas encontrados com as dificuldades apresentadas pelos pacientes. Um dos principais médicos responsáveis por esse estudo, Franz Joseph Gall, por meio dos resultados, verificou que as incidências de não aprendizagem estavam desassociadas das disfunções de ordem neurológica (FARIAS; GRACINO, 2019). A partir desse resultado, houve a necessidade de pesquisas nas áreas da psico- logia e psiquiatria. Os profissionais dessas áreas, juntamente com médicos, elaboraram programas para auxiliar e recuperar os indivíduos que apresentavam DAs. O neuropsi- quiatra Alfrad Strauss (1897-1957) e o psicólogo Heinz Werner (1890-1964), que faziam parte dessas pesquisas, compreenderam também que, muitas vezes, as DAs não estão 32UNIDADE II Dificuldades de Aprendizagem da Leitura e Escrita relacionadas aos atrasos mentais. Assim, fez-se necessário investigar cada criança com DA de maneira individualizada, aplicando um programa educativo específico em cada uma delas.(FARIAS; GRACINO, 2019). Mais tarde, em 1960, as concepções sobre as dificuldades de aprendizagens ga- nharam destaque com a publicação do livro intitulado Educação da Criança Excepcional, de Samuel Kirk e James Gallagher. Esses pesquisadores adotaram o termo “distúrbios de aprendizagem” para as dificuldades de aprendizagem, uma espécie de “rótulo que inclui um grupo heterogêneo de crianças que não se encaixam muito bem nas categorias tradicionais de crianças excepcionais” (KIRK; GALLAGHER, 1996, p. 364). Posteriormente, o termo dificuldades de aprendizagem ganhou novas definições. Uma dificuldade de aprendizagem refere-se a um retardamento, transtorno, ou desenvolvimento lento em um ou mais processos da fala, linguagem, leitu- ra, escrita, aritmética, ou outras áreas escolares, resultantes de um handicap causado por uma possível disfunção cerebral e/ou alteração emocional ou con- dutual. Não é o resultado de retardamento mental, deprivação sensorial ou fa- tores culturais e instrucionais (GARCIA, 1960, p. 48 apud KIRK, 1962, p. 263). Em seus estudos, esses profissionais estabeleceram a relação entre aprendizagem e inteligência nos quais foram classificadas as dificuldades de aprendizagem em categoria ligadas ao coeficiente de inteligência (QI), ao comportamento e ao desempenho acadêmico (FARIAS; GRACINO, 2019). A classificação foi determinada da seguinte forma: ● (i) aprendiz lento - Q.I de 75 a 90; ● (II) retardados mentais - Q.I abaixo de 75; ● Transtornos emocionais e não familiarizados socialmente; ● Privados socialmente e ambientalmente; ● Portadores de dificuldades ambientais. Mediante os estudos de Kirk, a DA ganhou outros contornos, passando a ser investigada a partir de uma visão pedagógica, assim os estudiosos passaram a discutir propostas pedagógicas (FARIAS; GRACINO, 2019). Entre as décadas de 60 e 70, surgiram alguns grupos (Learning Disabilities As- sociation of America (LDA) e a National Advisory Comimttee on Handicapped Children (NACHC), que tinham como intuito investigar as dificuldades de aprendizagem, atribuindo novas definições para o termo, conforme as palavras de uma dessas instituições. As crianças com dificuldades de aprendizagem especiais (específicas – lin- guagem, leitura, escrita e matemática) possuem uma desordem em um ou mais dos processos psicológicos básicos envolvidos na compreensão ou uso da linguagem falada ou escrita. Estas dificuldades podem manifestar-se por desordens na recepção da linguagem, no pensamento, na fala, na leitura, na escrita, na soletração ou na aritmética. Tais dificuldades incluem condições que têm sido referidas como deficiências perceptivas, lesão cerebral, disfun- 33UNIDADE II Dificuldades de Aprendizagem da Leitura e Escrita ção cerebral mínima, dislexia, afasia de desenvolvimento, etc. Elas não in- cluem problemas de aprendizagem resultantes principalmente de deficiência visual, auditiva ou motora, de deficiência mental, de perturbação emocional ou de desvantagem ambiental (NACHC, 1968, p. 34). Nas décadas posteriores – anos 80, 90 e 2000 –, muitos estudiosos se dedicaram a investigar as dificuldades de aprendizagem, envolvendo diversas áreas: médica, fonoau- diológica, psicológica e pedagógica. Após essas pesquisas, surgiram novas discussões, definições e perspectivas. Elas serão abordadas ao longo deste tópico. Para Smith e Strick (2001), as dificuldades de aprendizagens dizem respeito não apenas a um distúrbio, mas a uma vasta gama de problemas que podem prejudicar qualquer área do desempenho acadêmico. Ademais, dificilmente serão atribuídas a uma única causa, uma vez que vários aspectos podem prejudicar tanto o funcionamento cerebral quanto os problemas psicológicos das crianças que estão inseridas no processo de aprendizagem. Ainda nas palavras dos autores, Muitas crianças com dificuldade de aprendizagem também lutam com com- portamentos que complicam suas dificuldades na escola. A mais saliente dessas é a hiperatividade, uma inquietação extrema que afeta 15 a 20% das crianças com dificuldades de aprendizagem. Alguns outros comportamentos problemáticos em geral observados em pessoas jovens com dificuldade de aprendizagem são os seguintes: fraco alcance, dificuldade para seguir instru- ções, imaturidade social, dificuldade com a conversação, inflexibilidade, fraco planejamento e habilidades organizacionais, distração, falta de destreza e falta de controle dos impulsos (SMITH; STRICK, 2001, p. 15). García (1998, p. 1), pautado nas definições da instituição National Comittee on Learning Disabilities, afirma que a “Dificuldade de Aprendizagem é um termo que se refere a um grupo heterogêneo de transtornos que se manifestam por dificuldades significativas na aquisição e uso da escuta, fala, escrita, raciocínio ou habilidades matemáticas”, bem como considera esses transtornos intrínsecos ao indivíduo, os quais podem existir “junto com as dificuldades de aprendizagem, problemas nas condutas e auto-regulação, percepção social, mas nãoconsistem por si próprias uma dificuldade de aprendizagem”, embora as dificuldades de aprendizagem possam acontecer ao mesmo tempo que outras “condições incapacitantes” – deficiência intelectual, transtornos emocionais graves ou com “influências extrínsecas” (condições externas) –, diferenças culturais, orientações inapropriada ou insu- ficiente, “não são resultado dessas condições ou influências”. Na concepção de Garcia (1998, p.14), há um contraposição, pois de uma lado define as dificuldades de aprendizagem como “transtornos intrínsecos ao indivíduo, supondo-se devido à disfunção do sistema nervoso central”, atribuindo a definição de um problema per- tencente ao indivíduo, ou seja, irreversível, mas, em seguida, descreve que elas ocorrem “concomitantemente com outras condições incapacitantes ou com influências intrínsecas”, 34UNIDADE II Dificuldades de Aprendizagem da Leitura e Escrita as quais seriam o meio social, familiar e escolar de cada aluno, logo irreversível, uma vez que a criança pode receber cuidados e atenção com relação a esses aspectos. Outra concepção é apresentada por Dockreel e Mcshane (2000), na qual os autores fazem uma distinção entre as dificuldades – a específica, ou seja, as crianças apresentam dificuldades na leitura; e a geral, quando a criança tem um desempenho mais lento que o normal em muitas atividades que as realiza. As DAs são consideradas situações mais simples e passageiras, que, muitas ve- zes, fazem parte do processo natural de amadurecimento de todas as pessoas em algum momento da vida. As dificuldades de aprendizagem podem ser definidas como: [...] aquelas dificuldades experimentadas por todos os indivíduos em alguma matéria e/ou algum momento de sua vida escolar. Os fatores causadores dessas dificuldades estão relacionados a aspectos evolutivos ou são decor- rentes de problemas na proposta pedagógica, de padrões de exigência da escola, de falta de assiduidade do aluno, e de conflitos familiares eventuais. São em geral dificuldades naturais, evolutivas e, portanto, transitórias, que tendem a desparecer a partir de um esforço maior do aluno ou da ajuda de um professor particular (ROTTA; OHLWEILER; RIESGO, 2006, p. 104). Ademais, as DAs podem estar presentes como quadros secundários e outras situações diagnósticas primárias, como deficiência intelectual, deficiências sensoriais, transtornos mentais ou problemas neurológicos, sendo comorbidades desses quadros e necessitando de um trabalho interdisciplinar para um bom diagnóstico e atendimento desses pacientes. A compreensão do diagnóstico primário é muito importante para que seja executada uma ação mais correta em termos pedagógicos e escolares, pois poderão elucidar o tipo de exigência e oportunidades que devem ser oferecidas à criança e ao adolescente naquele momento (ROZEK; DOMINGUES, 2017). A DA consiste em um conjunto de fatores de ordem “[...] pedagógica, sócio-cultural, psicológica e econômica que proporcionam impedimento em aprender. Possui, assim, ori- gem extrínseca, ou seja, depende do meio ambiente para se desenvolver nosologicamente” (NEVES; BATIGÁLIA, 2011, p. 78). Em geral, a DA é consequência de situações ou acontecimentos frustrantes que marcaram negativamente a vida da criança. Segundo Ciasca (2003), podem ser de ordem emocional – perda de colega ou familiar, separação dos pais, brigas familiares, ambiente familiar com poucas práticas de letramento –; ordem escolar – mudança de escola, falta de vínculo com a professora, metodologias de aprendizagem inadequadas. Esses acon- tecimentos e essas situações influenciam no processo de aprendizado, tanto da leitura e escrita quanto raciocínio lógico-matemático (CASTAÑO, 2003). Isto posto, a DA não é centrada apenas na criança, o meio externo interfere. 35UNIDADE II Dificuldades de Aprendizagem da Leitura e Escrita Farias e Gracino (2019, p. 65) colaboram com essa concepção afirmando que as dificuldades de aprendizagem têm caráter provisório e referem-se a al- guns tipos de desordem que interferem no ritmo e no tempo de aprendiza- gem. Essas desordens podem ter algum tipo de origem familiar ou escolar, mas sempre são impulsionadas pelos meios sociais em que as crianças es- tão inseridas. Diante do exposto, as dificuldades de aprendizagem não se referem apenas ao alu- no ou a sua limitação em aprender, elas envolvem um grupo de fatores que estão presentes no dia a dia do aluno. É importante ressaltar que não há uma concordância a respeito dos motivos das dificuldades nem sobre as concepções adotadas ao definir o tema. Farias e Gracino (2019) corroboram afirmando que o conceito DA é um dos mais difíceis de se conceituar devido às diversidades teorias, modelos e definições que se propõem a esclarecer esse problema. Assim, a heterogeneidade referida confere, por si só, grande complexidade aos es- tudos de tais dificuldades, que somada à realidade educacional brasileira. Torna-se um grande desafio não só para aqueles que fazem parte do siste- ma educacional, mas para a sociedade como um todo (FARIAS; GRACINO, 2019, p. 35). Na imagem a seguir, observa-se, de forma didática, o conceito de DA (IDE, 2002). FIGURA 1 - DEFININDO A DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM Fonte: Osti (2004). Além do conceito de DA, alguns autores definem as suas variáveis. O tópico a se- guir aborda duas dessas variáveis, isto é, os termos distúrbio/transtorno de aprendizagem e o fracasso escolar. 36UNIDADE II Dificuldades de Aprendizagem da Leitura e Escrita 2. VARIÁVEIS QUANTO À DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM Em caso de dificuldades mais persistentes e profundas em determinada área, que se apresentam desde os momentos iniciais dos processos de aprendizagem, pode-se estar diante de um transtorno (distúrbios) de aprendizagem. Este é considerado uma inabilidade específica, como de leitura, escrita ou matemática, em indivíduos que apresentam resulta- dos significativamente abaixo do esperado para seu nível de desenvolvimento, escolaridade e capacidade intelectual. “[...] O transtorno deve ter estado presente desde os primeiros anos de vida [...], apesar do atendimento específico, o problema que a criança apresenta persiste, muitas vezes por toda a vida” (ROTTA; OHLWEILER; RIESGO, 2006, p. 127-128). O termo “distúrbio”, que pode ser substituído pelo vocábulo “transtorno”, é de ordem biológica. Diante disso, a presente discussão se embasará em autores que apresentam esses dois conceitos como sinônimos. Na Classificação de Transtornos Mentais e de Com- portamento (CID -10), Distúrbio de Aprendizagem é tido como comprometimento ou atraso no desenvolvimento de funções ligadas à maturação biológica da parte central do sistema nervoso, e que se inicia ainda na infância (OMS, 1993). Portanto, transtornos/ distúrbios de aprendizagem são comprometimentos e disfunções nos quais a causa é neurobiológica e a manifestação é comportamental, sugerindo a existência de um comprometimento neuroló- gico e das funções corticais específicas. Os transtornos/distúrbios de aprendizagem são devidos às disfunções do siste- ma nervoso central os quais estão relacionados aos problemas de processamento das 37UNIDADE II Dificuldades de Aprendizagem da Leitura e Escrita informações e cognição (MOOJEN; BASSÔA; GONÇALVES, 2016). Além disso, apresentam problemas tanto na aquisição quanto no desenvolvimento de funções cerebrais que estão dire- tamente ligados ao aprender (SIQUEIRA; GURGEL-GIANNETI, 2011). Portanto, nota-se que Distúrbio de aprendizagem é um termo genérico que se refere ao grupo hete- rogêneo de alterações manifestas por dificuldades significativas na aquisição e no uso da audição, fala, leitura, escrita, raciocínio ou habilidades matemáticas. Estas alterações são intrínsecas ao indivíduo e presumivelmente devidas à disfunção do sistema nervoso central (COLLARES; MOYSÉS, 1992, p.32). Diante disso, diferentementeda DA, os distúrbios/transtornos de aprendizagem estão relacionados às funções neurobiológicas. Conforme verifica-se na Figura 2. FIGURA 2 - DEFINIÇÃO DO CONCEITO DE DISTÚRBIOS/ TRANSTORNOS DE APRENDIZAGEM Fonte: Silver et al. (2008). Dessa maneira, o transtorno/distúrbio de aprendizagem é uma disfunção em um ou mais processos cognitivos associados à compreensão ou uso da linguagem (falada ou escrita) que pode se exteriorizar em uma disposição imperfeita, tais como: pensar, ouvir, falar, ler, escrever, soletrar ou fazer cálculos matemáticos. Essas inaptidões são verificadas no momento em que as crianças iniciam sua fase escolar (SCHIRMER; FONTOURA; NU- NES, 2004). Ao tratar de transtornos, muitos autores definem os cincos mais recorrentes no contexto escolar: Dislalia, Disgrafia, Disortografia, Dislexia e Discalculia. Esses transtornos classificam-se como as dificuldades no que diz respeito à matemática, já os quatro primeiros são dificuldades com relação à linguagem – leitura e escrita, conforme serão apresentados na Unidade III. 38UNIDADE II Dificuldades de Aprendizagem da Leitura e Escrita Considerando as definições descritas até o momento, percebe-se que os autores apontam definições específicas para diferenciar Dificuldade e Transtorno de Aprendizagem. Na figura a seguir, verifica-se as principais diferenças de cada conceito. FIGURA 3 - DIFICULDADE X TRANSTORNO DE APRENDIZAGEM Fonte: Farias e Gracino (2019). A seguir, no Quadro 1, define-se de forma sucinta cada um dos transtornos de aprendizagem, a fim de distingui-los das dificuldades de aprendizagem. QUADRO 1 - TRANSTORNOS DE APRENDIZAGEM Transtornos de aprendizagem Descrição Transtorno da leitura É caracterizado por dificuldades conside- ráveis no reconhecimento de palavras e na compreensão leitora. Transtorno da expressão escrita Refere-se a problemas significativos na habilidade de escrever ortograficamente e elaborar textos. Transtorno da matemática É definido como incapacidade na realização de operações aritméticas e resolução de problemas. Fonte: APA (2014) e OMS (1995). Outro termo muito importante, sintoma da contemporaneidade, é “fracasso escolar” que caracteriza-se como algo que não funciona, que impede a aprendizagem, que se man- 39UNIDADE II Dificuldades de Aprendizagem da Leitura e Escrita tém e se repete como sintoma, pode ser fruto de um mau encontro, um encontro traumático com as demandas incontestáveis da educação, incorporado por seus representantes, como: família, escola e Estado (COHEN, 2004). Farias e Gracino (2019) comentam que, antes de abordar o fracasso escolar, é preciso compreender o que se entende por sucesso escolar na atualidade. Sendo assim, afirmam que “o aluno que tem sucesso escolar é aquele que demonstra ter domínio da lin- guagem oral e escrita conforme o padrão esperado socialmente, bem como ter domínio de habilidades matemáticas suficientes para assegurar seu uso social” (FARIAS; GRACINO, 2019, p. 88). Porém, sabe-se que nem todos os alunos aprendem da mesma forma, nem no mesmo tempo, mas todos têm a capacidade de aprender. “Uma criança que fracassa é alguém que, em determinado momento e na avaliação da escola, não consegue aprender o que a instituição espera que aprendam os alunos da sua idade, necessitando de medidas concretas para corrigir a situação” (NUNES; SILVEIRA, 2008 apud LEAL; NOQUEIRA, 2012, p. 51). Assim, o fracasso escolar não se reduz apenas ao não aprender, já que muitas vezes a escola que legitima esse não aprender. Saviani (1982) explica o fracasso escolar priorizando a escolarização das mino- rias, isto é, das classes populares. Sendo assim, o estudioso partiu do pressuposto que a educação só é entendida a partir do momento que considera seus condicionantes sociais. Para isso, o autor apresenta dois conceitos: marginalidade social e a instância produtora do conhecimento. O primeiro conceito diz respeito a situação em que muitos sujeitos se encontram, à margem da sociedade, pois, ou não têm educação, ou a educação não é de qualidade. Já o segundo conceito refere-se à escola, cujo principal objetivo é ser instância produtora do conhecimento. Ainda para o autor, quando o assunto é superação do fracasso escolar, não deve desconsiderar os aspectos históricos e sociais em que esses alunos estão inseridos, uma vez que, reconhecer as classes sociais para a elaboração de estratégias pedagógicas, é imprescindível (SAVIANI, 1982). À vista disso, a partir das colocações e dos enfoques dos autores aqui apresen- tados neste tópico, há uma variedade de termos quando o assunto é a “dificuldade de aprendizagem”, porém, é necessário salientar que todas essas nomenclaturas, por mais que possam apresentar formas diversas de abordar as dificuldades, exigem uma investi- gação diagnóstica clínica desenvolvida, realizada por uma equipe de especialistas que vai desde o psicopedagogo, passando pelo psicólogo, o neurologista, o fonoaudiólogo, entre outros profissionais. E é só a partir de uma “[...] avaliação dessa equipe multidisciplinar será 40UNIDADE II Dificuldades de Aprendizagem da Leitura e Escrita possível vislumbrar o não aprender de maneira profissional e acertada para que não haja julgamentos precipitados e preconceituosos [...]”, visto que, em alguns casos, não raros, alguns alunos taxados como: disléxicos, desatentos, hiperativos etc. não os são (LEAL; NOGUEIRA, 2012, p. 54-55). SAIBA MAIS 3 Dicas para Driblar a Dificuldade de Aprendizagem das Crianças 1. Descubra as causas da dificuldade de aprendizagem Antes de buscar soluções para um problema, é importante identificá-lo corretamente. Pode ser que a dificuldade do seu filho esteja ligada a alguma barreira cognitiva, cul- tural ou até emocional. Então, o primeiro passo é identificar exatamente isso. Aliás, recomenda-se que esse diagnóstico seja feito já durante a educação infantil, a fim de evitar consequências maiores. De modo geral, as situações que costumam prejudicar o aprendizado, principalmente na infância, são: ● problemas familiares; ● excesso de atividades extracurriculares; ● mudanças (de escola ou cidade); ● problemas emocionais ou sócio culturais; ● efeitos de medicamentos; ● uso de drogas. 2. Identifique o melhor modus operandi da criança Depois de descobrir a dificuldade de aprendizagem, é interessante fazer o inverso. Os pais e professores precisam identificar a forma que a criança aprende mais facilmente. Um ótimo caminho para isso é examinar as avaliações dos pequenos para ver em quais disciplinas estão as dificuldades e em quais estão as facilidades. Diante disso, é possí- vel identificar as diferenças nos métodos e, então, trabalhar da forma que mais funciona com o seu filho. 3. Teste diferentes estratégias de ensino Seja em sala de aula ou em casa, vale testar estilos de aprendizagem fora da caixinha, 41UNIDADE II Dificuldades de Aprendizagem da Leitura e Escrita que podem ser desenvolvidas individualmente, em dupla ou em grupos. Além disso, o ambiente também pode interferir. Então, se quer minimizar a dificuldade de aprendiza- gem, leve seu filho para aprender no teatro, com jogos didáticos, com músicas ou até danças, o importante é testar. Fonte: Almeida (2018). REFLITA “O papel da escola não é mostrar a face visível da lua, isto é, reiterar o cotidiano, mas mostrar a face oculta, ou seja, revelar os aspectos essenciais das relações sociais que se ocultam sob os fenômenos que se mostram à nossa percepção imediata” (Dermeval Saviani). “[...] Por trás da mão que pega o lápis, dos olhos que olham, dos ouvidos que escutam, há uma criança que pensa” (Emília Ferreiro) 42UNIDADE II Dificuldades de Aprendizagem da Leitura e Escrita CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesta Unidade, primeiramente, abordou-se o conceito de Dificuldade de Aprendi- zagem e seu percurso histórico, trazendo asperspectivas de diferentes autores, a fim de compreender que o conceito de DA é algo complexo, não há uma definição pontual e exata. Em seguida, foram as variáveis quanto à DA, ou seja, o transtorno/distúrbio de aprendizagem e o fracasso escolar. Notou-se que, embora muitas vezes os termos “difi- culdade”, “transtorno” e “fracasso escolar” sejam utilizados como sinônimos, não têm os mesmos significados, pois se diferem a características, aos diagnósticos e às formas de tratamento. 43UNIDADE II Dificuldades de Aprendizagem da Leitura e Escrita LEITURA COMPLEMENTAR DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NO CONTEXTO ESCOLAR: possíveis estratégias didáticas e de intervenção Wildson Cardoso Assunção José Carlos de Freitas RESUMO: O objetivo deste artigo é descrever e refletir sobre algumas das dificul- dades de aprendizagem presentes no contexto escolar e, através disso, pontuar algumas das estratégias didáticas e de intervenção que podem ser utilizadas pelos professores. Trata-se um estudo teórico, na modalidade de revisão narrativa da literatura. Buscamos reunir algumas das discussões e propostas atuais que se basearam em questionamentos sobre inserção da Psicologia na Educação e tipos de estratégias didáticas utilizadas nas determinadas dificuldades de aprendizagem. Os achados mostram que existem constantes diálogos entre a Psicologia e a Educação, havendo possibilidades de trabalhar dificuldades de aprendizagem com uso de recursos que podem se adequar à estrutura das escolas, com intuito de facilitar o processo de aprendizagem. Palavras-chave: Dificuldades de Aprendizagem. Transtornos de Aprendizagem. Estratégias Didáticas. Acesse: CARDOSO, W.; ASSUNÇÃO, J. C. de F. Dificuldades de aprendizagem no contexto escolar: possíveis estratégias didáticas e de intervenção. Revista Exitus, Santa- rém, v. 9, n. 5, p. 391-420, Edição Especial 2019. Disponível em: https://www.researchgate. net/publication/337913085_Dificuldades_de_aprendizagem_no_contexto_escolar_possi- veis_estrategias_didaticas_e_de_intervencao. Acesso em: 17 ago. 2020. 44UNIDADE II Dificuldades de Aprendizagem da Leitura e Escrita MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO Título: Dificuldades e distúrbios de aprendizagem. Autor: Elizabeth Regina Streisky de Farias e Eliza Ribas Gracino Editora: InterSaberes; Sinopse: Neste livro, são abordadas as concepções de Dificulda- des e distúrbios de aprendizagem, a fim de promover uma dinâ- mica criativa, envolvente e otimizada em sala de aula, bem como identificar e compreender os obstáculos de aprendizagem que os alunos enfrentam. FILME/VÍDEO Título: Sempre Amigos Ano: 1998 Sinopse: Narra a história de Maxwell Kane, um garoto de 14 anos que tem dificuldades de aprendizado e vive com seus avós desde que testemunhou o assassinato de sua mãe, morta pelo marido. Um belo dia, Kevin Dillon, um garoto que sofre de distrofia mus- cular, se muda para a vizinhança, eles logo se tornam grandes amigos. Juntos vivem grandes aventuras, enfrentando o precon- ceito das pessoas à sua volta, que dizem que, ao carregar Kevin no pescoço, Maxwell é o corpo e Kevin é o cérebro. Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=wBDUX- pX1AAg 45 Plano de Estudo: ● Dislalia, Disgrafia, Disortografia e Dislexia e suas concepções. ● Sinais e sintomas de Dislalia, Disgrafia, Disortografia e Dislexia. ● Possíveis causas da Dislalia, Disgrafia, Disortografia e Dislexia. Objetivos da Aprendizagem ● Conceituar e contextualizar os Transtornos Específicos de Linguagem ● Compreender os conceitos e definições da Dislalia, Disgrafia, Disortografia e Dislexia. ● Entender os sinais e os sintomas, bem como as causas de cada Transtorno Específico de Linguagem. UNIDADE III Dislalia, Disgrafia, Disortografia e Dislexia Professora Mestre Sâmia Leticia Cardoso dos Santos 46UNIDADE III Dislalia, Disgrafia, Disortografia e Dislexia INTRODUÇÃO Prezado(a) estudante, seja bem-vindo(a) à Unidade III da apostila de Intervenção Psicopedagógica na Aprendizagem da Leitura e Escrita. Nesta unidade, você irá conhe- cer os Transtornos Específicos de Linguagem. Primeiramente, serão abordadas as concepções dos Transtornos Específicos de Linguagem, tanto o que se refere à fala - Dislalia, quanto os relacionados à escrita - Dis- grafia, Disortografia e Dislexia. Em seguida, relata-se os sinais e sintomas de cada Transtorno Específico de Linguagem, descrevendo as concepções explanadas por diferentes autores. Por fim, serão apresentadas as causas de cada Transtorno Específico de Lingua- gem, pautando-se em pesquisas educacionais e neurológicas. Nesta Unidade, você compreenderá os transtornos de aprendizagem relacionados à linguagem oral e escrita, suas concepções, sinais e sintomas e causas. Esses transtornos apresentam nomes atípicos, mas não se assuste, pois os conceitos são claros, além disso são essenciais para o aprendizado acadêmico e profissional. Vamos lá? Bons Estudos! 47UNIDADE III Dislalia, Disgrafia, Disortografia e Dislexia 1. DISLALIA, DISGRAFIA, DISORTOGRAFIA E DISLEXIA E SUAS CONCEPÇÕES O Transtorno Específico de Linguagem ocorre durante o período de aquisição da linguagem oral e escrita. De acordo com Farias e Gracino (2019), esses transtornos são divididos em dois grupos: transtorno de articulação da fala (Dislalia) e os transtornos rela- cionados à escrita (Disgrafia, Disortografia e Dislexia). A palavra dislalia vem do grego, o termo “dys” que significa dificuldade e “lalien”, do verbo falar (LIMA, 2008). Ela caracteriza-se como um transtorno do neurodesenvolvi- mento, cuja peculiaridade é a “dificuldade em articular palavra; pode ser uma pronúncia ruim, omitindo-se ou acrescentando-se fonemas”, assim as crianças que apresentam esse transtorno “fazem uma utilização dos fonemas em nível inferior ao que se espera para sua idade” e, consequentemente, poderá comprometer também a escrita (FARIAS; GRACINO, 2019, p. 72). Em concordância com a definição abordada, Eberhart e Cauduro (2013, p.10) afirmam que “na dislalia surge uma alteração na fala”, porque ocorre uma “imprecisão articulatória afetando padrões de produção de sons da língua, relacionados às fases de programação e ou execução neuromotora. Esta ocorre quando a criança está começando a falar”. Diante disso, é preciso salientar que as crianças só podem ser diagnosticadas por profissionais adequados após os oito anos, uma vez que antes dessa idade não possuem maturidade para produzir todos os sons linguísticos. 48UNIDADE III Dislalia, Disgrafia, Disortografia e Dislexia Conforme Souza e Fontanari (2015), a dislalia pode apresentar quatro formas diferentes: ● Dislalia Evolutiva: é a fase considerada “normal”, que pode durar até os quatro, desaparecendo durante o desenvolvimento da criança. ● Dislalia Funcional: é resultado da substituição (ou eliminação) de uma letra por outra no momento da pronúncia, inserindo ou distorcendo o som da palavra. ● Dislalia Audiógena: ocorre devido a deficiência auditiva, interferindo na produ- ção dos sons das palavras. ● Dislalia Orgânica: advém de uma lesão no encéfalo (cérebro) ou devido alguma alteração física na boca ou na língua. No que concerne aos Transtornos Específicos de Linguagem referentes à escrita, tanto podem afetar a escrita propriamente dita (disgrafia e disortografia), quanto a leitura (dislexia). A disgrafia, de acordo com a etimologia da palavra, “dis” significa desvio, “grafia” refere-se à escrita, ou seja, a criança apresenta dificuldades ao realizar tarefas básicas re- lacionadas ao ato de escrever. Sendo assim, trata-se de “uma perturbação de tipo funcional que afeta a qualidade da escrita do sujeito, no que se refere ao seu traçado ou à grafia” (TORRES; FERNÁNDEZ, 2001, p. 127). Cinel (2003) define disgrafia como uma desordem da escrita referente ao traçado das letras e à disposição dos conjuntos gráficos no espaço utilizado.
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