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IntervençãoIntervenção psicopedagógica napsicopedagógica na aprendizagem da leitura eaprendizagem da leitura e escritaescrita AUTORIA Sâmia Leticia Cardoso dos Santos Bem vindo(a)! Seja bem-vindo(a), caro(a) estudante, à apostila intitulada intervenção psicopedagógica na aprendizagem de leitura e escrita. Na Unidade I você irá compreender as principais Teorias Psicopedagógicas que, ao longo dos anos, investigaram o desenvolvimento humano e aprendizagem. Essas teorias são fundamentais para a Psicopedagogia, uma vez que auxiliam a compreensão dos processos de aprendizagem nos diversos âmbitos, ou seja, prevenção, diagnóstico e tratamentos das di�culdades de aprendizagem, tema este que será abordado na Unidade II. As di�culdades de Aprendizagem (doravante DAs) de Leitura e Escrita serão discutidas por meio de diversos autores que se dedicam a investigar essa área. Inicialmente, apresenta-se o conceito e a caracterização de DA, em seguida, explana-se a respeito das Di�culdades de Aprendizagem e suas variáveis, isto é, os Transtornos/Distúrbios de Aprendizagem, bem como o fracasso escolar. Após compreender, de forma geral, o conceito de Transtornos de Aprendizagem, na Unidade III você irá estudar os transtornos relacionados à leitura e à escrita, mais especi�camente, Dislalia, Disgra�a, Disortogra�a e Dislexia, suas de�nições, sinais e sintomas, do mesmo modo suas possíveis causas. Para concluir a apostila, a Unidade IV aborda a importância das intervenções no processo de leitura e escrita. Para tanto, apresenta-se o que seriam essas intervenções, descrevendo como os jogos e as tecnologias podem contribuir signi�cativamente na intervenção no que diz respeito aos Transtornos Especí�cos de Linguagem. Caro(a) estudante, antes de iniciar os estudos, lembre-se que a apostila não irá abordar minuciosamente toda a temática. Por essa razão, nas leituras complementares, você encontrará interessantes estudos e abordagens. Aproveite! Muito obrigado e bom estudo! Unidade 1 Teorias Psicopedagógicas AUTORIA Sâmia Leticia Cardoso dos Santos Introdução Prezado(a) estudante, Seja bem-vindo(a) à Unidade I da apostila de Intervenção Psicopedagógica na Aprendizagem da Leitura e Escrita. Nesta unidade, você irá compreender as principais teorias psicopedagógicas e seus teóricos. Primeiramente, aborda-se a Teoria Interacionista de Jean Piaget, cujo objetivo é descrever suas principais concepções referentes ao desenvolvimento humano e à aprendizagem. Em seguida, explana-se a Teoria Sociointeracionista – perspectiva de Vygostky – a respeito do desenvolvimento humano e da aprendizagem, evidenciando conceitos relacionados à linguagem e à importância da mediação social. Por �m, descreve-se a Teoria Ambientalista, concepção de Skinner, abordando o desenvolvimento humano e a aprendizagem. Nesta unidade, convido você a adentrar nas Teorias Psicopedagógicas. Mas, antes disso, você deve re�etir sobre alguns aspectos: no decorrer de nossas vidas, ou seja, da fase infantil até à velhice, muitas transformações ocorrem, certo? Como será que acontecem essas transformações (esse desenvolvimento)? Como aprendemos? Todos nós aprendemos da mesma forma? Os fatores externos (cultural, social e histórico) in�uenciam o desenvolvimento? Esses questionamentos serão abordados nas três teorias que você irá aprender. Vamos lá? Piaget e Freud: teoria interacionista AUTORIA Sâmia Leticia Cardoso dos Santos Ao longo da história, muitos pesquisadores desenvolveram estudos para compreender como ocorria o processo de aprendizagem dos indivíduos. Um desses estudiosos foi Jean William Fritz Piaget, considerado um dos maiores pesquisadores no campo da educação na metade do século XX. Nasceu na pequena cidade Neuchâte, localizada na parte ocidental da Suíça, em 9 de agosto de 1896. Filho de um estudioso e professor de História e uma devota religiosa. No início de sua vida, aos 11 anos, publicou seu primeiro artigo sobre um pardal albino. Sua vida acadêmica iniciou-se com os estudos em biologia, cursou a graduação, o mestrado e, mais tarde, concluiu o doutorado na mesma área, na Universidade de Neuchâtel. Posteriormente, investiu seus estudos na área de Psicologia, Epistemologia e Educação (PALANGANA, 2015, p. 14). De acordo com Davis e Oliveira (1994, p. 37), a princípio, Piaget trabalhou com os psicólogos franceses Binet e Simon, os quais tinham como objetivo elaborar um instrumento para mensurar a inteligência das crianças que estudavam nas escolas francesas. Posteriormente, Piaget dedicou-se às pesquisas psicológicas, as quais tinham como intuito conhecer a criança e como acontecia o seu desenvolvimento, buscando compreender o ser humano a �m de aprimorar métodos pedagógicos. A partir dessa constatação, Piaget aderiu ao método clínico, inspirado em Sigmund Freud, em que o inconsciente apresentava um papel fundamental para compreender o desenvolvimento e o funcionamento da personalidade humana. À vista disso, faz-se necessário compreender a concepção psicanalítica apresentada por Freud, uma vez que in�uenciou diretamente a Teoria Interacionista. Sigmund Freud Fonte: wikipedia Sigmund Freud, considerado o pai da Psicanálise, nasceu Freilberg, na antiga Tchecoslováquia (atual Pribor, que pertence à República Tcheca), �lho de judeus. Ainda com três anos de idade, mudou-se com sua família para Viena (capital da Áustria), onde viveu grande parte de sua vida. Em 1938, em razão de sua etnia judaica, Freud foi obrigado a retirar-se de sua cidade e refugiar-se na Inglaterra, porque os nazistas ocuparam Viena. Um ano depois, em 1939, aos 83 anos de idade, o câncer o levou à morte. Com relação à vida pro�ssional, inicialmente, Freud dedicou-se aos estudos das doenças mentais, utilizando técnicas e métodos de Jean-Martin Charcot e Joseph Breuer. Com o passar do tempo, criou sua própria teoria com base nos fenômenos psíquicos. A concepção psicanalítica de Freud tornou-se um método de investigação para Piaget, posto que investiga e interpreta aquilo que está oculto, isto é, o inconsciente do sujeito (NOGUEIRA; LEAL, 2018). Com base na concepção psicanalítica de Freud, durante sua pesquisa, Piaget aplicou teste em grande número de crianças, os resultados foram surpreendentes, porque as respostas incorretas eram mais interessantes que as corretas, além disso as crianças da mesma faixa etária cometiam erros semelhantes. “Daí a ideia central da teoria: a lógica de funcionamento mental da criança é qualitativamente diferente da lógica adulta” (PALANGANA, 2015, p. 14). Isto fez com que Piaget repensasse seu método de análise, ou seja, investigar as soluções apresentadas pelas crianças, desviando a atenção na quantidade de respostas corretas. Portanto, era necessário investigar por meio de quais processos ou mecanismos acontecem essa transformação. Assim, ancorado na concepção freudiana, Piaget criou o seu próprio método para investigar o desenvolvimento infantil. Suas pesquisas deram início a sua grande obra, conhecida como Epistemologia Genética, cujos objetos de estudos são o conhecimento cientí�co (epistemologia) e a gênese (genética), isto é, a origem desse conhecimento. Desse modo, sua teoria tem como base o sujeito em seu processo de construção do conhecimento (NOGUEIRA; LEAL, 2018). Piaget constatou que o conhecimento é resultado da interação entre o sujeito e os meios físico e social, surgindo, assim, a Teoria da Interação. Para Piaget (1978, p. 6), “o conhecimento resultaria de interações que se produzem a meio caminho entre os dois, dependendo, portanto, dos dois ao mesmo tempo, mas em decorrência de uma indiferenciação completa e não de intercâmbio entre formas distintas”. Além da meio físico e social, para compreender o desenvolvimento natural da criança apresentado por Piaget, é imprescindível considerar in�uência da maturação neuro�siológica, do crescimento orgânico do corpo e da carga genética hereditária. Diante disso, conforme a Figura 1, o sujeito (a criança) e o social (objeto) não podem ser dissociados, uma vez queum in�uencia e estimula o outro. A criança, em um determinado ambiente, modi�ca o meio social, assim como é modi�cada por ele, especialmente na interação com outros indivíduos. Sendo assim, “o desenvolvimento se constrói na e pela interação da criança com outras pessoas de seu ambiente, particularmente com aquelas mais envolvidas afetiva e efetivamente em seu cuidado” (OLIVEIRA et al., 1999, p. 30). A interação de Piaget Sujeito Objeto Fonte: a autora. Como dito anteriormente, Piaget começou a se interessar pelas respostas incorretas, uma vez que elas eram consideradas erradas a partir do ponto de vista dos adultos, mas apresentavam uma lógica infantil, concluindo, assim, que a criança possui uma lógica de funcionamento mental que difere qualitativamente da lógica do funcionamento mental do adulto. Propõe-se consequentemente a investigar como, através de quais mecanismo, a lógica infantil se transforma em lógica adulta (DAVIS; OLIVEIRA, 1994, p. 37, grifos dos autores). Isto posto, Piaget desenvolveu um estudo dos diferentes níveis de desenvolvimento tanto intelectual quanto afetivo vivenciado pelo ser humano. Considerando que a evolução do conhecimento é um processo contínuo, a qual se constrói através da interação entre o sujeito e o meio (físico e social). Assim, devido às ações das crianças e das oportunidades que o ambiente possibilita à ela, motivado pela sua formação biológica, o desenvolvimento se constrói, passando por estágios sucessivos de organização do campo cognitivo e afetivo. Logo, as crianças passam por um processo de equilibração, ou seja, transitam de um nível de conhecimento simples a outro mais complexo (NOGUEIRA; LEAL, 2018). Para de�nir como ocorre essa transformação do conhecimento infantil, Piaget adotou o termo equilibração majorante que, como o próprio nome o de�ne, é o momento de equilíbrio durante a interação entre o sujeito e o meio físico e sociocultural, porém esse equilíbrio é sempre instável, já que constantemente surgem obstáculos. A partir de qualquer obstáculo, não há mais equilíbrio na interação e, consequentemente, o sujeito entra em uma situação de desequilíbrio. Assim, através desse desequilíbrio, o sujeito será desa�ado, obrigando-o a encontrar novas adaptações para que novos conhecimentos sejam construídos. (NOGUEIRA; LEAL, 2018). Nesse caso, para restabelecer o equilíbrio perdido, o indivíduo precisa mobilizar os mecanismos de inteligência: a assimilação e a acomodação. Para a teoria piagetiana, a Assimilação é “ação do sujeito sobre o objeto do conhecimento, podendo incorporar esse objeto a esquemas mentais já existentes no sujeito” (NUNES; SILVEIRA, 2009, p. 87), assim, o processo em que a criança adquire uma nova informação e incorpora-a nas ideias já adquiridas em seu psiquismo. Esse processo de assimilação é subjetivo, uma vez que cada sujeito incorpora essa nova informação de uma maneira singular e individual, concordando com as crenças já presentes em cada indivíduo. Já a acomodação é compreendida como o processo de combinação ou modi�cação de esquemas para solucionar problemas a partir das novas experiências dentro do ambiente, isto é, “um aspecto da atividade cognitiva que envolve a modi�cação das estruturas mentais ou dos esquemas sensório-motores para corresponder aos objetos da realidade” (NOGUEIRA; LEAL, 2018, p. 127). Desse modo, a partir da acomodação, o sujeito (criança) é capaz de resolver o problema, restabelecendo o equilíbrio perdido (a equilibração majorante). Isto posto, o indivíduo desenvolve-se e adquire novos conhecimentos. A seguir será detalhado como ocorre esse desenvolvimento. Os Estágios do Desenvolvimento Cognitivo: da Infância à Vida Adulta Segundo Piaget, o desenvolvimento cognitivo é estruturado por estágios (ou períodos, ou etapas). Esses estágios dividem-se em quatro momentos de “desenvolvimento ao longo do qual a criança constrói certas estruturas cognitivas” (DAVIS; OLIVEIRA, 1994, p. 39). Além disso, faz-se importante salientar que Piaget apresentou em seus estudos idades mais ou menos aproximadas. Ademais, dentro de cada estágio, os sujeitos apresentam ritmos de desenvolvimentos diferentes. Porém, todas as crianças passaram por esses estágios, mais cedo ou mais tarde, dependendo tanto do seu desenvolvimento biológico quanto do desenvolvimento no meio físico e social (sociocultural) e familiar em que vivem. Sendo assim, as relações estabelecidas com a família, os professores, os colegas e a manipulação de objetos, tais como brinquedos, blocos, jogos, são alicerces fundamentais para os diversos desenvolvimentos – linguístico, intelectual, afetivo, moral. Portanto, só há evolução mental da criança, se houver interação. (NOGUEIRA; LEAL, 2018). No quadro a seguir, ancorado em Nogueira e Leal (2018), há uma descrição de cada período de�nido por Piaget. Os quatro estágios de desenvolvimento cognitivo Estágios de Desenvolvimento Cognitivo Faixa etária Características Sensório-motor Dos 0 – 2 anos(aproximadamente) Os bebês se desenvolvem por meio do desenvolvimento sensorial e motor, assim eles aprendem através do desenvolvimento de seus sentidos (sensório) e da atividade motora (motor). Neste estágio, o desenvolvimento físico dá suporte para o surgimento de novas habilidades: andar, sentar, agarrar chutar e etc. Pré-operatório Dos 2 – 7 anos(aproximadamente) A principal conquista, neste estágio, é a linguagem (a fala), reconstruindo o passado e antecipando o futuro pela representação verbal. Há mudanças de conduta e afetiva, pois a linguagem oportuniza as trocas entre a criança e o meio sociocultural. Além disso, o ser humano é o centro de tudo (egocentrismo), por isso é a estágio dos “porquês”. Operacional concreto Dos 7 - 11 anos (aproximadamente) Surgem novas construções, por isso é estágio das operações concretas, desenvolvendo um pensamento lógico a respeito das coisas concretas. A realidade não é mais vista pela percepção, mas, sim pela razão. Já possui um raciocínio lógico mais aguçado, sendo capaz de relacionar, comparar coisas segundo parâmetros lógicos e consegue realizar as Diante dos estágios (fases, etapas ou períodos) de desenvolvimento cognitivo, compreende-se que esses processos ocorrem de modo lento e gradual, permitindo uma quantidade considerável de mudanças evolutivas, já que a evolução do pensamento cognitivo ocorre do nascimento até a morte, porque o indivíduo apresenta uma capacidade in�nita de aprender e adquirir novos conhecimentos. O Processo de Ensino-Aprendizagem a partir da Teoria Interacionista O interacionismo piagetiano ganhou força no Brasil a partir da década de 1980. No início de suas pesquisas, Piaget não imaginava que seus estudos auxiliariam muitos professores a compreender o processo de aprendizagem de seus alunos. De acordo com Maia (2017, p. 54), o objetivo da educação para a premissa piagetiana é “potencializar”, isto é, possibilitar “a construção das estruturas cognitivas”, bem como colaborar com o “desenvolvimento dos estágios propostos”. Para isso, É preciso associar os conteúdos escolares à competência cognitiva dos sujeitos e relacionar as questões curriculares às noções universais, de modo que a metodologia de ensino explicite que o conhecimento é resultado de um processo de construção, ou seja, da apropriação progressiva de um objeto (suas características) pelo sujeito (MAIA, 2017, p. 54). Assim, diferentemente da concepção tradicional de ensino na qual o professor é transmissor do conhecimento, as ideias de Piaget demonstram que o aluno constrói o conhecimento, cabendo aos professores e aos familiares propiciar ao primeiras operações aritméticas e geométricas. Operacional Formal 12 anos em diante Surge a capacidade de pensamento abstrato, ou seja, pensar por hipótese. O adolescente passa a pensar sobre o real e o possível, portanto “as operações lógicas começam a ser transportadas do plano da manipulação concreta para o das ideias” (PIAGET, 2004, p. 59 apud NOGUEIRA; LEAL, 2018). Fonte: adaptado de Nogueira e Leal (2018). aluno/�lhoexperiências, para que ele consiga agir e construir conceitos (MAIA, 2017, p. 54). Por esse motivo, os professores começaram a planejar suas aulas e suas atividades com base nos estágios em que os alunos se encontram, propiciando vivenciar o equilíbrio, passando pelo desequilíbrio e, retornando ao equilíbrio, a �m de produzir progressos cognitivos a partir dos desa�os e das situações-problema. “Essas situações modi�cam a estrutura do pensamento de cada aluno,”, além disso, proporcionam um crescimento mental cada vez mais elevado e sadio” (NOGUEIRA; LEAL, 2018, p. 138). Atualmente, embora tenham surgido novas teorias de aprendizagem, muitos professores do Brasil e do mundo ainda utilizam essa base teórica como forma de alcançar os resultados positivos em sala de aula. Vigotski: teoria sociointeracionista AUTORIA Sâmia Leticia Cardoso dos Santos A teoria de Vigotski, intitulada Sociointeracionista, adotou um novo nível de desenvolvimento, uni�cando a gênese e a natureza social das funções psicológicas. Ou seja, essa teoria explica a origem e evolução do psiquismo humano, bem como as relações entre indivíduos e sociedade, destacando a importância de que a cognição deve ser investigada em um contexto sócio-histórico e cultural. Antes de compreender a teoria, é importante conhecer brevemente a biogra�a de Lev Semyonovich Vygotsky. Ele nasceu no dia 17 de novembro de 1896, em Orsha, cidade próxima a Minsk, capital da Bielo-Rússia (a partir do �m da União Soviética, passou a se chamar Belarus). Filho de uma culta e rica família judia. Desde a infância, sempre teve incentivo para se dedicar aos estudos, pois teve um tutor que o auxiliava na realização de todas as atividades. Aos 17 anos, concluiu o curso secundário (NOGUEIRA; LEAL, 2018). Um ano depois, com 18 anos, Vygotsky iniciou o curso de Medicina, porém não o concluiu, optando pelo curso de Direito da Universidade de Moscou. Além disso, também estudou Literatura e História da Arte. Em 1917, graduou-se em Direito e apresentou um trabalho cujo título era “Psicologia da Arte”, que só foi publicado na Rússia em 1965. Mais tarde, retornou para Gomel, onde dedicou-se à Literatura e à Psicologia, realizando palestras em várias escolas (NOGUEIRA; LEAL, 2018). Segundo Nogueira e Leal (2018), Vygotsky fundou uma editora, uma revista literária e um laboratório de psicologia no Instituto de Treinamento de Professores, onde ministrava cursos de Psicologia. Para colaborar com o desenvolvimento dessas crianças, dedicou-se exclusivamente aos estudos dos processos mentais humanos. Em 1924, recebeu o convite para trabalhar no Instituto de Psicologia de Moscou. Os estudos de Vygotsky compreendiam uma psicologia fundamentada nos princípios do materialismo histórico e dialético, já que tinha uma concepção de que o homem não é produto do meio, mas, sim historicamente constituído e constituinte nas relações com a sociedade. À vista disso, “por meio da construção de uma nova psicologia pautada na historicidade do homem e em sua totalidade, possibilitou a compreensão da constituição do sujeito e de sua subjetividade através de um processo capaz de ir em direção a um sujeito social” (NOGUEIRA; LEAL, 2018, p. 153). Desse modo, o homem é indivíduo que transforma e é transformado pelas interações. Por isso, é necessário que se entenda que o desenvolvimento da criança está relacionado às condições da organização social, consequentemente, ao estudar o desenvolvimento infantil, deve-se considerar “o vínculo entre criança e sociedade ou o lugar que a criança ocupa no sistema das relações sociais em um determinado momento histórico” (PASQUALINI, 2011, p. 166). Isto posto, diferentemente da teoria piagetiana já abordada, para Vygotsky, os aspectos biológicos não são su�cientes para o desenvolvimento da aprendizagem, uma vez que a criança precisa estar inserida em ambientes e práticas especí�cas que possibilitem seu desenvolvimento, porque a criança não se desenvolve sozinha. Para compreender a teoria de Vygotsky, é necessário entender o conceito das funções psíquicas superiores, as quais referem-se tanto aos “processos de domínio dos meios externos de desenvolvimento cultural e do pensamento: a linguagem, a escrita, o cálculo, o desenho” quanto aos “processos de desenvolvimento das funções psíquicas superiores especiais, não limitadas nem determinadas com Lev Vygotsky Fonte: wikipedia exatidão, que na psicologia tradicional se denominavam atenção voluntária, memória lógica, formação de conceitos, etc.” (VYGOTSKY, 1995, p. 29 apud MESQUITA, 2010, p. 70). Portanto, as funções psíquicas superiores são mecanismos mais so�sticados, os quais dizem respeito ao controle consciente do comportamento, à atenção e lembrança voluntária, à memorização ativa, ao pensamento abstrato, ao raciocínio dedutivo, e à capacidade de planejamento. Todas essas habilidades são exclusivas da espécie humana. Diante disso, o desenvolvimento é compreendido, pela teoria vigotskiana, como um processo evolutivo, no qual essas funções psicológicas superiores surgem nas relações entre indivíduos e se desenvolvem nas internalizações. A partir desse conceito, o estudioso Vygotsky compreende o “processo de mediação, através de instrumentos e signos, é fundamental para o desenvolvimento das funções psicológicas superiores, distinguindo o homem dos outros animais”. Ademais, “é um processo essencial para tornar possível as atividades psicológicas voluntárias, intencionais, controladas pelo próprio indivíduo” (OLIVEIRA, 2002, p. 26). Segundo Oliveira (2002, p. 26), a “mediação em termos genéricos é o processo de intervenção de um elemento intermediário numa relação; a relação deixa, então, de ser direta e passa a ser mediada por esse elemento”. No esquema a seguir (Figura 2), nota-se a relação estabelecida entre a mediação e os signos e instrumentos. O processo de mediação Mediação Instrumentos Signos Fonte: a autora. À vista disso, a relação do indivíduo (criança) com o mundo não ocorre de maneira direta, ou seja, depende do elo estabelecido pelos instrumentos e signos. Diante dos signos, a linguagem escrita é fundamental na mediação das funções mentais superiores, uma vez que o conhecimento é adquirido nas relações entre os indivíduos, por meio da linguagem e da interação social. Além do mais, o signo pode ser compreendido como os objetos ausentes, por exemplo, alguém diz eu comprei um cadeira de praia, embora quem ouça não esteja próximo a uma cadeira desse tipo, consegue visualizá-la em pensamento. Logo, os signos representam coisas no mundo. Já os instrumentos podem ser de�nidos como os objetos utilizados por esse indivíduo para realizar uma determinada função. Por um exemplo, o indivíduo pode cortar algo com a mão, mas com um machado consegue cortá-lo de modo mais e�ciente. Assim, o homem faz/utiliza esses objetos para �ns especí�cos Dessa maneira, surge a concepção de Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP), de�nida por Vygotsky (2007, p. 97) como a distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes. Conforme nota-se na imagem a seguir: Conceito da Zona de Desenvolvimento Proximal Nível de dese nvolvimento real Nível de dese nvolvimento potencial Zona de desenvolvimento proximal Fonte: a autora. De acordo com a Figura, é possível compreender um dos conceitos centrais da Psicologia Sociocultural. O Nível de Desenvolvimento Real é determinado pela capacidade de realizar/resolver tarefas ou problemas de forma independente. Já o Nível de Desenvolvimento Potencial é determinado pelos desempenhos possíveis com auxílio de adultos, familiares ou colegas mais desenvolvidos. Toda criança é capaz de desenvolver esse conhecimento, mas, inicialmente, precisa da ajuda de quem já possui esse conhecimento para poder solucionar, pois os processos mentais aindanão amadureceram ou estão em construção. Logo, a Zona de Desenvolvimento Proximal refere-se à mediação, isto é, a colaboração do professor, a ajuda do país, o auxílio dos colegas, os quais vão proporcionar o desenvolvimento da aprendizagem. Então, a criança sairá do Nível de Desenvolvimento Potencial e alcançará o Nível de Desenvolvimento Real. Outros dois conceitos desenvolvidos pela teoria vygotskiana são o pensamento e a linguagem, os quais são o primeiro plano na relação das diversas funções psicológicas. Mas, antes de compreender a teoria do pensamento e da linguagem, é necessário entender a categoria atividade abordada pelo psicólogo, pois é “por meio da atividade que o homem constitui as relações humanas e transforma o mundo. Ao se apropriar da realidade externa, ocorre uma atividade interna de apropriação e de articulação do novo”. Desse modo, “é na atividade que o ser humano desenvolve sua capacidade cerebral” (NOGUEIRA; LEAL, 2018, p. 153). Ribeiro, Silva e Carneiro (2017, p. 396) colaboram com essa a�rmação ao dizer que a aprendizagem conduz o desenvolvimento e é responsável pela determinação do comportamento humano de superação, transformação e suscitação constante – principalmente, por meio da linguagem. Nesse sentido, a linguagem é o instrumento de mediação entre o eu e o outro, é a base da constituição e da formação da subjetividade humana. Para essa teoria, a linguagem tem uma função comunicativa. Através das palavras se estabelece comunicação com outro, assim, o sujeito dialoga, argumenta, informa, ensina, aprende entre outras capacidades desenvolvidas exclusivamente pelo ser humano racional. À vista disso, é mediante a linguagem que se expressa o pensamento humano, proporcionando as interações humanas, na qual o falante constitui-se em sujeito, uma vez que na ausência da linguagem não existe sujeito, nem interação. Como dito anteriormente, o que distingue o ser humano dos outros animais é a capacidade de verbalizar os pensamentos por meio da linguagem, por esse motivo Vygotsky (2007) dedicou-se a estudar o processo de aquisição da linguagem. De acordo com o psicólogo, esse processo ocorre de forma isolada no desenvolvimento infantil e sua aquisição in�uencia e transforma o comportamento da criança, além disso, a linguagem materializa o aparecimento de condutas, ou seja, a maneira de compreender o mundo. Na aquisição da linguagem, o caráter social está muito presente, dado que é nítida a necessidade da interação entre a criança e o adulto no progresso da linguagem, porque essa mediação faz com a criança se introduza no mundo social. Portanto, o desenvolvimento da linguagem não está ligado apenas aos fatores maturativos, exige interação afetiva e apropriada com ambiente em que está inserida (VYGOTSKY, 2007). Para a Teoria Sociointeracionista, segundo Miranda e Senra (2012), a aquisição da linguagem provoca o desenvolvimento do pensamento, visto que através das palavras o pensamento ganha existência. A linguagem representa uma ponte que liga o mundo sociocultural e os processos mentais. Vygotsky descreve a linguagem como a pedra angular do desenvolvimento cognitivo do ser humano. A Teoria de Sociointeracionista: um Novo Olhar para o Contexto Escolar Considerando que o conhecimento só ocorre por meio das interações coletivas, das relações com o outro, cabe à escola, ao ensino-aprendizagem, aos professores propiciarem o desenvolvimento cognitivo, cada qual de acordo com a sua respectiva função. Considerando que o conhecimento só ocorre por meio das interações coletivas, das relações com o outro, cabe à escola, ao ensino-aprendizagem, aos professores propiciarem o desenvolvimento cognitivo, cada qual de acordo com a sua respectiva função. A escola precisa oferecer conteúdos e desenvolver modalidades de pensamentos particulares, bem como tem responsabilidade sobre a apropriação pelo sujeito da experiência culturalmente vivenciada, mediante as atividades sistemáticas as quais têm a função de tornar acessível o conhecimento formalmente organizado, O ensino-aprendizagem precisa considerar os conhecimentos prévios dos alunos e, com base nesses conhecimentos, elaborar estratégias para desenvolver o cognitivo dos alunos. Nas aulas, deve haver discussões e interações em grupo, bem como há a necessidade de proporcionar um clima amigável, para que se estabeleça harmonia diante das diferentes opiniões de cada aluno. Já o professor precisa atuar na “Zona de Desenvolvimento Proximal” como mediador, cujo objetivo é construir a aprendizagem e o desenvolvimento através da interação. Ademais, proporciona momentos de experiências, diálogos, palestras, discussões em grupo, sem dar respostas prontas, a�nal o intuito é que o aluno construa seu próprio conhecimento E, por �m, a peça principal, o aluno, precisa interagir com os colegas, com os professores e com o meio social, buscando através dessas relações, construir seu próprio conhecimento. Teoria Interacionista vs Teoria Socioconstrutivista Após o percurso de compreensão de ambas teorias, quais são as diferenças entre a Teoria Interacionista e a Teoria Sociointeracionista? Embora as duas teorias defendam que o aprendizado ocorre de maneira ativa num contexto em que o conhecimento é desenvolvido (construído) pelo indivíduo (criança). Para o interacionismo, o movimento acontece internamente e parte da ação do indivíduo. Em contrapartida, na teoria vigotskiana, os processos de aprendizagem só existem se estimulados por fatores externos, e o sujeito faz internalização dos conteúdos que foram aprendidos. Ademais, no quadro a seguir observam-se algumas diferenças entre essas teorias no tocante à prática. Comparações conceituais entre o interacionismo e o sociointeracionismo Interacionismo Sociointeracionismo Papel do aprendente Ativo Ativo Foco do aprendizado Desenvolver habilidades cognitivas e conhecimento. Desenvolver habilidades cognitivas e conhecimento. Principal local de aprendizagem Na mente do indivíduo (embora o contexto social também tenha importância). Nas práticas sociais (a responsabilidade individual é importante também). Como o aprendizado é iniciado Trabalhando em atividades que tenham foco na resolução de problemas. Ensino prévio para então oferecer apoio aos aprendentes através de ferramentas mentais na ZDP. Papel da atividades Conduzir o aprendizado. Aumentar a competência no uso das ferramentas mentais. Unidade básica individual Individual em interação social. Ferramentas Cognitivas: expressar pensamentos ou diminuir a carga cognitiva. Psicológicas: mediar o aprendizado e modi�car e formar os processos de pensamento. Ambiente autêntico Problemas encontrados na vida real. Local onde a comunidade utiliza o conhecimento aplicado a um problema. Professor Garantir a e�ciência do aprendizado e oferecer outro ponto de vista. Mediar o aprendizado através de relações e analisar a ferramentas para identi�car a ZPD. Papel do ambiente social Um ambiente de aprendizagem que Auxiliar o aprendizado e o desenvolvimento cognitivo. Portanto, a Teoria Interacionista privilegia a maturação biológica; compreende que o desenvolvimento humano segue uma sequência universal de estágios; entende que a construção do conhecimento ocorre naturalmente; e o pensamento acontece antes da linguagem, porque ela ocorre depois do desenvolvimento de alguns níveis mentais. No entanto, a Teoria Sociointeracionista privilegia o ambiente social, bem como não se restringe apenas a uma visão única de desenvolvimento humano, já a construção do conhecimento parte do social para o individual e, por �m, o aspecto central para o desenvolvimento cognitivo é a linguagem, esta e o pensamento são compreendidos como processos interdependentes. valoriza o professor em detrimento dos alunos. Relacionado à ZDP e às ferramentas mentais. Fonte: Hall (2007, p. 98). Skinner: teoria ambientalista AUTORIA Sâmia Leticia Cardoso dos Santos A Teoria Ambientalista (também conhecida como Behaviorista) destaca que o ser humano é produto do meioem que vive (do ambiente), pois é moldado pelos estímulos ambientais. Antes de compreender todos os aspectos dessa teoria, é interessante conhecer quem a desenvolveu. Burrhus Frederic Skinner, conhecido como B. F. Skinner, nasceu em Susquehanna, Pensilvânia, Estados Unidos, no dia 20 de março de 1904. Filho de um advogado e de uma dona de casa. Estudou no Hamilton College em Nova Iorque; nessa época, almejava ser escritor, dedicando-se a isso durante dois anos, mas depois admitiu que lhe faltava competência literária. Em 1926, concluiu o bacharelado em Literatura Inglesa e Línguas Românicas (MAIA, 2017). Dois anos depois, em 1928, Skinner matriculou-se no curso de pós-graduação em Psicologia pela Universidade de Harvard. Nessa universidade, concluiu o mestrado em 1930 e o doutorado em 1931, além disso desenvolveu pesquisas até 1936. Posteriormente, lecionou na Universidade de Minnesota. Anos mais tarde, entre 1945 e 1947, lecionou na Universidade de Indiana, tornando-se presidente do Departamento de Psicologia. Depois de 8 anos, retornou a Harvard como professor titular. Durante sua trajetória como pesquisador, desenvolveu diversos estudos e escreveu inúmeros artigos como O Comportamento dos Organismos, Auto- Administração Intelectual na Velhice entre outros. Em 1980, foi derrotado pela leucemia (MAIA, 2017). A Teoria Ambientalista propõe que todo ser humano nasce como uma tábula rasa, uma folha em branco e, ao longo do tempo, é preenchido por informações vindas do meio, ou seja, é estimulado, moldado e corrigido pelo ambiente. Sendo assim, a aprendizagem ocorre “por meio das in�uências dos estímulos do meio. Todo comportamento do homem seria condicionado ou classi�cado como respondente ou operante” (MAIA, 2017, p. 28). Faz-se necessário salientar que o comportamento humano é determinado pela relação do indivíduo com o meio. O comportamento respondente é in�uenciado pelos estímulos involuntários e está relacionado às interações estímulo-resposta. Por exemplo, quando alguém descasca uma cebola e chora, as lágrimas são respostas dos gases da cebola. Já no comportamento operante é estimulado pelas suas consequências. Como por exemplo o conhecido experimento de Skinner no qual foi utilizado um rato que �cava preso em uma caixa sem comida ou água. Na caixa, havia uma barra �exível que, no momento em que era pressionada, liberava água e comida, assim o rato, após realizar alguns movimentos aleatórios, percebeu que se tocasse na barra caia uma quantidade de comida. Portanto, toda vez que rato repetia um comportamento esperado, isto é, tocasse na barra, era premiado. Em outros termos, o rato foi moldado a ter essa atitude. Isto posto, “quando um dado comportamento é seguido por uma dada consequência, apresenta uma maior probabilidade de repetir-se. Denomina-se reforço à consequência que produz tal efeito” (SKINNER, 1971 apud FADIMAN; JAMES,1986, p. 195, grifos dos autores). Assim, Skinner também aborda o conceito de reforço, ou seja, qualquer estímulo que promova o aumento da possibilidade de determinada resposta, sendo positivo ou negativo. O reforço positivo refere-se a um estímulo que promove a recompensa. Por outro lado, o reforço negativo trata-se de reduzir ou eliminar uma determinada resposta. Os Reforços e as Respostas: Estratégias de Aprendizagem Utilizadas em Sala de Aula De acordo com Maia (2017), algumas escolas tradicionais tinham/têm o hábito de recompensar os alunos por bons comportamentos e por excelentes notas, atribuindo elogios nos cadernos como “parabéns, “continue assim”, “muito bom” entre outros, bem como presenteavam/presenteiam com balas, doces ou �gurinhas. Esses exemplos são casos de reforços positivos. Mas, os reforços negativos também estavam/estão em sala de aula. Por exemplos, as correções das atividades por meio das seguintes frases: “pode melhor”, “capriche mais”, entre outras. Além disso, os tapetinhos e cantinho do pensamento eram/são utilizados como forma de advertência. Esses reforços negativos fazem com que os alunos não repitam tais ações, modelando-os para novos comportamentos. Em síntese, tanto os reforços positivos quanto os reforços negativos modelam o comportamento dos alunos em sala de aula; então, a aprendizagem dedica-se na aquisição de novos comportamentos por meio dos reforços cujo o papel do professor é formar e modi�car comportamentos, moldando os alunos conforme seus objetivos, visto que eles recebem passivamente o conhecimento. SAIBA MAIS Vygotsky e o conceito de aprendizagem mediada Para Vygotsky, o professor é �gura essencial do saber por representar um elo intermediário entre o aluno e o conhecimento disponível no ambiente POR: Camila Monroe 07 de Março | 2018 No início da infância, explorar o ambiente é uma das maneiras mais poderosas que a criança tem (ou deveria ter) à disposição para aprender. Ela se diverte ao ouvir os sons das teclas de um piano, pressiona interruptores e observa o efeito, aperta e morde para examinar a textura de um ursinho de pelúcia e assim por diante. Essa lista de atividades, entretanto, pode dar a impressão de que, para adquirir saberes, basta o contato direto com o objeto de conhecimento. Na realidade, boa parte das relações entre o indivíduo e seu entorno não ocorre diretamente. Para levar a água à boca, por exemplo, a criança utiliza um copo. Para alcançar um brinquedo em cima da mesa, apoia-se num banquinho. Ao ameaçar colocar o dedo na tomada, muda de ideia com o alerta da mãe - ou pela lembrança de um choque. Em todos esses casos, um elo intermediário se interpõe entre o ser humano e o mundo. Em sua obra, o bielorrusso Lev Vygotsky (1896-1934) dedicou espaço a estudar esses �ltros entre o organismo e o meio. Com a noção de mediação, ou aprendizagem mediada (leia um resumo do conceito na última página), o pesquisador mostrou a importância deles para o desenvolvimento dos chamados processos mentais superiores - planejar ações, conceber consequências para uma decisão, imaginar objetos etc. Tais mecanismos psicológicos distinguem o homem dos outros animais e são essenciais na aquisição de conhecimentos. Vygotsky demonstrou essa característica referindo-se a diversos experimentos realizados com animais. Num deles, um macaco conseguia pegar uma banana no alto de uma jaula se visse um caixote no mesmo ambiente. No entanto, se não houvesse o caixote, o símio nem sequer cogitaria buscar outro objeto que o aproximasse de seu objetivo. O ser humano, por outro lado, agiria de forma diferente. "Enquanto o macaco precisa ver o instrumento, o ser humano consegue imaginá-lo ou conceber outro com a mesma função", a�rma Marta Kohl de Oliveira, professora da Universidade de São Paulo (USP). Fonte: Monroe (2018). REFLITA REFLITA “O professor não ensina, mas arranja modos de a própria criança descobrir. Cria situações-problemas” (Jean Piaget). “O saber que não vem da experiência não é realmente saber” (Lev Vygostky). “O auto-conhecimento tem um valor especial para o próprio indivíduo. Uma pessoa que se ‘tornou consciente de si mesma’, por meio de perguntas que lhe foram feitas, está em melhor posição de prever e controlar seu próprio comportamento” (B. F. Skinner). https://novaescola.org.br/autor/85/camila-monroe Nesta unidade foram abordadas três teorias psicopedagógicas. A primeira teoria, denominada Interacionista, apresenta estudos de Piaget os quais enfatizaram e sistematizaram o desenvolvimento cognitivo, desde a nascimento até a vida adulta, empenhando a estudar cuidadosamente a maneira como as crianças constroem o conhecimento lógico e, consequentemente, compreender a gênese e a evolução do conhecimento humano. A segunda teoria estudada, a Sociointeracionista desenvolvida por Vygostky, defende a in�uência do contexto sociocultural e histórico no desenvolvimento dos indivíduos. Além disso, salienta que o ser humano tem um papel ativo na construção do seu próprio conhecimento e, por meio das interações estabelecidas com o meio físico e social, conhece, aprende e se desenvolve. Por �m, a TeoriaAmbientalista de Skinner, diferentemente das outras duas teorias, acredita que o indivíduo é resultado de in�uências do meio, ou seja, ele não é responsável pela (re)construção de suas estruturas cognitivas, do conhecimento, uma vez que seu comportamento é moldado pelo reforço positivo e negativo. Leitura Complementar ESTUDO DAS TEORIAS DE PIAGET E VYGOTSKY NA IMPLEMENTAÇÃO DE TECNOLOGIAS EDUCACIONAIS Em face do grande desenvolvimento tecnológico e seu potencial de auxílio para diversas atividades e processos, veri�ca-se grande potencial de implementações de tecnologias de modo a prover melhorias no processo de ensino-aprendizagem. Para isso, torna-se imprescindível o diálogo entre estudos do campo educacional e estudos que, de forma geral, busquem compreender as especi�cidades humanas com os Conclusão - Unidade 1 estudos da área de tecnologia. A partir dessa necessidade, o presente estudo busca analisar a teoria Cognitivista de Piaget e a Sociointeracionista de Lev Vygotsky de modo a destacar seus princípios norteadores para utilização dessas na proposição de tecnologias de auxílio ao processo de ensino-aprendizagem e ao docente. Palavras-Chave – Tecnologias, Teorias de aprendizagem, Sociointeracionismo de Vygotsky, Cognitivismo de Piaget. Fonte: Anais Eletrônico Livro Livro https://www.anais.ueg.br/index.php/siuniueg/article/view/11481 Filme Unidade 2 Di�culdades de aprendizagem da leitura e escrita AUTORIA Sâmia Leticia Cardoso dos Santos Introdução Prezado(a) estudante, seja bem-vindo(a) à Unidade II da apostila de Intervenção Psicopedagógica na Aprendizagem da Leitura e Escrita. Nesta unidade, você irá compreender as Di�culdades de Aprendizagem da Leitura e da Escrita. Primeiramente, serão apresentados os diversos conceitos, de�nições e concepções a respeito das di�culdades de aprendizagem, a partir de diversos autores que se debruçaram sobre o tema. Posteriormente, serão explanadas as variáveis, a di�culdades de aprendizagem, isto é, os transtornos/distúrbios de aprendizagem e o fracasso escolar, explorando arcabouço teórico de diversos autores. Nesta Unidade, você irá entender os conceitos de Di�culdades de Aprendizagem por meio de diversas concepções, bem como compreender as diferentes nomenclaturas relacionadas ao não aprender. Isso é interessante, não é? Quantas vezes você já ouviu/viu algo a respeito de alguma criança que não conseguia aprender? Essa di�culdade permaneceu por muito tempo? Se sim, muito provavelmente não foi diagnosticada corretamente. Convido você a embarcar nessa leitura e, ao �nal, compreenderá os questionamentos e conseguirá respondê-los. Bons Estudos! Di�culdade de aprendizagem e suas concepções AUTORIA Sâmia Leticia Cardoso dos Santos É sabido que todo ser humano tem uma capacidade inata para aprender, um processo natural, porém exige uma complexa atividade mental que envolve diversos aspectos: emoções, percepção, memória, mediação, conhecimentos prévios, entre outros (BOSSA, 2000). Logo, muitos fatores precisam trabalhar de maneira favorável e concomitantemente, para que o processo ensino-aprendizagem aconteça de modo satisfatório. Contudo, quando isso não ocorre, as consequências geram di�culdade de aprendizagem (doravante DA). Em 1800, surgiram os primeiros estudos para entender as razões da incidências da DA, os pesquisadores que realizaram esses estudos eram da área médicas, em particular os neurologistas, cujos objetivos eram constatar lesões em vítimas de acidentes, pois apresentavam limitações de habilidades da fala, correlacionando os problemas encontrados com as di�culdades apresentadas pelos pacientes. Um dos principais médicos responsáveis por esse estudo, Franz Joseph Gall, por meio dos resultados, veri�cou que as incidências de não aprendizagem estavam desassociadas das disfunções de ordem neurológica (FARIAS; GRACINO, 2019). A partir desse resultado, houve a necessidade de pesquisas nas áreas da psicologia e psiquiatria. Os pro�ssionais dessas áreas, juntamente com médicos, elaboraram programas para auxiliar e recuperar os indivíduos que apresentavam DAs. O neuropsiquiatra Alfrad Strauss (1897-1957) e o psicólogo Heinz Werner (1890-1964), que faziam parte dessas pesquisas, compreenderam também que, muitas vezes, as DAs não estão relacionadas aos atrasos mentais. Assim, fez-se necessário investigar cada criança com DA de maneira individualizada, aplicando um programa educativo especí�co em cada uma delas.(FARIAS; GRACINO, 2019). Mais tarde, em 1960, as concepções sobre as di�culdades de aprendizagens ganharam destaque com a publicação do livro intitulado Educação da Criança excepcional, de Samuel Kirk e James Gallagher. Esses pesquisadores adotaram o termo “distúrbios de aprendizagem” para as di�culdades de aprendizagem, uma espécie de “rótulo que inclui um grupo heterogêneo de crianças que não se encaixam muito bem nas categorias tradicionais de crianças excepcionais” (KIRK; GALLAGHER, 1996, p. 364). Posteriormente, o termo di�culdades de aprendizagem ganhou novas de�nições. Uma di�culdade de aprendizagem refere-se a um retardamento, transtorno, ou desenvolvimento lento em um ou mais processos da fala, linguagem, leitura, escrita, aritmética, ou outras áreas escolares, resultantes de um handicap causado por uma possível disfunção cerebral e/ou alteração emocional ou condutual. Não é o resultado de retardamento mental, deprivação sensorial ou fatores culturais e instrucionais (GARCIA, 1960, p. 48 apud KIRK, 1962, p. 263). Em seus estudos, esses pro�ssionais estabeleceram a relação entre aprendizagem e inteligência nos quais foram classi�cadas as di�culdades de aprendizagem em categoria ligadas ao coe�ciente de inteligência (QI), ao comportamento e ao desempenho acadêmico (FARIAS; GRACINO, 2019). A classi�cação foi determinada da seguinte forma: (i) aprendiz lento - Q.I de 75 a 90; (II) retardados mentais - Q.I abaixo de 75; Transtornos emocionais e não familiarizados socialmente; Privados socialmente e ambientalmente; Portadores de di�culdades ambientais. Mediante os estudos de Kirk, a DA ganhou outros contornos, passando a ser investigada a partir de uma visão pedagógica, assim os estudiosos passaram a discutir propostas pedagógicas (FARIAS; GRACINO, 2019). Entre as décadas de 60 e 70, surgiram alguns grupos (Learning Disabilities Association of America (LDA) e a National Advisory Comimttee on Handicapped Children (NACHC), que tinham como intuito investigar as di�culdades de aprendizagem, atribuindo novas de�nições para o termo, conforme as palavras de uma dessas instituições. As crianças com di�culdades de aprendizagem especiais (especí�cas – linguagem, leitura, escrita e matemática) possuem uma desordem em um ou mais dos processos psicológicos básicos envolvidos na compreensão ou uso da linguagem falada ou escrita. Estas di�culdades podem manifestar-se por desordens na recepção da linguagem, no pensamento, na fala, na leitura, na escrita, na soletração ou na aritmética. Tais di�culdades incluem condições que têm sido referidas como de�ciências perceptivas, lesão cerebral, disfunção cerebral mínima, dislexia, afasia de desenvolvimento, etc. Elas não incluem problemas de aprendizagem resultantes principalmente de de�ciência visual, auditiva ou motora, de de�ciência mental, de perturbação emocional ou de desvantagem ambiental (NACHC, 1968, p. 34). Nas décadas posteriores – anos 80, 90 e 2000 –, muitos estudiosos se dedicaram a investigar as di�culdades de aprendizagem, envolvendo diversas áreas: médica, fonoaudiológica, psicológica e pedagógica. Após essas pesquisas, surgiram novas discussões, de�nições e perspectivas. Elas serão abordadas ao longo deste tópico. Para Smith e Strick (2001), as di�culdades de aprendizagens dizem respeito não apenas a um distúrbio, mas a uma vasta gama de problemas que podem prejudicar qualquer área do desempenho acadêmico. Ademais, di�cilmente serão atribuídas a uma única causa, uma vez que vários aspectos podem prejudicar tanto o funcionamento cerebral quanto osproblemas psicológicos das crianças que estão inseridas no processo de aprendizagem. Ainda nas palavras dos autores, Muitas crianças com di�culdade de aprendizagem também lutam com comportamentos que complicam suas di�culdades na escola. A mais saliente dessas é a hiperatividade, uma inquietação extrema que afeta 15 a 20% das crianças com di�culdades de aprendizagem. Alguns outros comportamentos problemáticos em geral observados em pessoas jovens com di�culdade de aprendizagem são os seguintes: fraco alcance, di�culdade para seguir instruções, imaturidade social, di�culdade com a conversação, in�exibilidade, fraco planejamento e habilidades organizacionais, distração, falta de destreza e falta de controle dos impulsos (SMITH; STRICK, 2001, p. 15). García (1998, p. 1), pautado nas de�nições da instituição National Comittee on Learning Disabilities, a�rma que a “Di�culdade de Aprendizagem é um termo que se refere a um grupo heterogêneo de transtornos que se manifestam por di�culdades signi�cativas na aquisição e uso da escuta, fala, escrita, raciocínio ou habilidades matemáticas”, bem como considera esses transtornos intrínsecos ao indivíduo, os quais podem existir “junto com as di�culdades de aprendizagem, problemas nas condutas e auto-regulação, percepção social, mas não consistem por si próprias uma di�culdade de aprendizagem”, embora as di�culdades de aprendizagem possam acontecer ao mesmo tempo que outras “condições incapacitantes” – de�ciência intelectual, transtornos emocionais graves ou com “in�uências extrínsecas” (condições externas) –, diferenças culturais, orientações inapropriada ou insu�ciente, “não são resultado dessas condições ou in�uências”. Na concepção de Garcia (1998, p.14), há um contraposição, pois de uma lado de�ne as di�culdades de aprendizagem como “transtornos intrínsecos ao indivíduo, supondo-se devido à disfunção do sistema nervoso central”, atribuindo a de�nição de um problema pertencente ao indivíduo, ou seja, irreversível, mas, em seguida, descreve que elas ocorrem “concomitantemente com outras condições incapacitantes ou com in�uências intrínsecas”, as quais seriam o meio social, familiar e escolar de cada aluno, logo irreversível, uma vez que a criança pode receber cuidados e atenção com relação a esses aspectos. Outra concepção é apresentada por Dockreel e Mcshane (2000), na qual os autores fazem uma distinção entre as di�culdades – a especí�ca, ou seja, as crianças apresentam di�culdades na leitura; e a geral, quando a criança tem um desempenho mais lento que o normal em muitas atividades que as realiza. As DAs são consideradas situações mais simples e passageiras, que, muitas vezes, fazem parte do processo natural de amadurecimento de todas as pessoas em algum momento da vida. As di�culdades de aprendizagem podem ser de�nidas como: [...] aquelas di�culdades experimentadas por todos os indivíduos em alguma matéria e/ou algum momento de sua vida escolar. Os fatores causadores dessas di�culdades estão relacionados a aspectos evolutivos ou são decorrentes de problemas na proposta pedagógica, de padrões de exigência da escola, de falta de assiduidade do aluno, e de con�itos familiares eventuais. São em geral di�culdades naturais, evolutivas e, portanto, transitórias, que tendem a desparecer a partir de um esforço maior do aluno ou da ajuda de um professor particular (ROTTA; OHLWEILER; RIESGO, 2006, p. 104). Ademais, as DAs podem estar presentes como quadros secundários e outras situações diagnósticas primárias, como de�ciência intelectual, de�ciências sensoriais, transtornos mentais ou problemas neurológicos, sendo comorbidades desses quadros e necessitando de um trabalho interdisciplinar para um bom diagnóstico e atendimento desses pacientes. A compreensão do diagnóstico primário é muito importante para que seja executada uma ação mais correta em termos pedagógicos e escolares, pois poderão elucidar o tipo de exigência e oportunidades que devem ser oferecidas à criança e ao adolescente naquele momento (ROZEK; DOMINGUES, 2017). A DA consiste em um conjunto de fatores de ordem “[...] pedagógica, sócio-cultural, psicológica e econômica que proporcionam impedimento em aprender. Possui, assim, origem extrínseca, ou seja, depende do meio ambiente para se desenvolver nosologicamente” (NEVES; BATIGÁLIA, 2011, p. 78). Em geral, a DA é consequência de situações ou acontecimentos frustrantes que marcaram negativamente a vida da criança. Segundo Ciasca (2003), podem ser de ordem emocional – perda de colega ou familiar, separação dos pais, brigas familiares, ambiente familiar com poucas práticas de letramento –; ordem escolar – mudança de escola, falta de vínculo com a professora, metodologias de aprendizagem inadequadas. Esses acontecimentos e essas situações in�uenciam no processo de aprendizado, tanto da leitura e escrita quanto raciocínio lógico- matemático (CASTAÑO, 2003). Isto posto, a DA não é centrada apenas na criança, o meio externo interfere. Farias e Gracino (2019, p. 65) colaboram com essa concepção a�rmando que as di�culdades de aprendizagem têm caráter provisório e referem-se a alguns tipos de desordem que interferem no ritmo e no tempo de aprendizagem. Essas desordens podem ter algum tipo de origem familiar ou escolar, mas sempre são impulsionadas pelos meios sociais em que as crianças estão inseridas. Diante do exposto, as di�culdades de aprendizagem não se referem apenas ao aluno ou a sua limitação em aprender, elas envolvem um grupo de fatores que estão presentes no dia a dia do aluno. É importante ressaltar que não há uma concordância a respeito dos motivos das di�culdades nem sobre as concepções adotadas ao de�nir o tema. Farias e Gracino (2019) corroboram a�rmando que o conceito DA é um dos mais difíceis de se conceituar devido às diversidades teorias, modelos e de�nições que se propõem a esclarecer esse problema. Assim, a heterogeneidade referida confere, por si só, grande complexidade aos estudos de tais di�culdades, que somada à realidade educacional brasileira. Torna-se um grande desa�o não só para aqueles que fazem parte do sistema educacional, mas para a sociedade como um todo (FARIAS; GRACINO, 2019, p. 35). Na imagem a seguir, observa-se, de forma didática, o conceito de DA (IDE, 2002). De�nindo a Di�culdade de Aprendizagem Metodologia escolar Fatores emocionais e/ou ambientais Transtorno/distúrbio de aprendizagem: manifesta-se por fatores externos à criança Fonte: Osti (2004). Além do conceito de DA, alguns autores de�nem as suas variáveis. O tópico a seguir aborda duas dessas variáveis, isto é, os termos distúrbio/transtorno de aprendizagem e o fracasso escolar. Variáveis quanto à di�culdade de aprendizagem AUTORIA Sâmia Leticia Cardoso dos Santos Em caso de di�culdades mais persistentes e profundas em determinada área, que se apresentam desde os momentos iniciais dos processos de aprendizagem, pode- se estar diante de um transtorno (distúrbios) de aprendizagem. Este é considerado uma inabilidade especí�ca, como de leitura, escrita ou matemática, em indivíduos que apresentam resultados signi�cativamente abaixo do esperado para seu nível de desenvolvimento, escolaridade e capacidade intelectual. “[...] O transtorno deve ter estado presente desde os primeiros anos de vida [...], apesar do atendimento especí�co, o problema que a criança apresenta persiste, muitas vezes por toda a vida” (ROTTA; OHLWEILER; RIESGO, 2006, p. 127-128). O termo “distúrbio”, que pode ser substituído pelo vocábulo “transtorno”, é de ordem biológica. Diante disso, a presente discussão se embasará em autores que apresentam esses dois conceitos como sinônimos. Na Classi�cação de Transtornos Mentais e de Comportamento (CID -10), Distúrbio de Aprendizagem é tido como comprometimento ou atraso no desenvolvimento de funções ligadas à maturação biológica da parte central do sistema nervoso, e que se inicia ainda na infância (OMS, 1993). Portanto, transtornos/ distúrbios de aprendizagem são comprometimentos e disfunções nos quais a causa é neurobiológicae a manifestação é comportamental, sugerindo a existência de um comprometimento neurológico e das funções corticais especí�cas. Os transtornos/distúrbios de aprendizagem são devidos às disfunções do sistema nervoso central os quais estão relacionados aos problemas de processamento das informações e cognição (MOOJEN; BASSÔA; GONÇALVES, 2016). Além disso, apresentam problemas tanto na aquisição quanto no desenvolvimento de funções cerebrais que estão diretamente ligados ao aprender (SIQUEIRA; GURGEL- GIANNETI, 2011). Portanto, nota-se que Distúrbio de aprendizagem é um termo genérico que se refere ao grupo heterogêneo de alterações manifestas por di�culdades signi�cativas na aquisição e no uso da audição, fala, leitura, escrita, raciocínio ou habilidades matemáticas. Estas alterações são intrínsecas ao indivíduo e presumivelmente devidas à disfunção do sistema nervoso central (COLLARES; MOYSÉS, 1992, p.32). Diante disso, diferentemente da DA, os distúrbios/transtornos de aprendizagem estão relacionados às funções neurobiológicas. Conforme veri�ca-se na Figura 2. De�nição do conceito de Distúrbios/Transtornos de Aprendizagem Disfunção Neurobiológica Diversas falhas: desde a aquisição até o armazenamento das informações de raciocínio, memória e linguagem Transtorno/distúrbio de aprendizagem: manifesta-se por fatores internos à criança Fonte: Silver et al. (2008). Dessa maneira, o transtorno/distúrbio de aprendizagem é uma disfunção em um ou mais processos cognitivos associados à compreensão ou uso da linguagem (falada ou escrita) que pode se exteriorizar em uma disposição imperfeita, tais como: pensar, ouvir, falar, ler, escrever, soletrar ou fazer cálculos matemáticos. Essas inaptidões são veri�cadas no momento em que as crianças iniciam sua fase escolar (SCHIRMER; FONTOURA; NUNES, 2004). Ao tratar de transtornos, muitos autores de�nem os cincos mais recorrentes no contexto escolar: Dislalia, Disgra�a, Disortogra�a, Dislexia e Discalculia. Esses transtornos classi�cam-se como as di�culdades no que diz respeito à matemática, já os quatro primeiros são di�culdades com relação à linguagem – leitura e escrita, conforme serão apresentados na Unidade III. Considerando as de�nições descritas até o momento, percebe-se que os autores apontam de�nições especí�cas para diferenciar Di�culdade e Transtorno de Aprendizagem. Na �gura a seguir, veri�ca-se as principais diferenças de cada conceito. Di�culdade X Transtorno de Aprendizagem Dificuldade de aprendizagem Fatores externos ao indivíduo Problemas sociais, econômicos e pedagógicos Transtorno de aprendizagem Fatores internos ao indivíduo Desordem neurobiológica Fonte: Farias e Gracino (2019). A seguir, no Quadro 1,de�ne-se de forma sucinta cada um dos transtornos de aprendizagem, a �m dedistingui-los das di�culdades de aprendizagem. Outro termo muito importante, sintoma da contemporaneidade, é “fracasso escolar” que caracteriza-se como algo que não funciona, que impede a aprendizagem, que se mantém e se repete como sintoma, pode ser fruto de um mau encontro, um encontro traumático com as demandas incontestáveis da educação, incorporado por seus representantes, como: família, escola e Estado (COHEN, 2004). Transtornos de Aprendizagem Transtornos de aprendizagem Descrição Transtorno da leitura É caracterizado por di�culdades consideráveis no reconhecimento de palavras e na compreensão leitora. Transtorno da expressão escrita Refere-se a problemas signi�cativos na habilidade de escrever ortogra�camente e elaborar textos. Transtorno da matemática É de�nido como incapacidade na realização de operações aritméticas e resolução de problemas. Fonte: APA (2014) e OMS (1995). Farias e Gracino (2019) comentam que, antes de abordar o fracasso escolar, é preciso compreender o que se entende por sucesso escolar na atualidade. Sendo assim, a�rmam que “o aluno que tem sucesso escolar é aquele que demonstra ter domínio da linguagem oral e escrita conforme o padrão esperado socialmente, bem como ter domínio de habilidades matemáticas su�cientes para assegurar seu uso social” (FARIAS; GRACINO, 2019, p. 88). Porém, sabe-se que nem todos os alunos aprendem da mesma forma, nem no mesmo tempo, mas todos têm a capacidade de aprender. “Uma criança que fracassa é alguém que, em determinado momento e na avaliação da escola, não consegue aprender o que a instituição espera que aprendam os alunos da sua idade, necessitando de medidas concretas para corrigir a situação” (NUNES; SILVEIRA, 2008 apud LEAL; NOQUEIRA, 2012, p. 51). Assim, o fracasso escolar não se reduz apenas ao não aprender, já que muitas vezes a escola que legitima esse não aprender. Saviani (1982) explica o fracasso escolar priorizando a escolarização das minorias, isto é, das classes populares. Sendo assim, o estudioso partiu do pressuposto que a educação só é entendida a partir do momento que considera seus condicionantes sociais. Para isso, o autor apresenta dois conceitos: marginalidade social e a instância produtora do conhecimento. O primeiro conceito diz respeito a situação em que muitos sujeitos se encontram, à margem da sociedade, pois, ou não têm educação, ou a educação não é de qualidade. Já o segundo conceito refere-se à escola, cujo principal objetivo é ser instância produtora do conhecimento. Ainda para o autor, quando o assunto é superação do fracasso escolar, não deve desconsiderar os aspectos históricos e sociais em que esses alunos estão inseridos, uma vez que, reconhecer as classes sociais para a elaboração de estratégias pedagógicas, é imprescindível (SAVIANI, 1982). À vista disso, a partir das colocações e dos enfoques dos autores aqui apresentados neste tópico, há uma variedade de termos quando o assunto é a “di�culdade de aprendizagem”, porém, é necessário salientar que todas essas nomenclaturas, por mais que possam apresentar formas diversas de abordar as di�culdades, exigem uma investigação diagnóstica clínica desenvolvida, realizada por uma equipe de especialistas que vai desde o psicopedagogo, passando pelo psicólogo, o neurologista, o fonoaudiólogo, entre outros pro�ssionais. E é só a partir de uma “[...] avaliação dessa equipe multidisciplinar será possível vislumbrar o não aprender de maneira pro�ssional e acertada para que não haja julgamentos precipitados e preconceituosos [...]”, visto que, em alguns casos, não raros, alguns alunos taxados como: disléxicos, desatentos, hiperativos etc. não os são (LEAL; NOGUEIRA, 2012, p. 54-55). 3 Dicas para Driblar a Di�culdade de Aprendizagem das Crianças 1. Descubra as causas da di�culdade de aprendizagem Antes de buscar soluções para um problema, é importante identi�cá-lo corretamente. Pode ser que a di�culdade do seu �lho esteja ligada a alguma barreira cognitiva, cultural ou até emocional. Então, o primeiro passo é identi�car exatamente isso. Aliás, recomenda-se que esse diagnóstico seja feito já durante a educação infantil, a �m de evitar consequências maiores. De modo geral, as situações que costumam prejudicar o aprendizado, principalmente na infância, são: problemas familiares; excesso de atividades extracurriculares; mudanças (de escola ou cidade); problemas emocionais ou sócio culturais; efeitos de medicamentos; uso de drogas. 2. Identi�que o melhor modus operandi da criança Depois de descobrir a di�culdade de aprendizagem, é interessante fazer o inverso. Os pais e professores precisam identi�car a forma que a criança aprende mais facilmente. Um ótimo caminho para isso é examinar as avaliações dos pequenos para ver em quais disciplinas estão as di�culdades e em quais estão as facilidades. Diante disso, é possível identi�car as diferenças nos métodos e, então, trabalhar da forma que mais funciona com o seu �lho. 3. Teste diferentes estratégias de ensino Seja em sala de aula ou em casa, vale testar estilos de aprendizagem fora da caixinha, que podem ser desenvolvidas individualmente, em dupla ou em grupos. Além disso, o ambiente também pode interferir. Então, se quer minimizar a di�culdadede aprendizagem, leve seu �lho para aprender no teatro, com jogos didáticos, com músicas ou até danças, o importante é testar. Fonte: Almeida (2018). REFLITA “O papel da escola não é mostrar a face visível da lua, isto é, reiterar o cotidiano, mas mostrar a face oculta, ou seja, revelar os aspectos essenciais das relações sociais que se ocultam sob os fenômenos que se mostram à nossa percepção imediata” (Dermeval Saviani). “[...] Por trás da mão que pega o lápis, dos olhos que olham, dos ouvidos que escutam, há uma criança que pensa” (Emília Ferreiro) Nesta Unidade, primeiramente, abordou-se o conceito de Di�culdade de Aprendizagem e seu percurso histórico, trazendo as perspectivas de diferentes autores, a �m de compreender que o conceito de DA é algo complexo, não há uma de�nição pontual e exata. Em seguida, foram as variáveis quanto à DA, ou seja, o transtorno/distúrbio de aprendizagem e o fracasso escolar. Notou-se que, embora muitas vezes os termos “di�culdade”, “transtorno” e “fracasso escolar” sejam utilizados como sinônimos, não têm os mesmos signi�cados, pois se diferem a características, aos diagnósticos e às formas de tratamento. Leitura complementar DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NO CONTEXTO ESCOLAR: possíveis estratégias didáticas e de intervenção Wildson Cardoso Assunção José Carlos de Freitas RESUMO: O objetivo deste artigo é descrever e re�etir sobre algumas das di�culdades de aprendizagem presentes no contexto escolar e, através disso, pontuar algumas das estratégias didáticas e de intervenção que podem ser utilizadas pelos professores. Trata-se um estudo teórico, na modalidade de revisão narrativa da literatura. Buscamos reunir algumas das discussões e propostas atuais que se basearam em questionamentos sobre inserção da Psicologia na Educação e tipos de estratégias didáticas utilizadas nas determinadas di�culdades de aprendizagem. Os achados mostram que existem constantes diálogos entre a Psicologia e a Educação, Conclusão - Unidade 2 havendo possibilidades de trabalhar di�culdades de aprendizagem com uso de recursos que podem se adequar à estrutura das escolas, com intuito de facilitar o processo de aprendizagem. Palavras-chave: Di�culdades de Aprendizagem. Transtornos de Aprendizagem. Estratégias Didáticas. Fonte: Revista Exitus Livro Filme https://www.researchgate.net/publication/337913085_Dificuldades_de_aprendizagem_no_contexto_escolar_possiveis_estrategias_didaticas_e_de_intervencao Acesse o link https://www.youtube.com/watch?v=wBDUXpX1AAg Unidade 3 Dislalia, disgra�a, disortogra�a e dislexia AUTORIA Sâmia Leticia Cardoso dos Santos Introdução Prezado(a) estudante, seja bem-vindo(a) à Unidade III da apostila de Intervenção Psicopedagógica na Aprendizagem da Leitura e Escrita. Nesta unidade, você irá conhecer os Transtornos Especí�cos de Linguagem. Primeiramente, serão abordadas as concepções dos Transtornos Especí�cos de Linguagem, tanto o que se refere à fala - Dislalia, quanto os relacionados à escrita - Disgra�a, Disortogra�a e Dislexia. Em seguida, relata-se os sinais e sintomas de cada Transtorno Especí�co de Linguagem, descrevendo as concepções explanadas por diferentes autores. Por �m, serão apresentadas as causas de cada Transtorno Especí�co de Linguagem, pautando-se em pesquisas educacionais e neurológicas. Nesta Unidade, você compreenderá os transtornos de aprendizagem relacionados à linguagem oral e escrita, suas concepções, sinais e sintomas e causas. Esses transtornos apresentam nomes atípicos, mas não se assuste, pois os conceitos são claros, além disso são essenciais para o aprendizado acadêmico e pro�ssional. Vamos lá? Bons estudos! Dislalia, disgra�a, disortogra�a e dislexia e suas concepções AUTORIA Sâmia Leticia Cardoso dos Santos O Transtorno Especí�co de Linguagem ocorre durante o período de aquisição da linguagem oral e escrita. De acordo com Farias e Gracino (2019), esses transtornos são divididos em dois grupos: transtorno de articulação da fala (Dislalia) e os transtornos relacionados à escrita (Disgra�a, Disortogra�a e Dislexia). A palavra dislalia vem do grego, o termo “dys” que signi�ca di�culdade e “lalien”, do verbo falar (LIMA, 2008). Ela caracteriza-se como um transtorno do neurodesenvolvimento, cuja peculiaridade é a “di�culdade em articular palavra; pode ser uma pronúncia ruim, omitindo-se ou acrescentando-se fonemas”, assim as crianças que apresentam esse transtorno “fazem uma utilização dos fonemas em nível inferior ao que se espera para sua idade” e, consequentemente, poderá comprometer também a escrita (FARIAS; GRACINO, 2019, p. 72). Em concordância com a de�nição abordada, Eberhart e Cauduro (2013, p.10) a�rmam que “na dislalia surge uma alteração na fala”, porque ocorre uma “imprecisão articulatória afetando padrões de produção de sons da língua, relacionados às fases de programação e ou execução neuromotora. Esta ocorre quando a criança está começando a falar”. Diante disso, é preciso salientar que as crianças só podem ser diagnosticadas por pro�ssionais adequados após os oito anos, uma vez que antes dessa idade não possuem maturidade para produzir todos os sons linguísticos. Conforme Souza e Fontanari (2015), a dislalia pode apresentar quatro formas diferentes: Dislalia Evolutiva: é a fase considerada “normal”, que pode durar até os quatro, desaparecendo durante o desenvolvimento da criança. Dislalia Funcional: é resultado da substituição (ou eliminação) de uma letra por outra no momento da pronúncia, inserindo ou distorcendo o som da palavra. Dislalia Audiógena: ocorre devido a de�ciência auditiva, interferindo na produção dos sons das palavras. Dislalia Orgânica: advém de uma lesão no encéfalo (cérebro) ou devido alguma alteração física na boca ou na língua. No que concerne aos Transtornos Especí�cos de Linguagem referentes à escrita, tanto podem afetar a escrita propriamente dita (disgra�a e disortogra�a), quanto a leitura (dislexia). A disgra�a, de acordo com a etimologia da palavra, “dis” signi�ca desvio, “gra�a” refere-se à escrita, ou seja, a criança apresenta di�culdades ao realizar tarefas básicas relacionadas ao ato de escrever. Sendo assim, trata-se de “uma perturbação de tipo funcional que afeta a qualidade da escrita do sujeito, no que se refere ao seu traçado ou à gra�a” (TORRES; FERNÁNDEZ, 2001, p. 127). Cinel (2003) de�ne disgra�a como uma desordem da escrita referente ao traçado das letras e à disposição dos conjuntos grá�cos no espaço utilizado. Isso ocorre pela falta de coordenação motora (grossa e �na). Logo, os alunos disgrá�cos são aqueles que têm di�culdades no ato motor da escrita, porque “as funções do cérebro que estão preocupadas com a tradução de ideias em palavras por escrito das crianças que têm este transtorno, não são executadas de forma correta” (TELLES; LUCIO; ALCANTARA, 2017, p. 68). Sendo assim, essas di�culdades estão relacionadas à um problema perceptivo- motor, conhecido também como letra feia, ilegível. Os alunos digrá�cos não têm o intelecto comprometido, geralmente são alunos com um ótimo desempenho escolar, são muito inteligentes, mas suas limitações estão na escrita, não conseguem lembrar a gra�a da letra para escrever. Nesse transtorno não há uma automatização da escrita, o aluno compreende todo o conteúdo de sala de aula, sabendo inclusive organizar oralmente o assunto trabalhado, porém não consegue materializá-lo em palavras, ou seja, transcrever as palavras de maneira compreensível, dado que não são capazes de lembrar quais letras constituem determinadas palavras, bem como elas são escritas (MAGALHÃES, 2015). É importante ressaltar que há dois tipos de disgra�a: a motora e a perceptiva. Segundo Caraciki (2006), a disgra�a motora, como o próprio nome a de�ne, é uma di�culdade motora que interfere a escrita das letras, mesmo sabendo ler ou falar, isto é, o aluno vê a �gura grá�ca, entretanto não consegue realizar os movimentos; na disgra�a perceptiva o aluno não consegue associar o sistema simbólico às gra�as querepresentam os sons. Ellis (1995) classi�cou a disgra�a em: Disgra�a de superfície: há uma di�culdade em reconhecer palavras já trabalhadas, apresentando erros mais comuns. Disgra�a fonológica: há um bloqueio fonológico ao escrever palavras pouco utilizadas no dia a dia. Disgra�a profunda: há di�culdade ao escrever palavras abstratas, ditados ou nomes de objetos. Por outro lado, a disortogra�a cujo “dis” signi�ca desvio, “orto” quer dizer “forma correta” e “gra�a” tem signi�cado de “escrita”. Embora esse transtorno afete a palavra, não está relacionado ao traçado ou gra�a, pois “as di�culdades centram-se na organização, estruturação e composição de textos escritos; a construção frásica é pobre e geralmente curta, observa-se a presença de múltiplos erros ortográ�cos e [por vezes] má qualidade grá�ca” (PEREIRA, 2009, p. 9). Coimbra (2013) colabora com essa de�nição ao a�rmar que a disortogra�a prende-se com problemas ao nível da ortogra�a e da plani�cação e da formulação (composição) escrita. É caracterizada pela di�culdade na organização, estruturação e composição de textos escritos. As frases são pobres e curtas e apresentam incorreções, erros ortográ�cos (COIMBRA, 2013, p. 19). Por isso, são di�culdades de aprendizagem relacionadas à ortogra�a e à sintaxe. Nas palavras de Serra (2005, p. 14) “é uma perturbação especí�ca da escrita que altera a transmissão do código linguístico ao nível dos fonemas, aos grafemas, das associações corretas entre estes, no que respeita a peculiaridades ortográ�cas de certas palavras e regras de ortogra�a”. Essas di�culdades estão associadas com numerosos erros e se manifestam após a aquisição da escrita. As crianças que apresentam essas di�culdades constroem frases mal estruturadas, inacabadas, sem pontuação, palavras repetidas. Assim, as construções escritas dessas crianças, muitas vezes, não têm coerência. Torres e Fernández (2001) salientam que os erros ortográ�cos têm características diversas, isto é, erros de caráter linguístico-perceptivo; de caráter visoespecial; de caráter visoanálítico; relativos ao conteúdo e referentes às regras de ortogra�as. Por �m, Dislexia deriva dos conceitos “dis” (desvio) e “lexia” (leitura), podendo ser caracterizada por di�culdades na correção e/ou �uência na leitura de palavras e por baixa competência leitora e ortográ�ca. Estas di�culdades resultam tipicamente de um dé�ce na componente fonológica da linguagem que é frequentemente imprevisto em relação a outras capacidades cognitivas e às condições educativas. Secundariamente podem surgir di�culdades de compreensão leitora, experiência de leitura reduzida que podem impedir o desenvolvimento do vocabulário e dos conhecimentos gerais (ASSOCIAÇÃO INTERNACIONAL DE DISLEXIA, 2003 apud TELES, 2009). Para Fonseca (1999 apud MOURA, 2011, s/p), a dislexia tratar-se de uma “di�culdade duradoura”, em "crianças inteligentes, escolarizadas, sem qualquer perturbação sensorial e psíquica já existente”. Dessa forma, afeta a aprendizagem e a utilização instrumental da leitura, devido aos problemas referentes ao nível da consciência fonológica, de origem neurobiológica, entretanto faz-se necessário salientar que esse distúrbio não está associado ao Quociente de Inteligência (QI). Logo, um disléxico não tem um baixo nível intelectual; pelo contrário eles podem apresentar um grau de aprendizagem acima da média para outras áreas que não a leitura, levando em consideração a sua faixa etária. Diante disso, é importante ressaltar que a criança com dislexia não é de�ciente mental, física, auditiva, visual, múltipla ou de alto risco. Esse distúrbio não é consequência de um desenvolvimento comprometido na fase gestacional, nem uma alimentação imprópria, nem um nascimento prematuro. Sinais e sintomas de dislalia, disgra�a, disortogra�a e dislexia AUTORIA Sâmia Leticia Cardoso dos Santos Considerando que o diagnóstico de cada transtorno ocorre por meio da observação e acompanhamento dos sinais e sintomas apresentados pelas crianças, é importante abordar os principais sinais e sintomas de cada transtorno descrito anteriormente. Os principais sinais e sintomas da dislalia são omissão, substituição ou deformação (distorção) dos fonemas. Ou seja, a alteração na fala (articulação dos fonemas) pode acontecer por ausência (omissão) de fonemas, ou “pela substituição por outros valores ou fonemas (substituição)”, ou até mesmo “pela adulteração total ou parcial da forma ou modelo verbal que representava ou correspondia a determinada palavra (distorção)” (LIMA, 2008, p. 151). Garcia (1995) descreve três tipos de dislalia: a Funcional, a Audiógena e a Orgânica. No que diz respeito à Dislalia funcional, a criança apresentará a substituição, omissão ou deformação de alguns fonemas, tais como: \r\ , \k\ , \l\ , \s\ , \z\ e \ch\ . Os distúrbios de linguagem relacionados à escrita apresentam inúmeros sinais e sintomas. Para diagnosticar a disgra�a, o professor e os demais pro�ssionais da educação devem estar atentos a um conjunto de sinais e sintomas. Torres e Fernández (2001) descrevem os seguintes: letra exageradamente grande (macrogra�a) ou pequena demais (microgra�a); formato das letras irreconhecível; traçado muito grosso (o qual vinca o papel) ou suave (imperceptível); gra�smo trêmulo ou com um formato irregularidade, alterando os tamanhos dos grafemas; escrita excessivamente rápida ou lenta; espaçamento desarmônico das letras ou das palavras (tanto desligadas, sobrepostas ou ilegíveis, quanto juntas demais); Já com relação à Dislalia Audiógena, a criança demonstrará di�culdade compreensão a respeito dos comandos orais e incapacidade de produzir os sons das palavras, visto que não consegue fazer a assimilação. Por outro lado, na Dislalia Orgânica a criança pode apresentar di�culdades na articulação e na produção dos sons. Muitas vezes, as crianças reconhecem que articulam mal e empenham-se em corrigir, mas os órgãos não conseguem realizar o movimento correto ao produzir o som. erros e borrões que impossibilitam a leitura da escrita (embora as crianças sejam capazes de ler o que escrevem); desorganização geral na folha/texto; utilização incorreta do lápis ou da caneta. Caraciki (2008) colabora com essa concepção ao descrever alguns aspectos que caracterizam a disgra�a: letra ilegível; lentidão na escrita; escrita desorganizada; traços fortes marcando o papel ou traços leves e também irregulares; desorganização na folha de papel por não ter orientação espacial; desorganização das formas, tamanho muito pequeno ou muito grande entre outros. Entretanto, a criança que apresenta um ou dois sintomas não pode ser considerada disgrá�ca, já que é necessário apresentar um conjunto ou quase a totalidade de sintomas. A disortogra�a apresenta diversos sinais e sintomas, mas o que predomina são os erros ortográ�cos. Torres e Fernández (2001) descrevem os seguintes erros: Erros de caráter linguístico-perceptivo: são as omissões(fonemas em posição constritiva, [como] em vez de [cromo], ou em posição �nal, [pato] em vez de [patos]; as adições ([castelolo] em vez de [castelo]); e as inversões de fonemas vocálicos ou consonantais nas palavras ([bulsa] em vez de [blusa]). Erros de caráter visoespacial: referem-se erros derivados das di�culdades na distinção pela posição no espaço ([d] por [p], [p] por [q]); trocas pelas semelhanças nas características visuais ([m] por [n], [o] por [a] e [i] por [ j]), confusão entre os fonemas que apresentam duplas gra�as [ch] por [x] e [s] por [z]), bem como em fonemas que permitem dupla gra�a em função das vogais, ([g] e [c]); e, por �m, a omissão da letra [h] por esta não ter correspondência fonética. Erros de caráter visoanalítico: são caracterizados pelas trocas de letras sem qualquer sentido. Erros relativos ao conteúdo: relacionam-se a uniões (“ocarro” em vez de “o carro”) ou separações ([es-tá] em vez de [está]) incorretas em sequências grá�cas pertencentes a uma dada sucessão fónica. Erros referentes às regras de ortogra�a: dizem respeito às regras
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