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Anna lillian canuto bittencourt • DEFINIÇÃO: é a gestação cuja implantação e desenvolvimento do ovo ocorrem fora da cavidade corporal do útero; - O blastocisto normalmente implanta-se na superfície endometrial da cavidade uterina e qualquer implantação fora deste local é denominada gestação ectópica; - Isso inclui gravidez extrauterina, gravidez cervical, intersticial e em cicatriz de cesárea. • A tuba uterina representa o local mais frequente de ocorrência de gravidez ectópica; - A região ampular é mais acometida, seguida do istmo. • A prevalência de GE é de cerca de 2% e vem aumentando; • A incidência de gravidez ectópica está aumentando devido ao aumento da prevalência de fatores de risco e melhora dos métodos diagnósticos; • Gestação Ectópica x Gestação Heterotópica: GH é a presença concomitante entre gestação intrauterina e gestação ectópica, sendo um evento muito raro, mas com incidência aumentando com o advento das técnicas de reprodução assistida. • A patogênese está associada a lesão tubária (obstrução) ou alteração no transporte ovular (trânsito do ovo lentificado). 01. Fatores de alto risco: A) Cirurgia prévia sobre a trompa: • Há maior incidência de GE em pacientes submetidas a cirurgias tubárias, como: - Salpingostomia; - Reanastomose; - Fimbrioplastia; - Lise de aderências. • O risco está mais associado com a técnica utilizada, sendo que a esterilização com uso de energia bipolar é a de maior risco. B) Uso de DIU: • O DIU é um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento de GE; • Ele diminui o risco de uma gestação, porém, em caso de falha do método, a chance de GE é maior; • Isso ocorre porque o mecanismo de ação do DIU se restringe à alteração da função tubária, do muco cervical e do endométrio, não interferindo na função ovulatória. Gestação ectópica IDEIAS GERAIS ETIOLOGIAS Anna lillian canuto bittencourt C) Gestação ectópica prévia: • Mulheres com antecedente de GE têm risco 6- 8x maior de uma nova GE; • Variáveis relacionadas com esse fator de risco: - Estado da tuba contralateral; - Tipo de tratamento (salpingectomia, salpingostomia, metotrexato); - Se o tratamento cirúrgico foi por laparotomia ou laparoscopia. - Presença de esterilidade anterior ao evento. • Taxas de recorrência: metotrexato 8%; salpingectomia 9,8%; e salpingostomia 15,4%. D) Doença inflamatória pélvica (DIP): • Infecções genitais causadas principalmente por Chlamydia trachomatis e Neisseria gonorrhoeae; • Essas infecções podem causar: - Obstrução tubária; - Diminuição no número e movimento dos cílios; - Aglutinação das dobras da mucosa com estreitamento da luz tubária; - Formação de microdivertículos; - Destruição das fímbrias. E) Alterações anatômicas da trompa: • Divertícuos, hipoplasia e tumores; • Endometriose. FIQUE DE OLHO – MEDCURSO! Uma questão frequentemente mal interpretada e presente em concursos é a associação do uso do DIU com o aumento do risco de gravidez ectópica. Todos os autores o incluem como fator de risco, mas fraquejam na explicação para o evento. A seguir, são disponibilizadas considerações sobre a associação: Sabe-se que o DIU, seja de cobre ou hormonal, diminui o risco de uma gestação quando comparado a mulheres que não usam quaisquer métodos anticoncepcionais. Sabe-se também que, em caso de falha do método, a chance da gravidez se instalar fora da cavidade uterina é maior do que nas não usuárias de qualquer método. Nesse caso, quando a gravidez ocorre, uma em cada 30 será ectópica. Mas seria um fator causal direto ou meramente probabilidade ??? O mecanismo de ação do DIU se restringe à alteração da função tubária, do muco cervical e do endométrio, não interferindo na função ovulatória. Ou seja, o DIU apresenta grande eficácia na prevenção da gestação tópica, o que eleva a probabilidade de usuárias desse método desenvolverem gravidez ectópica, quando comparadas a mulheres que não fazem anticoncepção. Podemos dizer que o risco relativo de gravidez ectópica é maior com o uso do método, porém o risco absoluto não. O livro Williams Obstetrics salienta: com qualquer forma de método contraceptivo, o número absoluto de gestações ectópicas diminui, visto que a gravidez ocorre com menor frequência. No caso de falha de alguns métodos, como laqueadura tubária, DIU e pílulas de progesterona, o número relativo de gestações ectópicas aumenta. Tanto é assim que o DIU de cobre, assim como o DIU medicado com progesterona, pode ser utilizado em pacientes que já tiveram um episódio de gravidez ectópica. Em resumo: perceba que o DIU só aumenta o risco da gravidez ectópica quando ocorre falha do método, o que é extremamente raro. Mas para efeito de concursos, deve-se incluir o DIU na relação dos fatores de risco. Anna lillian canuto bittencourt 02. Fatores de moderado risco: A) Procedimentos relacionados à reprodução assistida: • O aumento dos níveis de estrógeno, produto do efeito das drogas indutoras de ovulação (como o citrato de clomifeno), pode interferir no mecanismo de transporte tubário por alterar a motilidade nas tubas, facilitando a retenção do ovo em sua extensão. B) Múltiplos parceiros sexuais e anticoncepção de emergência: • O levonorgestrel contribui para a ocorrência de GE devido a alteração da motilidade tubária, que causa retardo na chega do ovo à cavidade endometrial. 03. Fatores de baixo risco: A) Tabagismo: • A nicotina leva a uma alteração na motilidade tubária, que aumenta a implantação a nível tubário; • A nicotina ainda leva a uma diminuição na imunidade humoral e celular, que pode alterar a resposta do epitélio tubário à inflamação. B) Idade: • > 35 anos; • O envelhecimento resulta em perda progressiva da atividade mioelétrica ao longo da tuba. Ideias gerais • A gestação tubária é responsável por 95-98% dos casos de GE; • Nos casos de GE ístimica e ampulares, as mais comuns, ocorrem com desenvolvimento hormonal semelhante a uma gravidez tópica, possuindo todos os sinais e sintomas de uma gestação normal; • Tríade clássica da GE: - Dor abdominal (+ frequente); - Amenorreia e/ou irregularidade menstrual; - Sangramento vaginal de intensidade variável. Manifestações clínicas 01. AGUDA: • As manifestações mais intensas estão relacionadas a rotura tubária (30% dos casos); GESTAÇÃO TUBÁRIA Anna lillian canuto bittencourt • Sempre que a rotura ocorre nas primeiras semanas de gestação, a gravidez se localiza na porção ístimica da trompa, local mais comum das roturas; • A rotura ocorre espontaneamente; • Há grande hemorragia intraperitoneal, dor aguda e intensa na fossa ilíaca ou no hipogástrico e choque; • Sinais de irritação peritoneal que pode estar presente: - Sinal de Laffon: dor no ombro devido à irritação do nervo frênico; - Sinal de Blumberg: descompressão dolorosa do abdome; - Sinal de Cullen: equimose periumbilical; - Sinal de Proust: dor à mobilização do colo uterino e abaulamento e dor no fundo de saco de Douglas, decorrente do acúmulo de sangue no fundo de saco. • O sangramento vaginal está presente em grande parte dos casos e deriva da interrupção do suporte hormonal ao endométrio após a rotura da tuba; - Hemorragia escassa e escurecida, podendo ser intermitente ou contínua. • Pode apresentar náuseas, vômitos, lipotimia e sinais de descompensação hemodinâmica. - Pode apresentar sinais de choque (palidez progressiva incompatível com o sangramento vaginal) sem apresentar sangramento externoimportante! 02. SUBAGUDA: • Corresponde a 70% dos casos; • Não ocorre rotura tubária; • A separação parcial do trofoblasto e da placenta decorrente da distensão da trompa ocasiona perda sanguínea para a cavidade abdominal; - Isso leva ao desconforto abdominal. • Na maioria dos casos, a separação é incompleta, pois o trofoblasto fica aderido à camada muscular da trompa provocando hemorragia intraperitoneal persistente, a qual é menos intensa que nos casos de rotura; • O sangramento é decorrente da produção irregular do beta-hCG; • O colo uterino, de forma semelhante ao observado na gestação tópica, encontra-se amolecido; • Na maioria dos casos, o útero apresenta-se de tamanho normal. Diagnóstico 1° passo: Diagnosticar a gravidez através da detecção de beta-hCG; - O beta-hCG é um hormônio produzido pelo sinciciotrofoblasto que previne a involução do corpo lúteo, principal sítio de produção da progesterona durante as primeiras 6-7 semanas; - A concentração sérica de beta-hCG em casos de GE tende a ser menor que a observada na gestação tópica com mesma IG; - Essa concentração duplica no plasma (doubling time) com 2-3 dias; - Então, duas dosagens consecutivas, com intervalo de 48h, apresentando ausência de elevação do título de beta-hCG possivelmente indica uma GE. 2° passo: USG; • O USG transvaginal permite a identificação precoce da gestação tópica e maior definição dos Anna lillian canuto bittencourt órgãos da pelve, com melhor caracterização das imagens associadas à GE; • Antes mesmo de o saco gestacional se tornar visível, já é possível observar características endomentriais; - Em pacientes com GE, a espessura endomentrial é significativamente menor do que a observada nas gestações tópicas viáveis. • Sinais ecográficos de certeza de gravidez ectópica a visualização de saco gestacional situado fora da cavidade corporal do útero contendo: - Vesícula vitelínica; E/OU - Embrião com ou sem atividade cardíaca. • Imagens ecográficas SUGESTIVAS de gravidez ectópica: - Anel tubárico, também conhecida como “bagel”: composta de formação anecoica com halo hiperecoico periférico, representando o saco gestacional ectópico circundado por reação trofoblástica; - Imagem heterogênea ou complexa, denominada “blob”: esse tipo de imagem, quando associada a GE, geralmente representa hematossalpinge ou hematoma pélvico. 3° passo: Associação do beta-hCG + USG transvaginal: • Zona discriminatória sérica de beta-hCG: é p valor de beta-hCG a partir do qual a não visualização de saco gestacional intrauterino por USG sugere fortemente o diagnóstico de GE; - 1.500 para USG transvaginal e 6.500 para USG abdominal. • Esses valores de zona discriminatória dizem respeito a gestação ÚNICA, então, em casos de gestação múltipla, a concentração de beta-hCG pode ser superior a 2.000 e não se observar ainda uma gravidez intrauterina; • Sempre observar o tempo de duplicação do beta-hCG. Anna lillian canuto bittencourt 4° passo: Dosagem sérica de progesterona: • É utilizada quando há dúvidas diagnósticas, após dosagem de beta-hCG e realização de USG; • A concentração sérica da progesterona reflete sua produção pelo corpo lúteo e, assim, pouco se modifica durante o primeiro trimestre; • <10: gestação não evolutiva; • >20: gestação viável; • <5: apresenta 99,8% de especificidade na confirmação de uma gravidez anormal. 5° passo: Dopplerfluxometria: • Sinais presentes na GE: - Aumento do fluxo à artéria tubária, causado pela implantação do trofoblasto na trompa uterina; - Fluxo trofoblástico periférico ao saco gestacional, auxiliando na diferenciação com pseudossaco gestacional ou líquidos presentes na cavidade uterina; - Fluxo de baixa resistência na artéria tubária ao lado supostamente acometido; - Neoformação vascular em possível tumoração anexial. 6°: Exames invasivos: 1. Culdocentese: é a aspiração de líquido sanguinolento, não coagulado, pelo fundo de saco de Douglas; Anna lillian canuto bittencourt - Não é um sinal específico de GE; - Apenas define um hemoperitônio; - Reservado para situações onde não há disponibilidade de outros recursos diagnósticos. 2. Curetagem uterina: obtenção de material trofoblástico por curetagem uterina; - Recomenda-se que seja utilizada apenas em mulheres com hCG abaixo do limite discriminatório e que apresentem uma taxa de elevação anormal. 3. Laparoscopia: está indicada em todos os casos onde não foi possível esclarecer o diagnóstico através de outros métodos complementares. Diagnóstico diferencial 01. ROTURA DE CISTO OVARIANO: • A rotura de cisto de corpo lúteo representa provavelmente a principal causa de erro diagnóstico; • Em mulheres que não estão grávidas, um exame negativo de beta-hCG sérica é importante no diagnóstico diferencial; • Aquelas que apresentam rotura de corpo lúteo na gravidez com frequência são submetidas a laparoscopia ou laparotomia para elucidação diagnóstica, especialmente diante de hemoperitônio. 02. ABORTAMENTO: • O abortamento espontâneo evitável ou in- completo também é confundido com gravidez ectópica; • Geralmente, o sangramento vaginal que acompanha tal afecção é mais abundante que o verificado na gravidez ectópica e existe correlação entre a perda sanguínea e o estado hemodinâmico da paciente; - A dor no abortamento típico é mais rítmica, menos intensa e se localiza na região mediana do abdome; - Ao exame ginecológico, verifica-se nesses casos colo mais amolecido e maior volume uterino do que o observado na gravidez ectópica. 03. SALGINTE: • Na salpingite também ocorre dor à mobilização do colo uterino, porém este não se encontra amolecido; • Pode-se palpar uma massa bilateral, o que não acontece na gravidez ectópica, na qual, na maioria das vezes, a massa é unilateral; • A salpingite aguda não é acompanhada de atraso menstrual e sangramento vaginal; • Na salpingite a dosagem de beta-hCG é negativa. 04. AFECÇÕES GASTROINTESTINAIS: • Náuseas, vômitos, diarreia, tenesmo e dor abdominal também são queixas de pacientes com gravidez ectópica; • A anamnese e o exame físico detalhados, acompanhados de teste negativo de beta-hCG, ajudam a tirar a dúvida diagnóstica. Tratamento • A conduta na GE depende de: - Estabilidade hemodinâmica da paciente; - Integridade da trompa; - Desejo de nova gravidez; Anna lillian canuto bittencourt - Características do saco gestacional; - Acesso a diferentes terapias. • A laparoscopia é a modalidade de abordagem cirúrgica indicada na maioria dos casos, já que permite a visualização direta das tubas uterinas e da pelve; • A laparotomia é indicada quando a mulher está hemodinamicamente instável ou a laparoscopia não está prontamente disponível. 01. TRATAMENTO CIRÚRGICO: • Geralmente é indicado na presença de GE rota ou em casos de GE íntegra em que há contraindicaçãoes para o tratamento clínico. A) Tratamento cirúrgico RADICAL – Salpingectomia: • Consiste na retirada da trompa cometida; • Pode ser realizada por laparotomia, colpotomia ou laparoscopia, que é a forma preferível atualmente; • Indicações: - Mulheres com sangramento incontrolável; - Gravidez ectópica recorrente na mesma tuba, com trompa uterina muito lesada; - Saco gestacional > 5cm; - Rotura tubária. • Do ponto de vista APENAS CIRÚRGICO, a salpingectomia é a cirurgia ideal, uma vez que promove hemostasia adequada e garante a remoção completa do tecido trofoblástico; - Indicada para mulheres nas quais a trompa contralateral é normal. B) Tratamento cirúrgico CONSERVADOR – Salpingostomia: • Consiste na enucleaçãodo ovo com conservação da trompa que é deixada aberta para que a cicatrização ocorra por segunda intenção; • Indicações: - Primeira escolha para paciente com trompa contralateral doente; - Paciente com desejo de gestações futuras; - Ectopia tubária de pequenas dimensões, usualmente localizada na porção ampular da trompa que se apresenta íntegra; - Massa anexial < 5cm no seu maior diâmetro; - Estabilidade hemodinâmica, que não houve rotura tubária. 02. TRATAMENTO MEDICAMENTOSO: • Consideram-se como condições associadas a melhores resultados com o uso da terapia medicamentosa: - Saco gestacional < 3,5cm; - Embrião sem atividade cardíaca; - Beta-hCG <5.000. • Gestações que não se enquadrem nos critérios sugeridos não são contraindicações à terapia medicamentosa, porém terão menor chance de sucesso; • Medicação de escolha: Metotrexato; - Antagonista do ácido fólico que interfere na produção de purinas e pirimidinas, interferindo na síntese do DNA e RNA e, consequentemente, na multiplicação celular. Anna lillian canuto bittencourt MARTINS-COSTA, Sérgio H. et al. Rotinas em obstetrícia. Artmed Editora, 2017. MEDCURSO. Obstetrícia: Sangramento na gestação. Vol 3. 2019. ZUGAIB. Zugaib Tratado de Obstetrícia. 2020. REFERÊNCIAS
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