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VIOLÊNCIA DOMÉSTICA EM TEMPOS DE PANDEMIA CORONAVIRUS-19 Ronilda dos Santos de Oliveira1 Maria Judite Ludwig2 Resumo O ano de 2020 foi marcado por uma pandemia que assola o planeta até o presente momento, covid-19, corroborando para o recrudescimento de uma outra pandemia já conhecida da sociedade mundial, a violência doméstica, sendo o isolamento social um dos seus propulsores. A estratégia do poder público do distanciamento social, tem por finalidade diminuir a disseminação comunitária do SARS-CoV-2, mas aquilo que deveria ser uma estratégia de proteção, para algumas pessoas se configura uma ameaça na vida. A convivência diária com agressor reduz as redes de apoio da vítima, facilitando a sua permanência no ciclo da violência. Neste artigo buscamos estabelecer algumas relações da crise sanitária em relação a saúde social, o papel do isolamento social no aumento dos índices das agressões familiares. O poder público não traçou planos para dar conta das questões que perpassam o corpo físico, deixando mais uma vez uma lacuna que a sociedade tem que encontrar saídas. Iremos analisar dados ainda incipientes, mas contribuem para a discussão. Palavras-chave: Mulher. Violência Doméstica. Covid 19. Isolamento Social 1 INTRODUÇÃO No final do ano de 2019 o mundo começou a tomar conhecimento de casos de mortes por uma doença respiratória, ocorridas na cidade chinesa de Wuhan. Cientistas isolaram o vírus sendo identificado como o novo Corona vírus (SARS-CoV2, causador da Corona Vírus Disease–COVID-19, possuindo um alto poder de transmissibilidade, ocorrendo por meio das gotículas produzidas pelas vias áreas superiores, atingindo principalmente os grupos de maior vulnerabilidade, como idosos e pessoas portadores de doenças. Posteriormente, o vírus espalhou-se para todas as províncias da China e mais de cem países em todos os continentes causando números assustadores de mortes a nível global. Em 11 de março de 2020 a Organização Mundial da Saúde -OMS definiu a doença como uma pandemia. 1 Assistente Social graduada em 2020 pela Universidade Uniasselvi; aluna da Pós Graduação Políticas Gestão em Serviço Social. Funcionária pública atuando na área da saúde há mais de 20 anos. E-mail: ronildaoliveira2010@gmail.com 2 Assistente Social especialista em Família; Políticas Sociais; Gestão e Tutoria em EAD. Gestora Pública e Conselheira municipal do Conselho Municipal da Assistência Social. Professora Tutora Externa do Curso de Serviço Social e Pós-Graduação da Uniasselvi. E-mail: juditeludwig@gmail.com mailto:juditeludwig@gmail.com#search/titula%C3%A7%C3%A3o/_blank 2 No mundo já foram registrados números surpreendentes da doença, no Brasil até 24/06/2021 o Ministério da Saúde – MS registrou um total de 18.243.483 de pessoas que contraíram o Covid-19 e 509.141 óbitos. Frente a situação epidemiologia com esse novo patógeno e desconhecido das Sociedade Cientificas, medidas de controle foram sendo introduzidas na tentativa de conter a propagação do vírus na comunidade, em 25/02/21 a Agência Nacional de Vigilância Sanitária - Anvisa lançou a Nota Técnica GVIMS/GGTES/ANVISA Nº 04/2020 para orientar os gestores, sendo que podemos citar as que são medidas de higiene básica, como a lavagem de mãos, limpeza de superfícies, educação ao espirrar cobrindo as vias aéreas superiores, e outras que exigem mais do indivíduo, em casos suspeitos para doença a aplicação da quarenta, em espaços de convivência manutenção do distanciamento mínimo de 1 metro e meio entre pessoas, e mais severamente o distanciamento social com fechamento parcial de atividades econômicas, escolas, serviços públicos e restrições de eventos, e a depender do fluxo da doença sendo imposto até um lockdown.3 O isolamento tem sido uma das estratégias mais utilizadas, porém a mesma pode ser uma via de mão dupla ocasionando outros agravos a pessoa que se encontra isolada do mundo, a violência doméstica é uma delas. A violência contra a mulher pode ser entendida como toda e qualquer ação ou conduta pautada no gênero, que ocasione dano ou sofrimento físico, sexual, psicológico e até o óbito, praticado nos espaços publico ou privado. integrantes.” A violência doméstica contra a mulher é um problema universal que atinge um número alto de pessoas e, muitas vezes, de forma silenciosa, dissimulada e destruidora, “(Jucilene Galdino da Silva). A violência é uma das tantas formas de cerceamento do direito, e se tratando da violência doméstica e familiar contra a mulher de acordo com a Lei 11.340/2006 (arto5), entende-se que: Art. 5º Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial. I - No âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas; II - No âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa; III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação. Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo independem 3 Lockdown em português significa fechamento, confinamento. É caracterizado pelo bloqueio total das entradas de determinada região. A medida pode ser adotada em âmbito municipal, estadual ou nacional. 3 de orientação sexual. O presente artigo tem por objetivo provocar uma discussão sobre os impactos da covid- 19 na violência contra mulher, trazendo a nova realidade que obriga as pessoas estarem presentes diariamente em seus lares, aumentando o número de vitimas e em contra partida diminuindo as notificações, sendo subnotificado os casos de agressão. A metodologia utilizada para a construção do referido documento trata se de um analise documental a partir de buscas realizadas por meio do canal digital, um estudo do tipo reflexivo sobre esse momento de caos social no qual o mundo está imerso, destacamos a pesquisa bibliográfica, sendo a base teórica do trabalho, corroborando na construção do conteúdo. 2 VIOLÊNCIA CONTRA MULHER – UMA CATEGORIA HISTORICA A palavra violência, conforme o dicionário MICHAELIS tem sua origem no latim violentia, ato de violentar, causar constrangimento físico e moral, ao qual pode se acrescentar coação ou coerção psicológica, sendo uma realidade milenar não restrita somente a uma só classe social, entretanto, sendo mais evidente nas camadas populares de menor poder aquisitivo, e no qual há uma precarização da vida, gerando novas formas de expressões da questão social. A diferença entre gêneros é uma construção histórica, naturalizando a subordinação feminina. É uma questão histórica da humanidade a discriminação da mulher, sendo fácil observar que ela teve um papal minimizado sendo ignorada dentro dos círculos. A agressão contra mulher é alvo de discussão constante sendo um tema sempre atual, infelizmente, fazendo milhões de vítimas em todas as partes do mundo, relacionando-se com as categorias de gênero, classe, raça/etnia e, também, no que diz respeito ao poder. A OMS definiu a violência em três grandes grupos segundo quem comete o ato: violência contra si mesmo (autoprovocada ou auto infligida); violência coletiva (grupos políticos, organizações terroristas, milícias) e violência interpessoal (doméstica e comunitária). Ao longo da história a luta da mulher para alcançar um lugar de direito na sociedade tem sido de resistência, durante a Revolução Industrial a inserção feminina ao mercado de trabalho representou uma conquista, apesar de não ser igualitário aosdireitos masculinos representou uma conquista. Em sua obra O segundo sexo, Simone Beauvoir (1970, p.148) menciona a exploração da mão de obra devido a questão do gênero. “[...] a mulher era explorada mais vergonhosamente ainda que os trabalhadores do outro sexo”. Os movimentos 4 sociais nesta trajetória foram primordiais para o avanço da causa; o movimento feminista destacamos, visto que o mesmo queria mostrar para sociedade capitalista as diversas expressões das questões sociais, movimento que reivindicava direitos como ao voto. No Brasil em 1932, durante o governo de Getúlio Vargas, devido às pressões dos movimentos feministas, é concedido o direito ao voto, outras mudanças ocorreram devido a luta persistente dos movimentos como o Movimento Feminino pela Anistia com proposito de conscientizar a sociedade que individuo merece dignidade. sendo atuante até 1999, quando os dirigentes da época encerraram as atividades. “Nós, mulheres brasileiras, assumimos nossas responsabilidades de cidadãs no quadro político nacional. Através da história provamos o espírito solidário da mulher, fortalecendo aspirações de amor e justiça [...].” (ZERBINI, 1979, p.27). Essas vitorias foram de suma importância até o até o surgimento das primeiras Políticas Públicas de enfrentamento ao combate à violência contra mulher ressignificando a luta. Neste ponto destacamos a Lei no 11.340/2006 ou Lei Maria da Penha, um importante instrumento pela defesa do direito feminino protegendo a mulher agredida em ambiente familiar. 2.1 VIOLÊNCIA DOMÉSTICA, DO LAR OU FAMILIAR A família tem seus preceitos modificados de acordo a sociedade a qual está inserida, e estruturada segundo os fatos sociais e históricos que a influenciam. A Constituição Federal em seu artigo 226 expressa a importância da família, é a base da sociedade e tendo especial proteção do Estado. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas – IBGE, define família como o “conjunto de pessoas ligadas por laços de parentesco, dependência doméstica ou normas de convivência, residente na mesma unidade domiciliar, ou pessoa que mora só em uma unidade domiciliar”. São arranjos que se caracterizam por novas configurações, fugindo dos antigos padrões, na atualidade existem famílias nucleares a do início dos tempos formado de pai, mãe e filhos, de pais separados, chefiados por mulheres, chefiados por homens de pais homossexuais. O núcleo familiar é o primeiro grupo o qual o indivíduo tem início as suas interações humanas, sociabilizando e aprendendo com os seus integrantes, sendo que ele tem uma significação de máxima importância para a formação, cultural, mental, religiosa, ética e moral do sujeito, uma preparação para a vida em sociedade. “A família torna-se, assim, o primeiro contato decisivo para sua inserção no âmbito social, devendo fixar princípios e valores que 5 determinarão a vida interpessoal da mesma” (Chioquetta, 2014, p.169). A família deve garantir um lar seguro, possibilitando o pleno desenvolvimento e capacidades do indivíduo. Refletindo sobre a questão família, e a mesma sendo o primeiro espaço de socialização do sujeito, quando a mesma não garanti os mínimos para um pleno desenvolvimento, e aqui destacamos a violência intrafamiliar, que pode deixar traumas que contribuirão na formação intelectual da pessoa, deixando traços que poderão perpetuar por toda a sua existência. As agressões sofridas durante a infância, fase de formação do caráter e da psique humana, reverbera nas demais etapas da vida do indivíduo. Um ambiente no qual se convive com a agressividade e o terror, irá criar seres selvagens ou doentes. A lógica não é muito difícil de ser entendida, se uma criança cresce num ambiente hostil, convivendo com um pai agressivo, presenciando sua mãe ser violentada sumariamente, assimilará esse tipo de comportamento e muito provavelmente será um adulto violento, reproduzindo até que o ciclo de violência seja rompido. Violência doméstica é todo ato de violência que é praticada entre os membros que habitam um ambiente familiar em comum, no qual uma das partes tenta controlar a outra, algo infligido na grande maioria as mulheres, e se estendendo as crianças e outros componentes do núcleo familiar, em alguns poucos casos registrados o homem é a vítima. As pessoas envolvidas podem ser casadas ou não, em geral é praticada pelo pai, padrasto, marido, companheiro, namorado, ocorrendo no seio familiar. Trata se de um fenômeno complexo com múltiplas causas, abrangendo diversas tipologias, que ocorre independente de gênero, classe social, faixa etária, raça, orientação sexual, dentre outras, mas sendo democrático visto que engloba todas as camadas sociais. A respeito da violência doméstica Veronique Durand discorre o seguinte: A violência contra a mulher é específica. Além de ser uma relação de dominação é de poder, ela é sexuada. Trata-se de destruir o corpo da mulher, mediador do desejo e da transmissão da vida. A violência se nutre do segredo e do silêncio da mulher. As estratégias são sempre as mesmas: isolar a mulher, afastá-la da família, dos amigos (as), para ela não ter com quem falar e para manter a dependência, além do medo. A violência chega quando não se tem mais palavra. Ela é um modo de comunicação que substitui a fala. A violência doméstica é produto de uma construção histórica e como tal enraizada na sociedade, repleta de conteúdo cultural, sendo que o machismo é um dos seus maiores 6 propulsores, e frente a isso as mulheres são as principais vítimas; devido à fragilidade física, a dependência emocional e econômica. 2.2 VIOLÊNCIA DOMÉSTICA DURANTE A PANDEMIA COVID-19, AS MEDIDAS DE ENFRENTAMENTO E O PAPEL DO ASSISTENTE SOCIAL Os motivos da violência contra a mulher normalmente são fúteis, ocorrendo por diversos fatores. O Instituto Avon/Ipsos no ano de 2011 realizou, a Pesquisa Percepções sobre a Violência Doméstica contra a Mulher no Brasil, entrevistando 1,8 mil pessoas de cinco regiões brasileiras, os dados apontam que as principais causas são, 46% machismo e 31% alcoolismo, e o que motiva essas mulheres a permanecerem nestas relações segundo o estudo são: a falta de condições econômicas para se sustentar (para 27%); a falta de condições para criar os filhos (para 20%); e o medo de ser morta (para 15%). Como já mencionado neste artigo, o ano de 2019 trouxe ao mundo uma doença desconhecida e avassaladora em vários aspectos, sendo capaz de aniquilar com vida física, psicologicamente e social, em decorrência das mudanças extremas no comportamento da sociedade, neste ponto mencionamos novamente o isolamento e distanciamento social, esse podendo se juntar aos motivos da violência contra a mulher, no que tange o ambiento do lar, as famílias que apresentam um agressor no seu núcleo, irão dividir mais horas de violência. Segundo dados do Disque Ligue 180, a estratégia dos gestores estaduais e municipais como forma de diminuir e conter a propagação do Covid- 19 foi responsável por um aumento de quase 9% do número de ligações para o canal de denúncias de violência contra a mulher. De acordo com a Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos – ONDH do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos- MMFDH, no mês de março de 2020 a média foi de 3.045 ligações recebidas e 829 denuncias registradas já em abril os números de ligações recebidas passou para 3.303 e 978 denúncias registradas. O Instituto de Pesquisa DataSenado com a parceria do Observatório da Mulher contra Violência, realizaram em 2019 a Pesquisa Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher,no qual foi identifica que 78% das agressões infligidas no ambiente doméstico foram cometidas pelos atuais ou antigo parceiros. Ainda apontou que problemas econômicos, redução de renda e o aumento do consumo do álcool durante o período de isolamento social estão dentre os gatilhos para agressões. 7 Salientamos o estudo realizado com as entidades Agência Eco Nordeste, Portal Catarinas, Amazônia Real, #Colabora, e Ponte Jornalismo sobre a violência doméstica, foi constatado que houve um aumento de 5% de casos de feminicídio no país entre os meses de março e abril de 2020 em relação ao mesmo período de 2019. Nesses meses 195 mulheres foram assassinadas. O estudo avaliou dados de 20 Estados que liberaram dados das Secretarias de Segurança, a media observada foi de 0,21 feminicídios por 100 mil mulheres. O estudo chama atenção para as subnotificações, visto que a violência doméstica não diminuiu, ela se faz mais presente do que nunca, sendo que a mulher que vive com um agressor já era isolada, agora ela pode ser dizer que vive em cárcere privado. A Organização Mundial da Saúde alertou sobre o aumento da violência doméstica na pandemia da Covid- 19 a nível global. A Itália, que foi um dos países que iniciou o isolamento social mais cedo em relação Brasil, apresentou um aumento de 161,71% nas denúncias telefônicas no mês de abril de 2020, segundo o Ministério da Família e da Igualdade de Oportunidades. Na Argentina houve um aumento de 39% em março, registradas no canal denúncias, Linha 144. No Brasil o aumento foi de 34% no mês de abril, dados analisados por denúncias feitas pelo Ligue 180. O Fórum Brasileiro de Segurança Pública - FBSP na sua edição anual apresenta dados que contabilizaram a partir do inicio das medidas de contenção com isolamento social, foi observado mensalmente, sendo que houve uma redução de crimes cometidos contra a mulher em vários estados, significando que o público feminino está com dificuldade para conseguir denunciar, a violência letal é a exceção. Os periódicos avaliados pelo FBSP têm compilado dados todos os meses, e demonstrando um aumento nos índices de feminicídios e ou/ homicídios em diversos estados. O levantamento também revela a diminuição da distribuição de medidas protetivas, sendo essa uma ferramenta fundamental no combate ao crime. O FBSP desde do início do isolamento social tem publicado dados sobre os registros oficiais de violência contra mulheres e meninas, objetivando compreender como a pandemia está afetando a vida de mulheres em situação de violência familiar e doméstica. O que podemos constatar com os estudos que estão sendo realizado acerca do problema da violência doméstica durante a pandemia é que tristemente, houve sim um aumento nos de feminicídio bem como o aumento da violência domestica e familiar, sendo necessário rever todas as medidas e Politicas Públicas para coibir essa Pandemia dentro da Pandemia. 8 A pandemia chegou em um momento no qual ocorria um declínio nos investimentos nas Políticas Públicas - P.P no país, sendo que os sistemas de saúde e assistência social estavam em esgotamento, sofrimento e penalizando o usuário, aumentando os desafios desses dois sistemas, mas importante destacar que os mesmos não estavam aniquilados, e contraditoriamente são as duas únicas P.P que estão dando a cara do Estado sendo os atores principais. A preocupação dos gestores neste momento da crise sanitária é diminuir os números de doentes vítimas do Covid, sendo empregado recursos financeiros robustos para as áreas da saúde, fato que sabemos é primordial, porém deixando uma lacuna em outras Politicas Públicas, dentre elas citamos da Assistência Social, que é necessária nas ações promovidas para combater essa calamidade que atinge toda a sociedade brasileira e o mundo. O país já avançou em termos de Politicas Públicas para o enfrentamento da violência doméstica, destacamos: Lei no 11.340/2006 ou Lei Maria da Penha, Decreto no. 8.086, de 30 de agosto de 2013- Mulher, viver sem Violência, Lei No 10.714, de 13/08/2003 - O disque 180 Lei 12.845, dia 1o de agosto de 2013- Os hospitais devem oferecer às vítimas de violência sexual atendimento emergencial, integral e multidisciplinar, Lei no 13.104 de 09 de março de 2015, Lei do Feminicídio PEC 75/2019, para alterar o inciso 42 do artigo 5o da Constituição, a proposta está tramitando, se aprovada passa a vigorar com poder de lei, sendo um dos poucos crimes imprescritíveis. Lei 13.880/19 permite ao juiz ordenar a apreensão de arma de fogo registrada no nome do agressor em situações que envolva casos de violência doméstica. (Brasil, Constituição Federal). No dia 31 de março de 2020 o Ministério da Saúde, publicou a portaria nº 639 dispondo sobre a Ação Estratégica “O Brasil Conta Comigo – Profissionais da Saúde”, voltada à capacitação e ao cadastramento de profissionais da área de saúde para o enfrentamento à pandemia do coronavírus (COVID19), abrangendo diferentes categorias profissionais que atuam no rol da saúde, entre elas o Serviço Social. Frente ao exposto sobre o aumento dos casos de violência praticada no âmbito familiar visando coibir o problema que é de conhecido público, e mais precisamente o aumento de casos durante o isolamento social, foi editada a Lei nº 14.022/2020, que prevê medidas para enfrentamento da violência doméstica e familiar contra as mulheres durante a pandemia da Covid-19, uma lei excepcional sendo uma complementação da Lei Nacional da Pandemia, Lei 13.979/2020. Resumidamente vejamos alguns dos ditames da lei. 9 § 7º-C Os serviços públicos e atividades essenciais, cujo funcionamento deverá ser resguardado quando adotadas as medidas previstas neste artigo, incluem os relacionados ao atendimento a mulheres em situação de violência doméstica e familiar, nos termos da Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006 , a crianças, a adolescentes, a pessoas idosas e a pessoas com deficiência vítimas de crimes tipificados na Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente), na Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003 (Estatuto do Idoso), na Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015 (Estatuto da Pessoa com Deficiência), e no Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal).” (NR) I - Os prazos processuais, a apreciação de matérias, o atendimento às partes e a concessão de medidas protetivas que tenham relação com atos de violência doméstica e familiar cometidos contra mulheres, crianças, adolescentes, pessoas idosas e pessoas com deficiência serão mantidos, sem suspensão; II - O registro da ocorrência de violência doméstica e familiar contra a mulher e de crimes cometidos contra criança, adolescente, pessoa idosa ou pessoa com deficiência poderá ser realizado por meio eletrônico ou por meio de número de telefone de emergência designado para tal fim pelos órgãos de segurança pública; Parágrafo único. Os processos de que trata o inciso I do caput deste artigo serão considerados de natureza urgente.” Art. 3º O poder público deverá adotar as medidas necessárias para garantir a manutenção do atendimento presencial de mulheres, idosos, crianças ou adolescentes em situação de violência, com a adaptação dos procedimentos estabelecidos na Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006 (Lei Maria da Penha), às circunstâncias emergenciais do período de calamidade sanitária decorrente da pandemia da Covid-19. Art. 5º As medidas protetivas deferidas em favor da mulher serão automaticamente prorrogadas e vigorarão durante a vigência da Lei nº 13.979, de 6 de fevereiro de 2020, ou durante a declaração de estado de emergência de caráter humanitário e sanitário em território nacional, sem prejuízo do disposto no art. 19 e seguintes da Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006 (Lei Maria da Penha). A lei acima destacada foi pensada neste momentode crise sanitária, avaliando o aumento dos índices de agressão seguida de mortes em decorrência da violência sofrida dentro dos espaços de confinamento, podemos observar no texto completo da lei, disponível na página do Planalto. Gov., que há uma flexibilização na prova, avaliando o contexto atual, no qual o recurso eletrônico está sendo utilizando em larga escala, a vítima poderá gravar áudios e vídeos que serão anexados aos processos, bem como se admite laudos médicos/atestados da rede pública ou privada como provas. O profissional do serviço social diante da questão da violência contra a mulher desempenha um papel preponderante, utilizando de seus instrumentos e técnicas para diminuir os impactos sofridos pela vítima, orientando essas mulheres sobre como sair dessa situação, acolhendo, direcionando a espaços de continuidade, trabalhando junto a família dentre outras ações. “o Código de Ética profissional dos assistentes sociais destaca as seguintes funções: analisar, executar, elaborar, coordenar planos, programas e projetos para viabilizar os diretos da população, bem como o seu acesso às políticas públicas vigentes”. O assistente social que irá atuar com um público que se enquadra nesta temática necessita estar capacitado para saber lidar com questão, violência contra mulher, e com a complexidade desse fenômeno. É preciso também que tenha conhecimento sobre a rede http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2020/lei/L13979.htm#art3%A77c http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11340.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11340.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8069.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8069.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2003/L10.741.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2003/L10.741.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13146.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del2848.htm 10 socioassistencial local, para que possam ser feito os devidos encaminhamentos com efetividade, contribuindo para que a mulher possa romper com a espiral de violência em segurança. Um outro ponto a ser destacado é o trabalho em rede, atuar de maneira integrada e em equipe multidisciplinar, a fim de uma melhor condução para os casos suspeitos ou comprovados de violação de direito, e devidos encaminhamentos de maneira assertiva. Neste momento crítico em que a sociedade se encontra em enorme fragilidade nos mais variados aspectos, o olhar atento e a escuta qualificada do assistente social e dos demais profissionais que atuam junto a população, são fundamentais, e trabalhar de maneira conjunta em rede, equipes interdisciplinar reforçamos a sua importância, visto que essas mulheres, seus filhos, transitam por diversos espaços, como o da saúde, escolas, farmácias, etc. ... CRAS, e as vezes mesmo que silenciosamente, com apenas um olhar, um gesto, possam estar sinalizar um pedindo de ajuda. A assistência social tem sido um serviço essencial durante a pandemia, visto que as expressões da questão social tendem a se intensificar neste período, sendo a violência uma entre tantas, e especificamente a praticada contra mulher; lembrando que vivemos em uma sociedade capitalista e patriarcal que presa por seus lucros em detrimento das vidas humanas. O trabalho do serviço social já ocupava diversos espaços sócio ocupacionais, neste momento sua ação está sendo cada vez mais requisitada, a fim de viabilizar o acesso as Políticas Públicas, não como um favor concedido pelo Estado e sim como um direito garantido, pontuando que a Assistência Social é uma Política Pública que não foi criada para a população pobre e sim para quem dela necessitar. O assistente social por meio de suas competências e instrumentos técnicos operativos conseguem perceber em pequenos detalhes questões sociais que necessitam de intervenção, justificando a necessidade técnica da sua atuação. 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS A violência doméstica contra a mulher constitui um grave problema social, carecendo ser reconhecido como tal complexidade, tanto pela sociedade como pelo Estado, por meio da criação e melhoramento de política públicas que atentem para ações de prevenção, punição ao agressor, resguardo da vida, bem como investir na rede de apoio à vítima. É fato notório que está presente no dia- a -dia de inúmeras mulheres e com advento da pandemia intensificou tal fato. Diversas pesquisas e dados denotam a extensão dessa triste realidade a nível global. 11 É inadmissível continuarmos naturalizando a violência contra a mulher, não se trata mais de um problema privado, pertencente ao casal, é necessário entendermos que é um fenômeno mundial, que atingi diversas mulheres tratando se de uma questão de direitos humanos, pois é um ato odioso que afronta a dignidade da pessoa humana, impedindo o seu pleno desenvolvimento e cidadania. Discutir como a sociedade foi organizada ao longo da história resultando em uma organização estruturada, pautada em regência machista e patriarcal, reproduzindo relações entre os gêneros de desigualdades, representa descontruir os pilares de sustentação da prática da violência infligida a mulher. As normas sociais que regem e mantem diferenciação na construção de papéis remonta aos primórdios da humanidade, sendo baseado em padrões sociais, normas e valores enraizados com o tempo, atribuindo a mulher uma condição de inferioridade, diante do homem, esse pelo poder da força física/ psicológica, se utiliza da violência para diminuir e manter a supremacia masculina. Cabe ressaltar que quando ocorre violência doméstica o sofrimento e as consequências atingem outros constituintes do núcleo familiar, principalmente os filhos, causando problemas no desenvolvimento físico e emocional do infante. Nesse cenário conturbado, é fundamental o acesso da mulher ao sistema, precisamos romper com as barreiras do silêncio, possibilitando a quebra das amarras da discriminação e do preconceito, bem como aumentar a crença e confiança no Poder Publico e nos seus atores. No mundo e no Brasil Políticas Públicas para o enfrentamento da violência contra mulher e doméstica, foram surgindo, um grande marco foi a publicação da Constituição Federal de 1988, a Lei 11.340/ Lei Maria da Penha, e outras ferramentas vêm surgindo para o enfrentamento, deste flagelo social, neste momento destacamos Lei nº 14.022/2020, promulgada a fim de contribuir para a luta violência doméstica durante a pandemia de Covid 19, essas mulheres precisam enxergar que há medidas protetiva de urgência, que elas podem ser cuidadas verdadeiramente, a justiça deve realmente protege-las. A pandemia que atingiu o mundo e o Brasil, conseguiu mostrar mais uma face oculta da injustiça, uma vez que mulheres e seus filhos são obrigados a conviver quase que em cárcere privado com agressões diariamente, sendo silenciadas inúmeras vezes, sofrendo infinitamente com maior intensidade, essa tragedia na saúde mostrou uma grande realidade; as pessoas não estão no mesmo barco, só no mesmo temporal, os que são mais vulneráveis, 12 como velhos, crianças e mulheres, estão em pior situação. O olhar atendo do assistente social, se faz cada vez mais necessário neste cenário insano, captando nas superfícies tênues o que possa estar mascarando situações de sofrimento e violação de direitos. Discutir o problema de maneira aberta é necessário, a sociedade como um todo necessita perceber que a violência desmedida é prejudicial a todo o sistema, precisamos estar atentos aos sinais, e quando necessário for denunciar, não meter a colher como era dito tempos atrás não é mais admissível. Profissionais que observam e identificam casos de violência tem a obrigação de agir, de maneira cautelosa, com segurança para si e para a vítima, mas é preciso solidariedadee justiça. 13 REFERÊNCIAS AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA - Anvisa. Nota Técnica GVIMS/GGTES/ANVISA Nº 04/2020. Disponível em < http://twixar.me/v4Rm>.Acesso em: 25 jun.2021. BRASIL. Lei n.11.340 de 07 de agosto de 2006. Lei Maria da Penha. DOU, 2006. BRASIL. Lei n. 14.022, de 7 julho de 2020. Disponível em: http://twixar.me/QbRm>.Acesso em: 26. jun. de 2021 BRASIL. Ministério da Saúde. Covid-19 no Brasil: Disponível em:<http://twixar.me/G4Rm>. Acesso em :25 jun.2021. BRASIL. Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Coronavírus: sobe o número de ligações para canal de denúncia de violência doméstica na quarentena. Disponível em:< http://twixar.me/BbRm>. Acesso em 26.jun.2021 BRASIL. Portaria Nº639, de 31 de março de 2020.Disponível em:< http://twixar.me/rVRm>.Acesso em:03 de jul. de 2021. CHIOQUETTA, Rafaela Dotti. Violência Doméstica contra Crianças e Adolescentes: o berço do crime. Revista do Laboratório de Estudos da Violência da UNESP/Marília. Ed. 13,p.169-179,mai.2014. Disponível em: http://twixar.me/ZcxT. Acesso em: 3de jul. de20213 DURAND, VÉRONIQUE. Dicionário Internacional de Serviço Social no Campo Sócio Jurídico. Mulheres em Risco: Histórias de violência, opressão e morte no contesto de relações amorosas. Rio de Janeiro: Autografia Edição e Comunicação Ltda, 2016. ECO NORDESTE. Mulheres enfrentam em casa a violência doméstica e a pandemia da Covid-19. Disponível em: < http://twixar.me/NbRm.Acesso> em: 26 jun. 2021. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Censo 2010. Disponível em: http://twixar.me/MXxT. Acesso em: 20.mai. 2021 INSTITUTO DATASENADO. Violência doméstica e familiar contra a mulher – 2019.Disponível em: http://twixar.me/VbRm.Acesso em: 26 jun.2021 INSTITUTO AVON/IPSOS. 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