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Crimes contra o patrimônio: Disciplina: Direito Penal 111 ✓ O patrimônio é constituído pelo conjunto de bens, de qualquer ordem, pertencentes a um titular. Assim, o patrimônio abrande: 1. Propriedade material e outros direitos reais: a propriedade, a superfície, as servidões, o usufruto, o uso, a habitação, o direito do promitente comprador do imóvel, o penhor, a hipoteca e a anticrese; 2. Propriedade imaterial: o direito autoral, privilégio de invenção, direito de marca, etc.; 3. Direitos obrigacionais; 4. Posse. Furto (art. 155) ✓ Furto é a subtração, para si ou para outrem, de coisa alheia móvel. → Objeto jurídico ✓ Tutela-se o patrimônio (a propriedade e a posse). → Elemento do tipo ✓ Consubstancia-se no verbo subtrair, que significa tirar, retirar de outrem bem móvel, sem a sua permissão, com o fim de apossamento definitivo. Observação: a subtração implica sempre a retirada do bem sem o consentimento do possuidor ou proprietário. Ademais, ela pode acontecer até mesmo à vista deles. ✓ Trata-se de crime de ação livre ou conteúdo variado. A subtração pode ser realizada por meios diretos de execução, como a retirada do objeto pelo agente; ou indiretos, como no caso de alguém que se utiliza de um animal para tal mister, ou, então, de uma criança, usada para retirar mercadorias de uma loja. → Objeto material i. Coisa: é toda substância material, corpórea, passível de subtração e que tenha valor econômico; ii. Móvel: é tudo aquilo que pode ser transportado de um local para outro, sem separação destrutiva do solo. Entretanto, os bens imóveis, por sua vez, não podem ser objeto do delito de furto. → Elemento normativo ✓ Coisa alheia: é o patrimônio que se encontra na posse de outrem, proprietário ou possuidor. Entretanto, não pode ser objeto de furto, por não constituir propriedade nem estar sob a posse de alguém: i. A res nullius: é a coisa sem dono; ii. A res derelicta: é a coisa abandonada; iii. A res deperdita: é a coisa perdida. Aqui, a propriedade da coisa perdida não é renunciada espontaneamente pelo dono, ao contrário do que ocorre com a abandonada, e o seu apoderamento por terceiro poderá constituir o crime de apropriação de coisa achada. Observação: famulato é o furto realizado pelo empregado que se encontra a serviço de seu patrão, em sua residência ou não, exemplo, empregada doméstica, operário, etc. → Sujeitos Crimes contra o patrimônio: Disciplina: Direito Penal 111 a) Sujeito ativo: trata-se de crime comum. Qualquer pessoa pode praticá-lo, pois não exige a lei qualquer condição especial do sujeito ativo; b) Sujeito passivo: qualquer pessoa, física ou jurídica, que tem a posse ou a propriedade do bem. → Elemento subjetivo ✓ É o dolo, consistente na vontade consciente de efetuar a subtração* (animus furandi). *Subtrair significa retirar contra a vontade do possuidor. Assim, quem pega um bem com o consentimento do ofendido, não subtrai, e quem não subtrai não comete furto. - Assim, não importa para a configuração do furto a motivação do agente (lucro, vingança, etc.), basta a finalidade especial de apoderamento definitivo. Observação: se x subtrai apenas para uso transitório e depois o devolve no mesmo estado, não haverá a configuração do tipo penal. Cuida-se na hipótese de mero furto de uso, que não constitui crime. → Momento consumativo ✓ A consumação do furto ocorre no momento em que o bem passa da esfera de disponibilidade da vítima para a do autor. Assim, a subtração se opera no exato instante em que o possuidor perde o poder e o controle sobre a coisa, tendo de retomá-la porque já não está mais consigo. Observação: a tentativa é admissível e ocorre quando, por circunstâncias alheias à sua vontade, não chega a retirar o bem do domínio de seu titular. → Tipos de furto a) Furto de uso: o agente retira o bem da esfera de disponibilidade da vítima apenas para o seu uso transitório/passageiro, e depois o devolve no mesmo estado e local em que se encontrava. Exemplo: o indivíduo se utiliza de um automóvel alheio para dar um passeio e depois o devolve no mesmo local e no mesmo estado em que se encontrava; b) Furto famélico ou necessitado: aquele cometido por quem se encontra em situação de extrema miserabilidade, necessitando de alimento para saciar a sua fome e/ou de sua família. Não se configura o crime, pois o estado de necessidade exclui a ilicitude do crime. - Entretanto, se o agente tinha plenas condições de exercer trabalho honesto ou se a conduta recair sobre bens supérfluos, não será o caso de furto famélico; Observação: o estado de necessidade também estará presente no apoderamento de veículo de terceiro com o fim de transportar para o hospital pessoa gravemente enferma, que corre sérios riscos de vida. c) Furto noturno (§ 1º): a majorante funda-se no maior perigo a que é exposto o bem jurídico em virtude da diminuição da vigilância e dos meios de defesa daqueles que se encontram recolhidos à noite para repouso, facilitando a Crimes contra o patrimônio: Disciplina: Direito Penal 111 prática delituosa. Assim, procura-se repreender de forma mais drástica a conduta daquele que realiza o furto aproveitando-se dessas circunstâncias. d) Furto privilegiado (§ 2º): se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de 1/3 a 2/3, ou aplicar somente a pena de multa. Cuida-se aqui do chamado furto de pequeno valor ou furto mínimo. Seus requisitos são: Primariedade: primário é todo aquele que não é reincidente. Assim, se o agente já sofreu diversas condenações, mas não é considerado reincidente porque não praticou nenhum delito após ter sido condenado em definitivo, será considerado tecnicamente primário e fará jus ao benefício legal; Pequeno valor da coisa subtraída: o furto é mínimo quando a coisa subtraída não alcança o valor correspondente a um salário mínimo vigente à época do fato. e) Furto de energia (3º): Configura o furto de energia elétrica, por exemplo, a captação de energia antes da passagem desta pelo aparelho medidor (aplicação abusiva de fios derivativos sobre o fio condutor instalado pela empresa de eletricidade). f) Furto qualificado: compreende as circunstâncias relativas aos modos de execução do crime de furto que lhe imprimem um cunho de maior gravidade. Com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa (inciso I): trata-se de violência empregada contra obstáculo que dificulte a subtração da coisa; Observação: destruir significa desfazer; romper significa abrir; obstáculo, é aquele destinado a proteger exclusivamente ou não a propriedade (como, portas, fechaduras, que constituem obstáculos passivos); dispositivos automáticos de segurança, (como os alarmes, são os obstáculos ativos). Com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza (inciso II): • Abuso de confiança, é a confiança que decorre de certas relações (pode ser a empregatícia, a decorrente de amizade ou parentesco) estabelecidas entre o agente e o proprietário do objeto. O agente aproveita-se da confiança nele depositada para praticar o furto, pois há menor vigilância do proprietário sobre os seus bens; • Mediante fraude: é o ardil, artifício, meio enganoso empregado pelo agente para diminuir/iludir a vigilância da vítima e realizar a subtração. Exemplos: agente que se disfarça de empregado de empresa telefônica e logra entrar em residência alheia para furtar; • Mediante escalada: é o acesso a um lugar/residência, etc., por via anormal. Há aqui o uso de instrumentos para adentrar no local, como a escada, corda, etc.; Crimes contra o patrimônio: Disciplina: Direito Penal 111 • Mediante destreza: consiste na habilidade física ou manual do agente que lhe permite o apoderamento do bem sem que a vítima perceba (chamada punga). Tal ocorre com a subtração de objetos que se encontrem junto àvítima, como a carteira, dinheiro no bolso, etc., que são retirados sem que ela note. Com emprego de chave falsa (inciso III): o conceito de chave falsa abrange todo instrumento, com ou sem forma de chave, utilizado como dispositivo para abrir fechaduras, incluindo mixas. O emprego de chave verdadeira subtraída ou obtida mediante fraude não constitui a qualificadora em comento, mas a do meio fraudulento; Mediante concurso de duas ou mais pessoas (inciso IV): • Coagente inimputável e art. 244-B do ECA: corromper ou facilitar a corrupção de menor de 18 anos, com ele praticando infração penal ou induzindo-o a praticá-la (pena de reclusão, de 1 a 4 anos). - Dessa maneira, o agente que usa menor de idade na prática do delito patrimonial comete o delito de furto qualificado em concurso com o crime de corrupção de menores; • Associação criminosa e furto qualificado pelo concurso de pessoas: define-se o crime de associação criminosa como a reunião permanente de pelo menos três pessoas com o fim de reiteradamente praticar crimes. Ressalve-se que apenas aqueles que efetivamente participaram do furto por ele responderão, do contrário, responderão somente pelo crime de associação criminosa. g) Furto qualificado pelo emprego de explosivo ou de artefato análogo que causa perigo comum: o objetivo desse acréscimo legislativo foi o de combater e punir com maior rigor os frequentes furtos praticados por grupos criminosos que, durante a noite, explodem caixas eletrônicos localizados em agências bancárias ou em estabelecimentos comerciais para dali subtrair valores depositados. - A pena é de reclusão, de 4 a 10 anos e multa, se houver emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum. h) Furto de veículo automotor: se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior, o furto também será qualificado, passando sua pena para 3 a 8 anos de reclusão. Observação: consideram-se como tal os automóveis, ônibus, caminhões, motocicletas, aeronaves, lanchas, jet-skies, etc. i) Furto de semovente domesticável: entende-se por semovente o animal que possui condições de se deslocar por conta própria. É elementar que se cuide de semovente domesticável, ou seja, apto a ser domesticado. - A pena é de reclusão, de 2 a 5 anos se a subtração for de semovente domesticável de produção, ainda que abatido ou dividido em partes no local da subtração. Crimes contra o patrimônio: Disciplina: Direito Penal 111 Observação: os animais selvagens (como, leões, ursos, zebras, girafas, onças etc.), estão excluídos dessa proteção, assim como os animais não domesticáveis (como, jacarés, peixes e camarões), ainda que sirvam para a produção, seja de alimentos ou outra atividade de produção diversa. j) Furto de substância explosiva: a pena é de reclusão, de 4 a 10 anos e multa, se a subtração for de substância explosiva ou de acessório que, conjunta ou isoladamente, possibilitem sua fabricação, montagem ou emprego. → Formas ✓ Furto simples: está previsto no caput (pena de reclusão, de 1 a 4 anos, e multa); ✓ Furto noturno: está previsto no § 1º (a pena aumenta-se de 1/3); ✓ Furto privilegiado: está previsto no § 2º (o juiz pode substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de 1/3 a 2/3, ou aplicar somente a de multa); ✓ Furto de energia: está previsto no § 3º; ✓ Furto qualificado: está previsto no § 4º (pena de reclusão, de 2 a 8 anos, e multa); ✓ Furto qualificado pelo emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum: está previsto no § 4º-A (pena de reclusão, de 4 a 10 anos e multa); ✓ Furto de veículo automotor: está previsto no § 5º (pena de reclusão, de 3 a 8 anos); ✓ Furto de semovente domesticável de produção: está previsto no § 6º (pena de reclusão, de 2 a 5 anos); ✓ Furto de substância explosiva: está previsto no § 7º (pena de reclusão, 4 a 10 anos e multa). → Ação penal Trata-se de crime de ação penal pública incondicionada, portanto independe de representação do ofendido ou de seu representante legal. Furto de coisa comum (art. 156) Tutela-se a posse e a propriedade legítimas. → Elementos do tipo A ação nuclear é a mesma do furto comum: subtrair. O objeto material, contudo, difere, pois trata-se aqui da subtração de coisa comum, sendo esta pertencente a todos os condôminos, coerdeiros ou sócios. → Sujeitos a) Sujeito ativo: cuida-se de crime próprio. São sujeitos ativos o condômino, coerdeiro ou sócio. Assim, o condomínio existe quando determinado bem pertence a mais de uma pessoa, cabendo a todas elas igual direito sobre o bem; herança é uma universalidade de bens, cujo domínio e posse se transferem aos herdeiros legítimos e testamentários tão logo ocorra a morte de seu titular; e sociedade consiste na reunião de duas ou mais pessoas para a realização de escopos comuns; Crimes contra o patrimônio: Disciplina: Direito Penal 111 b) Sujeito passivo: é o condômino, coerdeiro ou sócio, ou quem legitimamente detenha a coisa, com exceção do agente. → Elemento subjetivo É o dolo, consubstanciado na vontade de subtrair a coisa comum, exigindo a lei um especial fim de agir, contido na expressão “para si ou para outrem”. → Momento consumativo A consumação se dá com a inversão da posse, ou seja, no momento em que o bem passa da esfera de disponibilidade da vítima para a do autor. → Ação penal Trata-se de ação penal pública condicionada à representação de um dos ofendidos ou de seus representantes legais. - Em face da pena prevista (detenção, de 6 meses a 2 anos, ou multa), é cabível a suspensão condicional do processo.
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