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Nutrologia – Amanda Longo Louzada 1 TERAPIA NUTRICIONAL NO PACIENTE CRÍTICO PACIENTES CRÍTICOS: Pacientes críticos necessitam de tratamento intensivo, já que são pacientes altamente complexos, que necessitam de uma equipe ativa e multiprofissional, assim como demandam tecnologia avançada/drogas, vigilância rigorosa. INTRODUÇÃO: A doença grave se associa a um estado de estresse catabólico decorrente do evento traumático Agressão aguda se associa à resposta inflamatória sistêmica, que, por sua vez, pode causar disfunção de múltiplos órgãos e hospitalização prolongada Aumento da morbidade, da mortalidade e dos custos hospitalares O paciente se encontra em estado hipermetabólico Imobilidade prolongada e a dificuldade de alimentação também potencializam o catabolismo e predispõem ao déficit nutricional Idade avançada e desnutrição preexistente, podem intensificar a agressão ao estado nutricional, o que é frequente nos pacientes críticos. O suporte nutrológico para esses pacientes pode ser decisivo em sua evolução!! FUNÇÃO DA TERAPIA NUTRICIONAL NO DOENTE CRITICO: Fornecer os combustíveis exógenos com o objetivo de manutenção eumetabólica do paciente durante o estresse PARA: Preservar a massa magra Manter a função imune Evitar complicações metabólicas Atenuar a resposta metabólica ao estresse Prevenir o dano oxidativo celular Modular a resposta imune de maneira favorável. INDICAÇÕES: O suporte nutricional só pode ser iniciado quando o paciente estiver estável hemodinamicamente, o que pode ser observado por: Funções vitais estabilizadas Equilíbrio hidroeletrolítico Equilíbrio ácido-base Perfusão tecidual adequada, para permitir o transporte de oxigênio e nutrientes que serão ofertados É de suma importância que o profissional entenda que o suporte nutricional sozinho não é capaz de eliminar a resposta metabólica, de forma que não se pode esperar ganho de peso e de massa corporal magra até que o estresse orgânico seja eliminado VIAS: A via enteral de oferta de nutrientes é a mais fisiológica e deve ser preferível. Quando esta não puder ser utilizado, a via parenteral está indicada, tanto no sentido de suplementar a nutrição enteral como para suprir toda a demanda de nutrientes de que o paciente necessita. O ideal é definir protocolos locais com o objetivo de orientar a condução da terapia nutricional no paciente crítico de forma prática e adequada EMTN De maneira geral: Oferta calórica deve atender às necessidades basais do paciente Oferta proteica fomentada p fornecer material plástico para síntese proteica Minerais, vitaminas e água devem ser ajustados às necessidades e ao quadro clínico de cada paciente TN precoce TERAPIA NUTRICIONAL PRECOCE: Controle glicêmico (podem melhorar o curso clínico do doente crítico) Redução do tempo de internação na unidade de terapia intensiva Reduzir translocação bacteriana ALTERAÇÕES METABÓLICAS: Resposta endócrino metabólica ao estresse caracteriza-se por três fases: fase inicial (ou refluxo, ebb ou hipofluxo), fase catabólica (flow ou efluxo) e fase anabólica. Cada uma dessas fases induz alterações distintas que exigem intervenções específicas. FASE DE REFLUXO OU E BB: A fase de refluxo ou EBB se caracteriza por alterações circulatórias que requerem manobras de ressuscitação com fluidos, sangue e derivados e dura de 8 a 24 horas. Dieta zero, pois o paciente está instável hemodinamicamente Ocorre imediatamente após a lesão: Nutrologia – Amanda Longo Louzada 2 TERAPIA NUTRICIONAL NO PACIENTE CRÍTICO Diminuição da volemia, oxigenação tecidual, débito cardíaco e consumo de oxigênio, da temperatura corporal e do gasto energético FASE CATABÓLICA\FLOW\EFLUXO: Esta fase ocorre logo após a ressuscitação de líquidos e em opostos ao que se observa na fase inicial, aqui se inicia o marcante hipercatabolsimo característico do doente criticamente enfermo, em função da presença de: Diminuição do débito cardíaco e consumo de oxigênio, temperatura corporal, gasto energético e catabolismo proteico Restauração do transporte de oxigênio Nesta fase, como a restauração do fluxo sanguíneo e da oferta de oxigênio. Pode-se pensar em iniciar a nutrição A fase catabólica ou Flow ou efluxo geralmente tem duração de 3 a 10 dias, podendo perdurar por mais tempo. É desencadeada pelas citocinas liberadas pelos linfócitos e macrófagos, como interleucina-1, interleucina-6 e fator de necrose tumoral alfa. Essa resposta é conhecida como resposta de fase aguda e caracteriza-se por aumento exponencial nos níveis de proteínas positivas e diminuição das proteínas negativas de fase aguda. Na fase catabólica, em relação ao metabolismo proteico, ocorre perda de massa muscular, balanço nitrogenado negativo, aumento da necessidade proteica e redistribuição dos aminoácidos dos tecidos periféricos para os órgãos esplâncnicos. Os aminoácidos são mobilizados do músculo esquelético, tecido conjuntivo e intestino para promover a cicatrização das feridas e para a síntese hepática de proteínas de fase aguda, além de se tornarem substrato para a gliconeogênese. A síntese de albumina diminui, compensando a maior síntese de substâncias nitro-genadas, denominadas proteínas de fase aguda, entre elas, proteína C-reativa, mucoproteínas, fibrinogênio, transferrina, ceruloplasmina e fatores do complemento. Ocorrem também mobilização e aumento da utilização de nutrientes como ácidos graxos, aminoácidos e glicose. A fase anabólica inicia-se com a regressão do catabolismo e princípio do anabolismo, quando começam os processos de síntese e reparação. Aumento de: Insulina Glucagon Catecolaminas Cortisol Proporcional ao insulto inicial A nutrição nesta fase será de extrema importância visto que o organismo estará em franco catabolismo, devido à presença de um fenômeno chamado S[síndrome da resposta inflamatória sistêmica AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL: A identificação da desnutrição proteico-calórica é feita por meio de História clínica Exame físico Perda ponderal Medidas antropométricas (peso, altura, prega tricipital), índice de massa corporal (IMC), circunferência muscular do braço Concentrações séricas de albumina, pré- albumina, proteína carreadora de retinol, transferrina e índice nutricional de risco No paciente crítico, a antropometria tem uso restrito em função da dificuldade no exame físico, muitas vezes por causa do edema já instalado e da dificuldade de mobilização no leito As ferramentas tradicionais de avaliação do estado nutricional, portanto, não são Validadas para os pacientes críticos, pois, nessa situação, os marcadores de síntese proteica (albumina e pré-albumina) refletem a resposta de fase aguda e não o estado nutricional em si. As diretrizes mais recentes da ASPEN (American Society of Parenteral and Enteral Nutrition) recomendam que se determine o risco nutricional utilizando-se as ferramentas NRS 2002 ou NUTRIC em todos os pacientes internados na unidade de terapia intensiva. Essas ferramentas têm sido utilizadas para definir o risco nutricional em pacientes críticos; considera-se risco nutricional quando NRS é maior que 3 e alto risco com NRS maior que 5, ou NUTRIC maior que 5 quando se inclui a interleucina-6 e maior que 6 quando não se inclui a interleucina-6. INDICAÇÃO DA TERAPIA NUTROLÓGICA: A terapia nutrológica no paciente crítico deve ser iniciada o mais precocemente possível A análise do gasto energético por meio da calorimetria indireta é o padrão-ouro para estimar as necessidades energéticas no paciente crítico. Nutrologia –Amanda Longo Louzada 3 TERAPIA NUTRICIONAL NO PACIENTE CRÍTICO É um método não invasivo que deriva da calorimetria direta. Esse método tem como princípio a medida indireta de produção de energia pelo organismo ao oxidar carboidratos, lipídios e proteínas a partir da quantidade de oxigênio consumido e de dióxido de carbono produzido. O calorímetro é um aparelho dotado de um circuito inspiratório conectado à via inspiratória do ventilador. No entanto, as equações preditivas podem ser utilizadas quando a calorimetria indireta não estiver disponível. Dentre elas, a equação de Harris-Benedict é a mais conhecida: Homens: GEB = 66,4730 + (13,7516 3 Peso) + (5,0033 3 Altura) – (6,7550 3 Idade) Mulheres: GEB = 655,0955 + (9,5634 3 Peso) + (1,8496 3 Altura) – (4,6756 3 Idade) Muitos estudos têm detectado diferença significativa entre o gasto energético calculado e o medido com a calorimetria indireta. Geralmente, as equações preditivas podem subestimar ou superestimar o gasto energético em 10 a 50%, dependendo da condição geral do doente, bem como do tipo de base doença. CONTRAINDICAÇÕES: PAM < 50 mmHg, com evidências de hipoperfusão tecidual Necessidade de aumento da dose de drogas vasoativas ou noradrenalina acima 0,3 a 0,5 mcg/kg/min NUTROTERAPIA ENTERAL: A resposta metabólica ao estresse pode ser atenuada ou modulada pela introdução precoce da dieta enteral, oferta adequada de macro e micronutrientes e controle glicêmico meticuloso-- -----------------------180 MG/DL. O início da nutroterapia enteral parece ter efeito terapêutico, diminuindo a gravidade da doença, as complicações e o tempo de internação hospitalar. Dessa forma, a nutrição enteral precoce tem impacto favorável no desfecho do paciente. A nutrição enteral mantém íntegras as junções entre as células intraepiteliais, estimulando o fluxo sanguíneo e induzindo a liberação de fatores endógenos tróficos, como colecis- tocinina, gastrina, bombesina e sais biliares. A dieta enteral também tem a função de manter a altura das vilosidades e sustentar a massa de células intestinais produtoras de IgA que compreendem o tecido linfoide intestinal (GALT – em inglês, gut as-sociated lymphoid tissue). O GALT, por sua vez, contribui para o tecido linfoide da mucosa intestinal (MALT–em inglês, mucosal associated lymphoid tissue) em locais distantes, como pulmões, fígado e rins. As alterações na permeabilidade intestinal decorrentes da perda de integridade funcional são fenômenos dinâmicos e dependentes do tempo (os canais se abrem dentro de algumas horas a partir do insulto ou trauma). Paciente Crítico Recebe Menos Nutrição do que Realmente Precisa, devido: Vômitos Diarreia Resíduo gástrico aumentado Distensão abdominal Às rotinas do serviço hospitalar e de enfermagem (manipulação do paciente, administração de medicamentos, procedimentos cirúrgicos, banho, realização de exames complementares). A avaliação do volume residual é um cuidado necessário quando se utiliza a terapia enteral. Volumes residuais elevados sugerem a possibilidade de esvaziamento gástrico inadequado, risco potencial de refluxo e broncoaspiração. No entanto, não há consenso a respeito do volume residual com o qual o paciente teria risco dessas complicações. Crooks e Clochesy consideram volume gástrico aspirado excessivo em torno de 100 a 150 mL volume da última dieta administrada. Nos casos de administração intermitente em que o volume residual é igual ou inferior a 150 mL, recomenda-se devolver o aspirado e infundir a dieta. Se o resíduo for superior a 150 mL, este deve ser desprezado e a dieta temporariamente suspensa, até nova avaliação. Quando a dieta é administrada de forma contínua, a devolução do resíduo não é consenso. Recomenda-se o uso de medicação procinética se o resíduo for superior a 150 mL em duas verificações consecutivas. No entanto, segundo a diretriz da ASPEN 2016/SCCM, 2009, a suspensão da infusão da dieta só deve ser indicada quando o volume residual for superior a 500 mL ou houver outros sinais de intolerância. Recomenda-se a avaliação do resíduo gástrico a cada 4 horas do 1º ao 5º dia. A partir do 6º dia, a verificação pode ser feita em intervalos de 12 horas. Nutrologia – Amanda Longo Louzada 4 TERAPIA NUTRICIONAL NO PACIENTE CRÍTICO Realidade: volume acima de 500\vez – suspensão da dieta e reavaliação do paciente Resíduo gástrico ou estase gástrica: 6 – 18 horas A obstrução da sonda nasoenteral também é uma complicação, podendo estar relacionada à retenção de resíduos da fórmula enteral ou mesmo a resíduos de medicamentos mal diluídos, o que pode atrasar o tempo de infusão da dieta ou levar à necessidade de se repassar a sonda. Outro cuidado importante é manter a cabeceira elevada entre 30 e 45 graus, evitando a ocorrência de broncoaspiração e o desenvolvimento de pneumonia hospitalar. (PN ASSOC VENTILAÇÃO MECANICA X GERMES ORAIS) Segundo as diretrizes da ASPEN 2016, deve-se fazer higienização da cavidade oral com clorexidina 2 vezes/dia. A incidência deste tipo de pneumonia pode variar de 21 a 95%, geralmente decorrendo do refluxo. Os pacientes em risco são aqueles com história de aspiração prévia, esvaziamento gástrico lento, refluxo gastroesofágico, gastroparesia (DM/TCE), reflexo diminuído de tosse e deglutição e em ventilação mecânica. Os pacientes críticos também recebem frequentemente antiácidos e/ou antagonistas da histamina para prevenção da hemorragia digestiva. No entanto, esses medicamentos alcalinizam o pH gástrico e facilitam a proliferação bacteriana, favorecendo a ocorrência de pneumonia. Em UTI, costuma-se infundir a dieta enteral continuamente, de preferência por meio de bomba de infusão. A vantagem desse tipo de infusão, quando comparada à intermitente, é ser geralmente mais bem tolerada pelos pacientes, além de oferecer menor risco de aspiração, diarreia, náuseas e vômitos, com a possibilidade de fornecer maior aporte energético. A nutrição parenteral no paciente crítico deve ser muito bem indicada. Para pacientes com elevado risco nutricional, determinado por NRS 2002 ≥ 5 ou NUTRIC ≥ 5, ou muito subnutridos, quando a nutrição enteral não é possível, a ASPEN sugere iniciar a terapia nutrológica parenteral o mais rápido possível após admissão na UTI. Duas metanálises: A não prescrição da terapia nutrológica foi associada com menor incidência de infecções e uma tendência a menor incidência de outras complicações Mostrou aumento significativo na mortalidade com o uso da terapia parenteral precoce mas, após os primeiros 14 dias de hospitalização, o não fornecimento de suporte nutricional foi associado a maior mortalidade. A nutrição parenteral pode ser infundida por acesso venoso periférico ou central. As dietas administradas em acesso periférico têm uso restrito no paciente grave, pois o edema que acompanha os estados críticos dificulta a manutenção de um acesso periférico, além de o conteúdo energético-proteico dessas fórmulas não atender às demandas metabólicas do paciente grave. DIETAS: As dietas para infusão em acesso venoso central são mais frequentemente utilizadas, por se tratar de uma veia calibrosa, podendo-se infundir soluções hipertônicas, o que facilita a adequada oferta de macronutrientes. COMPLICAÇÕES DO USO DO CATETER VENOSO CENTRAL: Hemo/pneumotórax, punção arterial, lesão de ducto torácico/quilotórax Infecção da corrente sanguínea, oclusão, trombose da veia central, embolia pulmonar e sepse. Dentre essas, a mais comum é a infecção causada pelo cateter. Colecistite alitiásica Esteatose hepática Atrofiada mucosa intestinal com comprometimento da barreira intestinal Translocação bacteriana OFERTA CALÓRICA E PROTEICA: A oferta calórica no paciente crítico deve ser a mais próxima possível da necessidade real medida. Se o exame de calorimetria indireta não estiver disponível, deve-se oferecer de 20 a 25 kcal/kg/dia. A dose de aminoácidos (proteína) deve ser de 1,2 a 2 g/kg/dia para a maioria dos pacientes com função hepática e renal normais. Na cirrose hepática, atualmente a oferta proteica é a mesma dos outros pacientes críticos, entre 1,2 e 2 g/kg/dia. As ofertas para pacientes com insuficiência renal aguda e crônica: As necessidades dos minerais incluem 800 a 1.000 mg de fosfato Nutrologia – Amanda Longo Louzada 5 TERAPIA NUTRICIONAL NO PACIENTE CRÍTICO 2 a 2,5 g de potássio/dia 1,8 a 2,5 g de sódio/dia Em razão das perdas pela diálise, as vitaminas hidrossolúveis devem ser suplementadas: 1 mg/dia de ácido fólico 10 a 20 mg/dia de piridoxina 30 a 60 mg/dia de vitamina C Deve-se considerar também a reposição de zinco (15 mg/dia) e de selênio (50 a 70 mcg/dia) em pacientes muito depletados. Oferta de lipídeos em torno de 1 a 1,3 g/kg/dia.
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